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Revista Diálogo Educacional

Print version ISSN 1518-3483On-line version ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.22 no.74 Curitiba July/Sept 2022  Epub Nov 19, 2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.22.074.ap01 

Apresentação

Educação profissional e tecnológica: formação e práxis

Professional and technological education: training and praxis

ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRAa 
http://orcid.org/0000-0003-3759-0377

ANA MARíA MONTERO-PEDRERAb 
http://orcid.org/0000-0002-6516-575X

ANA SARA CASTAMANc 
http://orcid.org/0000-0002-5285-0694

ANDRéIA MODRZEJEWSKI ZUCOLOTTOd 
http://orcid.org/0000-0002-4889-5945

aPontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Curitiba, PR, Brasil. Doutora em Educação, e-mail:

bUniversidad de Sevilla (US), Sevilla, Andaluzía, España. Ph. D. em Teoría e Historia de la Educación y Pedagogía Social, e-mail:

cInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Sertão, Sertão, RS, Brasil. Doutora em Educação, e-mail:

dInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS) - Campus Porto Alegre RS, Brasil. Doutora em Educação, e-mail:


Por Educação Profissional, no Brasil, entende-se:

[...] uma formação geral, ampla e integrada aosm direitos de cidadania e aos elementos específicos da preparação para o trabalho, que lhes permita o exercício técnico de uma ocupação ou profissão, com a compreensão da realidade cotidiana da sobrevivência e a capacidade de enfrentamento crítico e transformador do mundo do trabalho, onde se incluem a produção e os produtores, a reestruturação produtiva, novas tecnologias e nova organização do trabalho, desemprego estrutural, subemprego e estratégias solidárias diante da precarização do trabalho (FRANCO, 2000, p. 219-220).

Neste caso, implica-se uma formação crítica que se preocupe com a dignidade do trabalhador como ser humano; que problematize e considere a formação em educação profissional, buscando a partir da práxis “[...] uma relação dialética entre o homem e a natureza, na qual o homem, ao transformar a natureza com seu trabalho, transforma a si mesmo” (JAPIASSU; MARCONDES, 1996, p. 269).

Reconhece-se que as discussões sobre a Educação Profissional não são recentes e perpassam uma história de avanços e retrocessos. Porém, desde o processo da expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (RFEPCT), em 2008, tem se intensificado o compromisso com a formação humana integral. Tendo em vista esses pressupostos, em 2020, pesquisadores do Rio Grande do Sul, que estudam sobre Educação Profissional e Tecnológica (EPT), a partir da liderança de seus grupos e com a finalidade de desenvolver ações e evidenciar suas produções, iniciaram a Rede Gaúcha de Estudos e Pesquisas sobre Educação Profissional e Tecnológica (RGEPT). Assim, a proposta do Dossiê “Educação profissional e tecnológica: formação e práxis” se constitui como um dos esforços da RGEPT no intuito de socializar e divulgar os estudos realizados no âmbito da Educação Profissional.

O Dossiê tem por objetivo apresentar estudos atuais no campo da Educação Profissional e Tecnológica, de modo a abordar princípios dessa formação e tecer articulações com saberes dessa modalidade de ensino que estejam comprometidos com a práxis e visem à formação integral dos sujeitos.

As pesquisas discutem avanços mapeados pelas investigações e também aspectos desafiadores que se impõem no cenário educacional e demonstram a permanência das dicotomias entre princípios almejados na EPT e práticas tradicionalmente arraigadas no fazer da formação profissional. Com isso, desvelam um longo caminho a percorrer até que novas práticas reverberem em transformações efetivas.

Esta edição conta com dez (10) artigos científicos de autores(as) de inúmeras instituições de ensino nacionais e internacionais a respeito do tema central do dossiê. As contribuições versam sobre: origem, expansão e interiorização da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil; Educação Profissional comparada no Brasil e na Espanha; estado da arte de trabalho docente na Educação Profissional e formação docente para e na Educação Profissional; curricularização da extensão; trabalho como princípio educativo; licenciatura nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; trabalho e educação; ensino médio integrado; políticas públicas e poder.

