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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.21 no.69 Curitiba abr./jun 2021  Epub 11-Jun-2021

https://doi.org/10.7213/1981-416x.21.069.ds03 

Dossiê

Museu dos Dinossauros: perspectivas da museologia social sob lentes e vozes da comunidade do entorno*

Museum of Dinosaurs: perspectives of social museology under the lens and voices of the surrounding community

Museo de Dinosaurios: perspectivas de la museología social bajo la lente y las voces de la comunidad circundante

Maria Betânia Moreira Carvalho Silvaa 
http://orcid.org/0000-0001-5439-7873

Pedro Donizete Colombo Juniorb 
http://orcid.org/0000-0003-3324-5859

aUniversidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG, Brasil. Mestra em Educação, e-mail: maria.betania@uftm.edu.br

bUniversidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), Uberaba, MG, Brasil. Doutor em Ensino de Física, e-mail: pedro.colombo@uftm.edu.br


Resumo

Empreender uma pesquisa que aborde os temas museu e comunidade requer relacionar segmentos que são próximos, coexistem e se enriquecem mutuamente, contudo, na maioria das vezes, são percebidos e tratados de forma isolada. Esta pesquisa buscou investigar os olhares e as vozes que ecoam sobre o Museu dos Dinossauros, em Uberaba, Minas Gerais, a partir de sua comunidade do entorno. As discussões são apoiadas pela museologia social, em que se reconhece a importância da aproximação dos caminhos museológicos ao compartilhar território, diálogo, valorização e direito a memória de diferentes saberes. A pesquisa é de natureza qualitativa, apoiada nos construtos teóricos da história oral, sendo os dados organizados a partir do delineamento de duas dimensões: vertente sociocultural e o reviver memórias e, sentimento de (in)(ex)clusão e o empoderamento participativo. Dentre os resultados, destacamos a importância de vislumbrar a relação entre o museu e sua comunidade local, uma vez que os laços de pertencimento e de compartilhar território colocaram-se como essenciais para uma participação democrática do cidadão na sociedade. Sobre esse aspecto, destacamos a riqueza das histórias narradas pelas pessoas que participaram da construção do Museu dos Dinossauros, as quais lutam para não ficarem invisíveis ao espaço territorial do museu e a sua história.

Palavras-chave: Museu; Comunidade; Museologia social; História oral

Abstract

Developing research that addresses museum and community themes requires relating segments that coexist and enrich each other, however, in most cases, they are perceived and treated in isolation. This research sought to investigate the looks and voices that echo over the Museum of Dinosaurs, Uberaba, Minas Gerais, from its surrounding community. The discussions are supported by social museology, which recognizes the importance of bringing museological paths closer when sharing territory, dialogue, valuation and the right to memory of different knowledge. The research is of a qualitative nature, supported by the theoretical constructs of oral history, the data being organized from the outline of two dimensions: sociocultural aspect and reliving memories and feeling of (in)(ex)clusion and participatory empowerment. Among the results, we highlight the importance of envisioning the relationship between museum and community, since the ties of belonging and sharing territory have become essential to democratic participation by citizens in society. In this regard, we highlight the richness of the stories narrated by the people who participated in the construction of the Museum of Dinosaurs, who struggle to remain invisible to the territorial space of the museum and its history.

Keywords: Museum; Community; Social museology; Oral history

Resumen

Desarrollar una investigación que aborde temas de museo y comunidad requiere relacionar segmentos que coexisten y se enriquecen entre sí, sin embargo, en la mayoría de los casos, son percibidos y tratados de forma aislada. Esta investigación buscó investigar las miradas y voces que resuenan sobre el Museo de Dinosaurios, Uberaba, Minas Gerais, desde su comunidad circundante. Las discusiones se apoyan en la museología social, que reconoce la importancia de acercar caminos museológicos al compartir territorio, diálogo, valoración y derecho a la memoria de saberes diferentes. La investigación es de carácter cualitativo, sustentada en los constructos teóricos de la historia oral, organizando los datos a partir del esquema de dos dimensiones: aspecto sociocultural y revivir recuerdos y sentimiento de (in)(ex)clusión y empoderamiento participativo. Entre los resultados, destacamos la importancia de vislumbrar la relación entre museo y comunidad, ya que los lazos de pertenencia y de compartir territorio se han convertido en fundamentales para la participación democrática de los ciudadanos en la sociedad. En este sentido, destacamos la riqueza de las historias narradas por las personas que participaron en la construcción del Museo de los Dinosaurios, quienes luchan por permanecer invisibles al espacio territorial del museo y su historia.

Palabras clave: Museo; Comunidad; Museología social; Historia oral

Introdução

Nos últimos anos vivenciamos fatos marcantes relacionados ao contexto dos museus, tanto em âmbito nacional quanto internacional. Presenciamos em 02 de setembro de 2018, por exemplo, mais de duzentos anos de história serem consumidos por chamas no Museu Nacional, Rio de Janeiro. Foi uma perda irreparável de objetos e exposições ali presentes, além de afetar muitos projetos que eram realizados com a comunidade (COSTA; SOUZA; RESINENTTE, 2019). Acrescenta-se no ano seguinte, em 15 de abril de 2019, a tragédia na Catedral de Notre-Dame, construída entre 1163 e 1345 em Paris, França, em que as perdas de coleções, como as de estilo gótico, uma das mais antigas do mundo, são incomensuráveis.

Tais fatos nos levam a refletir sobre o papel dos museus na sociedade, como o público tem enxergado esses espaços e qual o olhar destas instituições para sua comunidade do entorno, ou ainda, quais têm sido as prioridades de políticas públicas e investimentos nesses locais. Os museus, na condição de ambientes formativos, promovem a aproximação da história e de bens materiais e imateriais com a sociedade, sendo agentes de transformação social. São locais que têm a capacidade de ressignificar e permitir novas leituras de mundo aos cidadãos (HEITOR, 2017), propiciando a eles um sentimento de pertencimento democrático no meio em que vivem.

Dada sua importância, nas últimas décadas os museus têm sido alvo de inúmeras pesquisas sobre os mais variados temas. Nos museus de ciências, em particular, encontramos pesquisas sobre formação de professores e mediação (NASCIMENTO; VENTURA, 2001; JACOBUCCI, 2006; FREITAS; OVIGLI, 2013), relação museu-escola (HOFSTEIN; ROSENFELD, 1996; MARTINS, 2006, PIRES, 2019), discursos expositivos e formação do público (MARANDINO, 2001; MARANDINO et al., 2020), museus de ciências e abordagens entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente (CONTIER, 2009), temas sociocientíficos controversos e museus (MARANDINO et al., 2016; NAVAS-IANNINI; PEDRETTI; ATKINSON, 2017), entre outros.

