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Revista Brasileira de Educação Médica

versão impressa ISSN 0100-5502versão On-line ISSN 1981-5271

Rev. Bras. Educ. Med. vol.43 no.1 supl.1 Rio de Janeiro  2019

https://doi.org/10.1590/1981-5271v43suplemento1-20190060.ing 

ARTIGO ORIGINAL

Situações de Violência Interpessoal/Bullying na Universidade: Recortes do Cotidiano Acadêmico de Estudantes da Área da Saúde

Maria Paula Panúncio-PintoI 

Matheus Francoy AlpesI 
http://orcid.org/0000-0001-9617-7668

Maria de Fátima Aveiro ColaresI 

IFaculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil.


RESUMO

Bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas (de maneira insistente e perturbadora) que ocorrem sem motivação evidente e de forma velada, sendo adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s) numa relação desigual de poder, e são consideradas uma forma de violência interpessoal. Este fenômeno se manifesta sutilmente, sob a forma de brincadeiras, apelidos, trotes, gozações e agressões físicas. É possível identificar extensa literatura sobre as consequências do bullying para o desempenho escolar e participação em contextos de vida para crianças e adolescentes, mas ainda são poucos os estudos sobre o fenômeno na universidade. Este estudo buscou a percepção de estudantes e professores de uma universidade pública sobre a presença de violência interpessoal/ bullying no cotidiano acadêmico e suas manifestações. Participaram 137 estudantes e 32 professores, abordados por meio do questionário eletrônico Google Docs. Para 86 estudantes (63%) e 20 professores (63%), a violência interpessoal/ bullying está presente na graduação. A análise de conteúdo permitiu identificar sete categorias empíricas entre estudantes e três entre professores, sendo as mais frequentes violência interpessoal/ bullying na relação veterano-calouro; violência interpessoal/ bullying devido a características pessoais; violência interpessoal/ bullying devido à orientação sexual/gênero e violência na relação professor-aluno. Estudantes e professores são capazes de identificar tal fenômeno como presente no cotidiano da graduação e em diversas esferas, sendo mais recorrente entre os pares. Situações que emergem dos recortes discursivos preocupam pela intolerância presente no cotidiano, fazendo refletir sobre o papel da educação universitária na formação para a cidadania. É imprescindível tomar atitudes em relação à prática do bullying na universidade, a fim de garantir ao estudante sua estabilidade emocional e psicológica e seu bem-estar.

Palavras-Chave: Bullying; Violência Interpessoal; Ensino Superior

RESUMO

Bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas (de maneira insistente e perturbadora) que ocorrem sem motivação evidente e de forma velada, sendo adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s) numa relação desigual de poder, e são consideradas uma forma de violência interpessoal. Este fenômeno se manifesta sutilmente, sob a forma de brincadeiras, apelidos, trotes, gozações e agressões físicas. É possível identificar extensa literatura sobre as consequências do bullying para o desempenho escolar e participação em contextos de vida para crianças e adolescentes, mas ainda são poucos os estudos sobre o fenômeno na universidade. Este estudo buscou a percepção de estudantes e professores de uma universidade pública sobre a presença de violência interpessoal/ bullying no cotidiano acadêmico e suas manifestações. Participaram 137 estudantes e 32 professores, abordados por meio do questionário eletrônico Google Docs. Para 86 estudantes (63%) e 20 professores (63%), a violência interpessoal/ bullying está presente na graduação. A análise de conteúdo permitiu identificar sete categorias empíricas entre estudantes e três entre professores, sendo as mais frequentes violência interpessoal/ bullying na relação veterano-calouro; violência interpessoal/ bullying devido a características pessoais; violência interpessoal/ bullying devido à orientação sexual/gênero e violência na relação professor-aluno. Estudantes e professores são capazes de identificar tal fenômeno como presente no cotidiano da graduação e em diversas esferas, sendo mais recorrente entre os pares. Situações que emergem dos recortes discursivos preocupam pela intolerância presente no cotidiano, fazendo refletir sobre o papel da educação universitária na formação para a cidadania. É imprescindível tomar atitudes em relação à prática do bullying na universidade, a fim de garantir ao estudante sua estabilidade emocional e psicológica e seu bem-estar.