Os textos que compõem este dossiê tratam de pesquisas assentadas nas Ciências Humanas e nos fundamentos teórico-metodológicos das investigações qualitativas. Para tanto, a produção dos dados deu-se a partir de pesquisas bibliográficas e documentais, bem como de instrumentos, tais como entrevistas e questionários. As investigações ocorreram em ambientes ou em grupos de pesquisas que possuem como foco a modalidade da Educação Profissional e Tecnológica, escopo deste portfólio, as quais se apresentam a seguir.

O primeiro artigo “Origem, expansão e interiorização da Educação Profissional e Tecnológica no Brasil”, de Itamar de Oliveira Corrêa Filho, Jairo Antônio da Paixão e Marlice de Oliveira e Nogueira, tem por objetivo realizar uma retrospectiva sobre os avanços e os retrocessos da Educação profissional e tecnológica no Brasil, considerando o período compreendido entre o Brasil Império até o fim do governo do presidente Michel Temer (2018), e, por meio desses dados, analisar os caminhos e as perspectivas futuras da Educação profissional e tecnológica no país. Os resultados apontam para um expressivo desenvolvimento social e educacional, que visou reduzir os abismos educacionais nos processos formativos brasileiros, a partir da expansão e interiorização da Rede Federal. Contudo, os autores ressaltam sobre os desafios impostos pelo atual governo e pelo sistema capitalista na continuidade desta política educacional.

Liliana Soares Ferreira, Ana María Montero Pedrera e Ana Sara Castaman, em seu texto “Educação profissional contemporânea no Brasil e na Espanha: uma análise comparativa”, analisam textos e contextos das políticas educacionais e apresentam de forma sistematizada a relação entre trabalho e educação e educação profissional nos países supracitados. As autoras concluem, a partir da educação comparada, que a Educação Profissional tem se constituído como uma das modalidades que aproxima os estudantes do contexto atual e do mundo do trabalho.

Na sequência, Hanuzia Pereira Ferreira e Francisca Rejane Bezerra Andrade, mapeiam as produções de egressos de Programas de Pós-graduação Stricto Sensu, publicadas, entre 2000 e 2020, em duas bases de dados brasileiras, sobre a temática Trabalho docente na Educação Profissional, a partir dos descritores “Profissão e Carreira”. As autoras constataram que uma parcela significativa das produções versa sobre a ausência de formação pedagógica específica para os docentes da educação profissional, a defesa da estruturação de identidade docente, a cultura docente e a crítica aos mecanismos de controle e avaliação vigentes no sistema educacional do Brasil. Salientam que são reduzidos os estudos acerca das questões trabalhistas.

O texto “Formação docente para e na Educação Profissional e Tecnológica: uma ilustre esquecida”, de Francisco das Chagas Silva Souza, objetivou conhecer a produção acadêmica acerca da formação de professores para a Educação Profissional e Tecnológica nas reuniões nacionais da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped). O autor realizou um estado do conhecimento de produções científicas publicadas nos anais das referidas reuniões no período de 2010 a 2021, nos Grupos de Trabalho (GT) 8 e 9. Os resultados indicaram inúmeros estudos atrelados à formação e à prática docente na Educação Profissional e Tecnológica. Porém, quando se compara com o total de trabalhos apresentados nos dois GT, evidencia-se que ainda são escassas as pesquisas neste campo.

Leandro Adriano Ilgenfritz, Adão Caron Cambraia e Sandra Elisabet Bazana Nonenmacher, no texto “Caminhos para a formação integrada por meio de princípios agregados à curricularização da extensão”, buscam compreender como o processo da curricularização da extensão, previsto no Plano Nacional de Educação vem sendo proposto e implementado em um Campus do Instituto Federal Farroupilha. A partir de um estudo de abordagem qualitativa, pautado em pesquisa bibliográfica e documental, analisam textual e discursivamente projetos e entrevistas semiestruturadas, com coordenadores de projetos de extensão, selecionados no campus de Frederico Westphalen/RS. O estudo apontou que tanto o processo de curricularização da extensão como a materialização do currículo integrado ainda estão em construção. Destacam que, ambos se pautam em princípios comuns, de acordo com as categorias: interação dialógica; interdisciplinaridade, integração e interprofissionalidade; indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensão e impacto e transformação social.

