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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.22 no.73 Curitiba abr./jun 2022  Epub 17-Dez-2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.22.073.ds08 

Dossiê

A incorporação da cultura física na instrução pública paranaense: em busca de uma Gymnastica racional (1882-1917)

The incorporation of physical culture in public education in Paraná: in search of a rational gymnastic (1882-1917)

La incorporación de la cultura física en la instrucción pública de Paraná: en busca de una gimnasia racional (1882-1917)

aUniversidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutor em Educação, e-mail: marcelomoraes@ufpr.br

bUniversidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação Física, e-mail: vlmoro@ufpr.br

cUniversidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação: História, Política, Sociedade, e-mail: gizelesouza@uol.com.br


Resumo

O presente artigo investigou o processo de incorporação da cultura física pela instrução pública do Paraná, principalmente a inserção dos saberes relativos à Gymnastica, no período compreendido entre os anos de 1882 e 1917. Os documentos utilizados foram os relatórios de Governo, Coleção de Leis, Decretos, Actos e Regulamentos, com especial atenção aos manuscritos que tratam da situação da instrução pública paranaense. Também foram utilizadas as fontes jornalísticas, encontradas nos seguintes periódicos paranaenses: Dezenove de Dezembro, A República, Diário da Tarde, A Notícia e A Tribuna. A análise dos documentos indicou um lento processo de especialização da Gymnastica, marcado por uma série de avanços e recuos em busca de uma ginástica que contribuísse para a educação physica dos jovens paranaenses. A título de conclusão o artigo aponta que, nesse processo de incorporação dos elementos da cultura física, a instrução pública paranaense caminhou em direção a uma ginástica com um forte apelo racional, higiênico e educativo.

Palavras-chaves: Instrução Pública; Cultura Física; Ginástica; Educação Física; Paraná

Abstract

The present article investigated the process of incorporation of physical culture by public education in Paraná, especially the insertion of knowledge related to Gymnastica, in the period between the years 1882 and 1917. The documents used were the Government reports, Collection of Laws, Decrees, Acts and Regulations, with particular attention to manuscripts dealing with public education in Paraná. Journalistic sources were also used, found in the following Paraná periodicals: Dezenove de Dezembro, A República, Diário da Tarde, A Notícia and A Tribuna. The analysis of documents indicated a slow process of specialization of Gymnastica, marked by a series of advances and retreats in search of a gymnastics which would contribute to the physical education of youngsters from Paraná. In conclusion, the article points out that in this process of incorporating elements of physical culture, public instruction in Paraná moved towards gymnastics with a solid rational, hygienic and educational appeal.

Keywords: Public Education; Physical Culture; Gymanstic; Physical Educatin; Paraná

Resumen

El presente artículo investigó cómo ocurrió el proceso de incorporación de la cultura física por la educación pública en Paraná, especialmente la inserción de los conocimientos relacionados con la Gymnastica, en el período comprendido entre los años 1882 y 1917. Este artículo investigó el proceso de Los documentos utilizados fueron los informes del Gobierno, Colección de Leyes, Decretos y Reglamentos, con especial atención a los manuscritos que tratan de la situación de la educación pública en Paraná. También se utilizaron fuentes periodísticas, encontradas en los siguientes periódicos de Paraná: Dezenove de Dezembro, A República, Diário da Tarde, A Notícia y A Tribuna. El análisis de documentos indicó un lento proceso de especialización de la Gymnastica, marcado por una serie de avances y retrocesos en busca de una gimnasia que contribuyera a la educación física de los jóvenes paranaenses. En conclusión, el artículo señala que, en este proceso de incorporación de elementos de la cultura física, la educación pública en Paraná se dirigió hacia una gimnasia con un fuerte atractivo racional, higiénico y educativo.

Palabras clave: Instrucción Pública; Cultura Física; Gimnasia; Educación Física; Paraná

Introdução

A cultura física, conforme salienta Kirk (1999), refere-se a um léxico relativo a um amplo conjunto de discursos sobre o corpo e aos exercícios físicos muito presentes no contexto europeu desde o século XIX, mas que foi perdendo força a partir da década de 1930 ao ser substituído pelo termo Educação Física. Kirk (1999) também indica que o conceito foi associado, ainda no século XIX, aos sistemas de ginástica europeus e que posteriormente foram abarcando outros elementos como as recreações, os jogos e os esportes, ajudando a constituir o que posteriormente seria denominado de Educação Física.

Moraes e Silva, Soares e Quitzau (2018) salientam que a cultura física expressa uma série de crenças, valores, saberes e práticas individuais e sociais mais amplas que se materializa em torno de três elementos: divertimentos, exercícios físicos e esportes. Os autores indagam sobre a indissociabilidade que a definição apresenta com a experiência da modernidade que, a partir de meados do século XIX, emergiu e se difundiu pelo território brasileiro.

Os trabalhos de Linhales (2009) e Soares (2017) se dedicaram a interpretar a inserção dos elementos da cultura física nas escolas brasileiras. Resguardadas as particularidades presentes nesses estudos, tais contribuições apontam que a presença da cultura física, materializada primeiramente pela Gymnastica e depois por aquilo que se convencionou a denominar de Educação Física, foi marcada por inúmeros avanços e recuos.

Se no caso paranaense é possível encontrar uma considerável historiografia sobre a constituição da sua instrução pública, como os trabalhos de Souza (2004), Miguel e Saíz (2006), Miguel e Klenk (2009), Anjos e Souza (2016), Barbosa (2016) e Santi e Castanha (2018), ainda existe uma lacuna a ser explorada a respeito da incorporação dos elementos da cultura física na instrução pública paranaense.

Sendo assim, o objetivo do presente artigo é compreender como se deu o processo de incorporação da cultura física pela instrução pública paranaense, no período compreendido entre 1882 e 1917. O recorte temporal se justifica em razão do ano de 1882 ser o momento de publicação do ato de instituição do ensino de Gymnastica pela instrução pública do Paraná, e o ano de 1917 por ter sido a ocasião de lançamento do Código do Ensino, que consolidou a vertente sueca de ginástica como principal forma de se utilizar a cultura física nos estabelecimentos de ensino.

As principais fontes utilizadas foram encontradas no Arquivo Público do Paraná e se compuseram de dois grupos: 1) Relatórios de Governo e 2) Coleção de Leis, Decretos, Actos e Regulamentos. Vale ressaltar que, ao olhar para esses documentos oficiais, procurou-se compreender essas fontes como expressão de um “modo de pensar” a instrução pública (SOUZA, 2004) e a cultura física nesse universo, pois foi com base nesse corpus prescritivo e normativo que o governo preceituou e legitimou determinados artefatos culturais a serem inseridos na instrução pública paranaense.

