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Revista Diálogo Educacional

versão impressa ISSN 1518-3483versão On-line ISSN 1981-416X

Rev. Diálogo Educ. vol.23 no.79 Curitiba  2023  Epub 22-Fev-2024

https://doi.org/10.7213/1981-416x.23.079.ao03 

Artigos

Possibilidades de abordagem de Carolina Maria de Jesus em cursos de Formação Inicial de Professores/as

Possibilities of approaching Carolina Maria de Jesus in Initial Teacher Training Courses

Posibilidades de aproximación a Carolina Maria de Jesus en Cursos de Formación Inicial del Docente

Leila Kely dos Santos da Paz[a] 
http://orcid.org/0000-0002-3143-8860

Charlline Vladia Silva de Melo[b] 
http://orcid.org/0000-0002-2702-4745

Ivanderson Pereira da Silva[c] 
http://orcid.org/0000-0001-9565-8785

[a]Universidade Federal de Alagoas, Maceió, AL, Brasil

[b]Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil

[c]Universidade Federal de Alagoas, Maceió, AL, Brasil


Resumo

Neste estudo investigamos as possibilidades didáticas para cursos de formação inicial de professores/as a partir da exploração do legado de Carolina Maria de Jesus. Delineamos os seguintes objetivos: perceber as relações entre o legado de Carolina Maria de Jesus e sua importância para compreender a realidade social brasileira, no contexto contemporâneo; analisar experiências curriculares centradas na vida e na obra de Carolina Maria de Jesus no âmbito de cursos de formação inicial de professores/as; avaliar os limites e as potencialidades da narrativa de, e sobre, Carolina Maria de Jesus para o desenvolvimento de propostas de ensino no contexto da formação inicial de professores/as. Para dar conta desses objetivos, analisamos a experiência da disciplina “Educação e Novas Tecnologias da Informação e Comunicação”, ofertada aos estudantes do primeiro período do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Alagoas, campus Arapiraca, no primeiro semestre civil de 2022. Esta experiência adotou a obra “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” como eixo vertebrador das atividades. Foram gerados portfólios que se materializaram em formato de blogs. Esses materiais, enquanto fontes primárias de dados, foram tratados à luz da análise documental. Como resultados, evidenciamos que é possível, a partir da narrativa de Carolina, tensionar o currículo oficial em favor de um currículo decolonial e produzir materiais didáticos adaptados, em formatos midiáticos diversos, para o desenvolvimento de propostas de ensino antirracistas e antissexistas.

Palavras-chave: Formação Inicial de professores; Carolina Maria de Jesus; Divulgação Científico-Cultural.

Abstract

This study investigated the didactic possibilities for initial teacher training courses based on the exploration of the legacy of Carolina Maria de Jesus. It had the following research objectives: to understand the relationships between the legacy of Carolina Maria de Jesus and its importance to understand the Brazilian social reality, in the contemporary context; to analyze curricular experiences centered on the life and work of Carolina Maria de Jesus within the scope of initial teacher training courses; evaluate the limits and potentialities of the narrative by and about Carolina Maria de Jesus for the development of teaching proposals in the context of initial teacher training. In order to achieve these objectives, the experience of the discipline “Education and New Information and Communication Technologies”, offered to students of the first period of the Pedagogy course at the Federal University of Alagoas, Campus Arapiraca, in the first calendar semester of 2022 was analyzed. adopted the work “Quarto de Despejo: diary of a favelada” as the backbone of the activities. Portfolios were generated that materialized in the form of blogs. These materials, as primary sources of data, were treated in the light of documental analysis. As a result, it was evidenced that it is possible, from Carolina's narrative, to tension the official curriculum in favor of a decolonial curriculum and to produce adapted teaching materials, in different media formats, for the development of anti-racist and anti-sexist teaching proposals.

Keywords: Initial teacher training; Carolina Maria de Jesus; Scientific-Cultural Dissemination.

Resumen

Este estudio investigó las posibilidades didácticas de los cursos de formación inicial docente a partir de la exploración del legado de Carolina María de Jesús. Tuvo los siguientes objetivos de investigación: comprender las relaciones entre el legado de Carolina María de Jesús y su importancia para comprender la realidad social brasileña, en el contexto contemporáneo; analizar experiencias curriculares centradas en la vida y obra de Carolina María de Jesús en el ámbito de los cursos de formación inicial docente; evaluar los límites y potencialidades de la narrativa de y sobre Carolina María de Jesús para el desarrollo de propuestas didácticas en el contexto de la formación inicial docente. Para el logro de estos objetivos, la experiencia de la disciplina “Educación y Nuevas Tecnologías de la Información y la Comunicación”, ofrecida a estudiantes del primer período de la carrera de Pedagogía de la Universidad Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, en el primer semestre calendario de 2022 se analizó, se adoptó la obra “Quarto de Despejo: diario de una favelada” como eje vertebrador de las actividades. Se generaron portafolios que se materializaron en forma de blogs. Estos materiales, como fuentes primarias de datos, fueron tratados a la luz del análisis documental. Como resultado, se evidenció que es posible, desde la narrativa de Carolina, tensionar el currículo oficial a favor de un currículo decolonial y producir materiales didácticos adaptados, en diferentes formatos mediáticos, para el desarrollo de prácticas antirracistas y antisexistas. propuestas didácticas.

Palabras clave: Formación inicial docente; Carolina María de Jesús; Divulgación Científico-Cultural.

Introdução

Numa rápida busca realizada no dia 01 de agosto de 2022 na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), a partir do descritor “Carolina Maria de Jesus”, recuperamos 82 arquivos (58 dissertações e 24 teses), emergentes dos Programas de Pós-graduação das universidades brasileiras. Duas dessas dissertações, apesar de terem sido recuperadas pela busca, não tinham Carolina Maria de Jesus como objeto de pesquisa. Ao fazermos a mesma busca no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, com o mesmo descritor e no mesmo dia, foram recuperados 119 arquivos (73 dissertações e 32 teses).