Key words: Bullying; Violência Interpessoal; Ensino Superior

INTRODUÇÃO

A palavra bullying tem origem no termo inglês bully , que significa: brigão, mandão, valentão1 . Trata-se de um assunto que tem ocupado grande espaço na mídia e gerado preocupação no contexto educacional. É possível identificar inúmeras iniciativas da sociedade para compreendê-lo e diminuir seu impacto negativo na instituição escolar, inclusive na universidade. Pelas características do fenômeno, torna-se importante abordá-lo do ponto de vista da violência.

A violência tem sido vista como um problema de saúde pública importante e crescente no mundo, trazendo sérias consequências individuais e sociais, particularmente para os jovens, que aparecem nas estatísticas como os que mais morrem e os que mais matam2 . Mais do que considerar a violência como multicausal, é necessário olhar para ela da perspectiva da complexidade, considerando a interpenetração sujeito = contexto. Assim, se, por um lado, a pobreza e a exclusão aos direitos podem levar ao esgotamento das estratégias para lidar com a adversidade, conduzindo à violência, por outro lado, é um grave equívoco pensar que a violência só esteja presente entre os pobres. Todos os dias, temos lições da realidade que nos mostram situações em que a violência interpessoal acontece em diversos níveis da pirâmide social3 . Exemplos podem ser encontrados nas relações no trânsito, na construção da relação professor-estudante e na relação estudante-estudante, como no período de ingresso na universidade, com o chamado trote.

No contexto das violências interpessoais, o bullying emerge como importante fenômeno. Bullying compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, de maneira insistente e perturbadora, que ocorrem sem motivação evidente e de forma velada, sendo adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s) numa relação desigual de poder. Este fenômeno se manifesta sutilmente, sob a forma de brincadeiras, apelidos, trotes, gozações e agressões físicas2 , 4 .

A literatura sobre bullying no contexto da educação fundamental e do ensino médio apresenta que os seus alvos, em geral, não dispõem de recursos, status ou habilidade para fazer cessar os atos danosos. Em geral, são pouco sociáveis, inseguros e têm problemas para se adequar à convivência e participação em grupos. Apresentam aspecto físico diferenciado dos padrões impostos por seus colegas, e a baixa autoestima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos2 , 4 , 5 .

A prática de bullying está relacionada a quadros de transtornos psíquicos e/ou comportamentais que podem, muitas vezes, trazer prejuízos importantes à qualidade de vida e ao desempenho de atividades cotidianas das vítimas. São relatadas situações como fobia escolar, fobia social, transtorno de ansiedade generalizada, depressão, anorexia e bulimia, havendo relatos até de casos de suicídio e homicídio entre crianças e adolescentes6 .

Autores e testemunhas também podem sofrer as consequências: quem pratica tem grande probabilidade de manter práticas agressivas ao longo da vida, podendo adotar condutas antissociais; e quem presencia, por sua vez, se sente incomodado pelo clima que se cria no ambiente e pelo medo de ser o próximo alvo, o que acaba também gerando baixas em seu desenvolvimento educacional e social. A exposição constante ao bullying , de forma direta ou indireta, implica a assimilação, por parte dos envolvidos, deste fato como algo normal2 , 4 , 7 .

No contexto da educação universitária, tais situações de violência interpares também são alvo de preocupação, não só pelo clima de insegurança que sugerem e pelas possíveis situações de inadaptação e insucesso acadêmico, bem como pelos custos para a saúde dos envolvidos8 .

Na verdade, a universidade tem sido chamada a repensar sua responsabilidade pela educação integral de seus estudantes e o compromisso na difusão de valores que visem melhorar a condição humana9 . Mais do que isso, à universidade tem sido apresentado o desafio da formação técnica de excelência, ao mesmo tempo em que se espera uma formação ética e política que expresse o compromisso com a equidade10 .

A preocupação com o ambiente universitário e com o estudante, nessa perspectiva de integralidade, tem aumentando o interesse na compreensão de seu cotidiano e em aspectos ligados à sua adaptação à universidade, ao sucesso/insucesso acadêmico e aos fatores de estresse e saúde mental, entre outros11 - 16 .

É possível que a violência interpessoal no contexto da formação universitária seja um dos aspectos ligados ao fracasso acadêmico, à evasão e a dificuldades de ajustamento, sendo importante sua compreensão, com um olhar voltado para a formação integral, para os valores humanos e para a equidade.