Também foram realizadas buscas no acervo digital da Fundação Biblioteca Nacional. A pesquisa abarcou os periódicos paranaenses que compõem o mencionado acervo. Os jornais utilizados foram os seguintes: Dezenove de Dezembro, A República, Diário da Tarde, A Notícia e A Tribuna1. Parte-se da premissa que os periódicos são importantes agências informais educativas, visto que esse tipo de publicação tem muito a dizer sobre o modo complexo como as culturas e mentalidades de cada época foram pensadas e produzidas. Os jornais são fontes básicas de pesquisa para aqueles que se propõem a investigar especificamente a esfera educacional na medida em que possuem uma face oculta que em muitos momentos “[...] dissemina e organiza informações, cria valores, atitudes e ideias sobre uma multiplicidade de temas e, pois, quer queiram ou não, influenciam seus leitores, ouvintes e espectadores” (PALLARES-BURKE, 1998, p. 145).

A imprensa escrita não só contribuía relatando percepções locais e entendimentos sobre a cultura física, mas também difundia um estilo de vida próprio para um cidadão que almejava ser civilizado. O modus operandi da imprensa brasileira pode ser encarado, conforme indica Sevcenko (1983), como uma “missão civilizacional” ou um “agente modernizador”, nos termos de Pallares-Burke (1998). Similar ao que ocorria na Europa na virada do século XIX para o XX, o jornalismo brasileiro assumiu um viés mais cultural do que noticioso na medida em que se queria prioritariamente “modernizar” a sociedade e educar o seu público leitor.

Sendo assim, o artigo se dividiu em três partes. Na primeira foi analisado o processo de emergência de uma ginástica racional e sua tímida inserção na instrução pública paranaense durante o período imperial. Na segunda parte, o artigo explorou como esse elemento da cultura física denominado Gymnastica, muito influenciado pelo contexto republicano, relacionou a prática a um ideário higiênico. Por fim, a última parte indagou como a valorização de uma ginástica racional culminou na escolha da vertente sueca como principal forma de utilizar os exercícios físicos nas escolas paranaenses.

A emergência de uma Gymnastica racional no Paraná

Soares (2017) salienta que a Gymnastica, a partir da segunda metade do século XX, passou a ser uma prática comum em escolas, clubes e centros de cultura física espalhados pelo Brasil, assim como já era em diversos países europeus, conforme apontam os estudos sobre o contexto francês realizados por Vigarello (2018). Romão e Moreno (2018) indicam que esses espaços dedicados aos exercícios ginásticos, bem como os diversos indivíduos e ideais ligados à sua prática, colaboraram para a sua disseminação, que foi caracterizada por uma série de disputas e tensões.

Torna-se preciso ressaltar que no período imperial já circulavam na imprensa do Paraná diferentes percepções sobre a Gymnastica, sendo que apareciam de forma mais frequente menções relacionadas aos espetáculos circenses. A Figura 1 exemplifica essas apresentações bastante presentes nos jornais paranaenses durante toda a segunda metade do século XIX até as três primeiras décadas do XX.

Fonte: Dezenove de Dezembro, 19/04/1871, p. 4.

Figura 1 Anúncio companhia Brazileira Equestre e Gymnastica 

Ao longo do século XIX e início do XX o circo, segundo indagam Romão e Moreno (2018) foi um dos principais espaços de divulgação de representações sobre as práticas ginásticas no contexto brasileiro, mesmo que combatido por parte daqueles que apoiavam uma ideia higiênica de educação. A preocupação em aproximar a Gymnastica ao discurso médico também se manifestou no Paraná provincial. O relato do inspetor geral de ensino, João Manoel da Cunha2 é um exemplo desse tipo de argumentação:

Não basta preservar a saúde do attaque dos agentes externos, cumpre igualmente robustecel-a. Para conseguil o há um só meio que é a Gymnastica. [...] Teve um tempo de decadência no retrocesso da civilização grega, mas, depois de alguns annos de declínio, reassumio a importância que verdadeiramente merece. Os germes dessa renascença brotaram dos escriptos de Descartes e de J. J. Rousseau cultivada primeiro em Inglaterra, depois na Allemanha e outros paizes em todos os estabelecimentos de educação, e na Suecia posta em prática por hábeis médicos como meio curativo, grangeou a importância devida a uma arte que gosa das preciosas vantagens de desenvolver, em exercícios bem dirigidos o vigor do corpo, a perfeição da estatura, a firmesa da coragem, os lances intrépidos, levados até o heroísmo, a impavidez e o sangue frio, próprios do homem que tem confiança em si. À vista de tantas vantagens, não seria nunca demais insistir na creação desses exercícios nas escolas primárias, especialmente frequentadas pelos filhos do povo a quem além de útil, será humanitária em ensinar-lhes os meios de augmentarem suas forças por uma aplicação racional delas a todas as industrias, e pelo conhecimento de exercícios que as põe em jogo sem exhauril-as. O educador da mocidade deve, pois, conhecer esta arte e as escolas devem ter a capacidade e os instrumentos e meios necessários para que ella seja com esmero ensinada (DEZENOVE DE DEZEMBRO, 24/03/1875, p. 2).

O relato do inspetor de ensino aciona vários discursos que estavam sintonizados com um ideário que já circulava nos principais centros europeus (VIGARELLO, 2018)3. Para amparar suas premissas, o inspetor se reportou a figuras como Descartes e Rousseau, apontando que a Ginástica Sueca, por seu caráter higiênico, seria a mais adequada de ser difundida. É de fundamental importância mencionar que tal vertente estava sendo amplamente difundida no Brasil nesse período, principalmente pelas suas características médicas regenerativas, conforme evidenciam os trabalhos de Moreno (2015) e Soares (2017).

Importante sublinhar que o debate sobre Ginástica Sueca e os melhoramentos no campo da instrução pública se realizavam em redes transnacionais. Para Schriewer (2000), a difusão mundial e a aceitação de modelos educativos se desenvolveram a partir de sociedades que foram tomadas como referência, sobretudo na Europa do século XVIII e XIX, e ganharam aceitação global, particularmente durante a segunda metade do século XX, em correlação óbvia com a emergência de um “transnational cultural environment”. Para o pesquisador alemão, a produção dessa ambiência tem como natureza tripla a expectativa de uma educação moderna, “[...] a aceitação global de modelos racionais de escolarização pública e o processo mundial de uma expansão educacional” (p. 108), principalmente com a afirmação da educação obrigatória.

Ao retornar ao cenário paranaense, apesar da defesa realizada pelo inspetor João Manoel da Cunha, a presença da Gymnastica ainda não era oficial nas escolas do Paraná. Contudo, apesar da ausência no plano legal, foi possível encontrar discursos na imprensa paranaense advogando em prol desse elemento da cultura física:

Já não há ninguém que ponha em duvida as vantagens que dos exercícios gymnasticos resultam para a economia humana. A Gymnastica é seguramente, com a hydrotherapia, o mais poderoso modificador do organismo do homem. O sr. Burk teve a feliz lembrança de procurar pôr em evidencia, por meio de experiencias directas, os resultados que podem apresentar em alguns mezes os exercícios musculares. A escola normal de Gymnastica da Faisanderie, em Vincennes, serviu lhe de precioso terreno para essas experiencias [...] Os dados experimentaes colhidos pelo sr. Burk, na verdade, animadores e devemos esperar que contribuirão para fazer dar o devido valor à influência dos exercícios corporaes sobre a saúde em geral (DEZENOVE DE DEZEMBRO, 14/02/1877, p. 3).

