SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.22 número73A expansão do ensino público a partir da reivindicação da população paranaense índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.22 no.73 Curitiba abr./jun 2022  Epub 17-Dez-2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.22.073.ap01 

Apresentação

História e memória da escola pública no Paraná: temas, problemas e fontes

History and memory of public school in Paraná: themes, problems, and sources

João Carlos da Silvaa 
http://orcid.org/0000-0002-9322-8754

Vanessa Campos Mariano Ruckstadterb 
http://orcid.org/0000-0001-6072-3700

Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieirac 
http://orcid.org/0000-0003-3759-0377

aUniversidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), câmpus Cascavel, Cascavel, Paraná, Brasil. Doutor em Educação, e-mail: joao.silva@unioeste.br

bUniversidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Câmpus Jacarezinho, Jacarezinho, Paraná, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: vanessaruckstadter@uenp.edu.br

cPontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, Paraná, Brasil. Doutora em Educação, e-mail: alboni@alboni.com


Este Dossiê, intitulado História e memória da escola pública no Paraná: temas, problemas e fontes é resultado de um processo de estudos e pesquisas sobre a História da educação paranaense. Tem como objetivo disseminar a produção acadêmica resultante de pesquisas desenvolvidas em diferentes níveis e instituições. Reúne um conjunto de 16 artigos que tem como foco central a história das instituições escolares no Paraná, com contribuições de pesquisadores jovens e experientes de diferentes instituições e regiões do Estado.

As pesquisas sobre instituições escolares vêm ganhando importância nos últimos anos, atraindo um número significativo de pesquisadores, particularmente no âmbito da História da Educação. Identificamos um importante acúmulo de pesquisas acerca da escola pública no Paraná, junto aos Programas de pós-graduação.

Verificamos a ausência de uma publicação que priorizasse a temática instituições escolares no Paraná, concentrando estudos e pesquisas em seus diferentes aspectos a partir, sobretudo, do olhar para a escola pública e sua sistematização no Estado. A presente proposta de publicação vem no sentido de preencher esta lacuna e, nela, apontamos a importância da pesquisa local e regional no tratamento dado às diferentes dimensões que envolvem a História da Educação em suas especificidades regionais.

Mesmo com publicações sobre a temática, este dossiê teve como meta reunir o maior número de pesquisas realizadas no Paraná e em outros estados que se dedicassem em investigar o processo de escolarização no estado do Paraná. Constitui-se, portanto, num conjunto de textos que apresentam uma variedade de objetos, que, por sua vez, ampliam consideravelmente o conceito de fontes ou documentos relevantes ao trabalho do historiador, assim como ampliam a compreensão da própria educação.

O texto que abre esta publicação, intitulado A expansão do ensino público a partir da reivindicação da população paranaense, artigo de Luciana Kubaski Alves e Vera Lúcia Martiniak, apresenta os resultados de uma pesquisa de doutorado que analisou a “expansão do ensino público a partir da reivindicação da população paranaense pela construção de escolas, tanto nas colônias quanto nos centros urbanos no início do século XX”. A partir de uma pesquisa de abordagem qualitativa e pautada no método histórico, com análise documental de fontes primárias, as autoras concluem que as escolas particulares étnicas e confessionais tiveram papel expressivo no início do século XX no Paraná, momento em que a oferta de ensino público se deu de forma lenta e gradual pelo Estado.

Rodrigo Pinto de Andrade e Cézar Alencar Arnaut de Toledo, no texto A implantação da Escola Luterana Concórdia (1955-1969) no contexto da colonização do oeste paranaense, discutem o processo de escolarização no contexto da colonização planejada do oeste paranaense, que resultou na criação da Escola Luterana Concórdia, na cidade de Marechal Cândido Rondon, no ano de 1955. Trata-se de um estudo histórico e documental, que se integra na história das instituições educativas e tem como proposta investigar a história da implantação, desenvolvimento e consolidação de uma das primeiras instituições escolares confessionais da região Oeste do Paraná.

O artigo nomeado Educação pública primária paranaense em discursos governamentais (1961-1971), de autoria de Thaís Bento Faria e Rosa Lydia Teixeira Corrêa, analisa, com base nas mensagens de governo, os discursos de dois governadores paranaenses, Ney Braga (1961-1965) e Paulo Pimentel (1966-1971). Considerando o referencial foucaultiano, a análise foi realizada a partir de algumas unidades de discurso e aponta os ditos e os não-ditos nas mensagens. Concluem que, “embora a educação estivesse discursivamente no conjunto das mensagens como essencial para o desenvolvimento econômico (ora para o desenvolvimento industrial, ora para o desenvolvimento integrado), de fato não ocupa papel central no discurso político”.

