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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.21 no.69 Curitiba abr./jun 2021  Epub 11-Jun-2021

https://doi.org/10.7213/1981-416x.21.069.ap01 

Apresentação

Memórias, museus e educação: reflexões e possibilidades didáticas na história ensinada

Memories, museums and education: reflections and didactic possibilities in the taught history

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira1 

Jaqueline Ap. Martins Zarbato2 

Maria Helena Mendes Nabais Faria Pinto3 

Sonia Alejandra Bazan4 

1Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: alboni@alboni.com

2Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campo Grande, MS, Brasil. Doutora em História, e-mail: Jaqueline.zarbato@gmail.com

3Universidade do Porto (UP), Porto, Portugal. Doutora em Ciências da Educação, e-mail: mhelenapinto@gmail.com

4Universidad Nacional de Mar del Plata (UNMDP), Mar del Plata, Argentina. Doutora em Pedagogía, e-mail: bazansa@gmail.com


O dossiê Memórias, museus e educação: reflexões e possibilidades didáticas na história ensinada tem como proposta apresentar diferentes pesquisas que versam sobre os museus, as memórias e a educação, entrelaçando os saberes a partir de diálogos, experiências, práticas educativas e possibilidades de outras dimensões de análise na Educação.

Nesse sentido, as análises envolvem as perspectivas de utilização de diferentes fontes históricas, principalmente de espaços não formais como museus, em que se atrela a produção do conhecimento, as artes, as exposições, a educação patrimonial e as concepções educativas. São proposições numa perspectiva didático-histórica produzida em espaços não formais de aprendizagem. No que tange aos espaços não formais de ensino, percebe-se que, nos últimos 10 anos, há um incremento e aprofundamento das pesquisas na Educação. Isso porque contribui com a percepção histórica do espaço e do lugar, das relações sociais e culturais com os lugares históricos, das formas de vivenciar a temporalidade nesses espaços, dos vestígios patrimoniais, da consciência histórica e patrimonial. Dessa maneira, tanto os processos formais de ensino quanto os não formais, adentram nos conceitos ‘de tempo, de espaço’, sendo relevantes na compreensão e reconhecimento histórico por parte dos estudantes.

Assim, temos diferentes artigos que contribuem com as narrativas sobre os espaços não formais de educação, suas ações e possibilidades didáticas.

No artigo Ação educativa e prática social: possibilidades didáticas em museus de ciências, de Jully Anne Almeida Lima (UFF), José Roberto da Rocha Bernardo (UFF), tem-se a abordagem sobre os museus de ciências, em que focalizam a análise sobre a articulação entre a ciência e o meio social em que o Museu da Vida - Fiocruz se insere. Amparam-se na pedagogia crítica e sociocultural de Paulo Freire, que prioriza uma educação dialógica e democrática, na perspectiva da valorização de saberes e vivências dos sujeitos envolvidos no processo educativo.

Em Potencialidade dos museus de artes na formação de professores, Cristina Carvalho (PUC-RIO) e Monique Gewerc (PUC-RIO) apresentam como as experiências com a Arte podem contribuir para a construção do simbólico, para a transformação do olhar, da atitude, do lugar do sujeito na sociedade, os museus de arte se configuram em espaços potentes para propiciar experiências sensíveis e contribuir para a autoria docente. Destacam, a partir das entrevistas com educadores museais de cinco museus da cidade do Rio de Janeiro, a concepção de educação museal e como se desenvolvem as atividades com professores nas instituições.

Adiante, em Museu dos Dinossauros: perspectivas da museologia social sob lentes e vozes da comunidade do entorno, os autores Maria Betânia Moreira Carvalho Silva (UFTM) e Pedro Donizete Colombo Junior (UFTM) lançam a discussão sobre os temas museu e comunidade. Investigando os olhares e as vozes que ecoam sobre o Museu dos Dinossauros, em Uberaba, Minas Gerais, a partir de sua comunidade do entorno, destacam a importância de vislumbrar a relação entre o museu e sua comunidade local, uma vez que os laços de pertencimento e de compartilhar território colocaram-se como essenciais para uma participação democrática do cidadão na sociedade.