A notícia enfatiza pontos fundamentais para a constituição histórica da ginástica, por exemplo, a economia de energia, a presença de uma retórica científica de cunho matematizada, descrições anátomo-fisiológicas e principalmente os benefícios que poderiam agregar na saúde dos indivíduos e da população de uma maneira geral (VIGARELLO, 2018). Todavia, o mais interessante de se interpretar nas entrelinhas da nota foi o recurso de mencionar que centros mais avançados da Europa já estavam inserindo a Gymnastica em seus estabelecimentos de ensino e, se o Paraná desejava ser um local sintonizado com o ideário civilizacional, deveria seguir esse mesmo caminho. Contudo, as práticas ginásticas não fizeram parte dos regulamentos da instrução pública do Paraná nesse momento4.

Souza (2000), ao analisar o final do período imperial, indica que foi nesse momento que saberes considerados práticos ganharam uma atenção no segmento educacional brasileiro, e entre essas disciplinas estavam aquelas ligadas às ciências, ao desenho e à educação física. A autora comenta que esses saberes estavam articulados a uma linguagem moderna que poderia ajudar a escola a contribuir com o progresso do Brasil, principalmente em torno da tríade educação physica, intelectual e moral, que ganhou destaque no cenário brasileiro, principalmente com Rui Barbosa em seu célebre parecer de 1883. As reflexões de Souza (2000, p. 13) sobre o referido parecer são bastante esclarecedoras:

A esse respeito, Rui segue mais uma vez as ideias pedagógicas predominantes na época, isto é, a ampliação do programa escolar justificada pelo princípio da educação integral: educação física, intelectual e moral. Tal princípio, formulado e difundido a partir da obra de Spencer, Educação Intellectual, Moral e Physica, publicada em 1861, coadunava uma concepção de educação com as aspirações e necessidades da sociedade moderna. O apelo de Spencer à correspondência entre a lei da evolução biológica (lei do desenvolvimento orgânico) e o progresso social possibilitou a naturalização da evolução da sociedade e a compreensão da ciência como o conhecimento mais relevante, o conhecimento útil com aplicação no trabalho, na arte e na vida diária.

Tais aspectos parecem ter influenciado a instrução pública paranaense antes mesmo da publicação do parecer de Rui Barbosa, visto que a Gymnastica foi instituída oficialmente no Ato de 1882:

O presidente da província, attendendo à conveniência de melhorar a educação physica das creanças do sexo masculino e considerando que a Gymnastica, desenvolvendo a musculatura e as vitalidades geraes tende a estabelecer o equilíbrio, como ensinam os hygienistas, entre todas as funcções, entre as aptidões physicas e a capacidade intellectual, resolve:

Art.1° Os professores das escolas públicas primarias do sexo masculino são obrigados a ensinar Gymnastica aos alumnos três vezes por semana e por tempo que não exceda de uma hora.

Art.2° Enquanto a província não fizer distribuir os instrumentos e apparelhos necessários, o ensino da Gymnastica, será feito pelo methodo do professor Schreber, de Leipsig - devendo os professores guiar-se exclusivamente pela

- Gymnastica domestica, medica e hygienica desse professor, traduzida por Julio de Magalhães.

Art.3° A diretoria geral da instrucção publica remetterá a cada professor um exemplar da obra de Schreber e providenciará de modo que o ensino da Gymnastica comece quinze dias depois de ter o professor recebido o alludido exemplar (PARANÁ, 1882, s.p.).

Pelo que se pode observar, pensando em viabilizar o ensino da ginástica nas escolas, o governo do Paraná adotou o “Compêndio de Gymnastica doméstica, medica e higiênica” de Daniel Schreber. Ao estudar o enraizamento da ginástica na instrução pública paranaense, Puchta (2007) mostra como foi se dando a presença da Gymnastica nas escolas, tendo em vista a determinação do Ato de 1882. O autor afirma, pela análise que realizou das correspondências trocadas entre os inspetores escolares de algumas cidades e a direção geral da instrução pública, que a circulação do compêndio de Daniel Schreber desempenhou algum papel nas práticas de ginásticas realizadas nas escolas. O manual poderia ser uma solução para os problemas que a Escola Normal do Paraná apresentava, visto que, pela baixa frequência de alunos, a instituição não reunia condições de formar professores na dimensão proposta pelo Ato de 1882 (MIGUEL; SAÍZ, 2006). Então, ao adotar o compêndio e distribuí-lo aos professores, o governo paranaense assumia, em parte, uma forma de como esse conteúdo deveria ser trabalhado nas escolas.

Entretanto, é preciso lembrar que a Escola Normal do Paraná continuava com baixa frequência de alunos (MIGUEL; SAÍZ, 2006), o que repercutia na não efetivação da prática da Gymnastica no interior das escolas primárias, conforme observa-se no relatório do presidente provincial:

A Gymnastica escolar, que habilita, pelo avigoramento orgânico, ao esforço intellectual, ao progresso da instrucção, falta absolutamente nas praticas do ensino, e as compleições gradualmente mais rachiticas pela hereditariedade e adaptação aos nossos hábitos, vão-se acrescentando, como aggravante mórbido, o esfacelamento mental, que os methodos verbalistas e mnemônicos promovem (BELLO, 1883, p. 33).

Como se pode verificar, a situação da Gymnastica nas escolas paranaenses permaneceu precária apesar das tentativas de implementação, seja aquela realizada pelo compêndio de Schreber, seja aquela posta em curso no interior da Escola Normal do Paraná, dando indícios de que o fato de a ginástica existir enquanto disciplina no programa de formação não garantia que essas aulas realmente estivessem sendo ministradas aos futuros professores. Mas, apesar de demonstrar algumas preocupações, em janeiro de 1884 o presidente provincial Oliveira Bello aprovou um novo regulamento para a Escola Normal do Paraná, no qual se verificou a exclusão da Gymnastica do seu programa de ensino (BELLO, 1884).

Aqui é interessante destacar que Gymnastica, instituída na instrução pública pelo Ato de 1882, não iria mais figurar no elenco de disciplinas que compuseram o programa para o ensino primário, no Regulamento da Instrução Pública de 1890. Apesar da defesa feita pelo Presidente da Província em favor da Gymnastica no relatório de 1883, a disciplina seria excluída do programa da Escola Normal do Paraná um ano mais tarde. A supressão foi para atender à situação financeira da província, indicando o caráter inferiorizado desta disciplina frente aos demais saberes que deveriam compor o programa de ensino de formação do professorado paranaense. Contudo, tal quadro somente seria modificado com o advento do período republicano, quando a Gymnastica voltou a fazer parte da instrução pública paranaense (MORO; GOMES; MORAES E SILVA, 2020).