Apesar de inúmeras pesquisas, pouco tem sido realizado sobre as relações entre os museus de ciências e suas comunidades do entorno. Enxergar as influências do compartilhar espaço e as relações de vizinhança entre os museus e as comunidades se revela desafiador. Ademais, investigar o entorno dos museus oportuniza desvelar diferentes relações desses espaços com o meio em que estão inseridos. Assim, voltar-se para a circunvizinhança favorece (re)pensar o papel dos museus, propiciando-lhes alimentar o compromisso social e o acesso a outras histórias, para além daquelas consagradas nos documentos oficiais das instituições.

Essa pesquisa objetivou investigar os olhares e as vozes sobre o Museu dos Dinossauros (MD), localizado na comunidade rural de Peirópolis, Uberaba/MG, a partir de sua comunidade do entorno, registrando inquietações, desafios, lutas e sentimento de pertencimento e territorialidade frente às relações museu-comunidade. A pesquisa permitiu realizar uma leitura até então não revelada sobre o espaço em questão, construindo novas percepções a partir das vozes dos moradores locais.

Assim, o olhar para o museu é enriquecido ao perceber as múltiplas significações e os processos históricos que o envolveram, valorizando o sentido da história da memória social daquele espaço (PAOLI, 1992). Esta pesquisa tem amparo em construções teóricas da museologia social, estando seus os aspectos metodológicos vinculados às construções teóricas da história oral.

Aqui, a história oral foi instituída pelo contínuo diálogo e encontros entre os pesquisadores e moradores locais, possibilitando conhecer aspectos de memórias física, histórica, social e vivencial relacionadas ao museu. Tais encontros permitiram acesso a diferentes experiências sociais, enredos de conhecimento e fatos, momentos e acontecimentos históricos, fomentando a construção de narrativas e o delineamento de duas dimensões de análises dos dados construídos na pesquisa. O intuito foi responder a indagações do tipo: quais vozes são suscitadas por moradores da comunidade rural de Peirópolis frente a suas percepções do MD? E quais olhares se manifestam sobre o compartilhamento de território entre a comunidade e o museu?

Museologia social: entre textos e contextos

Os museus foram ao longo do tempo modificando a forma de se comunicar, interagir e dialogar com a sociedade. O termo museu, o qual na Grécia Antiga remetia a templos das musas, inspiradoras e protetoras das artes e ciências, com o passar dos séculos foi sendo reinventado e reinterpretado. Um desses movimentos foi a criação dos gabinetes de curiosidades, mantidos pela nobreza, na Europa do século XVI e XVII, onde se guardavam coleções e artefatos nobres (RAFFAINI, 1993). Entremeado do período renascentista, o termo “museus” passou a ser retratado em um viés de exibição de peças e riquezas. Já no final do século XVII e início do século XVIII se começa a perceber um movimento de aproximação do público aos museus (GASPAR, 1993).

Esta percepção levou a um movimento de atribuição de aspectos educativos vinculados aos museus, ocorrido nos Estados Unidos e Europa no século XIX e início do século XX. Mais recentemente, a busca pela construção de um diálogo mais profícuo dos museus com os cidadãos, repensando práticas, o porquê, para que, para quem se dirige..., fez com que novas lentes fossem colocadas para vislumbrar o papel dos museus na sociedade, dando evidência à museologia social.

Moutinho (1993, 2014) menciona que o conceito de museologia social pode ser interpretado como “um esforço de adequação das estruturas museológicas aos condicionalismos da sociedade contemporânea” (MOUTINHO, 1993, p. 7). Importa destacar que a definição do termo museologia social não encontra unanimidade no campo da pesquisa, sendo utilizado por alguns autores como sinônimo de sociomuseologia (CHAGAS; GOUVEIA, 2014; GOUVEIA; PEREIRA, 2016). Porém, como revela Santos (2017), outros autores argumentam que os termos sociomuseologia e museologia social têm demarcações próprias, sendo o primeiro interpretado como uma nova área de conhecimento interdisciplinar e o segundo, focado em um posicionamento político e ético que expõe a responsabilidade dos museus com os contextos sociais em que estão inseridos. Já Siqueira (2016) aponta que a museologia social pode ser entendida como “um dispositivo valioso para a reconstrução das memórias e dos saberes comunitários, na produção da resiliência e do seu bem-viver” (SIQUEIRA, 2016, p. 97).

Gouveia e Pereira (2016) compartilham com Moutinho (2014) que as definições de museologia social são processuais e transitórias. Neste contexto, vislumbrando os objetivos dessa pesquisa, adotamos o termo museologia social por entender que é o que melhor se adequa em nossa investigação. Compartilhamos com Machado (2012, p. 73) que “o museu enquanto instituição sociocultural e educativa nunca poderá ser dissociada do território onde se encontra implantado, nem deverá mostrar-se indiferente à sua vizinhança, quando idealiza uma missão ou planeia estratégias de atuação”.

A consolidação do papel social dos museus encontra-se incrustada em um olhar de valorização do homem e de sua formação integral, em detrimento do foco em coleções e objetos expostos. Utiliza-se da óptica de que “as noções de ‘passado’ e de ‘futuro’ desaparecem, tudo se passa no ‘presente’, em uma comunicação entre o ‘indivíduo’ e o Homem, por intermédio do ‘Objeto’” (VARINE, 1969 apud MARTINS, 2006, p. 9). Esta interpretação caminha no sentido de repensar a atuação dos museus tradicionais (de ciências naturais, de artes, ...), permitindo a abertura de novos nichos de tipologias diversas, como: museus comunitários, ecomuseus e museu de vizinhança, os quais trazem embutidas memórias coletivas, representatividades e identidades locais.

A museologia social, então, apresenta-se com a finalidade de aproximar os caminhos museológicos diretamente à memória, ao desenvolvimento local e a uma visão em que os diferentes conhecimentos dialogam e cruzam fronteiras, partindo de múltiplos saberes, meios sociais, científicos, coletividade e na ação dos sujeitos em contextos locais. Ademais, contempla diferentes experiências da coletividade que a integram aos museus, seja pelo partilhar do território, dimensão educativa, história, memória, lutas e tensões ou ainda pela forma como essa teia de sentimentos e ações os ligam aos espaços. Fato que se relaciona com a forma como as pessoas preservam e cuidam desses espaços e do ambiente que os rodeia, formando laços de sentimentos e ações que ligam os espaços museais ao seu entorno.

