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Revista Diálogo Educacional

versión impresa ISSN 1518-3483versión On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.22 no.75 Curitiba oct./dic 2022  Epub 26-Dic-2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.22.075.ds05 

Dossiê

Do foro íntimo ao institucional: o processo de arquivamento dos documentos pessoais de Clodomir Vianna Moog e sua potência para a pesquisa em História da Educação

From the intimate to the institutional: the safekeeping process of filing personal documents of Clodomir Vianna Moog and its power for research in History of Education

MARA ROSANE HAUBERTa 
http://orcid.org/0000-0001-6257-1675

LUCIANE SGARBI SANTOS GRAZZIOTINb 
http://orcid.org/0000-0001-5648-3855

aEscola Anita Garibaldi (SEMEC). Mestre em Educação, e-mail:

bUniversidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, RS, Brasil. Doutora em Educação, e-mail:


Resumo

O estudo tem como objetivo geral identificar as diferentes etapas que envolveram o processo de salvaguarda de documentos, sua potencialidade como documento histórico e para as discussões referentes à História da Educação. De modo específico, esse estudo centrou-se no processo de arquivamento dos documentos do escritor Gaúcho Clodomir Vianna Moog, guardados em nível privado, até sua disponibilização no arquivo do Memorial Jesuíta, localizado na Biblioteca Central da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos. O suporte metodológico abrangeu a História Oral e a análise documental histórica. De acordo com os pressupostos da história cultural e da História da Cultura Escrita, foi possível compreender que os arquivos pessoais são fontes históricas de fundamental importância para o fornecimento de subsídios e para problematização de tempos, espaços, sujeitos e seus modos de inserção na sociedade. O trabalho arquivístico desenvolvido nos documentos pessoais deve ser orientado pela gênese dos artefatos culturais. Além disso, entende-se que a custódia do patrimônio documental pessoal deve ser precedida do interesse de disponibilização para pesquisas, e o acesso aos pesquisadores deve ser facilitado e mais bem compreendido. A partir do estudo, foi possível vislumbrar que o campo de pesquisas em arquivos pessoais vem se alargando no que se refere ao interesse de distintas áreas do conhecimento sobre arquivos pessoais. Assim, alguns entendimentos acerca do seu aspecto privado se ampliaram, e a fonte documental de natureza pessoal pode fornecer subsídios indispensáveis para a historiografia.

Palavras-chave: Clodomir Vianna Moog; Arquivos pessoais; História da Educação; Memorial Jesuíta; Arquivamento.

Abstract

The study aims to identify the different stages that involved the process of safekeeping documents, its potentiality as historical document and for the discussions referring to History of Education. More specifically, this study focused on the safekeeping process of documents from the writer Clodomir Vianna Moog, from Rio Grande do Sul, Brazil, which were kept in private level, until its availability in the archive of the Jesuit Memorial, located at the Unisinos University's Central Library. The methodological basis enclosed Oral History and historical documentary analysis. In accordance with the assumptions of cultural history and History of Written Culture, it was possible to understand that personal archives are historical sources of fundamental importance for the supply of subsidies and discussion of times, spaces, subjects and their ways of inclusion in society. The archivistic work developed in personal documents must be guided by the genesis of the cultural devices. Moreover, this study understands that the safekeeping of personal documentary heritage must be preceded by the interest in making them available for research, and researchers' access to it must be facilitated and better understood. From the study, it was possible to observe that the field of researches in personal archives has been widening, regarding the interest of distinct areas of knowledge in personal archives. Thus, some agreements concerning its private feature had widened; and the documentary source of personal nature can supply indispensable subsidies to historiography.

Keywords: Clodomir Vianna Moog; Personal archives; History of Education; Jesuit Memorial; Safekeeping

Resumen

El estudio tiene como objetivo general identificar las diversas etapas que implicaron el proceso de salvaguarda de documentos, su potencialidad como documento histórico y para las discusiones referentes a la Historia de la Educación. De manera específica, este estudio se centró en el proceso de salvaguardia de los documentos del escritor Clodomir Vianna Moog, mantenidos en nivel privado, hasta su disponibilidad en el archivo del Memorial Jesuita, situado en la Biblioteca Central de la Universidad Unisinos. El suporte metodológico incluyó la Historia Oral y el análisis documental histórico. De acuerdo con presupuestos de historia cultural y de la Historia de la Cultura Escrita, fue posible entender que los archivos personales son fuentes históricas de fundamental importancia para obtener subsidios y para problematizar tiempos, espacios, sujetos y sus maneras de inserción en la sociedad. El trabajo archivístico desarrollado en documentos personales se debe dirigir por la génesis de los dispositivos culturales. Por otra parte, uno entiende que la salvaguardia del patrimonio documental personal se debe preceder del interés de la disponibilización para la investigación, y el acceso a los investigadores debe ser facilitado y mejor comprendido. Del estudio, fue posible observar que el campo de investigación en archivos personales si ensancha, cuanto al interés de las áreas distintas del conocimiento en archivos personales. Así, algunos entendimientos referentes a su aspecto privado se han extendido; y la fuente documental de naturaleza personal puede proveer subsidios imprescindibles para la historiografía.

Palabras clave: Clodomir Vianna Moog; Archivos personales; Historia de la Educación; Memorial Jesuita; Salvaguardia

“O arquivo mexe de imediato com a verdade e com o real [...] o sabor do arquivo se enraíza nesses encontros com silhuetas desfalecidas ou sublimes. Obscura beleza de tantas existências”. (FARGE, 2009).

Introdução

Esse estudo investiga o processo de salvaguarda dos documentos de um escritor gaúcho, Clodomir Vianna Moog1, no sentido de examinar determinados aspectos que envolvem a custódia de um arquivo pessoal e as implicações de foro íntimo e institucional identificadas no decurso.

Inspiradas nas palavras de Arlete Farge, entendemos que a imersão no percurso de salvaguarda no arquivo pessoal de um escritor como Clodomir Vianna Moog provoca uma ampliação das percepções sobre lugares e acontecimentos no período analisado, revolvendo assim as concepções de verdade e realidade em uma trajetória na qual nos deparamos com as múltiplas facetas de existência do escritor.

Com relação ao processo de mobilização dos documentos, nos amparamos na História da Cultura Escrita, que se relaciona com as inquietudes e com as mudanças ocorridas em um mundo que começa a perceber transformações nas técnicas de produção da escrita, nos suportes e na difusão e nas modalidades de apropriação dos textos (CASTILLO, 2002).