A Gymnastica e o advento da república: por uma educacão physica higiênica

Conforme salienta Souza (1998), com o advento da república o processo de escolarização das massas ganhou um novo fôlego em todo o Brasil. A autora lembra que foi por meio dos princípios republicanos que uma reformulação mais significativa começou a ocorrer na educação brasileira. Modelos vindos da Europa e dos Estados Unidos eram cada vez mais utilizados como exemplos do que deveria ser realizado em terras brasileiras, ancorando-se na retórica de “sociedades de referência”5. Um desejo de progresso e civilização se tornava mais latente do que aqueles manifestados anteriormente no período imperial e a instrução pública foi um dos espaços onde tais ideias mais reverberaram.

Puchta (2007) salienta que foi no contexto republicano que a Gymnastica retornou aos programas de ensino da instrução pública paranaense. Nesse momento, um ofício de abril de 1892, encaminhado por João Pereira Lagos, Diretor da Instrução Pública, ao Presidente da Província, fornece importantes elementos para a continuidade da análise:

Com os regulamentos de 18 de janeiro de 1882 e 4 de julho de 1883 expedidos pelos ex-presidentes da antiga província do Paraná, Srs. Sancho de Barros Pimentel e Carlos Augusto de Carvalho, foi instituído, como disciplina complementar do curso normal, a aula pratica de Gymnastica -não tendo sido dado à execução o primeiro desses regulamentos e sendo revogado o segundo no mesmo anno em que foi expedido, ficou o curso normal privado de tão útil melhoramento que jamais mereceu ser incluído nos regulamentos ulteriormente publicados (LAGOS, 1892, s.p.).

Cabe destacar que, para advogar a favor da Gymnastica, o inspetor se utilizou de um discurso ligado à tríade da educação física, intelectual e moral, já circulante no contexto brasileiro, conforme aponta Souza (2000), há mais de uma década. Tais valores parecem também ter influenciado a justificativa apresentada pelo inspetor de ensino em prol da incorporação das práticas ginásticas:

Como, porém, é manifesta a necessidade de fazer entrar o estudo da Gymnastica no programa da Escola Normal que como sabeis, obedece por toda a parte onde existe aos três princípios fins a que se destina a educação contemporânea: a educação intellectual, a educação moral e a educação physica, tomo a liberdade de propor-vos a restauração da respectiva aula (LAGOS, 1892, s.p.).

A força da célebre tríade educação physica, intelectual e moral era considerável nesse período histórico e se mostrou evidente não somente em documentos oficiais. Tanto que foi possível encontrar, nos jornais paranaenses, inúmeros escritos exaltando as virtudes do lema spenceriano:

Na escola há que attender-se à três modalidades de educação: à educação physica, que prepara e mantém a saúde; à educação moral, que inocula e inveterá os bons hábitos, as maneiras, as normas de boa conducta e toda a espécie de deveres; a educação intellectual, que ministra os conhecimentos necessários ao sucesso completo da vida civilizada (A TRIBUNA, 31/05/1895, p. 1).

Foi nesse contexto de busca por uma educação considerada “mais civilizada” que a Gymnastica foi se tornando mais presente na instrução pública paranaense, pois a sua utilização representaria uma sociedade, conforme indica Soares (2017), que caminharia nos trilhos do progresso e da civilização. Inclusive a própria imprensa começou a divulgar mais notícias envolvendo esse elemento da cultura física, por exemplo, uma que designava Ernesto Luiz de Oliveira6 para o cargo de professor de Gymnastica do Ginásio Paranaense (A REPÚBLICA, 29/01/1893, p.1). Conforme salientam Nascimento e Sousa (2011), esse intelectual era egresso da Escola Normal do Paraná, onde foi colega de Julia Wanderley na turma formada no final de 1892. Após sua nomeação, o jovem professor divulgou, durante o mês de agosto de 1893, no A República, quatro artigos sobre as práticas ginásticas:

Muito se tem escripto sobre o <<progresso>> da humanidade, porém todos confessam que a geração presente esta depauperando-se physicamente. Harmonizar o progresso industrial com o progresso physico eis o problema de capital importância para a espécie humana [...] As causas do regresso orgânico são fáceis de ser estudadas. A primeira é o progresso industrial [...] o que appelidamos de progresso não é mais que a arte de modificar o meio em que vivemos para facilitar as condições de nossa existência e si por uma lado poupamos trabalho pela applicação das machinas, a força que nos sobeja não sendo empregada em outra cousa [...] A segunda causa é a hereditariedade pela qual transmitimos a nossos descendentes todas essas perdas acompanhadas de predisposições para as infinidades de moléstias e de tantos costumes perniciosos que actualmente nos affligem. Assim como transmitimos os defeitos também podemos transmitir os aperfeiçoamentos que fomos adquirindo. Por um paradeiro a esse regresso orgânico e harmonizar o progresso physico com o industrial, eis o assumpto dos nossos artigos posteriores, tão imperfeitos e incorrectos que irão occupar a benévola attenção dos leitores desse jornal (A REPÚBLICA, 18/08/1893, p. 2-3).

Como visto, o referido artigo enfatizava o papel que o desenvolvimento da dimensão física poderia desempenhar numa sociedade que a cada dia mais se urbanizava e se industrializava. Algo que estava sintonizado com o que acontecia nos principais centros europeus (KRÜGER, 1996; LJUNGGDREN, 2011; VIGARELLO, 2018). No dia seguinte à publicação do primeiro artigo, o jovem professor apresentou seu segundo texto, no qual intentou avançar em suas explicações, agregando nesse momento noções de fisiologia:

A gymnastica tem a vantagem de melhorar o sangue e permitir que chegue a todas as partes do corpo, facilitando a absorpção de materiaes orgânicos e explusão dos já servidos e offerecendo por consequencia: 1º. renovação constante do corpo; 2º. a cura natural de todas as moléstias provenientes de vícios orgânicos; 3º. aquisição constante de forças; 4º. desenvolvimento dos membros, tornando-os aptos para qualquer sorte de trabalho; 5º. exercício de coragem e cura da hypocondria e do desanimo (A REPÚBLICA, 19/08/1893, p. 2).

A passagem evidencia que o intelectual seguia a tendência de relacionar a Gymnastica aos fatores higiênicos. A prática de associar os projetos educacionais a esse ideário de saúde já era algo comum em contextos europeus (VIGARELLO, 2018), se tornando também evidente em território brasileiro (ROCHA, 2003), consequentemente se mostrando presentes também no Paraná (BERTUCCI, 2019). Nesse movimento, explicações fisiológicas sobre a prática ginástica eram as formas encontradas para legitimar a inserção da Gymnastica nas escolas brasileiras (SOARES, 2017). Os aspectos de cunho higiênico relacionando esse elemento da cultura física com o discurso médico-científico se tornaram ainda mais contundentes no terceiro artigo do intelectual:

Qualquer que seja a opinião que se adopte a esse respeito, pode-se demonstrar que a gymnastica tem sua acção continuamente útil sobre o organismo [...] A difficuldade está em regular o exercício de tal maneira a combater o desenvolvimento excessivo de certos órgãos em prejuízo de outros, assim como excitar o desenvolvimento de maneira a equilibrar todas as funções, todos os temperamentos e continuar a desenvolver todos juntos e harmonicamente; aqui repousa o princípio fundador da cura e das moléstias pelos processos gymnasticos. Vemos, em todos os grandes centros de civilização a multiplicação das sociedades gymnasticas como na França, na Austria e na Allemanha etc, enfim em toda a parte se reconhece a fonte de felicidade e se está explorando com o necessário esmero em todos os paízes do mundo. O exercício demasiado é prejudicial a saúde [...] é necessário que o exercício seja gradual e que vá complicando a medida que as forças se vão desenvolvendo; assim a própria pessoa sente dia a dia augmentar-se-lhes a força, a coragem e a saúde [...] (A REPÚBLICA, 27/08/1893, p. 3).

