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Revista Diálogo Educacional

Print version ISSN 1518-3483On-line version ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.22 no.74 Curitiba July/Sept 2022  Epub Nov 19, 2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.22.074.ao07 

Artigos

A formação continuada de professores em Curitiba, no período 1996-2016, no contexto da globalização1

Continuing education of teachers in Curitiba, in the period 1996-2016, in the context of globalization

La formación continua de docentes en Curitiba, en el período 1996-2016, en el contexto de la globalización

ALBONI MARISA DUDEQUE PIANOVSKI VIEIRAb 
http://orcid.org/0000-0003-3759-0377

EDSON RODRIGUES PASSOSc 
http://orcid.org/0000-0002-7167-1413

bPontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Doutora em Educação, e-mail:

cPontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Mestre em Educação, e-mail:


Resumo

O artigo visa discutir o processo de formação continuada de professores no município de Curitiba no período entre 1996 e 2016, a partir de um suporte conceitual misto, qualitativo e quantitativo, por entender que, face a especificidade do objeto em análise, as abordagens se complementam, com ganho epistemológico para a pesquisa. O objetivo geral da pesquisa é investigar as relações entre políticas públicas adotadas pela Rede Municipal de Ensino de Curitiba no período 1996-2016 e a formação continuada de professores no contexto da globalização. Como objetivos específicos, tem-se: apresentar os dados acerca da totalidade dos cursos ofertados na formação continuada de professores pelo município de Curitiba no período citado, no contexto da cultura globalizada, tecer a crítica e apresentar as diferenças de ofertas entre as demandas de cursos de formação no decorrer de cada gestão. O apoio teórico está referenciado em autores contemporâneos do pensamento dialético, entre eles Severino (2007), Ferreira (2003), Schelling (1984) e Teodoro (2003). Como resultado, verificou-se que foram intensificadas as discussões sobre o tema formação continuada de professores face o mundo globalizado e tecnológico. Além disso, a pesquisa revelou o quantitativo dos cursos ofertados no período de cada prefeito, o que mostrou o compromisso e o investimento na formação continuada em cada mandato.

Palavras-chave: Políticas públicas; Formação de Professores; Rede Municipal de Ensino; Globalização.

Abstract

The article aims to discuss the process of continuing education of teachers in the city of Curitiba in the period between 1996 and 2016, based on a mixed conceptual support: qualitative and quantitative, understanding that in view of the specificity of the object under analysis, the approaches are complement with epistemological gain for research. The general objective of the research is to investigate the relationship between public policies adopted by the Curitiba Municipal Education Network in the period 1996-2016 and the continuing education of teachers, in the context of globalization. As specific objectives, we have: to present the data about the totality of the courses offered in the continuous formation of teachers by the city of Curitiba in the period mentioned, to weave the criticism and to present the differences of offerings between the demands of the training courses during each period. The theoretical support is referenced in contemporary authors of dialectical thought, among them Severino (2007), Ferreira (2003), Schelling (1984) and Teodoro (2003). As a result, it was found that discussions were intensified on the subject of continuing teacher education in the face of the globalized and technological world. In addition, the survey revealed the quantity of courses offered in the period of each mayor, which showed the commitment and the investment in continuing education in each term.

Keywords: Public policy; Teacher training; Municipal Education Network; Globalization

Resumen

El artículo tiene como objetivo discutir el proceso de formación continua de profesores en la ciudad de Curitiba en el período comprendido entre 1996 y 2016, a partir de un soporte conceptual mixto: cualitativo y cuantitativo, ya que entiende que, dada la especificidad del objeto en análisis, los enfoques son complementarios, con ganancia epistemológica para la investigación. El objetivo general de la investigación es investigar las relaciones entre las políticas públicas adoptadas por la Red Municipal de Educación de Curitiba en el período 1996-2016 y la formación permanente de los profesores en el contexto de la globalización. Como objetivos específicos, tenemos: presentar datos sobre la totalidad de los cursos ofrecidos en la formación permanente de profesores por la ciudad de Curitiba en el período mencionado, criticar y presentar las diferencias en las ofertas entre las demandas de cursos de capacitación durante cada administración. El sustento teórico se basa en autores contemporáneos del pensamiento dialéctico, entre ellos Severino (2007), Ferreira (2003), Schelling (1984) y Teodoro (2003). Como resultado, se constató que las discusiones sobre el tema de la formación continua de profesores se intensificaron frente al mundo globalizado y tecnológico. Además, la investigación reveló la cantidad de cursos ofrecidos en el período de cada alcalde, lo que mostró el compromiso y la inversión en educación continua en cada término.

Palabras clave: Políticas públicas; Formación de profesores; Red Municipal de Educación; globalización.

Introdução

O exercício da profissão docente exige a ação do aprender continuamente. Talvez essa afirmação seja a que represente melhor a ideia de formação continuada no mundo cada vez mais veloz em que vivemos e que se renova a cada momento. Pensar a profissão professor como sujeito ativo e agente transformador da realidade exige, em primeiro lugar, uma atitude concreta: investir na formação continuada do professor. É nessa relação dialética de aprendizado, aprender para ensinar com qualidade, que o município de Curitiba tem trabalhado na valorização dos profissionais da educação básica e dos estudantes. Destaca-se também que o município de Curitiba aproveitou o advento da globalização do final do século XX e embarcou na convergente onda de tecnologias, uma vez que o computador e a internet foram modelando e contribuindo para uma nova configuração social, política, econômica e, inevitavelmente, a realidade da sociedade em rede chegou à sala de aula e à formação continuada dos professores. Em sintonia com essa nova realidade tecnológica, a Prefeitura de Curitiba passou a investir em tecnologias educacionais e, em parceria com a iniciativa privada, colocou a educação do município de Curitiba como referência nacional. Citam-se, de passagem, programas de melhoria de gestão da escola e desenvolvimento profissional de professores com aprendizagens mediadas por tecnologias relacionadas ao uso das salas Google e projetos de robótica premiados internacionalmente.

Quando a questão é o processo de formação continuada de professores na educação brasileira, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, é imprescindível que não se perca de vista a totalidade dos dados quantitativos acerca de como essas ações formativas foram ofertadas no desenvolvimento profissional docente, bem como o monitoramento dos resultados numéricos alcançados em relação à demanda de cursos e vagas oferecidas pela mantenedora em relação ao número de professores matriculados, aprovados e desistentes.

Nesse sentido, o presente artigo visa, por meio de uma abordagem mista, qualitativa e quantitativa, com apoio em pesquisa documental, apresentar de forma pragmática os dados acerca da totalidade dos cursos ofertados na formação continuada de professores pelo município de Curitiba, no período entre 1996 e 2016, em especial, respeitando o período histórico de cada gestor, e por outro lado, tecer a crítica e apresentar as diferenças de ofertas entre as demandas de cursos de formação no decorrer de cada gestão. Entendemos que em face da especificidade do objeto em análise, a abordagem qualitativa e a quantitativa se complementam e podem ser utilizadas em conjunto na pesquisa.

