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Revista Diálogo Educacional

versión impresa ISSN 1518-3483versión On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.20 no.65 Curitiba abr./jun 2020  Epub 27-Jul-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.20.065.ap01 

Apresentação

Docência universitária, saberes e práticas pedagógicas: desafios, perspectivas e inter-relações didáticas

Osmar Hélio Alves Araújoa 
http://orcid.org/0000-0003-3396-8205

Francisco Mirtiel Frankson Moura Castrob 
http://orcid.org/0000-0002-8685-9857

Jacques Therrienc 
http://orcid.org/0000-0001-5458-365X

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieirad 
http://orcid.org/0000-0003-3759-0377

a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil. Doutor em Educação, e-mail: osmarhelio@hotmail.com

b Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, CE, Brasil. Doutor em Educação, e-mail: mirtiel_frankson@yahoo.com.br

c Universidade Estadual do Ceará (UECE), Fortaleza, CE, Brasil. Doutor em Educação, e-mail: jacques@ufc.br

d Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: alboni@alboni.com


A docência universitária, como uma atividade complexa que demanda múltiplas condições e saberes para a construção das práticas pedagógicas, exige o aprofundamento de questões cruciais, como a formação dos professores que atuam nesse segmento, bem como a prática educativa e da pesquisa em seus plurais aspectos, além das inter-relações didáticas neste nível superior. A análise dessas três dimensões - docência universitária, saberes e práticas pedagógicas - está intrinsicamente relacionada ao êxito do exercício do magistério no Ensino Superior e à formação de profissionais capazes de atuar em várias áreas da sociedade. A docência universitária requer, por sua vez, no bojo de sua formação e atuação, o domínio de conhecimentos específicos, a aprendizagem de saberes e práticas que historicamente não foram investigadas no âmbito acadêmico, sendo, por isso, singularidades de uma práxis situada.

O termo “docência universitária”, adotado neste dossiê, refere-se à Educação Superior realizada por professores que atuam neste nível de ensino tanto em universidades, como em faculdades, centros universitários e demais instituições de ensino superior. Esse termo foi usado na ausência de uma nomenclatura que contemple e dê conta de caracterizar a docência realizada pelos professores nesses diferentes espaços. Além disso, tem maior expressividade epistemológica para a docência realizada no Ensino Superior, porque explicita em si aspectos históricos da existência do Ensino Superior, os quais se interligam e expressam dimensões formativas da função social e da própria história da Universidade. Ao tratarmos do tema formação, é importante considerar inicialmente que:

Hoje em dia, é cada vez menor o número de atividades que não necessitam de processos de formação específica para serem realizadas; por isso, a formação é cada vez mais necessária e profunda à medida que as atividades (profissionais, sociais e, inclusive, pessoais) tornam suas exigências mais complexas (ZABALZA, 2004, p. 35).

A necessidade de discutir sobre o tema docência em nível superior instigou a elaboração deste Dossiê Temático, composto por 18 artigos e intitulado de “Docência universitária, saberes e práticas pedagógicas: desafios, perspectivas e inter-relações didáticas”.

O primeiro artigo, de autoria de Osmar Hélio Araújo, Ivan Fortunato e Francisco Mirtiel Frankson Moura Castro, leva o título “Dilemas (in)visíveis da formação para a docência nas licenciaturas”. No artigo em questão, os autores buscam examinar alguns dilemas (in)visíveis à formação para a docência em licenciaturas, tais como: baixa adesão de estudantes e egressos à carreira docente; a formação para a docência nos cursos de licenciatura concebida e realizada, muitas vezes, como uma atividade secundária; e, por fim, a formação inicial dos professores nos cursos de licenciatura centrada, amiúde, na ação docente “individual” em detrimento de um contexto de trabalho coletivo.