Considerando que a violência interpessoal pode se estender além do período de ingresso e interferir no ajustamento e desempenho dos estudantes, ampliar a compreensão sobre a percepção de estudantes e professores universitários sobre a VIP/ bullying pode fornecer elementos enfrentar as dificuldades com as quais universitários se deparam ao longo de sua jornada na graduação.

Este trabalho apresenta os resultados de estudo exploratório, realizado ao longo de dois anos, em instituição de ensino superior (IES) que conta com sete cursos de graduação na área da saúde. O estudo teve como objetivo identificar a percepção de professores e estudantes sobre a presença de violência interpessoal ( bullying ) no contexto da graduação e suas formas mais frequentes.

MÉTODO

Trata-se de estudo descritivo-exploratório, com abordagem predominantemente qualitativa, com alguns procedimentos quantitativos, que realizou um levantamento geral sobre o reconhecimento da presença de VIP/ bullying no contexto da graduação na unidade. O caráter exploratório levou à construção de questionário semiestruturado, composto também por questões abertas. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (Processo HCRP 8663-2014).

Constituiu-se como universo desta pesquisa uma IES com sete cursos da área da saúde – Ciências Biomédicas, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Informática Biomédica, Medicina, Nutrição e Metabolismo, Terapia Ocupacional –, sendo a população de estudo seus estudantes e professores. A unidade contava, à época da coleta de dados, com 319 professores e aproximadamente 1.400 estudantes.

Os dados foram obtidos por meio de um questionário eletrônico semiestruturado, enviado juntamente com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) através de correio eletrônico a todos os professores e estudantes da unidade, utilizando a tecnologia Google Docs. Tal ferramenta consiste na criação de um sítio contendo os documentos da pesquisa, os quais são enviados por correio eletrônico através de um link que pode ser acessado pelo sujeito, devidamente preenchido e depois acessado pelo pesquisador no mesmo sítio. Foram efetuados três envios a cada trinta dias, em dois momentos (primeiro semestre de 2015; primeiro semestre de 2016), ressaltando que cada sujeito poderia participar apenas uma vez da pesquisa.

Em termos qualitativos, foi utilizada a análise de conteúdo como estratégia de identificação de categorias empíricas para as questões abertas do questionário17 . Tal análise permite a identificação de categorias através do conteúdo manifesto, numa abordagem dedutiva. O conteúdo manifesto é identificado por meio da utilização de palavras-chave para a leitura/busca, que pode começar com categorias predeterminadas pelo objetivo da pesquisa ou pelas hipóteses, permitindo incluir novas perspectivas com base no material analisado18 , 19 . Esta estratégia de pesquisa qualitativa permitiu identificar os tipos/categorias de violência interpessoal apresentadas por estudantes e professores. Em termos quantitativos, foi obtida a frequência de ocorrência dessas categorias, bem como das respostas para as questões fechadas (sim/não), as quais foram quantificadas pela frequência com que ocorreram.

RESULTADOS

Participaram do estudo 137 estudantes e 32 professores. Entre os estudantes, 78 são do sexo feminino (56%), 25 do sexo masculino (17%) e 38 (27%) não responderam a esta questão. A idade dos participantes variou entre 17 e 35 anos, sendo que 89 estudantes tinham entre 17 e 25 anos (65%), 34 tinham entre 26 e 30 anos (25%) e 14 tinham entre 31 e 35 anos (10%). Quanto ao curso, 25 eram do curso de Fonoaudiologia (18%), 24 de Fisioterapia (17%), 23 de Terapia Ocupacional (16%), 17 de Medicina (13%), 16 de Nutrição e Metabolismo (12%), 9 de Ciências Biomédicas (7%), 9 de Informática Biomédica (7%) e 14 estudantes não responderam a esta questão (10%) ( Tabela 1 ).

