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Revista Diálogo Educacional

versión impresa ISSN 1518-3483versión On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.22 no.75 Curitiba oct./dic 2022  Epub 26-Dic-2022

https://doi.org/10.7213/1981-416x.22.075.ao03 

Artigos

A presença do intelectual Pe. Leonel Franca S. J. nos periódicos jesuítas portugueses nos anos de 1930 e 1940

The presence of intelectual Pe. Leonel Franca S. J. in the portuguese jesuitic journals in the 1930s and 1940s

La presencia de la Pe. intelectual. Leonel Franca S. J. en las revistas jesuíticas portuguesas em las décadas de 1930 y 1940

ALDEMIR BARBOSA DA SILVAa 
http://orcid.org/0000-0003-2030-221X

aUniversidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. Doutor em Educação, e-mail:


Resumo

Este artigo propõe analisar as produções do Pe. Leonel Franca S.J. em prol da cultura católica nos periódicos Brotéria e Revista Portuguesa de Filosofia, de Portugal, nas décadas de 1930 e 1940. Tal abordagem é ancorada em Certeau (2008), ao evidenciar um conjunto de estratégias arquitetadas no engajamento de intelectuais (eclesiásticos e leigos) na defesa de temas primordiais ao status quo da Igreja Católica. Nessa direção, a presença do intelectual Pe. Leonel Franca S.J. no campo editorial tem expressão significativa nos avanços das instituições e letras católicas no campo sociopolítico-cultural no Brasil. Ao indagar sobre relação intrínseca dos periódicos católicos nacionais e internacionais, possibilita contatar uma rede de sociabilidade que fortalece a presença da cultura católica. A metodologia abordada na investigação privilegia a análise dos periódicos jesuítas portugueses e a produção documental portuguesa/brasileira.

Palavras-chave: Pe; Leonel Franca; Imprensa católica; Periódicos jesuítas portugueses.

Abstract

This article aims to analyze the productions of Fr. Leonel Franca SJ, in favor of Catholic culture in the periodicals Brotéria and the Revista Portuguesa de Filosofia in Portugal, in the 1930s and 1940s. This approach was anchored in Certeau (2008), by highlighting a set of strategies devised to engage intellectuals (ecclesiastics and laypeople) in the defense of fundamental issues to the Catholic Church's status quo. In this sense, the presence of the intellectual Fr. Leonel Franca S.J., in the editorial field has a significant expression in the advances of Catholic institutions and letters in the socio-political-cultural field in Brazil. When inquiring about the intrinsic relationship of national and international Catholic journals, it makes it possible to contact a network of sociability that strengthens the presence of Catholic culture. The methodology addressed in the investigation favors the analysis of Portuguese Jesuit journals, on Portuguese / Brazilian documentary production.

Keywords: Fr; Leonel Franca; Catholic press; Portuguese Jesuit journals

Resumen

Este artículo tiene como objetivo analizar las producciones del P. Leonel Franca SJ, a favor de la cultura católica en las revistas Brotéria y la Revista Portuguesa de Filosofia en Portugal, en las décadas de 1930 y 1940. Este enfoque se ancla en Certeau (2008), destacando un conjunto de estrategias diseñadas para involucrar a los intelectuales (eclesiásticos y laicos) en la defensa de temas fundamentales para el status quo de la Iglesia Católica. En este sentido, la presencia del intelectual P. Leonel Franca S.J., en el campo editorial tiene una expresión significativa en los avances de las instituciones y letras católicas en el campo sociopolítico-cultural en Brasil. Al indagar sobre la relación intrínseca de las revistas católicas nacionales e internacionales, se posibilita el contacto con una red de sociabilidad que fortalece la presencia de la cultura católica. La metodología abordada en la investigación privilegia el análisis de las revistas jesuitas portuguesas, en la producción documental portuguesa / brasileña.

Palabras clave: P; Leonel Franca; Imprensa católica; Revistas jesuítas portuguesas

Introdução

Nas primeiras décadas do século XX, entre os projetos em disputa pela restauração católica1 no campo sociopolítico-cultural, ocorre a fundação do movimento Ação Católica, em Roma, na Itália (1929), com o objetivo de fortalecer a presença da doutrina social católica em setores específicos da sociedade. Este projeto teve ramificações nas nações católicas, possibilitando edificar uma estrutura organizacional que intensificou a ação apostólica (sob as encíclicas educação, filosofia, operário, comunismo, matrimônio, militância, exercícios espirituais e outras)2.

A posição estratégica da imprensa católica no projeto de restauração, além de formar uma rede de sociabilidade3 entre os autores (letras católicas), permite fortalecer a relação de produção, circulação e usos de tais impressos pela Ação Católica na Itália, Espanha, Portugal, Brasil, Chile, Argentina e outros países.

Os impressos são instrumentos de poder com orientações precisas aos projetos das instituições e órgãos católicos4 em torno de objetivos específicos, como o ato de recrutar e engajar uma militância por meio de setores primordiais na doutrina social católica. Essa extensão percorre as arquidioceses, dioceses e paróquias na formação de uma rede sincronizada de lideranças católicas.

Entre os líderes da Ação Católica constam o cardeal Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, em Portugal, o cardeal Dom Sebastião Leme, no Brasil, e outros que organizam a formação e a hierarquização de tais membros entre as nações católicas. Porém, as afinidades culturais dos líderes eclesiásticos brasileiros e portugueses possibilitam fortalecer a presença na área editorial, ou seja, a projeção contínua dos seus autores (eclesiásticos e leigos) no campo literário da boa imprensa, em prol da cultura católica.

Um elemento essencial para o periodismo católico era sua ligação estreita com “a missão da Igreja”, não apenas no nível jurídico, mas também do que de vista de suas vinculações com a autoridade da comunidade eclesiástica. Outro aspecto que ressalta da imprensa católica era sua conceituação como meio moralizador e saneador dos costumes da sociedade, concomitante ao desempenho do papel de conservação dos princípios e valores norteadores da ética cristã (VILHENA, 1994, p. 150).

Ao convocar uma legião de escritores em defesa da cultura católica, o movimento propicia impulsionar a produção e a circulação de periódicos nas instituições e órgãos católicos, com projeção nos espaços da sociedade civil ou instituições do governo. Dessa forma, aponta a extensão estratégica da imprensa católica em temas de cunho jurídico, político, filosófico, cultural, educacional e teológico, por exemplo.

Em Portugal, a fundação de Brotéria - Revista Contemporânea de Cultura (1902) sinaliza a influência da ordem dos jesuítas sobre as letras católicas e sua representação quanto às ciências. Conforme Franco (2003, p. 128), trata-se de “um periódico atípico no seio das publicações da Igreja Católica portuguesa, tentando inverter precisamente a lógica dos ataques positivistas”.

No Brasil, a fundação da revista A Ordem (1922), principal impresso dos intelectuais católicos do Centro Dom Vital (CDV)5, fortalece a representação da tradição católica entre suas filiais6. Para Velloso (1978, p. 118), “a revista constitui um dos principais veículos de difusão da ideologia do grupo”, inclusive porque tem “uma continuidade expressiva na vida editorial do país”.