Tendo em vista a escolha dessas abordagens no que se refere à formação continuada de professores, os conceitos e as teorias, como as de Schelling (1984, p. 34), advertem-nos: “[...] como o homem pode ser senhor de si mesmo, senhor da natureza”. É preciso, portanto, considerar que, no sentido polissêmico da filosofia de Schelling, somos levados a refletir que a ciência, criação humana, é necessária para compreender a si mesmo e a própria realidade, no entanto não cabe ao homem a liberdade para determinar de imediato a compreensão do real e a produção da vida. Nesse sentido, cabe a reflexão se dispomos de capacidade para formar nossos professores na sua totalidade e finitude e se essa busca pela omnilateralidade, do desenvolvimento integral do ser humano, politecnia, escola unitária e educação tecnológica, é possível diante do sistema e da ordem capitalista.

Nesse contexto, o discurso da defesa da formação continuada do professor para oferecer educação com mais qualidade aos estudantes resvala na antiga dicotomia: educação para os filhos da classe operária, fadados a serem mão de obra produtiva, e educação para os filhos das elites, cujos preceitos garantem cargos de dirigentes e intelectuais na sociedade.

Considerando, portanto, a formação continuada do professor no cenário de competição por espaço de trabalho, inclusive no próprio campo da educação para lecionar e formar outros professores, na produtividade material e imaterial, é importante pensar a complexidade de promover uma formação continuada para professores visando ao mercado de trabalho, mas sem perder de vista a produção social, a dimensão humana e a formação intelectual pautada na igualdade de oportunidades e na justiça social.

Desse modo, entendemos que a abordagem do problema de pesquisa “Formação continuada” deve ser feita no contexto da cultura globalizada. E, para isso, surge então a necessidade do uso das duas abordagens, numa primeira etapa a abordagem qualitativa, pensando o objeto nas relações de poder, da práxis humana e nas relações sociais no campo da educação, e, na segunda etapa, a abordagem quantitativa, controlada, cuja técnica faz com que o objeto confesse, por meio dos números e tabelas, o que o pesquisador quer ouvir. Sobre o objeto de pesquisa, Severino (2007) afirma:

Cada modalidade de conhecimento pressupõe um tipo de relação entre sujeito e objeto e, dependentemente dessa relação, temos conclusões diferentes. [...] Por isso, o pesquisador, ao construir seu conhecimento, está ‘aplicando’ esse pressuposto epistemológico e, por coerência interna com ele, vai utilizar recursos metodológicos e técnicos pertinentes e compatíveis com o paradigma que catalisa esses pressupostos. (SEVERINO, 2007, p. 108)

É neste contexto, dito por Severino (2007), que surge a necessidade de aproximar teoria e prática numa metodologia indispensável para pensar a formação continuada de professores na sociedade industrial e tecnológica.

Sendo assim, é nesse panorama de uma matriz liberal globalizada que o município de Curitiba cria suas principais políticas públicas e ações na estruturação do desenvolvimento profissional docente. A seguir, uma síntese da formação continuada em tempos de globalização.

Políticas educacionais e formação continuada em tempos de globalização

Um dos grandes desafios das universidades e faculdades no que concerne à formação continuada dos professores é justamente oferecer a esses profissionais capacitação para lidar com os entraves teóricos e metodológicos no processo de ensino e aprendizagem. Sabe-se que com todos os avanços que tivemos nos finais do século XX e princípios do século XXI, nas pesquisas em educação e pedagogia científica, ainda os estudantes brasileiros da escola pública aprendem pouco, como mostram os resultados e índices de avaliação externa de larga escala, por exemplo, os indicadores do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - IDEB (INEP, 2019).

Como se sabe, o tema formação continuada de professores prioriza e enfoca o estudo da cultura globalizada integrado a um sistema mundial, no qual tempo e espaço não representam mais barreiras, pois tudo está interligado por meio de um código único: a linguagem da tecnologia. À medida que se vive numa sociedade capitalista, baseada na relação capital-trabalho, vê-se a necessidade das seguintes perguntas retóricas: até que ponto o Estado detém a autonomia para criar as próprias políticas públicas com liberdade e independência em prol da educação democrática? Isto é, até que ponto uma política educacional de um Estado ou município está assujeitada ideológica e economicamente às forças dominantes globais? Essas indagações não são para questionar e fazer uma crítica à razão, mas, sim, para pensar a realidade da vida prática no nosso dia a dia em sala de aula, em especial, no contexto da “sociedade do conhecimento” em que estamos inseridos, e que, cabe lembrar, nada mais é do que o poderio empresarial de interesse econômico-financeiro na imposição do conhecimento como projeto educativo. Desse modo, de que formação continuada estamos falando?

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9.394/96 (BRASIL, 1996) preconiza o seguinte acerca dos seus objetivos e fins:

A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996, p. 5).

Assim, a formação continuada de professores pelas Instituições de Ensino Superior está a serviço do mercado de trabalho no processo de globalização, uma vez que os objetivos comerciais e econômicos se sobrepõem aos objetivos educacionais e políticos.

Segundo Teodoro (2003), algumas questões problematizam os estudos das políticas educacionais:

Num tempo histórico relativamente curto, a educação, de um obscuro domínio da política doméstica, tem vindo a tornar-se progressivamente um tema central nos debates políticos, a nível nacional e internacional. Esta passagem da educação do domínio doméstico para o domínio público, com a centralidade que lhe é atribuída presentemente nos processos de desenvolvimento humano, coloca problemas complexos ao estudo das políticas educacionais (TEODORO, 2003, p. 13).

Nesse olhar pelo movimento da história, o autor constata que a transição da educação de uma “política doméstica”, isto é, de uma política que ainda não foi contaminada pelas forças do poder dominante (capital estrangeiro) em relação a uma política de domínio público nacional e internacional é extremamente problemática, sobretudo porque existe forte influência da ideologia neoliberal para moldar os valores do desenvolvimento humano regidos pelas regras do mercado e da economia. Nesse sentido, Teodoro aponta dois grandes problemas: o primeiro de regulação, isto é, o Estado passa a ter controle mais incisivo nas atividades econômicas e nos serviços públicos e, com isso, passa a permitir que suas políticas educacionais internas passem a sofrer influências econômicas e ideológicas das forças do poder dominante (o capital internacional). O segundo de emancipação, que acaba fragilizando as políticas educacionais, pois deixa de produzir a mobilidade social esperada, sobretudo porque o poder passa a ser distribuído entre as várias instituições e grupos sociais.

Diante dessa nova realidade em que a educação se encontra, o autor questiona como aceitar e fazer parte dessa nova expansão mundial da escolarização, na qual se prega a formação de uma ideologia em nível mundial e se cria uma identidade coletiva homogeneizando a língua e a cultura, tendo como resultado dessas mudanças o enfraquecimento da cidadania e um desfavorecimento do jovem ao mercado de trabalho. Ou seja, os impactos dessas novas políticas educacionais globalizadas apresentam mais pontos negativos do que positivos, sobretudo porque ampliam as diferenças sociais, já que os pobres continuam mais pobres e os ricos cada vez mais ricos.

