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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.22 no.73 Curitiba abr./jun 2022  Epub 17-Dez-2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.22.073.ds02 

Dossiê

A implantação da Escola Luterana Concórdia (1955-1969) no contexto da colonização do oeste paranaense

The implantation of concordia lutheran school (1955-1969) in the context of the colonization of western Paraná

La implantación de la escuela luterana concordia (1955-1969) en el contexto de la colonización del oeste Paranaense

Rodrigo Pinto de Andradea 
http://orcid.org/0000-0001-6948-366X

Cézar Alencar Arnaut de Toledob 
http://orcid.org/0000-0002-7813-7950

aUniversidade Estadual de Maringá, Paraná, Brasil. Doutor em Educação. e-mail: rpandrade2@uem.br

bUniversidade Estadual de Maringá, Paraná, Brasil. Doutor em Educação. e-mail: caatoledo@uem.br


Resumo

Este texto tem como objetivo analisar o processo de escolarização no contexto da colonização planejada do oeste paranaense, que resultou na criação da Escola Luterana Concórdia, na cidade de Marechal Cândido Rondon, no ano de 1955. Trata-se de um estudo histórico e documental, que se integra na história das instituições educativas e tem como proposta investigar a história da implantação, desenvolvimento e consolidação de uma das primeiras instituições escolares confessionais da região Oeste do Paraná. Os dados foram analisados seguindo os procedimentos propostos por Paolo Nosella e Ester Buffa (2009) cuja metodologia relaciona as especificidades das instituições educativas com o movimento mais geral da sociedade. Para efetivação da pesquisa foram utilizadas as seguintes fontes: livros-ata da Escola Luterana Concórdia e do Colégio Rui Barbosa; livros-ata da Igreja Luterana de Marechal Cândido Rondon; atas da Câmara Municipal de Toledo (1959-1960); atas da Câmara Municipal de Marechal Cândido Rondon (1961-1969); Leis municipais e livro-atas de exames finais. A escola refletiu, nos primeiros anos de funcionamento, as distinções sociais estabelecidas no contexto geral, do qual passou a fazer parte e projetou essas mesmas distinções. Seus pressupostos de uma educação moral não destoavam das políticas educacionais vigentes no país e das demandas educativas dos grupos dirigentes da sociedade de Marechal Cândido Rondon.

Palavras-chave: História da Educação; Instituições escolares; Oeste paranaense; Escola Luterana Concórdia

Abstract

This text aims to analyze the schooling process in the context of colonization of Western Paraná, which resulted in the creation of Concordia Lutheran School, from Marechal Cândido Rondon, in the year of 1955. It is a historical and documentary study which is integrated in the history of educational institutions, and the proposal is to investigate the history of the implantation, development and consolidation of one of the first denominational school institutions from region Western of Paraná. The data were analyzed following the procedures proposed by Paolo Nosella e Ester Buffa (2009) whose methodology relates the specificities of educational institutions to the more general movement of society. The following sources were used to carry out the research: Book-Atas of the Concordia Lutheran School and Rui Barbosa Evangelical Junior High School; Book-Atas of the Evangelical Lutheran Church of Brazil; Minutes of the Toledo City Hall (1959-1960); Minutes of the Municipality of Marechal Cândido Rondon (1961-1969); Municipal laws and Final Exam Minutes Book. The school reflected, in the first years of operation, the social distinctions established in the general context, of which it became part and designed these same distinctions. His assumptions of a moral education did not depart from the educational policies in force in the country and from the educational demands of the ruling groups of the society of Marechal Cândido Rondon.

Keywords: History of Education; School Institutions; Western Paraná; Concordia Lutheran School

Resumen

Este texto tiene como objetivo analizar el proceso de escolarización en el contexto de la colonización planificada del oeste paranaense, que resultó en la creación de la Escuela Luterana Concordia, de Marechal Cândido Rondon, en el año 1955. Se trata de un estudio histórico y documental, que se integra en la historia de las instituciones educativas y, se propone investigar la historia de la implantación, el desarrollo y la consolidación de una de las primeras instituciones escolares confesionales de la región oeste de Paraná. Los datos fueron analizados siguiendo los procedimientos propuestos por Paolo Nosella e Ester Buffa (2009) cuya metodología relaciona las especificidades de las instituciones educativas con el movimiento más general de la sociedad. Se utilizaron las siguientes fuentes para llevar a cabo la investigación: Libro-Atas de la Escuela Luterana Concordia y El Colegio Rui Barbosa; Libro-Atas de la Iglesia Luterana del Mariscal Cándido Rondon; Actas del Ayuntamiento de Toledo (1959-1960); Actas de la Municipalidad de Marechal Cándido Rondon (1961-1969); Leyes Municipales y Minutos del Libro de Examen Final. La escuela reflejó, en los primeros años de funcionamiento, las distinciones sociales establecidas en el contexto general, de las que pasó a formar parte y diseñó estas mismas distinciones. Sus supuestos de una educación moral no se apartaban de las políticas educativas vigentes en el país y de las demandas educativas de los grupos gobernantes de la sociedad marecal Cândido Rondón.

