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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.19 no.60 Curitiba jan./mar 2019  Epub 04-Fev-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.19.060.ap01 

Apresentação

Educação a Distância: ensino, aprendizagem e inclusão

Daniel Mill1 

Sara Dias-Trindade2 

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira3 

1UFSCAR

2UC

3PUCPR


Especialmente nas duas últimas décadas, a modalidade de Educação a Distância (EaD) tem tomado lugar privilegiado nos debates da educação brasileira, seja pelas suas potencialidades para a democratização do conhecimento e da formação do cidadão, pela sua estreita relação com as tecnologias digitais de informação e comunicação ou pela necessidade de atendimento à demanda reprimida por formação em nível superior no país (MILL; PIMENTEL, 2010). Estudos e reflexões sobre a modalidade abarcam diferentes aspectos, tais como a gestão, a docência, a aprendizagem, as tecnologias e materiais didáticos, o arcabouço legal, a produção científica da área, aspectos curriculares, a configuração de modelos mais efetivos do que a educação tradicional etc. (MILL, 2016).

Nesse sentido, apresentamos neste dossiê temático “Educação a Distância: ensino, aprendizagem e inclusão” algumas contribuições resultantes de pesquisas teóricas, empíricas e relatos de experiências envolvendo a referida modalidade educacional. São reflexões que tangenciam diferentes abordagens e perspectivas teórico-práticas, capazes de auxiliar àqueles que pensam e fazem EaD não somente no Brasil. No conjunto dos textos, os autores buscaram diferentes estratégias e argumentos, mas todos baseados na articulação ou interação entre Educação e Tecnologia Digital - especialmente considerando a EaD como forma de ultrapassar barreiras ou restrições físicas ao desenvolvimento de um processo educativo onde todos se sintam parte integrante, construtiva e motivante da construção do conhecimento de toda a comunidade de aprendizagem de que façam parte. Ou seja, são contribuições que tangem aspectos da aprendizagem, do ensino, da inclusão, entre outros.

Pensar na interseção entre educação e inclusão, também via EaD, é buscar formas diferentes para fomentar uma verdadeira “cultura participativa” (JENKINS et al., 2006), na qual estudantes e docentes trabalham em conjunto para construir cada vez mais conhecimentos, numa lógica ecológica, que se adapta e evolui consoante os interesses daqueles que a integram. Assim, os textos do presente dossiê, de autoria de pesquisadores brasileiros e portugueses, prestam diferentes contributos para se pensar a EaD numa lógica de Educação sem Distância, onde a aprendizagem ativa será a base de tudo (TORI, 2010), pensada para todos e integrada em pleno na Era Digital.

Quando prefaciou o livro Educação a Distância On-line: construindo uma agenda de pesquisa, Otto Peters afirmou que

as pesquisas na emergente área de educação a distância online têm se desenvolvido, até o momento, de forma aleatória, consistindo principalmente de um conjunto de contribuições feitas por pesquisadores trabalhando em diferentes tópicos, em geral isolados uns dos outros (PETERS, 2015, p. xix).

Nesses termos, o presente dossiê cumpre o importante papel de articular os estudos e romper, mesmo que parcialmente, o isolamento previamente estabelecido entre os autores-pesquisadores. Um movimento ainda importante para a agenda de pesquisa sobre EaD é bem esse, de buscar suprir lacunas nos estudos. Afinal, como registramos em Mill et al. (2018), no campo investigativo da EaD “ainda há muitas lacunas1, seja em nível micro, meso ou macroscópico, seja na perspectiva pedagógica, tecnológica, logística, entre outras”. Assim, a seguir apresentamos uma súmula de cada um dos textos deste dossiê, de modo ordenado e como forma de nortear a leitura dos interessados na temática.