Trazendo essa discussão para a formação continuada de professores, entende-se que a responsabilidade das universidades e faculdades, públicas ou privadas, independentemente de estarem vinculadas a projetos liberais ou não, é a de compreender as mudanças e transformações sociais, políticas, culturais, econômicas e tecnológicas no seu tempo histórico, e, na condição de escola, oferecer continuidade na formação do professor para lidar com os desafios da prática social de ser educador. No entanto, vale lembrar que a educação está centralizada no âmbito de uma sociedade capitalista, em torno do econômico, do mercado de trabalho, dos valores de produção, consumo e acumulação material e imaterial. É como apregoa o neoliberal Friedman (1983), que distingue educação de instrução, defendendo a tese de que políticas públicas educacionais devem existir para uma formação geral, ou seja, uma forma de garantir que os sujeitos saiam da condição de analfabetos e tenham o mínimo de civilidade para viver em sociedade. Além disso, para Friedman (1983), o sujeito com essa formação mínima estaria no “lucro”, pois faria uso desse saber como uma espécie de vantagem pessoal e benefício para a sociedade. É evidente que o projeto de sociedade e educação liberal fere o princípio essencial da democracia e da justiça social, tendo em vista que retirar do Estado a obrigação da educação básica colocaria a educação na condição de um instrumento privado, cujo efeito civilizador se anularia, pois a lógica do capital é extrair a mais valia sempre com base no econômico.

É notório que existe um livre mercado no campo da educação, na disputa por clientes para a própria manutenção e existência econômica da instituição. Cabe, portanto, redobrar a atenção quando as ideias liberais passam a constituir as reformas educacionais brasileiras e regular a construção do conhecimento em benefício próprio, como em especial no tocante às novas reformas atuais, como, por exemplo, a recente implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a nova formatação do Sistema de Avaliação da Educação Brasileira (SAEB).

Historicamente, tais políticas públicas são da responsabilidade do Estado, no entanto, na prática, essas reformas reafirmam os preceitos liberais em consonância com as exigências do mercado e cada vez menos estão voltadas à formação de cidadãos críticos e à socialização dos sujeitos comprometidos com os valores humanos.

Enfim, o que tudo isso tem a ver com a formação continuada de professores? Ao fazermos essa indagação, estamos inspirados a refletir criticamente a favor de que os conhecimentos frutos dessas formações são uma questão a serviço de um projeto educativo de emancipação dos sujeitos para que possam enxergar as contradições na realidade e superá-las com propósitos de equidade, solidariedade e democratização e não uma proposta de conhecimento a serviço de uma cultura de pensamento único, cuja prerrogativa capitalista é um conhecimento acrítico e a-histórico.

Nesse contexto, espera-se que a formação continuada do professor ajude-o a formar uma consciência crítica, para que possa educar os estudantes sem perder de vista as várias dimensões do humano, como a afetividade, o carinho, a solidariedade, a alteridade, o respeito etc., valores imprescindíveis à formação das crianças nas séries iniciais, que, por conseguinte, serão necessários na vida adulta, como exigência nas relações sociais, culturais e atividades humanas civilizadas em geral, minimizando, assim, que esse futuro sujeito preconize suas próprias regras na sua conduta.

Acerca dos desafios relacionados à formação de professores, Ferreira (2003) questiona:

[...] Que mundo vive-se hoje? Quais são as ‘provocações’ que a realidade hodierna está fazendo aos seres humanos que nela vivem? Quais são essas determinações para a vida, hoje? Que especificidades e dimensões possui, a fim de poder ser enfrentada? Que educação se faz necessária a todo o ser humano para poder desenvolver-se, realizar-se ser feliz? Que decisões devem ser tomadas a esse respeito? Qual é o estatuto e o valor da educação continuada oferecida aos adultos? Qual é o seu significado pedagógico, social e político? (FERREIRA, 2003, p. 18).

Na proposição de Ferreira sobre a formação de professores, a educação representa a força motriz na constituição do ser. Portanto, pensar a formação continuada da educação é pensar o homem na sua totalidade, nas várias dimensões que assume nas relações sociais, em especial, a formação continuada para o uso de tecnologias da informação, cuja resistência por parte de professores tem sido superada em face da nova configuração social de inserção na sociedade em rede.

Estruturação e eixos do desenvolvimento profissional pela Secretaria de Educação de Curitiba

Neste momento, não se tem a pretensão de analisar as centenas de oficinas, projetos e cursos de formação continuada promovidos pela Prefeitura de Curitiba aos professores da rede municipal de ensino no período entre 1997-2016. Essa proposta será objeto de novo artigo. No entanto, o que nos chamou a atenção ao colher mais de 2 mil páginas de documentos em fonte primária e inédita sobre essa temática no Arquivo Municipal de Curitiba foi a vocação e os preceitos que o município de Curitiba tem para inserir os cursos na formação docente na era digital com o uso da tecnologia. Assim, apresentamos na sequência os princípios adotados para a estruturação do desenvolvimento profissional pela Secretaria de Educação do Município de Curitiba (CURITIBA, 2015):

A SME, desde o ano de 2013, vem rediscutindo e ressignificando a formação continuada oferecida aos profissionais da educação, com o intuito de não apenas ampliar a participação deles, mas articular as diferentes ações para atender plenamente às necessidades identificadas. [...] Compreendo assim: a formação didática, a formação cultural e social e a formação prática [...] (CURITIBA, 2015, p. 68-69).

Embora essa referência seja do ano de 2015, quando foi elaborado o Plano Municipal de Educação (PME), que estabelece diretrizes, metas e estratégias para melhorar o ensino em Curitiba, as quatro categorias: formação na área de especialidades, formação didática, formação cultural/social e formação prática estavam inseridas no desenvolvimento profissional dos docentes desde a gestão do ex-prefeito Cássio Taniguchi (1997-2000), perpassando pelos gestores que governaram Curitiba nos anos seguintes, até o momento da realização deste estudo. Isso implica dizer que as políticas públicas de formação de professores no município de Curitiba estão centralizadas nas áreas específicas de atuação dos docentes, isto é, observou-se, por meio dos projetos e cursos de formação ofertados, que é a partir dos problemas existentes na realidade do município que são criadas as metodologias para superação daquele problema e na área em particular.

Acerca dos três eixos do desenvolvimento profissional docente, a Rede Municipal de Ensino (SME) apresenta a seguinte configuração:

[...] ao que se refere à formação inicial exigida para ingresso, bem como à formação continuada. A que se refere à formação desses profissionais, de acordo com o Artigo 61 da LDB 9394/96, em seu parágrafo único, deve ter como fundamentos: ‘I - a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de trabalho’; ‘II - a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e capacitação em serviço’; ‘III - o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades’. Deverá ainda assegurar o ‘aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim’, em conformidade ao inciso II do Artigo 67. (CURITIBA, 2015, p. 69). (grifo dos autores)

Nesse primeiro eixo formativo, observa-se uma política pública de integração com a LDB 9.394/96, preocupada em fornecer uma formação inicial para o docente, a fim de colocá-lo em contato com a realidade de sua área de trabalho. Tal medida demonstra o compromisso de oferecer um serviço público com qualidade, para a sociedade, e a valorização do servidor como profissional. O Plano Municipal menciona que:

[...] cabe salientar a necessidade de que cada mantenedora (redes municipais, estaduais e privadas) organize um programa de formação continuada destinado aos profissionais da educação que objetive a reflexão a respeito dos fundamentos teóricos e metodológicos que norteiam o trabalho pedagógico, buscando subsídios para discutir modelos adotados, seus avanços e limites, e avaliar a educação no município. (CURITIBA, 2015, p. 69-70).