Apesar de o intelectual valorizar o papel da Gymnastica no desenvolvimento da saúde, encontra-se em seu texto uma outra questão muito presente no período: a desconfiança em relação aos exercícios físicos. Vigarello (2018), ao analisar o contexto francês, indica que existiam muitos indivíduos que acreditavam que as práticas físicas poderiam prejudicar o bom funcionamento do corpo. O autor lembra que diversos intelectuais franceses buscaram na medicina e na pedagogia os meios para prescrever a medida correta para que os exercícios físicos fossem autorizados socialmente. Parece que Ernesto Luiz de Oliveira procurou dar uma forma educativa para a Gymnastica, amparando-se, para isso, nos saberes oriundos da medicina, tema que inclusive foi o do seu quarto e último artigo:

Demonstrei de um modo geral que a causa do regresso orgânico é a diminuição do esforço pelo progresso da indústria, agora vamos entrar em um capítulo bastante interessante é o da gymnastica juvenil. A poucos dias perguntaram-me se uma graciosa menina de quatro annos estaria já na epocha de começar a fazer exercício; a minha resposta foi affirmativa. Desejo, porém, mostrar pelas presentes linhas que desde o berço a gymnastica é necessária [...] Não necessito accrescentar que as crianças devem ter a roupa inteiramente frouxa attendendo mesmo a circulação do sangue e nunca devem ficar suffocadas de cansaço; o exercício deve ser lento e variado de intervallos, sempre depois que a digestão estiver completamente acabada. Assim si todos os paes tiverem verdadeiro amor a sua descendência não recussarão empregar estes meios tão simples para melhorar o seu futuro e o futuro de toda a espécie humana. É simplesmente deplorável que as mulheres das cidades hajam aberrado o ideal de beleza physica tratando de atrophiar a cintura daqui a mais uns séculos [...] (A REPÚBLICA, 29/08/1893, p. 2).

Nota-se na passagem que o jovem professor buscou enfatizar em seu escrito a questão educacional, valorizando principalmente o papel da Gymnastica no desenvolvimento do corpo infantil, bem como buscou apresentar como as práticas de ginástica para as crianças deveriam ser realizadas. Salientou também que os familiares deveriam apoiar tal medida, inclusive incentivando tais exercícios entre as meninas, indicando que esse elemento da cultura física também era benéfico para o corpo feminino. Contudo, mesmo com a presença destes discursos, a Gymnastica continuava a ter um papel subalterno no cenário educacional paranaense, tanto que o próprio Ernesto Luiz de Oliveira acabou se afastando do universo relativo à cultura física, inserindo-se em espaços sociais e políticos mais amplos.

Conforme aponta Puchta (2007), somente em 1895 a disciplina apresentaria alterações mais significativas. Destaca-se que o começo do século XX representou uma tentativa de reorganização da instrução pública paranaense, que foi marcada, nesse período e um pouco mais tarde, “pela produção de inúmeros documentos legais, causando confusões quanto às normatizações que permaneciam em vigência ou não” (SOUZA, 2004apudMORO; GOMES; MORAES E SILVA, 2020, p. 5). Essa situação repercutiria nas prescrições destinadas à Gymnastica. Vestígios sobre o referido quadro de precariedade estrutural e material eram frequentemente noticiados nos jornais locais:

Os meios que a Pedagogia nos recomenda para o desenvolvimento physico de nossos alumnos não podem ser observados devido a falta de recursos para a boa organização de nossas escolas, que se ressentem até da falta de mobília para o accomodamernto conveniente do alumno. Até esta data ainda não foi possível instalar-se, nem mesmo no Gymnasio Paranaense os aparelhos de gymnastica tão recomendados para desenvolver, por um systema conveniente de exercícios, as forças physicas do alumno. Os outros exercícios taes, como: correr, saltar, pular, jardinar, exercícios militares etc, são inexequiveis porquanto, até aqui mesmo, na capital, a quase totalidade das escolas funcionam em salas acanhadas, sem ar, sem luz, onde o movimento das diversas classes se torna impossível devido à falta de espaço sufficiente para esse fim. Como se trata de uma simples disposição regulamentar, julgamos do nosso dever chamar para ella a attenção das dignas autoridades do ensino (A REPÚBLICA, 09/05/1901, p. 2).

O quadro de inferioridade da Gymnastica pode ser compreendido de uma forma mais adequada ao realizar uma aproximação com o regulamento de 1901, que havia suprimido o ensino misto que vigorava desde 1895, indicando também que instrução primária voltava a ser dividida em 1°. e 2°. graus, com cada um deles composto de duas séries ou anos, sendo que as escolas de 2°. grau deveriam existir somente nas cidades. Segundo Puchta (2007), a Gymnastica - que pelo regulamento de 1895 deveria ser ensinada em todos os níveis do ensino primário - pelo novo regulamento de 1901 passaria a compor somente o programa dos estabelecimentos de 2°. grau, os quais existiam exclusivamente nas cidades. À época, funcionavam na capital apenas as escolas de 2°. grau dos professores Julia Wanderley Petrich e Francisco de Paula Guimarães, ficando o ensino da Gymnastica na capital restrito a esses dois estabelecimentos, evidenciando que a utilização dos elementos da cultura física se restringia basicamente à cidade de Curitiba (MORO; GOMES; MORAES E SILVA, 2020).

O regulamento de 1901 previa ainda a construção de um regimento interno para as escolas de instrução pública primárias do Paraná, a ser elaborado pela congregação dos professores do Ginásio Paranaense e da Escola Normal do Paraná (SOUZA, 2004). Esse regimento, aprovado em 1903, além de ter possibilitado maiores informações sobre o que o governo vinha determinando em termos da organização escolar, apresentava um programa mais detalhado de como a Gymnastica deveria ser ensinada nas escolas: “[...] nos intervalos de recreio que deveriam ser aplicados no fim de cada hora de estudo e dentro da sala de aula” (PUCHTA, 2007, p. 61).

Como visto, a Gymnastica passou a ter um papel um pouco menos subalterno a partir da publicação do Regulamento de 1901, em que foi prescrito que a disciplina deveria ser explorada do ponto de vista médico e higiênico. Essa articulação das práticas ginásticas com os discursos médico e pedagógico foi frequente nesse período, tornando-se um dos principais amparos teóricos para justificar a presença desse saber na instrução pública paranaense.