O primeiro texto “Educação online e educação aberta: avanços, lacunas e desafios”, de Jacques Ferreira e Ygor Corrêa, apresenta uma contribuição interessante para a área de EaD, na medida em que busca mapear as produções científicas (dissertações e teses) publicadas nas últimas duas décadas sobre Educação online e/ou Educação Aberta. Os autores observaram que as investigações sobre o tema têm enfatizado a importância da flexibilização da Educação para o processo de aprendizagem, bem como a utilização de diferentes recursos didáticos e tecnológicos, enquanto ferramentas que permitem o uso de metodologias interativas. A reflexão indica ainda que possíveis limitações na formação, como a desmotivação dos estudantes, estão associadas à metodologia de ensino ou proposta pedagógica adotada e não ao processo da formação.

No trabalho de Mônica Garbin e Édison Oliveira, “Práticas docentes na Educação a Distância: um olhar sobre as áreas do conhecimento”, são analisadas as práticas docentes nas disciplinas ofertadas pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo durante o primeiro semestre de 2018, relacionando-as ao modelo pedagógico da instituição. Os autores fizeram uma análise dos materiais e recursos utilizados nas diferentes disciplinas, em função dos eixos definidos por esse modelo pedagógico para o desenvolvimento do trabalho académico, concluindo que a maioria das disciplinas não tem aproveitado todas as possibilidades de interação que as diferentes ferramentas digitais podem proporcionar, nem metodologias inovadoras para ensino e aprendizagem. Propõem, por isso, um projeto que gere modelos de oferta de disciplinas conexos ao modelo pedagógico adotado pela instituição, esperando assim conseguir disseminar estratégias que contribuam para fomentar os conceitos do modelo pedagógico da UNIVESP.

No texto “Educação a Distância e inclusão: uma análise sob a perspectiva docente”, Braian Veloso e Daniel Mill fazem uma análise das potencialidades da modalidade de EaD para o processo de inclusão em geral. Partindo de entrevistas e questionários com docentes do sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) e de análise documental e bibliométrica sobre a EaD, os autores apresentam uma reflexão sobre algumas oportunidades ímpares que a formação a distância traz a professores da educação básica e superior. Questões específicas do Sistema UAB (editais, bolsas etc.) e da modalidade de EaD (flexibilidade temporal, espacial etc.) são evidenciadas como fomentadoras de oportunidade de inclusão.

Daniele Schneider deixa-nos algumas reflexões sobre competências tecnológicas digitais dos professores no seu artigo “Fluência tecnológica digital: necessidade emergente da docência na Educação a Distância”. Decorrente de sua investigação de doutorado, a autora explica a importância da fluência tecnológica digital dos professores e que esta não se encontra devidamente refletida na organização de atividades de ensino em cursos de graduação a distância ofertados pela Universidade Federal de Santa Maria no âmbito do programa Universidade Aberta do Brasil. A autora encontrou alguma resistência no uso de tecnologias digitais que pode ser minimizada através de capacitações e formações continuadas que problematizem as novas funções atribuídas ao professor na modalidade EaD. Um texto interessante que identifica ainda fragilidades no uso de tecnologias digitais em EaD mas que lembra que a partir da motivação e da disponibilidade do docente, é possível modificar práticas e usar as tecnologias digitais para melhorar a qualidade do ensino e da aprendizagem.

O artigo “Mídias digitais no contexto da formação de professores indígenas no curso de Pedagogia EaD-MT: problema a ser dialogado” de Maria Aparecida Rezende, aponta as dificuldades que podem existir para frequentar cursos de EaD quando não existem todas as infraestruturas necessárias e como é importante o debate sobre essas questões para que a EaD seja verdadeiramente inclusiva. Tomando como exemplo o curso de Licenciatura em Pedagogia Educação a Distância, realizado pelo Instituto de Educação da Universidade Federal de Mato Grosso/Universidade Aberta do Brasil/Núcleo de Educação a Distância, a autora explica o processo realizado para aproximar a instituição dos seus cursistas, de modo a conhecer a fundo os seus problemas e encontrar estratégias para os resolver, trazendo aos leitores um exemplo importante de trabalho inclusivo para a EaD.