Machado (2012) chama atenção para a relação do museu com a comunidade local em que está inserido, compreendendo que o museu é diretamente influenciado pelo seu entorno, e por isso essa análise da vizinhança e do seu território não pode passar despercebida. No que se refere à participação dos museus, potencializadores de desenvolvimento local (nas comunidades), Varine (2014) nos recorda do componente cultural, defendendo a importância da participação ativa da comunidade, seu envolvimento, comunicação clara e direta entre museu e comunidade.

O desenvolvimento local possui uma dimensão cultural muito forte: para ser bem sucedido, qualquer processo de desenvolvimento precisa produzir mudanças positivas, estando ao mesmo tempo ligado às raízes culturais e psicológicas da comunidade (VARINE, 2014, p. 26).

Tais aspectos colocam-se como ponto central de nossa pesquisa, uma vez que escutar a voz da comunidade local pode nos revelar muito sobre a construção do Museu dos Dinossauros, refletindo, assim, suas origens, acervos, conflitos, disputas de poder, pertencimento e possibilidades de potencializar as ações do museu.

Varine (2014) evidencia a importância de inserir a vizinhança no contexto dos museus, em uma perspectiva de valorização da sua presença, troca de experiências, mobilização da comunidade para construção de estratégias e o pensar das práticas nesses espaços, já que essa convivência e vivência é cotidiana. As ações dos museus com seu entorno ressoam um sobre o outro. A presença do museu modifica o espaço, a vivência, o desenvolvimento, o fluxo de pessoas da localidade, enfim, o cotidiano das pessoas.

Entendemos que tais relações possam ser percebidas na comunidade rural de Peirópolis, local onde as pessoas são engajadas politicamente, se posicionam, cobram e fiscalizam as ações que se fazem presente em relação ao Museu dos Dinossauros, em um sentimento de pertencimento do local. Neste horizonte eclode a possibilidade, se não a necessidade, de investigar os laços manifestos da comunidade do entorno com o museu, uma vez que estes espalham marcas e deixam vestígios, os quais representam caminho para serem decifrados.

O Museu dos Dinossauros (MD)

Dissertar sobre o MD representa ingressar em um emaranhado de memória, história e questões (a)temporais. Memória, no sentido atribuído por Thomson (2000), em que se afasta de um depositário passivo de fatos, indo ao encontro de um processo ativo de criação de significados. História sendo representada pela constituição do espaço, pelo compartilhamento de território, lutas, acontecimentos. Tempo, em que se sucedem eventos históricos em que a presença de anacronismo preenche lacunas deixadas por marcas de encontros e desencontros.

Tais aspectos, memória, história e tempo, podem propiciar a construção de narrativas que tomam como apoio retratos de uma história oral da comunidade local. Para Delgado (2003), “narrativa, sujeitos, memórias, histórias e identidades ... são a humanidade em movimento ... são olhares que permeiam tempos heterogêneos ... são memórias que falam” (DELGADO, 2003, p. 23).

O MD é parte integrante do Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP), situado às margens da BR262, na comunidade rural de Peirópolis, a cerca de 20 km do centro de Uberaba, Minas Gerais. Conceber todos os espaços que compõem o CCCP gera incertezas até mesmo para os moradores locais, os quais por vezes entendem o complexo apenas como sinônimo do MD, visto que este local é o mais atrativo e visitado pelo público da região e também de outros Estados do país.

O CCCP, ao se situar na zona rural da cidade, é um espaço rico em diversidade de atrações ambientais e espaços constitutivos, destacando-se: ambientes de imersão na natureza, como trilhas e cachoeiras; ambientes de cultura tradicionais como casa de doceiras, restaurantes e produção artesanal; áreas de bem-estar e valores humanos; lojas de produtos locais; espaço da fundação cultural de Peirópolis; centros religiosos e a Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis (AASPP), além do espaço definido como MD. Este último, por sua vez, é composto por dois prédios com exposições paleontológicas, um jardim com réplicas de dinossauros, conhecido como museu a céu aberto, além de sítios paleontológicos (diferentes pontos de escavações), como ilustrado na figura a seguir (Figura 1).

Fonte: Elaboração própria.

Figura 1 Museu dos Dinossauros: (a) antiga estação ferroviária que hoje abriga exposições de fósseis de Dinossauros, (b) antiga sede da Rede Nacional de Paleontologia, atualmente setor administrativo do CCCP, contendo um salão de exposições de fósseis e réplicas de Dinossauros, (c) praça pública da comunidade rural de Peirópolis, conhecido como museu a céu aberto, (d) ponto de escavações, região Caeiras, situado a aproximadamente 10 km da sede do CCCP 

Uma imersão histórica permite-nos conhecer um pouco melhor os locais acima descritos, objetos dessa pesquisa. Para esta contextualização tomamos como apoio algumas pesquisas realizadas sobre os espaços do MD, como Fernandes (2006), Lopes e Dias (2008), Ribeiro et al. (2011), Ribeiro (2014), Duarte (2013) e Cherem (2017), além de informações disponíveis na página do CCCP (UFTM, 2021) e da vivência em nosso grupo de pesquisa, sediado no prédio principal do CCCP.

No final do século XIX, Peirópolis era um local tipicamente marcado pela produção de arroz, café, pecuária e exploração de cal. Nessa época a região era conhecida como Cambará, nome da antiga estação ferroviária que a localidade abrigava (passando depois a se chamar Paineiras). Atualmente, o prédio da antiga estação abriga parte do MD, em especial as exposições de fósseis (LOPES; DIAS, 2008; RIBEIRO et al., 2011).

Como destaca Cherem (2017), um fato ocorrido em meados dos anos 1940 modificou para sempre o cotidiano da região, fazendo com que diferentes pesquisadores, geólogos e paleontólogos voltassem a atenção e estudos para a localidade. Ocorreu que, em 1945 uma equipe de funcionários da Ferrovia Mogiana ao realizar escavações para reparação da linha férrea da região encontrou alguns fragmentos ósseos (fósseis) que não conseguiram identificar. Segundo Cherem (2017),

[...] a notícia chegou ao escritório do Instituto Geológico de São Paulo, onde o geólogo Jesuino Felicissimo Junior confirmou os achados. Ele repassou as informações para o Rio de Janeiro, então capital federal e onde ficava a sede do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), autarquia responsável pelo manejo de fósseis encontrados no Brasil (CHEREM, 2017, p. 107-108).