Ao verificarmos os títulos e os/as autores/as dessas obras, observamos que as Teses e Dissertações listadas na BDTD também estavam listadas no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes. Com efeito, de modo análogo ao caso da busca na BDTD, dentre os 119 arquivos listados, três não mantinham relação com o objeto do levantamento. Dois desses arquivos haviam sido estudos defendidos em 2021 e um deles defendido em 2020. A partir deste descritor, localizamos estudos depositados nos bancos de Teses e Dissertações vinculados a essas bases, no período compreendido entre 1993 e 2022. Com efeito, até o ano de 2017, haviam sido apresentados à comunidade científica, pelo menos, 52 estudos no formato de Dissertações e Teses cujo foco era a vida e/ou a obra de Carolina Maria de Jesus. No período entre 2018 e julho de 2022, haviam sido depositadas 66 Teses e Dissertações nas bases indexadas no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes.

Observamos, deste modo, um aumento no interesse da comunidade científica, notadamente nesses últimos cinco anos, em estudar sobre Carolina Maria de Jesus e retirá-la do apagamento histórico ao qual foi submetida. Ao que parece, a Pós-graduação stricto sensu brasileira passou a estudar e reconhecer Carolina com seriedade a partir de 2013/2014 (tendo em vista que uma tese leva um tempo médio compreendido entre quatro e cinco anos para ser depositada no Catálogo da Capes). No dia 25 de fevereiro de 2021, Carolina Maria de Jesus, recebeu, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o título de Doutora Honoris Causa (Geledés, 2021).

Entre os dias 12 de abril e 10 de maio de 2014, em comemoração ao centenário do nascimento de Carolina Maria de Jesus, o Centro Cultural Promissão, em Diadema-SP, promoveu a exposição “Centenário de Carolina Maria de Jesus” (ABC DO ABC, 2014). Em 26 de novembro de 2014, a Fundação Cultural Palmares (FCP) realizou o Simpósio “Agô, Carolina”! (Fundação Cultural Palmares, 2014). Ainda em 2014, o Instituto Moreira Sales (IMS) promoveu o evento “Carolina é 100” (IMS, 2014). Por ocasião da comemoração dos 200 anos da Proclamação da República no Brasil, a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA), o jornal “Folha de São Paulo” e o “Projeto República” [grupo de pesquisa vinculado ao Departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)], envidaram esforços na curadoria de uma lista com os 200 livros mais importantes para entender o Brasil. O projeto foi realizado no ano de 2021 e, neste período, a comissão recebeu sugestões de 169 curadores (entre historiadores, sociólogos, antropólogos e romancistas). Somente livros publicados em português foram levados em conta. Das 366 obras analisadas, aquela que recebeu maior número de votos dos curadores foi “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” (Conheça 200 importantes [...], 2022).

Em 18 de setembro de 2021, o Instituto Moreira Sales (IMS), promoveu no Sesc Sorocaba-SP, a exposição “Carolina Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros” (Bibliotecas do Brasil, 2021). Em 23 de abril de 2022, a Escola de Samba do Carnaval Paulista “Colorados do Brás”, levou para a avenida, o Samba-Enredo “Carolina: a Cinderela negra do Canindé” (Sambario, 2022). Em 28 de julho de 2022, uma estátua da escritora foi inaugurada na Praça Júlio César de Campos, em Parelheiros-SP, município onde Carolina passou seus últimos anos de vida (Estátua de escritora [...], 2022).

Carolina também chegou às histórias em quadrinhos. Em 2016 foi lançado o projeto “Somos Todas #donasdarua”. Esse projeto foi desenvolvido pela Mauricio de Sousa Produções, “empresa criada por Mauricio de Sousa - o pai da Turma da Mônica - [e que] é a maior produtora nacional de conteúdo infantil, que leva seus personagens para plataformas que vão dos gibis até canais digitais internacionais” (SOMOS TODAS #DONASDARUA, 2016, online). Dentre as mulheres homenageadas neste projeto, está Carolina Maria de Jesus.

Sirlene Barbosa e João Pinheiro (2018) também homenagearam Carolina por meio dos quadrinhos numa obra que foi premiada no Festival Internacional de Quadrinhos Angoulême e foi finalista do Prêmio Jabuti 2017, um dos maiores prêmios literários do Brasil (concedido pela Câmara Brasileira do Livro). Ainda tratando a divulgação da vida e da obra de Carolina Maria de Jesus no âmbito da cultura, há que se registrar que no dia 14 de março de 2019, o buscador Google alterou seu logotipo (Doodle) em homenagem aos 105 anos da escritora (Doodle do Google [...], 2019).

Do ponto de vista cultural, os eventos do centenário da escritora, em 2014, bem como os eventos dos anos de 2021 e 2022, evidenciam que os/as brasileiros/as, voltam a reconhecer a importância da escritora e que, em aliança, instituições literárias, científicas e jornalísticas, passam a reconhecer a obra mais conhecida de Carolina como o livro mais importante para entender o Brasil.

Se por um lado, Carolina tem ganhado capilaridade no campo da produção científica e da cultura, por outro, ao verificarmos os materiais levantados na BDTD e no Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, percebemos que essa capilaridade ainda é muito incipiente no currículo escolar e universitário, sobretudo no contexto dos cursos de formação de professores/as. Dada a importância de sua narrativa para compreender a sociedade brasileira, devemos assumir que há uma urgente necessidade da presença de Carolina Maria de Jesus no currículo escolar e universitário. Neste sentido, emergiu a seguinte curiosidade epistemológica: quais as possibilidades didáticas para cursos de formação inicial de professores/as a partir da exploração do legado de Carolina Maria de Jesus?

A partir desta questão, foram delineados os seguintes objetivos de pesquisa: perceber as relações entre o legado de Carolina Maria de Jesus e sua importância para compreender a realidade social brasileira, no contexto contemporâneo; analisar experiências curriculares centradas na vida e na obra de Carolina Maria de Jesus no âmbito de cursos de formação inicial de professores/as; avaliar os limites e as potencialidades da narrativa de, e sobre, Carolina Maria de Jesus para o desenvolvimento de propostas de ensino no contexto da formação inicial de professores/as.