Vale recordar, no que tange à História da Cultura Escrita, que a necessidade, primeiramente contábil, de registrar a vida por meio da escrita remonta ao Antigo Egito. Conforme Perez Largaha (2002, p. 34) “[...] la escritura tuvo originalmente um carácter utilitário, la necessidade de conocer los recursos de que se disponía, pero también um componente ideológico”.

A História da Cultura Escrita esteve implicada no processo de tentar compreender o arquivo pessoal do escritor, uma vez que nos deparamos com diferentes tipologias de documentos escritos.

Os documentos analisados nesse estudo se relacionam com a importância conferida nas últimas décadas à salvaguarda do que vem sendo denominado arquivo pessoal. Essa forma de arquivo guarda evidências não só dos heróis, das transações legais e negociais, mas inclui documentos efêmeros, de foro íntimo, documentos que foram considerados marginais pelas vertentes historicistas e, desse modo, ampliam as percepções sobre determinados sujeitos e acontecimentos.

O arquivo pessoal de um escritor, em específico, pode contribuir de maneira relevante para a reflexão sobre vários aspectos de sua existência, mas não só. A análise dessas fontes alarga a possibilidade de visibilização do contexto político e social de um tempo, a partir de outros marcadores, e não somente sobre as atividades profissionais do escritor em questão.

Alberti (2006, p. 159) afirma que é comum haver “mais registros pessoais - como cartas, autobiografias, diários etc. - de práticas sociais em determinados grupos e classes”. Essa tipologia de documentos resulta em outras lentes para olhar para o passado.

No caso do escritor em questão, as suas funções diplomáticas e políticas ampliaram o leque de possibilidades de seu arquivo, não pelo valor de seus cargos ou atividades, mas pela gama de indícios sobre seus papéis sociais em uma determinada época. O arquivo de Vianna Moog indica o desenrolar de uma produção literária, são vestígios do caminho percorrido por um autor de romances e de vários ensaios. Revela, ainda, a trajetória de se sua própria construção pessoal, seus dilemas, seus conflitos e as transformações comuns a muitos indivíduos.

Esta pesquisa tem como um dos aportes teóricos a História Cultural que, segundo Pesavento (2003, p. 15), “trata-se, antes de tudo, de pensar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo”. Ao produzir seus romances, ensaios, colunas jornalísticas e demais escritos, Vianna Moog estabelecia relações que eram intermediadas por suas experiências pessoais, profissionais e culturais. Apontamentos com uma marca própria do escritor, porque se repetem em mais de um documento encontrado em seu arquivo, revelam um jeito singular de pensar e entender o mundo que transferia para as folhas, naquele momento, em sua grande maioria datilografadas, ou, ainda, escritas a próprio punho. Esses registros são páginas preservadas em seu arquivo pessoal, são outras histórias que precisam ser contadas em outro momento, porque, na discussão aqui proposta, nos deteremos a seu arquivo.

Entender historicamente o processo de arquivamento, analisar os documentos do escritor, problematizar esses espaços está relacionado a aspectos que vão além da literatura, pois os artefatos por ele produzidos são produtos culturais que designam jeitos de ser, de pensar e de estar no mundo; são traços da memória que dizem respeito a uma vida.

Valorizar um ator historicamente e abranger suas ações vai ao encontro do que propõe Ângela de Castro Gomes (1998, p. 123) ao entender que

[...] história cultural que, grosso modo, vai sendo proposta a partir desse longo esforço de reflexão e aprendizado, se quer distinta porque recusa fundamentalmente a "expulsão" do indivíduo da história, abandonando quaisquer modelos de corte estruturalista que não valorizem as vivências dos próprios atores históricos, postulados como sujeitos de suas ações.

Nesse sentido, os artefatos do arquivo de Vianna Moog trazem consigo indícios de um período; os ajuntamentos pessoais são peças reunidas que formam um desenho que segue uma lógica estruturante e designa uma arquitetura maior, um mosaico. Entendemos que a potencialidade do estudo que ora apresentamos diz respeito à concepção de que há uma ação posterior ao acúmulo de arquivos que vai além da esfera jurídica, profissional ou pessoal do seu titular, e seu uso é destinado à pesquisa realizada por terceiros (CUNHA 2017). Sim, não basta guardar, preservar, porque é necessário problematizar esses documentos de memória, esses trajetos percorridos pelos indivíduos.

Pode-se pensar que tais documentos são uma metonímia, ou seja, tomam o todo pela parte; olha-se um arquivo particular para se refletir sobre ele em si, na sua individualidade, mas também para pensar o global. Em tempos de questionamentos de fatos históricos, os arquivos pessoais são fundamentais produtores de argumentos sólidos, e, por consequência, podem fomentar uma discussão mais crítica, na contemporaneidade, sobre temas políticos, sociais e culturais.

No romance o tempo entre costuras, obra da escritora María Dueñas, há um trecho que faz referência ao fato de a personagem principal ter sido uma costureira que era também uma espiã na Segunda Guerra Mundial. A relevância de suas ações para a História que se desenvolveu provavelmente não será visibilizada. Nesse sentido, Dueñas (2017, p. 543) faz a seguinte constatação:

Nossos destinos poderiam ser esses ou outros totalmente diferentes, porque o fim que levamos não ficou registrado em nenhum lugar. Talvez nem sequer tenhamos chegado a existir. Ou talvez sim, mas ninguém percebeu nossa presença. Afinal de contas, sempre estivemos por trás da história, ativamente invisíveis naquele tempo que vivemos entre costuras.

Essa reflexão reforça a crença nos arquivos pessoais; por meio deles talvez alguns personagens esmaecidos ou invisibilizados cheguem a existir na narrativa historiográfica.

Portanto, quanto mais pesquisas dotadas de historicidade forem realizadas no sentido de pensar e problematizar os arquivos pessoais, mais subsídios terá a história, mas não só. Os arquivos pessoais são fontes documentais com possibilidades para várias áreas do conhecimento acerca de indivíduos em seu tempo. Por serem traços de memórias individuais e também coletivas, são suscetíveis para pesquisas porque podem produzir inúmeras elaborações. Para Ketelaar (2018, p. 197),

[...] toda vez que um criador, usuário ou arquivista interage com um documento, intervindo, interrogando e interpretando, esse documento é construído de maneira ativa. Cada ativação deixa marcas no documento ou em seu contexto, as quais constituem os atributos da significação ilimitada dos arquivos.

Nesse estudo, ao interagir com os documentos, ativamos memórias e deixamos marcas, conforme afirma Ketelaar (2018). Com o objetivo de identificar as diferentes etapas que envolveram o processo de salvaguarda dos documentos de Vianna Moog, com foco no processo de constituição de seu arquivo, desde seu translado do espaço privado ao Acervo do Memorial Jesuíta2, significamos de outros modos o Arquivo em questão.