Em seguida, Karla Rodrigues Mota e Cláudia Helena dos Santos Araújo, no texto intitulado “O trabalho como princípio educativo no Instituto Federal de Goiás: formação docente, planejamento e práxis” analisam a perspectiva do trabalho como princípio educativo no currículo integrado do Curso Técnico Integrado em Química ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás câmpus Anápolis. Tomando por base argumentos de autores que defendem a Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio, as autoras discutem como a perspectiva da formação omnilateral e do trabalho enquanto princípio educativo está apresentada nos documentos analisados e problematizam a proposta de curso objeto deste estudo, pois a entendem pautada no conhecimento teórico em detrimento da prática e de uma visão mais ampla de homem. Por fim, as autoras questionam a formação conteudista do referido currículo, considerando a dicotomia teoria e prática identificada, o que segundo elas ofusca a compreensão dos estudantes a respeito das contradições presentes no mundo do trabalho.

O texto “Licenciatura nos IFs: possibilidades e desafios”, de Fabíula Tatiane Pires e Suzana dos Santos Gomes, focaliza a Educação Superior ofertada nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, em especial os cursos de licenciatura e os programas especiais de formação pedagógica. As autoras identificam desafios na implantação das licenciaturas nos IFs e tecem comparações entre estes e aqueles oferecidos nas universidades federais. Apontam a relevância dos IFs em regiões afastadas dos grandes centros urbanos e discutem os desafios na manutenção e melhoria da infraestrutura das instituições, de financiamento e de ampliação no número de docentes para atender às demandas da verticalização do ensino, bem como das atividades de pesquisa e extensão. Os resultados apontam potencialidades dos IFs na oferta de cursos de licenciaturas, desde que asseguradas as condições necessárias para o bom funcionamento dos cursos.

Kamylla Borges analisa as concepções de trabalho e educação em dois importantes locus de investigação: nas políticas educacionais voltadas para a Educação Profissional e Tecnológica (EPT) ao longo de sua história recente (de 1971 a 2017) e nas concepções de alunos dos cursos técnicos integrados do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG) Campus Anápolis. No artigo denominado “Trabalho e educação: concepções das políticas para EPT e dos alunos do ensino médio integrado”, a autora descreve seus achados de pesquisa, os quais evidenciam as políticas voltadas para a EPT no Brasil se adequando aos imperativos da Teoria do Capital Humano, tendo como base uma concepção de educação e trabalho limitada, revelando que os alunos participantes do estudo possuem dificuldades em entender a EPT e o trabalho em uma perspectiva mais crítica. A autora defende que compreender essas concepções pode contribuir para implementação de ações voltadas ao fortalecimento de um conceito de EPT que vá além da preparação para o “mercado de trabalho”, como requer o ideário neoliberal, mas que conceba a educação como fundamental para a emancipação e para o desenvolvimento da autonomia e da crítica.

Mayara Melo e Roberto Ribeiro Silva apresentam resultados de pesquisa junto a docentes atuantes no Ensino Médio Integrado à Educação Profissional, na qual investigaram como este tem sido desenvolvido em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Neste artigo, intitulado “Concepções de professores sobre o Ensino Médio Integrado e a problemática da não integração”, os autores discutem possíveis implicações e dificuldades para a implementação de propostas que dialoguem com a ideia de integração prevista no Documento Base orientador do Ensino Médio Integrado. Apesar de a pesquisa identificar uma tendência ao desenvolvimento de propostas curriculares com perspectiva tradicional, são descritos avanços no sentido da integração. Reiteram a importância do reconhecimento do significado das propostas curriculares e da viabilização de espaços de formação permanente para a gestão e para o corpo docente.