Palabras-clave: Historia de la Educación; Instituciones escolares; Oeste de Paraná; Escuela Luterana Concordia

Introdução

Este texto integra a área de história das instituições educativas e tem como objetivo analisar as relações o processo de escolarização no contexto do projeto colonizador empreendido para a região Oeste do Paraná, no caso da implantação da Escola Luterana Concórdia, na cidade de Marechal Cândido Rondon, em 1955. Nas regiões de colonização recente1, especificamente no Oeste do Paraná, religião e escolarização sempre estiveram imbricadas. As instituições públicas e empresas responsáveis pelo processo de (re)ocupação das terras da região propalaram a ideia da formação de uma comunidade idealizada, que seria alcançada por meio da educação.

No Oeste do Paraná, as instituições educativas foram gestadas a partir da realidade do interior dos núcleos de colonização e ofereceram um formato de educação peculiar em cada período, o que favoreceu uma estreita relação entre capela e escola. Entre os migrantes prevalecia a lógica de que primeiro deveriam conquistar a paróquia e, depois, resolver a questão educacional. Essa relação entre educação e religião se materializou quando da implantação da Escola Luterana Concórdia, que teve uma decisiva participação da Igreja Evangélica Luterana do Brasil (ESCOLA LUTERANA CONCÓRDIA, 1955).

A criação da Escola Luterana Concórdia foi fruto da forte relação entre fé e educação. Os valores da teologia protestante estiveram presentes no cotidiano da instituição por meio de músicas, dramatizações, orações, aulas de religião e celebrações religiosas. As festas, os desfiles cívicos, a construção de valores patrióticos por meio da exaltação aos heróis nacionais e demais símbolos cívicos, e os teatros cristãos, faziam parte de um currículo que possibilitava a formação do bom cristão e do cidadão exemplar que aquela sociedade almejava.

A instituição foi formada inicialmente para atender os filhos dos membros da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, que tiveram a iniciativa de formar uma escola vinculada à igreja. Sua primeira turma teve início no ano 1955 e funcionou nas dependências da igreja. As atividades escolares foram iniciadas com 48 alunos. O estudante de Teologia Theno Reinheirmer foi o primeiro professor e atendeu alunos de 1ª a 4ª série, em uma classe multisseriada, durante o segundo semestre do ano de 1955 (ESCOLA LUTERANA CONCÓRDIA, 1955).

Para discutir a temática proposta, inicialmente será analisada temática das instituições escolares no contexto da história da educação brasileira. Em seguida, será estudado o processo de escolarização e de colonização planejada-empresarial da região Oeste do Paraná. Por fim, será abordada a história da implantação e a organização pedagógica da Escola Luterana Concórdia (1955-1969), com uma particular ênfase para os seguintes aspectos: corpo docente; discentes; currículo, formação cívica e práticas religiosas.

Para a realização desta pesquisa foram analisados documentos que descrevem o processo de criação, funcionamento e a trajetória da instituição. Para sua efetivação foram utilizadas as seguintes fontes: livros-ata da Escola Luterana Concórdia; livros-ata da Igreja Luterana de Marechal Cândido Rondon; atas da Câmara Municipal de Toledo (1955-1960); ata da Câmara Municipal de Marechal Cândido Rondon (1961-1969); leis municipais; livros-ata de exames finais; boletins de ex-alunos; jornais da época.

As fontes foram encontradas em diferentes arquivos regionais, tais como: acervo do Museu Histórico Willy Barth, de Toledo, PR; acervos do Colégio Rui Barbosa, de Marechal Cândido Rondon; acervo da Igreja Evangélica Luterana do Brasil; fotografias do Arquivo do Centro de Pesquisa de Marechal Cândido Rondon e acervos da Industrial Madeireira Colonizadora Rio Paraná S/A. Os dados colhidos nas fontes foram analisados à luz da literatura sobre instituições escolares e relacionados à conjuntura em que foram produzidos, no âmbito da colonização da região Oeste do Paraná.

Instituições escolares no contexto da História da Educação brasileira

Atualmente, a temática da educação escolar tem sido recorrente na área da História da Educação. Abordada sob as diversas perspectivas de informação e análise, a historiografia da escola vem sendo ampliada e renovada. Nos últimos anos multiplicaram as análises sobre a especificidade (cultura escolar, pedagogia, arquitetura, mobiliário, materiais didáticos, artefatos, disposição espacial); diversificaram-se estudos comparativos de amplitude territorial (local, regional, nacional, federal); foram revigorados parâmetros e perspectivas sobre mundialização e globalização do processo e do modelo didático-pedagógicos escolares (MAGALHÃES, 1998).