A presença de tais periódicos católicos neste artigo tem como objetivo intensificar as discussões que apontam as inclinações positivistas do Estado laico na Brotéria e o predomínio das produções inclinadas às matrizes político-ideológicas (conservadoras) ou teórico-filosóficas (democráticas) em A Ordem, sendo um instrumento de poder estratégico em prol da cultura católica, com a formação de uma militância entre os setores da sociedade. Assim, as estratégias católicas são consideradas,

portanto, ações que, graças ao postulado de um lugar de poder (a propriedade de um próprio), elaboram lugares teóricos (sistemas e discursos totalizantes), capazes de articular um conjunto de lugares físicos onde as forças se distribuem. Elas combinam esses três tipos de lugar e visam dominá-los uns pelos outros. Privilegiam, portanto, as relações espaciais (CERTEAU, 2008, p. 102).

Essa estratégia da imprensa católica intensifica a presença de tais impressos entre os veículos de comunicação essenciais no campo sociopolítico-cultural. Nesse caso, os autores católicos são representantes do projeto de restauração na sociedade e atuam nas instituições tradicionais (católicas, laicas e militares), órgãos católicos, aparatos estatais, entidades sociais e outros.

Nas primeiras décadas do século XX, a (re)organização da cultura católica brasileira sinaliza uma resistência às inclinações do Estado laico, ao (re)estruturar a atuação dos intelectuais entre diversos setores da sociedade em favor da cultura católica, tornando primordial a formação de redes de sociabilidade no campo editorial.

O meio intelectual constitui, ao mesmo para seu núcleo central, um “pequeno mundo estreito”, onde os laços se atam, por exemplo, em torno da redação de uma revista ou do conselho editorial de uma editora. A linguagem comum homologou o termo “redes” para definir tais estruturas. [...] As revistas conferem uma estrutura do campo intelectual por meio de forças antagônicas de adesão - pelas amizades que as subtendem, as fidelidades que arrebanham e a influência que exercem - e de exclusão - pelas tomadas, os debates suscitados, e as cisões advinhas (SIRINELLI, 2003, p. 248-9).

Entre os autores eclesiásticos brasileiros que atuam de forma expressiva pelas letras católicas, destaca-se o Pe. Leonel Franca7 S.J., que foi professor, reitor, líder eclesiástico em instituições e órgãos católicos, conferencista, membro de aparatos estatais, autor (editorial) e líder da intelectualidade católica, além de ser considerado o centro de gravidade8 da sociedade católica do Rio de Janeiro nas décadas de 1920 a 1940.

Na investigação, o corpus documental9 foi composto pela análise dos periódicos impressos Brotéria (39 edições) e Revista Portuguesa de Filosofia (cinco edições), em acordo com o recorte temporal da pesquisa, de 1930 a 194010. Esses materiais foram consultados no acervo da Biblioteca Universitária João Paulo II, localizado na Universidade Católica Portuguesa (UCP), no campus de Lisboa.

Com base nisso, na primeira parte, este artigo aborda a representação do autor Pe. Leonel Franca S.J., em prol da cultura católica nos campos editorial e institucional brasileiro. Depois, na segunda, trata das publicações do padre jesuíta na Brotéria e a repercussão de tais temas nos periódicos brasileiros. Por fim, na terceira parte, fala sobre as produções do padre jesuíta na Revista Portuguesa de Filosofia, periódico vinculado ao Instituto de Filosofia de Braga.

O jesuíta Leonel Franca no campo editorial

Os impressos católicos representam uma base sólida no projeto de restauração, sendo primordial guiar-se pelos princípios da encíclica Ubi Arcano Dei Consilio (1922), do Papa Pio XI, na reorganização de ações que permitam recrutar e engajar os intelectuais em favor da cultura católica. Nesse viés, a construção de diques contra a má imprensa (anticatólica) torna-se uma bandeira dos intelectuais católicos, que projetam suas produções literárias em oposição ao laicismo, positivismo, liberalismo, maçonaria, comunismo e outros doutrinas.

Uma definição do que era “imprensa católica” [...] pode ser estabelecida, por exemplo em contraposição ao que era concebido como a má imprensa, nos aspectos religiosos, social e moral (“a que ataca a fé, os costumes, a sociedade”; “a que corrompe o coração, pois fala pela voz dos romances”; “a que procura destruir os fundamentos da sociedade, o casamento religioso, os direitos das famílias”, etc.) (VILHENA, 1994, p. 149).

Nas primeiras décadas do século XX, a formação de uma legião de autores entre os periódicos católicos sinaliza inúmeros ensaios, artigos, traduções, resenhas críticas, obras, manuais escolares e pedagógicos e livros apologéticos em benefício da restauração. Dos periódicos católicos brasileiros, destacam-se os cariocas11 - capital do país no período - A Ordem, Vozes de Petrópolis, Boletim da Associação dos Professores Católicos, Kriterion, Verbum, A Notícia, A União, Correio da Manhã, O Brasil Ilustrado, O Intransigente e O Imparcial, entre outros (matrizes e filiais) que fortalecem a representação da cultura católica no país.

Nesse sentido, a trajetória do Pe. Leonel Franca S.J. no campo editorial aponta a expressão nos periódicos brasileiros e inúmeras críticas literárias de suas produções na imprensa internacional. As conferências12 proferidas pelo padre jesuíta entre as instituições e órgãos católicos possibilitam formar uma legião católica, em particular no Colégio Santo Inácio, no CDV, no Colégio Sacré Coeur de Jésus, em Congregados Marianos, no Instituto de Formação Familiar Social, no Instituto Católico de Ensino Superior, no Instituto Santa Úrsula e nas Faculdades Católicas.

O intelectual jesuíta brasileiro, para Miceli (2001, p. 302), “por sua vez, sem margem de dúvida, era um dos articuladores centrais da reação católica nessa área, e já havia firmado sua liderança intelectual em obras que desempenhavam um papel importante na mobilização”.

As conferências do líder jesuíta têm extensão entre os espaços privilegiados da sociedade carioca, como o Instituto Histórico e Geográfico, o Teatro Municipal, o Palácio da Saúde Pública, o Clube das Fontes, o Círculo Católico, a Candelária, o Palácio do Catete e o Palácio do Itamarati, que possibilitam edificar uma rede de sociabilidade - elite dirigente/intelectual - com políticos, professores, juristas, médicos, membros de aparatos estatais e representantes da sociedade civil (FRANCA, 1954).

Entre as obras do padre jesuíta, enfatiza-se o pioneirismo do manual escolar Noções de História da Filosofia (1918)13, que compõe uma estrutura de historicidade da filosofia sob aspectos da renascença escolástica (neotomismo) e aponta a organização magistral da história do pensamento filosófico brasileiro pelas correntes espiritualista, positivista, materialista e pampsiquismo panteísta, bem como sua análise crítica sobre a filosofia existencialista do século XIX.

Sinceramente, é de admirar a audácia do talento de um padre, explicando philosophia a este século frívolo que muito pouco ou quase nada se interessa pelas mais comesinhas questões philosophicas. [...] A obra Noções de Historia da Philosophia do padre Leonel Franca, é, por conseguinte, um grande livro, um expositor de conhecimentos uteis, de vantagem educativa para a mocidade de hoje (FARIAS, 1919, p. 2).

