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Revista Brasileira de Educação Médica

versión impresa ISSN 0100-5502versión On-line ISSN 1981-5271

Rev. Bras. Educ. Med. vol.46  supl.1 Rio de Janeiro  2022  Epub 27-Oct-2022

https://doi.org/10.1590/1981-5271v46.supl.1-20220291 

Artigo Original

Teste de Progresso e mudança curricular: trilhas do curso de Medicina da Universidade de Brasília

Progress Test and curricular change: paths followed by the University of Brasília Medical School

Odete Messa Torres1  , concepção e do design do trabalho, preparo e da revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0002-8256-869X

Iruena Moraes Kessler1  , concepção e do design do trabalho, preparo e da revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0002-0224-3765

Guilherme Viana Ferreira1  , concepção e do design do trabalho, preparo e da revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0001-8811-0105

Hudson Fernando Nunes Moura1  , concepção e do design do trabalho, preparo e da revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0002-8151-4964

Edinei Carvalho dos Santos1  , concepção e do design do trabalho, preparo e da revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0002-2710-194X

José Eduardo Baroneza1  , concepção e do design do trabalho, preparo e da revisão do manuscrito
http://orcid.org/0000-0001-5382-6277

1Universidade de Brasília, Brasília, Distrito Federal, Brasil.


Resumo:

Introdução:

O Teste de Progresso (TP) é um instrumento de avaliação aplicado anualmente e coordenado pela Associação Brasileira de Educação Médica (Abem). A Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) participa do Teste de Progresso da Região Centro-Oeste (TP-CO) desde o ano de 2013 e utiliza os dados oriundos da avaliação para diagnóstico interno e discussões sobre a formação médica.

Objetivo:

Este estudo descreve os resultados obtidos pelos discentes no TP e analisa possíveis relações entre mudança do PPC e desempenho dos estudantes.

Método:

Trata-se de um estudo transversal analítico, realizado a partir dos resultados obtidos pelos discentes do curso em comparação ao universo das instituições do consórcio TP-CO entre 2013 e 2021. Nesse período, participaram do teste estudantes inseridos em duas matrizes curriculares: currículo antigo (CA) e currículo novo (CN). A fim de verificar a evolução da nota média da UnB em cada período em comparação à nota média do consórcio, foi aplicado o teste de proporção para as diferenças em cada par de notas da UnB e do consórcio, em cada ano da série histórica e período dos estudantes avaliados.

Resultado:

Entre 2013 e 2015, vigência do CA, não se observaram diferenças estatisticamente significativas nas médias entre os estudantes da UnB de todos os anos do curso comparados ao consórcio TP-CO. O mesmo comportamento foi verificado entre 2016 e 2018, período de transição composto por estudantes das matrizes CA e CN. Contudo, entre 2019 e 2021, vigência da nova matriz curricular, observaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os estudantes da UnB e do consórcio.

Conclusão:

O TP possibilita um olhar sobre o desempenho da escola e a identificação de lacunas que geram reflexões na busca por uma educação médica de excelência. Com a experiência apresentada, foi possível identificar as trilhas percorridas pelo curso da UnB ao longo de sua participação no consórcio, considerando as mudanças curriculares.

Palavras-chave: Educação Médica; Teste de Progresso; Currículo

Abstract:

Introduction:

The Progress Test (TP) is an assessment instrument applied annually and coordinated by the Brazilian Association of Medical Education (ABEM). The UnB School of Medicine has participated in the TP-CO since 2013 and uses the data from the assessment for internal diagnosis and discussions about medical education.

Objective:

describe the results obtained by students in the TP and analyze possible relationships between changes in the PPC and student performance.

Method:

This is an analytical cross-sectional study, based on the results obtained by the students of the course compared to the universe of institutions in the TP-CO consortium between 2013 and 2021. In this period, students enrolled in two curricular matrices sat the test: old curriculum (AC) and new curriculum (CN). In order to verify the evolution of the average score of UnB in each period compared to the average score of the consortium, the ratio test was applied to the differences in each pair of scores of UnB and consortium, in each year of the historical series and period of the students evaluated.

Results:

Between the years 2013 and 2015, when the CA was in effect, no statistically significant differences were observed in the averages between the UnB students of all course years compared to the TP-CO Consortium. The same behavior was verified between 2016 and 2018, a transition period composed of CA and CN matrix students. However, between 2019 and 2021, when the new curricular matrix was in effect, statistically significant differences were observed between the UnB and consortium students.

Conclusion:

The TP gives insight into the performance of the school and identifies gaps that generate reflections in the search for excellence in medical education. With the experience presented it was possible to identify the paths taken by the UnB course throughout its participation in the consortium, considering the curricular changes.