Dividiram-se as seções de modo a, em um primeiro momento, mobilizar alguns conceitos e visibilizar o aporte teórico utilizado para a discussão; em segundo lugar, analisar o arquivo pessoal do escritor Vianna Moog, em sua constituição e potencialidade como documento histórico para as discussões referentes à História da Educação; e, em terceiro, descrever o processo de salvaguarda do arquivo pessoal do escritor desde a sua aquisição até a higienização, conservação e disponibilização para consulta no espaço institucional de uma universidade jesuíta.

Considerações teóricas e metodológicas e articulações com a História da Educação

Entendemos aqui que os arquivos pessoais são semelhantes a um dispositivo de acesso, uma chave que alinha o nosso marco temporal para a interpretação de um tempo, porque somos história por meio das pesquisas que são feitas por historiadores que encontram nos documentos dos sujeitos aportes para seus estudos.

Também importa destacar que alguns entendimentos, neste estudo, são obtidos pela óptica de Le Goff, que propõe ampliar as discussões sobre história e documento (1990, p. 06):

[...] do mesmo modo que se fez no século XX a crítica da noção de fato histórico, que não é um objeto dado e acabado, pois resulta da construção do historiador, também se faz hoje a crítica da noção de documento, que não é um material bruto, objetivo e [pg. 010] inocente, mas que exprime o poder da sociedade do passado sobre a memória e o futuro: o documento é monumento.

Assim, a noção de documento é ampliada e a partir da própria história oral; algumas percepções sobre fatos históricos são obtidas por meio dessa metodologia de estudos. O gestual, a forma de arquivamento e toda uma gama de particularidades estão atreladas aos entendimentos sobre o patrimônio documental. Foi por meio da metodologia da história oral que foi possível, através das narrativas de Enildo Moura de Carvalho3 e Isabel Arendt4, fazer uma imersão nas intricadas redes de disputas, dilemas e incertezas que subjazem à perenização de memórias.

Em vista disso, as fontes históricas exigem um aprofundamento quanto ao seu uso científico. Não basta retirar dados delas, como se fossem estanques, e reproduzir informações, mas criticamente analisar, além da sua materialidade estrutural, as condições de produção de tais documentos. Quem os produziu? Em que contexto eram utilizados? Qual é a sua finalidade? Por que e como foram preservados? Ou seja, a circulação em um meio social e as suas funções textuais, por tabela, são sociais. E seu uso para estudo deve estar atrelado a demais documentos, não necessariamente da mesma circunstância de produção.

Essas interrogações fizeram parte do percurso de pesquisa, que se dedicou a compreender diferentes aspectos que envolvem a produção, guarda e utilização de um arquivo pessoal. Desse modo, importa priorizar algumas distinções e argumentos que sustem um estudo acadêmico. Iniciemos pelas acepções dos termos “acervo” e “arquivo”. Alguns autores entendem e definem de maneiras distintas os dois conceitos; considera-se aqui que existe diferença, de fato, entre os significados das terminologias.

Em 1898, baseando-se nas normas e definições de dois holandeses, Samuel Muller e Joahn Feit, Cook (2018, p. 22) define arquivo como “[...] o conjunto de documentos escritos, desenhos e material impresso, recebidos ou produzidos oficialmente por determinado órgão administrativo, ou algum de seus funcionários”, a saber, funcionários das empresas, instituições das quais a documentação foi preservada. Note-se que, mesmo sendo produzido por um funcionário, o arquivo aqui pensado é institucional e designa o artefato gráfico como documento. No entanto, Catherine Hobbs (2018, p. 261) faz uma ressalva com relação aos arquivos pessoais, destacando que,

embora esses arquivos de fato, geralmente representem um testemunho registrado das atividades de seu produtor, tal como ocorre com os arquivos das organizações, os arquivos pessoais contêm igualmente indícios do caráter individual do produtor da documentação.

Assim, admite-se que arquivo não é somente o documento mas o seu produtor e as circunstâncias de produção. A autora também discute a pouca evidência de trabalhos sobre o tema e utiliza-se de termos como “certo silêncio” para denotar a falta de pesquisas sobre determinados espaços de preservação da memória pessoal.

Farge diz que “O arquivo não se parece nem com os textos, nem com os documentos impressos, nem com os “relatos”, nem com as correspondências, nem com os diários, e nem mesmo com as autobiografias” (2009, p. 11), porque é mais que a estrutura material, é mais que um único gênero textual, mais do que falam sobre ele; é, pois, o conjunto da obra, a criação.

Para Brothmann (2018, p. 85), a discussão sobre arquivos pessoais vai além da simples terminologia e seu enfoque, porque

Busca incentivar uma reflexão mais profunda sobre os significados culturais da atividade arquivística contemporânea e o contexto em que eles ocorrem e ganham forma, bem como um exame do papel social específico dos arquivos na sociedade.

Nesse entendimento, o estudo desenvolvido aponta para o fato de que o trabalho arquivístico, desempenhado sobre o conjunto de documentos, deve ser problematizado nas discussões sobre o arquivo, de modo geral, porque são ações que impactam decisivamente no processo de arquivamento, preservação e disponibilização para consulta. É importante, portanto, desnaturalizar as práticas de arquivamento no que se refere a compreender os significados atribuídos ao arquivo. Segundo Heymann (2013, p. 75), “os investimentos pessoais, imagem pública e visões de mundo se objetivam nos arquivos pessoais e nos usos que seus titulares ou seus herdeiros lhes conferem”. Nessa perspectiva, aponta que

[...] longe de ser um objeto autônomo e unificado, o arquivo é formado por múltiplos elementos e possui uma identidade contingente, que pode ser desmembramentos ou ser reintegrada de formas diferentes, por meio de novas conceituações (HEYMANN, 2013, p. 73).

Pensar em arquivo, então, é refletir sobre um objeto de corpo disforme, com múltiplas etapas de composição que não são lineares. Ao se constituir, vai moldando-se, adquirindo forma própria ou desmembrando-se ao longo do tempo e, mesmo assim, permanece arquivo.

Por isso, é complexo compreender um arquivo apenas como um conjunto documental de determinada procedência. Conforme Palmeira (2013, p. 92), “considerar o modo pelo qual o conjunto documental com que se lida foi formado e preservado é um dos passos necessários de um controle reflexivo do processo de produção de pesquisa”. É esse um dos rumos que se tomou neste estudo, no qual se pensou o contexto de produção e acumulação documental de um indivíduo e sua subsequente institucionalização.