Nesse contexto, algumas das 14 obras14 de autoria do Pe. Leonel Franca S.J. marcam o campo editorial por: Noções de História da Filosofia (1918), expondo uma estrutura primordial à formação do ensino secundário das instituições tradicionais e concisa na adequação do currículo oficial; A Igreja, a Reforma e a Civilização (1923), apontando argumentos que refutam os debates protestantes sobre ensino religioso na América Latina; O Divórcio (1931), em combate ao anteprojeto que foi sancionado no Código Civil no Brasil; A Psicologia da Fé (1934), em oposição às obras anticatólicas; A Crise do Mundo Moderno (1941), um documento de cultura e crítica do tema transcendência e dos graves problemas da modernidade; e outros.

Tais obras têm uma função estratégica na orientação da doutrina católica, pois evidenciam oposição aos temas da imprensa anticatólica no campo sociopolítico-cultural. Para Bourdieu (2004, p. 170), “o campo literário é, como todo campo, o lugar de relação de forças (e de lutas que visam transformá-las ou conservá-las)”.

Tal relação de forças estabelece estratégias e intencionalidades que projetam as orientações sob as lentes do autor (instituições e órgãos católicos), além de espaços estratégicos na sociedade civil. Essa representação, para Chartier (1991, p. 184), é “instrumento de um conhecimento mediato que faz ver um objeto ausente substituindo-lhe uma “imagem” capaz de repô-lo em memória e de “pintá-lo” tal como é”.

A presença do padre jesuíta no campo editorial aponta a representação da tradição católica sobre o poder da palavra impressa, sendo suas produções de distinto rigor epistemológico, ancorado pelos princípios da teologia e da filosofia cristã, que possibilitam intensificar as orientações católicas (encíclicas) quanto aos assuntos primordiais que constituem a formação da sociedade no período.

Bróteria - revista contemporânea de cultura

A Revista de Ciências Naturais do Colégio de S. Fiel, Brotéria15 (Lisboa, 1902), fundada por Joaquim da Silva Tavares, Candido Azevedo Mendes e Carlos Zimmermann, aponta o pioneirismo da ordem religiosa jesuíta nas publicações científicas. Essa posição estratégica na imprensa católica portuguesa possibilita percorrer os vieses científico-cultural e pedagógico-religioso, em consonância aos impressos jesuítas La Civiltà Cattolica (Itália), Èstudes (França) e Razón y Fé (Espanha), que formam uma rede de sociabilidade entre os periódicos que atuam em prol da cultura católica.

Em 1925, a nova fase editorial altera o foco epistemológico do periódico16, inserindo novas seções que permitem renomear o subtítulo de Revista de Ciências Naturais para Revista de Fé, Sciencias e Letras, reclassificando-a como Revista Contemporânea de Cultura, com foco nos intelectuais e nas camadas sociais cultas. Os colaboradores editoriais, compostos por uma legião de intelectuais portugueses e brasileiros que atuam além do campo religioso, proporcionam avanços nos conhecimentos científico e literário, como novas projeções editoriais imprescindíveis em torno da valorização da cultura humanística.

A preocupação dos editores da Brotéria em desenvolver uma relação de proximidade, de comunicação aberta com os leitores atravessa todo o trajecto publicacional da Brotéria, através dos editorias [...]. No sentido de adequar a Brotéria as expectativas dos seus leitores [...]. Buscam linhas segura de orientação espiritual, tão mais necessária, quanto é grande a desorientação que em redor de nós se nota” (FRANCO, 2003, p. 117).

Nesse viés, entre os impressos que compõem a crítica literária17 nos editoriais da Brotéria, constam quatro produções do intelectual Pe. Leonel Franca S.J. Editadas na seção Bibliografia Estrangeira, O Divórcio (1931) e Ensino Religioso e Ensino Leigo (1931), na redação de 1932, e A Igreja, a Reforma e a Civilização (3ª edição, 1934), na redação de 1935. E, pela seção Revista de Revistas, o artigo “Ateísmo Militante” (1945), na redação de 1946.

No primeiro caso, há uma breve análise da obra O Divórcio (1931), que oferece ao leitor um panorama dos capítulos, expondo: I. O divórcio e o direito; II. A experiência do divórcio; III. A defesa do divórcio; e IV. A Igreja e o divórcio. Aqui, as discussões percorrem fundamentos jurídicos do divórcio, os males que tal conduta provoca na sociedade (loucura, suicídio, aborto e outros), a deturpação provocada pelas obras defensivas do aborto, impetradas por jurisconsultos, psicólogos, romancistas e sociólogos e, ainda, a posição histórica e do direito canônico sobre o divórcio, pelas lentes da razão do autor jesuíta.

O ilustre Autor não se limitou ao papel positivo de quem expõe o próprio ponto de vista. Ataca de frente com toda a dignidade e correcção mas sem transigências, os baluartes jurídicos, psicológicos e sociais do divórcio. Os sofismas baseados na noção de contracto, olhado só genericamente e não segundo a natureza específica que ele assume no matrimônio; o ídolo da liberdade individual, o insidioso paralelo entre o divórcio civil e a separação de corpos, sancionada, em detrimentos casos, pela disciplinas católicas; o perverso conceito de liberdade do amor, do direito à felicidade; o papão sentimentalista; o pretenso aumento do casamento e diminuição da mortalidade ilegítima ou do adultério com que certos jurisconsultos, psicólogos, romancistas e sociólogos, deturpando miseravelmente os factos, querem justificar a sua atitude divorcista, são apontados e pulverizados com inexorável rigor (MAURÍCIO, 1932, p. 534).

Essa obra foi lançada em 1931 e permite uma leitura de pontos jurídico-social que impetram o desquite/divórcio (forma de pôr fim à sociedade conjugal) e resulta em índices de desfragmentação das instituições familiares entre as nações que adotaram a legislação (França, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Suécia, Hungria, Romênia, Estados Unidos e Uruguai). Nesse sentido, o padre jesuíta condena tais avanços e dispõe juristas brasileiros em defesa da família, ressaltando os perigos do divórcio às nações em que a lei foi sancionada e a fragilidade de sua autorização no Brasil.

Na constelação das letras jurídicas apontemos [...] Rui Barbosa, Lima Drummond, Carvalho de Mendonça, Clóvis Bevilaqua. Todos estes grandes mestres, ainda que inspirados em diferentes ideias filosóficas e religiosas, compreenderam a indissolubilidade da família constituída uma das vigas mestra na arquitetura do nosso edifício social. [...] A família, que no entrechoque de tantas forças dispersivas de instabilidade num país novo, constitui o melhor penhor de união, de força e de defesa da nacionalidade [...]. O divórcio abrirá, no Brasil, um destes conflitos insanáveis entre as leis do país e todas as forças psicológicas que alimentam desenvolvem e regeneram a sua vitalidade (FRANCA, 1955, p. 294-295).

Entre as discussões do intelectual eclesiástico em torno do divórcio, na imprensa católica brasileira apontam os títulos: “O Divórcio - Aspectos Jurídico Social” (jornal A Noite/RJ, 1931 - conferência); “Divórcio e Suicídio” (revista A Ordem/RJ, 1931 - artigo); “A Família e o Divórcio” (revista Hierarchia/RJ, 1931 - artigo); “O Divórcio” (boletim A Reacção/RJ, 1932 - nota de repúdio); “O Divórcio” (revista La Civiltà Cattolica/Itália, 1932 - crítica literária)18; “A Igreja e o Divórcio” (jornal A Ordem/RN, 1938 - texto); entre outros. Tais indícios permitem intensificar a posição eclesiástica sobre o tema e fortalecer as relações de poder no campo editorial ao expor questões imprescindíveis para a cultura da nação.