A notícia chamou a atenção do Llewellyn Ivor Price (1905-1980), importante paleontólogo do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), Rio de Janeiro, que em 07 de julho de 1945 visitou a região de Peirópolis, determinando o jazido principal e os procedimentos a serem adotados para a escavação (CHEREM, 2017). Price se tornou uma importante referência para os estudos dos fósseis na região de Uberaba, Minas Gerais, e em todo Brasil. Em relação aos seus estudos, Ribeiro (2014) destaca que o paleontólogo,

Trabalhou anualmente na região em diversas localidades até 1974 [a partir de 1945], tendo os exemplares coletados sido depositados no Rio de Janeiro no Museu de Ciências da Terra (MCT) do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Suas escavações revelaram centenas de exemplares, e seus estudos da época resultaram na descrição de diversas espécies. Deixou ainda um legado à paleontologia nacional já que suas descobertas, ainda hoje, vêm sendo estudadas por pesquisadores, o que tem propiciado a identificação de novas espécies (RIBEIRO, 2014, p. 1).

No ano de 1980, a partir da participação popular local e de lutas para municipalizar os achados fósseis, foi delimitada uma área de 1,4 mil hectares para a construção do MD e, posteriormente o fechamento de uma empresa que explorava o comércio da cal na região, material retirado dos atuais sítios de escavações paleontológicas. Com o intuito de preservar os fósseis encontrados, em 1989, a comunidade local fundou a Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis (AASPP), tendo como primeiro presidente um agricultor de Peirópolis. Dentre os objetivos da AASPP, estava a conscientização da comunidade sobre a importância de fiscalizar e cuidar do sítio paleontológico e estimular o desenvolvimento local (DUARTE, 2013).

Desde sua criação, o Museu dos Dinossauros passou a ser gerido por diferentes administrações, como: Prefeitura Municipal de Uberaba, por meio de sua Fundação Cultural, e Fundação Municipal de Ensino Superior de Uberaba (FUMESU). Em 2010, um fato que marcou a cidade de Uberaba e região foi a criação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), antiga Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro (FMTM). Neste momento também foi criado o Complexo Cultural e Científico de Peirópolis (CCCP), do qual o MD passou a fazer parte, sendo sua administração conduzida pela UFTM e permanecendo até os dias atuais.

Percebe-se, então, que o MD é muito anterior à criação do CCCP, o que por vezes gera confusão entre os moradores locais sobre sua delimitação territorial e origem. Destaca-se que a criação do CCCP e a seguinte concessão à UFTM insere-se em um contexto de lutas, incertezas e muitos questionamentos dos moradores da comunidade de Peirópolis, como veremos nos relatos apresentados ao longo dessa pesquisa.

O Museu dos Dinossauros alia a cultura local, presente nas prosas, eventos, produções, costumes, vivências e hábitos do seu povo, com a dimensão cientifica, oriunda da riqueza fossilífera de animais que já habitaram a região há mais de 70 milhões de anos. Sua vocação natural de expor e possibilitar diferentes aprendizados a partir dos fósseis de dinossauros encontrados pode ser ampliada ao olharmos para o espaço e percebermos a íntima relação com a comunidade que o circunda, a partir de seu percurso histórico, processo de construção e compartilhamento de território. Mesmo que de forma sucinta, a descrição apresentada evidencia os caminhos, por vezes tortuosos, percorridos desde a descoberta, pelos funcionários da Ferrovia Mogiana, dos primeiros fósseis na região de Peirópolis até a incorporação do espaço do museu à UFTM.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa qualitativa e a história oral

Esta pesquisa configura-se uma investigação qualitativa, apoiando-se nas indicações teóricas da história oral como forma de constituir dimensões de análise para responder as questões de pesquisa. Triviños (2010) apresenta que a pesquisa qualitativa surge na antropologia, com a constatação de que “[...] muitas informações sobre a vida dos povos não podem ser quantificadas e precisavam ser interpretadas de forma muito mais ampla que circunscrita ao simples dado objetivo” (TRIVIÑOS, 2010, p. 120).

Bogdan e Biklen (1994) acrescentam que a investigação qualitativa prioriza a descrição em detalhes das vivências, o registro, a caracterização e a narração da realidade deparada pelo pesquisador, sendo dados construídos a partir de seu ambiente natural, considerando a importância do contexto sócio-cultural-espacial, e sua influência na prática, da observação in loco. Aqui, o trabalho qualitativo é marcado pelo intercâmbio das experiências dos participantes da pesquisa e dos pesquisadores e baseia-se em registros das vivências e de interações humanas na construção dos dados empíricos de pesquisa.

Assim, considerando que em um viés qualitativo de pesquisa a construção dos dados e análises recorre às memórias dos participantes e ponderando que diversos tipos de pesquisas se colocam como possíveis de serem adotadas, optamos, a partir de nossas inquietações, por adotar os construtos teóricos da história oral para balizar nossa investigação. Desta forma, aprofundamos o estudo sobre a história oral a partir de estudos como: Thompson (1992), Freitas (1992), Thomson (2000); Alberti (2004), Holanda (2007), entre outros. Como menciona Thompson (1992),

A história oral é uma história construída em torno das pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso larga seu campo de ação. [...] Traz a história para dentro da comunidade e extrai história de dentro da comunidade [...] em suma, contribui para formar seres humanos mais completos. [...] E oferece os meios de uma transformação radical do sentido social da história (THOMPSON, 1992, p. 44).

O trabalho com a história oral pressupõe o desafio e ao mesmo tempo o prazer de nos aproximar do outro, estabelecendo relações e formando vínculos de confiança em que intimidades, histórias, memórias possam ser explicitadas sem barreiras (THOMPSON, 2000). A história oral tem como grande diferencial trazer fatos, versões, considerações, pontuações, momentos históricos, vivências e personagens até então invisibilizados. No caso do MD, esta relação foi construída ao longo de 13 meses, mais especificamente entre os meses de maio de 2018 a junho de 2019, a partir de constantes diálogos em idas e vindas à Peirópolis para a construção dos dados da pesquisa.