No artigo O Museu como memórias plurais e resistência cultural no Ensino de História, das pesquisadoras Janaína Cardoso de Mello (UFS) e Priscila Maria de Jesus (UFS), apresenta-se a discussão dos museus como espaços que, junto com as escolas, proporcionam a educação. A construção da discussão do artigo teve por metodologia a pesquisa qualitativa, como forma de compreender o universo pesquisado e, por método, baseou-se no descritivo-analítico, para interpretação das fontes levantadas e dos fenômenos discutidos, enveredando por analisar a questão das particularidades locais e regionais nas construções de arcabouços teóricos e sua aplicação prática em museus e formas de colaboração com espaços educacionais, como as escolas e seus professores.

Em A Educação Estética no Espaço Expositivo do Museu de História e de Ciência, Katia Franklin da Silva (UNIVALI), Vania Konell (UNIVALI), Gesiele Reis (UNIVALI) abordam os museus na atualidade. Dialogam sobre as múltiplas formas de promoção da cultura científica, promovem a pesquisa, o conhecimento, a interação, a sensibilização e, portanto, são espaços não formais de educação que possibilitam a descoberta, a criação e a experiência por meio de seus espaços expositivos. Para elucidar este estudo, foi escolhido o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), localizado em Lisboa, Portugal, com o objetivo de analisar o espaço expositivo da área de zoologia, nominada “Grandes carnívoros da Europa - Reis da Europa Selvagem” numa relação com a educação estética.

Em Educação Histórica: o Museu e a importância seguida, em da história local no ensino de História, Ana Paula dos Santos Reinaldo Verde (UECE) e Elcimar Simão Martins (UECE) apresentam um relato de experiência pedagógica desenvolvida por meio da disciplina História e Patrimônio, no curso de História, do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica - Parfor/Maranhão a partir da visita ao Museu de Arqueologia, Paleontologia e Etnologia, em São Luís-MA. Ampliam as discussões a partir da possibilidade que a visitação ao Museu de Arqueologia, Paleontologia e Etnologia traz significado quando é fundamentada teoricamente e contextualizada a partir da história local e da educação histórica.

A expografia do meio ambiente no museu de história natural: epistemologia, história e educação, dos autores Iván Borroto Rodríguez (UFPR) e Marilia Andrade Torales-Campos (UFPR), apresenta uma reflexão sobre a função educativa do museu de história natural, tendo como foco as exposições como interface ativa para a socialização de ideias, conceitos e representações sobre o meio ambiente. Discute as possibilidades da pesquisa a partir de um discurso expositivo de caráter socioambiental, pela influência das mudanças experimentadas nos contextos científicos, culturais e sociais do museu de história natural.

Na sequência, Patrimônio cultural e história das mulheres: reflexões e possibilidades didáticas, de Jaqueline Ap. Martins Zarbato (UFMT) apresenta a contribuição epistemológica do patrimônio cultural, da História das Mulheres na história ensinada. No âmbito da análise, entrelaça os temas de patrimônio e história das mulheres com o ensino de história, a partir de possibilidades e perspectivas didáticas com o uso de fontes históricas (museus, centros históricos etc.). Metodologicamente, utiliza-se nesse artigo os planejamentos de aulas e as utilizações de temas relacionados ao patrimônio no âmbito feminino em museus.

Em Memória e história: atravessamentos com a arte e a educação, as autoras Carin Cristina Dahmer (UFSM) e Ana Cláudia Barin (UFSM) discutem sobre a articulação dos campos, tendo como arranjo as possibilidades entre a arte e os espaços museológicos. Apresentam recortes de experimentações com imagens da história da arte nos espaços educativos, assim como articulações com a memória e os espaços expositivos, visando algumas alianças entre arte e educação. Elencam a cartografia como modo de apresentar os atravessamentos entre memória e história, para tornar potente os percursos de uma pesquisa, do que afeta o/a pesquisador/a neste processo.