Este segundo eixo formativo trata da especificidade na área de atuação do docente. Nessa categoria, o docente terá uma formação continuada no campo particular da sua disciplina, o que amplia consideravelmente os saberes no processo de ensino e aprendizagem, em particular, aquelas questões relacionadas às metodologias e às práticas de ensino.

E, por fim, como prevê a meta 16 do Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2014), a formação continuada específica é opção exclusiva dos servidores (CURITIBA, 2015). Nessa categoria, cabe ao professor perceber a sua necessidade particular formativa e buscar a formação técnica e epistemológica, como, por exemplo, especializações, mestrados e doutorados. Sendo assim, a inscrição nas atividades de formação continuada é opcional.

Passamos então para a categoria central desse trabalho: a quantitativa dos cursos de formação continuada ofertados pela Prefeitura de Curitiba no período entre 1997 e 2016.

Análise dos cursos de formação continuada ofertados pela Prefeitura Municipal de Curitiba no período 1997-2016

A partir da imersão nos dados contidos nos documentos oficiais pesquisados na Secretaria Municipal de Educação de Curitiba e no Arquivo Geral do Município, buscamos desvelar os números que, até então, misturados na estrutura do texto documental, não afloravam à percepção de totalidade do leitor e que, após desvelados, somados e tabulados, mostram-se mais acessíveis à nossa compreensão e inteligibilidade.

Desse modo, apresentamos a seguir, por meio de uma abordagem quantitativa, a totalidade dos cursos ofertados nas políticas para a formação de professores, como proposta curricular e aquisição de novos conhecimentos por esses profissionais, como também a atualização de estratégias de como transmitir esses conhecimentos aos estudantes. No período compreendido entre 1997 e 2000, tendo como prefeito Cássio Taniguchi, primeiro mandato, a Prefeitura Municipal de Curitiba proporcionou aos professores cursos de capacitação e formação, num total de 232, distribuídos conforme dados do Quadro 1. Entretanto, os documentos pesquisados não trazem os dados dos participantes concluintes, desistentes e não concluintes.

Quadro 1 Quantitativo dos cursos de formação continuada ministrados pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba - 1997-2000 

Ano Cursos ofertados Inscritos Carga horária
1997 82 536 17.152
1998 85 1.206 7.560
1999 59 1.417 -
2000 56 2.026 -

FONTE: Quadro elaborado pelos autores a partir dos dados coletados no Arquivo Geral Da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba em julho de 2019.

Tal como apresentamos anteriormente no quadro 1, no período de 27/01 a 12/12 do ano de 1997, foram disponibilizados 82 cursos de formação. Desse quantitativo, destacamos os principais títulos ofertados e suas respectivas cargas horárias: A cidade em outros tempos (8 h); Educação infantil (24h); Teatro (12h); Metodologias de ensino de creche (20h); Artes plásticas (16h); Produção e expressão: aspectos emocionais e cognitivos (8h); Educação infantil berçário I (20h); Música - técnica vocal (16h); Assessoramento I para professoras (20h); Formação do educador (36h); Adulto diante da criança uma relação de ajuda (4h); Oficina sobre Estatuto da Criança e Adolescente (8h); A proposta pedagógica desenvolvida nas creches oficiais (4h); Integração funcional (8h); Windows 3.1/O computador no cotidiano escolar (20h); Literatura infantojuvenil e o pia conquistando espaços (20h); Saneamento básico e higienização do ambiente (4h); Modulo de formação do educador II (20h); Desenvolvimento e saúde da criança de 0 a 3 anos (20h); Projeto de trabalho construindo em parcerias (8h).

Ao analisarmos os elementos estruturais dos projetos considerando conteúdos e temas referentes aos cursos oferecidos pela SME - Secretaria Municipal da Educação na gestão do então prefeito Cássio Taniguchi, 1997, vemos que se anunciava nessa proposta formativa dirigida aos diretores, professores e pedagogos da SME de Curitiba, uma redefinição na estrutura organizacional do trabalho, tanto no planejamento da gestão escolar, como na prática pedagógica dos professores dos primeiros anos do ensino fundamental.

Cabe destacar que nessa formação denominada Semana de Estudos Pedagógicos os professores foram oportunizados a participar de oficinas práticas com ênfase em metodologias de trabalho nos diversos campos do saber. Por outro lado, para pedagogos e diretores os temas desenvolvidos convergiam mais para questões de planejamento e estratégias para a transformação da escola, o que não tardaria a ocorrer por meio da criação da escola em ciclos de aprendizagem na Rede Municipal de Curitiba, ou seja, de série para ciclos, que de fato foi oficializado sob as premissas de uma política neoliberal e aprovado pelo Conselho Estadual de Educação, pelo parecer nº 487 de 12 de novembro de 1999.

Apesar do conceito de escola em ciclos apresentar variedade polissêmica em diversos lugares do Brasil, verificamos, que em geral as discussões principais estavam ancoradas no acréscimo no tempo do ensino fundamental de Nove Anos, ênfase ao ritmo individual, aumento da aprendizagem, inclusão dos estudantes, superação do analfabetismo e dos altos índices de reprovação.

O presente artigo não tem como objetivo pesquisar a implantação da organização escolar em ciclos de aprendizagem no munícipio de Curitiba, no entanto, os cursos ofertados anunciavam por meio dos pressupostos teórico-metodológicos o predomínio da ideologia neoliberal, isto é, a maioria das oficinas e treinamentos oferecidos nesse período e nos anos seguinte, estavam pautados na capacitação e inserção dos trabalhadores em educação na construção de resultados, tendo como base econômica o desenvolvimento do capital.

Entendemos que houve uma razão política por parte dos educadores para correlacionar a pequena procura pelos cursos de formação continuada no ano de 1997, pois, tratava-se de uma estratégia de formação profissional pautada em ações ancoradas numa diretriz teórico-metodológica que estava se iniciando e visava o desempenho, qualidade, eficiência e competências, como preparação para o exercício docente, em especial por meio de oficinas e manuais.

Talvez, em face das iminentes cobranças e o crivo das avaliações, explicaria parcialmente o desestímulo pela procura dos cursos. Além disso, a pressão exercida pela mantedora como estratégia de obrigatoriedade para fazer os cursos foi sendo implantada paulatinamente, como requisito para avanços e progressões na carreira.

Nos anos subsequentes entre 1999 a 2000, com a implantação da organização escolar em ciclos de aprendizagem, no município de Curitiba, como mostra o quadro 1, notadamente, ocorreu um acréscimo expressivo no número de trabalhadores em educação que buscaram o aperfeiçoamento na sua formação continuada.