Assim como essa, cresce0m as investigações sobre os indivíduos ditos comuns, ou seja, homens e mulheres do dia a dia, personalidades pouco notadas anteriormente pela história, e não somente aquelas elevadas pelas suas posições sociais de destaque. Discute-se, na atualidade, o lugar negado à mulher e os silenciamentos de outrora, pois não encontram guarida na escrita da história, que só valorizou documentos oficiais. Sobre o tema, Cunha (2017, p. 189) lembra que

uma realidade passada torna-se acessível, uma vez que documentos pessoais, ordinários, podem ser considerados vestígio de sensibilidades circunscritas num tempo e espaço. Ao contemplá-los e percebê-los como objetos de memória o exercício da reflexão propicia a elaboração de perguntas sobre as circunstâncias históricas de produção e de consumo desses, em geral, suportes da cultura escrita como a produção de significados pelos sujeitos que os produziram.

Compreender os arquivos pessoais é, portanto, ampliar as percepções sobre as manifestações culturais humanas que revelam um jeito particular de articular relações sociais; as singularidades construídas denotam influências que vão além do cargo, ou de função exercida em âmbito político ou social, pois tratam do aspecto humano.

Por isso, a aquisição de arquivos pessoais por instituições públicas ou privadas exige sempre um olhar atento às suas particularidades. Similarmente, realizar a doação de um arquivo pessoal, seja pelo doador/autor do arquivo, ou um parente após sua morte, pode assemelhar-se ao ato de “transferir a sua própria vida”, e essa ação por si só demanda certos critérios de compreensão desses conjuntos documentais (HOBBS, 2018).

Perceber as várias nuances de um escritor a partir de seu arquivo pessoal é uma possibilidade de entender melhor o aspecto humanizador dos documentos; e seu resguardo é fundamental para a história, pois, como afirma Cox (2017, p. 255),

[...] a destruição deliberada como meio de se obliterar a memória e o patrimônio de um povo nos faz compreender de maneira exemplar porque os documentos, mesmo aqueles papéis pessoais aparentemente sem muita importância, são capazes de transmitir valores fundamentais de geração para geração.

Dessa maneira, o aniquilamento desses documentos pode ocasionar uma perda de identidade e é, muitas vezes, a causa de equívocos e distorções mal-intencionadas da cultura e do patrimônio histórico e social de povos inteiros. Por conseguinte, entende-se que os arquivos pessoais são semelhantes a um dispositivo de acesso, uma chave que alinha o nosso marco temporal para a interpretação de um tempo; porque somos história por meio das pesquisas que são feitas por historiadores que encontram nos documentos dos sujeitos aportes decisivos para seus estudos.

É importante entender que os registros de memória contidos nos arquivos privados são os maiores atributos dessas séries documentais, porque podem quebrar a cronologia oficial e reconfigurar limites e espaços sociais da vida cotidiana (LORIGA, 2009, p. 15). Os arquivos são compostos por documentos de vida e fazem pertencer a um tempo e a um espaço que é, antes de tudo, social e histórico. Com isso, podemos não ser ausência, ou esquecimento, porque estamos circunscritos temporal e socialmente por nossos vestígios documentais. Consequentemente, as relações que efetivamos em nossas vidas, sejam elas sociais, afetivas, ou legislativas e, enfim, civis, são suscetíveis à interpretação por meio de nossos arquivos pessoais.

Quanto ao arquivo pessoal estudado, contabiliza-se aproximadamente setenta e dois mil documentos, entre esses, cinco mil volumes de livros pertencentes à biblioteca do autor. Unindo-se a eles, centenas de documentos de diferentes tipologias, com destaque para: cartas trocadas entre escritores da época solicitando opiniões e avaliações sobre respectivas obras, há cartas de Jorge Amado, Erico Veríssimo e tantos outros; documentos oficiais de nomeações para cargos oficiais; fotografias registrando momentos solenes e de sua vida privada; bilhetes entre amigos para tratar das nomeações para a Academia Brasileira de Letras; serie muito numerosa de manuscritos que indicam o processo criativo da obra “Bandeirantes e pioneiros” e recortes de diferentes jornais com matérias sobre o Escritor. Essas tipologias se destacam em meio a tantas outras e as possibilidades de pesquisa são inúmeras. Entre espaços preenchidos e vazios é possível percorrer, pelos corredores da memória, diferentes temporalidades da vida e da obra de Vianna Moog.

Há lacunas, e sempre haverá, de um mundo que necessita ser interpretado; e, para tal, nossos vestígios, nossos sinais, nossos documentos pessoais são memórias individuais e concomitantemente narrativas coletivas que oportunizam determinadas interpretações. Consoante com Galvão e Lopes (2010, p. 65), “[...] o passado é imponderável, então, como ter acesso a ele?” Talvez pelo gesto de guardar narrativas do passado, presentes em distintos suportes, esses são os rastros sociais, históricos por natureza.

Para além da discussão com relação aos processos de arquivamento travada até aqui, outro aspecto merece destaque, uma vez que esta pesquisa está relacionada à educação: pensar o arquivo aqui discutido a partir de sua relação com a História da Educação como campo de investigação. Em que medida ele se relaciona, se articula e contribui para a ampliação das reflexões sobre esse campo, esse é o exercício de pensamento que se faz a seguir.

Este estudo entende que os arquivos pessoais são possibilidades para a interpretação de passados distantes, analisados no presente. O patrimônio documental dos sujeitos é uma das maneiras de abordar questões do passado que repercutem na contemporaneidade por meio de relações que se estabelecem via discussão histórica. Galvão e Lopes (2010, p. 43) atentam para a compreensão de que muitos fatos acerca de vários temas estão relacionados à história da educação:

Atualmente, pode-se falar de forma mais apropriada em histórias da educação, pois as investigações que vêm sendo realizadas no campo não se restringem mais ao ensino e ao pensamento pedagógico, objetos tradicionais da disciplina. A aproximação da história da educação com outras das ciências humanas e com outras áreas da história contribuiu para que as crianças e os jovens, os intelectuais, o livro e a leitura, as mulheres etc. também se tornassem objeto da disciplina.

Fundamentalmente, o campo de pesquisas nos arquivos pessoais é potente para a história da educação, mas os documentos exigem determinados investimentos dos pesquisadores. Para tanto, é importante o entendimento de educação em uma conceitualização ampla, ou, melhor dizendo, compreender a educação como um processo que é, antes de tudo, cultural, político e econômico.

Nesse sentido, a compreensão de que educação é um processo amplo historicamente produzido e que acontece de diversas formas em vários aspectos do âmbito humano é fundamental. Não ocorre somente na escola; ela é, antes tudo, um conjunto de inúmeras ações e situações controladas, ou não. Por isso, a pertinência do Arquivo Vianna Moog (AVM), porque, conforme Veiga (2003, p. 14), “o historiador não pode perder de vista seu objeto principal: as diferenças e mudanças ocorridas nas sociedades em lugares e tempos diversos”.