No texto Educação para as relações étnico-raciais: O projeto Museu de História e Cultura Afro na escola, os autores Vanessa Gomes de Castro (UFJF) e Thiago Rodrigues Tavares (UFJF), apresentam o projeto “Museu de História e Cultura Afro”, visando refletir sobre as suas possibilidades didáticas no que tange à educação para as relações étnico-raciais. O projeto consistiu na simulação de uma exposição museológica, sendo desenvolvido em uma escola pública da rede estadual de Minas Gerais, reunindo objetos e imagens que fazem parte da história e da cultura da população negra, emprestados por professores e alunos. Inserem as metodologias ativas, criativas e participativas, como a simulação de museus juntos aos alunos da educação básica.

Como último artigo do dossiê, No entrecruzar da História, Patrimônio e Educação Étnico-Racial - Uma experiência decolonial possível na Educação de São José, os autores Janaina Amorim da Silva (UFSC), (UFSC) e Mylene Silva de Pontes (PMSJ) apresentam um projeto pedagógico que buscou entrecruzar a História, o Patrimônio e a Educação Étnico-Racial, com o propósito de visibilizar a presença da população afro-brasileira e africana na História do município de São José-SC. Por meio de estudo e problematização da educação patrimonial, percebem-se as relações de poder e colonialidade nas políticas públicas de preservação, memória e patrimonialização, bem como sua relação identitária.

Nove artigos compõem a demanda contínua deste número da Revista Diálogo Educacional. Diferentes aspectos da área educacional são neles evidenciados, propiciando múltiplas reflexões aos leitores, conforme apresentados a seguir.

O primeiro artigo, A pesquisa narrativa como possibilidade metodológica no âmbito da formação docente, das pesquisadoras Deise Nivia Reisdoefer (IFC) e Valderez Marina do Rosário Lima (PUCRS), apresenta em detalhes o delineamento da pesquisa narrativa, incluindo o modelo de coleta de dados e sua organização, seguido de sua interpretação e análise. Fundamentado em autores com a mesma linha metodológica, como Clandinin e Connely (1995, 2015) e Delory-Momberger (2014), traz os caminhos para construção de textos de campo e sua transposição para os textos de pesquisa. Os primeiros, compreendendo o recolhimento de informações e entrevistas no espaço da pesquisa e sua interpretação, exposta no formato de crônicas; os segundos, apresentando a interpretação e a análise dos textos de campo, aos quais são imbricadas a experiência do pesquisador e a teoria adequada à temática da pesquisa. A teoria discutida e os exemplos apresentados abrem possibilidades para que novas formas de elaboração de textos de campo e de pesquisa sejam organizadas em pesquisas dessa natureza, com destaque para a área educacional.

O dilema da autoridade educacional num mundo “fora dos eixos”, de Cleriston Petry (UFMT) e Angelo Vitório Cenci (UPF) discute a crise da Modernidade, caracterizada pelo fim da tradição e da autoridade e o problema da educação de não poder abrir mão de ambas. Argumentam os autores que a autoridade, que não pode ser confundida com o autoritarismo, deve ser fundamentada na responsabilidade dos adultos pela criança e pela continuidade do mundo. Defendem, também, que não há educação sem transmissão, do mesmo modo que não há educação sem autoridade, concluindo que a educação é uma relação geracional em que adultos introduzem os “novos” e lhes permitem experimentar o mundo e a si mesmos como novidade.

O terceiro artigo da demanda contínua é A concepção de alfabetização e letramento na Política Nacional de Alfabetização (PNA): entre tropeços e retrocessos, de Maria Eurácia Barreto de Andrade (UFRB) e Sineide Cerqueira Estrela (UEFS). O estudo objetiva discutir a problemática do ensino-aprendizagem inicial da leitura e da escrita frente às novas exigências sociais, o perfil dos sujeitos que se fazem necessários para atender às demandas do cotidiano e os posicionamentos legais contidos na Política Nacional de Alfabetização (PNA). Objetiva, também, identificar a concepção de alfabetização presente nesse documento, dado que autores referenciais que se dedicam a esse estudo não são nele mencionados. Os resultados indicam que, longe de preparar os sujeitos para atender aos apelos sociais e políticos, a PNA apresenta uma concepção equivocada de alfabetização e desmerece todo o conhecimento produzido no Brasil até então.