A análise da história das instituições escolares no Brasil tem se firmado como uma linha de pesquisa no âmbito da História da Educação e se constituído, cada vez mais, num campo de investigação promissor. Trata-se de um veio da pesquisa histórica que se ocupa em descrever, analisar ou comparar a atuação de seus protagonistas, bem como os diferentes momentos vividos pela instituição educativa, suas contradições, sua estrutura física, sua relação com as políticas educacionais, seu projeto pedagógico, e outros temas que contribuem para a compreensão do fenômeno histórico e educativo em sua totalidade. Um dos elementos motivadores para as investigações sobre essa área temática é a possibilidade de se escrever a História da Educação brasileira e regional sob um prisma diferente daquele que dá espaço apenas às narrativas emanadas de documentos oficiais (ARNAUT DE TOLEDO, ANDRADE, 2021; NOSELLA, BUFFA, 2009).

Essa temática se insere no contexto da ampliação do número de novos objetos que têm sido analisados a partir de sua historicidade. Dentre os novos temas, destacam-se: instituições escolares, práticas educativas, políticas educacionais, educação rural, educação indígena, educação especial, educação à distância, entre outros. Apesar dos obstáculos, devido à dificuldade de se encontrar repertórios de fontes organizadas, no Brasil, muitos historiadores da educação têm se lançado na tarefa de historiar a educação escolar por meio da construção de interpretações acerca das principais instituições educativas espalhadas pelas diversas regiões do país (GATTI JÚNIOR, 2002; NOSELLA, BUFFA, 2009).

A abordagem dos processos de formação e de evolução das instituições educativas constitui um domínio do conhecimento histórico em renovação no quadro da História da Educação, no qual novas formas de questionamento se cruzam com um alargamento das problemáticas e com uma sensibilidade acrescida à diversidade dos contextos e à especificidade dos modelos e das práticas educativas. A renovação da História da Educação adquiriu uma identidade epistemológica própria. Desde a década de 1960, a historiografia da educação tem evoluído por meio de revisões críticas e pela construção de conceitos e formas de proceder que permitem compreender e explicar os fenômenos educativos, especialmente nas instituições escolares. Essa renovação historiográfica das últimas décadas produziu importantes mudanças na área da História da Educação (MAGALHÃES, 1999).

O estudo da história das instituições escolares é fundamentado no pressuposto de que tal maneira de se estudar o interior das instituições traz ao cenário da História da Educação uma quantidade de informações que ultrapassa os espaços físicos e vão além das estruturas arquitetônicas e que revelam aspectos simbólicos. Os estudos projetam relações de comunicação e trazem à tona a memória individual e coletiva, das quais emerge a relação educativa.

O trabalho de analisar a história das instituições escolares, além de descrever a vida e os fatos que ocorreram no interior da escola, não fica preso apenas aos relatos históricos sobre seu dia a dia. Tais pesquisas devem levar o leitor à compreensão da totalidade histórica. Assim, historiar uma instituição educativa é investigar o que se passa ou se passou em seu interior, a partir da análise que envolve os vários atores participantes do processo educativo, à luz do contexto geral, pois o movimento em seu interior reflete, de maneira particular e elaborada, o movimento social no qual a instituição está inserida; a escola, portanto, deve ser analisada à luz de seu contexto histórico, social e político (SAVIANI, 2007; NOSELLA; BUFFA, 2009).

Colonização e escolarização no oeste paranaense

Na região Oeste do Paraná, a educação escolar fez parte da ocupação regional e esteve inserida num conjunto que aliava economia, posse da terra, desenvolvimento regional e religião. Embora os órgãos públicos e as empresas responsáveis pela colonização planejada e empresarial, na segunda metade da década de 1940, tenham propalado o mito da existência de um “vazio demográfico”, a região passou por várias fases em seu processo de ocupação, sempre alinhadas ao cenário nacional e internacional de desenvolvimento das forças produtivas e atendendo aos interesses dos grupos sociais que no período detinham o poder econômico e faziam valer seu domínio. A educação escolar, por sua vez, não esteve desarticulada dessa conjuntura sociopolítica e econômica (ARNAUT DE TOLEDO, ANDRADE, 2021; ANDRADE, 2017).

A colonização planejada da região fez parte processo de migração interna que aconteceu no Brasil no contexto do projeto de nacionalização das fronteiras, no período do Estado Novo (1937-1945). Na primeira metade do século XX, a fronteira do oeste paranaense era uma região pouco desenvolvida se comparada ao restante do país. Devido à prática de concessão de terras, feita pelo governo estadual desde a segunda metade do século XIX, beneficiando grupos empresariais ligados ao governo, e as constantes renovações destas, a integração nacional da região foi duramente prejudicada (BRITO, 2001; WACHOWICZ, 1982).

A partir do programa federal Marcha para o Oeste, criado pelo Governo Vargas no fim dos anos de 1930, o Oeste do Paraná passou por mudanças estruturais. O projeto de “nacionalização” e ocupação da região se intensificou durante a década de 1940. Com incentivo do governo federal e sob os auspícios do nacionalismo, especialmente a partir da segunda metade da década, a região da tríplice fronteira passou a receber grande contingente de migrantes, oriundos especialmente dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Impelidos a migrar pelas novas condições sociais determinadas pelo estágio de desenvolvimento das forças produtivas, esses agricultores provenientes das antigas colônias de imigrantes italianos e alemães, radicaram-se no oeste paranaense e constituíram novos núcleos populacionais (GREGORY, 2005; PADIS, 1981; WACHOWICZ, 1982).

