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Revista Brasileira de Educação Médica

versão impressa ISSN 0100-5502versão On-line ISSN 1981-5271

Rev. Bras. Educ. Med. vol.46 no.1 Rio de Janeiro  2022  Epub 23-Mar-2022

https://doi.org/10.1590/1981-5271v46.1-editorial 

Editorial

Teste de Progresso da Abem: consolidando uma estratégia de avaliação para o ensino médico

Abem Progress Test: consolidating an assessment strategy for medical education

Sandro Schreiber de Oliveira1  2  3 
http://orcid.org/0000-0003-4150-4515

Eduardo Arquimino Postal1  2 
http://orcid.org/0000-0002-8482-612X

Denise Herdy Afonso1  4 
http://orcid.org/0000-0002-4781-0364

Carlos Eduardo Merss1  5 
http://orcid.org/0000-0002-1805-0378

Eliana Goldfarb Cyrino1  7 
http://orcid.org/0000-0002-6526-3528

André Ferreira de Abreu Junior1  8 
http://orcid.org/0000-0001-8611-2086

Nildo Alves Batista1  6 
http://orcid.org/0000-0002-5538-7447

1 Conselho Diretor da Associação Brasileira de Educação Médica, Brasília, Distrito Federal, Brasil.

2 Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasil.

3 Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.

4 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.

5 Universidade Federal do Paraná, Toledo, Paraná, Brasil.

6 Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, São Paulo, Brasil.

7 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Botucatu, São Paulo, Brasil.

8 Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.


O Teste de Progresso (TP) é reconhecido no Brasil e internacionalmente como uma importante iniciativa pedagógica, um recurso de avaliação cognitiva na área de saúde e em diferentes áreas. Permite que o conhecimento dos alunos seja avaliado pela escola e por eles próprios, bem como oferece aos docentes a oportunidade de revisitar os processos de ensino-aprendizagem a partir da análise dos resultados relacionados à sua escola, à área de conhecimento e ao ano de curso. Cabe destacar ainda o valor do teste para a gestão acadêmica das escolas, visto que oferece um processo formativo que valoriza a longitudinalidade do cuidado com a aprendizagem dos estudantes, além de permitir que o gestor avalie o desempenho de sua escola.

A Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) sempre atuou como protagonista nos avanços educacionais destinados às escolas médicas do Brasil, inclusive no âmbito da avaliação. Seguindo esse caminho, como uma das ações alusivas aos seus 60 anos de história, a Abem avançou, em 2021, mais um passo para a institucionalização do TP da Abem. Para isso, mobilizou-se, primeiramente, para a realização da segunda edição nacional do TP, executada em 4 de novembro de 2021. Avançou também no desenvolvimento de uma plataforma própria que possibilitará a realização de todas as etapas da avaliação, desde sua construção até a apresentação dos resultados. O módulo de visualização de resultados encontra-se em fase de testes e os demais módulos, em desenvolvimento. Atualmente, a Abem oferece o TP a todos os cursos de Medicina a ela associados, correspondendo, aproximadamente, a 80% de todas as escolas médicas do país, estimativa realizada a partir de dados apresentados na plataforma Diretório das Escolas de Medicina (DIREM-Br)1.

Diversas são as nomenclaturas e abreviaturas utilizadas para se referir ao TP idealizado, construído e realizado pela Abem, em níveis nacional e regional, contudo a falta de padronização, por vezes, pode gerar confusão mesmo nos meios acadêmicos/científicos e nas mídias sociais. Diante disso, a nomenclatura oficial “Teste de Progresso da Abem” (TP Abem) passa a ser utilizada como padrão. O TP Abem consiste em um conjunto de ações e avaliações, sejam nacionais ou regionais, na perspectiva da construção de um teste integrado, de maneira a ser compreendido como uma avaliação única, com etapas nacionais e regionais. Assim, no que concerne às etapas, podem-se adotar as seguintes referências: TP Abem etapa nacional (TPN Abem) ou TP Abem etapa regional (TPR Abem).

No Brasil, data do início dos anos 2000 a iniciativa de realizar uma experiência pioneira de avaliação progressiva, a partir da ação de algumas escolas médicas. Já em 2002, um conjunto de nove escolas formou o primeiro núcleo reunido em torno da realização de um teste de progresso interinstitucional. O momento era de aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de 20012 e de iniciativas governamentais que se propunham a aproximar a educação médica do desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e das necessidades de saúde da população. A partir dessa experiência-piloto, deflagraram-se outros movimentos para a consolidação desse processo. Por exemplo, a Abem, no seu 50º aniversário, organizou o projeto “10 anos de Diretrizes Curriculares”3, cujo objetivo, dentre outros, foi estabelecer um teste de progresso interinstitucional para todas as escolas do Brasil, fazendo parte do eixo de avaliação da associação. Para isso, um conjunto de ações foi adotado a fim de ampliar o número de escolas participantes e, com isso, expandir os núcleos, que passaram a se chamar “consórcios”.