Desse modo, pelos avanços ocorridos e projetados nas pesquisas em história da educação e pela variada gama de objetos para o estudo nessa área, é importante compreender os arquivos pessoais como documentos fecundos para as discussões da temática educacional.

Vianna Moog, na visão desta pesquisa, é um intelectual; e, portanto, sua relação com a educação pode ser estudada por meio do seu arquivo pessoal, uma vez que “as próprias noções de ‘intelectual’ e ‘intelectual da educação’ têm sido problematizadas” (GALVÃO; LOPES, 2010, p. 46).

As linhas de definição e distinção entre alguns termos estão sendo revistas constantemente pela nova historiografia, bem como a visão sobre alguns processos educativos. Assim como a circulação, por meio de jornais e revistas, do entendimento sobre política, religião, cultura e sociedade na percepção de determinados escritores, eles podem constituir a gênese dos influenciadores de opiniões. Nesse sentido, Galvão e Lopes (2010, p. 46) escrevem:

[…] sabemos que no século XIX, por exemplo, não havia uma distinção nítida entre campos do conhecimento; homens públicos opinavam sobre assuntos diversos- incluindo a educação. Nesse sentido, ganham relevo hoje os estudos que discutem não apenas as ideias pedagógicas desses sujeitos, mas também os processos de formação intelectual, as redes de sociabilidades, as viagens formativas, o papel da imprensa e de outros veículos, as estratégias de legitimação etc.

Vianna Moog publicou, leu e escreveu sobre vários temas, discutiu desde a formação do povo brasileiro até as questões políticas em voga. Situações de racismo e discriminação também tiveram seu ponto de vista exposto em seus romances. O autor circulou por espaços bastante variados, viajou inúmeras vezes e, na maioria das atividades, desempenhou funções políticas sob orientação de governos federais, estaduais, ou municipais, envolvendo-se com temáticas caras às pesquisas no campo da História da Educação.

Sobre esse campo há, ainda, outro aspecto em particular do AVM: ele está preservado em uma universidade jesuíta, reconhecidamente uma referência nacional de pesquisa em educação e, pode-se dizer, com inserção internacional. Esse atributo lhe confere alguma especificidade em relação a circulação, a visibilização e, portanto, a facilidade de acesso dos pesquisadores interessados nos documentos do autor com finalidade de investigação acadêmica.

Considerando que Vianna Moog foi um intelectual de seu tempo, reforçamos que produziu um complexo arquivo pessoal. No percurso de “olhar” seus documentos, entendemos que os arquivos privados de escritores são - para além da possibilidade de conhecermos os caminhos dos autores e suas trajetórias - uma oportunidade para compreendermos seus processos de escrita, por meio dos artefatos que visibilizam a elaboração de suas obras. Ao transformarmos esses artefatos em documentos arquivados em espaços próprios, que facilitem o acesso para a pesquisa, reconhecemos e estimulamos seu valor histórico.

Da mesma forma, propomo-nos a pensar algumas questões da Educação, seja pela disseminação de editoras e publicações que ocorreram no período em que Moog constituiu-se como um escritor, seja por inúmeras produções em que ele discutia temas que afetaram e afetam, até a atualidade, a educação brasileira. E, assim, é possível compreender uma lógica de produção literária que imprimia e reproduzia valores sociais, políticos e econômicos em voga e identificar comportamentos cotidianos de indivíduos em uma sociedade.

Em vista disso, reforçamos a percepção de que os artefatos memorialísticos, em especial de escritores, são importantes para a História da Educação, porque “os autores não são somente testemunhas da escola de sua infância ou da idade adulta: eles são intérpretes sensíveis e apaixonados dos processos familiares e sociais” (GALVÃO; LOPES, 2010, p. 73), porque a educação não é um processo isolado, e essas questões são intrínsecas a ela.

Isto posto, compreender o arquivo pessoal de um escritor é, antes de tudo, identificar as formas de produção da escrita e leitura de uma sociedade que se constitui e se articula por meio da educação de várias formas, seja pelo acesso a ela negado, mesmo na atualidade - em que tanto se diz sobre facilitar os meios para a disseminação da leitura e da escrita -, seja pelo privilégio que nem todos têm de ler e escrever, seja porque o arquivo pessoal de um escritor, devidamente analisado, pode fornecer subsídios para se pensar em políticas educacionais para a educação.

Uma população só evolui ao entender seus processos sociais, e, só assim, é possível vislumbrar possibilidades reais de crescimento educacional. Portanto, o arquivo de um escritor é fonte de inúmeras vias para se pensar a história da educação em distintos períodos históricos, em específico as vias percorridas por escritores para que fossem escritas e publicadas suas obras.

Conforme Carvalho reconhece em seu trabalho de doutorado, a partir dos estudos realizados no Arquivo Vianna Moog (2011, p. 21),

[...] esse modo de observação das diversas faces do autor talvez sirva mais como forma de identificação do texto em questão, ou ainda, como ferramenta que permita situá-lo no meio em que está inserido, seja entre intelectuais contemporâneos de sua geração, seja no meio jornalístico, ou político em detrimento de uma expressão que vise enquadrá-lo numa determinada condição pré-estabelecida e reconhecida como sendo unicamente do romancista.

Com isso, seus documentos são indícios de tempos que são, fundamentalmente, históricos. E, dessa maneira, interpretar essa cultura material, na visão de Samara e Tupy (2010), é importantíssimo. Além disso, segundo Galvão e Lopes (2010, p. 63),

[...] agregar a dimensão cultural aos estudos de organização material do núcleo doméstico, estudando os objetos e os artefatos, inova a historiografia, pois busca entendê-los no viver cotidiano, bem como as relações de uso e troca criadas pelos mesmos.

Desse modo, evidencia-se a pertinência da História da Cultura Escrita, uma vez que

[…] como objeto de reflexión, debate e investigación hasta puede que atraviesen por uno de sus momentos más fértiles. Indudablemente todo ello ha tenido mucho que ver con las inquietudes despertadas por la entrada en un mundo donde se empiezan a percibir transformaciones importantes y paralelas en las técnicas de producción de la escritura, en los soportes de su difusión y en las modalidades de su apropiación. (GÓMEZ, 2002, p. 15).

A história é narrativa e, por conseguinte, passiva de constantes análises, assim como os limites entre a narrativa histórica e a literária são demarcados por linhas tênues, que necessitam uma melhor compreensão. Necessitamos de novas miradas; entender certos processos sociais, como o caso do arquivamento de si, já não demanda os mesmos olhares, as mesmas perspectivas.

