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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.20 no.67 Curitiba out./dez 2020  Epub 31-Dez-2020

https://doi.org/10.7213/1981-416x.20.067.ap01 

Apresentação

Educação, Formação e (Auto)Formação de Mulheres

MARTA MARIA DE ARAÚJOa 

MARIA CELI CHAVES VASCONCELOSb 

RAYLANE ANDREZA DIAS NAVARRO BARRETOc 

CRISTINA C. VIEIRAd 

ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRAe 

aProfessora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Doutora em Fundamentos da Educação e Didática (USP), e-mail: martaujo@uol.com.br

bProfessora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Doutora em Educação (PUC-Rio), e-mail: maria2.celi@gmail.com

cProfessora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Doutora em Educação (UFRN), e-mail: raylane.navarro@ufpe.br

dProfessora Associada da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra - Portugal. Doutora em Ciências da Educação - Psicologia da Educação, e-mail: vieira@fpce.uc.pt

eProfessora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Doutora em Educação (PUCPR), e-mail: alboni@alboni.com


O Grupo de Pesquisa Interinstitucional “Educação de Mulheres nos Séculos XIX e XX”, organizador do Dossiê - Educação, Formação e (Auto)Formação de Mulheres - especialmente dedicou essa edição da Revista Diálogo Educacional aos estudos e pesquisas sobre os lugares de enunciação da educação e, igualmente, da formação de mulheres que representam seus coletivos de classe e que foram as protagonistas de significativas mudanças sociais.

O Dossiê publicado é composto de dezesseis artigos de pesquisadoras e pesquisadores de instituições universitárias de todas as regiões brasileiras e de Portugal. Parte dos artigos é derivada dos estudos desse Grupo de Pesquisa Interinstitucional, mediante o Projeto A educação de mulheres ao longo dos séculos XIX e XX, financiado pelo Edital do Universal (2018) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

No primeiro artigo intitulado “As especialidades convenientes à educação de mulheres no Brasil (séculos XIX e XX)”, Marta Maria de Araújo e Cristina Coimbra Vieira refletem sobre os ofícios convenientes à educação de mulheres e sobre os fundamentos social-pedagógicos da educação feminina, referentes aos séculos XIX e XX no Brasil.

No artigo seguinte, “Ensinamentos e contos: Maria Amália Vaz de Carvalho e sua estratégia para a educação da mulher”, Maria Celi Chaves Vasconcelos analisa as obras Mulheres e Crianças: notas sobre educação e Contos e Phantasias, acerca da educação feminina, de autoria da poetisa e escritora portuguesa Maria Amália Vaz de Carvalho, publicadas no ano de 1880. Em um plano mais específico, aborda a concepção da autora sobre a educação doméstica de meninas, realizada pelas próprias mães ou por mestras contratadas.

No estudo “Naíde Regueira Teodósio: médica, professora e pesquisadora em tempos autoritários”, Raylane Andreza Dias Navarro Barreto e Carliane Maria do Carmo Lins da Natividade analisam a relação formação-atuação profissional-enfrentamento a regimes autoritários da médica, professora, pesquisadora pernambucana e militante do Partido Comunista Brasileiro, Naíde Regueira Teodósio, no período de 1915 a 2005.

Em “Cartas, diários e cadernos de uma preceptora: a Condessa de Barral através de seus escritos”, Ana Cristina Borges López Monteiro Francisco apresenta e interpreta parte dos itinerários pedagógicos adotados pela Condessa de Barral, enquanto preceptora principal das herdeiras do Trono do Brasil, Isabel e Leopoldina, filhas de D. Pedro II, de 1856 a 1864.

No trabalho “Formação educacional e redes de sociabilidade intelectual de Eudésia Vieira na Paraíba (Século XX)”, Amanda Sousa Galvíncio e Jean Carlo de Carvalho Costa procuram entender como ocorreram o processo de formação educacional e os deslocamentos nos espaços de sociabilidade intelectual de Eudésia Vieira nas primeiras décadas do século XX, além da narrativa individual, para tecerem paralelos com outras trajetórias femininas do mesmo período, identificando-a de modo geracional.

No artigo “Entre lar e Igreja: A Educação de mulheres e as Congregações Religiosas na Amazônia Paraense (1900-1927)”, Tayana Helena Cunha Silva e Laura Maria Silva Araújo Alves analisaram as ações e práticas educativas das Congregações Filhas de Sant’Ana e Irmãs de Santa Doroteia, nas primeiras décadas do século XX.

No estudo “A escrita educacional feminina de Maria Lacerda de Moura (1918-1919)”, Paula Cristina David Guimarães examina a escrita educacional feminina da professora de escola normal do interior de Minas Gerais, Maria Lacerda de Moura, nos livros Educação (1918) e Renovação (1919), identificando as diferentes relações de poder que permeavam a atuação da mulher no contexto educacional e social.

No texto “A formação de professoras na Escola Normal Nossa Senhora da Piedade (1919 a 1925)”, Martha Raíssa Iane Santana da Silva e Larissa Pinca Sarro Gomes interrogam, especificamente, a respeito dos saberes ofertados na Escola Normal Nossa Senhora da Piedade, da cidade de Ilhéus (Bahia), de inspiração francesa, assim como discutem as contribuições dessa instituição e de sua interiorização à propagação do ensino primário.