Devido a essas novas condições sociais determinadas pelo estágio de desenvolvimento das forças produtivas, novos núcleos populacionais em diferentes regiões do país foram constituídos. Os migrantes carregavam, além de suas características étnico/culturais, também claras percepções sobre a importância da educação escolar. Tal fato convergia com as ideologias políticas do Governo Vargas, que concebia a educação escolar como elemento essencial para a reconstrução da sociedade brasileira e como a principal solução para os problemas do país (EMER, 1991; GRONDIN, 2007).

O projeto que desembocou na ocupação planejada do oeste paranaense tinha o claro propósito da ocupação produtiva das terras da região e sua imediata incorporação ao modelo capitalista de produção. Embora o projeto de ocupação planejada tivesse o incentivo e o amparo legal dos governos federal e estadual, foi a inciativa privada, por meio de empresas imobiliárias, de capital privado2, que coordenaram todo o processo de (re)ocupação das terras. A base desse projeto era a doação de terras públicas para empresas que, depois, as venderam com lucros grandiosos. Nesse contexto, a existência da escola, ou a perspectiva de sua imediata instalação, fazia parte dos itens que contribuiriam para o sucesso dos negócios das colonizadoras (ANDRADE, 2017; SCHNEIDER, 2001).

Os migrantes vinham em busca de novas oportunidades e viam a educação escolar como um elemento necessário para a formação da nova comunidade. A educação fazia parte das crenças e esperanças que moveram as frentes de ocupação na região. Muitos migrantes, em suas localidades de origem, eram impossibilitados do acesso à escola. Por este motivo, viam na nova realidade geográfica e social a possibilidade da educação escolar para seus filhos, por isso, apostaram nela e reafirmaram na comunidade a ideia que não era possível ter uma “cidade sem escola”. Essa mentalidade estava em consonância com o desenvolvimento econômico do período, que entendia como necessário que as pessoas soubessem, ao menos, ler e escrever para fazer as atividades comerciais elementares como: ir ao banco, comprar e vender, fazer negócios (ANDRADE, 2017; EMER, 2004).

A educação escolar nesse período foi concebida no interior do processo histórico e social e se tornou parte integrante dele. Ela não se constituiu por si só, mas foi organizada na sua relação com a sociedade, no interior do processo social concreto, na sua totalidade e complexidade e esteve intrinsecamente envolvida com a história e a evolução da sociedade. A escola, gestada no interior desse processo, manteve clara relação com os grupos sociais nos quais fora criada, e esteve diretamente vinculada ao processo histórico da sociedade que a constituiu, por isso, de algum modo, espelhou as relações por ela estabelecidas. A Escola Luterana Concórdia foi criada nesse contexto.

A organização pedagógica da Escola Luterana Concórdia (1955-1969)

A análise da organização pedagógica da Escola Luterana Concórdia contempla os seguintes elementos: corpo discente e docente; currículo, formação cívica e práticas religiosas. O estudo desses aspectos da instituição contribui para a reconstituição de sua história. Segundo Justino Pereira de Magalhães, reconstruir a identidade histórica de uma instituição implica sistematizar e (re)escrever o itinerário de vida na sua multidimensionalidade, conferindo-lhe um sentido histórico. Tal tarefa é alcançada na medida em que a pesquisa se volta para os seguintes aspectos: revalorização dos acervos documentais, arquivísticos e museológicos das instituições educativas; organização das memórias e representações, incluindo estudos sobre o acesso à escola e os destinos do público por ela frequentado (MAGALHÃES, 1999).

Docentes

A análise referente à composição do corpo docente de uma instituição escolar é uma importante chave para a compreensão de seu papel e relevância social. A atuação dos professores, sua formação acadêmica e suas trajetórias podem se constituir em importantes instrumentos para a análise do processo de reconstituição da história da escola (NOSELLA; BUFFA, 2009).

Conforme consta da documentação, nos primeiros anos de funcionamento, o corpo docente da instituição era composto apenas por pessoas vinculadas à Igreja Luterana. No segundo semestre de 1955, quando tiveram início as atividades educacionais, o primeiro professor foi Theno Reinheimer, à época, estudante de teologia e estagiário da Igreja Luterana em Marechal Cândido Rondon. Em janeiro de 1956, ele retornou para o Seminário Concórdia em São Leopoldo, e as atividades escolares ficaram sob os cuidados reverendo Chistiano Joaquim Steyer, da Igreja Luterana.