Viviane De Oliveira Berloffa Caraçato, Maria Cristina Gomes Machado e Maria Angélica Olivo Francisco Lucas são autoras do artigo intitulado O processo de institucionalização do Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal: uma análise sobre o currículo escolar (1953-1975). Nele, analisam o currículo implementado nas décadas de 1950 a 1970 pelo Colégio Estadual Dr. Gastão Vidigal, da cidade de Maringá-PR. Partem da contextualização da colonização do Norte do Paraná, da fundação da cidade e seu desenvolvimento para identificarem quais fatores possibilitaram a criação do colégio analisado. Na sequência, apresentam a história da instituição e o currículo escolar no período de recorte, a partir de fontes bibliográficas e documentais. Concluem que a instituição contribuiu para a educação escolar maringaense e estava em consonância com uma formação cívica, patriótica em confluência com o “desenvolvimento urbano e industrial do país”.

O texto Itinerários de uma reforma sob o argumento-pedagógico: o Plano de Reforma Geral de Azevedo Macedo para a Escola Primária paranaense na década de 1910, do pesquisador Sidmar dos Santos Meurer “examina a agenda de reformas da escola primária no Paraná ao longo da década de 1910, ao redor da atuação de Francisco Azevedo de Macedo”. Utiliza como recurso metodológico para analisar os documentos elencados palavras-chave com o objetivo de “reconhecer os sentidos de reforma que prevaleceram e como esses se conectam com medidas e retóricas mobilizadas com o intento de reformar o ensino, bem como compreender suas consequências para a escolarização primária”. Como conclusão, apresenta que o Plano de Reforma Geral implementado por Macedo, bem como sua atuação, contribuiu para consolidar “um sentido de reforma afinado com expectativas de modernização do ensino”, o que contribuiu tanto para estabelecer prioridade socioculturais quanto direcionamentos pedagógicos no momento inicial de sistematização da escolarização primária no Paraná.

Flávio Massami Martins Ruckstadter e Vanessa Campos Mariano Ruckstadter, em A educação escolar secundária no Norte Pioneiro do Paraná: a criação de Ginásios entre os anos de 1948 e 1961, tratam sobre a institucionalização da educação escolar na mesorregião Norte Pioneiro do Paraná, identificando as localidades e quando foram criados ginásios no período compreendido entre 1938 e 1961. Os marcos se referem ao ano de fundação da primeira escola deste nível na região e ao ano da promulgação da Lei Federal n. 4024/61.

Tony Honorato, Fernanda Cristina de Souza Pedrão e Simone Burioli Ivashita, no texto com o título A estruturação da profissão docente na Província do Paraná (1854-1870), tem como objetivo caracterizar elementos da estruturação da profissão docente na província do Paraná, segundo as publicações no jornal Dezenove de Dezembro (1854-1870). O território paranaense, como a Quinta Comarca Curitiba, pertencia à província de São Paulo, e no dia dezenove de dezembro de 1853 teve seu desmembramento oficializado, emancipando-se como a província do Paraná.

Em A incorporação da cultura física na instrução pública paranaense: em busca de uma Gymnastica racional (1882-1917), os autores Marcelo Moraes e Silva, Vera Luiza Moro e Gizele de Souza analisam a partir de fontes documentais diversas a incorporação de uma cultura física a partir dos saberes da Gymnastica no final do século XIX e início do século XX. Concluem que, no Paraná, essa incorporação se deu em um lento processo de especialização da Gymnastica e “caminhou em direção a uma ginástica com um forte apelo racional, higiênico e educativo”.

Moacir da Costa Belliato e André Paulo Castanha são autores do artigo intitulado O Instituto Nossa Senhora da Glória e a escolarização em Francisco Beltrão-PR e região (1952-1982) e que teve como objetivo compreender o papel dessa instituição no recorte temporal e geográfico proposto. Os pesquisadores cotejaram fontes documentais, orais e bibliográficas, que foram analisadas a partir do método dialético. Após caracterizarem a escola e seus apoiadores, argumentam que a instituição obteve recursos vindos da Alemanha e contou com o apoio dos poderes Municipal, Estadual e Federal, em articulação com as lideranças comunitárias e as famílias. Finalizam afirmando que a instituição escolar “se constituiu em um polo que possibilitou a criação de várias escolas públicas no período”.