Para dar conta desses objetivos, em um primeiro momento, realizamos um estudo teórico-bibliográfico acerca da atualidade da obra de Carolina Maria de Jesus. Em seguida, apresentamos a descrição da experiência da disciplina “Educação e Novas Tecnologias da Informação e Comunicação”, ofertada no primeiro semestre de 2022, na Universidade Federal de Alagoas, Campus Arapiraca, às/aos estudantes do primeiro período do curso de Pedagogia. Este componente curricular adotou a obra “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” como eixo vertebrador das atividades desenvolvidas. Os portfólios dessas atividades foram gerados a partir de trabalhos realizados em grupos e se materializaram em formato de blogs que foram desenvolvidos em plataformas como Blogger, Tumblr, Instagram e Twitter. Na sequência, a partir de uma abordagem qualitativa, os portfólios, enquanto fontes primárias de dados, foram tratados à luz da análise documental (Flick, 2009). Os resultados desses movimentos investigativos estão dispostos nas próximas seções.

A atualidade da obra de Carolina Maria de Jesus

Entre as décadas de 1950/1960, o Brasil vivia um período de amplo desenvolvimento industrial, inspirado nos ideais do liberalismo econômico nos moldes de Adam Smith (2017), anunciado no século XVIII. Contudo, Hayek (2017) e Friedman (2019), em função de crises cíclicas do capitalismo e da análise da realidade socioeconômica que se apresentava no contexto do Pós 2ª Guerra Mundial, anunciaram, na metade do século XX, a emergência da necessidade de que o mercado regulasse, em seus limites máximos, todas as relações sociais possíveis. Afirmava-se assim o neoliberalismo econômico.

O neoliberalismo, por sua vez, exige a instauração de um regime contínuo e progressivo de supressão de direitos sociais, já mitigados no contexto da crise do estado de bem-estar social. Esse modelo de sociedade no qual as políticas econômicas garantem vida digna a todas as pessoas, só se efetivou, de fato, nos países de capitalismo central, mas jamais alcançou os países que estão geopoliticamente localizados na periferia do capitalismo, como é o caso do Brasil.

O cenário que Carolina descreve em “Quarto de despejo: diário de uma favelada” é o cenário de um Brasil que jamais foi um Estado soberano e que sempre se manteve curvado aos interesses dos países imperialistas. Um país que sempre expressou grandes contradições sociais: de uma elite não racializada, detentora dos meios de produção que, historicamente, desfrutaram e continuam desfrutando das benesses de morar nas partes mais nobres da cidade, as salas de visitas (Jesus, 2014); de uma classe média cujo maior medo é descer um nível sequer na pirâmide socioeconômica para que não tenham o seu dia de negro (Almeida, 2020); e de uma imensa e crescente maioria racializada, historicamente alijada daquilo que ela mesma produz, que padece sem as condições mínimas de subsistência e é expurgada da paisagem urbana para os quartos de despejo da cidade, as zonas mais periféricas e as favelas.

A essas delimitações territoriais, o filósofo martinicano Frantz Fanon (1991) chamou de princípio da exclusividade recíproca. As pessoas que residem nas salas de visita das cidades não transitam nos quartos de despejo, assim como as pessoas que residem nos quartos de despejo não transitam nas salas de visita. Para Fanon (1991), os quartos de despejo, na verdade, não são parte da cidade. Estão excluídos da cidade. São outra cidade: a cidade do colonizado.

A cidade do colonizado [...] é um lugar de má fama, povoado por homens de má reputação. Lá eles nascem, pouco importa onde ou como; morrem lá, não importa onde ou como. É um mundo sem espaço; os homens vivem uns sobre os outros. A cidade do colonizado é uma cidade com fome, fome de pão, de carne, de sapatos, de carvão, de luz. A cidade do colonizado é uma vila agachada, uma cidade ajoelhada (Fanon, 1991, p. 37-39).

Carolina, enquanto mulher preta e favelada, durante o período em que escreveu “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” viveu na cidade do colonizado, exatamente conforme a descrição de Fanon (1991): sob má reputação, amontoada, com fome de pão, de sapatos, de carvão e de luz. Carolina era uma mulher descendente direta de povos escravizados. Ela nasceu e cresceu em Sacramento-MG num período em que aquela região estava marcada por fortes resquícios do escravismo e da opressão contra os povos pretos (FARIAS, 2018). Para dar conta do sustento do corpo, não mais suportando as condições em que vivia, decidiu se mudar para a cidade de São Paulo-SP. Lá chegando, conseguiu uma ocupação como empregada doméstica, mas ao engravidar de seu primeiro filho, foi demitida. Teve mais um filho e uma filha. Os genitores de seus filhos e sua filha não se responsabilizaram pelo sustento das crianças. Vivendo nas ruas, foi recolhida das passarelas da sala de visitas e, por força das políticas higienistas (que caracterizaram o período compreendido desde o fim do século XIX e o início do século XX), foi recolhida, junto aos seus iguais, e despejada às margens do Rio Tietê, junto com o amontoado de tábuas para que ali, longe dos olhos dos membros da classe média e da elite paulistana, pudessem se aglutinar em barracos de madeira e constituir a 3ª favela do estado de São Paulo-SP: a favela do Canindé (Oliveira Sobrinho, 2013; Farias, 2018).

Já na condição de mãe solo e desempregada, não restou outra alternativa à Carolina a não ser encontrar no lixo da cidade os meios de subsistência para minimizar a má reputação, alimentar a esperança de sair do lugar onde estava amontoada, aplacar sua fome de pão, de sapatos, de carvão e lenha. Era catando papel e metais que conseguia dinheiro para comprar o óleo, necessário às lamparinas que forneciam a parca iluminação de seu barraco, bem como a tinta necessária para aquilo que nutria sua alma: a escrita nos cadernos que recolhia do lixo.