A contratação dos professores envolvia uma série de questões importantes para a instituição e também para a comunidade de migrantes. O professor deveria ter o seguinte perfil: ser responsável, entendido como frequência assídua ao trabalho e pontualidade no horário; disposição para ensinar tudo que soubesse; autoridade moral de se fazer obedecer, por meio do exemplo pessoal; “ser de bem”, ou seja, ter conduta social considerada adequada, exemplar, envolvendo aspectos ético-religiosos; ter bons modos nos encontros sociais da comunidade. Podemos dizer que questões relacionadas à ética, à religiosidade e à moral, eram elementos fundamentais para o ingresso e permanência no quadro de docentes da Escola Luterana Concórdia. Em uma região de colonização recente, ser professor significava status diante da comunidade.

Os docentes da Escola Luterana Concórdia procuraram oferecer aos alunos uma formação entendida pela própria instituição e pela Igreja mantenedora como de boa qualidade científica e com forte ênfase nas doutrinas luteranas. Os docentes da instituição se empenharam para que a Escola Concórdia fosse reconhecida como uma referência em Marechal Cândido Rondon e em toda a região Oeste do Paraná (ANDRADE, 2011).

Discentes

A análise da composição do corpo discente da Escola Luterana Concórdia, quando de sua implantação, assim como a origem social e o destino profissional de seus ex-alunos, contribuirá para aprofundar a compreensão da relevância social da instituição, bem como a proposta educacional que ela procurou oferecer a esse público. Como destaca Ester Buffa, analisar a clientela que a escola atendeu pode servir de subsídio no processo de apreensão do formato de educação escolar que a instituição educativa desenvolveu (BUFFA, 2007).

Em relação ao corpo discente da Escola Luterana Concórdia, é possível verificar na análise que, em sua maioria, os alunos da instituição eram filhos dos migrantes fundadores da cidade, ligados à Igreja Luterana. A instituição atendeu, em seus primórdios, uma clientela masculina e feminina. Inicialmente, seu público-alvo eram os filhos dos membros da Igreja Evangélica Luterana do Brasil, entidade mantenedora da escola. Em seu primeiro ano de funcionamento, conforme atestado na ata de fundação, de 29 de maio de 1955, a escola atendeu apenas aos alunos cujas famílias pertenciam à igreja. Os “estranhos”, como foram denominados os outros alunos, só tiveram acesso à instituição após seu segundo ano de funcionamento, 1957. Considerando que já existia na cidade uma escola pública, só poderiam se matricular na Escola Luterana Concórdia os alunos que tinham condições de pagar as mensalidades (ESCOLA LUTERANA CONCÓRDIA, 1955).

Embora a Escola Luterana Concórdia fosse construída numa localidade urbana, seus alunos eram majoritariamente oriundos da área rural. Conforme consta do livro de matrículas do ano de 1955, a profissão dos pais dos primeiros alunos da instituição, pode ser assim relacionada: agricultores; lavradores; pequenos comerciantes; profissionais liberais.

Os agricultores eram pequenos proprietários rurais, donos de sítios e chácaras vizinhas à cidade. A profissão de lavrador caracterizava aquele grupo de pessoas que não eram proprietárias rurais, ou seja, trabalhavam na lavoura como empreiteiros ou como meeiros. Os migrantes que se identificavam como comerciantes eram proprietários de mercearias ou serrarias e os profissionais liberais, em sua maioria eram carpinteiros e marceneiros. Essas profissões eram a base da organização da sociedade e muito comuns numa localidade em que a madeira era um dos primeiros recursos para a construção de casas e móveis (ESCOLA LUTERANA CONCÓRDIA, 1955).

A fotografia a seguir, do ano de 1955, retrata a primeira turma da Escola Luterana Concórdia, com quarenta e oito alunos.

Fonte: Acervo do Colégio Rui Barbosa de Marechal Cândido Rondon.

Figura 1 Alunos da primeira turma da Escola Luterana Concórdia (1955) 

Na fotografia acima, pode-se verificar que, embora o uso do uniforme nesse período não fosse obrigatório, há traços comuns nas roupas das meninas, a maioria de roupas brancas, com um adereço preto em destaque. O mesmo acontece no caso dos meninos, em sua maioria com camisa branca e calça ou shorts preto. A respeito dessas características da fotografia, podemos inferir que houve agendamento prévio para o “evento”, ou seja, os pais dos alunos procuraram, possivelmente por orientação da escola, vestir seus filhos de modo semelhante para aparecerem na foto do final daquele ano letivo.

A análise dos livros de matrículas da Escola mostra que o público que a instituição atendeu a partir desse período era constituído pelos filhos da embrionária elite local, que estava se formando, num contexto de modernização agrícola e de urbanização do município e da região. No período, estudar na Escola Luterana Concórdia era um símbolo de distinção social e significava receber uma formação educacional e cultural de boa qualidade (ANDRADE, 2011).