Revisitamo-nos sistematicamente por meio da memória contida nos arquivos pessoais. Para Cox (2017), todo o documento que examinamos - uma carta, um cheque, um recibo ou um formulário jurídico - é o resultado de gerações, talvez séculos de desenvolvimento. Percebemos aí o que há de fundamental nos arquivos individuais: a coletividade do pessoal, que revela o coletivo, aquilo que um testemunho pode fornecer de indícios de uma sociedade em constante transformação, ou reafirmação.

O arquivo pessoal do escritor Vianna Moog, sua constituição e sua potencialidade histórica

A produção de um arquivo da própria vida, durante uma existência, tem diferentes elementos para serem analisados. Como em toda a pesquisa histórica, ao realizar-se um processo de ir atrás de pistas, identificamos alguns indícios que nos permitiram compreender alguns desses elementos.

A partir da leitura de uma série de entrevistas realizadas por Vera Regina Morganti com esposas de escritores nacionais e publicadas em livro intitulado Confissões do amor e da arte (1994), foi possível identificar alguns aspectos da vida de Frigga Camara Moog. Para além de ser esposa, ela cumpriu um papel relevante no estudo empreendido, porque, ao que tudo indica, foi decisiva na constituição do arquivo pessoal do escritor.

Os relatos da filha Ana, fornecidos para a escrita da tese de Enildo Moura de Carvalho em 2011), indicam a contribuição da esposa de Moog na trajetória do escritor. Ana destacou que era a mãe que articulava a vida privada e a vida social de Vianna, além de providenciar o aparato para que suas viagens e compromissos sociais fossem possíveis.

Desses compromissos profissionais, artísticos, sociais e de vida privada, Frigga Camara Moog acumulou recordações e indícios materiais que manteve organizados e conservados durante sua vida inteira. O pai delegava à sua mãe a tarefa de gerir a vida da família para que ele pudesse seguir sua carreira. Inclusive, tal qual relatou Ana, por ocasião de uma entrevista, em sua casa em Petrópolis/RJ, concedida a Enildo (2018), grande parte do arquivo pessoal do autor foi organizada e preservada pela esposa dele.

Alguns aspectos do relato de Frigga Moog registrados em entrevista a Morganti merecem especial atenção. O primeiro é que a constituição do arquivo pessoal de Vianna Moog é também a constituição do arquivo de sua família, esposa e filhos. A partir da narrativa de Frigga, é possível compreender a relação próxima dela com a preservação e constituição do AVM.

O segundo trata de um fato bastante decisivo na salvaguarda de materiais para arquivos, no caso, o espaço de arquivamento físico no âmbito privado, aquele local que necessita ser disponibilizado para outros itens do cotidiano, aquela área na casa que tem a ver com as exigências e urgências estruturais domésticas e que faz com que ocorra, muitas vezes, o descarte de documentos.

A filha guardou seu arquivo um bom tempo após a morte do pai em um apartamento no Rio de Janeiro, a pedido da mãe. Ela teve autonomia sobre os materiais salvaguardados do pai somente após a morte da mãe, como tutora legal do AVM, legalmente constituída pelos outros dois irmãos. Frigga Moog vivia em um conflito comum aos parentes que detêm arquivos pessoais de seus familiares. Ela, conforme Ana Maria, oscilava entre doar ou não; ora queria doar para uma universidade, ora não. O desapego em prol de pesquisas e da divulgação pública dos vestígios dos seus entes familiares implica também a exposição da vida privada, ainda que, sabe-se, detalhes sejam habilmente suprimidos, selecionados e omitidos em todo arquivo pessoal, porque, como defende Hobbs (2018, p. 261) “os arquivos pessoais contêm documentos sobre as vidas particulares e a personalidade humana”.

A questão é maior do que desprender-se do material físico propriamente; é um apego também emocional, sentimental. Trata-se de uma relação que pode ser muitas vezes psicológica, logística ou, infelizmente, até financeira, caso de arquivos privados que são vendidos para instituições que oferecem valores monetários aos familiares herdeiros do patrimônio documental.

Também pode ocorrer o inverso, familiares que entendem os arquivos privados como uma herança individual, no sentido de obterem vantagens pecuniárias e desconhecerem os valores humanitários desses documentos. Por conseguinte, há uma questão cultural envolvida no entendimento de arquivos pessoais que precisa ser compreendida de outra maneira. Assim como, para Cook (2018, p. 63) “[...] a principal justificativa para os arquivos é a sua capacidade de oferecer aos cidadãos um senso de identidade, origem, história e memória social e coletiva”, arquivos privados ou institucionais são, antes de tudo e de todos, patrimônio da humanidade.

Acreditamos que o AVM seja, também, o arquivo de sua família, da história de Frigga Moog e de seu esposo, pai dos seus filhos, porque não foi produzido unicamente por ele. Muitos dos materiais salvaguardados no Memorial Jesuíta, em específico no AVM, apontaram para o lugar de sua esposa na vida e obra do autor, por ela referido como “Clodo”.

O processo de salvaguarda do arquivo pessoal de Vianna Moog: do privado ao institucional

O Memorial Jesuíta pertence à Associação Antônio Vieira, mantenedora da Universidade do Vale do Rio dos Sinos foi projetado e idealizado, inicialmente, com a prerrogativa de preservar e disponibilizar para pesquisas os documentos alusivos à memória e à história da atuação dos jesuítas da Companhia de Jesus, na América Latina. Assim, abriga um acervo com obras raras com mais de 26 mil títulos editados entre os séculos XV e XX. São textos dos quais, muitas vezes, não é possível saber a procedência; boa parte chegou ao Brasil na bagagem de alguns jesuítas que vieram da Alemanha para o Sul do país há mais de 150 anos, por volta de 1824. São coleções vindas da Europa, América e Ásia, em latim, alemão, italiano, francês, espanhol e português.

Além do arquivo de obras raras, existem os livros e materiais didáticos do antigo Colégio Máximo Cristo Rei,5 de São Leopoldo, do colégio Anchieta, de Porto Alegre, e do Colégio Catarinense, de Santa Catarina, antigas instituições de formação dos jesuítas no Sul do país. Conforme dossiê encaminhado pela instituição sobre o Memorial, é possível dimensionar o tamanho do acervo bibliográfico e a procedência da maioria dos materiais salvaguardados pela instituição de ensino superior Unisinos - Campus São Leopoldo/RS (UNISINOS, 2017):

O Acervo Bibliográfico soma em torno de 200 mil itens, procedentes da biblioteca das antigas faculdades de Filosofia e Teologia Cristo Rei, da biblioteca histórica do Colégio Anchieta de Porto Alegre, do Seminário de Salvador do Sul, da Biblioteca Histórica do Colégio Catarinense, parte do conjunto de bibliotecas reunidas nos prédios da antiga sede da Unisinos no centro de São Leopoldo, além de bibliotecas doadas por particulares.