A instrução pública do Paraná e a Gymnastica racional: consolidando uma vertente sueca

A Gymnastica colocada no regulamento de 1901 pretendia-se higiênica e pedagógica. A perspectiva higiênica relacionada ao discurso educacional circulava com contundência em todo o país (ROCHA, 2003), e no Paraná isso também se mostrou muito presente (SOUZA, 2004; BERTUCCI, 2019); tanto que era possível encontrar na imprensa local inúmeras publicações relativas a uma educação physica de caráter higiênico:

[...] Para muitos a verdadeira educação physica consiste em exercícios violentos: barras parallelas,, pelota, esgrima etc; para outros numa partida de bilhar, num fatigante passeio. Esse modo de interpretar o exercício é contra-producente: assim opinam La Grange, Mosso, Tissié e outros. A educação physica é trabalho moderado de todo o organismo. Seu segredo reside no exercício de todos os músculos. Ella repugna fazer funccionar certos músculos e deixar outros inactivos e condenados ao enfraquecimento gradual [...] A barra e as parelellas são o symbolo e a incarnação da Gymnastica alleman. [...] Esta Gymnastica não leva em conta a necessidade de preparar os músculos para uma longa resistência ao trabalho. Ella procura somente produzir grandes esforços, o máximo esforço possível, mas não proporciona ao indivíduo aptidão para prosseguir no trabalho e resistir a elle de modo contínuo [...] O problema da educação physica não pode ser resolvido pelos militares, nem pelos professores de pedagogia, nem pelos mestres de Gymnastica. De qualquer modo que se encare a questão encontrar-se-à sempre que o problema depende da physiologia (A NOTICIA, 29/12/1905, p. 1).

A passagem levanta interessantes elementos, pois se amparou em importantes médicos, como os franceses Fernand Lagrange e Philippe Auguste Tissié e o italiano Angelo Mosso. O apoio em referida perspectiva era uma clara tentativa de defender uma ginástica racional, conforme apontam Romão e Moreno (2018). Para justificar uma vertente racional, o autor do texto publicado no jornal curitibano critica os excessos da Ginástica Alemã, apontando como saída uma aproximação com vertentes mais racionais e menos acrobáticas.

A Figura 2 deixa claro aquilo que uma ginástica racional deveria combater. A fotografia, publicada em um jornal curitibano, mostra ginastas de uma entidade de origem alemã em posição acrobática. O teor da notícia, apesar de valorizar o vigor dos adeptos da ginástica germânica, evidencia que ela não era sistematizada, deixando em suas entrelinhas que sua prática não deveria ser realizada em ambientes escolares, onde deveriam ser privilegiadas vertentes gímnicas sistematizadas de forma racional e higienicamente corretas.

Fonte: A República (1910).

Figura 2 Ginastas alemães em posição acrobática 

A partir desse momento encontram-se cada vez mais justificativas defendendo a utilização de uma Gymnastica mais racional nas escolas paranaenses, e a vertente que era sempre lembrada como a mais adequada era a sueca: “Até mesmo a Gymnastica allemã é condemnada e breve será o dia em que ella dessaparecerá completamente. É preferível para os meninos a adoptada nos estabelecimentos suecos” (DIÁRIO DA TARDE, 20/04/1909, p. 1). Elogios ao sistema de exercícios físicos da nação escandinava também foram comentados nessa outra publicação:

Mary Bronson é a autora de um dos artigos mais interessantes e mais uteis que se pode ler [...] Conta-nos primeiro como se trata do desenvolvimento physico na Suécia, que aceitou o princípio da cultura Gymnastica, como um dogma de religião [...] Todas as crianças que frequentam as escolas aprendem a nadar e nenhum professor tem licença de ensinar Gymnastica senão possuir certificado de competência do Instituto Real. Resulta daqui que no que diz respeito à agilidade, ao equilíbrio, à graça natural, os jovens suecos estão muito mais adiantados que as crianças de outras nações [...] por que é que outras terras não procuram imitar estes bons exemplos? (A NOTÍCIA, 28/05/1908, p. 2).

A Ginástica Sueca era sempre lembrada por suas características médicas regenerativas, e as sistematizações de Pehr Henrik Ling, difundidas pelo Instituto Real de Ginástica de Estocolmo, circularam por diversos países, inclusive se mostraram presentes em território brasileiro desde os meados do século XIX (MORENO, 2015; SOARES, 2017). É preciso enfatizar que notas como essa evidenciam que determinados setores da sociedade paranaense estavam em busca de implementar um modelo de ginástica mais racional e higiênica, e a elegida para tal fim era a vertente proveniente do país escandinavo.

Para compreender melhor o quadro de consolidação da Gymnastica até se chegar na utilização da vertente sueca nas escolas, é preciso lançar um olhar para a legislação paranaense do período. Souza (2004) aponta que dois regulamentos relacionados à instrução pública seriam aprovados ainda nessa primeira década do século XX, um em 1907 e outro em 1909, ambos com vigência bastante efêmera. Entretanto, a autora lembra que quatro meses após sua aprovação o regulamento de 1909 foi suspenso de modo abrupto, voltando a vigorar o estabelecido em 1901. Nesse interim do plano legal, os saberes relativos aos elementos da cultura física não receberam uma atenção adequada das autoridades governamentais:

Outra falha sensibilíssima da nossa instrucção pública consiste na completa ausência da educação physica. Nos atrophiamos as gerações escolares com exercícios mentaes [...] e tornamos a escola uma prisão pouco seductora. Os exercícios de Gymnastica de salão, tão fáceis e higiênicos, não exigindo outro elemento senão uma ligeira instrucção adequada do professor, sem o menor perigo, sem o exhaustamento dos processos acrobatas que, geralmente desenvolvem o corpo com prejuízo das funções cerebraes, só exigem que, na escola-modelo, o professor aprenda methodicamente esta útil disciplina [...] Quanto teríamos nós melhorado se poudessemos dizer, não só dos homens, mas das nossas mulheres [...] (DIÁRIO DA TARDE, 04/02/1904, p. 1).

A fonte evidencia que se buscavam respaldos para aprimorar a Gymnastica a ser ofertada nas escolas paranaenses, tanto que a passagem deixa claro toda uma preocupação com a formação dos professores e que a prática não fosse destinada somente aos homens. Esse movimento de valorização dos exercícios para as mulheres também foi percebido nos jornais dessa primeira década do século XX:

Sei, de observação, própria que a saúde das moças vae sempre melhorando nas escolas em que é adoptada a Gymnastica systematica e sufficiente. Os médicos das escolas femininas podem reforçar o meo asserto [...] Nem todos os paes comprehendem o alcance da educação physica. Entretanto, ella deve occupar o logar principal na educação dos filhos [...] A Gymnastica feminina devia ser tratada pela mulher, da qual se exigiram os necessários conhecimentos de physiologia, pedagogia e esthetica (DIÁRIO DA TARDE, 30/06/1909, p. 1).