Espaço escolar e estruturas prediais

Os espaços escolares possuem informações relevantes sobre a história e a filosofia educacional de uma instituição educativa e servem para cumprir uma função fundamental, como elementos disciplinadores, pois organizam, classificam, ordenam e hierarquizam os indivíduos em seu interior. Existe uma relação entre os espaços escolares e o processo de ensino e aprendizagem. No entendimento de Ester Buffa, o prédio e o espaço escolar podem revelar importantes aspectos da vida de uma instituição escolar. Questões como: quem construiu o prédio? Por que construiu assim? As inovações dele ocorreram por causa do crescimento da demanda, por causa de inovações pedagógicas ou por motivo de segurança? As respostas a essas questões, segundo a autora, ajudam a entender a história da escola (BUFFA, 2007).

O prédio de uma instituição educativa pode ser considerado documento, ou, monumento histórico no processo de reconstituição de sua história. As reformas e as mudanças na estrutura do prédio sempre resultam de necessidades materiais que, por vezes, relacionam-se às ampliações das modalidades de ensino e do currículo da instituição.

Informações relevantes sobre a trajetória, e mesmo as propostas educacionais de uma escola, podem estar instaladas na arquitetura escolar. Como transmissão silenciosa, a arquitetura veicula os símbolos de cada momento histórico e, também, revelam a realidade de seu entorno. Justino Magalhães afirma que, para a construção do prédio escolar, há que considerar importantes aspectos, tais como: localização, projeção e plano arquitetônico, processo de licenciamento, enquadramento paisagístico e urbanístico e tipo de construção, organização dos espaços, estado de conservação, adaptações arquitetônicas e espaciais, pois a implantação do edifício na paisagem física e humana, os acessos e formas de isolamento e de relação refletem, condicionam ou estimulam a relação com a comunidade envolvente (MAGALHÃES, 2004).

A imagem a seguir apresenta as primeiras instalações prediais da Escola Concórdia. Pode-se notar na fotografia a simplicidade do prédio escolar, construído com madeiras, como era comum em regiões de ocupação recente. O prédio possuía uma arquitetura modesta, cujo objetivo era notadamente que fosse funcional, sem uma maior preocupação com a questão estética. O primeiro prédio foi construído com madeiras doadas pela empresa colonizadora MARIPA e possuía uma arquitetura compatível com a realidade daquela época, não destoando das demais construções da cidade, que, à época, possuía poucas casas de alvenaria.

Fonte: Acervo do Colégio Rui Barbosa de Marechal Cândido Rondon.

Figura 2 Inauguração do prédio próprio da Escola Luterana Concórdia (1956) 

Currículo e práticas religiosas

A concepção de currículo escolar tem relação com uma prática social complexa, construída historicamente a partir de relações sociais, políticas e econômicas. Nesse sentido, o currículo deve ser concebido não apenas como sinônimo de conteúdo, mas como um conjunto de experiências de aprendizagem que contempla o conhecimento escolar e as experiências vividas e, por isso, sua análise pode ser uma importante chave para a compreensão das práticas e da história das instituições escolares (ARROYO, 2007).

Ao analisar as disciplinas que compuseram o currículo da Escola Luterana Concórdia, evidencia-se que, além das matérias consideradas de caráter científico, a instituição incorporou também em sua grade disciplinas diretamente ligadas ao ideário educacional da Igreja Luterana, que propunham a formação moral e religiosa dos alunos. A proposta pedagógica da escola estava calcada num modelo de educação que deveria ultrapassar a preocupação com o conteúdo científico e contemplar o ensino de boas maneiras em sala de aula, bons hábitos, prática de esportes e assimilação dos valores morais cristãos (ESCOLA LUTERANA CONCÓRDIA, 1959).

A composição da grade curricular da escola foi uma forte aliada da Igreja para a difusão de seu ideal de formação cristã. Desde o primeiro ano de sua fundação, a matéria de religião passou a integrar o currículo da instituição. A Lei Orgânica do Ensino de 1942 preconizava que “o ensino da religião constitui parte integrante da educação da adolescência, sendo lícitos os estabelecimentos de ensino secundário incluí-lo nas disciplinas do primeiro e do segundo ciclo” (BRASIL, 1942, p. 183).

No tocante a essa matéria, a Lei previa que ela deveria se enquadrar no grupo das práticas educativas, ou seja, não seriam registradas notas aos alunos nessa disciplina. Contudo, na Escola Concórdia, segundo consta dos documentos e dos boletins, os alunos eram avaliados e recebiam notas na matéria de religião. A inserção dessa disciplina no currículo servia como instrumento de manutenção do poder da Igreja Luterana, que influía na formação do arcabouço moral e religioso dos alunos que, no futuro, seriam os dirigentes daquela sociedade (ESCOLA LUTERANA CONCÓRDIA, 1959).

Além das aulas de religião, os alunos contavam com o trabalho de um capelão, que, via de regra, era o pastor da Igreja Luterana. A capelania era uma atividade desenvolvida, sobretudo, no ambiente extraclasse e visava atender aos alunos em suas necessidades espirituais, familiares e até mesmo oferecer orientação vocacional. O capelão tinha o dever de ministrar as aulas de religião, acompanhar os educandos em suas necessidades e conscientizá-los dos valores da vida social e espiritual a fim de elevar o amor pelo próximo e pela pátria. A prática dos ideais cristãos também fazia parte de sua atividade (IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA CRISTO, 1956).