Além de disponibilizar esse acervo significativo, desde 2001 a Universidade assumiu a tarefa de reunir os acervos históricos, biblioteconômicos e documentais, que foram sendo reunidos durante quase 150 anos de existência dos diversos colégios, seminários e paróquias fundados e/ou mantidos pelos jesuítas no sul do Brasil, agora reunidos sob o Memorial Jesuíta Unisinos.

O acervo bibliográfico do Memorial Jesuíta abriga a Coleção Cristo Rei, que possui em torno de 58.811 itens entre material didático e livros; a Coleção Antônio Vieira, com 83.000 documentos; a Coleção de periódicos de Santo Inácio de Loyola, que totaliza cerca de 1.223 exemplares; e a Coleção Obras Raras e Especiais, com 23.371 itens do século XV e XX.

O AVM faz parte do acervo documental do Memorial Jesuíta e, por via de consulta no site do memorial, é possível perceber que seu patrimônio documental está classificado entre os arquivos pessoais de jesuítas com produção científica.

No quadro 1, é possível visualizar alguns dos arquivos que o acervo do Memorial Jesuíta abriga, dentre eles o AVM. Embora o quadro contenha outros documentos, além do arquivo de Moog, optamos em sistematizá-lo e disponibilizá-lo nesse estudo como forma de divulgação do potencial de investigação do Memorial Jesuíta para a História, de modo geral, e para a História da Educação, especificamente.

Quadro 1 Acervo Documental 

Nome do arquivo Especificidade
Arquivos Pessoais de Jesuítas com produção científica Theodor Amstad (1851-1938),Max von Lassberg (1857-1944), Johannes Rick (1869-1946) e Balduino Rambo (1905-1961),
Werner von und zur Mühlen (1874-1939), além de leigos como o professor alemão Kurt Walzer (chegou ao Brasil em 1937 e atuou na Escola Normal Católica), o advogado e indigenista Júlio Marcos Germany Gaiger (1956-2004), o advogado, jornalista, romancista e ensaísta Clodomir Vianna Moog (1906-1988), o professor de filosofia e crítico de música e arte Aldo Obino (1913-2007).
Arquivos institucionais Fundo da Sociedade União Popular - Volksverein (1912-1990), Fundo do Centro de Documentação e Pesquisa - CEDOPE (1970-2001), Coleção Círculo Operário Leopoldense.
Acervo de Imigração Compõe-se de periódicos, dentre eles almanaques editados na primeira metade do século XX, na sua maioria em língua alemã; bibliografia sobre imigração alemã, material didático editado predominantemente para as escolas comunitárias na primeira metade do século XX.
Coleção de Jornais Esta coleção é composta por 345 volumes encadernados, compreendendo Correio do Povo (1939-1992); Jornal NH (1963 a 1992), Correio Rural (1958-1984), Brasil-Post (1958-1992), Deutsches Volksblatt (1883 a 1940; 58 volumes somando cerca de 42.000 páginas), Deutsche Post (1880-1928 em 45 microfilmes), Mitteilungen des katholischen Lehrer- und Erziehungsvereins in Rio Grande do Sul [Boletim da Associação de Professores Católicos Alemães no RS], 1900-1939 (em suporte híbrido: microfilme e digital); dentre outros exemplares avulsos.

Fonte: Elaborado pelas autoras (2020) com base no Memorial Jesuíta.

Em entrevista concedida para essa pesquisa, Isabel Arendt, que trabalhava no Memorial Jesuíta e estava presente no momento de recepção dos documentos, relatou determinados aspectos sobre à chegada dos documentos à Universidade, sobre os espaços disponíveis, explicando por que esse foi entendido como o mais adequado para encaixar o Arquivo Vianna Moog. Uma vez que ele não foi um jesuíta com produção científica, seu arquivo é único no espaço de preservação a ele destinado. Segundo Arendt, se pode refletir a necessidade de existência de fundos destinados a escritores; como essa realidade não foi possível, o lado positivo é que a salvaguarda pela universidade permite que se ampliem os estudos sobre o autor e amplia a possibilidades de conservação de outros arquivos privados.

O acolhimento do AVM é motivo para ações e investimentos para que se ampliem as publicações e estudos sobre o autor e suas obras, dada a importância histórica do material preservado. Como guardiã, ou instituição de custódia do Arquivo Vianna Moog, a Unisinos investe na organização dos materiais e na disponibilização para consultas. Possuía um local com condições adequadas de conservação e uso e que se alargou para outros documentos, como fundos, periódicos e materiais diversos, além de livros didáticos.

O tratamento dado ao Arquivo Vianna Moog e a organização arquivista, bem como o acesso possibilitado aos interessados e a divulgação dos materiais salvaguardados, exigem uma discussão criteriosa entre público e privado quanto aos arquivos pessoais. Desde a aquisição, se entende que a organização inicial seja de vital importância para entender a lógica de seleção dos materiais por quem os preservou na sua gênese.

Hobbs (2018, p.263) entende que “[...] os conjuntos documentais pessoais requerem diferentes conceitos e diferentes formas de tratamento por parte do arquivista”, pois de fato são de pessoas, de indivíduos, e não de empresas, instituições; são documentos da vida desses sujeitos.

Fonte: Arquivo Vianna Moog.

Figura 1 Memorial Jesuíta Unisinos 

Nessa imagem é possísel visualizar uma das prateleiras do Arquivo Vianna Moog enfileiradas horizontalmente no Memorial. Observa-se, ainda, alguns dos títulos da biblioteca particular do Autor já catalogados. Os livros que estão salvaguardados no Memorial Jesuíta estão disponíveis ao público para consulta local, com agendamento prévio por e-mail. A informação que obtivemos é de que o acervo bibliográfico será o último item a ser totalmente higienizado e catalogado, a ideia é priorizar os outros documentos.

No lugar de frequentadoras de acervos escolares, espaços em que descobrimos coisas que nem imaginávamos, ficamos com vontade de andar por horas entre as prateleiras que abrigam o Arquivo Vianna Moog. Permanece a ânsia de ler as inscrições contidas, caixa por caixa, nas quais estão as pastas com seus documentos. Como o acesso às salas em que estão os materiais, não é permitida aos pesquisadores, são os funcionários que alcançam os materiais solicitados, essa análise da imagem fica um tanto carente de informações, queremos crer que esse acesso seja ampliado com o tempo e mais estudos, que intentem rever as percepções sobre o quesito acesso, e que problematizem essas interdições.