Finalmente, no texto “Formação, tecnologias e políticas públicas: questões conceituais e estruturas sociais de poder”, os autores Claudionei Vicente Cassol, Silvia Regina Canan e Juliana Vani provocam os leitores a pensar a formação tecnológica a partir da crítica socio-filosófica com embasamento teórico dialético e hermenêutico em debate com filósofos sociais contemporâneos. Neste artigo, termos como “políticas públicas, formação e tecnologia” são problematizados desde seus conceitos até suas imbricações de poder, reiterando o comprometimento da formação com o desenvolvimento da condição humana, sem cair nas armadilhas consumistas as quais podem se impor na formação tecnológica estudada.

Além disso, este número apresenta nove (09) artigos submetidos ao fluxo contínuo do periódico que tratam do significado da educação da pessoa, das influências das relações afetivas entre professores e alunos no processo de formação, das aprendizagens a partir da colaboração em rede de gestores escolares, da importância da docência na vida do aluno, da cidade como foco de análise nas pesquisas sobre currículo, das representações sociais de projetos de vida de jovens, da formação continuada de professores, dos livros didáticos de Valdemar de Oliveira na área da Biologia e da pesquisa e inovação responsáveis no âmbito da cibercultura.

Maria Judith Sucupira da Costa Lins, em seu artigo “Educar a pessoa” destaca que a Educação deve ter a Pessoa como centro do processo. No entanto, observa que o principal problema em Educação é entender a Pessoa. Partindo dessa motivação, discute, com apoio nas teorias de Dietrich von Hildebrand, Jacques Maritain e Alasdair MacIntyre, a hipótese de que a educação seja organizada segundo a natureza da Pessoa. O objetivo do artigo é demonstrar a importância de se prestar atenção à Pessoa quando se deseja educar seres humanos. A autora selecionou seis tópicos para essa discussão: Amor, Ética/Valores, Caráter, Consciência, Vontade e Liberdade. A abordagem metodológica utilizada foi a hermenêutica de Paul Ricoeur, que permite explorar diferentes perspectivas e entender o que filósofos e educadores querem expressar. Como resultado, percebe-se que os tópicos discutidos colaboram na compreensão da questão proposta e possibilitam concluir que Educar a Pessoa é o meio para professores e todas as pessoas que trabalham com crianças e adolescentes demonstrarem respeito ao ser humano.

Os autores Marinalva Lopes Ribeiro, Yuri Hamayano Lopes Ribeiro e Clebson dos Santos Mota, em “Influências das relações afetivas entre professores e estudantes no processo de formação” indagam sobre a influência dessas relações no processo de aprendizagem. A pesquisa, de caráter descritivo, com delineamento qualitativo, teve como objetivo compreender a influência da relação afetiva entre professores e estudantes do curso de Educação Física de uma universidade pública da Bahia, no processo de formação acadêmica. Os dados coletados foram analisados com emprego da técnica de análise de conteúdo, e os resultados indicaram que a afetividade, na concepção dos sujeitos que participaram da pesquisa, apresenta diferentes sentidos que se intercruzam, ou seja, possibilita um clima propício de aproximação, compreensão, confiança e respeito mútuo, o que favorece a construção de conhecimentos pelos estudantes, que se encontram em formação. Quando, no entanto, a relação entre professores e estudantes é marcada por distanciamento, poder hierárquico e atitudes de soberba podem ocorrer resultados contraproducentes para a vida acadêmica e pessoal dos graduandos, que se sentem desamparados e desmotivados. Pode ocorrer, então, que os professores e os componentes curriculares por eles ministrados sejam rejeitados, levando a desistências e atrasos no processo de formação inicial.