Os alunos, além de participarem de eventos de caráter religioso, participavam também de eventos sociais e cívicos, todos alinhados às propostas da Igreja e do governo para aquele período, que previam um projeto de construção da nação que deveria estar ligado à comunhão cívica, ao culto à pátria e ao cultivo da harmonia e da ordem. Tais atividades, como parte da proposta pedagógica, figuravam entre os componentes curriculares que resultavam em prestígio para a instituição, pois cumpria um papel cívico e, ao mesmo tempo, disciplinador. A matéria denominada de Comportamento, presente no currículo dos cursos primário e ginasial, servia para ensinar aos alunos normas de postura física, de solidez, obediência à ordem e de compromisso com o cumprimento dos deveres escolares, familiares e cívicos (IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA CRISTO, 1956).

Esse modelo disciplinar, calcado na dimensão moralizadora da educação, explicitava-se em eventos como desfiles cívicos, como pode ser observado na fotografia a seguir.

Fonte: Acervo do Colégio Rui Barbosa de Marechal Cândido Rondon.

Figura 3 Alunos em desfile pela comemoração do dia 7 de setembro (década de 1960) 

Acompanhados por toda a comunidade local, na avenida principal da cidade, eram externalizadas partes da vida da escola. Nos desfiles comemorativos como 7 de setembro, Dia do Soldado, Proclamação da República, Dia da Bandeira, entre outros, os professores se valiam da data para instigar o sentimento de patriotismo nos alunos. Na Semana da Pátria, por exemplo, havia grande mobilização dos funcionários da escola e até mesmo dos familiares dos alunos para apresentar as crianças à sociedade e às autoridades. Desse modo, os filhos de lavradores e migrantes marchavam ao som de bumbos e outros instrumentos da fanfarra escolar.

A participação dos alunos nas atividades cívicas fazia parte das estratégias utilizadas pela Escola Concórdia para formar o sujeito considerado ideal para aquela sociedade. As datas comemorativas dos grandes desfiles constituíam-se em oportunidades para materialização dos conteúdos estudados na disciplina de Moral e Civismo e de Comportamento. As atividades desenvolvidas nesses eventos serviam para elevar o comprometimento patriótico e o respeito à ordem e à obediência.

Ao incorporar em suas atividades pedagógicas essas datas cívicas instituídas pelo Estado, a Escola Concórdia, por meio delas, contribuía com o projeto de sociedade idealizado pelo governo e veiculava conteúdos que buscavam formar o bom cidadão.

Sob o comando de seus professores, os alunos passavam várias semanas utilizando parte do tempo das aulas para ensaiar a marcha, que nos dias de desfile seria modelado por uma fanfarra. Cabia ao aluno se apresentar às autoridades locais. Nas festas cívicas ou políticas, os alunos, bem uniformizados, desfilavam em frente aos palanques cheios de autoridades para apresentar a escola e mostrar como era a sociedade brasileira, patriótica e organizada, segundo o projeto de sociedade que dominava no país. Como instituição escolar religiosa, a Escola Luterana Concórdia fundamentou sua ação nos princípios de autoridade e de obediência. A escola sempre deu grande ênfase à questão disciplinar. “Bons hábitos”, respeito aos colegas, relação professor-aluno pautada pelo respeito e pela responsabilidade e até a postura do professor em sala de aula, eram elementos presentes na organização da escola (IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA CRISTO, 1956).

Outro fator sobre o currículo da Escola Luterana Concórdia que merece destaque é o modelo de classe multisseriada que vigorou em seus primeiros anos de funcionamento. Esse modelo pedagógico foi utilizado nos primeiros seis anos de funcionamento da instituição, de 1955 a 1961. Mediante o currículo escolar, a instituição desenvolveu suas atividades pedagógicas e se consolidou no cenário educacional de Marechal Cândido Rondon (ANDRADE, 2011).

Conclusão

O eixo central que confluiu no movimento migratório para a região era composto dos seguintes itens: terra, religião, trabalho e família. A educação escolar fazia parte dos anseios dos migrantes, que tinham na escolarização de seus filhos uma possibilidade de ascensão social. Os órgãos públicos e empresas responsáveis pela (re)ocupação das terras elevaram a educação escolar a uma condição de elemento garantidor de uma prosperidade futura, relacionando-a aos valores religiosos e ao caráter comercial do empreendimento da colonização.

Pelo fato de se tratar de uma região que estava recebendo fluxos migratórios intensos, a escola acabou por se transformar num dos principais elementos do eixo de concentração das atividades da comunidade e contribuiu para estabelecer a identidade da região em formação. Por isso, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil se empenhou para consolidar sua presença na sociedade, utilizando como um de seus principais instrumentos a educação escolar, que se materializou na implantação da Escola Luterana Concórdia.