Os participantes da pesquisa e as dimensões de análises

O viés qualitativo de pesquisa e a base metodológica da história oral nos levou a limitar os participantes da pesquisa. Desta forma, realizamos visitas prévias na comunidade levantando informações e buscando por moradores que tivessem longas vivências na comunidade, quiçá anteriores à instalação do Museu dos Dinossauros. Este movimento nos permitiria indagar, inclusive, sobre as influências da acomodação do espaço museal no território da comunidade rural.

Com isso, foram convidados dois moradores da comunidade e um servidor do MD, todos com vínculo estreito com Peirópolis há mais de 30 anos. Acrescenta-se que os participantes da comunidade já foram presidentes da Associação, são pessoas indicadas pelos moradores locais para falar sobre o espaço, são engajadas politicamente e têm um vínculo afetivo muito forte com Peirópolis, sobretudo, com o MD. O servidor do MD tem longa trajetória dentro do espaço museal, em estudos de paleontologia, e também vivência com a comunidade local, conferindo um contraponto nos dados construídos na pesquisa. Visando a preservação do anonimato dos participantes da pesquisa, utilizou-se do artifício de codinomes, sendo: sr. Jair e sr. Igor para moradores da comunidade de Peirópolis e sr. Sebastião para o servidor do CCCP.

A partir da definição dos participantes foram agendados momentos de diálogos em espaços do CCCP (em especial em seu setor administrativo e na praça pública de Peirópolis - museu a céu aberto) e na Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis (AASPP), a partir do roteiro prévio estabelecido, que norteassem a construção de dados da pesquisa. Esta construção afastou-se de um modelo de entrevistas do tipo perguntas e respostas e favoreceu a aproximação pesquisador-participantes pautada na construção de uma confiança mútua em diálogos contínuos, o que possibilitou a construção de narrativas ricas em detalhes e a reconstrução da história do MD a partir de lembranças e vozes.

Destaca-se que tais diálogos ocorriam em meio ao caminhar pelos espaços do MD, exposições e pela praça de Peirópolis (museu a céu aberto), destituindo a atmosfera de construção de dados tradicional de pesquisa, aproximando o pesquisador do cenário vivencial do participante e favorecendo a recordação de memórias, fatos, episódios e acontecimentos. Todos os momentos foram audiogravados com a autorização dos participantes, os quais assinaram Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), anteriormente aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFTM, no âmbito da pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Educação dessa instituição.

Na sequência, procedemos às transcrições dos áudios, sendo construídas narrativas que possibilitaram o delineamento de dimensões de análise (POLLACK, 1989; DELGADO, 2003, 2007; GALVÃO, 2005). Desta forma, importa destacar que a organização dos dados se pautou por narrativas construídas no intuito de preservar contextos, histórias, oralidade e personalidade dos participantes da pesquisa. As narrativas possibilitam compreender o quanto o exercício de escuta, de compreender olhares, de estar imersos em devaneios de diferentes períodos históricos, eventos e sonhos é importante para a compreensão da história oral, construindo e reconstruindo fragmentos de um tempo passado vivenciado.

Segundo Galvão (2005), narrativas pressupõem três elementos interligados: a história - promovida pelo participante da pesquisa e seu contexto sócio-histórico-cultural -, o discurso - a forma como a história é contada - e a significação - o encontro da história com o discurso, descrito e registrado a partir da escrita. Neste sentido, cabe ressaltar as riquezas de histórias, lutas, amor pela ciência e educação que existem dentro de cada casa simples da comunidade. Impossível não perceber as inúmeras possibilidades de apreender e educar fora dos livros e muros da escola, num cenário que trouxe à tona olhares e vozes quanto à presença de um museu na comunidade.

Ao construirmos narrativas atentamos para o fato de que estas estão imersas em um processo que significa conceber a linguagem como memória, como um recurso permanente de atribuição de significados, ou seja, analisa “a exploração não só do que é dito, mas também de como é dito” (GALVÃO, 2005, p.328). Tais aspetos foram possíveis devido à convivência in loco dos pesquisadores, por meio de longos e constantes diálogos com os participantes da pesquisa.

As narrativas, então, são a materialização da elaboração suscitada na memória do participante a partir das questões trazidas pelo pesquisador, exteriorizadas pela fala e linguagens e analisadas a partir dos constituintes formulados pelo pesquisador. A construção e a análise de tais narrativas, bem como o aprofundamento teórico sobre história oral, possibilitaram o delineamento de duas dimensões de análises: (i) vertente sociocultural e o reviver memórias e (ii) sentimento de (in)(ex)clusão e o empoderamento participativo. Devido à extensão do texto, tornou-se inviável trazer as narrativas na íntegra, porém apresentamos excertos delas que contribuíram com nossas análises e que iluminam as discussões realizadas frente às dimensões delineadas1.

Resultados e discussões

Vertente sociocultural e o reviver memórias

A vertente sociocultural e o reviver memórias retratam as histórias narradas pelos participantes e seus diferentes olhares sobre o MD. Assim, as análises a seguir debruçam sobre as tensões, disputas e conquistas do partilhar o território da comunidade de Peirópolis, contribuindo para trazer outros olhares para o museu. Colabora também para compreender o museu como possibilitador de modificações territoriais e estimulador do desenvolvimento local, resultado de uma conscientização dos moradores sobre a importância da preservação de fósseis, de abrir sua comunidade aos diferentes públicos, de aliar o cultural ao científico, já que o cotidiano e a cultura local foram sendo modificados pela presença do complexo cultural e científico (CCCP).

Aqui, cultura é entendida como um ente social decodificado por “memória, trabalho, política, costumes, símbolos, valores e, enfim, como tudo que os homens criam e ao que atribuem significados, temos sido levados a pensar e trabalhar a memória em constante mudança, como um campo de luta, como alvo de disputa, de domínio e de afirmação social” (FENELON, 2006, p. 7-8). Por isso, valorizar experiências sociais a partir das vozes que contam o Museu dos Dinossauros representa priorizar os sujeitos em sua essência e memória.

A vertente sociocultural que perpassa por experiências vividas traz o MD como detentor de uma história plural, formada por diferentes viesses e marcas de sua existência. A história do museu é marcada por subjetividades e sentimento de pertença ao local, como relatado pelos participantes:

Me lembro que quando nós estávamos engrenados com o Beethoven [morador da comunidade], montando a associação [AASPP], meu filho tinha uns 13 anos e me disse: Papai, você vai caçar uma baita de uma encrenca, você vai mexer com isso? Eu falei que era uma encrenca boa, porque ela era em defesa de um patrimônio, uma riqueza de todo mundo. Falei: quando vocês crescerem, entenderem por gente, saber o que é a vida, vocês irão fazer parte, vão dar valor. Ah, não deu outra. Quero dizer, já foi meu filho, agora vai estar meu neto. A gente tem que deixar de geração em geração. A gente tem que ensinar. Ensinar a ter amor a lugar que mora, as riquezas que tem onde a gente mora. Aqui é um lugar privilegiado. Olha esses museus!!!! (sr. Jair, em diálogos na praça pública - Museu a céu aberto - da comunidade rural de Peirópolis, julho/2018).