No texto “Aprendizajes generados en una red de educación católica chilena desde la colaboración entre directivos escolares”, Edenilson Tatsch e Paulo Fossatti referem que no Chile, nos últimos anos, foi implementado um conjunto de políticas educativas destinadas a fomentar a colaboração entre gestores e instituições educativas, como fator importante para a melhoria da aprendizagem nas escolas. Contudo, poucos estudos demonstram a aprendizagem gerada pelos participantes dessa rede, que tem impactado diversas áreas das comunidades educativas. Partindo desse pressuposto, a pesquisa buscou identificar as aprendizagens geradas em uma rede de educação católica no Chile, que compreende sete centros educativos, por meio de instâncias de colaboração. Trata-se de um estudo de caso com enfoque qualitativo, realizado por meio de entrevistas individuais semiestruturadas, grupos focais e observação de reuniões. Os resultados evidenciaram que a ideia de trabalhar juntos contribui para a criação tanto de uma cultura quanto de uma comunidade de aprendizagem, potencializando o sentido de pertencimento das pessoas em relação às instituições. Os laços de confiança gerados entre os atores propiciam aprendizagens que facilitam o alcance de metas locais e institucionais, além de gerar conhecimento novo relacionado ao contexto.

“Docência no ensino superior: quando ela faz a diferença na vida do aluno” é o texto do pesquisador Marcos Tarciso Masetto no qual se destaca a exigência de uma nova postura, de profissionalidade e de respostas dos docentes do magistério superior frente às rápidas e constantes mudanças que desafiam os estudantes. Essa constatação traz a reboque a questão sobre como os docentes do ensino superior podem fazer a diferença para a formação pessoal, profissional e social dos alunos universitários. Sendo assim, o artigo objetiva documentar e socializar com docentes universitários a trajetória percorrida por um professor do ensino superior na busca de se tornar um professor significativo para seus alunos e, desta forma, fazer a diferença em suas vidas. Para recompor essa trajetória, foi empregada a metodologia baseada em história de vida, a qual possibilitou uma (re)constituição temporal de uma experiência de docência no ensino superior vivenciada durante quarenta anos, recompondo as vivências, pesquisas e conhecimentos produzidos para a construção de um professor significativo. Os resultados trazem as imagens do passado e do presente, instrumentalizando-as para projetar o futuro.

Os autores Juares da Silva Thiesen e Branca Jurema Ponce, em “A cidade como foco de análise em pesquisas no campo do currículo”, partindo do pressuposto de que territórios da cidade educam, produzem um estado do conhecimento sobre a cidade como constituinte do currículo escolar, ancorado por uma discussão de fundo teórico. O texto revela o que existe de produção científica no Brasil a respeito da temática, apontando possíveis lacunas e possibilidades de pesquisa como desafios para o campo dos estudos curriculares. Os resultados demonstram que há significativa produção científica relacionada ao tema, em especial quando conduzida por outras áreas científicas, como a geografia, a arquitetura, a educação física e a história da educação, entre outras. No que se refere à participação de pesquisadores vinculados ao campo dos estudos curriculares, contudo, ela tem sido baixa, fazendo com que a relação currículo-cidade constitua um grande desafio para a formação escolar.

Em “Jovens em Formação Profissional: representações sociais de projetos de vida”, as autoras Margareth Braz Ramos, Claudia Maria de Oliveira Sordillo e Edna Maria Querido de Oliveira Chamon discorrem sobre as representações sociais de projeto de vida elaboradas por jovens em formação profissional. O estudo contou com a participação de 90 jovens com idade entre 18 e 24 anos, oriundos de escolas públicas, que participam de um programa de capacitação e inserção profissional. Temas como trajetória de vida, inserção profissional e aspectos que impactaram os projetos de vida no contexto pandêmico constaram na pesquisa e foram analisados à luz da Teoria das Representações Sociais (TRS). Os resultados possibilitaram constatar que o projeto de vida pode dar um direcionamento para a jornada da vida, e que é preciso planejar, atingir metas e ter um objetivo para ir adiante. Percebeu-se que, no contexto pandêmico, houve uma adaptação da realidade, ao mesmo tempo em que houve um atraso no processo de aprendizagem. Foi revelada ainda a visão dos jovens em relação ao que pensam sobre os seus projetos de vida, a influência da família, de amigos, da escola e de professores, bem como o significado dessas relações em seu percurso profissional.