As famílias dos migrantes radicados em Marechal Cândido Rondon acreditavam que os valores protestantes, representados pela Escola Concórdia, proporcionaria uma educação sólida a seus filhos, que estaria alicerçada nos seguintes valores: civilidade; respeito à pátria e desenvolvimento integral do sujeito. Para a Igreja Luterana, criar uma escola numa localidade que estava em processo de colonização representava controlar o magistério daquela sociedade, um importante instrumento de influência sobre a população, e com isso garantir que as futuras gerações professassem e defendessem a fé protestante.

A escola, desde sua origem, revelou sua identidade específica enquanto escola confessional protestante, esforçando-se para fazer da educação que oferecia um espaço para a manifestação e difusão de suas crenças a respeito da vida, da fé e da sociedade. Para tal, todo esforço despendido no processo de formação dos alunos visava formar o bom cidadão, cujo perfil era: indivíduo fiel a Deus, de família bem estruturada e cumpridor dos deveres cívicos. Obediência, manutenção da ordem social estabelecida e educação moral caracterizaram a experiência pedagógica da instituição escolar que crescia juntamente com a cidade.

Assim, é possível afirmar que a Escola Luterana Concórdia cumpriu os objetivos da igreja à qual estava vinculada e se adequou às novas forças produtivas, que exigiam novas relações de produção. A educação por ela desenvolvida assumiu o papel de preparar trabalhadores que colaboraram com as propostas governamentais de nacionalização do oeste paranaense. Seus pressupostos não destoaram das políticas educacionais e das demandas educativas da elite de Marechal Cândido Rondon.

A instituição desenvolveu suas atividades durante um período de quatorze anos. A partir do ano de 1959, com a criação do Ginásio Evangélico Rui Barbosa, mediante a aliança entre a Primeira Igreja Batista, Igreja Luterana Cristo e Igreja Martin Luther, a escola passou a ofertar o Ensino Secundário na cidade Marechal Cândido Rondon. A Escola Concórdia estabeleceu parcerias com o Ginásio Evangélico Rui Barbosa, em 1963, e passou a utilizar as dependências desta instituição para realizar suas aulas. No ano de 1969, quando a Igreja Evangélica Luterana do Brasil comprou as partes das outras igrejas e assumiu a direção da instituição, a Escola Luterana Concórdia foi totalmente incorporada ao Ginásio Evangélico Rui Barbosa.

O Escola Luterana Concórdia se caracterizou como instituição que cumpriu o papel de consolidar o discurso proposto pelo ideário colonizador. Em sua atuação, a escola difundiu ideias que se fundiram com aquelas propostas pelos órgãos públicos e empresas responsáveis pelo processo de (re)ocupação planejada da região oeste do Paraná. Ao fazer um discurso que oferecia um modelo de educação diferenciado, superior ao oferecido pelas instituições públicas, a escola cumpriu papel importantes nas distinções sociais, pois as acentuou ao restringir o ingresso de alunos em seu corpo discente. As famílias que matricularam seus filhos na instituição possuíam recursos para pagar as mensalidades de uma escola privada, esse fator acabou auxiliando no processo de estratificação social e corroborou com a formação de uma elite local.

Referências

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1O significado do conceito de colonização muda no tempo e no espaço. O ato de colonizar está diretamente relacionado às questões políticas, sociais e econômicas; pois no processo de colonização existem diferentes interesses envolvidos. Trata-se de um ato político, de uma forma de produção social complexa. O ato de colonizar, num primeiro momento, denota deslocamento em que os agentes fazem de seu mundo para outro onde irão exercer a capacidade de lavrar ou fazer lavrar. Alfredo Bosi enfatiza que o processo de colonização “[...] consiste em um projeto totalizante cujas forças motrizes poderão sempre buscar-se ao nível do solo: ocupar um novo chão, explorar seus bens” (BOSI, 1992, p. 12).

2As empresas colonizadoras de capital privado, companhias com larga experiência em empreendimentos colonizatórios em outros estados da região Sul do Brasil, firmaram acordos com o governo paranaense para explorar a terra e vender propriedades em várias localidades do estado, incluindo a região oeste. O estado do Paraná abdicou da possível arrecadação de impostos com a venda de lotes rurais e urbanos e passou o ônus da infraestrutura mínima para a iniciativa privada (GREGORY, 2005). Dentre as companhias que foram responsáveis por lotear os maiores espaços territoriais na região, destacam-se as seguintes: Industrial Madeireira e Colonizadora Rio Paraná S/A; Terras e Pinhais Ltda.; Sociedade Colonizadora União D’Oeste Ltda.; Industrial Agrícola Bento Gonçalves; Colonizadora Gaúcha Ltda.; Pinho e Terras Ltda.; Colonizadora Matelândia Ltda. e Colonizadora Criciúma Ltda. (WESTPHALEN; MACHADO; BALHANA, 1969).

Recebido: 25 de Janeiro de 2022; Aceito: 03 de Março de 2022

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