“Conhecimento e aprendizagem na Educação Superior: desafios curriculares e pedagógicos no século XXI” é título do artigo dos professores José Augusto Pacheco, Joana Sousa e Ila Beatriz Maia. No referido artigo, os autores discutem a seguinte questão: Que desafios curriculares e pedagógicos enfrenta a educação superior no século XXI, tendo em consideração a relação indissociável entre conhecimento e aprendizagem?. Ainda, nesse artigo, os dados são descritos e analisados a partir de estudos de caso, com vista a identificar desafios curriculares e pedagógicos, servindo ainda de fundamentação de uma pedagogia como conversação complexa e deliberativa na educação superior.

No artigo “Diálogo: desafios da docência diante do papel social da universidade”, das professoras Marinalva Lopes Ribeiro e Taiara de Lima Silva Sales, as autoras apresentam os resultados de uma pesquisa qualitativa que teve como objetivo compreender, diante da função social da universidade, os desafios referentes à aprendizagem no exercício da docência, na visão de treze professores da Educação Superior.

No texto “Docência na Educação Superior: problematizadora e tecnocientífica”, as professoras Ilma Passos Alencastro Veiga e Edileuza Fernandes Silva discutem como dois professores constroem a docência em cursos de Medicina e Engenharia Civil de uma instituição de ensino superior do Distrito Federal. Tem-se como pressuposto, no artigo em apreço, que a atividade docente pode reforçar ou desconstruir a dicotomia entre formação técnico-profissional e formação para o exercício crítico, consciente e comprometido com a sociedade e suas demandas.

No texto “Educação Popular e Formação Docente: experiências de re-existência”, das professoras Maria Teresa Esteban e Marisa Narciso Sampaio, discutem-se, a partir de uma pesquisa exploratória, princípios da Educação Popular na Colômbia e no Brasil, presentes em experiências educacionais de formação docente e práticas escolares.

“Racismo, Derechos Humanos, y Educación Superior en América Latina” é o título do artigo do prof. Daniel Mato. O autor destaca o caráter histórico estrutural do racismo nas sociedades latino-americanas e como sua “naturalização” afeta as possibilidades de indivíduos e comunidades de povos indígenas e afrodescendentes exercerem plenamente o direito à educação, com atenção especial ao ensino superior, entre outros pontos.

O artigo “Assessment of teacher training in the Brazilian educational context”, dos professores Tsitsi Roselene Bwetenga, Mariana Cristina Alves de Abreu e José Airton de Freitas Pontes Junior, discute as demandas, lacunas e contribuições da avaliação na formação inicial e continuada de professores no contexto da educação brasileira.

No artigo “Contribución de la educación popular al pensamiento descolonizador. Prácticas pedagógicas universitarias en Cuba y Brasil”, os autores, María Victoria González Peña e Leôncio José Gomes Soares, têm como foco discutir a contribuição da Educação Popular (PE) como perspectiva teórico-metodológica para refletir e reverter essas manifestações no contexto da educação superior no século XXI.

“Promoção da leitura na universidade: possibilidades por meio do ensino de estratégias de leitura” é o título do artigo de Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro e Jéssica Lacerda Mota. As autoras discutem a promoção da leitura na universidade por meio de dados coletados em uma aula sobre estratégias de leitura, demonstrando, ao mesmo tempo, os benefícios da abordagem didática desenvolvida nesta aula.

Os professores Odaléa Feitosa Vidal e Luís Paulo Leopoldo Mercado, no artigo intitulado “Integração das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação em Práticas Pedagógicas Inovadoras no Ensino Superior”, abordam a integração das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) no ensino superior com foco nas práticas pedagógicas inovadoras que se configuram no trabalho docente, tendo como objetivo identificar as práticas pedagógicas inovadoras no ensino superior com TDIC.

“Para quem os professores planejam suas aulas? Um estudo de caso luso-brasileiro” é título do estudo realizado pelos professores João Rodrigo Santos Silva, Fernando Guimarães e Paulo Takeo Sano. Os resultados do referido estudo indicam que todos os professores consideram os conteúdos abordados nas aulas como fator principal na organização e no planejamento. Em relação ao perfil dos estudantes, metade dos docentes considera que todos devem saber o conteúdo específico, independentemente de onde irão atuar.