No segundo caso, com a análise da obra Ensino Religioso e Ensino Leigo (1931), a tese do autor foi considerada magistral por demonstrar discussões sobre o ensino religioso entre aportes teóricos nos campos pedagógico, sociológico e jurídico. A questão do ensino é latente na sociedade, pois as instituições são espaços privilegiados na formação da nação e a pedagogia sobre os princípios do laicismo é um risco iminente.

A questão do ensino é uma questão vital do nosso tempo. A sociedade é imagem da escola, que a modela à sua feição. A escola, por sua vez, ressente-se do ideal, que a orienta e informa. [...] Sob o ponto de vista pedagógico, a escola laica, de facto, considera apenas o aspecto intelectual e esse, ainda assim, incompletamente. [...] A escola leiga, professando, sistematicamente, a abstenção dos grandes princípios morais orientados a existência, condena-se a impotência pedagógica social. [...] Sob o aspecto jurídico, o laicismo arvora-se em mantenedor da única atitude possível a face da liberdade espiritual de todas as convicções sinceras: a neutralidade (MAURÍCIO, 1932, 147-148).

Para o crítico literário (1932)19, a obra é uma oportunidade ímpar na discussão sobre a questão do laicismo, pois aponta a violência do Estado sobre a consciência dos cidadãos e impõe, sob aspectos jurídicos, sanções contra a educação religiosa na formação da nação. Outro aspecto são os dados estatísticos da criminalidade infantil e dos inquéritos norte-americanos (império do laicismo) referentes à análise do padre jesuíta, que aponta os perigos iminentes à formação da nação. Nesse contexto, expõe a escuridão pedagógica impetrada no Brasil em 1891:

O laicismo escolar, tal como o entendeu em quási todo o país, desde 1891, a jurisprudência republicana, mutilou vitalmente a educação popular e tornou [...] a escola de todo em toda inepta ao desenvolvimento de suas mais nobres e elevadas funções. Educação moral dos indivíduos, formação social dos cidadãos, respeito à liberdade espiritual das famílias religiosas, tudo foi sacrificado aos preconceitos de uma ideologia inconsistente (FRANCA, 1931, p, 78).

Assim, indica uma profunda preocupação do líder eclesiástico católico com o advento do laicismo no Brasil (Constituição Federal de 1891), impetrado por inimigos natos e sectários bárbaros da religião católica: liberais, socialistas, comunistas, maçônicos e outros. Esse cenário, após longo período jurídico e intervenções de intelectuais católicos20 no campo político-educacional, permite articulações que aprovam o Decreto n.º 19.941/1931, que faculta o ensino religioso nas instituições (oficiais) do país.

Entre as discussões sobre o tema ensino religioso e laico, a posição do padre jesuíta nos períodos católicos brasileiros dá-se pelos títulos: “Aspectos Social e Pedagógico do Ensino Religioso” (revista Hierarchia/RJ, 1931 - artigo); “O Ensino Religioso na Constituição” (jornal A Ordem/RN, 1936 - texto); “O Ensino Religioso nas Escolas” (jornal A Ordem/RN, 1938 - texto); “Ensino Religioso e Ensino Leigo” (revista A Ordem/RJ, 1932 - crítica literária); entre outros. Esses sinais da representação católica no campo educacional mostram uma relação intrínseca de poder entre a Igreja Católica e o Estado, sendo estratégica a manutenção de tais alianças.

No terceiro caso, uma resumida análise da obra A Igreja, a Reforma e a Civilização (3ª edição, 1934) evidencia a contraposição do padre jesuíta ao apóstolo do protestantismo na América Latina, Sr. Carlos Eduardo Pereira, e discorre, entre outros temas, sobre: católicos e protestantes; os fundamentos da heresia; a instituição da Igreja Católica; e o sombrio discurso histórico sobre o perfil intelectual e moral de Lutero e Calvino.

Leonel Franca não faz mais que analisar os fundamentos históricos do Catolicismo e do Protestantismo, para os comparar entre si, estabelecendo a legitimidade daquele e a ilegitimidade deste. Não satisfeitos com a resolução desse problema basilar, examina os resultados da influência da Igreja e das seitas protestantes na economia e na política, na cultura intelectual e nível moral das nações, para reivindicar, justamente, dentro dos limites em que tais fenômenos podem constituir um critério de verdade, a acção triunfal da sociedade estabelecida por Cristo e governada pelo seu vigário na terra (MAURÍCIO, 1935, p. 223).

A publicação desta obra (1931) repercute no cenário nacional em torno da posição crítica, seguida pelos rigores histórico, filosófico e dogmático do autor sobre a obra O Problema Religioso da América Latina (1920), do apóstolo protestante, ao apontar argumentos de lógica e erudição que refutam o problema religioso no país, como os erros históricos que inflamaram essa luta desde os tempos apostólicos até hoje.

A Reforma foi o desencadeamento do individualismo na Europa. Contra a organização social da Igreja, corpo místico de Cristo, LUTERO levanta o individualismo de sua personalidade isolada. Ao magistério eclesiástico, autêntico e tradicional, opõe o livre exame do eu. À autoridade hierárquica preposto por Cristo à guarda da moral e dos costumes, substitui a autonomia do indivíduo no governo da vida. O egocentrismo é a chave que explica a gênese e a evolução espiritual do monge saxônio. Contra a Igreja Católica, orgânica, hierárquica, social, o protestantismo arrolou sob os seus estandartes todos os egoísmos morais, todos os individualismos teológicos, todos os subjetivismos filosóficos (FRANCA, 1948, p. 451).

Nesse cenário, a configuração21 da obra aponta aspectos relevantes para compreensão dos princípios católicos no progresso intelectual, moral e religioso das nações. Como o advento do protestantismo, instaura a desorganização da estrutura sociopolítico-cultural na sociedade e as inclinações históricas que impulsionam a luta contra a Igreja Católica.

No recorte temporal da pesquisa, essas discussões proferidas na obra22 do intelectual jesuíta têm repercussão na imprensa católica, nas seções de crítica literária nos seguintes periódicos: jornal A Noite/RJ, 1923; jornal Gazeta de Notícia/RJ, 1924; revista La Civiltà Cattolica/Itália, 1926; revista A Ordem/RJ, 1929; entre outros. Nesse viés, aponta-se:

Um livro precioso sobre a “Egreja, a Reforma e a Civilisação”, rebatendo um trabalho que o grammatico paulista Carlos Pereira publicou em 1920 sobre “O problema religioso da América Latina”. [...] A obra, porém, com que Leonel Franca acaba de conquistas, não só as honras de mestre como historiador e expositor de ideias, mas as de mestre como pensador, como coordenador dos ideais do Brasil de todos os tempos, que é o Brasil Catholico, esta, é a sua “A Igreja, A Reforma e a Civilização” (FIGUEIREDO, 1924, p. 1).