Entre 2012 e 20144, oficinas regionais com foco na qualificação dos docentes para elaboração de questões, com alinhamento de formato e matriz de conteúdo, contribuíram para a consolidação da gestão coletiva e interinstitucional de testes anuais. Assim, promoveu-se o desenvolvimento docente em muitas partes do país, e fortaleceu-se uma rede de apoio conectada a partir de um objetivo comum: a construção de uma avaliação de qualidade. Essas contínuas ações promoveram a participação crescente de cursos de Medicina, e em 2014 já estavam envolvidas 57 escolas, reunidas em oito diferentes consórcios, além da elaboração de uma matriz única de conhecimentos.

Em 2015, a associação organizou um primeiro teste nacional, com a participação do grupo de coordenação do TP Abem, como atividade de encerramento do projeto Abem 50 anos. Isso constituiu um momento importante na construção de um teste nacional único, de modo a indicar um horizonte cada vez mais inclusivo e representativo, e apontar o caminho para uma estratégia capaz de induzir e transformar o ensino e a cultura de avaliação no país.

A partir de 2019, a Abem retomou o processo de consolidação do TP Abem, em parceria com sua coordenação nacional, na perspectiva de institucionalizar um processo dirigido e organizado pela associação e pelos núcleos (originalmente nomeados de “consórcios”), com periodicidade anual, composta por etapas regionais e nacional, sem caráter classificatório. Constitui-se, portanto, um novo momento, possibilitado pela construção histórica do Teste do Progresso, respeitando e dando continuidade à sua origem epistêmica e histórica. Buscava-se, dessa forma, a consolidação de um modelo de avaliação nacional consistente e coerente com as melhores práticas pedagógicas, capaz de orientar o processo ensino-aprendizagem a partir de uma estratégia avaliativa de qualidade, capaz de mobilizar as escolas médicas, os educadores e os educandos, congregando-os no esforço coletivo em torno do TP Abem.

Com esse objetivo, o Conselho Diretor da Abem, alinhado sua coordenação nacional do TP Abem, desencadeou iniciativas com foco no fortalecimento e na expansão do teste em âmbito nacional. Uma delas foi a iniciativa de oferta de subsídios, na forma de cofinanciamento, às suas escolas associadas, que resultou em uma redução substancial no valor investido pelas escolas para realização do teste. O subsídio deu-se de maneira progressiva, tão maior quanto maior fosse o quantitativo de associados individuais à Abem, e ainda maior se a escola optasse em partilhar informações da sua avaliação com a associação, a fim de contribuir para o desenvolvimento de uma plataforma digital da Abem. A proposta do cofinanciamento foi amplamente debatida e divulgada em reuniões com os coordenadores dos núcleos. Pelo menos 50% das escolas aderiram à modalidade com maior subsídio, contrapartida e colaboração, expressando segurança e confiança no projeto TP Abem. Essa ação resultou não somente em maior engajamento, mas também no ingresso de novas escolas nos núcleos, e, por conseguinte, sua associação à Abem.

Outro passo estratégico para avançar no processo de institucionalização foi o início da construção de uma plataforma digital, exclusiva para o TP Abem, um ambiente capaz de apoiar a elaboração, aplicação, certificação, análise e divulgação do resultado dos testes aplicados a baixíssimo custo num futuro próximo. O objetivo é entregar um espaço virtual altamente seguro em todas as etapas doTP Abem, proporcionando um ambiente ainda mais autônomo, transparente e de qualidade, que seja capaz de operacionalizar todas as etapas da avaliação, e aplicar o teste, no formato virtual, para quantos acadêmicos forem necessários. No site da Abem, a versão beta da plataforma já está disponível às escolas que aderiram à modalidade de maior compartilhamento de dados.

Um desafio adicional para a concretização dessa etapa foi colocado ao Conselho Diretor (CD) da Abem, mediante o início da vigência da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)5, que demandou atenção especial na contratualização entre Abem e as escolas para a realização do teste nacional, além da adoção de múltiplas estratégias para reforçar a segurança no que diz respeito ao trânsito e armazenamentos de dados. Para adaptar todos os processos à nova lei, contratou-se assessoria jurídica específica, que prestou serviço de qualificação e treinamento, adequação de processos de trabalho e fluxos de dados internos e externos, com todos os agentes envolvidos no processo. Medidas adicionais foram tomadas em relação às empresas terceirizadas envolvidas, tanto na aplicação do teste nacional de 2021 quanto no desenvolvimento da plataforma digital do TP Abem, por meio de dispositivos legais, formalizando o compromisso bilateral com a segurança e confidencialidade dos dados.

As decisões institucionais já demonstram resultados para a associação, expressos na expansão para 18 Núcleos do Teste de Progresso Abem (NTP Abem), pela primeira vez presentes nas nove regionais da Abem, congregando 184 escolas médicas (52,7% do total de escolas brasileiras e 67,2% das associadas à Abem), e na ampla adesão de alunos à etapa nacional do TP Abem. Tal prova, inicialmente agendada para 2020, vinha sendo construída na modalidade presencial, mas necessitou ser adiada por conta da pandemia da Covid-19. Depois de conhecer e analisar experiências locais de algumas escolas e núcleos, com realização de TP durante o ano de 2020 em formato virtual, programou-se uma prova nacional para outubro de 2021 na modalidade on-line.