Destaquemos desse contexto alguns dos principais títulos e temas que nos chamou a atenção. Nos anos de 1998, com os títulos: Alfabetização e história na pré-escola (20 h), cuja abordagem temática tratava da ideia de representação, referenciais de leitura e escrita, análise linguística e vida do homem na sociedade. O computador no cotidiano escolar (20 h), com os conteúdos: sistema Windows: gerenciador de programas/ janela principal/ gerenciador de arquivos, diretórios/salvar e excluir documentos, disquetes/gerenciador de impressão. Classes de aceleração em debate (20 h), com os temas e conteúdos: Cultura do sucesso ou fracasso escolar: a opção é nossa; proposta pedagógica, metodológica e avaliação.

Verificamos nessa pequena amostra de 3 títulos dos muitos outros oferecidos pelo município de Curitiba, a criação e difusão da legitimação e valorização de uma educação voltada a formação do professor numa concepção ideológica do Estado neoliberal. Buscava-se implementar qualidade na educação do Ensino Fundamental por meio da capacitação continuada dos professores, como elemento construtivo da sociedade curitibana, sobretudo, das camadas populares, porque a capital do estado do Paraná convergia rapidamente a vida política e econômica, a partir sobretudo, da Reforma neoliberal do Estado implementada no país a parir dos anos 1990.

De fato, a posição política e econômica na gestão de Cássio Taniguchi, entre os anos de 1997 a 2000, ancorava-se na cidade materializada com seus atrativos da vida urbana, a cidade enquanto mercadoria de consumo. Tal incursão política também foi adotada na organização escolar do município que seguia a lógica do treinamento, capacitação, reciclagem e aperfeiçoamento na formação em serviços dos educadores.

Cabe destacar que todos os cursos de formação continuada ofertados pela secretaria municipal de educação de Curitiba foram gratuitos aos professores, pedagogos e diretores. Não obstante, a prefeitura de Curitiba sempre teve uma preocupação mais exigente com os especialistas convidados para ministrar as palestras nos diversos temas propostos. Configura na relação de nomes uma imensa lista de professores, pesquisadores e palestrantes das universidades locais e diversas regiões do Brasil e do mundo.

Entre os anos de 2001 e 2004, houve nova eleição para Prefeito da cidade e Cássio Taniguchi é reeleito para o segundo mandato. No Quadro 2, apresentam-se os quantitativos dos cursos de formação continuada oferecidos pela Prefeitura de Curitiba, na área da educação, seguidos do número de profissionais que participaram desses cursos. Entretanto, os documentos pesquisados não trazem os dados dos participantes concluintes, desistentes e não concluintes.

Quadro 2 Quantitativo dos cursos de formação continuada ministrados pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba - 2001-2004 

Ano Cursos ofertados Inscritos
2001 81 566
2002 90 1.043
2003 88 1.207
2004 111 2.173

FONTE: Quadro elaborado pelos autores a partir dos dados coletados no Arquivo Geral da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba em julho de 2019.

Desse quantitativo de 370 cursos nas diversas áreas do saber apresentado no quadro 2, entre os anos de 2001 a 2004, o que mais se destacou foram as numerosas ofertas de capacitação na área de tecnologia. Entre eles, destacamos reiteradamente em todos os anos, os seguintes cursos de formação continuada: Conhecimento de mídias - criando jornais eletrônicos (8 h); Construcionismo - linguagem logo (33 h): novas tecnologias para a Ed (40 h); Digitando o futuro (20h); Inovações tecnológicas na educação (20 h); Educação construcionista: explorando a robótica e linguagem logo (40 h); A tecnologia na escola e na vida (20 h); Robótica Educativa (20 h).

Não há dúvida, porém, que nessa segunda gestão, Cássio Taniguchi investiu massivamente na implementação das tecnologias digitais nas escolas do município de Curitiba. Serviços de internet banda larga permitiram criar na maioria das escolas os laboratórios de informática, que deram a educação de Curitiba o reconhecimento na área de robótica na educação fundamental.

Com efeito, o ambiente tecnológico das escolas com professores treinados em tecnologia, que, ainda básica, deveria se traduzir em qualidade no processo de ensino-aprendizagem em outras áreas da educação fundamental, tais como leitura e escrita. No entanto, dentro dessa concepção de educação de ideologia neoliberal, concordamos com Moacir Gadotti, que afirma: “[...] o educador assume um caráter de agente de controle, defensor dos interesses do estado dentro da escola e não defensor dos interesses da população diante do estado” (GADOTTI, 1990, p. 155).

O resultado disso, dessas contradições internas entre o que se defendeu na educação básica do município no processo de formação continuada do professor, começaram a aparecer com a entrada dos estudantes no 6º ano do ensino fundamental na Rede Estadual de ensino, em particular, por meio defasagem em alfabetização, leitura e escrita.

O Prefeito Cássio Taniguchi, na ocasião filiado ao Partido da Frente Liberal (PFL), dirigiu o município de Curitiba entre 1º de janeiro de 1997 e 31 de dezembro de 2004. Cabe observar que, nesse amplo período de gestão, dois mandatos de quatro anos cada, os programas de investimentos em políticas públicas educacionais na formação continuada de professores no município de Curitiba foram lentos e com pouca concentração de esforços na construção de uma infraestrutura educacional que superasse a tecnocracia e o privatismo, herança do governo anterior de Rafael Greca de Macedo, gestão 93-96. Nesse sentido, Costa (1997) afirma o seguinte:

[...] Rafael Greca de Macedo, não priorizou a ampliação da oferta da Educação Infantil, foram somente dez creches construídas nesta gestão e a população de Curitiba passou a cobrar, por meio de manifestações e audiências públicas, uma posição da prefeitura em relação a grande fila de espera para vagas nas creches e escolas (COSTA, 1997, p. 240).

Na década de 1990, o Estado do Paraná e outros Estados da federação estavam imersos em políticas neoliberais, cuja palavra de ordem era a privatização dos serviços públicos. Sob a batuta do então Governador do Estado do Paraná, Jaime Lerner, que defendia uma política do Estado mínimo e favoreceu a entrada de empresas internacionais com subsídio zero para produzir, principalmente montadoras de automóveis que se instalaram em Curitiba, percebe-se que o slogan de Capital Tecnológica, apresentado por Cássio Taniguchi, no seu primeiro mandato, esteve a serviço do mercado e não da educação.

No período entre 2005 e 2010, a Prefeitura Municipal de Curitiba, sob os dois mandatos do Prefeito Carlos Alberto Richa (Beto Richa) ofertou aos professores um total de 1417 cursos, propiciando que esses profissionais se aprimorassem na área de maior interesse.

No Quadro 3, estão explícitos os dados quantitativos dos cursos oferecidos pela Prefeitura, bem como os números de vagas, inscritos, concluintes, desistentes e não concluintes no período entre 2005 a 2010, na gestão do prefeito Beto Richa.

Quadro 3 Quantitativo dos cursos de formação continuada ministrados pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba durante a gestão Beto Richa - 2005-2010 

Ano Cursos ofertados Vagas ofertadas Inscritos Concluintes Desistentes Não concluíram
2005 112 41.140 27.689 19.523 1.557 6.609
2006 153 109.184 68.640 58.453 7.261 2.926
2007 264 127.757 76.059 64.815 5.527 5.717
2008 343 97.341 75.227 62.032 7.652 5.543
2009 243 78.215 50.716 42.310 4.345 4.061
2010 302 78.254 65.581 55.974 5.195 4.412

Fonte: Quadro elaborado pelos autores a partir dos dados coletados no Arquivo Geral da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba em julho de 2019.