Keywords: Medical Education; Progress Test; Curriculum

INTRODUÇÃO

As avaliações na educação médica auxiliam discentes, docentes e gestores educacionais a identificar lacunas no conhecimento dos estudantes, refletir sobre os métodos de ensino e aprendizagem, e planejar mudanças no currículo e no projeto pedagógico dos cursos. Uma das formas de avaliação aplicada anualmente a alunos de Medicina no Brasil é o Teste de Progresso (TP).

O TP foi desenvolvido no início dos anos 1970, na Kansas City School of Medicine1 e na Universidade de Limburg2, e corresponde a um tipo de avaliação repetitiva e longitudinal, aplicada em intervalos regulares a estudantes de Medicina no decorrer da formação3) e constituída por questões de múltipla escolha, com foco nos domínios de conhecimento esperados na profissão4.

No Brasil, o TP foi aplicado inicialmente pela Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (Cinaem) em 1999, em caráter ampliado, em 60 escolas médicas5. Atualmente, o teste é coordenado pela Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) e adotado por instituições conveniadas, organizadas em consórcios interinstitucionais6.O teste, realizado por estudantes inseridos em todos os anos da graduação, tem por finalidade avaliar a instituição e o desempenho cognitivo dos discentes, sem intenção de seleção ou classificação destes6, uma vez que a aplicação de instrumentos de avaliação em larga escala não é capaz de cobrir todas as dimensões necessárias para aferir a qualidade da educação médica7.

Ao fornecer dados longitudinais acerca do progresso dos estudantes de Medicina às instituições de ensino superior (IES), o TP permite monitorar o impacto das mudanças curriculares e planejar ajustes8. Ao reconhecerem o TP como instrumento de avaliação na educação médica, as escolas institucionalizam uma estratégia de avaliação de desempenho discente e da instituição, de modo a possibilitar indicadores para as mudanças curriculares.

O curso de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) iniciou suas atividades em 1966, quatro anos após a criação da instituição. Desde então, com base nas transformações políticas, econômicas e sociais brasileiras, e também nas especificidades da demografia, da epidemiologia e do contexto da saúde do Distrito Federal, foram implantados três projetos pedagógicos de curso (PPC) - em 1966, 1988 e 2016 -, os quais são periodicamente revisados e atualizados, considerando as novas possibilidades de organização curricular9. Durante o século XX, os currículos que nortearam o curso de Medicina da UnB tiveram inegável influência da reforma universitária de 196810 e do modelo norte-americano flexneriano11.

Apoiadas na modernização do ensino médico, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de 2014 instruíram, entre outras orientações, que a estrutura dos cursos de graduação em Medicina deveria privilegiar os métodos ativos de ensino, incluir as dimensões ética e humanística, incentivar o uso de tecnologias da informação e da comunicação, promover a integração entre os eixos curriculares e a interdisciplinaridade, inserir o aluno nas redes de atenção em saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), desde as séries iniciais, além de vincular a formação do médico às necessidades sociais e de saúde. Quanto ao projeto pedagógico, as referidas DCN orientam para a centralidade no estudante como sujeito de aprendizagem, de modo que caberia ao professor utilizar métodos e tecnologias adequados para facilitar e mediar os processos de ensino-aprendizagem12.

Na UnB, com o intuito de atender às DCN, a partir de 2016 foi implantado um novo PPC que valoriza a interdisciplinaridade, a integração curricular horizontal e vertical, os métodos ativos de ensino, a abordagem dos problemas de saúde não somente no contexto individual, mas também familiar e grupal, o enfoque na promoção de ambientes e estilos de vida saudáveis, e a ampliação dos cenários de atenção para além do hospital e dos consultórios, com foco na atenção primária à saúde, incluindo as unidades básicas de saúde, escolas, creches, equipamentos comunitários, locais de habitação e ambientes de trabalho9.

A Faculdade de Medicina da UnB (FM/UnB) participa do TP-CO desde o ano de 2013 e utiliza os dados oriundos da avaliação dos estudantes para diagnóstico interno e para discussões sobre os eventuais problemas na formação. Ao longo da participação no consórcio, a UnB colaborou com o desenvolvimento das questões e com a validação delas por representação em reuniões da regional Brasília, além de aplicar e bonificar o estudante que participa do teste.