No artigo “A invenção da inversão: ciência, educação e lesbianidade”, Marlon Silveira da Silva, Marcio Caetano e Maria da Conceição Silva Soares verificam os discursos científicos sobre a homossexualidade feminina, produzidos entre as décadas de 1920 e 1950, particularmente as representações presentes nesses discursos, que contribuíram na invenção daquilo que foi assimilado como a invertida sexual e/ou homossexual feminina.

No trabalho “A feminização do magistério: o lugar da mulher como professora no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba”, Michelle Castro Lima analisa a formação de professoras da Escola Normal e do Magistério, além da relação entre a feminização e o exercício do magistério no Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba de 1946 a 1979.

No artigo “Mulheres na universidade: a presença feminina no movimento estudantil paranaense (1964-85)”, Luana Regina Borges e Alexandre Felipe Fiuza abordam a participação feminina no Movimento Estudantil Universitário paranaense durante a ditadura civil-militar brasileira (1964-1985), tendo como foco de análise o processo histórico da inserção feminina na educação formal e no ensino superior ao longo dos séculos XIX e XX.

Em “Encontros e percursos de professoras militantes: Hildésia Medeiros e Dodora Mota”, Lia Ciomar Macedo de Faria e Thaís Rodrigues Martins evidenciam os trajetos de vida de Hildésia Medeiros e Maria das Dores Pereira Mota, perscrutando seus processos de formação inicial, o encontro entre ambas e sua repercussão em seus caminhos, para assim compreenderem como se forjaram suas concepções e atuação em prol da educação pública.

No artigo “Formação e educação da mulher e o caderno de Economia Doméstica (Dourados, Mato Grosso - 1972)”, Inês Velter Marques e Alessandra Cristina Furtado analisam o ensino de Economia Doméstica no Colégio Estadual Presidente Vargas da cidade de Dourados, tendo, como fonte principal, um caderno de uma ex-aluna do Curso Ginasial do ano de 1972.

No artigo “Enfrentamentos e aprendizados: a insurgência feminina no Acampamento Zé Maria do Tomé, Chapada do Apodi-CE”, Sandra Maria Gadelha de Carvalho, Mila Nayane da Silva e Lia Pinheiro Barbosa apresentam o processo de aprendizagem repercutido na vida das camponesas, enfatizando a práxis de resistência contra o patriarcado emergida no contexto da luta pela terra, coordenada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Analisam, portanto, os aprendizados ocorridos nas reverberações políticas e subjetivas da inserção das mulheres no MST.

No estudo “Casamento cigano: tradição ou crime? Processos educativos de constituição de mulheres ciganas”, Gláucia Siqueira Marcondes e Anderson Ferrari problematizam os modos pelos quais três mulheres ciganas vão se constituindo enquanto mulheres dessa cultura, demonstrando como os aparatos de verdade e de poder, sobre infância e pedofilia, interferem no modo como compreendemos o casamento cigano.

No último artigo do Dossiê “’Outros’ coletivos femininos: Lutas e Resistências que formam mulheres quilombolas na Amazônia”, Ellen Rodrigues da Silva Miranda e Doriedson do Socorro Rodrigues evidenciam que os coletivos femininos das mulheres quilombolas estão inseridos no campo do debate de gênero, raça, patriarcado e classe. Por sua vez, os seus modos, suas lutas e resistências constituem-se em “outras” formas de lutas ao capital e fazem parte dos processos formativos das classes sociais, revelando-se como lutas sociais distintas de “outros” coletivos femininos.

Mulheres professoras, educadoras, preceptoras, escritoras, militantes políticas, camponesas, ciganas, quilombolas e mulheres de outros coletivos femininos, em diferentes tempos e lugares foram iluminadas pelos dezesseis artigos reunidos no presente Dossiê, que, inevitavelmente, revelaram as peculiaridades apreensíveis da educação, da formação e da (auto)formação por ângulos particulares, múltiplos e de classe, mas também os protagonismos que elas tiveram nas lutas sociais.

A segunda parte deste número é composta por oito artigos provenientes de demanda contínua, o primeiro dos quais é “O protagonismo da mulher no Suplemento Feminino do jornal O Estado de S. Paulo”, de autoria das pesquisadoras Gizeli Fermino Coelho, Raquel dos Santos Quadros e Maria Cristina Gomes Machado. Com o objetivo de analisar o modo como o Suplemento Feminino do jornal O Estado de São Paulo propagava ideais que levavam as mulheres paulistas a contribuírem com a articulação do Golpe Militar de 1964, foram estudados textos e propagandas publicados entre os anos de 1960 e 1964. Verificou-se que o discurso veiculado pelo Suplemento era duplamente ideológico, dando voz às mulheres nas decisões políticas, mas convencendo-as de que o seu lugar se restringia ao lar, no qual atuaria como protetora do lar, da família e da pátria.