Numa perspectiva de totalidade, de 2005 a 2010, a Prefeitura Municipal de Curitiba investiu na capacitação e na formação continuada de mais de 300 mil profissionais no campo da educação.

Segundo dados do IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, no Caderno Estatístico do município de Curitiba, 2009, no ano de 2006, o número de professores da Rede Municipal de Curitiba, era de: “569 docentes na pré-escola e 5960 docentes no ensino fundamental I” (IPARDES, 2009, p. 12).

No ano de 2005, foram oferecidas 41.140 vagas distribuídas em 112 cursos e palestras, cujos temas se referiram a questões fundamentais na educação: infância e educação infantil; princípios da educação inclusiva; alfabetização; letramento; ciclos na escola; mídia humana; gestão escolar e qualidade da educação básica; desenvolvimento e aprendizagem; aspectos cognitivos no processo de aprendizagem; sistema municipal de ensino; políticas públicas e gestão; articulando a transição da educação; entre outros temas importantes.

Pouco mais da metade dessas vagas foram preenchidas, perfazendo um total de 27.689 inscritos. Considerando o total de vagas, é surpreendente que somente 19.523 concluíram. Desistiu do curso um total de 1.557 inscritos e 6.609 não os concluíram. Os relatórios compulsados não mencionam as causas das desistências e da não conclusão dos cursos, que podem ter sido de diversas ordens, tanto pessoais quanto profissionais.

No entanto, podemos inferir que, como os professores, pedagogos e diretores, poderiam se inscrever em uma palestra e uma oficina de 20 horas cada uma, muitos não conseguiram atender as duas demandas simultâneas de carga horária. Além disso, na ocasião o fato de boa parte dos professores da rede já terem especialização, também, desestimulou a procura pelas vagas nos temas ofertadas.

Em 2006, os índices mostraram que a Prefeitura de Curitiba disponibilizou 153 encontros, distribuídos entre cursos, oficinas, Seminários, conferências congressos, jornadas e palestras, proporcionando o total de 109.184 vagas. Entre eles destacamos os seguintes títulos: Curso de Xadrez - nível básico II 20 h); Educação patrimonial - roteiro histórico (20 h); Jornal eletrônico escolar Extra! Extra! (12 h); Alfa - lego II (24 h); Biodiversidade e lixo II (16 H); Análise e uso de softwares educacionais (32 H); Braille e sorobã na inclusão de alunos com deficiência visual (57 H); Capacitação inicial para o uso do laboratório de informática (20 H); Construindo giffs animados usando a linguagem logo (20 H); Curso Kidsmart- continuidade (36H); Curso HTML básico (40 H); e muitos outros na sua maioria relacionados a tecnologia, informática e internet. Essa amostra dos cursos revela a organização para trabalhar com a educação e tecnologia, o que consolida a relação com a lógica globalizante do mercado centrada nos resultados.

Neste ano, 68.640 educadores se inscreveram e 58.453 concluíram, 7.261 desistiram no decorrer do curso e 2.926 não concluíram de fato. Esse cenário demonstra que, mesmo em face das vagas disponibilizadas para o aperfeiçoamento dos profissionais, elas não foram preenchidas conforme a oferta.

Outra explicação plausível para as sobras de vagas em 2006, estaria atrelada a falta de planejamento da SME - Secretaria Municipal de Educação, cujo descuido, ofertou mais vagas que a capacidade de adesão dos professores, isto é, tudo indica que não houve um levantamento acerca da demanda e a necessidade dos professores para suprir o excesso de vagas ofertadas.

No ano de 2007, foram ofertadas 127.757 vagas, distribuídas em 153 cursos de formação e capacitação aos docentes do município de Curitiba. Os temas dos cursos, oficinas e seminários oferecidos nesse ano, não se distinguem muito dos anos anteriores com ênfase a tecnologia e informática.

Além disso, que se observa foi a ampliação de Semanas de estudos pedagógicos com dezenas de oficinas em cada uma o que intensifica a lógica da produção capitalista a serviço de uma sociedade de consumo. Segue uma fração dos temas e conteúdos, todos com 20 horas: Festas religiosas; Gêneros textuais e o ensino de língua portuguesa; Mineração e desenvolvimento; Práticas pedagógicas diferenciadas: caderno de confidências; A espacialização das informações em maquetes cartográficas; Contando e cantando histórias; Leitura e produção dos diversos gêneros textuais em sala de; Montagem de cenas; Ginástica rítmica; A leitura, a produção e a reescrita de textos; África em sala de aula: por uma educação não discriminatória; Arte e espiritualidade; Bacias hidrográficas do paraná; Geografizando o jornal e outros cotidianos; Ginástica artística; Jogos teatrais; Leitura e interpretação de texto; Modelagem matemática como alternativa metodológica; O despertar da música na escola; O lúdico no ensino de história; Trabalhando com a literatura e a matemática pela via de resolução de problemas; No ensino de 9 anos, o letramento começa no 1ºano, com plástica, música; A geografia é nosso dia a dia; A importância do trabalho com a consciência fonológica nos anos iniciais; A sala de aula como espaço de pesquisa; Contar histórias - encantamento e magia na sala de aula; Didática da resolução de problemas; Ensinando ciências por meio da resolução de problemas.

Mais uma vez, as vagas não foram preenchidas em sua totalidade e, destas, somente 76.059 interessados fizeram inscrição. Desse montante inscrito, um total de 64.815 professores concluíram os cursos, enquanto 5.527 desistiram e 5.717 não chegaram a finalizá-los.

Mais uma vez, reiteramos a possibilidade de que, o número expressivo de vagas ociosas, desistentes e não concluintes, estariam relacionadas a ausência de critérios para a inscrição, esse ato compulsório obrigaria o professor a participar de um curso sem relação com a sua atuação em sala de aula, além disso, o número de participantes sugere que muitos professores efetuaram inscrição em mais de um evento, muitas vezes, por trabalharem em duas ou três escolas para completar a carga horária de 40 horas semanais de trabalho.

Tendo como referência os dados no portal cidades Censo escolar do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o quadro abaixo traz o quantitativo de professores e escolas da Rede Municipal de Curitiba, entre 2008 a 2016, para que possamos interpretar as sobras de vagas, desistentes e não concluintes.

É importante destacar que em Curitiba o CMEI - Centros municipais de educação infantil, são estabelecimentos oficiais de educação para o desenvolvimento integral das crianças de 4 meses a 5 anos. As creches correspondem ao berçário e maternal de 0 a 3 anos. A pré-escola para crianças de 4 a 5 anos.

Quadro 4 Censo escolar IBGE - sinopse: Quantitativo de docentes e escolas no ensino básico no Município de Curitiba: 2008-2016. 