*************

Para mim morar aqui não é uma coisa fácil para ninguém, principalmente no início, você tinha que ter um carinho, dedicação, um amor que você tinha que largar filho, mulher, emprego para dedicar isso daqui e tentar resolver o negócio. Eu larguei tudo e resolvi dedicar isso aqui. Para mim ser membro daqui, é ter acreditado, mirado, lutado e ter dado certo, não me vejo em outro lugar (sr. Igor, na Associação dos Amigos do Sitio Paleontológico de Peirópolis, mostrando documentos e fotos do acervo da Associação, fevereiro/2019).

O sentimento de pertencimento ao local ficou evidente em diversos diálogos com os participantes. As recordações, associadas às lutas, à criação de uma associação e sua manutenção são defendidas e fazem parte de suas lembranças, entrelaçando-se às memórias pessoais. Ao descreverem “a gente tem que deixar de geração em geração” e “eu larguei tudo e resolvi dedicar isso aqui”, os participantes manifestam a preocupação com a memória, com a história local, construída por muitas lutas e abdicações, assim, notamos um espaço inserido na e pela ação das pessoas que o situam e contemplam com pessoalidade, proximidade e não como instituição de guarda distante, mas um pedaço do jardim de seu quintal que precisa ser cuidado e zelado.

Santos (2008) chama a atenção para a necessidade de contextualização histórica, local e social dos museus, a presença e potencialidade presente nas culturas de um povo que devem e impactam no museu que tem uma comunidade próxima. Tais aspectos situam-se também nas falas dos participantes,

Quer dizer que em 30 anos nós transformamos um vilarejo que a mineradora [empresa de cal que situava no local] queria destruir, em lugar do reconhecimento, de cultura, de passeio. Não tem nenhuma praça [museu a céu aberto] em Uberaba que tem o recebimento de [tanta] gente nos finais de semana igual a de Peirópolis. Em Uberaba, tem as praças bonitas, mas não adianta. O ambiente daqui é um ambiente gostoso e tranquilo. Eu fico pensando se vem 2000 pessoas, 1999 fala que o local é gostoso (sr. Jair, em diálogos na praça pública - Museu a céu aberto - da comunidade rural de Peirópolis, maio/2018).

*************

Com a presença do museu, trazido com o esforço do povo daqui, temos a produção científica, o desenvolvimento econômico da população daqui. Uma estrutura que vem melhorando, a interação da escola daqui [escola municipal situada na comunidade] e das demais escolas de vários locais dos municípios vizinhos e de Uberaba conhecendo, aproximando, estudando (sr. Sebastião, em diálogos na antiga sede da Rede Nacional de Paleontologia, atualmente setor administrativo do CCCP, Peirópolis, novembro/2018).

Ao mencionarem que as pessoas procuram o MD e, destacarem a praça pública (museu a céu aberto), os senhores Jair e Sebastião não apenas expõem a presença e os encantos que os fósseis propiciam nas pessoas, mas também a cultura local da satisfação em receber visitantes, ou seja, que um território que seja compartilhado influencia e modifica o cotidiano do museu e da comunidade local. Desta forma, a (re)construção de memórias e de lutas da comunidade no projeto de implantação, edificação e permanência desse espaço vem à tona: “o pessoal daqui foi protagonista, são muito políticos, querem preservar suas lembranças, seus espaços” (sr. Igor).

Interessante foi perceber a firmeza e quão engajados são os moradores de Peirópolis ao se colocarem a frente da construção do espaço museal, uma percepção também partilhada pelo sr. Sebastião, servidor do MD:

Graças a esse movimento, esse clamor da comunidade, vendo que Peirópolis estava sendo esvaziada e abandonada pelo tempo, viram na Paleontologia a possibilidade de florescer aqui um novo momento de evolução de Peirópolis, não só embasado na região de Caeira [ponto de escavações e um dos locais de atuação da fábrica de cal] que já estavam em declínio total, mas em uma atividade cultural científica que seria a paleontologia. [...] Vejo que as pessoas de Peirópolis são mais politizadas, pois sabem daquilo que tem, sabe das lutas, amadureceu com a presença dos pesquisadores que vem e apontaram e apontam a importância daqui. Você não coloca as coisas “goela a baixo” na população daqui não. Tem que vir, conversar (sr. Sebastião, em diálogos na antiga sede da Rede Nacional de Paleontologia, atualmente setor administrativo do CCCP, Peirópolis, novembro/2018).

Ao mencionar “Você não coloca as coisas ‘goela abaixo’ na população daqui não. Tem que vir, conversar”, sr. Sebastião apresenta o sentimento de pertencimento do povo local, a defesa de uma história construída, as lutas e tensões presentes na relação museu/comunidade. Esta percepção ao longo dos anos, por vezes, entrou em conflito com interesses diversos, vinculados às riquezas da região de Peirópolis.

[...] tinha um secretário de cultura que disse assim para mim, que nós não íamos acabar com essa mineradora [fábrica de cal] nunca na vida, porque eles são muito fortes. Eu falei: Professor, perante o senhor eu sou um analfabeto porque o senhor é formado e eu tenho o segundo ano primário, mas eu vou falar curto e reto para o senhor, nós vamos fazer com que eles [a mineradora] saiam de qualquer maneira [do Sítio Paleontológico] (sr. Jair, em diálogos na praça pública - Museu a céu aberto - da comunidade rural de Peirópolis, maio/2018).

Tais colocações evidenciam diferentes demarcações e conflitos vividos pelos moradores frente ao museu. A fala do sr. Jair evidencia uma disputa e como a realidade é por vezes vivenciada de modos desiguais, em uma visão capitalista e de poder. A luta pela retirada da fábrica de cal partia de um morador que, mesmo com pouco estudo, estava preocupado com a manutenção de traços culturais e históricos da região, de sua comunidade e, quiçá sem conhecimento, da manutenção de uma cultura científica propiciada pelos fósseis encontrados na região.