Outras preocupações, para além da inquietação com a presença nos programas de ensino e da sua utilização pelas meninas, também se evidenciaram no intuito de aprimorar a utilização da Gymnastica nas escolas, tanto que em 1905 o paranaense Domingos Nascimento7 publicou seu livro intitulado “O Homem Forte”, que teve como um dos seus principais objetivos se tornar um manual para ser utilizado na instrução pública do Paraná. Segundo informa o A República, esse livro “[...] traz no frontespicio o retrato do seu ilustre autor e contém 134 gravuras elucidativas, em perto de 300 páginas de texto nitidamente impressas em papel superior” (A REPÚBLICA, 26/06/1905, p. 1). O lançamento da obra do militar, político e intelectual paranaense foi amplamente divulgado pela imprensa curitibana:

Hoje temos a grata noticia: foram entregues às conceituadas officinas da Impressora Paranaense os originaes do nosso distincto confrade Domingos Nascimento. O laureado poeta dos Threnos e Arraidos desta vez, porem, deixou a lyra sonora ao lado e empregou seo bello talento na confecção de um livro de educação physica, consagrada à infancia de sua terra. Pelo título - Homem forte - percebe-se facilmente o intuito de util composição: tornar vigorosos e robustos os jovens patricios. A educação physica é uma necessidade, há muito reconhecida entre nós inteiramente descurada; só para o cultivo intellectual têm se voltado todos os cuidados, isto com grande prejuizo da infancia que sem educação physica se anniquila e abastarda [...] A obra foi mandada imprimir pelo sr. Presidente do Estado, que assim reunio a sua vontade a dos que trabalham pelo futuro da mocidade de nossa terra […] (DIÁRIO DA TARDE, 27/01/1905, p. 1).

A imprensa paranaense informou que Domingos do Nascimento, na obra O Homem Forte, recorreu ao trabalho do médico francês Georges Demeny, intitulado “Bases Scientificas da Educação Physica” (edição de 1903). A notícia destacava que a “[...] educação physica baseada nas leis naturaes, assim como concorre efficazmente para a virilisação da intelligencia, contribue poderosamente para o melhoramento moral da mocidade, se se a habita a empregar a sua força ao serviço do direito e da razão” (A REPÚBLICA, 26/06/1905, p. 1).

Puchta (2007) salienta que as contribuições de Domingos Nascimento intentavam apresentar um caráter higiênico e, para isso, amparavam-se nas formulações contidas no manual do Schreber. A obra do intelectual paranaense também combatia os excessos da ginástica acrobática, que em sua opinião não estava preocupada com os efeitos que tais exercícios proporcionavam ao organismo, representando uma ausência de método, por isso deveria ser algo descartado e não ensinado nas escolas.

Como visto, a busca pela inserção de uma ginástica racional e higiênica foi uma constante nessa primeira década do século XX. Além de Domingos Nascimento, o médico Laurentino de Azambuja, conforme indica Souza (2004), da mesma forma se preocupou com o descaso que sofria a cultura física na instrução pública paranaense. O referido médico, que exerceu o cargo de Delegado Fiscal da primeira Circunscrição Escolar, por diversas vezes se utilizou das páginas dos jornais locais para emitir suas críticas ao estado da educação physica no Paraná:

Tratando da hygiene escolar já manifestei o pensamento de que as escolas precisam de sala amplas [...] onde as meninas disponham de espaço sufficiente para a collocação de seus apparelhos apropriados ao de prendas domesticas e os alumnos em geral possam executar suas marchas e evoluções de Gymnastica racional, tão necessária ao complemento da educação physica [...] Sendo portanto a Gymnastica racional um dos elementos principais da educação physica, convem sua introdução nos programmas de ensino e não exclusivamente nos cursos de 2º. grao, conforme verifica-se no regulamento vigente (DIÁRIO DA TARDE, 12/03/1909, p. 1).

A passagem sintetiza o incomodo do delegado de ensino sobre a não presença de uma Gymnastica racional nos programas de ensino, pois, segundo o texto, somente ela poderia proporcionar uma verdadeira educação physica. Contudo, outros desdobramentos em relação à cultura física a ser ofertada nas escolas do Paraná se deram em 1912. Assim como coloca Souza (2004), nesse ano ocorreu a tentativa de reorganizar a instrução pública primária paranaense em consonância com os princípios da “Pedagogia Moderna”, sendo publicada, em maio de 1912, a Lei n. 1236.

Apesar de a legislação educacional não fornecer indícios sobre qual tipo de Gymnastica deveria ser ofertado nas escolas, essa lacuna pôde ser preenchida, em parte, pelas notícias publicadas pela imprensa: “Foi deferido pelo dr. presidente do Estado, de accordo com a informação, o requerimento do sr. Luiz da Silva Bastos, professor de Gymnastica sueca e exercícios militares do Gymnasio Paranaense e Escola Normal [...]” (DIÁRIO DA TARDE 12/09/1916, p. 1). Notícias publicadas pela imprensa também fornecem elementos de que a Ginástica Sueca era algo presente no cotidiano das escolas curitibanas:

Revestiu-se de um encanto e de uma graça verdadeiramente impressionante a solemnidade do encerramento das aulas do “Grupo Escolar Xavier”, secção feminina, sob a criteriosa direção da festejada educadora d. Maria Rosa do Nascimento Bittencourt, que tem como auxiliares as provectas normalistas d. Carolina Moreira Carneiro, Francisca de Paula Duarte de Castro e Anna Marques Guimarães [...] O Grupo Xavier da Silva, hontem, acolheu a fina flor da nossa sociedade. Alli esteve o sr. dr. Affonso Camargo, acompanhado por seu ajudante de ordens, tenente Euclides do Valle. Estiveram o dr. Candido Natividade, inspector escolar, vários acadêmicos, jornalistas, professores e demais pessoas gradas, inclusive senhora e senhoritas da nossa elite social. Acto continuo, a hora nove, precisamente, teve inicio a execução do programma de festejos organisado com verdadeiro requinte de arte [...] O número de Gymnastica sueca, esse também mereceu calorosas palmas, tal o modo correto como se o desempenhou [...] O dr. Presidente do Estado ficou maravilhosamente impressionado, tendo tido palavras de francos elogios às esforçadas educadoras que não pouparam sacrifícios para bem desempenharem a sua árdua e enobrecedora missão [...] (DIÁRIO DA TARDE, 18/11/1916, p. 1).

A nota narrou as festividades relativas ao fechamento do ano letivo de 1916 no “Grupo Escolar Xavier da Silva”. O evento foi composto de inúmeras atividades divididas em três partes, e em seu terceiro momento foi realizada uma apresentação de Ginástica Sueca sob o comando de Carolina Moreira Carneiro. A utilização dos elementos da vertente do país escandinavo fornece indícios de que, muito provavelmente, a referida docente tivera contato com tal método por ocasião da realização de sua formação na Escola Normal do Paraná, pois a professora havia colado grau na turma formada em 1904.

Contudo, transformações mais significativas no que se refere à disciplina no plano legal seriam somente encontradas no Código do Ensino de 1917. Moro, Quitzau e Moraes e Silva (2022) salientam que a novidade encontrada nesse documento diz respeito a uma prescrição mais clara quanto à prática corporal que seria escolarizada a partir de então, no caso os exercícios sistemáticos de Ginástica Sueca. Tais questões são indícios de que esse componente curricular vinha sofrendo alterações no sentido de uma especialização até então não encontrada nas propostas anteriores e que seriam aprimoradas na década de 1920, com o início da utilização de outros elementos da cultura física, como os jogos e os esportes nos estabelecimentos educacionais paranaenses.