Paulo Constantino e Susana Henriques trazem o texto “Interações on-line nas atividades de orientação de trabalhos finais de curso: um estudo sobre as práticas dos orientadores no Brasil e Portugal”, no qual refletem sobre as interações online entre orientador e cursistas, entre orientadores e entre estes e a supervisão ou coordenação dos cursos. Os autores fizeram uma análise de conteúdo a partir de entrevistas realizadas com oito docentes com o objetivo de mapear as preferências e práticas de interações, os aspectos que envolvem os canais comunicacionais e seus recursos e tipos, os tempos e modos para interações síncronas e assíncronas e a sua periodicidade, a formação de redes sociais e comunidades de aprendizagem e os substratos das relações entre os indivíduos e da criação de redes comunicacionais com finalidades de aprendizagem. Através desse estudo, que é parte de uma ampla investigação sobre esta temática, os autores identificam algumas lacunas nessas relações e apresentam sugestões necessárias a uma orientação de qualidade de trabalhos finais de curso realizados na modalidade a distância.

Teresa Carneiro, Marcello Ferreira e Ralf Moura nos apresentam, no texto “Traços de personalidade e persistência discente em cursos superiores na modalidade a distância”, alguns resultados de estudo sobre peculiaridades dos traços de personalidade dos discentes que persistem em cursos na modalidade de Educação a Distância (EaD). Os autores partem do conceito de traços de personalidade proposto por Mowen (2000) no Modelo Metateórico de Motivação e Personalidade (3M), com cuidado teórico e estatístico na análise dos dados. Na busca comparativa sobre os traços de personalidade associados à persistência discente, foram considerados aspectos como amabilidade, conscientização, autoeficácia e persistência no aprendizado, satisfação com a formação, interatividade, competitividade, entre outros. Tais traços foram analisados em função de categorias como gênero, renda, estado civil, nível da formação, letramento etc.

Numa perspectiva foucaultiana, o texto “Dispositivo de inovação: produção da/o estudante ativa/o no ensino superior” explora o papel (compulsório) dos professores do ensino superior para inovar em suas práticas educacionais, utilizando metodologias que favoreçam a produção de estudantes ativos. Segundo as autoras Shirlei Sales e Rafaela Leal, determinadas técnicas discursivas são acionadas na produção de estudantes autônomos e protagonistas da própria formação. Nesse sentido, questionam-se as decorrências positivas ou não de um processo em que os discentes são incitados a autogovernarem suas condutas e a se corresponsabilizarem por suas aprendizagens. Tendo a Educação a Distância como contexto e partindo de categorias ou ferramentas teórico-analíticas, como dispositivo, discurso, poder, técnica e autogoverno, a reflexão considera que esse processo envolvendo o docente (inovação pedagógica) e discente (autogoverno e corresponsabilização) busca atender ao funcionamento da “sociedade da inovação”.

José António Moreira e Sara Dias-Trindade apresentam um texto sobre “Ambientes virtuais enriquecidos com tecnologias audiovisuais e o seu impacto na promoção de competências de aprendizagem de estudantes de pós-graduação em Portugal”, no qual analisam o impacto do desenvolvimento de um ambiente virtual baseado no Modelo Pedagógico para o desenho de e-Atividades de aprendizagem, centradas na “desconstrução” de imagens em movimento junto de um grupo de estudantes de pós-graduação, ao nível do desenvolvimento de competências de aprendizagem. Os resultados do estudo mostraram que este tipo de ambiente educativo pode ter resultados bastante positivos no desenvolvimento das competências de autoaprendizagem dos estudantes, ao nível das competências analisadas pelos autores: Aprendizagem Ativa, Iniciativa e Autonomia, mostrando que este tipo de estratégia de ensino e aprendizagem pode e deve ser utilizada em diferentes ambientes de EaD.

Daniela Barros, Vanessa Santos e Cristina Romero analisam como os fóruns online podem ser espaços estratégicos para o desenvolvimento e a aplicação de habilidades colaborativas para aprendizagem. Na reflexão, as autoras propõem e analisam algumas “Estratégias para o trabalho colaborativo: revisitando o uso de fóruns online na Educação a Distância”, partindo da interação de estudantes em duas experiências formativas, sendo uma delas desenvolvida em Portugal e a outra na Espanha. Na discussão, são explorados dados coletados pelas autoras, além de buscar contribuições teóricas sobre a Educação a Distância, a aprendizagem colaborativa, estratégias pedagógicas para o desenvolvimento de habilidades colaborativas etc. Como consideração final, desvelam-se as riquezas e contribuições de ferramentas similares ao fórum de discussão para a aprendizagem colaborativa, bem como os cuidados e desafios para a elaboração de propostas de interação na EaD.