Dezessete NTP Abem aderiram, congregando 143 escolas médicas e totalizando 75.053 discentes inscritos para realização do teste nacional. Diante dos desafios previstos e das reconhecidas iniquidades tecnológicas quando se envolve um grupo tão amplo, a seleção da empresa para aplicação do teste virtual considerou sua experiência nessa modalidade de oferta em anos anteriores. Entretanto, apesar de todas as medidas pactuadas, ocorreu sobrecarga no servidor da empresa contratada, resultando em instabilidade e dificuldades de acesso ao teste na plataforma da empresa contratada. Frente a esse imprevisto, em uma necessária, porém difícil e delicada ação, decidiu-se pelo cancelamento do teste e adiamento da continuidade do processo.

Mantendo o compromisso assumido com a educação médica brasileira, com as escolas e o corpo discente, o Conselho Diretor da Abem, em conjunto com a coordenação do TP Abem, realizou 28 dias depois, o teste nacional do TPN ABEM 2021. Isso foi possível por meio dos esforços para reorganizar um novo teste, identificar e negociar com uma outra instituição, para aplicação do teste on line mesmo, que confiante de sua experiência, aceitou o desafio de aplicar um novo teste mesmo na iminência de um prazo reduzido.

Entre o momento de cancelamento da primeira avaliação e a efetivação da prova no segundo agendamento, houve a desistência da participação de 15 escolas, motivadas por desafios de conciliação com o calendário letivo, e agregaram-se duas novas escolas, que não estavam participando no primeiro momento. Assim, o TPN Abem 2021 se concretizou com a participação de 130 escolas médicas (37,3% do total de escolas brasileiras e 47,5% das associadas à Abem) e a inscrição de 67.871 acadêmicos, dos quais 48.946 realizaram a prova. A taxa de absenteísmo de 27,9% foi semelhante à da edição presencial de 2015, que contabilizou 23,6% de ausências.

O TPN Abem 2021 se materializa, portanto, 2,3 vezes maior em número de escolas e 2,1 vezes maior em número de estudantes, em relação à edição de 2015, conforme ilustrado na Figura 1.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Figura 1 Expansão e avanços do Teste de Progresso da Abem de 2015 a 2021. 

Os resultados encontrados nessa edição do TPN Abem refletem o que já se identificava em relação ao processo de aprendizagem ao longo de seis anos do curso de medicina: o contínuo aumento do desempenho dos discentes na avaliação. Verificou-se que o incremento no desempenho dos estudantes no TPN Abem 2021 foi de 29,6 pontos percentuais. Resultados semelhantes foram observados na edição nacional de 2015, momento em que se identificou um incremento de 28,9 pontos percentuais na média de acertos entre os acadêmicos do primeiro ao sexto ano1. Além disso, as médias de acertos em cada ano do curso no TPN Abem 2021 foram semelhantes ao resultado de 2015. As médias por ano e por área são apresentadas no Gráfico 1.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Gráfico 1 Média de desempenho nacional por ano e área - Teste de Progresso Nacional Abem, 2021 

A Abem celebra seus 60 anos e a exitosa experiência do TPN Abem 2021, cuja inédita magnitude por si só espelha sua importância, é o resultado de um histórico de esforços de diferentes atores em torno da consolidação de um modelo avaliativo alternativo. Mantém-se na perspectiva de institucionalização do TP Abem, como estratégia para sua sustentabilidade, ampliação da construção coletiva de todas as suas etapas, da qualificação docente, da avaliação e de suas análises. Nosso horizonte segue em direção a uma formação médica comprometida com a competência técnica e a ética profissional, a responsabilidade social e o fortalecimento do SUS.

REFERÊNCIAS

1. Bicudo AM, Hamamoto PT, Abbade JF, Hafner MDLMB., Maffei CML. Teste de Progresso em consórcios para todas as escolas médicas do Brasil. Rev Bras Educ Med. 2019;43:151-6. [ Links ]

2. Brasil. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Dispõe sobre a proteção de dados pessoais e altera a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014 (Marco Civil da Internet). Brasília; 2018 [acesso em 20 jan 2022]. Disponível em: Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/L13709.htm . [ Links ]

3. Brasil. Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior - Sinaes e dá outras providências. Diário Oficial da União; 15 abr 2004. Seção 1, p. 3-4. [ Links ]

4. Diretório das Escolas de Medicina. Painel de indicadores. Direm; 2021 [acesso em 20 jan 2022]. Disponível em: Disponível em: https://produtos.direm.org/painel . [ Links ]

5. Lampert JB, Bicudo AM. 10 anos de Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação em Medicina. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Educação Médica, 2014. [ Links ]

FINANCIAMENTO Declaramos não haver financiamento.

Recebido: 15 de Fevereiro de 2022; Aceito: 15 de Fevereiro de 2022

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CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES

Todos os autores contribuíram igualmente na confecção do artigo.

CONFLITO DE INTERESSES

Declaramos não haver conflito de interesses.

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