Logo de início nas análises verificamos a impossibilidade de reviver histórias e fragmentos de um tempo passado, no âmbito do museu, sem mencionar as memórias pessoais e coletivas das pessoas, nas quais embates permeavam o contexto pesquisado. Um destes embates refere-se também aos servidores do CCCP, como mencionado pelo sr. Sebastião:

Ao chegar [em Peirópolis] também sofri muita pressão da comunidade, que sempre questionava todas as [minhas] ações, estava atenta a todos os movimentos e fazia repercutir na mídia e lutava. [...] Um professor da UFTM, me disse que se chateia que eles [comunidade] têm usado a UFTM como se fosse deles, que eles andam sozinho, que não podem achar que aqui é a casa deles, eu disse que o melhor a fazer é conversar com muita tranquilidade, colocar seus pontos, para não ganhar um inimigo que se chama comunidade (sr. Sebastião, em diálogos na antiga sede da Rede Nacional de Paleontologia, atualmente setor administrativo do CCCP, Peirópolis, janeiro/2019).

Este relato evidencia a representatividade de uma comunidade de entorno ao museu guerreira e que defende seus ideais para manter viva sua história, ou em palavras próprias: “defendendo um patrimônio que não é nosso, o patrimônio que é da humanidade” (sr. Jair). Acrescenta-se a esta narrativa o entendimento dos espaços constituintes do museu (museu a céu aberto, sítios de escavações, prédios centrais) como um manifesto de cultura e disseminação da ciência: “[...] lá [no sítio de escavações] é uma área de ciência e cultura, e eles [em referência à mineradora] estão falando que não, aquilo está no meio do campo [afastado em 10 km do prédio central do MD], não tem importância” (sr. Jair).

Cada participante busca trazer Peirópolis a partir de suas experiências pessoais, autoafirmando, engrandecendo seus atos e feitos na construção e desenvolvimento do local. Assim, corroboram que as experiências e memórias vinculadas ao museu são reformuladas na subjetividade, ressignificando o ambiente (HEITOR, 2017) e buscando um reconhecimento social e empoderamento dos discursos. Por fim, nessa dimensão de análise ressaltamos a atuação e as memórias impregnadas, por vezes invisibilizadas, de representantes locais do museu. Ficou evidente nas falas que a presença do MD modifica o espaço local e também carrega características do espaço, que o faz único por estar naquele território. Isso deve ser considerado para se buscar melhores formas de utilização do museu, seja em âmbito educacional (vinculado à educação não formal, à paleontologia, biologia, etc.) ou de valorização do patrimônio sociocultural da região, em que se considere o espaço em constante diálogo com seu entorno.

Sentimento de (in)(ex)clusão e o empoderamento participativo

Dissertar sobre esta dimensão é antes de tudo afirmar a existência de uma intrínseca relação entre o MD e sua comunidade do entorno. Estamos apontando a existência de um ativismo comunitário, pautado no desenvolvimento social local e em formas de exercício da cidadania daqueles que ali residem. Todas as lutas, engajamento, inserções no contexto do museu forjam marcas que sinalizam a presença da comunidade. Como retrata sr. Jair.

[...] Os pesquisadores fazem a base de 70-80 milhões de ano para cada fóssil desses [em exposição no MD]. Quer dizer, que é muito tempo. Por isso, tem que andar a ciência e a cultura tudo junto. Essa foi a nossa defesa, isso foi o que a Associação empenhava e que tem que ser passado paras as gerações futuras. Eu fiquei 4 anos à frente da associação, depois de um tempo veio meu filho, e já foi decidido que o próximo será o meu neto. A gente tem que deixar de geração em geração. A gente tem que ensinar. Ensinar a ter amor a lugar que mora, as riquezas que tem onde a gente mora. Aqui é um lugar privilegiado. Olha esses museus!!!! (sr. Jair, em diálogos na praça pública - Museu a céu aberto - da comunidade rural de Peirópolis, julho/2018)

A fala do sr. Jair revela seu âmago de pertencimento à comunidade e também o anseio em manter viva a Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis (AASPP). A continuidade de gestão dentro de uma mesma família, perceptível na fala do sr. Jair, reflete o envolvimento, engajamento e protagonismo por parte de algumas famílias que assumem as questões administrativas, burocráticas e políticas na AASPP, mediando diálogos entre a comunidade local e diferentes instâncias (UFTM, Prefeitura Municipal de Uberaba, pesquisadores, etc.). Assim, ao mencionar “já foi decidido que o próximo será o meu neto”, sr. Jair explicita um desejo pessoal, o qual, no entanto, deve passar pelo crivo dos associados, em meio a um processo democrático de escolha para a gestão da AASPP.

Contudo, em alguns momentos o empoderamento participativo da comunidade foi estremecido por ações políticas e falta de diálogos entre a gerência do complexo e a comunidade. Sobre este aspecto, sr. Sebastião mencionou em um de seus diálogos que:

Com a chegada da Universidade, e do novo diretor muitos foram os embates com a comunidade. A comunidade estranhou a administração, ele não tinha abertura com a comunidade, teve muitas audiências públicas, eles fizeram muitas denúncias no ministério público contra o diretor, não entendia as ações dele. Eu sempre falei a ele que as ações aqui têm que ser mediadas, conversadas já que eles chegaram aqui primeiro que nós - tem gente que mora aqui há 80 anos - se sentem com pertencimento ao local. As pessoas daqui tem uma influência grande política, acesso a imprensa, tem gente da comunidade que escreve coluna de jornal, eles não ficam parados, eles fazem chegar as notícias ao serem contrariados e se unem quando se sentem excluídos nas decisões do museu (sr. Sebastião, em diálogos na antiga sede da Rede Nacional de Paleontologia, atualmente setor administrativo do CCCP, Peirópolis, novembro/2018).

Esta postura da comunidade demonstra os laços de pertencimento que os une ao museu e, um museu consolidado pelas experiências e ativismo, pressupostos da museologia social, ou seja, uma “forma de enxergar e atuar no mundo baseada na crítica e no ativismo sociais por meio de iniciativas comunitárias [...]” (SANTOS, 2012, p. 9). Outros embates também vieram à memória dos participantes, por exemplo, em uma assertiva do sr. Igor em que cita um episódio de cercamento do museu a céu aberto.