Considerações finais

Ao cruzar os documentos oficiais com as fontes jornalísticas, o presente artigo buscou lançar um olhar inédito sobre o processo de incorporação da cultura física pela instrução pública do Paraná. Foi procurado evidenciar que esse processo de inserção da Gymnastica foi marcado por inúmeros avanços e recuos e em determinados momentos da história da instrução pública tais práticas foram suprimidas dos projetos educacionais paranaenses, ficando muitas vezes restritas a poucos estabelecimentos localizados na capital paranaense.

Nesse movimento de inserção da cultura física, notou-se uma aproximação com o que acontecia no restante do país e até mesmo em nações consideradas mais desenvolvidas. Alguns intelectuais paranaenses buscaram justificativas para legitimar a utilização desse tipo de conhecimento no espaço escolar. A escolha realizada foi a de utilizar uma ginástica racional com forte cunho higiênico. Se num primeiro momento essas práticas eram pouco detalhadas e se aproximaram de uma vertente de ginástica doméstica, amparadas principalmente no manual do médico alemão Daniel Schreber e do intelectual paranaense Domingos Nascimento, numa segunda etapa caminharam em direção a uma Ginástica Sueca, vertente que já circulava com contundência pelo país desde meados do século XIX e que, por este motivo, provavelmente tinha mais condições de ofertar uma forma educativa que pudesse contribuir com a educação physica dos jovens paranaenses.

No que concerne aos assuntos relativos à cultura física, a oficialização da Ginástica Sueca talvez tenha sido a maior a novidade encontrada no Código de 1917, pois pela primeira vez na instrução pública paranaense foi encontrada uma forma escolar mais clara para a Gymnastica, visto que orientações como o tempo destinado para esse saber, forma de aplicação e critérios a serem seguidos são indícios de que essa disciplina escolar vinha sofrendo alterações no sentido de uma especialização até então não encontrada nas propostas anteriores.

A instrução pública paranaense somente passaria por uma reorganização mais ampla na década de 1920, visto que Caetano Munhoz da Rocha, ao assumir o governo do Paraná, nomeia Lysimaco Ferreira da Costa para a Direção da Escola Normal do Paraná e do Ginásio Paranaense e César Pietro Martinez para a Inspetoria Geral de Ensino, no intuito de lançar a educação paranaense numa nova fase. Seriam esses dois intelectuais, muito marcados pelo espírito reformista existente na educação brasileira, que capitaneariam mudanças significativas na instrução pública paranaense e que possibilitariam novos caminhos para os processos de incorporação de outros elementos da cultura física como jogos e os esportes.

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1Apesar de os jornais selecionados terem linhas editorias bastante diversas no que se refere aos elementos da cultura física, sobretudo a Gymnastica, não foi possível verificar divergências entre os periódicos. A grande maioria das publicações valorizava o ideário da cultura física como um importante elemento de uma sociedade que almejava ser moderna e civilizada.

2Nascido em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, em 1821 e faleceu em 1887, foi advogado, músico, deputado provincial, subdelegado de polícia, procurador fiscal da Fazenda, tenente coronel da Guarda Nacional da Capital, professor público de latim e francês, inspetor nos anos de 1874, 1875, 1883, 1884 e 1885 e Diretor Geral da Instrução Pública (BARBOSA, 2016).

3Barbosa (2016) investigou a formação e atuação dos inspetores escolares no Paraná e apontou que João Manoel da Cunha “[...] tinha uma participação importante na inspeção e instrução pública paranaense, tanto no desempenho de funções diretamente a elas ligadas, quanto na rede de relações que construiu em torno delas” (p.86). A partir das informações indicadas por Barbosa, é possível sustentar que o inspetor João Manoel da Cunha teve acesso aos debates realizados em países europeus sobre instrução pública, além da via dos jornais, revistas, também in loco, pois realizou várias viagens para encontrar seu filho - Brazílio Itiberê - na Europa, mais precisamente na Itália.

4Convém indicar que a preocupação com as práticas dos exercícios circulava também na imprensa de vários países, como em matéria sobre circular emitida pelo Departamento de Educação de Montevideo/Uruguai - replicada na Revista A Escola, do Rio de Janeiro - na qual se indicava que, enquanto não se introduzissem nas escolas os exercícios ginásticos, “favorecendo por este meio o desenvolvimento normal da natureza dos meninos”, recomendava-se aos preceptores que fizessem com que os alunos mudassem “de lugar, que corram e brinquem durante as horas de recreio. Será este o único meio de não debilitar a natureza das crianças de modo a evitar as enfermidades que apparecem mais tarde” (A ESCOLA, 1877, p. 201).

5Schriewer (2000, p.109) se utiliza desta expressão, cunhada por Reinhard Bendiz, em 1978, que investigou a função de modelo assumida por sociedades de referência em transformação durante o processo europeu de modernização.

6Ernesto Luiz de Oliveira nasceu na Lapa em 1874 e faleceu em 1938 no Rio de Janeiro. Teve destaque no segmento literário paranaense e por isso foi, em 1922, membro fundador da Academia Paranaense de Letras, ocupando a cadeira de número 23. Pastor evangélico, tornou-se célebre por seus sermões e polêmicas. Era poliglota e foi tradutor e conferencista, publicando mais de trinta obras literárias e científicas (ACADEMIA PARANAENSE DE LETRAS, 2016). Informações esparsas recolhidas na imprensa paranaense fornecem vestígios de que o intelectual trabalhou na Biblioteca Pública do Paraná (1891/1892), formou-se com distinção pela Escola Normal do Paraná em 1892 e foi nomeado professor de ginástica do Gymnasio Paranaense em 1893, sendo exonerado em 1894. As ligações do intelectual com o ideário da cultura física parecem ter ficado restritas a esse breve período da última década do século XIX. Posteriormente, ocupou o cargo de lente catedrático em geometria no Gymnasio de Campinas, estado de São Paulo. Em 1912, já de volta ao Paraná, foi nomeado secretário de Estado da Agricultura no governo de Carlos Cavalcanti e em 1913 assumiu a cadeira de Física Experimental no curso de Engenharia Civil da Universidade do Paraná.

7De acordo com Puchta (2007, p. 40-42), Domingos Virgílio do Nascimento nasceu na cidade litorânea de Guaraqueçaba (PR) em maio de 1862, falecendo em agosto de 1915. Seguiu carreira militar, alcançando a patente de major. Aos 32 anos elegeu-se deputado, frequentando o congresso estadual durante três biênios 1894-1895, 1896-1897 e 1906-1907. Além da carreira militar e da vida parlamentar, também se dedicou à literatura. Paranaense de importância reconhecida, relacionou-se com outros importantes intelectuais do período, como Nestor Vítor e os irmãos Emiliano e Júlio Perneta.

Recebido: 28 de Janeiro de 2022; Aceito: 03 de Março de 2022

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