E por fim, no quarto caso, uma concisa apreciação da crítica literária sobre o artigo “Ateísmo Militante” (1945) salienta os seguintes aspectos: os jogos ilusórios das ficções ideológicas no marxismo; o dogma ao materialismo histórico; a ética sobre o imperativo de uma nova hierarquia de valores que permita a vitória do partido comunista; e a lógica da conquista emancipadora da humanidade. Dessa forma, tais projeções edificam um mundo sem Deus, ou seja, um império caótico sobre a estrutura social, marcada pela ausência do dinamismo metafísico entre as inteligências. Tais sinais do ateísmo militante projetam a negação às questões de interrogações ontológicas e transcendentais.

Expressão nova, a designar uma realidade também nova. Como facto individual, a negação de Deus é quase tão antiga como a humanidade; como facto social, o ateísmo é um fenômeno inédito na vida da humanidade. Com o advento do comunismo, a irreligiosidade passa a ser o ideal de uma civilização, e o combate a divindade torna-se numa condição preliminar do seu triunfo na história (A REDAÇÂO, 1946, p. 106).

O artigo “Ateísmo Militante” foi publicado em 1945 na Verbum - Revista de Cultura da Universitária Católica do Rio de Janeiro, espaço privilegiado aos intelectuais católicos por projetar o intercâmbio entre as instituições congêneres nacionais e estrangeiras.

Os princípios filosóficos no artigo indicam a trajetória do filósofo Karl Marx sob influência das teorias do também filósofo Georg Wilhelm Friedrich Hegel, como o radicalismo antirreligioso, de Bruno Bauer, David Strauss e Ludwig Feuerbach (Clube dos Doutores). Essas influências epistemológicas constituem os fundamentos do marxismo e, para Franca (1945), tal interpretação materialista pelo viés da filosofia existencialista se opõe ao essencialismo e solidifica um ateísmo militante.

Ateísmo e materialismo são solidários no sistema de Marx. Este mundo que se pretende elevar sobre tantas ruinas será ainda o mais inumano dos mundos, o problema central em qualquer estruturação da sociedade, o problema da pessoa foi, pelo marxismo, não só preterido, nos aspectos que lhe são próprios, mas de todo falseado na natureza dos seus dados fundamentais. [...] Uma cúpula de chumbo, imensa e pesada, cinzenta e fria, não permite que se elevem as vistas acima dos bens materiais. O surto para o infinito, que constitui a essência mesma da personalidade, estará para sempre condenado a cair sobre si mesmo, no fatalismo de um desespero mortal (FRANCA, 1945, p. 18-19).

Para o autor, o materialismo é uma filosofia primitiva, pois os limites de tal investigação não alcançam os verdadeiros problemas da inteligência, sendo o comunismo uma religião às avessas, impregnada de um dogma (materialismo) e ética (partido) de princípios errôneos. Eis uma contaminação messiânica que conquista e hipnotiza as massas em torno do projeto de emancipação (falho), pois mobiliza as energias religiosas das almas a serviço de uma ideologia ateia.

A revista portuguesa de filosofia

A Revista Portuguesa de Filosofia (Lisboa, 1945) é vinculada ao Instituto de Filosofia de Braga e à seção Ciências Filosóficas da revista Brotéria (publicação trimestral). Em 1947, sua nova fase editorial a desvincula da redação da Brotéria, porém, mantém o status científico em sua área de especificidade, sendo integrada aos periódicos da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais de Braga, também de Portugal.

O nosso programa é ambicioso: ajudar Portugal a pôr-se em contacto com o movimento filosófico estrangeiro, por ora na medida das actuais possibilidades, que são diminutas, mas de forma não puramente receptiva, antes crítica, divulgando as melhores aquisição da especulação filosófica, nos vários aspectos que ela comporta, relacionando ou revendo problemas humanos da vida presentes à luz da metafisica, que aponta ao espírito as razões últimas dos seres em sua essência, finalidade e condicionalismo, anunciando por sobre a babilônia de ideias e sistemas, que estão confluindo para o nosso meio, em colisão violenta a mensagem pacífica que a Neo-Escolástica, ou seja a Escolástica renovada nas suas grande correntes - tomistas, escotista e suareziana - sem excluir outras, está fazendo ressoar, cada vez mais poderosa e prestigiada, no pensamento contemporâneo (MAURÍCIO et al., 1945, p. 7).

Nesse viés, a posição estratégica do periódico no campo universitário demonstra a expressão intelectual dos jesuítas no campo político-educacional em torno da representação de suas instituições no ensino secundário e superior (formação da elite dirigente/intelectual), com expressiva participação no campo editorial, sendo um ícone entre os mentores da imprensa católica.

Na década de 1940, o editorial da Revista Portuguesa de Filosofia organiza no sumário (capa) as seguintes seções: 1. Os artigos; 2. Notas, inéditos e documentos; 3. Panorama da imprensa; e 4. Registro de entrada. Além disso, expõe as informações (verso da capa): dados editoriais; a direção (reitor e professores da Faculdade de Filosofia); a redação; a administração; outros representantes (Angola, Brasil e Espanha); e a Bibliografia pelas seções Portuguesa e Estrangeira, que oportunizam um espaço privilegiado aos críticos literários em torno dos impressos católicos.

Entre as obras que passam pelo crivo dos críticos literários da Revista Portuguesa de Filosofia, constam três produções do intelectual Pe. Leonel Franca S.J., editadas na seção Bibliografia Estrangeira: Noções de História da Filosofia (Companhia Editora Nacional, Rio de Janeiro, 9ª edição, 1943) e A Crise do Mundo Moderno (Pro Domo, Lisboa, 1945), na redação de 1945; e A Psicologia da Fé (Pro Domo, Lisboa, 1945), na redação de 1946.

Na primeira situação, o manual escolar Noções de História da Filosofia23, organizado pela história das ideias filosóficas (sete seções), percorre as especulações humanas desde o longínquo Oriente (China) até a contemporaneidade, com o advento das correntes filosóficas (ecletismo, tradicionalismo, criticismo, positivismo, empirismo, materialismo, idealismo, espiritualismo e outras).

Dessa maneira, a presença do pensamento filosófico e suas influências na formação das escolas filosóficas aponta discussões primordiais da existência humana (metafísica, política, ética, teoria do conhecimento, epistemologia, ontologia, lógica e outras). Além disso, o manual escolar revela um capítulo magistral - intitulado A filosofia no Brasil e o apêndice - sobre a oportunidade e importância da renascença escolástica no século XIX, aspectos essenciais para o ensino de filosofia24 sob as lentes do padre jesuíta.

A nona edição deste volume diz todo apreço que ele tem tido no Brasil. [...] Raros manuais de filosofia encerram, em tão poucas páginas, um escorço tão firme e pessoal da evolução do pensamento especulativo da humanidade, como este. Em nenhum, com tanto equilíbrio e clarividência, se sublinha o valor antigo e actual da filosofia perene. Como método, é verdadeiramente exemplar o ponto de vista em que se põe o autor. Soube associar, ao processo histórico dos sistemas, a sua relação genética. A bibliografia, escolhida ao princípio de cada parte, de cada capítulo, e ao fim de cada artigo, presidiu um critério de seleção verdadeiramente esclarecido. Não se cita por citar. Cita-se o mais oportuno, exacto e completo, para o problema histórico ou filosófico a resolver. As notas são uma verdadeira mina de erudição (MAURÍCIO, 1945, p. 325).