No texto “Saberes necessários à educação do futuro: Recursos Educacionais Abertos à luz do pensamento complexo”, Cláudia Gonçalves e Ricardo de Sá apresentam uma reflexão sobre a produção de Recursos Educacionais Abertos (REA) à luz do pensamento complexo em um curso de formação continuada online para professores e pedagogos. Conforme os autores, a análise dos Recursos Educacionais Abertos produzidos pelos participantes do estudo durante o curso indicam fomento à pesquisa e à inovação pedagógica. O estudo ressalta, ainda, o movimento colaborativo da participação dos professores e pedagogos envolvidos no curso. O texto mostra-se, portanto, importante para o dossiê, na medida em que contribui para melhor entendimento da produção colaborativa dos REA como proposta de inovação pedagógica.

Numa reflexão propositiva e tendo a Educação a Distância como contexto de análise, Jeong Zaduski, Ana Virginia Lima e Klaus Schlünzen Junior analisam o tema “Ecossistemas da aprendizagem na era digital: considerações sobre uma formação para professores na perspectiva da educação inclusiva”, explorando uma proposta de aprendizagem com foco no ambiente que permeia os processos formativos, com especial ênfase nas possibilidades de fomento à inclusão. Para além do educando e do seu ambiente formal de aprendizagem, os autores analisam outros elementos do ecossistema de ensino-aprendizagem, tomando a modalidade de EaD como forma e espaço de encontro, interação, respeito e inclusão.

Outra contribuição do dossiê é o texto de Maria Velloso e Maria Castanheira, que sob o título de “Inclusão digital e práticas de leitura em um telecentro de uma comunidade quilombola”, analisa práticas de leitura no contexto digital. Explorando experiências de usuários de um telecentro no interior de Minas Gerais, as autoras refletem sobre o potencial dessa política de inclusão digital brasileira considerando os significados, os valores e as finalidades que membros dessa comunidade conferem ao uso do computador e da internet no telecentro. São analisadas experiências livres e usos orientados dos computadores com internet, buscando possíveis subsídios que as tecnologias digitais possam fornecer para o atendimento dos reais interesses das pessoas de comunidades específicas, como as comunidades quilombolas.

A Revista Diálogo Educacional, além de artigos do dossiê, sobre temas educacionais relevantes e instigantes, abre espaço, na segunda parte de seus números, para a publicação de artigos de demanda contínua, na qual são tratados temas objeto de diversas áreas de pesquisa na esfera educacional. A seguir, apresentamos os nove artigos que integram esta edição.

O primeiro estudo apresentado, de autoria de Amurabi Oliveira, intitula-se “Trajetórias e práticas pedagógicas entre professores de sociologia”. Neste, é discutida a relação entre trajetórias e práticas pedagógicas, a partir da ideia de disposições incorporadas duráveis (habitus) entre professores de sociologia que atuam no ensino médio. Essa reflexão tem particular interesse no que se refere à formação e atuação dos professores de sociologia, disciplina reinserida no currículo escolar em 2008. A pesquisa identificou pontos de aproximação e de distinção entre os formados em ciências sociais e aqueles oriundos de outras áreas, o que se relaciona também às condições em que as práticas são produzidas.

Na sequência, Francisco Regis Vieira Alves apresenta uma proposição, fortemente influenciada pela pesquisa francesa sobre didática profissional (DP) e didática das matemáticas (DM), em desenvolvimento no Brasil. O artigo intitulado “Didactique professionnelle (DP) et théorie des situations didactiques (TSD): une perspective e complementarité au Brésil” tem por objetivo determinar um caráter de complementaridade e de aplicação dos dois campos teóricos, para melhor compreender e modelizar a atividade e os elementos reguladores da prática profissional do professor. Além disso, destaca a utilização da tecnologia, a fim de compreender algumas noções fundamentais para a DP e a DM.