Quando Carolina saiu de Sacramento-MG, ela havia concluído pouco mais de dois anos de escolarização. Quando foi empregada doméstica em São Paulo-SP, ainda sem filhos/a, zelou por uma casa que possuía uma biblioteca. Seus patrões consentiram que ela passasse os fins de semana, suas folgas, na biblioteca e foi lá que ela conseguiu apreender palavras que não eram comuns no linguajar das pessoas que vivem na cidade ajoelhada, ou nos quartos de despejo. Sua paixão pela leitura caminhou pari passu com sua paixão pela escrita (Farias, 2018).

O legado na arte literária e musical é extenso. Carolina publicou em vida quatro livros: “Quarto de Despejo: diário de uma favelada (1958)”, “Casa de Alvenaria (1961)”, “Pedaços de Fome (1963)” e “Provérbios (1963)”. Postumamente, foram publicadas a seguintes obras de sua autoria: “Diário de Bitita (1982)”, “Um Brasil para Brasileiros (1982)”, “Meu Estranho Diário (1996)”, “Antologia Pessoal (1996)”, “Onde Estaes Felicidade (2014)”, “Meu sonho é escrever: contos inéditos e outros escritos (2018)”. Além das obras literárias em verso e prosa, Carolina escreveu peças para o circo, compôs e interpretou músicas. Raffaella Andréa Fernandez (2018), ao analisar, em sua Tese de Doutorado, mais de cinco mil páginas deixadas por Carolina, constatou que, em seu acervo, são encontrados “diários, peças teatrais, contos, fábulas, romances, crônicas, cartas, provérbios, poemas; também compôs dois long-plays (LP) com samba, marcha-rancho, xote, canção e uma valsinha” (Fernandez, 2018, p.26).

“Quarto de despejo: diário de uma favelada” ocupou, no Brasil, o lugar de livro de literatura mais vendido do ano de 1960. Segundo Dorneles (2020, p. 39), na ocasião de seu lançamento, “em apenas uma semana, foram vendidos 10 mil exemplares do livro. Números que, para a época seriam surpreendentes para qualquer escritor(a)”. Com efeito, sua segunda obra, “Casa de Alvenaria”, lançada no ano seguinte, foi um completo fracasso de vendas e o mesmo ocorreu com suas obras subsequentes. Nenhuma das obras que ela publicou depois de “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” foi capaz de, nos 60 anos subsequentes fazê-la voltar à cena. Carolina faleceu em 13 de fevereiro de 1977, num sítio no município de Parelheiros, interior de São Paulo, na pobreza e no esquecimento do público brasileiro.

O paradoxo entre o apogeu de Carolina Maria de Jesus, no Brasil, enquanto escritora, no início da década de 1960, e seu apagamento histórico, nas décadas seguintes, pode ser percebido como uma manifestação fenomênica do racismo que, segundo o jurista brasileiro Silvio Luiz de Almeida (2020), alicerça esta sociedade. Uma das formas de expressão desse racismo estrutural é o epistemicídio antinegro. Segundo a filósofa e cientista brasileira Bárbara Pinheiro (2021, p. 54), o epistemicídio pode ser compreendido como “a destruição das formas autônomas de produção de conhecimento de um povo. [...] [Trata-se de], uma destruição de ordem subjetiva, um apagamento histórico paulatino que incide nas memórias de um povo, atuando nas dimensões temporais de passado, presente e futuro”.

Assim, embora “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” tenha sido traduzido para, pelo menos, 13 línguas distintas (Jesus, 2014), no Brasil, essa autora e suas obras ainda são praticamente desconhecidas no Ensino Superior (Silva; Paz, 2022) e totalmente desconhecidas do currículo oficial da Educação Básica (Brasil, 2017).

Assim, a narrativa de Carolina revela que, aquelas/es que ocupam o lugar de onde ela fala, mantém estreita relação com um metabolismo social no qual o valor da morte material e subjetiva dos povos racializados sobrepuja o valor de suas vidas. Com efeito, embora Carolina Maria de Jesus tenha sido uma das autoras mais lidas em 1960, esse sucesso não se replicou nos anos subsequentes até a sua morte, em 1977. Carolina foi arremessada no esquecimento. Passados cerca de 50 anos, percebemos um movimento por parte das Universidades e dos Centros de Cultura para resgatar seu legado e reavivá-la no tempo presente.

A luta de Carolina para se consolidar como escritora durou uma vida inteira, mas à exceção da ocasião do lançamento de “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, em 1960, que fala da desgraça de Carolina e de seus iguais, o necropoder se encarregou de fazê-la voltar à cidade do colonizado. Lugar onde o povo pobre nasce, vive e morre sem poder se misturar com aqueles cujo lugar natural, neste modelo de sociedade, é a sala de visitas da cidade. Como fruto das lutas dos movimentos negros, sobretudo das mulheres negras, bem como em face do cenário avançado do capitalismo, que coloca cada vez mais o povo pobre à sombra iminente da morte (Mbembe, 2021), observa-se que os escritos de Carolina Maria de Jesus passaram a ser mais demandados no campo científico e no campo cultural na segunda década do século XXI. Essa demanda contemporânea por Carolina a fez ser reconhecida como uma das mais destacadas escritoras negras do país na atualidade.

Carolina Maria de Jesus no Curso de Pedagogia

A disciplina “Educação e Novas Tecnologias da Informação e Comunicação”, ofertada no primeiro período do curso de Pedagogia da UFAL, campus Arapiraca, adotou, no semestre letivo de 2021.2, o livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” como eixo vertebrador de suas atividades. Ao longo das 15 semanas de curso, foram explorados quatro suportes midiáticos. Inicialmente, foi realizada a leitura e a reflexão sobre o livro-texto base. Em seguida, a turma, composta por 40 estudantes, foi desafiada a compor grupos e a desenvolver um produto educacional a partir do suporte impresso. A segunda atividade, também em grupo, foi desenvolver um produto no formato de um radiodrama. A terceira atividade foi produzir um conteúdo audiovisual. E, por fim, apresentar um portfólio de todas as atividades produzidas no formato de blogs. As tecnologias empregadas, bem como as interfaces da internet e os softwares de edição foram escolhidos pelos grupos.