Para o crítico literário (1945), há necessidade de uma edição portuguesa que possa apresentar a história da filosofia de seu país a partir do magnífico trabalho do líder eclesiástico exposto no capítulo A filosofia no Brasil e o consagrado capítulo/artigo que enaltece a renovação do tomismo na segunda metade do século XIX, também presente no século XX (neotomismo). Tal projeção aponta um desafio editorial, pois a realização desse projeto permitiria construir uma relação intrínseca na formação dos saberes filosóficos entre os alunos portugueses e brasileiros.

A história da filosofia é ainda de grande importância para a inteligência perfeita da história da civilização. Do pensamento nascem as ações dos homens. E toda revolução social ou política tem sua explicação derradeira num movimento de ideias. Por outro lado, os grandes acontecimentos que agitam profundamente a vida dos povos exercem uma influência poderosa na orientação especulativa de seus pensadores. Daí esta reciprocidade de ação, esta comunicação mútua de movimento e de vida, em que os pensamentos preparam e dirigem os fatos e os fatos reagem sobre os pensamentos. Levar, pois, de par à análise e das ideias é o melhor meio de compreender umas e outras; estudar a história civil à luz da história da filosofia é completar a primeira com a segunda e reunir as duas partes naturais de um mesmo todo que é a história da humanidade (FRANCA, 1944, p. 14-15).

As primeiras páginas do manual escolar apontam sinais essenciais do pensamento filosófico na formação cultural da nação, sendo imperativos tais saberes na projeção de discussões intrínsecas às áreas do conhecimento e à apropriação do conhecimento histórico-civil, conforme as lentes projetadas pela luz da história da filosofia.

O manual escolar tem expressiva projeção entre as críticas literárias brasileiras (na primeira metade do século XX) pelos periódicos conceituados no período, tornando sua produção, circulação e usos um objeto de disputa no campo editorial (Drummond, Pimentel de Mello, Companhia Editora Nacional e AGIR)25.

Na segunda situação, uma breve análise da obra A Crise do Mundo Moderno26 (1945) evidencia um sombrio e profundo desequilíbrio econômico e social internacional, impetrado pelos males que assolam o mundo moderno (guerras mundiais). Nesse caso, o humanismo é o caminho construtivo da sociedade, pois permite ao homem humanizar-se, sob orientação ontológica (alma - essência) em detrimento ao materialismo (corpo - existência).

A raiz dos males actuais está nesta mutilação. Começou, ela, com a Reforma protestante, pela desagregação da unidade espiritual e exaltação egoísta do indivíduo, livre interprete nas crenças religiosas. [...] Exaltação que, alimentada pela maioria dos filósofos subsequente, degenerou na idolatria humana e consequente negação de Deus, substituindo em Nietzsche pelo super-homem, em Marx pelo ideal comunista, termo paradisíaco do progresso humano. [...] Outro é o aspecto da civilização impregnada pelas verdades do Cristianismo. Baseia-se, esta, na dignidade da pessoa humana [...]. A difusão das verdades evangélicas constitui a vitalidade de uma verdadeira civilização (FRAGATA, 1945, p. 410-411).

Para o crítico literário (1945), a obra magnífica do padre jesuíta demonstra uma investigação profunda das raízes da crise que assola o mundo moderno e apresenta um conjunto de ideias orientadoras para a formação de uma civilização construtiva, em oposição à descristianização edificada historicamente pelos legionários do protestantismo e os aportes filosóficos anticatólicos (empirismo, materialismo, existencialismo e outros).

Crise de alma e crise de instituições. [...] A civilização moderna perdeu a sua unidade, e com ela, o segredo da vida, da ordem e da paz. [...] Ora, as correntes de pensamento, que designamos com o nome de forças negativas da civilização moderna, convergiram para uma eliminação progressiva dos valores espirituais na vida das consciências e das sociedades. [...] Do laicismo positivista como do comunismo marxista ou do terrenismo do Super-homem nietzschiano, o espírito, o espírito real e verdadeiro, foi banido sem esperança de volta. É a raiz do mal que sofremos (FRANCA, 1951, p. 238).

A influência das correntes de pensamento anticatólicas demonstra o esfacelamento de instituições primordiais na sociedade e influencia o advento de uma crise ontológica e metafísica sobre a humanidade. Entre as centrais discussões da obra, destacam-se: a complexa definição de civilização; a gênese e evolução histórica das ideias da crise contemporânea; e os valores culturais do cristianismo (sobre os aspectos dignidade da pessoa, crise do mundo moderno, filosofia, ciência, trabalho e civilização), condições vitais à humanização da civilização.

A influência dessa obra permite sua reedição em Portugal (Pro Domo, 1944), com tradução na Argentina (1944) e na Espanha (1948). Entre os periódicos brasileiros, tais discussões do autor constituem os títulos: “A Crise do Mundo Moderno” (A Ordem/RN, 1935 - artigo); “A Crise do Mundo” (A Noite/RJ, 1941 - crítica literária); “Meditação Sobre o Mundo Moderno”27 (A Cruz/RJ, 1942 - crítica literária); “A Crise do Mundo Moderno” (A Ordem/RJ, 1943 - crítica literária); entre outros.

E por fim, na terceira situação, A Psicologia da Fé (1945) foi reeditada pela Pro Domo/Portugal e apresenta uma longa crítica literária (cinco páginas) que evidencia o sentido tradicional de fé (Concílio Vaticano I) em oposição às inclinações impostas pelas errôneas interpretações protestantes. É salientado, assim, o apogeu da ignorância psicológica (Voltaire, Kant, Spencer e outros), o silêncio da voz da consciência (Spencer), o mundo dos juízos falsos (Erasmo, Lutero, Voltaire e outros) e a origem de todas as desordens morais - orgulho (Berthelot, Renan, Taine, Comte, Voltaire e outros) e sensualidade (epicurismo).

A Psicologia da Fé é um livro que não só se impõe pelo autor, mas até o recomenda e confirma o alto conceito em que é tido. [...] Na sua precisão filosófica nos diz que a fé: 1º) é um acto de inteligência pelo qual admitimos como verdadeira uma doutrina atestada pela autoridade divina; 2º) é um acto livre, dependente da nossa vontade e, por isso sob o domínio da nossa responsabilidade moral, digna de mérito como virtude ou de condenação como pecado. Em dois substantivos capítulos analisa psicologicamente, com mãos de mestre, a natureza desses caracteres da natureza da fé (BRUNNER, 1946, p. 15-16).

Depois, o antagonismo psicológico irredutível entre fé e epicurismo (capítulo III) apresenta sinais da sensualidade exaltada pelo egocentrismo desequilibrado, que estreita os horizontes da vida. Em oposição ao epicurismo, expõe o conceito de fé (realização da vontade divina para o caminho da perfeição), sendo a razão um censor da vida sensual, sem as inclinações do egocentrismo.

Nesse caso, para o crítico literário (1945), é possível afirmar que “em densas páginas, sempre baseado em princípios confirmados pela experiência, o A. expõe as consequências deste antagonismo”, além de um tratado da psicologia da conversão (conclusão).