O artigo seguinte é de autoria de Alisson Slider do Nascimento de Paula, Frederico Jorge Ferreira Costa e Kátia Regina Rodrigues Lima, intitulado “O modelo de accountability e a política de avaliação da educação superior no Brasil”. A proposta do texto é articular a racionalidade neoliberal em que se expressam a avaliação e a lógica da regulação como accountability, com os mecanismos que constituem a lógica da avaliação da educação superior, também definindo os padrões de sua qualidade. Como resultado, verificou-se que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior utiliza diversos mecanismos para operacionalizar a avaliação, esta cuja centralidade está calcada no exame por desempenho como base dos processos regulatórios das Instituições de Educação Superior, além da utilização de indicadores classificatórios, comparativos e escalonais para a sistematização de dados direcionada à constituição derankingsentre as instituições.

“Postura cartográfica nos percursos de pesquisa” é o trabalho elaborado por Maria de Lourdes da Silva Neta, em colaboração com Antonio Germano Magalhães Junior e Sarah Bezerra Luna Varela Machado. A pesquisa teve por objeto as narrativas de sujeitos sobre a cartografia como postura investigativa adotada por um grupo de pesquisadores, descrevendo o percurso metodológico e os caminhos percorridos na exploração dos objetos, na constituição de aprendizagens e na superação das dificuldades no/do pesquisar. O objetivo foi compreender as experiências de percurso constituídas por professores/pesquisadores em formação que utilizam a postura cartográfica como atitude perante o exercício da pesquisa. A partir da análise dos relatórios dos pesquisadores foi possível perceber que a postura cartográfica motivou o espírito científico, além da incerteza na busca do conhecimento na formação do grupo de pesquisadores.

Uma reflexão sobre a educação dos jovens do Ensino Médio, na perspectiva do estabelecimento da Base Nacional Comum Curricular, foi realizada pelas pesquisadoras Ana Lara Casagrande, Katia Morosov Alonso e Danilo Garcia da Silva. No artigo intitulado “Base Nacional Comum Curricular e Ensino Médio: reflexões à luz da conjuntura contemporânea” são promovidas discussões (desenvolvidas junto ao procedimento de análise bibliográfica) acerca do currículo e da dualidade educacional, para contextualizar o impacto de uma base comum em um país de dimensões continentais e pluralidades culturais como o Brasil. Os autores destacam que garantir conteúdos mínimos, ao mesmo tempo que traz uma noção de universalização dos conhecimentos e aprendizagens iniciais a serem adquiridas, pode gerar uma padronização reducionista, com o risco de desenhar-se um descompasso entre a formação integral para todos e o trabalho limitante de diretrizes confundidas a um currículo único. Finalizam destacando que a qualidade educacional não será materializada fora das discussões sobre currículo, política, formação docente e sistema econômico.

Em “Metodologia de narrativas autobiográficas na formação de educadores”, Lidnei Ventura e Dulce Márcia Cruz estudam narrativas autobiográficas de um grupo de alunas egressas do curso de Pedagogia a distância do Centro de Educação a Distância (CEAD), da Universidade do Estado de Santa Catarina. O objetivo do artigo é explorar o potencial formativo da metodologia de narrativas autobiográficas (memoriais) coletadas no espaço biográfico do curso de extensão intitulado “Narrativa, autobiografia e formação de educadores”, destinado à formação continuada de egressos, promovido pelo CEAD. O movimento de pesquisa e formação oferecido no referido curso priorizou três momentos (auto)formativos interdependentes: o exercício da experiência narrativa, a socialização da experiência narrativa e a (meta)reflexão sobre a experiência narrativa. Como resultado, ainda preliminar, constatou-se a importância da pesquisa narrativa no âmbito das ciências humanas, bem como suas possibilidades inovadoras de construção de conhecimentos, habilidades e competências acadêmicas e profissionais por parte dos sujeitos educadores pesquisados em formação.