Considerações finais

Os objetivos deste estudo foram examinar o processo de salvaguarda do arquivo pessoal de Vianna Moog desde a sua aquisição até a higienização, a conservação e a disponibilização para consulta no espaço institucional de uma universidade jesuíta. Articuladas, História Cultural, História da Cultura Escrita e História da Educação foram aliadas que nos permitiram compreender que arquivos pessoais são maneiras de estabelecer vínculos com diferentes substratos temporais que são essencialmente históricos. Ou seja, o ser humano, cultural por essência, deixa suas marcas por meio dos documentos de vida, artefatos que registram sua existência. Essa herança cultural e social é cuidadosamente arquitetada de forma a projetar o sujeito do passado, no presente e no futuro.

Esse é um dos primeiros aspectos a ser observado na análise de arquivos pessoais, ou seja, há um quesito relacionado ao tempo de produção do arquivo, um tempo de projeção e um tempo de descoberta do arquivo pelo pesquisador. Os três momentos são indissociáveis do patrimônio documental, definem os olhares e as percepções sobre ele e conferem significados a ele atribuídos. Pensar os arquivos exige pensar os seus substratos temporais nos diferentes contextos a ele atrelados, seja de produção, seja de análise.

O indivíduo cria as hipóteses de sua existência no seu arquivo, só guarda o que deseja que seja parte de sua trajetória na memória de outros. Mas, antes de tudo, guarda para si próprio. Talvez, mesmo projetando-se para o futuro de modo laudatório, o que tende a ser um aspecto concernente ao arquivo pessoal, o ato de arquivar-se é a própria transgressão da existência.

Justamente por se tratar de um ato de criação carregado de subjetividade e, por consequência, impregnado de significados, o arquivo pode, quando devidamente questionado e analisado, fornecer pistas e indícios de tempos e espaços históricos, pois “as pessoas estão em todos os lugares” (FOX, 2017, p. 71). Além de propiciar e oportunizar a compreensão de sujeitos e suas evidências por meio dos traços culturais perceptíveis em seus artefatos de vida, é, conforme Fox (2017, p. 85), “importante que os profissionais dos arquivos pensem nas emoções que possam estar associadas mesmo ao documento aparentemente mais prosaico. E este é particularmente o caso dos documentos pessoais”.

Cada carta, cada fotografia, cada objeto contém uma história importante para quem materializou sua vida nos documentos. Enfatizamos, mais uma vez, a pertinência do alargamento das concepções no trabalho arquivístico, no sentido de maior compreensão sobre as especificidades dos arquivos pessoais. Afinal, “todo documento possui valor para alguma pessoa em algum momento” (FOX, 2017, 87). Portanto, por meio do patrimônio documental dos indivíduos, é possível identificar as continuidades e rupturas sociais e culturais em determinada temporalidade. Especificamente, o processo de constituição do arquivo Vianna Moog no Acervo do Memorial Jesuíta, localizado na Biblioteca Central da Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, está implicado com a sua esposa Frigga Camara Moog; o escritor produziu um arquivo de vida, um conjunto de artefatos documentais compilado em mais de 72 mil itens.

Importa dizer que mesmo que nos estudo de José Carlos Reis, lançado em comemoração aos 500 anos do país, momento em que escreve Intérpretes do Brasil e As identidades no Brasil, não conste o nome de Vianna Moog - entre outros como Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Capistrano de Abreu, seus contemporâneos - a partir da leitura de seus livros e do documentos de seu arquivo, entendemos, por meio dessa pesquisa e pela opinião de outros comentadores, que Vianna foi um deles.

Descrever o processo de salvaguarda do arquivo pessoal do autor, desde a sua aquisição até a higienização, a conservação e a disponibilização para consulta no espaço institucional de uma universidade jesuíta, interliga a história do arquivo pessoal de Vianna Moog a outros acontecimentos, pois remonta ao passado de Enildo de Moura Carvalho, um estudante de mestrado que, ao escrever sua dissertação, pensou as obras de Vianna Moog e Érico Veríssimo. Ao procurar subsídios para seus estudos, entrou em contato com a família do escritor, a filha, Ana Maria Moog. Por meio dela, o pesquisador deparou-se, no sótão de uma casa em Petrópolis, Rio de Janeiro, com o arquivo pessoal de um intérprete do Brasil.

Dessa forma, as trajetórias de Vianna Moog, Enildo de Moura Carvalho e o Memorial Jesuíta se entrecruzam. A investigação iniciada para a escrita da dissertação e posterior tese de doutorado de Enildo Moura de Carvalho permitiu que ele fosse o principal interlocutor entre a família de Moog e a Universidade do Vale do Rio dos Sinos na negociação da custódia documental. A instituição, que possuía um acervo para a preservação da documentação da história dos jesuítas no sul do país, e que também abrigava outros fundos no espaço do Memorial Jesuíta, tornou-se responsável pela preservação da documentação do escritor.

1Moog é um autor gaúcho que nasceu na cidade de São Leopoldo (1906), faleceu no Rio de Janeiro (1988). Exerceu a profissão de advogado, jornalista, romancista e ensaísta brasileiro. Algumas de suas principais obras foram: O ciclo do ouro negro (1936), Um rio imita o Reno (1938), Novas cartas persas (1937), Heróis da decadência (1939), Nós, os publicanos (1946), Bandeirantes e Pioneiros: paralelo entre duas culturas (1954) entre outras

2Maiores informações e sobre o Memória Jesuíta sua constituição e acervos será desenvolvida da última sessão de artigo “O processo de salvaguarda do arquivo pessoal de Vianna Moog: do privado ao institucional

3Enildo Moura de Carvalho, foi acadêmico do Programa de Pós-Graduação em História da Unisinos, apresentou, em 2011, a tese de doutorado, “Na terra de Malazarte e Aleijadinho: Vianna Moog, um intérprete do Brasil”. Em 2006, em sua dissertação de mestrado, analisou a cultura brasileira e norte-americana nas obras de Vianna Moog e Érico Verissimo. Intercedeu junto a Ana Moog, filha do escritor, à doação do acervo de seu pai ao Memorial Unisinos.

4Isabel Cristina Arendt era a responsável pela captação e compilação dos arquivos que ficariam sob a custódia Memorial Jesuíta. À época, ela intercedeu em favor da salvaguarda do arquivo de Clodomir Vianna Moog e cuidou do processo inicial de organização dos documentos.

5Para saber mais sobre a História da Companhia de Jesus em terras gaúchas, consultar Rambo (2009).

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Recebido: 31 de Agosto de 2022; Aceito: 03 de Novembro de 2022

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