Ana Paula Gestoso de Souza e Aline Maria de Medeiros Rodrigues Reali, no artigo “Mentoras de professoras iniciantes: a construção de uma base de conhecimentos”, trazem os resultados de uma pesquisa-intervenção na qual foram estudados as contribuições e os limites de um programa híbrido de mentoria para o desenvolvimento profissional de professores experientes e de professores iniciantes. As categorias que compõem a base de conhecimento para a mentoria foram obtidas por meio da análise de narrativas escritas pelas mentoras sobre sua experiência com as professoras iniciantes. Constatou-se, também, a importância da mentoria para auxiliar as professoras iniciantes a lidarem com as tensões vividas e na busca de soluções.

Na sequência, tem-se o artigo “Incursões sobre a estruturação da disciplina de Libras nos cursos de formação de professores”, em que Karina Ávila Pereira e Mayara Bataglin Raugust problematizam as práticas discursivas que se constituem como verdades, legitimando o ensino de Língua Brasileira de Sinais - Libras - como segunda língua no ensino superior. Os resultados apontaram para a necessidade de uma reordenação da disciplina, no sentido de que desenvolva habilidades de expressão e de compreensão mas, também, produza um profissional consciente das singularidades linguísticas de seus futuros alunos.

Adiante, tem-se o artigo de Dayse Kelly Barreiros de Oliveira, Fabiana Margarita Gomes Lagar e Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva, intitulado “Sociedade civil e sociedade política na formação stricto sensu de professores da educação básica: correlações de força”. O objetivo da pesquisa, com base no pensamento de Antonio Gramsci, foi buscar compreender a relação e as contradições existentes entre sociedade civil e sociedade política, no que se refere ao entendimento da pós-graduação stricto sensu como possibilidade de formação continuada de professores da educação básica. Observou-se a existência de conflitos entre os dois polos da superestrutura, demonstrando não haver unidade entre sociedade civil e sociedade política quanto à formação docente na educação básica, o que acaba por gerar políticas públicas fragmentadas e descontínuas.

Em “Fluência tecnológico-pedagógica na docência universitária”, os autores Daniele da Rocha Schneider, Rogério Tubias Schraiber e Elena Maria Mallmann analisam a fluência tecnológico-pedagógica de professores em um curso de formação continuada denominado “REA: Educação para o Futuro”, ofertado pela Small Open Online Course a professores e servidores da rede pública da educação básica do Rio Grande do Sul. A pesquisa possibilitou verificar que o professor fluente avança para níveis de reflexão, análise e produção de conhecimento mais profundos em relação às áreas de planejamento, organização de metodologias e estratégias didáticas, avaliação e interações entre os participantes.

O artigo de autoria de Yohana Taise Hoffmann e David Antonio da Costa, “Circulação de ideias em eventos da História da educação matemática” tem como objetivo apresentar socio-historicamente a circulação de ideias a partir de eventos e revistas científicas do campo da História da educação matemática. Da análise, constatou-se que os espaços que a História da educação matemática vem ocupando contribuem para o processo de reconhecimento, legitimação, socialização e circulação de ideias do respectivo campo.

“Corpo privado da liberdade e o esporte: perspectivas educacionais”, dos pesquisadores Laudeth Alves dos Reis e Wagner Wey Moreira, tem por objetivo analisar como os integrantes de uma instituição socioeducativa de internação compreendem o corpo e as possibilidades educativas da prática esportiva. Os discursos dos adolescentes e dos agentes socioeducativos foram ora divergentes, ora convergentes, evidenciando a necessidade de se realizarem mais estudos sobre a temática.

Como oitavo artigo da segunda parte deste número, Maria Lourdes Gisi e Isabel Voirol-Rubido apresentam “Politiques de L’enseignement Supérieur au Brésil et en Suisse” [Políticas para a educação superior no Brasil e na Suíça], com o objetivo de identificar semelhanças decorrentes da implementação das políticas de educação superior nos dois países, a partir de 1990. A pesquisa, de natureza documental, indicou existirem semelhanças na organização da educação superior, em especial no que se refere à diversificação institucional e às exigências de avaliação institucional. Contudo, no que se refere à mobilidade estudantil e ao financiamento da educação superior, há diferenças significativas entre os países estudados.

Por último, não poderíamos encerrar a apresentação deste número sem consignar que, com esta 67ª edição, a Revista Diálogo Educacional completa 20 anos de publicação ininterrupta, com foco na pesquisa em formação de professores e pensamento educacional brasileiro.

O momento é especial, para o Programa de Pós-Graduação em Educação da Escola de Educação e Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, por representar a consolidação de um trabalho inteiramente dedicado à educação do nosso país.

Agradecemos aos autores que nos confiaram suas pesquisas; aos colegas de universidades brasileiras e estrangeiras que participaram da organização dos dossiês; aos avaliadores, que incansavelmente colaboraram, fazendo a leitura criteriosa dos textos e oferecendo sugestões para a melhoria da qualidade da revista; aos colaboradores da PUCPRESS, parceiros incondicionais que atuaram com especial diligência na edição dos números; e aos nossos leitores, razão de nosso trabalho, que nos prestigiam e estimulam a continuar.

A todos e a todas, desejamos uma excelente leitura!

As editoras

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