As reflexões acerca do diagnóstico institucional no TP-CO são realizadas pelos integrantes do Grupo de Trabalho de Avaliação do Processo de Ensino e Aprendizagem, vinculado ao Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Medicina da UnB e pelo Colegiado de Graduação. Nesse processo de transição curricular, analisar a participação dos discentes do curso de Medicina da UnB no consórcio TP-CO se faz imperativo para depreender os caminhos percorridos ante aqueles que se delongam na jornada de formar médicos comprometidos com a realidade social e defensores do SUS. Este artigo tem como objetivo descrever os resultados obtidos pelos discentes do curso de Medicina da UnB no TP e analisar possíveis relações entre a mudança do PPC implementada no ano de 2016 com o desempenho dos estudantes.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo transversal analítico, realizado a partir dos resultados do curso de Medicina da UnB e do universo das instituições associadas ao consórcio TP-CO entre 2013 e 2021. Nesse período, participaram do teste estudantes da UnB inseridos em duas matrizes curriculares distintas: currículo antigo (CA) e currículo novo (CN).

Considerando que o CN teve início a partir de 2016, entre 2013 e 2015 participaram do TP apenas estudantes inseridos no CA. Entre 2016 e 2019, entretanto, participaram do TP estudantes de ambos os currículos, uma vez que aqueles que ingressaram no CA continuaram neste, embora os ingressantes após 2016 já tivessem sido inseridos no CN. Por fim, no ano de 2021 participaram somente discentes matriculados em componentes do CN.

Os dados apresentados neste trabalho foram retirados dos relatórios do Sistema de Administração do Teste de Progresso (Versão: 2.4.1) em agosto de 2022, que permite o acesso às médias dos estudantes da UnB e do universo das instituições associadas em cada ano de realização da prova. As informações foram tabuladas no Microsoft Excel 2016.

Com o objetivo de verificar a evolução da nota média da UnB em cada período em comparação à nota média do consórcio, foi aplicado o teste de proporção para as diferenças em cada par de notas da UnB e do consórcio, em cada ano da série histórica e período dos estudantes avaliados. Dessa forma, testaram-se 48 hipóteses de diferença das médias, cujos resultados serão discutidos na próxima seção. Os testes estatísticos foram aplicados utilizando o software R, com o uso da função prop.test, do pacote stats.

Além disso, de forma a propiciar a visualização da comparação das notas médias da UnB e do consórcio, com a informação de CN e CA, elaboraram-se dois gráficos no Excel que explicitam a evolução nos anos analisados. As legendas especificam, no caso da UnB, qual currículo de cada turma está sendo analisado em cada ano do TP-CO.

Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UnB com o número 4.933.262.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Desde o início do consórcio, entre 2013 e 2021, o curso de Medicina da UnB participou de todas as edições do TP-CO. O número de participantes em cada ano de prova e em cada ano de curso variou de acordo com os números apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 Participação de estudantes da UnB no TP-CO entre 2013 e 2021 

Ano Número de alunos participantes de acordo com o ano do curso Total 1 (T1) de alunos participantes por ano Total 2 (T2) de alunos matriculados por ano Percentual de T1/T2
2013 60 38 37 51 41 6 233 548 42,5%
2014 14 51 29 29 31 1 155 555 27,9%
2015 47 44 59 51 44 19 264 570 46,3%
2016 50 65 54 65 39 45 318 581 54,7%
2017 51 60 68 48 67 46 340 593 57,3%
2018 63 60 58 66 49 66 362 604 59,9%
2019 62 67 63 51 61 48 352 590 59,7%
2020 28 62 73 63 64 24 314 645 48,7%

Fonte: Elaborada pelos autores.

No ano de 2020, não ocorreu o TP-CO por causa da emergência sanitária da coronavirus disease 2019 (Covid-19). Quando se analisa o desempenho dos estudantes do primeiro ao sexto ano no TP-CO, entre 2013 e 2021 (Tabela 2), é possível inferir que entre 2013 e 2015, período de vigência da matriz do CA, não se observaram diferenças estatisticamente significativas entre os estudantes da UnB de todos os anos do curso comparados ao consórcio TP-CO. O mesmo comportamento foi verificado entre 2016 e 2018, período de transição composto por estudantes da matriz do CA e do CN.