Lia Machado Fiuza Fialho e José María Hernández Díaz, no artigo “Maria Zelma de Araújo Madeira: memórias de formação e resistências da docente universitária negra”, a partir de uma pesquisa biográfica, tratam da biografia de Maria Zelma de Araújo Madeira, educadora negra que se inspirou na superação do preconceito racial para fomentar uma educação crítica voltada para a cidadania e justiça social na sua docência universitária.

No texto “Desafios na formação para a docência universitária em cursos de pós-graduação”, Noeli Prestes Padilha Rivas apresenta parte da pesquisa “A formação pedagógica de professores para o Ensino Superior nos Programas de Pós-Graduação”, realizada no âmbito do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre a Formação de Professores e Currículo. A pesquisa em questão teve como objetivo investigar a formação pedagógica de professores para o Ensino Superior oferecida nos Programas de Pós-Graduação da área de Ciências da Saúde em uma universidade pública paulista, no contexto da Etapa de Preparação Pedagógica do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino (PAE).

“Trajetórias de formadoras de professores: os desafios do desenvolvimento profissional docente” é título do estudo realizado pelas professoras Maria Helena Padilha Bandeira Moraes Hernandes e Cristhianny Bento Barreiro. O estudo em questão teve como objetivo compreender o desenvolvimento profissional de formadores de professores de um Curso de Formação Pedagógica. Como metodologia de pesquisa, foi utilizada a pesquisa narrativa, por privilegiar a fala dos professores como fonte, propiciando a articulação das dimensões pessoais e sociais que compõem suas ideias, suas crenças, seus modos de pensar e estar no papel de formadores de professores.

Com o título “Exercer a docência no Ensino Superior brasileiro na contemporaneidade com sucesso (competência e eficácia) se apresenta como um grande desafio para o professor universitário”, Marco Tarciso Masetto toma como ponto de partida o cenário no qual a universidade brasileira se vê envolvida em inovações que afetam os paradigmas curriculares, a dinamização das aulas universitárias através de metodologias ativas, a chegada do aluno que, no dizer de Veen e Vrakking (2009) se apresenta como um “homo zappiens” conectado com inúmeros grupos de WhatsApp, Facebook, Instagram. Neste cenário, segundo o autor, surge um desafio para o docente: como agir de modo eficaz junto aos alunos para que estes se formem profissionais competentes para o século XXI? Em resposta a esse desafio o autor apresenta reflexões buscando problematizá-lo, baseando-se em estudos teóricos sobre inovações no ensino superior, em suas experiências de docência nas últimas décadas, em orientações de pesquisas de mestrado e doutorado defendidas sobre projetos curriculares inovadores e formação de professores para agirem em tais projetos.

No artigo “Narrativas de um professor arquiteto: contribuições da trajetória para seu desenvolvimento profissional”, dos professores Carolina Nobrega Saboia Luz, Isabel Maria Sabino de Farias e Wilson Nobrega Saboia, os autores expõem a trajetória de desenvolvimento profissional de um arquiteto professor, em particular, sua formação pedagógica, visando compreender como e em que a trajetória desse docente arquiteto se relaciona “com” e “para” o seu ato de ensinar.

“Pós-graduação: a orientação coletiva como espaço de formação do futuro pesquisador” é título do artigo dos professores Yara Fonseca de Oliveira e Silva e João Roberto Resende Ferreira. No referido artigo, os autores apresentam reflexões sobre a experiência da orientação coletiva (OC) realizada no Campus de Ciências Sócio-Econômicas e Humanas da Universidade Estadual de Goiás (CSEH-UEG), em Anápolis, nos anos letivos de 2017, 2018 e primeiro semestre de 2019, com mestrandos do Programa de Pós-Graduação do Mestrado Interdisciplinar de Educação, Linguagens e Tecnologias (PPG-IELT) e do Mestrado Profissional de Ensino de Ciências (PPGEC), ambos da UEG.