João Carlos da Silva e Anderson Szeuczuk em 30 anos de gratuidade nas universidades públicas paranaenses: avanços e desafios tem como objetivo “abordar a história da gratuidade do ensino superior público, no Estado do Paraná, no período entre 1987-2017”. O recorte parte do fim do pagamento de mensalidade nas universidades públicas do Estado em 1987 após ampla mobilização de estudantes, professores e funcionários até os dias atuais, e reafirmam a importância dessas instituições, sobretudo em um contexto de avanço conservador e privatista no ensino superior. Concluem que um dos principais desafios na atualidade é a manutenção dos direitos conquistados, sobretudo no que se refere à gratuidade.

Em A Pedagogia Histórico-Crítica no Paraná durante o governo de Roberto Requião (1991-1994): o começo do fim, os autores Kassia Camila Gonçalves e Paulino José Orso apresentam os resultados de uma pesquisa teórica-bibliográfica e documental desenvolvida no mestrado na área de História da Educação. O artigo tem como objetivo “explicitar a política educacional desenvolvida no Paraná, durante o primeiro Governo de Roberto Requião (1991-1994) e sua relação com a Pedagogia Histórico-Crítica (PHC), teoria que fundamentou a elaboração do Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do Paraná e seu redirecionamento para a pedagogia cidadã a partir da elaboração de um documento denominado “Paraná: Construindo uma Escola Cidadã”. A partir da análise documental concluem que não há sequer menção à Pedagogia Histórico-Crítica nos documentos, e “que a pedagogia cidadã se reduziu a uma proposta didática-pedagógica voltada para a conquista de direitos”. Apesar de não se opor à Pedagogia Histórico-Crítica, ela não propõe uma ruptura com a ordem vigente e não se compromete com uma educação transformadora para a classe trabalhadora.

Claudia Maria Petchak Zanlorenzi, Sandra do Rocio Ferreira Leal e Maria Isabel Moura Nascimento, no artigo A concepção de linguagem defendida na Revista O Ensino da inspetoria do Paraná (1922- 1924), examinam a história da educação pela imprensa escrita, na década de 1920, com o objetivo de investigar na revista O Ensino a concepção de linguagem veiculada aos professores da rede pública do estado do Paraná. Essa fonte de pesquisa demonstra também que esse material é rico em possibilidades de pesquisa, uma vez que registra o imediato e o contemporâneo do contexto veiculado, cabendo ao pesquisador o desafio de fazer a releitura, pois a imprensa não é neutra e este desafio cabe ao pesquisador analisar, olhar o fenômeno em suas várias determinações, bem como os reflexos na contemporaneidade.

Maria Nilvane Fernandes, no artigo Primeiras letras, pesca, pasto e lavoura: a influência do Código de Menores Mello Mattos no Paraná, apresenta uma pesquisa historiográfica, sustentada em fontes primárias e secundárias para uma análise documental e bibliográfica de maneira a identificar como ocorreu o atendimento de meninos e meninas durante as três primeiras décadas do século. Aliado a um ensino informal e precário, os meninos e meninas foram inseridos em atividades de trabalho pecuário, agrícola e pesqueiro com uma suposta inserção em qualificação profissional.

Wilson Lemos Júnior e Vanessa Cauê Krugel, em História do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (1869-2008), investigam a trajetória histórica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR), que apesar de ter sido concebido no ano de 2008 por meio da Lei 11.892, já vinha se dedicando a educação profissional na cidade de Curitiba desde meados da década de 1930, quando ainda fazia parte do Colégio Progresso. Para isso, utiliza-se como fontes: legislações, escrituras, relatórios, atas, além da bibliografia acerca das instituições que deram origem ao IFPR.

O texto de Etienne Baldez Louzada Barbosa intitulado O fotógrafo vai à escola. Os usos da fotografia escolar por parte dos dirigentes da instrução pública primária (Paraná, Brasil, 1910-1950) analisa a instrução pública primária no Paraná a partir da fotografia como fonte para a História da Educação. A autora conclui que as fotografias compiladas a pedido de prefeitos do Paraná apresentam registros que possibilitam verificar o esforço empreendido pelos municípios em mostrar ao governo estadual as escolas construídas e inauguradas no período de recorte proposto.