Tabela 2 Desempenho dos estudantes de Medicina da UnB e do consórcio TP-CO do primeiro ao sexto ano, entre 2013 e 2021 

Ano 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2021
UnB CO UnB CO UnB CO UnB CO UnB CO UnB CO UnB CO UnB CO
Primeiro 33,3 35,6 32,6 31,8 32,9 34,2 34,2 30,6 33,3 32,1 35,3 32,4 32,6 31,1 35,3 32,3
Segundo 38,0 39,6 37,3 38,1 43,7 39,9 34,4 34,7 38,1 36,9 39,4 37,5 36,7 35,8 40,9 35,5
Terceiro 43,3 46,2 44,2 44,2 45,2 46,1 40,9 41,3 44,3 43,9 45,4 42,7 47,6 41,2 45,8 38,9
Quarto 51,3 51,9 52,6 49,4 51,9 54,2 47,6 46,4 52,1 51,1 52,4 48,3 56,5* 47,1* 52,2* 42,7*
Quinto 63,2 56,5 57,8 54,5 61,0 57,9 53,1 51,8 56,7 54,3 57,5 53,3 59,9 52,1 57,5** 47,1**
Sexto 66,3 58,8 55**** 59,9 69,1 62,3 61,0 56,7 64,8 60,7 62,5 56,9 61,5 58,0 69,3*** 52,2***

Para a obtenção do p-valor, utilizou-se o teste de proporções para as diferenças. * p-valor < 0,10; ** p-valor < 0,05; *** p-valor < 0,01; **** o valor não corresponde a uma média, mas à nota do único aluno que realizou o teste.

Fonte: Elaborada pelos autores.

Entre 2019 e 2021, com vigência da nova matriz curricular, observaram-se diferenças estatisticamente significativas entre os estudantes da UnB e do consórcio. Em 2019, somente os estudantes do quarto ano da UnB tiveram um desempenho superior ao do consórcio (p-valor < 0,10). Em 2021, os estudantes do quarto, quinto e sexto anos da UnB tiveram um desempenho significativamente superior ao do consórcio com p-valores menores que 0,10, 0,05 e 0,01, respectivamente (Tabela 2 e Gráfico 2).

Na apresentação gráfica dos resultados, optou-se pela leitura deles em dois blocos: evolução do primeiro ao terceiro ano e evolução do quarto ao sexto ano.

Evolução do primeiro ao terceiro ano

O Gráfico 1 apresenta o desempenho dos estudantes dos três primeiros anos do curso de Medicina da UnB no TP-CO, bem como os resultados do universo de instituições participantes, considerando as médias das notas que os discentes alcançaram nas provas. Para cada ano em que o teste foi realizado, consideraram-se as médias dos alunos matriculados no primeiro, segundo e terceiro anos do curso de Medicina, períodos em que normalmente se valoriza no currículo sobretudo a abordagem de assuntos pertinentes à formação básica em ciências biológicas e da saúde.

No Gráfico 1, para cada curva representando os resultados da UnB, consideraram-se, em tonalidade mais clara, a média dos acertos dos alunos inseridos no CA e, em tons mais escuros, a média dos acertos dos alunos inseridos no CN, delimitando, visualmente, a implementação da mudança curricular vigente na UnB.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Gráfico 1 Desempenho dos estudantes de Medicina da UnB e do consórcio da Região Centro-Oeste (do primeiro ao terceiro ano) 

A partir da análise do gráfico, é possível constatar que as médias de acertos dos estudantes do primeiro ano do curso de Medicina nos testes de 2013, 2014 e 2015, período anterior à implementação da mudança curricular, está em geral abaixo da média do consórcio da Região Centro-Oeste, com desvio acima da médica geral apenas nas turmas de segundo ano no teste de 2015. Após a mudança curricular, nos testes de 2016, 2017, 2018, 2019 e 2021, observa-se que a média de desempenho dos estudantes da instituição supera em todos os anos, a partir de 2017, a média de desempenho do consórcio. Observa-se ainda que há uma oscilação tanto no desempenho dos estudantes da UnB como do consórcio, perceptíveis nos intervalos entre os anos com curvas em queda ou ascensão, ou seja, não há um desempenho progressivo ao longo do curso, conforme prevê a literatura.

O teste de 2013 apresenta o menor desempenho da UnB dos três primeiros anos do curso, todos abaixo da média do consórcio. Em relação ao desempenho, o primeiro ano da UnB supera a média do consórcio em 2014, seguido do terceiro ano que se equipara ao consórcio no mesmo ano e da manutenção do desempenho negativo do segundo ano da UnB em relação ao consórcio na prova de 2014. Esse desempenho segue inferior ao teste do consórcio de 2015 nas turmas de primeiro e terceiro anos, e as turmas de segundos anos se destacam em relação do desempenho do consórcio em 2015. No ano de 2016, quando o CN é implementado, a UnB se destaca em relação ao consórcio com o maior desempenho das turmas de primeiro ano, ao passo que mantém a média do consórcio no desempenho das turmas de terceiro e quarto anos. Observa-se que a partir de 2017, consecutivamente até 2021, as turmas de primeiros, segundos e terceiros anos superam em desempenho as médias do consórcio TP-CO. As oscilações perceptíveis no gráfico, em geral, são acompanhadas pela UnB e pelo consórcio, o que permite inferir que remetem ao estilo de prova aplica nos anos analisados, à exceção do teste de 2019, que evidencia queda de desempenho das turmas de terceiro ano do consórcio, ao passo que os estudantes dos mesmos períodos de curso na UnB apresentam desempenho progressivo em 2019 com queda em 2021, a qual ainda assim supera as médias do TP-CO.