Docentes ensino infantil Ano 2008 Ano 2009 Ano 2010 Ano 2011 Ano 2012 Ano 2013 Ano 2014 Ano 2015 Ano 2016  
Município de Curitiba  
Creche 159 210 207 180 246 269 259 3636 4625  
Pré-escolar 540 542 534 568 574 643 637 988 6  
 
Ensino fundamental  
Município de Curitiba  
Anos iniciais: 1º ao 5º ano 4774 4846 4883 4827 4941 5234 5401 5880 5348  
Anos finais: 6º ao 9º ano 368 375 383 384 525 537 509 491 519  
Total 5841 5973 6007 5959 6286 6683 6806 10995 10498  
 
Escolas ensino infantil Ano 2008 Ano 2009 Ano 2010 Ano 2011 Ano 2012 Ano 2013 Ano 2014 Ano 2015 Ano 2016  
Município de Curitiba  
Creche 162 169 170 175 185 196 199 198 338  
Pré-escolar 249 257 266 262 273 277 284 288 2  
 
Ensino fundamental  
Município de Curitiba  
Anos iniciais: 1º ao 5º ano 171 174 178 178 180 183 183 183 184  
Anos finais: 6º ao 9º ano 11 11 11 11 11 11 12 11 16  
Total 593 611 625 649 678 680 540  
 

FONTE: Quadro elaborado pelos autores com base na coleta de dados no portal cidades Censo escolar do IBGE (IBGE 2016).

No ano de 2008, a Prefeitura Municipal de Curitiba ofereceu 343 cursos, a maioria extensão dos temas do ano anterior, com ênfase no campo da tecnologia, proporcionando 97.341 vagas. Interessados e inscritos totalizaram 75.227; destes, 62.032 concluíram o curso; 7.652 desistiram; e 5.543 profissionais não os finalizaram. Observa-se que 22.114 vagas não tiveram sequer inscrição. É um número bastante relevante, tendo em vista uma oferta oportunizada aos profissionais, que acabou não sendo aproveitada.

Com base nos dados do quadro 4, citado anteriormente, o número de vagas oferecidas pela prefeitura em 2008, tendo em vista os professores em exercício, daria uma média de 16.5 vagas para cada um. No entanto, tirando os desistentes e não concluintes do total de inscritos, pouco mais de 10 professores concluíram os cursos de formação continuada nesse período de um ano.

Questiona-se então: Por que esses profissionais não se mostraram interessados nessas vagas? Os cursos não eram atrativos? Estavam atrelados aos avanços e progressões no plano de carreira docente? São muitas as variáveis e possibilidades de respostas, mas, em face das reações políticas condicionantes dos gerentes de treinamentos da RME - Rede Municipal de Educação, sabemos que as capacitações na maioria das vezes estiveram atreladas a recompensa do certificado, critério para as progressões e avanço na carreira.

Por outro lado aqueles professores mais reflexivos e críticos acerca da qualidade da educação e da abordagem epistemológica ao programa de estudos, muitas vezes, tendem a questionar a baixa qualidade das palestras e cursos, desse modo, desistindo dos eventos, principalmente, quando é ministrado por formadores despreparados das equipes da própria secretaria da RME.

No ano de 2009, com a reeleição do prefeito Beto Richa, a Prefeitura de Curitiba proporcionou aos 5973 profissionais da educação em exercício a oferta de 243 cursos de formação, no total de 78.815 vagas. Nesse ano, inscreveram-se nos cursos 50.716 profissionais e, destes, 42.310 foram até a fase final. Já 4.345 foram desistentes e 4.061 começaram e não terminaram o curso. Apesar da maior adesão neste ano, o número de inscritos em relação aos concluintes apresentou diferença significativa. Por outro lado, entre o número de vagas ofertadas, inscritos e desistentes, os concluintes fizeram pouco mais de 7 cursos no ano cada um.

Em 2010, finalizando o mandato do Prefeito reeleito (Beto Richa), a Prefeitura Municipal de Curitiba ofertou aos 6007 profissionais da educação um total de 302 cursos, disponibilizando 78.254 vagas. Inscreveram-se, nesse ano, 65.581 profissionais, sendo que 55.974 concluíram os cursos, 4.412 não os finalizaram e 5.195 foram desistentes. Nesse período, registramos que em relação ao número de vagas ofertadas, inscritos e desistentes, os concluintes fizeram pouco mais de 9 cursos no ano cada um.

Os índices apresentados demonstram que, mesmo com a oferta de cursos muito maior em relação à gestão anterior, a adesão dos profissionais não atingiu sua totalidade, sobrando vagas, somados ao alto índice de desistência e não concluintes. O que se percebe nessa tendência reiterada de desistentes e não concluintes, ano após ano, é a falta de integração entre a gestão organizadora de formação continuada e a classe docente, o que concorre para a ideia de que as sobras de vagas poderia ser fator positivo de acordo com necessidades dos gerentes de educação.

Em relação ao governo anterior ao seu, Beto Richa destacou o município de Curitiba como referência para o país na educação infantil, na categoria período integral. O dirigente conseguiu criar em menos de quatro anos, quase 10 mil vagas nas creches, para praticamente zerar a fila de crianças de 0 a 5 anos que estavam à espera, alcançando na sua totalidade o índice de atendimento de 99% das crianças nessa faixa etária.

Ainda na sua primeira gestão e nos dois anos seguintes da segunda gestão, 2009-2010, o Prefeito Beto Richa ampliou de forma significativa a construção de escolas de ensino fundamental integral em todas as regiões da cidade de Curitiba, o que exigiu do município um novo comportamento na política de gestão, em especial no tocante ao oferecimento de no mínimo quatro refeições diárias, cuidados com a saúde e higiene, participação em atividades pedagógicas de acordo com a idade e ações esportivas, artísticas, culturais e de incentivo à leitura e à escrita.

Essa demanda exigiu que o município ampliasse as políticas públicas de valorização dos educadores por meio da oferta de capacitação profissional para além do aspecto quantitativo. Foi nesse ritmo de combinação entre a gestão neoliberal com a da função social, que durante a gestão de Beto Richa, Eleonora Bonato Fruet esteve à frente da Secretaria Municipal da Educação, quando se consolidou o slogan: Curitiba, cidade mais justa e mais solidária, lançando as bases de um modelo de desenvolvimento sustentável para a educação curitibana.

Na gestão de Luciano Ducci, nos anos de 2011 e 2012, a Prefeitura Municipal de Curitiba disponibilizou 734 cursos, que integravam projetos de semanas pedagógicas e formação continuada dos professores, distribuídos conforme demonstra o Quadro 4.

Quadro 5 Quantitativo dos cursos de formação continuada ministrados pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba durante a gestão Luciano Ducci - 2011-2012 

Ano Total: Cursos ofertados Vagas ofertadas Inscritos Concluíram Desistiram e não concluíram
2011 702 95.193 82.887 73.296 9.591
2012 32 4.320 - 3.239 -

Fonte: Quadro elaborado pelos autores a partir dos dados coletados no Arquivo Geral da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba em julho de 2019.

Em 2011, os 702 cursos propostos ofereceram 95.193 vagas para 5959 professores, pedagogos e diretores. O total de inscritos nesse ano foi de 82.887. Desses, 73.296 foram até o final do curso. Entre os desistentes e os que não concluíram o curso, chegou-se ao número de 9.591 profissionais. Nesse período cada educador chegou a participar de pouco mais de 12 eventos formativos: cursos, palestras, seminários e oficinas, durante o ano.