TABELA 1 Características dos estudantes 

Variável Número de estudantes Frequência relativa (%)
Sexo    
Feminino 78 56
Masculino 25 17
Não responderam 38 27
Idade    
17-25 89 65
26-30 34 25
31-35 14 10
Curso    
Fonoaudiologia 25 18
Fisioterapia 24 17
Terapia Ocupacional 23 16
Medicina 17 13
Nutrição e Metabolismo 16 12
Ciências Biomédicas 9 7
Não responderam 14 10
Total 137 100

Para 86 estudantes (63%), a VIP/ bullying está presente na graduação. Sobre as situações presenciadas, emergiram das respostas sete categorias, apresentadas no Quadro 1 com a frequência com que apareceram e alguns recortes discursivos que as compõem. São elas: VIP/ bullying na relação veterano-calouro, VIP/ bullying devido a características pessoais, VIP/ bullying devido à orientação sexual/gênero, violência na relação professor-aluno, VIP/ bullying devido ao desempenho acadêmico, VIP/ bullying devido à classe social e VIP/ bullying devido à etnia.

QUADRO 1 Categorias referentes a situações de violência relatadas por estudantes 

Categoria Frequência
Violência interpessoal/ bullying na relação veterano-calouro 20
“...veteranos intimidando calouros, por meio de ameaças verbais...” “...calouros sendo intimidados por palavras ou atitudes de veteranos...” “ ...coação dos calouros por parte de veteranos: obrigar o uso da boina... coagir a beber, agressões físicas: tapas, ficar ajoelhado e/ou em posição desconfortável...” “os apelidos dados aos alunos no início do curso muitas vezes representam bullying à uma característica (geralmente física) do ingressante” “um veterano de um outro curso dizer para uma caloura que iria “afogar ela no corote” por ela não dar o copo dela para ele.” “...presenciei xingamentos e agressividade quando o calouro esquecia o adereço do curso...”
Violência interpessoal/ bullying devido à características pessoais Brincadeiras, discriminação e apelidos pejorativos 20
“...colega de turma zomba do modo de falar de outra pessoa...” “...garotas sendo criticadas e zombadas por serem feias, gordas...” “...uma colega recebendo apelido depreciativo por ser desajeitada, mal arrumada...” “...colega de turma sofrer muito por suaidade ser mais avançada” “...um grupo de meninos diziam que uma menina parecia homem, pois ela tinha ‘barba’...” “pessoas rindo e fazendo “brincadeiras” quando uma pessoa tímida foi apresentar um seminário” “...colega que era rejeitada pela maioria da sala... muita humilhação. Ela saiu do curso.”
Violência interpessoal/ bullying devido à orientação sexual/gênero Brincadeiras, discriminação e apelidos pejorativos 13
“discriminação contra homossexuais” “brincadeiras de mal gosto sobre gênero” “já presenciei calouras sendo chamada de nomes depreciativos entre os veteranos...” “..Um amigo homossexual foi agredido por outro menino...”
Violência na relação professor-aluno 09
“professores maltratando, humilhando” “professor humilhando alunos por características pessoais” “professores, que aproveitam da posição de poder para aterrorizar os alunos, fazer pressão psicológica... e zombar dos alunos que têm dificuldade.” “já presenciei professor dizendo ao aluno durante a aula, para trancar a disciplina porque ele não seria capaz de ser aprovado”
Violência interpessoal/ bullying devido ao desempenho acadêmico Brincadeiras, discriminação 08
“...pessoas com dificuldades de entender a matéria...pessoas que fazem muitas perguntas...” “...alunos sofrendo chacotas pela sala de aula ao apresentar seminário...” “risadinhas quando alguém faz alguma pergunta para o professor.” “durante apresentações de seminários, ou outros eventos a pessoa errou algo ou se atrapalhou e muitas pessoas riram, e depois seus colegas ficaram zombando”
Violência interpessoal/ bullying devido à classe social 07
“...diferença com relação à situação financeira e escolar... por eu só ter estudado em escolas públicas” “em uma aula ao ser perguntado se alguém faz uso do SUS apenas uma colega e eu levantamos a mão, e os olhares foram preconceituosos...” “colegas de sala quando excluem alguns por conta de suas condições socioeconômicas” “ja testemunhei bullying com pessoas de baixa renda, foram zoadas por não se vestirem bem”
Violência interpessoal/ bullying devido à etnia 05
“...e racismo...” “...comentários em relação à cor/raça/etnia...” “...piadinhas sobre cor (racismo)...”

Entre os professores, 20 são do sexo feminino (63%) e 12 do sexo masculino (37%), com idades entre 39 e 64 anos; 20 (63%) identificaram a presença de VIP/ bullying , sendo que emergiram três categorias referentes às situações de violência relatadas, que são comuns a três das sete categorias observadas entre os estudantes.