A partir dos portfólios, mapeamos as produções desta turma. Foram gerados 13 blogs. Estes registraram a produção de toda a turma ao longo do componente curricular em tela. As produções foram colaborativas. Os grupos produziram planos de aula, poemas, cordéis, contação de histórias, brinquedos, teatro de fantoches, autorretratos, quebra-cabeças, palavras-cruzadas, jogos da memória, ilustrações, entrevistas, propostas de contação de histórias a partir de caixas de papelão, a partir de placas, de bambolês de imagens, de slides, também foram desenvolvidas propostas de planos de aula e cartazes, radionovelas, vídeos documentários, vídeos de animação, declamação de excertos do livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”. Os registros descritivos e fotográficos de todas as produções estão detalhados nos blogs listados no quadro 1.

Quadro 1 Produções colaborativas 

Fonte: os/as autores/as.

Para a geração dessas produções, inicialmente foi solicitado que cada um dos membros da turma fizesse a leitura do livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”. Em seguida, foram realizados ciclos de debates sobre a obra. Após a leitura e a reflexão acerca do livro texto, a turma foi organizada em grupos de até seis componentes. Cada grupo foi desafiado a elaborar recursos didáticos a partir do uso de suporte impresso, de suporte em áudio, suporte audiovisual e sistematizar essas produções em blogs (suporte digital). Todas as produções deveriam levar em consideração seu potencial de uso com crianças de diferentes faixas etárias e níveis de desenvolvimento. Além disso, uma vez que esses recursos emergiriam da narrativa de “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” seria importante levar em consideração que esse texto não foi pensado para o público infantil. Seria necessário adaptar os produtos e as narrativas neles contidas para o trabalho pedagógico com as crianças.

No geral, foram produzidos 14 produtos educacionais que tomaram por base os suportes impressos. Como exemplo dessas produções, é possível destacar, inicialmente, a produção de um barraco de papelão no qual a criança pode entrar dentro e, ao abrir suas janelas, se defrontar com imagens impressas que, auxiliadas por uma caixa de som cujo áudio orienta o passeio dentro da caixa, contam uma história sobre Carolina Maria de Jesus. Uma ilustração desta produção pode ser visualizada a partir da figura 1.

Esta proposta de contação de histórias a partir de uma caixa de papelão, adornada com papel laminado e imagens que representam partes da narrativa de “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” foi desenvolvida por um grupo de três integrantes. A partir dessa experiência, dentro da caixa, é possível explorar formas, espaços, cores, imagens e recursos audiovisuais (uma vez que a experiência era orientada por uma gravação que era reproduzida por um dispositivo de áudio fixado dentro da caixa). Ao explorar esse produto, a criança busca descobrir o que há por trás das janelas, o que pode vir após a cortina, o que o áudio pode orientar a fazer. A caixa permite a imersão de uma criança por vez em seu interior. A orientação é que o/a professor/a possa mostrar todas as janelas que podem ser abertas, mas que não as abra. E que, depois disso, cada criança possa ter acesso à caixa e possa ela mesma ter a experiência de, a partir do áudio que narra a viagem dela na caixa, explorar cada janela e compreender a história que é contada.

Outro recurso didático desenvolvido com suporte impresso pode ser visualizado na figura 2.

Essa proposta foi desenvolvida por um grupo de três integrantes. Ao buscar valorizar o gênero “Cordel”, este grupo construiu uma poesia ilustrada a partir da obra “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Caso a turma de crianças que vai explorar este cordel ainda não saiba ler, o/a professor/a pode ler para as crianças. A ilustração desse cordel não se baseou na tradicional impressão em xilogravura. Como uma das componentes do grupo de autoras tem habilidade com desenho em grafite, esse talento foi utilizado na oportunidade desta atividade. Segundo Santos, Silva e Santos (2019, p. 43), “os versos do cordel são escritos em sextilhas - estrofes de seis linhas com sete sílabas [rimáveis] cada uma, com os seguintes esquemas de rimas: AXBXCX”. O cordel “minhas lutas” obedece a essa métrica de rimas e sílabas e toma “a fome e a resistência das mulheres negras” como mote.

Santos e Silva (2020), ao explorarem os cordéis com estudantes de diversos níveis de ensino, constataram que o uso e a produção desse tipo de gênero literário em sala de aula pode favorecer o aprendizado de uma nova língua; a contextualização de temas; a aproximação com a linguagem popular; o trabalho colaborativo; o alargamento e o aprofundamento dos saberes pedagógicos e culturais. Já Santos, Silva e Santos (2019), consideram, além destas potencialidades do cordel, que o uso e a exploração desse gênero literário, no contexto da sala de aula, pode proporcionar a emergência de debates e problematizações da realidade; pode favorecer a transposição do sistema panóptico do controle curricular e abrir caminhos para a inter/transdisciplinaridade; favorecer experiências metacognitivas que possibilitem aos sujeitos aprofundarem e ressignificarem conceitos; proporciona um deslocamento da função docente ao atuar como mediador do processo e impulsionar o protagonismo dos/das estudantes. A partir de tais produções, “o ambiente escolar pode se constituir num cenário de saraus, declamações, de mostras, por meio das quais participam tanto os alunos e professores quanto os pais, gestores, funcionários de apoio administrativo, pedagógico e de serviços diversos” (Santos; Silva; Santos, 2019, p. 50).

Na sequência das produções, a título também de ilustração, é possível explicitar ainda a transcrição de alguns radiodramas produzidos. Ao todo foram produzidos 7 radiodramas. As produções foram em grupos e esses grupos poderiam ter entre 6 e 8 componentes. Cada radiodrama poderia ter até 15 minutos de duração. A orientação à produção de radiodramas sinalizou para a possibilidade e a necessidade de uso de efeitos sonoros (background - música de fundo, jingles, vinhetas, aberturas, cortinas sonoras, etc.), para a construção de roteiros para o rádio, o papel do/a narrador/a, dos/as personagens, e para recursos de edição de áudio.