Tivemos alguns episódios como o cercamento do museu [praça pública, museu a céu aberto] e a cobrança para entrar no espaço [prédios principais do MD] que para eles [administração do espaço, neste caso fazendo referência à UFTM] são deles, o desvio do recurso para ser investidos em projetos de melhoria aqui, e uma demarcação invisível como se aquele espaço [praça pública] não mais pertencesse a eles. Eu fiz a última assembleia da AASPP [...] no auditório do CCCP, muita gente tinha muito tempo que não entrava lá. É preciso buscar essa integração. As pessoas aqui sabem que o que atrai aqui é o museu [MD] e, a partir daí é possível dar visibilidade a todo o complexo [CCCP], os produtos, doces, artesanatos, lembranças do museu. Por isso todo o carinho com o espaço (sr. Igor, na Associação dos Amigos do Sítio Paleontológico de Peirópolis, mostrando documentos e fotos do acervo da Associação, fevereiro/2019).

As colocações acima refletem outra vertente da relação entre o MD e sua comunidade do entorno, ou seja, o acesso público à cultura e ao conhecimento para a comunidade local e todos que a visitarem - não ao cercamento da praça do museu e não à cobrança de ingresso. Tais tensões reafirmam a necessidade de tratar a memória dos locais, e nestes se inserem os museus, como sendo plurais. Embora os participantes da comunidade nessa pesquisa representem uma memória coletiva, estamos conscientes das inúmeras discordâncias, das pessoas que não foram apontadas como possíveis participantes da pesquisa por terem outro olhar e compreensão em relação à presença do museu, do silêncio e omissão daqueles que não se engajaram.

Ficou evidente nas falas dos participantes, em especial os da comunidade de Peirópolis, que a presença do complexo (para além do museu) potencializa um crescimento socioeconômico territorial. Nesse sentido, o sr. Jair menciona que “o museu [todos os espaços do MD] tem um impacto no turismo, olha o tanto de restaurante; no ensino; nas pessoas que visitam, a gente vai contando a história daqui, quando as pessoas vêm visitar, muita gente não acredita”.

Os sentimentos de (in)exclusão, o posicionamento contrário às ações que não são representativas e a distância da administração com a comunidade se fizeram presentes nas falas dos participantes, evidenciando a presença e conflitos vivenciados na relação museu-comunidade. A gestão participativa e a busca pela valorização das identidades e memórias da comunidade, sobretudo do seu entorno, encontram-se presentes nos documentos que tratam das políticas museais no país, assim, colocá-las em prática é favorável e primordial, dada as discussões apresentadas nesse estudo. Ademais, o contato com o museu possibilita “o aprimoramento da democracia, da inclusão social, da construção da identidade e do conhecimento, e da percepção crítica da realidade” (BRASIL, 2018, p. 13).

Considerações finais

As vozes que ecoaram dos moradores do entorno sobre o MD fomentaram melhor compreender as relações de vizinhança, disputas de poder e compartilhamento do território desta aproximação. Tais aspectos entraram em ressonância com as dimensões de análise que delineamos frente ao empoderamento participativo da comunidade. Percebemos que o aproximar da comunidade, suas histórias e vivências e a relação com o MD apontam que conservação, a patrimonização e a preservação são mais significativas quando o entorno se envolve, interessa, manifesta e corrobora com as ações museais.

Analisar a territorialidade do CCCP, em especial do MD, possibilitou entender o espaço como dinâmico, vivo, carregado de tensões e relacionado diretamente com a vida dos moradores da localidade. Como desdobramento, vemos a impossibilidade de se pensar projetos e de potencializar as ações dos museus, sejam elas educativas, culturais ou sociais, sem começar pelas suas relações de vizinhança e seu público mais próximo.

Destacamos também que os fundamentos teóricos da museologia social e da história oral foram muito importantes nessa empreitada de pesquisa, visto que nosso olhar revelou que à medida que as suas vivências, experiências, possibilidades de ação são trazidas para o olhar sobre o museu, vislumbra-se seu entorno e coloca-se o espaço como agente de desenvolvimento social, econômico, cultural para o público e que dialoga com a comunidade, aproximando-se das concepções norteadoras da museologia social.

Com os diálogos e as idas e vindas semanais à Peirópolis, a pesquisa foi evidenciando que a educação museal precisa valorizar o conhecimento, as memórias e os diferentes modos de relação entre os museus e a comunidade. Entendemos que perdemos muito por não aprender sobre os museus por outras vozes e versões, as de entorno. Como instituição social, o museu atende diferentes públicos e tem a capacidade de ressignificar o ambiente propiciando novas leituras de mundo ao público visitante. Sobre este aspecto, o sr. Sebastião ao relacionar a integração museu-comunidade traduziu suas reflexões do antes e depois do museu em Peirópolis da seguinte forma:

A presença do museu, do ensino, da pesquisa, da extensão provou que pode modificar uma localidade. O museu é a peça fundamental em Peirópolis, ele fez renascer aqui. Aqui estava desaparecendo, em declínio total, iria entrar em extinção, só tinha a mineração de calcário, que era vista como destrutiva pela comunidade, já havia retirado a ferrovia... A comunidade, nas épocas das Caeiras [local do Sítio de escavações] chegou a ter o dobro da população daqui, então, já havia tido muita mão de obra. Com a presença do museu, trazido com o esforço do povo daqui temos a produção científica, o desenvolvimento econômico da população daqui uma estrutura que vem melhorando, a interação da escola daqui e das demais escolas de vários locais dos municípios vizinhos e de Uberaba conhecendo, aproximando, estudando (sr. Sebastião, em diálogos na antiga sede da Rede Nacional de Paleontologia, atualmente setor administrativo do CCCP, Peirópolis, novembro/2018).

Parafraseando Carlos Drummond de Andrade, neste nosso caminhar de pesquisa tiveram muitas “pedras” (fósseis), as quais veladas permaneceriam (agora não mais) em detrimento do ouvir das vozes que ecoaram da comunidade local de Peirópolis. Por fim, seguimos acreditando que há muito a ser feito (e ouvido) quando pensamos na relação museu-comunidade do entorno.

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* Este texto é um recorte de uma pesquisa de mestrado acadêmico desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

1As narrativas construídas estão disponibilizadas na íntegra na página do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Não Formal e Ensino de Ciências (GENFEC), em “Dissertações defendidas” (https://genfec.com.br/publicacoes/dissertacoes-defendidas/) ou diretamente no link: http://bit.ly/material_suplementar

Recebido: 18 de Fevereiro de 2021; Aceito: 21 de Março de 2021

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