As categorias, a frequência de sua ocorrência e alguns recortes discursivos que as compõem se encontram no Quadro 2 . São elas: VIP/ bullying devido a características pessoais, violência na relação professor-aluno e VIP/ bullying na relação veterano-calouro.

QUADRO 2 Categorias referentes a situações de violência relatadas por professores 

Categoria Frequência
Violência interpessoal/ bullying devido a características pessoais Brincadeiras, discriminação e apelidos pejorativos 21
“excesso de ironia, com tom pejorativo, entre amigos/estudantes” “situações subliminares que envolvem brincadeiras sutis ou exclusão explícita” “uma aluna excelente era alvo de chacotas devido a sua participação acima da média daquela turma” “anotações, na lista de chamada, de apelidos pejorativos na frente do nome de dois ou três alunos” “estudante(s) verbalizando características de outro(s) – ex.: altura, peso, vestuário, em tom depreciativo” “isolamento de uma graduanda que tem uma deficiência física”
Violência na relação professor-aluno 9
“tomei conhecimento através de narrativas dos alunos em sala de aula sobre formas agressivas e degradantes de brincadeiras feitas por professores médicos” “presenciei alunos ‘chorando’, ‘aflitos’, ‘desatentos’ e se referindo a atitudes de alguns professores em sala de aula, chegando a afetar a confiança e autoestima dos mesmos” “um professor ... humilhar os alunos em estágio por não saberem as respostas” “brincadeiras... assédio moral ... principalmente por situações de excesso de poder/ pseudopoder”
Violência interpessoal/ bullying na relação veterano-calouro 4
“exigência de utilização dos totens (boina, bandana, tala) sem flexibilidade para que a tradição seja mantida... ameaças verbais de penalidades sociais” “incidentes durante a semana de recepção de calouros” “quando acompanhava as matrículas, presenciei algumas situações como gritos e ofensas (suavemente caracterizadas como ‘brincadeira’)” “sinto que situações de humilhação (tipo ‘busca uma cerveja para mim’) continuam acontecendo nas festas envolvendo calouros” “obrigação de o calouro usar a boina amarela mesmo fora das dependências do campus”

DISCUSSÃO

A violência interpessoal/ bullying constitui um fenômeno social complexo, cuja definição carece de consenso. A despeito dessa falta de consenso em termos de denominação, certos elementos comuns permitem listar características que definem a violência interpares na escola: (a) consiste num tipo de comportamento violento; (b) envolve um grande espectro de ações negativas de natureza física, psicológica ou social, desenvolvidas durante um prolongado período e que são danosas para a pessoa à qual se dirigem; (c) de natureza intencional, ou seja, o agressor tem consciência do mal que causa à vítima; (d) em geral, aceita-se que a vítima não é responsável (causadora) pelas ações dirigidas contra ela; (e) o abuso pode ser perpetrado por um indivíduo ou grupo, e o alvo da violência pode ser um ou mais indivíduos, mas, em geral, a vítima é uma única pessoa20 . Em alguma medida, esses elementos estão presentes nas situações relatadas pelos recortes discursivos que constituem as categorias descritas neste estudo.

Uma das características mais importantes do bullying é o “abuso sistemático de poder”21 . Esta condição da caracterização de bullying está presente nas categorias que emergiram tanto entre estudantes quanto entre professores. Em situações que envolvem violência na relação professor-aluno e violência na relação veterano-calouro, o poder está claramente colocado, seja por uma hierarquia real (professor-aluno) ou imaginada (veterano-calouro).

As outras duas categorias de maior frequência, derivadas de situações relatadas por estudantes e professores (VIP/ bullying devido a características pessoais) ou apenas por estudantes (VIP/ bullying devido à orientação sexual/ gênero, VIP/ bullying devido ao desempenho acadêmico, VIP/ bullying devido à classe social e VIP/ bullying devido à etnia) também se referem a abuso de poder. Este abuso se produz a partir da assimetria existente entre a vítima e o agressor, podendo se dever ao fato de que a vítima pertença a uma minoria ou seja física ou psicologicamente mais fraca22 . São situações similares às tradicionalmente relatadas no contexto do ensino fundamental e médio: estudantes que não correspondem ao padrão físico, intelectual, de comunicação – muito altos, muito magros, muito tímidos – sofrem algum tipo de violência/discriminação (apelidos, brincadeiras, comentários jocosos), que podem ser considerados bullying , pois se repetem ao longo do tempo23 .

Com o descritor “violência universitária” existe um vasto número de publicações em língua inglesa, estudos que se referem à violência sexual, sobretudo contra mulheres24 , 25 , 26 . Igualmente, existem estudos sobre a violência no namoro ( dating violence ) entre estudantes universitários, ainda com foco no tema da violência contra mulheres27 , 28 , 29 . Existe, ainda, uma extensa produção que aborda a violência na relação veterano-calouro em situações que envolvem o chamado “trote” universitário (praxe em Portugal; hazing , em inglês)30 - 35 . N5 Brasil, em relação à violência contra mulheres no ambiente universitário, temos alguns estudos36 , 38 , 39 , 40 , e sobre a violência na relação veterano-calouro, um número crescente de publicações nos últimos anos39 - 43 .

A violência sexual praticada contra mulheres no contexto universitário é objeto frequente de investigação científica e de políticas afirmativas em muitas universidades norte-americanas, europeias e da América Latina44 . Contudo, na categoria VIP/ bullying devido à orientação sexual/gênero, não apareceram referências discursivas a violência sexual. Os recortes discursivos se referem a brincadeiras machistas, sexistas e à intolerância com a população lésbica, gay, bissexual, travesti, transexual e transgênero (LGBT).

Quanto à violência na relação veterano-calouro, é possível perceber, em estudos recentes, uma preocupação crescente em identificar, compreender e evitar essas situações violentas23 , 30 - 34 , 39 . Embora este não seja um estudo sobre “trote”, os estudos sobre a violência na relação veterano-calouro podem fornecer elementos para a compreensão da violência interpares no cotidiano acadêmico, uma vez que o tipo de violência que começa no período de recepção aos novos estudantes pode continuar ao longo da jornada acadêmica, extrapolando o período de chegada dos calouros e se interseccionando com as questões de gênero, raça e classe social, temas das demais categorias que emergiram nesta investigação.

É possível pensar que, se o calouro aceitou a “brincadeira” para fazer parte do grupo23 , ele deve continuar aceitando pelo mesmo motivo ao longo de sua jornada na graduação. Vale considerar ainda que muitos estudantes, ao entrarem na universidade, trazem uma história de vulnerabilidades emocionais e, ao serem vítimas de bullying , podem carregar um sofrimento significativo, necessitando muitas vezes de apoio psicológico para lidar com essa realidade.

O trote, como rito de passagem para a vida universitária, nem sempre é classificado como violento e opressivo. No entanto, situações que ganharam visibilidade nos últimos anos apontam os constrangimentos e a violência que podem estar presentes no trote universitário45 , 46 . Isso o coloca como problema a ser enfrentado pelos gestores e pela comunidade universitária.

“Trote” ( hazing , praxe) refere-se a situações que ocorrem num grupo em que prevalece o exercício de poder e controle dos membros mais velhos sobre os recém-chegados, no período de iniciação, quando se solicita ao iniciante que realize certas tarefas, que podem variar de brincadeiras sem maiores consequências até situações em que o exercício do poder e a autoridade dos mais velhos sobre os ingressantes levam a atividades que causam constrangimento e desconforto, envolvendo violência, humilhação, coerção para o consumo de álcool e outras drogas, podendo colocar em risco a integridade física e mental do calouro21 , 31 , 32 . A tradição presente nas atividades do trote e a naturalização da violência como brincadeira fazem com que estudantes que “sobreviveram” a ele o repitam no ano seguinte no papel de veteranos, argumentando que receber o trote foi bom para sua integração ao novo ambiente23 - 45 . Cria-se, assim, uma cultura institucional que reforça uma tradição nada saudável ou construtiva.

Estudos sobre o período de recepção aos calouros apontam que mais da metade dos estudantes de ensino superior passaram por algum tipo de trote23 , 33 , 39 , 41 . Essa adesão dos calouros ao trote o coloca como um acontecimento natural no contexto do ensino universitário. Ocorre que os abusos são frequentes, levando, muitas vezes, a situações extremas de prejuízo físico e emocional aos calouros, afetando negativamente seu ajustamento e adaptação a esta nova etapa.

Quando estudantes são abordados diretamente para expressar sua percepção sobre o trote, são obtidos valores próximos para as percepções positivas (alegria, integração, acolhimento) e negativas (indignação, humilhação, medo)35 , 37 . Alguns estudos apresentam relação significativa entre avaliação negativa do trote e gênero – mulheres avaliam negativamente mais que homens, e entre avaliação negativa e idade/período do curso – estudantes mais velhos/em períodos mais avançados avaliam positivamente mais que os mais jovens/em início de curso45 , 46 .

Nos estudos publicados no Brasil sobre VIP entre veteranos e calouros, grande parte envolvendo escolas médicas, a palavra “trote” é apresentada com conotação negativa de abuso, uma relação hierárquica que, antes de ter o objetivo de acolher, pretende humilhar, coagir, constranger23 , 43 . A agenda oficial das IES não utiliza a palavra “trote” para quaisquer de suas atividades durante o período de recepção aos calouros.

Situações de violência ocorridas nas universidades paulistas ganharam visibilidade nos meios de comunicação e deram origem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre “Violações dos Direitos Humanos nas Faculdades Paulistas”. O relatório final da CPI descreve violências de todo tipo praticadas no contexto da universidade, envolvendo trotes, festas e o cotidiano acadêmico47 .

As situações relatadas no contexto da CPI das universidades paulistas fazem emergir uma interface entre as três principais categorias identificadas neste estudo: a violência contra mulheres (assédio sexual, violência sexual, discriminação baseada em gênero) está presente em situações que envolvem a recepção aos calouros e os trotes, mas também está presente no cotidiano acadêmico de forma geral. Da mesma forma que a violência motivada por características pessoais, que pode estar muito evidenciada no momento do ingresso na universidade e se manter ao longo da graduação.

Os atos de discriminação motivados por aparência pessoal, classe social, raça ou desempenho acadêmico apontam o fato de que as vítimas, a exemplo dos achados em estudos sobre bullying no ensino fundamental e médio1 , 5 , 6 , 7 , são pessoas que fogem ao padrão dominante21 . Ou seja, o preconceito com “pessoas diferentes” seria o principal motivador do fenômeno8 , 48 .

Relatos de trotes que envolvem abuso e violência que frequentemente ganham os meios de comunicação no período de matrícula das novas turmas levaram à proibição dessa prática por leis específicas em alguns estados brasileiros. Desde 2015, o trote é proibido em todas as escolas públicas do Estado de São Paulo, em qualquer nível de ensino49 .

Na Universidade de São Paulo, o trote é proibido desde 1999 pela Portaria GR3154/9950 . Esta mesma portaria estabelece que as práticas violentas são proibidas não só nos limites geográficos dos campi , mas em qualquer lugar onde as pessoas estejam reunidas em nome da universidade, ampliando o conceito de “ambiente universitário”, bem como a responsabilidade da comunidade universitária com eventos que ocorrem em repúblicas, nas ruas nos chamados “pedágios” e em outros espaços onde estudantes circulam.

A despeito da legislação que proíbe o trote, sua extinção não parece possível, visto que envolve tradições das IES com grande valor simbólico e vistas como incontestáveis. As universidades são ambientes altamente hierarquizados, que geram diferentes formas de VIP: a violência está presente nas relações entre professores e alunos, preceptores e alunos, professores e preceptores41 , oferecendo aos estudantes um modelo de relação interpessoal baseado na violência. Em estudo sobre abusos sofridos por estudantes em escolas médicas, docentes e preceptores foram identificados como agressores: abuso verbal, humilhações, xingamentos, elementos facilitadores da hierarquização, competição e fragilidade das relações interpessoais23 . Essa hierarquia tão fortemente definida na universidade leva à promoção de símbolos e rituais que favorecem a reprodução da violência35 entre veteranos e calouros, professores e estudantes, estudantes e estudantes, em qualquer período da formação.