O quadro 2 exemplifica os resultados destas produções a partir dos roteiros de um desses radiodramas.

Quadro 2 Radiodramas produzidos 

Título Roteiro
Radionovela: em busca de ser cinderela

15’00’’
Roteiro das falas
Música no fundo
Narrador: Estamos apresentando “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Capítulo de hoje: “Em busca de ser Cinderela”.
(Inicia-se com o som de um rádio ligando e música de bolero ao mesmo tempo escuta-se os sons de panela batendo e água)
Crianças: (brigando entre si - os filhos e a filha de Carolina iniciam uma pequena discussão).
Carolina: Parem de brigar! Se comportem! Não é porque moramos na favela que temos que nos comportar como bichos!
Carolina: Ai, Deus! (Suspiro)...Tenho que escrever meu diário!
(Som de batidas na porta)
Carolina: João José abra a porta e mande entrar!
(Som da porta se abrindo)
João José: É seu João mãe. Pode entrar seu João.
(Som de passos)
Seu João: Carolina minha “fia” eu vim aqui saber se você sabe me dizer onde posso encontrar folha de batata para minha “fia” bocejar um dente?
Carolina: É bem possível na portuguesinha.
Seu João: O que você está escrevendo?
Carolina: O meu diário.
Seu João: Eu nunca vi uma preta gostar tanto de livro como você.
Carolina: Ah, todos têm um ideal! O meu é de ler e um dia o senhor vai ver o meu livro nas bancas de revistas, vamos poder comprar sapatos lindos e vestidos como os da Cinderela! Mas, por enquanto, vou tentando escrever para as reportagens.
Seu João: Oh menino! Tome aqui esse dinheirinho para comprar um sapatinho para vocês.
(Som de passos)
João José: Olha mãe, um bilhete no chão!
Carolina: Pega pra mim filho, é do repórter.
(Som de folhas passando)
Narrador: A reportagem vai sair dia 10 no Cruzeiro e o livro será editado.
Carolina: Ai que emoção! Terei meu livro! Vou contar ao seu Manoel! (Felicidade)
Carolina: Seu Manoel! Quarta-feira vai sair a reportagem sobre a favela e ele quer levar o meu livro para imprimir.
Seu Manoel: Eles vão é ganhar dinheiro nas suas costas! Não dê o livro para eles não!
Carolina: Hum...Seu Manoel fala coisa com coisa, viu? (Som de música)
Carolina: Aí que bom saiu a minha reportagem! (Expressão de felicidade). Bom dia, jornaleiro! Sabia que a reportagem do Cruzeiro é minha? Olha me dá uma força aí, por favor. Zé da Farmácia! O senhor tem que ler! Viu a reportagem? Dona Maria! A reportagem chegou hoje! A senhora num vai ler não? Olhe aí é sobre a favela! Oi, Vera! Vim receber o meu dinheiro... olha você viu que saiu uma reportagem no Cruzeiro?
Pessoa da cidade 1: Olha, lá aquela mulher saiu no Cruzeiro ela. Ela anda suja!
Pessoa da cidade 2: Humm... Ela saiu no Cruzeiro! Tá cheia de cruzeiro hein...Carolina! (Tom de deboche).
Pessoa da cidade 3: Eles te pagaram Carolina?
Carolina: Eles vão me dar uma casa! (Tom de animação)
Pessoa 3: Ah...vai esperando... (risos).
Carolina: Se não me derem uma casa compro pelo mesmo comida e sapato.
Pessoa 2: Vou voltar para casa...colocar a comida no fogo.
(Som de música)
Várias vozes: Essa mulher é fofoqueira! Ela pensa que é melhor que as mulheres da favela, por acaso? Disse que eu abandonava meus filhos! Essa mulher é fofoqueira! Ela disse que eu me vendia para ganhar dinheiro! Ela quer ficar famosa! Ela não gosta de favelado!
Morador: Você botou na revista, Carolina, que eu não trabalhava? Me chamou de vagabundo?
Carolina: Eu escrevo porque preciso mostrar aos políticos as péssimas qualidades de vocês. E eu vou contar mesmo! Agora dá licença, vai?! Eu tenho mais o que fazer! Sai! Sai todo mundo da minha porta! Sai! Sai!
(Som de música)
Carolina: Acorda... vamo... acorda minha gente vocês vão para a escola!
Vera: Oh, mãe! Não quero ir para escola.
Carolina: Eu vou catar papel porque hoje não temos nada para comer. Eu preciso juntar algum dinheiro para os nossos sapatos.
Carolina: Aí meu Deus que fome! Tô sem força... Estou tonta... Aff! Estou vendo tudo amarelo acho que nesse lixo tem comida eu vou olhar...
(Abrindo o saco de lixo)
Uma senhora: Carolina... toma aqui minha filha um cafezinho com bolacha. Aqui tem uns papelão para você...venha buscar mulher...chegue.
(Som de café na xícara e de uma pessoa comendo)
Carolina: Eita... as cores do mundo voltou! O meu mal era fome!
(Som de música)
Seu Pedro: Carolina tem umas latinhas aqui...vem pegar mulher!
Carolina: Obrigada, Seu Pedro! Vou passar ali na feira para vê se eu cato uns restos de osso para fazer sopa.
Carolina: Opa...tem osso aí...
(Som de carro e passos)
Morador: Olha só onde vem Carolina...
Euclides: Cara, eu gosto muito da Carolina... Ela disse que quer escrever muito livro, mas a coitada precisa trabalhar... Como ela vai ter tempo para escrever?
Morador: Aí amigo, ela já está acostumada... Pra que preta anda escrevendo? Vai escrever o quê? Como é bom viver na favela?
Euclides: Se ela quisesse eu sustentava ela!
Morador: Jura que ela vai querer um aleijado, como tu? Se manca Euclides!
Carolina estava aqui te elogiando pro Euclides...
Euclides: Ohh... Dona Carolina! A senhora tá dento do meu coração! Dento da minha cabeça! E eu tenho dinheiro para te ajudar!
Carolina: Será se ele compraria sapatos pra nós? (Pensamento)
Euclides: Me dá um abraço Carolina?
Carolina: Sai Euclides! Deixa que eu compro os sapatos!
Euclides: Sapato? Eu compro minha Cinderela!
(Som de passos, dá porta abrindo e fechando, tampa da panela e chuva)
Vera: Aí, mãe! Já começou a pingueira...
João José: Mãe, tô com fome...
Carolina: Hoje é mingau com aveia, viu?
Vera: Eca! Mãe nem gosto de mingau de aveia!
Carolina: Ah! É o que tem! Se não você vai dormir com fome! Hum! Oh vida essa de favelado... Meu refúgio é escrever!
José Carlos: Mãe vamos dormir?
(Som de relógio)
Carolina: Eita! Já são 4 da manhã! Acorda filha! Vamos para fila do Natal! O Centro Espirita vai fazer doações! (Som de música)
Mulher passando: Nossa! A fila tá enorme já!
Homem passando: Que fila é essa, hein? Será que esse povo é deste mundo? (risos)
Carolina: Nós somos feios e malvestidos, mas somos deste mundo sim! (risos) Será que estamos parecendo bichos? Vamos filha para casa!
Vera: Ganhamos sapato mãe?
Carolina: Não! (Tom de tristeza) Mas ganhamos comida! Eeeeeeee... (Tom de felicidade)
Senhora: Oh! Carolina! Carolina vem cá! Tenho uns presentinhos para te dar! Vou buscar... Espera só um minutinho.
Vera: É um presente mãe! (Tom de euforia) Será que é uma boneca?
Carolina: Eu acho que é comida filha.
Senhora: Toma aqui esses presentinhos... Brinquedinhos para brincar no Natal... Presentinho para as crianças.
Vera: As meninas vão morrer de inveja! Vou rezar pela senhora e vou ensinar a boneca a rezar! Vou rezar para a senhora ir para o céu e nunca ter uma doença que dói.
Carolina: Obrigada, senhora! Deus te abençoe! Vamos filha!
(Som de panela com óleo no fogo e mexendo nos talheres)
Carolina: A lua tá linda hoje eu vou escrever. (Som folheando o diário e riscos). É...! vejo que precisamos de muitas coisas. Mas, assim como as palavras da filha, vou pedir a Deus que eu não tenha doença que dói e, assim, mesmo sem sapatos, descalça, mas com saúde para correr atrás do que comer. Quem não tem um amigo, mas tem um livro, tem uma bela estrada!
(Som de sintonizando o rádio e música)
https://www.youtube.com/watch?v=H8QIHVSdceU