Marcos Henrique Almeida dos Santos e Mara Regina Lemes de Sordi, com o artigo “Docência universitária: profissionalidade em foco”, discorrem sobre o processo gradativo de constituição da profissionalidade docente de professores iniciantes de uma universidade pública estadual, com base nas experiências de formação e atuação profissional, vivenciadas no decorrer de suas trajetórias. A discussão é resultado de uma pesquisa predominantemente qualitativa, realizada a partir do acompanhamento do trabalho de 10 professores, de diferentes áreas do conhecimento. Os autores enfatizam, com base na análise dos dados produzidos, que foi possível compreender que os professores iniciantes, conscientes ou não das suas microdecisões pedagógicas, constroem caminhos que possibilitam a constituição de uma profissionalidade docente universitária, a partir da gradativa apropriação e construção, no trabalho pedagógico, de conhecimentos específicos da docência.

O conjunto de artigos aqui compilados evidencia diferentes enfoques e objetivos de pesquisa na área da educação que se integram e se articulam, mesmo com perspectivas teórico-metodológicas distintas, ao tema docência universitária, destacando-o como temática relevante a ser discutida e pesquisada. Afinal, dentre outros aspectos, desenvolve a formação de outros profissionais, instiga e produz conhecimentos. Assim, almejamos contribuir para o surgimento de outros estudos e pesquisas acerca da docência no Ensino Superior e, em especial, sobre as problemáticas que perpassam o trabalho desses profissionais, considerando que temos ainda poucos estudos e pesquisas nessa direção.

Na demanda contínua, este número da Revista Diálogo Educacional traz dois artigos que nos instigam a reflexões importantes.

Em “Percepções de estudantes do curso de Nutrição sobre uso de metodologias ativas como ferramental do aprendizado por competências”, as professoras Cilene da Silva Gomes Ribeiro e Gisele Pontaroli Raymundo analisam as percepções e dificuldades de estudantes do curso de Nutrição da instituição, no que diz respeito aos seus protagonismos no modelo de aprendizagem pautado em competências. Com dados coletados por meio de grupo focal, identificaram nesse modelo três categorias: significados atribuídos às metodologias ativas; significados atribuídos à estrutura física na utilização das metodologias ativas; e mudanças promovidas pela inserção das metodologias ativas no ensino-aprendizagem. Os resultados demonstraram que os estudantes têm percepções positivas da importância de seu protagonismo, ainda que em certas situações, sejam reativos à participação nas aulas que empregam metodologias ativas de aprendizado.

O artigo dos pesquisadores Júlio Magido Velho Muara e de Flávia Obino Corrêa Werle, com o título “O regimento escolar e a desigualdade de oportunidades na educação moçambicana”, num primeiro momento, trata dos instrumentos de regulamentação escolar para, adiante, analisar o insucesso escolar da menina em idade escolar nas escolas moçambicanas. A partir do estudo, os autores constatam que as escolas moçambicanas expulsam as estudantes, ato que fere a Constituição da República e as normas regulamentares internacionais, atropelando a democracia escolar e colocando as escolas em situação de injustas. Propõem, assim, uma união de esforços entre órgãos públicos, familiares e professores para minimizar a situação.

Ao final, agradecemos aos colegas que se debruçaram sobre a temática em discussão, visando a produzir conhecimentos relevantes para a busca por tempos, espaços e condições propícias de trabalho docente no Ensino Superior, sobretudo diante de tantos pontos críticos emergentes no contexto político-social atual.

Boa leitura e excelentes reflexões.

Os Editores

Referências

ZABALZA, M. A. O ensino universitário: seu cenário e seus protagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004. [ Links ]

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