A conquista da verdade religiosa encontra numerosos obstáculos, uns de ordem intelectual, outros de caráter moral. Na realidade vida das almas, a ação de uns e de outros, discernida por um esforço de análise, funde-se na síntese de um todo solidário e complexo. As ignomías do coração procuram sempre a cumplicidade da inteligência. Os extravios intelectuais raras vezes deixam de referir-se na desordem dos costumes. Erro e vício colaboram frequentemente em afastar o homem da verdade total. Destas dificuldades triunfam as almas retas e sinceras. O estudo desta conquista final da fé é uma confirmação valiosa das nossas análises (FRANCA, 1953, p. 209).

A posição da obra entre questões primordiais da tradição católica aponta um movimento conciso do padre jesuíta no projeto de restauração. Dessa forma, a organização entre os capítulos demonstra o poder da palavra impressa sobre a obra, sendo realizado nos capítulos: I. Análise de ato de fé (definição, inteligência e vontade); II. Obstáculos intelectuais (ignorância religiosa e vícios do método); III. Obstáculos morais (orgulho e sensualidade); e Conclusão (três atos sobre a psicologia da conversão).

Entre os aspectos que apontam a circulação da obra A Psicologia da Fé (1ª edição, 1934) no campo editorial, constam versões em espanhol (pela M. L. De Real Azua, Buenos Aires, em 1938) e português (pela Editora Pro Domo, de Lisboa, em 1945). Esse tema foi proferido entre as inúmeras conferências do padre jesuíta nas instituições e órgãos católicos brasileiros, sendo um instrumento imprescindível do pensamento católico em oposição às ideias acatólicas que inflamam a sociedade brasileira.

Considerações finais

A presença do intelectual Pe. Leonel Franca S.J. no campo editorial representa contribuições à formação da cultura nacional, em consonância aos avanços do projeto de restauração católica pela imprensa na primeira metade do século XX. As edições que percorrem suas obras apontam a erudição do autor em diversas áreas do conhecimento (filosofia, psicologia, teologia, história, sociologia e outras), sendo magistral a organização de tais princípios e discussões em prol da cultura católica.

No entanto, a formação estratégica de uma rede de sociabilidade entre as imprensas católicas nacionais e estrangeiras possibilita intensificar a relação de produção, circulação e usos desses impressos. A reorganização dos editoriais (periódicos, livros, boletins e outros) permite enaltecer tais publicações, bem como articular entre suas seções (crítica literária, bibliografias, resumos e outras) a representação das produções das nações católicas.

A crítica literária estrangeira nos periódicos Brotéria (Lisboa) e Revista Portuguesa de Filosofia (Braga) indica as seguintes obras do padre jesuíta: O Divórcio; O Ensino Religioso e Ensino Leigo; A Igreja, a Reforma e a Civilização; A Crise do Mundo Moderno; e A Psicologia da Fé - temas primordiais ao projeto de restauração católica, visto que a fundamentação pelos documentos eclesiásticos permite uma ação contrária às inclinações de leitura errôneas, ou seja, à influência da má imprensa por aportes acatólicos do positivismo, liberalismo, maçonaria e outros.

O artigo “Ateísmo Militante” representa uma oposição do catolicismo aos avanços impetrados pelo positivismo, enquanto o manual Noções de História da Filosofia, um objeto da cultura escolar entre as instituições tradicionais, tem posição privilegiada na formação da elite (vestígios do Ratio Studiorum)28, seguido pela maestria do autor ao expor o pensamento filosófico brasileiro.

Tais produções no campo editorial são fontes que, ao serem problematizadas pelas lentes da historiografia, tornam-se documentos de investigação - permitem evidenciar uma rede de sociabilidade, marcada por uma relação de poder intrínseca na manutenção do status quo da Igreja Católica.

Nesse viés, a imprensa católica utiliza do poder da palavra impressa no projeto de restauração, sendo os periódicos jesuítas (nacionais e estrangeiros) um dos importantes veículos de comunicação essenciais às instituições e órgãos católicos. Entre os avanços estratégicos no campo editorial, aponta o engajamento de intelectuais no fortalecimento das redes, ou seja, nas “estruturas” de sociabilidade, que permite (re)organizar os editoriais dos periódicos católicos e sua representação no campo sociopolítico-cultural.

E, por fim, a posição das revistas jesuítas portuguesas em Lisboa e Braga apontam avanços da intelectualidade católica contra o império do antijesuitismo, sendo primordiais à representação dos periódicos no campo científico. A presença de produções do intelectual Pe. Leonel Franca S.J. nos periódicos jesuítas portugueses evidencia uma rede de sociabilidade que intercruza e fortalece as intencionalidades da imprensa católica.

1Foi um movimento que se fortaleceu nos primeiros anos do século XX, liderado pela Sé Romana com objetivo de organizar a reação do clero aos projetos que defendiam a laicização em vários países. Os sistemas de governo laico de algumas nações se efetivaram com as publicações das constituições republicanas, decretos e leis que defendiam a separação entre o Estado e a Igreja, a exemplo do Decreto 119-A de 1890, da Constituição Brasileira (MOURA, 2012, p. 17).

2São escritas com o propósito de dar diretrizes ao episcopado em seus trabalhos formativos. Portanto, esses documentos são dirigidos aos bispos das nações diversas com o fim de orientar o episcopado para o projeto romanizador (CAMPOS, 2010, p. 21).

3Todo grupo de intelectuais organiza-se também em torno de uma sensibilidade ideológica ou cultural comum e de afinidades mais difusas, mas igualmente determinantes, que fundam uma vontade e um gosto de conviver. São estruturas de sociabilidade difíceis de aprender, mas que o historiador não pode ignorar ou subestimar (SIRINELLI, 2003, p. 248).

4Os principais órgãos católicos no Brasil foram: Centro Dom Vital (1922); Associação dos Professores Católicos (1928); Sociedade Jurídica Santo Ivo (1928); Ação Universitária Católica (1930); Liga Eleitoral Católica (1932); e Ação Católica Brasileira (1935).

5O Brasil acompanha carinhosamente todas as manifestações intelectuais católicas no resto do mundo, mormente a dos países latinos. A fundação do Centro D. Vital, vai para alguns anos, foi indício de vontades novas e de disposição ousadas, num meio absorvido pelo liberalismo maçônico, entre um povo que lutava, como ainda luta contra as influências do clima e os percalços do cosmopolitismo. [...] O Centro D. Vital aparece da noite para o dia aparelhado para campanhas mais fortes e armando cavaleiro para as lutas que já se faziam mister. D. Sebastião Leme, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, a mais notável figura do episcopado sul-americano, estimula com palavras de fogo a grande obra de penetração nas elites (AZEVEDO, 1932, p. 40).

6Em 1935, por exemplo, havia unidades suas em cinco capitais do Nordeste: Recife, Salvador, Aracajú, Fortaleza e Maceió. Apenas no Estado de Minas Gerais registravam-se também seis unidades: Belo Horizonte, Itajubá, S. João Del Rey, Juiz de Fora, Ouro Preto e Uberaba. No Estado do Rio, outros dois centros: Niterói e Campos. Fora deste arco, apenas as cidades de São Paulo e Porto Alegre tinham unidades afiliadas ao Centro do Rio (ARDUINI, 2014, p. 62).

7Pensador católico brasileiro, nascido em S. Gabriel, Rio Grande do Sul. Padre jesuíta estudou em Roma. Foi fundador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1941) e da Revista Verbum, exercendo uma importante liderança nos meios católicos em sua época, juntamente com Alceu Amoroso Lima (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996, p. 115-116).