Andrea Iglesias e Myriam Southwell, em seu artigo “Paradojas de formarse como docente siendo ‘recién llegados’” retomaram as conclusões de uma pesquisa que estudou as relações entre as trajetórias de formação inicial e continuada de professores iniciantes de escolas secundárias e suas estratégias de inserção profissional na cidade de Buenos Aires, Argentina. A partir de um enfoque histórico-cultural e com abordagem qualitativa, foi retomada a experiência formativa de um conjunto de jovens entrevistados que constituía a primeira geração da respectiva família a chegar ao ensino superior. Esses jovens se formaram como docentes no contexto da expansão da educação superior e da massificação do nível médio na região. Os resultados indicaram que as famílias valorizam a formação superior, ao mesmo tempo que a docência lhes ofereceu uma via de ascensão superior e uma possibilidade de trabalho.

Finalizando a apresentação dos textos trazidos na parte relativa à demanda contínua, está o trabalho de Marilda Pasqual Schneider, denominado “Dispositivos de accountability na reforma da educação básica brasileira: tendências em curso”. O objetivo do estudo foi empreender uma análise em torno do vocabulário da reforma na educação básica brasileira, de modo a perspectivar tendências em curso a partir da apropriação de expressões e mecanismos atualmente associados àaccountabilityeducacional. Os resultados evidenciam a construção de uma rede discursiva no vocabulário da reforma que, no seu conjunto, propõe mudança nos modos de regulação da educação básica. Contrariando a perspectiva de uma política para uma educação básica democrática, disseminada nos documentos analisados, a interpretação das significações do vocabulário concorda com características para umaaccountabilitygerencial, a partir da qual seja possível alcançar eficiência educacional e competitividade internacional por meio de reformas alinhadas a princípios danew public management.

Esperamos que a leitura dos diferentes textos que compõem este número da Revista Diálogo Educacional, com especial atenção ao dossiê temático, possa contribuir para o traçar de cada vez mais caminhos nos diferentes esforços pela Educação a Distância, fomentando assim para que a modalidade de EaD se assuma como uma Educação de cariz Humanista, onde o estudante assume uma postura cada vez mais ativa e o professor desempenha um papel não só de moderador, mas sobretudo de promotor de interações entre todos os participantes, em ambientes digitais onde a inclusão é não apenas uma palavra de ordem mas, acima de tudo, uma realidade onlife (FLORIDI, 2015). Esperamos também que a formação docente seja enriquecida com reflexões e discussões sobre os diversos temas apresentados, na perspectiva da educação que desejamos.

Fica o convite à leitura!

Referências

FLORIDI, L. (Ed). The Onlife Manifesto: Being Human in a Hyperconnected Era. s.l.: Springer Open, 2015. Disponível em <https://link.springer.com/content/pdf/10.1007%2F978-3-319-04093-6.pdf>. Acesso em 01 fev 2019. [ Links ]

JENKINS, H. et al. Confronting the challenges of participatory culture: media education for the 21st century. Chicago: MacArthur Foundation, 2006. [ Links ]

MILL, D. Educação a Distância: cenários, dilemas e perspectivas. Revista de Educação Pública, v. 25, p. 432-454, 2016. [ Links ]

MILL, D. Dicionário Crítico de Educação e Tecnologias e de Educação a Distância. Campinas: Papirus, 2018. 736p. [ Links ]

MILL, D.; PIMENTEL, N. M. (Orgs.). Educação a Distância: desafios contemporâneos. São Carlos: EdUFSCar, 2010. 344p. [ Links ]

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PETERS, O. Prefácio. In: ZAWACKI-RICHTER, O.; ANDERSON, T. Educação a Distância Online: construindo uma agenda de pesquisa. São Paulo: Artesanato Educacional, 2015. [ Links ]

TORI, R. Educação sem distância: as tecnologias interativas na redução de distâncias em ensino e aprendizagem. São Paulo: Editora Senac; Escola do Futuro, 2010. [ Links ]

1Um esforço para suprir ao menos parcialmente essas lacunas desembocou na publicação coletiva do Dicionário Crítico de Educação e Tecnologias e Educação a Distância (MILL, 2018), em que diversos termos e verbetes são trabalhados conceitualmente por pesquisadores do Brasil e do exterior para fomentar novas investigações da área.

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