Observa-se que mesmo com toda a possibilidade oferecida no processo de formação continuada, nota-se uma contradição, pois faltaram candidatos para o número de vagas ofertadas. Ou no mais das vezes, o número de vagas proposto foi superestimado pela equipe diretiva de formação continuada.

No ano de 2012, apenas 32 cursos foram disponibilizados para um total de 6286 profissionais da educação, totalizando 4.320 vagas. Concluíram esses cursos 3.239 profissionais. Nesse ano, os documentos não apresentaram dados em relação a desistentes e não concluintes.

Os motivos dessa desaceleração na oferta dos cursos na formação dos profissionais são desconhecidos. O que é fato é que Luciano Ducci, na ocasião vice-prefeito e secretário municipal de saúde de Beto Richa, assumiu a prefeitura de Curitiba em 29/03/2010, para que Beto Richa pudesse se candidatar ao governo do Estado.

Estima-se que, no primeiro ano de Luciano Ducci na prefeitura de Curitiba, as políticas públicas destinadas à formação de professores estivessem encaminhadas, decorrentes das decisões tomadas ainda na gestão de Beto Richa, principalmente, pelo elevado capital político do ex-prefeito, que naquele momento, governador Beto Richa, vinha de uma política de elevados investimentos nesse campo.

É possível que na rápida e provisória gestão assumida pelo vice-prefeito Luciano Ducci, as políticas públicas orçamentárias da educação estivessem diretamente condicionadas ao período anterior, impossibilitando que Ducci determinasse qualquer investimento mais expressivo na esfera da formação continuada dos educadores.

No período seguinte, compreendido entre 2013 e 2016, na gestão do Prefeito Gustavo Fruet, a Prefeitura Municipal de Curitiba ofertou cursos, palestras, seminários e oficinas, para a formação do corpo docente em Curitiba e apresentou o seguinte cenário: o total de cursos-projetos e semanas pedagógicas totalizaram 604 eventos, assim distribuídos por ano.

Quadro 6 Quantitativo dos cursos de formação continuada ministrados pela Secretaria Municipal de Educação de Curitiba durante a gestão Gustavo Fruet - 2013-2016 

Ano Total: Cursos ofertados Vagas ofertadas Inscritos Concluíram
2013 49 10.744 - 6.387
2014 79 23.412 - 12.471
2015 16 10.097 9.010 6.300
2016 460 17.929 16.506 11.486

FONTE: Quadro elaborado pelos autores a partir dos dados coletados no Arquivo Geral da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba em julho de 2019.

No ano de 2013, 49 cursos foram disponibilizados para 6.683 profissionais da educação no total de 10.744 vagas ofertadas. Concluíram os cursos 6.387 profissionais. Não há dados sobre desistentes e não concluintes. Os números aqui apresentados não são nada animadores. É notório que não basta oferecer as vagas, mas, também, é de suma relevância estimular os profissionais para que aproveitem e utilizem das oportunidades de aprimoramento oferecidas.

Ainda na gestão de Gustavo Fruet, 2014, a Prefeitura Municipal de Curitiba, viabilizou 23.412 vagas para 6.806 professores, pedagogos e diretores, com 79 cursos de formação. Um total de 12.471 profissionais realizaram a formação até o final.

Em 2015, somente 16 cursos foram oferecidos pela Prefeitura, totalizando 10.097 vagas para 10.995 profissionais da educação. Foram inscritos, nesses cursos de formação, 9.010 profissionais. Desses, 6.300 concluíram. Não foram expressos os números de desistentes e dos que não concluíram os cursos. Nesse ano, apesar de poucos cursos ofertados, a adesão foi satisfatória.

Considerando o governo do Prefeito Gustavo Fruet, o ano 2016 foi o que mais disponibilizou a formação continuada para um total de 10.498 professores, totalizando 460 cursos de formação continuada, com 17.929 vagas ofertadas para os profissionais interessados. Inscreveram-se nesses cursos 16.506, sendo que, desses, foram concluintes 11.486. Dos desistentes e não conclusos, os documentos oficiais não trazem os dados para análise.

Considerações finais

Procuramos, na construção deste texto, trazer para a discussão o tema formação continuada de professores no município de Curitiba, por meio de uma abordagem qualitativa, sem perder de vista que, no recorte histórico, entre os anos de 1996 a 2016, período referente à gestão dos prefeitos que governaram Curitiba, o país recebia subsídios internacionais de organismos financeiros, principalmente do Banco Mundial e da Unesco para o desenvolvimento dos países pobres ou em desenvolvimento.

Nesse sentido, optamos por fazer uma incursão com a questão da globalização, pois entendemos que nesses tempos, denominados de “sociedade da informação” para países emergentes, quem dita o que se deve ensinar e o que se deve aprender são os financiadores, ou seja, é o conhecimento a serviço do desenvolvimento controlado.

Na primeira etapa da pesquisa, optamos por tratar do tema “Formação continuada” no contexto da cultura globalizada. Ou seja, pensar na formação continuada como uma exigência dos tempos atuais e como uma forma de formação humana e superação e adequação diante dos avanços tecnológicos. Procuramos fazer uma reflexão sobre a realidade da educação globalizada, para entender até que ponto as instituições responsáveis por oferecer a formação continuada estão atreladas ao poder econômico para atender às ideologias globalizadas do mercado, isto é, uma forma de promover que as pessoas estudem cada vez mais e, assim, fomentem a formação continuada.

Na segunda etapa da pesquisa, passamos à coleta de dados nos documentos sobre a formação continuada de professores no município de Curitiba entre os anos de 1997 a 2016. Tratamos, principalmente, de separar o material por gestão e de contar manualmente o número de cursos oferecidos por ano, observando a oferta de vagas e o número de participantes desistentes e concluintes. Trabalho pragmático e exaustivo, por conta da necessidade de selecionar e organizar os milhares de cursos, palestras, seminários e oficinas, para posteriormente somá-los e, por fim, tabulá-los para obter o resultado.

Por último, o que resultou dessa reflexão sobre o processo de formação continuada, especificamente sobre a educação no município de Curitiba, foi a intensificação da discussão sobre o tema, que exigiu estabelecer relações com o mundo do trabalho em permanente mudança, por conta dos desafios da ciência e da tecnologia no contexto da cultura globalizada. Além disso, a pesquisa resultou e trouxe à luz informações inéditas sobre a oferta de vagas e o número de docentes concluintes nos cursos de formação no período de cada gestor, o que revelou as decisões políticas e o compromisso com a educação por parte de cada prefeito durante o seu mandato. Estudos específicos sobre o conteúdo desses cursos possibilitarão analisar as tendências inseridas em cada uma das propostas apresentadas.

Documentos consultados

Os quantitativos que constam nos Quadros foram elaborados pelos autores a partir dos dados coletados no Arquivo Geral da Secretaria Municipal da Educação de Curitiba em julho de 2019.

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Recebido: 26 de Janeiro de 2022; Aceito: 31 de Agosto de 2022

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A pesquisa foi realizada com apoio financeiro da Fundação Araucária do Paraná.

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