Fonte: Transcrição realizada pelos/as autores/as

Diferente das produções em suporte impresso nas quais as imagens são dadas pela ilustração, no caso dos radiodramas as imagens são geradas pela capacidade de imaginação dos/as ouvintes. Para que as imagens sejam mais ricas, a descrição e o uso de efeitos sonoros precisam ser muito bem elaborados e combinados. Os radiodramas podem ser classificados em três tipos. Para Diniz (2009, p. 103),

O primeiro, unitário, é conhecido entre os brasileiros como peça radiofônica. A narrativa começa e termina em uma única apresentação.

No segundo tipo, seriado, também a cada capítulo é apresentada uma trama independente. A diferença é que esse gênero tem mais de um episódio. Mesmo assim, a audiência não precisa acompanhar o capítulo anterior para entender o enredo. Os personagens do seriado são fixos e isso garante a unidade da obra. No entanto, cenários e argumentos mudam a cada episódio.

A radionovela é o terceiro tipo de radiodrama. Ela tem uma estrutura de apresentação diferente das anteriores. A trama é continuada e se desenvolve em muitos capítulos. É preciso escutá-la na íntegra ou quase na íntegra. Quando se perdem vários capítulos é quase impossível acompanhar o enredo. A estrutura continuada da radionovela dificulta o seu caráter educativo.

Para o caso desta proposta de desenvolvimento de material, percebe-se que os grupos desenvolveram um radiodrama unitário. Os dois casos retratam cenas adaptadas do livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. A investigação de Silva e Mercado (2015, p. 13), com a produção de radiodramas unitários com professores/as no contexto da formação continuada evidenciou que “a produção de radiodramas de forma amadora a partir do uso do celular contribui para a formação de sujeitos autores, mas apresenta algumas limitações do ponto de vista da qualidade dos produtos”.

É comum, nesse tipo de produção, a presença de ruídos externos, a baixa rigorosidade na construção do roteiro, dos personagens e dos efeitos sonoros, dadas as condições do ambiente no qual o radiodrama é produzido, bem como a disposição de equipamento de captação e edição de áudio. Além disso, as orientações para a produção desse material também foram breves e não se constituíram uma formação para produção de conteúdo, propriamente dita. Contudo, é possível dentro do contexto de uma disciplina de curso de graduação, instigar a curiosidade para buscar mais e melhores produções e meios de produção. A experiência de Silva e Mercado (2015, p. 15) com a produção de radiodramas unitários junto com professores/as sinaliza que “esse tipo de trabalho contribui para a motivação dos sujeitos, para o controle da indisciplina escolar; para a superação da timidez; e para o reconhecimento das tecnologias como uma necessidade pedagógica no mundo contemporâneo”. Observa-se ainda que a opção de todos os grupos foi por compartilhar os radiodramas em formato de vídeos na interface YouTube. Justificamos essa opção por conta da amplitude de formatos que o YouTube aceita, tornado assim os materiais gravados e editados interoperáveis, mesmo em face das diferentes extensões em que são salvos.