As autoras Hustana Maria Vargas (UFF), Carolina Zuccarelli (UFF) e Gabriela de Souza Honorato (UFRJ) apresentam o estudo Século XXI e desigualdades nas condições de trabalho docente no ensino superior, em que analisam as políticas educacionais desenvolvidas desde meados da década de 1990 e suas implicações para as condições de trabalho dos professores do ensino superior. Com base nos microdados do Censo da Educação Superior, observaram que, mesmo com o crescimento do número de profissionais e melhorias na qualificação, a precarização é uma realidade que estratifica os professores, colocando de um lado docentes mais qualificados e com garantia mais ampla de direitos trabalhistas e, de outro, docentes periféricos, vinculados a instituições voltadas quase exclusivamente a atividades de ensino.

O pesquisador Francisco Regis Vieira Alves (IFCE), em seu estudo Transposition didactique et la transposition professionnelle: une discussion sur la notion de compétence du professeur de mathématiques apresenta e descreve a noção de transposição profissional, resultante de um referencial teórico em didática matemática e didática profissional, seguindo a tradição e a pesquisa francesas, com o objetivo de compreender o processo de aquisição das competências profissionais do professor. Considera, ao final, que essas noções podem auxiliar em uma análise investigativa sistemática sobre o papel do professor no campo da educação matemática, no Brasil.

A LGBTQIAfobia sob o prisma das representações sociais de docentes, de autoria de Isaías Batista de Oliveira Júnior (UEM), tem por objetivo analisar as faces da violência que consiste em qualificar o outro como contrário, inferior ou anormal. Investiga, dessa forma, de que forma os atos de discriminação e exclusão contra estudantes lésbicas, gays, bissexuais, bigêneros, travestis, transexuais, transgêneros, queers, questionadores, intersexos, indecisos, assexuados e aliados - LGBTQIA - são manifestados no ambiente escolar. Dos resultados obtidos, foi possível depreender que os educadores podem e devem institucionalizar orientações e abordagens acerca da diversidade sexual e do combate e prevenção a LGBTQIAfobia, uma vez que a ausência desse debate causa grande impacto na vida escolar daqueles estudantes.

Em A prática pedagógica do formador do professor alfabetizador mobilizada pela pandemia nas instituições de ensino superior e o uso das tecnologias da informação e comunicação, Maria Sílvia Bacila (UTFPR) discute como o formador do professor alfabetizador está elaborando suas práticas frente ao período de pandemia causado pelo Covid-19. A partir da análise da prática pedagógica como um campo de determinação de causalidade complexa, evidenciou-se a necessidade de mudança de perfil dos profissionais formadores no ensino superior para o uso de novas tecnologias, uma vez que prevalecem dificuldades tanto por parte dos estudantes quanto dos profissionais, no que se refere ao uso das tecnologias educacionais para ensinar e aprender.

Geilson de Arruda Reis (Univates) e Suzana Feldens Schwertner (Univates), em seu artigo Educação ambiental no ensino fundamental: aprendizagens estudantis e seus reflexos para além da escola, apresentam os resultados de um trabalho de educação ambiental que vem sendo desenvolvido com discentes do Ensino Fundamental, desde junho de 2012, em uma escola municipal de Imperatriz/MA: o Projeto Bacuri Verde (PBV) - Adote uma Árvore. De acordo com os autores, as aprendizagens produzidas e experienciadas no contexto do PBV provocaram mudanças positivas, percebidas tanto no espaço da escola como em outros além dela.

Encerrando a apresentação dos artigos de demanda contínua deste número, temos Como ensinar química?, de Everton Bedin (UFPR), que busca compreender como um grupo de professores desenvolve as suas ações didático-pedagógicas com vistas ao ensino de química. Os resultados da pesquisa evidenciaram que a maioria dos professores desenvolve as suas ações didático-pedagógicas a partir de estratégias que julgam eficientes e importantes para os alunos aprenderem química, seguidas da inserção da pesquisa, do diálogo e da (re)significação dos conceitos e dos conteúdos a partir da curiosidade, do contexto e do interesse dos sujeitos.

Agradecemos aos autores que confiaram a publicação dos resultados de suas pesquisas à Revista Diálogo Educacional, e aos avaliadores, que não mediram esforços para que os artigos selecionados correspondessem à qualidade esperada por nossos leitores.

As editoras.

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