8Em 12/09/1948, foi publicado em um dos principais jornais do Rio de Janeiro - A Manhã, a seguinte frase: “O padre Franca foi o centro de gravidade de nossa geração, a encruzilhada de nossos caminhos nesses últimos 20 anos”, pelo intelectual Alceu de Amoroso Lima ao líder eclesiástico da intelectualidade católica de uma geração que fundou a revista A Ordem e o Centro Dom Vital (ARDUINI, 2013).

9Coloca-se como historiográfico o discurso que "compreende" seu outro - a crônica, o arquivo, o documento -, quer dizer, aquilo que se organiza em texto folheado do qual uma metade, contínua, se apoia sobre a outra, disseminada, e assim se dá o poder de dizer o que a outra significa sem o saber. Pelas "citações", pelas referências, pelas notas e por todo o aparelho de remetimentos permanentes a uma linguagem primeira (que Michelet chamou "crônica"), ele se estabelece como saber do outro (CERTEAU,1982, p. 101).

10O recorte temporal aponta a presença de produções do Pe. Leonel Franca S.J. (consolidadas entre períodos brasileiros - eclesiásticos ou laicos), pelos críticos literários nos periódicos jesuítas em Portugal - Brotéria (1930) e Revista Portuguesa de Filosofia (1940).

11Os periódicos cariocas nas primeiras décadas do século XX têm posição privilegiada no campo sociopolítico-cultural, com repercussão no território nacional.

12Na lista de temas, apontam: Antropologia à luz da teosofia; O problema da fé; O divórcio aspecto jurídico social; Problema da família; Reação moralizadora da família; O problema pedagógico; Coeducação no ponto de vista pedagógico e psicológico; Deus e o pensamento contemporâneo (série); Deus e a inteligência contemporânea (série); Materialismo; O catolicismo na Alemanha; A indissolubilidade do casamento; Rumos da democracia; e outros (D`ELBOUX, 1953).

13Durante muito tempo um dos principais manuais de ensino da filosofia em nosso país (JAPIASSÚ e MARCONDES, 1996, p. 112).

14Apontamentos de Química Geral (1919); Relíquias de uma Polêmica (1926); Ensino Religioso e Ensino Leigo (1931); Catolicismo e Protestantismo (1933); Lutero e o Sr. Frederico Hansen (1933); O Protestantismo no Brasil (1938); Imitação de Cristo (1944); Livro dos Salmos (1947); e o Ratio Studiorum (1952), que foi uma obra póstuma (tradução e autoria de um longo prefácio).

15O projecto primordial e principal da revista Brotéria é fundamentalmente científico e cultural na linha filosófico-epistemológica de filiação anselmiana expressa pela máxima credo ut intelligam, intelligo ut credam. [...] O ideário de Santo Anselmo consistia fundamentalmente no esforço de conceder um estatuto racional às verdades da Fé, a fim de que esta fosse capaz de enfrentar com maior solidez os desafios interrogativos da razão humana (FRANCO, 2003, p. 100).

16Pela própria natureza das matérias de que trata, nunca se poderá fazer da Brotéria uma revista popular no sentido rigoroso da palavra, visto como se dirige aos meios intellectuais e as camadas sociais mais culturas. Em Portugal, porém, e no Brasil os intellectuais são uma legião que, mais que nunca, investigam a verdade no campo religioso, procuram argumentar os cabedais dos seus conhecimentos scientíficos e litterários, e se dedicam apaixonadamente a leitura (REDACÇÃO, 1925, p. 5-6).

17É importante salientar que não constam, após apreciação dos livros e artigos, os nomes completos dos críticos literários, sendo expressas apenas as primeiras letras destes nomes. Tal ausência foi constatada depois de percorrer a configuração do impresso, especificamente na seção Bibliografia.

18É um trabalho que podemos chamar de concluído, já que o legado A. examinou com grande acuidade o tema proposto em todos os seus aspectos. O divórcio perante o direito, perante a experiência, perante a Igreja, são belos tratados, lidos e admirados numa época pela vasta e sólida erudição e pela riqueza, onde o material se presta, de dados estatísticos (REDAÇÃO, 1932, p. 591).

19É importante mencionar que o nome do autor abreviado é uma característica do periódico, não sendo possível reconhecer, entre aspectos editoriais, o nome completo dos críticos literários.

20A mobilização da Igreja expressou-se na forma de resistência ativa articulando dois aspectos: a pressão para o restabelecimento do ensino religioso nas escolas públicas e a difusão de seu ideário pedagógico mediante a publicação de livros e artigos em revistas e jornais e, em especial, na formação de livros didáticos para uso nas próprias escolas públicas assim como na formação de professores, para o que ela dispunha de suas próprias Escolas Normais (SAVIANI, 2011, p. 179).

21Seguem os capítulos: I. A Igreja Católica (a tradição católica ancorada no pontificado de São Pedro e o magistério infalível da Igreja); II. A Reforma Protestante (origem, princípios e consequências); e III. A Igreja, a Reforma e a grandeza econômica e política das nações (cultura, reforma e moral).

22Tais periódicos católicos foram mencionados pelo autor por editar críticas literárias sobre a obra, como: Gregorianum/Itália, Razón y Fe/Espanha e Èstudes/França (D’ELBOUX, 1953).

23Quanto à história da filosofia, só conhecemos, em nossa língua, o excelente livro do Pe. Leonel Franca, S.J. - Noções de História da Filosofia - Pimenta de Melo & Cia. Rio de Janeiro. Onde além da filosofia antiga e moderna, encontramos uma boa exposição crítica da filosofia brasileira, inclusiva Farias Brito (REDAÇÃO, 1942, p. 90).

24Noções de História da Filosofia. Fruto de estudos filosóficos, essa obra utilíssima nasceu de sua inteligente caridade em socorrer aos alunos e demais estudantes brasileiros que passavam para a Faculdade de Direto (D’ELBOUX, 1953, p. 83).

25A presença do manual escolar na formação da nação brasileira percorre 25 edições (de 1918 a 1993), sendo autorizada entre os manuais escolares de filosofia (oficiais) pela Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD) e direcionada ao ensino secundário das instituições tradicionais entre as décadas de vigência desse aparato estatal (de 1940 a 1960).

26Podemos considerar um dos grandes livros brasileiros e que acaba de publicar o padre Leonel Franca sobre “A crise do mundo moderno” (Livr. Jose Olímpio). Com erudição excelente vernáculo e uma dialética demonstrativa que não perde o seu rigor sereno e intenso da primeira à última página - o ilustre jesuíta apresenta-nos um documento de cultura e crítica do tema transcendente e dos seus graves problemas (CALMON, 1941, p. 7).

27A editora José Olímpio está publicando ultimamente uma série de livros de valor indiscutível para a cultura brasileira dos nossos dias. A menos de um ano deu-nos aquela Editora - Crise do Mundo Moderno, da autoria do Pe. Leonel Franca S.J. (LIMA, 1942, p. 3).

28Plano e organização de estudos da Companhia de Jesus (1599), constitui a tematização da pedagogia jesuítica na orientação e formação para suas instituições nas nações católicas.

Referências bibliográficas

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Recebido: 27 de Fevereiro de 2022; Aceito: 21 de Agosto de 2022

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