O artigo “A formação continuada de professores em Curitiba, no período 1996-2016, no contexto da globalização” de Edson Rodrigues Passos e Alboni Marisa Dudeque Pianovski Vieira, a partir de um suporte conceitual misto, qualitativo e quantitativo, discute o processo de formação continuada de professores no município de Curitiba, no período mencionado. A pesquisa teve como objetivo investigar as relações entre as políticas públicas adotadas pela Rede Municipal de Ensino de Curitiba e a formação continuada de professores, no contexto da globalização. Os objetivos específicos foram: apresentar os dados acerca da totalidade dos cursos ofertados na formação continuada de professores pelo município de Curitiba no período citado, no contexto da cultura globalizada; tecer a crítica e apresentar as diferenças de ofertas entre as demandas de cursos de formação no decorrer de cada gestão. Os resultados apontaram que, no período estudado, foram intensificadas as discussões sobre o tema formação continuada de professores em face do mundo globalizado e tecnológico. Além disso, a pesquisa revelou o quantitativo dos cursos ofertados no período de cada prefeito, o que mostrou o compromisso e o investimento na formação continuada em cada mandato.

O autor Gilmar Farias, no artigo “Materialidade dos livros didáticos de Valdemar de Oliveira e a disciplina escolar História Natural/Biologia”, busca compreender, por meio de uma pesquisa documental, a materialidade dos mencionados livros didáticos, publicados entre as décadas de 1930 e 1960. Pela análise de capas, folhas de rosto, prefácios, sumários e introduções de nove livros didáticos, foram verificadas as intenções reveladas pelo autor, as aplicações realizadas e as relações sociais envolvidas no contexto. Como resultado da pesquisa, emergiram quatro situações que marcaram a trajetória da disciplina escolar História Natural/Biologia: 1) Na década de 1930, houve uma influência dos movimentos da Escola Nova e da rede de sociabilidade de Valdemar de Oliveira para a manutenção e valorização da História Natural como disciplina escolar; 2) Na década de 1940, a disciplina sofreu uma instabilidade com a mudança de seu nome e alterações na seleção dos conteúdos; 3) Na década de 1950, a definição do currículo mínimo e a formação de Valdemar de Oliveira valorizaram os conteúdos de Higiene; 4) Na década de 1960, com a LDB flexibilizando os conteúdos, a disciplina escolar Biologia foi tratada como História Natural até ser suplantada pelo projeto estadunidense BSCS.

Encerrando a apresentação do número, trazemos o texto de Raquel Pasternak Glitz Kowalski e de Luciane Hilu, intitulado “Pesquisa e inovação responsáveis e seus pressupostos na cibercultura”, que teve por objetivo discutir como as Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) podem auxiliar nas questões de vida saudável da população; parte de um projeto internacional financiado pela Comissão Europeia. Foram pesquisadas atividades realizadas com estudantes de uma turma de 5º período do curso de Design Digital de uma instituição de ensino superior. Os resultados obtidos possibilitaram perceber a necessidade de os alunos adquirirem habilidades, de forma responsável, que lhes permitam se tornar tanto detentores quanto usuários dos direitos autorais.

Agradecemos aos pareceristas pela análise e avaliação dos artigos submetidos e aos autores(as) pelo envio de suas pesquisas que originaram este número da Revista Diálogo Educacional. Esperamos que estas publicações científicas favoreçam o movimento de estudos, os debates, as análises e as ponderações, em especial vinculadas à Educação Profissional e Tecnológica, bem como sirvam de apoio e/ou referência para outras investigações sobre os temas em cena. Desejamos uma excelente leitura!!

Referências

FRANCO, Maria Ciavatta. Quando nós somos o outro: Questões teórico-metodológicas sobre os estudos comparados. Educação & Sociedade. São Paulo: Cortez, Campinas, ano XXI, n. 72, p.197-230, ago. 2000. [ Links ]

JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996. [ Links ]

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