Por fim, foram produzidos 7 conteúdos audiovisuais. Com relação aos gêneros fílmicos utilizados nestas sete produções, é possível mencionar: stop motion (sequência animada de várias fotografias), animação gráfica (produzida na interface Canva), documentário, entrevistas com crianças, drama, teatro de bonecos, programa de TV. Dentre os 7 audiovisuais que foram desenvolvidos, explicitamos o roteiro de um desses no quadro 3.

Quadro 3 Conteúdos audiovisuais produzidos 

Título Descrição
Audiovisual: documentário - a vida de uma catadora de recicláveis -
Documentário: a vida de uma catadora de recicláveis. Pedagogia-UFAL

11’12’’
Integrantes: Gabriella Silva; Rodrigo Santos; Lucas Lopes; Erika dos Santos; Tamires Silva; Luana Nunes;
Resumo:
Documentário sobre a vida/rotina de uma catadora de recicláveis semelhante à de Carolina Maria de Jesus. É mostrada a realidade de Maria Rosimery. Uma parcela do sustento de sua família se dá por meio da busca de plásticos, papelões e alumínio nas ruas, com o intuito de vender e receber pagamento por eles.
Método e propostas:
Pode ser desenvolvido em sala de aula, depois de visualizado, no despertar de temas como a importância de cuidar do meio ambiente, o valor do trabalho reciclável e o respeito ao próximo.
Possibilidade de criar um debate: pede-se que o aluno anote, num papel, problemas identificados no vídeo e através das frases criadas por eles mesmos. Com base no vídeo, seriam levantadas sugestões para atitudes que mudam o mundo.
Oi, queridos leitores! Tudo bem com vocês? No post de hoje trouxemos um incrível documentário produzido pela equipe maravilhosa composta por: Gabriella Silva, Rodrigo Santos, Erika dos Santos, Tamires Soares, Luana Nunes e Lucas Lopes. No documentário é contada a história de uma mulher que mora na cidade de Arapiraca/AL; que ganha a vida catando reciclagem, latinhas para complementar na renda de casa e tem uma história de vida muito semelhante com a de Carolina Maria de Jesus, retratada no livro “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Ficou curioso para saber mais sobre esse incrível documentário? Então não perde tempo e clica aqui nesse link e vem conferir tudo! Estou te esperando!
*Com esse vídeo apresentado, iríamos passar o vídeo mostrando a história dela, o dia a dia dela sempre mostrando algo a mais, tipo imagens para que possam identificar com mais detalhes. Ao final do vídeo faria um projeto tipo de uma semana estimulando as crianças a trabalhar a reciclagem do meio ambiente ao cuidado com o meio ambiente, separar cada lixo no seu devido lugar.
Edição de imagens e entrevista: Gabriella Silva.
Voz Narrativa: Rodrigo Santos
Edição de texto: Gabriella Silva, Rodrigo Santos, Luana Nunes, Lucas Lopes, Erika dos Santos, Tamires Silva.
https://www.youtube.com/watch?v=jICcQBdtVrc

Fonte: https://quemdiriacarolina.blogspot.com/

O estudo de Silva e Mercado (2013) acerca da produção de vídeos amadores com estudantes do ensino médio explicita que “o emprego desta metodologia propicia a transposição da avaliação como um processo, no qual todos podem se envolver e no qual todos aprendem em conjunto e são responsáveis pelo resultado de sua aprendizagem” (Silva; Mercado, 2013, p. 11). Já o estudo de Silva e Silva (2011), permitiu a constatação de que a produção de vídeos num curso de formação de professores pode favorecer o reconhecimento desses sujeitos como autores de materiais com potencial didático, a integração de saberes mobilizados dentro do curso de graduação, a interlocução com diferentes áreas do conhecimento tais como a “comunicação social”, “cinema” ou “teatro”.

Dentro desta abordagem, o papel docente também desloca do centro da sala de aula e favorece o protagonismo discente. A superação da timidez também é uma possibilidade. Com efeito, no trato com radiodramas e produções audiovisuais para compartilhamento, uma reflexão sobre os cuidados éticos e sobre direitos autorais é sempre fundamental.

Considerações finais

Ao compreender as bases desta sociedade a partir da vivência da coisa, Carolina consegue em seus diários captar e reproduzir as contradições sociais que observava na década de 1950 e que ainda hoje são atuais. Assim, seu legado, pouco explorado em práticas escolares e universitárias, se constitui num registro latente de investigações e desenvolvimento de propostas de ensino capazes de produzir pensamento crítico sobre o Brasil real.

A experiência desenvolvida na disciplina “Educação e Novas Tecnologias da Informação e Comunicação” ofertada no primeiro período do curso de Pedagogia da UFAL, campus Arapiraca, no primeiro semestre do calendário civil de 2022 é um exemplo que ilustra possibilidades didáticas de formação de professores a partir da obra de Carolina Maria de Jesus. Constatamos a possibilidade de produzir material didático em formatos variados a partir da adaptação de trechos da obra “Quarto de despejo: diário de uma favelada”. Os materiais produzidos já se constituem em fonte de inspiração para elaboração de propostas didáticas a serem implementadas em turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Ao desenvolver tais experiências em cursos de formação docente, podemos inspirar jovens profissionais da educação a promoverem debates antirracistas e antissexistas no contexto escolar e universitário. Além disso, podemos fomentar pedagogias anti-imperialistas que questionam o currículo oficial em favor de um currículo cada vez mais decolonial. Propostas como esta favorecem aos/às sujeitos/as que vivenciam a experiência o reconhecimento de si como autores/as de seus próprios materiais didáticos, a possibilidade de criar um ambiente fértil ao reconhecimento de si mesmo/a e do/a outro/a como alguém com potência para tensionar a partir de suas ações a estrutura racista deste modelo de sociedade.

O legado de Carolina Maria de Jesus inspira novas resistências. A abordagem da vida e da obra desta escritora no contexto escolar e universitário pode contribuir para que nossa esperança na construção de uma sociedade igualitária, jamais esmaeça.

Referências

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Recebido: 31 de Maio de 2023; Aceito: 08 de Outubro de 2023

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