Na demanda contínua, como primeiro artigo apresentamos Escala brasileira de engajamento docente: mensurando o nível de envolvimento dos professores com o processo de ensino e aprendizagem, de Ernandes Rodrigues do Nascimento e Maria Auxiliadora Soares Padilha, em que os autores utilizaram a Escala Brasileira de Engajamento Docente - EBED, em primeira testagem, para mensurar o nível de envolvimento dos professores com a aprendizagem dos alunos, no contexto da educação brasileira. A pesquisa teve como objetivos específicos estabelecer as dimensões de engajamento docente e identificar as formas de leitura e interpretação dos resultados da escala utilizada. Para tanto, além das estatísticas descritivas, outros testes foram realizados: Alfa de Cronbach, teste de Barlett e Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e Análise Fatorial Exploratória (AFE). Os resultados indicaram que a EBED possibilita três análises sobre o engajamento docente: geral, com a aprendizagem dos estudantes; por dimensão (cognitivo, emocional, institucional, pedagógico e social), e por indicadores específicos. Além disso, a utilização da EBED, segundo mencionaram, “permitirá às instituições de ensino pensar em estratégias que promovam maior engajamento dos professores”.

O artigo 100 anos da revista Pedagogium e a pesquisa em História da Educação, das pesquisadoras Laís Paula de Medeiros Campos Azevedo e Olívia Morais de Medeiros Neta marca a celebração dos 100 anos da criação da revista pela Associação de Professores do Rio Grande do Norte e apresenta o impresso como fonte e objeto para a História da Educação. O estudo, que teve como fontes os números do impresso disponíveis no Repositório de História e Memória da Educação e os jornais natalenses disponíveis na Hemeroteca Digital Brasileira, foi realizado a partir da análise do impresso em suas três fases, “buscando compreender os elementos que a caracterizavam, sobretudo, acerca da sua materialidade e as temáticas contempladas”. Foi possível perceber a revista como um lugar de memória, com potencialidades para o campo da História da Educação.

Adiante, Lindomar Wessler Boneti, em Freire e a libertação: a conquista da igualdade em tempos de opressão, analisa a intercessão das palavras liberdade e igualdade e a relação destas com a opressão, a partir dos ensinamentos de Paulo Freire. Do ponto de vista metodológico, o autor percorre os caminhos da racionalidade moderna e os diferentes significados da palavra Razão, da redenção humana aos caminhos da opressão. Por último, analisa o que seria uma nova Razão, compreendida como aquela que leva à liberdade e à igualdade, por via da palavra, segundo Freire.

Em Lógicas de ação docente em tempos de pandemia: entre inovações pedagógicas e a manutenção da forma escolar, Silvana Soares de Araujo Mesquita e Maria Inês Galvão Flores Marcondes de Souza buscam identificar novas e antigas lógicas de ação no trabalho docente durante a pandemia de Covid-19, as quais permitem reunir elementos para refletir sobre inovação pedagógica e reinvenção da escola. A partir da análise dos dados coletados por duas pesquisas nacionais quantitativas e de dados qualitativos produzidos pelas autoras, foram identificadas quatro novas lógicas que passaram a influenciar o trabalho dos professores: a lógica curricular, a lógica do tempo e espaço, a lógica do ensino-aprendizagem e a lógica relacional. Os resultados apontam no sentido de que “a reinvenção da escola pós-pandemia passa pela resiliência e inovação de professores capazes de desnaturalizar lógicas de ação curriculares, organizacionais e didáticas”.

Encerrando a apresentação do número da revista, está o trabalho de Jairo Antônio da Paixão, Guilherme Magalhães e Glauber César Cruz Custódio, intitulado Estudo em unidades prisionais: considerações sobre a prática pedagógica de professores. Trata-se do estado do conhecimento a partir de pesquisas voltadas à análise da atuação docente em unidades prisionais. O estudo descreve o aluno e as singularidades da docência em ambientes prisionais, detecta a necessidade de formação inicial e continuada para atuação em escolas prisionais e o desconhecimento prévio das especificidades da educação prisional por parte dos professores. Além disso, identifica descompasso entre os textos oficiais e a realidade das escolas prisionais, revelando diferentes obstáculos e dificuldade para a prática docente na educação prisional. Sugere, ao final, uma maior aproximação entre as políticas públicas educacionais, os professores e os gestores de estabelecimentos penais, com o objetivo de promover ações que fortaleçam a formação educacional nas unidades prisionais do país.

Queremos consignar nossos agradecimentos às autoras e aos autores que nos confiaram suas produções, e às avaliadoras e aos avaliadores “ad hoc” pela presteza em atender ao convite da revista. O esforço na organização deste número foi motivado pelo interesse em trazer, aos nossos leitores e leitoras, o que de melhor e mais recente se tem produzido na pesquisa em educação em nosso país.

Desejamos a todas e a todos uma boa leitura!

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons