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Revista Brasileira de Educação Médica

Print version ISSN 0100-5502On-line version ISSN 1981-5271

Rev. Bras. Educ. Med. vol.44 no.4 Rio de Janeiro  2020  Epub Aug 17, 2020

https://doi.org/10.1590/1981-5271v44.4-20200180.ing 

CARTA AO EDITOR

A Importância do Emprego da Terminologia Anatômica nas Ciências da Saúde

Giuliano Roberto GonçalvesI  II 
http://orcid.org/0000-0002-6486-1729

Richard Halti CabralIII 
http://orcid.org/0000-0002-0850-0953

Leandro Henrique GreccoIV 
http://orcid.org/0000-0001-8896-5859

IFaculdade São Leopoldo Mandic, Araras, São Paulo, Brasil.

IICentro Universitário UniMetrocamp, Campinas, São Paulo, Brasil.

IIIUniversidade Tiradentes, Aracajú, Sergipe, Brasil.

IVInstituto e Centro de Pesquisas Faculadades São Leopoldo Mandic, Campinas, São Paulo, Brasil.


Caro Editor,

A Terminologia Anatômica (TA) é uma coleção única de termos técnicos que permitem a comunicação em anatomia e medicina em todo o mundo1),(2. No entanto, a Terminologia Anatômica atual também contém algumas inconsistências internas e discrepâncias em relação à terminologia clínica. Assim, vários termos não estão diretamente relacionados aos nomes de estruturas anatômicas e/ou os nomes de condições fisiológicas e patológicas correspondentes. Além disso, durante a prática clínica, muitos termos anatômicos foram substituídos por novas expressões clínicas. Essas discrepâncias terminológicas representam um impedimento à aprendizagem e ao ensino da anatomia para a medicina e os demais cursos da área da saúde. Esses ‘’desencontros’’ de termos geram muita confusão por usarem origens e idiomas de diferentes1.

A Terminologia Anatômica Internacional (TAI) é um processo fundamental para a medicina e as demais profissões da área da saúde, onde “o ato de normalizar um termo está mais relacionado ao de padronizar e de uniformizar e, até mesmo, ao de harmonizar do que ao ato de impor uma forma por procedimentos normativos”3),(4. É importante que os estudantes da área da saúde tenham um bom conhecimento e compreensão dos termos anatômicos básicos, levando-se em conta que a anatomia constitui a base para a prática da medicina e dos demais cursos da saúde. A compreensão anatômica leva o profissional a entender a doença de um paciente, seja ele fazendo um exame clínico ou usando as mais avançadas técnicas de imagem2),(5. É importante não apenas compreender os termos anatômicos, mas colocar estes termos dentro de seu contexto apropriado, isto é, dar uma apreciação de como o corpo humano funciona tanto na saúde quanto na doença1. O uso preciso de termos anatômicos pelos profissionais da área da saúde permite que haja uma comunicação precisa entre colegas, no âmbito nacional e internacional. Assim, um bom entendimento da Terminologia Anatômica requer uma compreensão do contexto no qual os termos podem ser lembrados2),(3.

Sem Terminologia Anatômica, não se pode discutir ou registrar com precisão as funções anormais das articulações, as ações dos músculos, a alteração da posição dos órgãos ou a localização exata de edemas ou tumores4. A capacidade de interpretar corretamente uma observação clínica é, portanto, o ponto final de um entendimento de terminologia anatômica e de conceitos sólidos.

A atual inconsistência entre a terminologia anatômica e a nomenclatura clínica é vista como um dos maiores problemas que atrapalham a educação médica5. Os alunos de medicina, ao iniciarem os estágios clínicos, encontram dificuldades, pois os termos usados pelos seus instrutores clínicos muitas vezes não seguem a Terminologia Anatômica, e isso se propagará se tornando sua língua permanente3),(4),(5. Algumas vezes parece que cada clínico tem sua preferência, mas vale ressaltar que a Terminologia Anatômica é um documento oficial que deve ser obedecido por autores de livros, professores e estudantes na área da saúde, empregando o termo uniforme para cada estrutura2),(5. Outro ponto importante relatado no trabalho de Novak e colaboradores é destacado como:

[...] os termos usados nas publicações da área médica sofrem variações quando se comparam diferentes autores e distintas revistas. A falta de uniformidade compromete a reprodutibilidade das palavras, pois várias correntes são criadas, cada uma seguindo a ideologia que elege apropriada. Ademais, causa dificuldade ao se fazer uma pesquisa por palavra-chave, tendo em vista que uma mesma estrutura exibe várias grafias5.

Editores e revisores de periódicos especializados chamam a atenção para a indisciplina terminológica anatômica de boa parte dos autores e tradutores, sendo uma constante em trabalhos enviados para publicações. Em linguística, não convém dizer que determinado vocábulo está certo ou errado, e sim, se está adequado ou inadequado às normas2),(3),(5. A linguagem científica deve ser exata, de modo a evitar equívocos; simples, para facilitar a compreensão; e concisa, a fim de economizar tempo de busca, leitura e espaço em publicações. Além disso, os vocábulos devem ser cuidadosamente observados, “com o mesmo rigor com que se empregam os símbolos em matemática”5.

O objetivo deste texto não é, de nenhuma maneira, esgotar o assunto nem recomendar uma mudança imediata da nomenclatura clínica vigente, mas apenas alertar e conscientizar o leitor e os estudantes em formação para a utilização frequente de termos inadequados ou desatualizados na descrição da morfologia, localização e função de estruturas anatômicas, bem como emprego exagerado de epônimos não informativos. A nomenclatura baseada na orientação anatômica correta e embasada na Terminologia Anatômica oficial e vigente facilita não somente a localização espacial das estruturas, mas também as relações com as demais estruturas e órgãos2),(3),(4.

REFERENCES

1. Terçariol SG. Anatomia Humana: História e Etimologia. 1ª ed. Araçatuba: Gráfica Moço, 2018. [ Links ]

2. Sociedade Brasileira de Anatomia. International Anatomical Terminology. Anatomical CdT. São Paulo: Editora Manole; 2001. [ Links ]

3. Mylos R. Mylos Root in Terminology Anatomica. J Int J Morphol. 2020;38(1):126-8. [ Links ]

4. Galic BS, Babovic SS, Vukadinovic S, Strkalj G. Clinical Relevance of Official Anatomical Terminology: The Significance of Using Synonyms. J International Journal of Morphology. 2018;36(4). [ Links ]

5. Novak EM, Giostri GS, Nagai A. Terminologia anatômica em ortopedia. J Revista Brasileira de Ortopedia. 2008;43(4):103-7. [ Links ]

Recebido: 31 de Maio de 2020; Aceito: 13 de Julho de 2020

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Giuliano Roberto Gonçalves. Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, Av. Dona Renata, 71, Centro, Araras, SP, Brasil. CEP: 13600-001. E-mail: giulianoanatomia@gmail.com

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Os três autores participaram da idealização, planejamento, metodologia e redação deste trabalho.

CONFLITO DE INTERESSES

Declaramos não haver conflito de interesses nos temas abordados neste trabalho.

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