É importante salientar que a discussão dos resultados encontrados neste estudo utilizou as denominações “violência interpessoal” e “ bullying ” como sinônimos. O uso da palavra bullying se consagrou em estudos sobre a ocorrência da violência interpares no contexto do ensino fundamental e médio, entre crianças e adolescentes. É possível assumir aqui a compreensão de que a violência interpares em qualquer nível de ensino pode ser denominada “ bullying ”. De fato, estudos sobre a VIP na universidade adotam o termo1 , 3 , 8 , 12 , 23 , 40 , 42 , sobretudo porque se baseia numa relação de poder imaginada, entre iguais. Isto não se aplicaria à relação professor-aluno, visto que a hierarquia neste caso é real, tanto quanto nas relações de violência interpessoal em ambiente de trabalho.

Nesse sentido, é imprescindível tomar atitudes para cuidar das relações interpessoais no contexto da formação universitária, a fim de garantir ao estudante estabilidade emocional, adaptação e ajustamento à graduação, bem como formação ética e política, para atuar na sociedade com responsabilidade em relação à garantia dos direitos humanos.

Um trecho do discurso de um estudante ilustra e sintetiza o sentimento daqueles que se sentem atingidos por formas variadas de violência ao longo da vida acadêmica: “achei que o espaço universitário fosse tolerante, pluralista, e é o oposto disso”.

Finalmente, é necessário considerar o número de participantes frente à população do estudo. Cerca de 1.400 estudantes dos sete cursos oferecidos pela unidade foram convidados a responder ao formulário enviado via Google Docs ao e-mail institucional das turmas. Responderam ao convite, aceitando participar do estudo, 137 estudantes (9,8% da população). Dos 320 docentes convidados a participar, pelo mesmo método, 32 aceitaram (10%). A baixa adesão pode ser atribuída a diversos motivos, entre eles o hábito de não utilizar o e-mail institucional e pouco interesse pelo tema VIP/ bullying ou por assuntos relacionados ao ensino de graduação. Entretanto, por se tratar de abordagem exploratória, ainda que se possa argumentar que o tamanho da amostra não permite generalizações, a repetição dos temas que constituíram as categorias indica os tipos de situação presentes no contexto da graduação, de acordo com a perspectiva dos estudantes e professores que aceitaram participar. Os temas que apontam os tipos de violência podem ser tomados como ponto de partida para outras investigações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo exploratório permitem concluir que os estudantes e professores que participaram deste estudo reconhecem a presença de VIP/ bullying no cotidiano da graduação, sendo mais comumente identificada a violência interpares, na relação veterano-calouro. Também emergiu como categoria, com frequência mais discreta, para estudantes e professores, a violência na relação professor-aluno.

Relações assimétricas de poder podem se estender para além do período de recepção aos calouros, e a violência, naturalizada como brincadeira, se torna invisível; quando abusar do outro se torna engraçado, torna-se evidente a necessidade de refletir sobre a educação oferecida na universidade. Que valores devem caracterizar a educação universitária?

Os resultados deste estudo preocupam pela constatação de que a intolerância e o desrespeito às diferenças estão presentes, com exemplos tão concretos, no cotidiano de uma IES.

Neste sentido, é imprescindível tomar atitudes para cuidar das relações interpessoais no contexto da formação universitária, a fim de garantir ao estudante sua adaptação e ajustamento à graduação, bem como uma formação ética e política para que atue na sociedade buscando a garantia dos direitos humanos e da equidade.

AGRADECIMENTOS

A Gabriel Morais Xavier dos Santos e a Lais Bernardes Garcia, pelo apoio à coleta dos dados.

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APOIO INSTITUCIONAL E FINANCEIROPrograma Unificado de Bolsas da Universidade de São Paulo (PUB-USP 2014-2016).

Recebido: 5 de Junho de 2019; Aceito: 17 de Julho de 2019

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Maria Paula Panúncio-Pinto Departamento de Ciências da Saúde Av Bandeirantes, 3900. Monte Alegre CEP 14.049-900 Ribeirão Preto – S.P. e-mail: mapaula@fmrp.usp.br

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Maria Paula Panúncio-Pinto participou como orientadora da pesquisa, definindo os objetivos e método, acompanhando as etapas de coleta e análise de dados, bem como a elaboração e revisão final do artigo. Matheus Francoy Alpes foi responsável pela coleta e análise de dados, bem como pela elaboração do artigo. Maria de Fátima Aveiro Colares auxiliou no processo de análise de dados e elaboração do artigo.

CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

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