Evolução do quarto ao sexto ano

O Gráfico 2 apresenta o desempenho dos estudantes de Medicina da UnB e do consórcio da Região Centro-Oeste dos três últimos anos (do quarto ao sexto ano), considerando as médias das notas que os discentes alcançaram nas avaliações. Para cada ano em que o teste foi realizado, consideraram-se as médias dos alunos matriculados no quarto, quinto e sexto anos do curso de Medicina, períodos em que normalmente se valorizam os saberes clínicos e o internato médico.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Gráfico 2 Desempenho dos estudantes de Medicina da UnB e do consórcio da Região Centro-Oeste (do quarto ao sexto ano) 

Pela visualização do gráfico, de 2013 a 2018 os estudantes dos três últimos anos do curso eram oriundos do CA. No teste de 2019, apenas os estudantes do quarto ano cursam o CN. Os estudantes dos quintos e sextos anos que realizaram os testes no período de 2013 a 2019 são oriundos do CA. O TP-CO de 2021 é o primeiro teste em que todos os estudantes da UnB estão cursando o CN por conta da migração de turmas anteriormente apresentada.

A partir da análise do gráfico, é possível depreender que as turmas do quinto ano do curso de Medicina da UnB mantiverem melhor desempenho em relação às médias do consórcio TP-CO em todos os anos do teste, e, ainda, que as oscilações das curvas do mesmo período de formação ocorrem próximas às oscilações do consórcio.

Os anos de 2013 a 2015 apresentam desempenhos aquém ao TP-CO: nas turmas de quarto ano em 2013; quinto e sexto anos em 2014; e quarto ano em 2015. Maior desempenho em relação ao TP-CO: nas turmas de quinto e sexto anos em 2013; quartos e quintos anos em 2014; quintos e sextos anos em 2016. Após o teste de 2016, todas as turmas de quarto, quinto e sexto anos do curso de Medicina da UnB apresentaram maior desempenho quando comparadas às médias do consórcio TP-CO no mesmo período. Os anos de 2018, 2019 e 2020 evidenciam um destaque ao desempenho da UnB nos três últimos anos de curso, com maiores intervalos de desempenho da UnB no ano de 2021.

Entre 2013 e 2015, os estudantes da FM/UnB cursavam a matriz curricular 7111/-3 ou CA, que durava em média seis anos para ser cumprida, composta por ciclo básico (do primeiro ao quarto semestre), fase clínica (do quinto ao nono semestre) e internato (do nono ao 12º semestre). O ciclo básico era centrado em conhecimentos teóricos básicos de anatomia, embriologia, histologia bioquímica e farmacologia. A fase clínica era compartimentalizada em especialidades, como pediatria, ginecologia e semiótica, havendo uma pequena carga de práticas. Somente no internato a prática médica implementava-se de forma efetiva.

A mudança do CA para o CN em 2016 foi significativa. Houve redução expressiva na carga de optativas, e o curso de graduação em Medicina organizou-se a partir da consolidação de cinco eixos temáticos obrigatórios e um eixo temático optativo: 1. Estudo morfofuncional do ser humano; 2. processos do adoecimento do ser humano; 3. atenção à saúde do ser humano; 4. saúde coletiva e saúde da família e comunidade; 5. conhecimento de si e do outro; e 6. optativo.

Apesar da mudança significativa entre o CN e o CA, não houve interferência no desempenho dos alunos da UnB e daqueles do consórcio até 2019, exceto os do quarto ano. Observa-se um equilíbrio entre o desempenho dos alunos do consórcio e o desempenho dos discentes da UnB, o que pode estar relacionado à homogeneidade no aprendizado entre as IES, sem prejuízos aparentes ou diferencial acadêmico entre os participantes. Contudo, entre 2019 e 2021, destaca-se uma performance significativamente melhor da UnB em relação aos demais alunos do consórcio, o que sugere uma interferência positiva do CN em relação ao CA.

Ao avaliar a instituição, o TP permite analisar a relação entre o conteúdo e a estrutura curricular do curso de graduação em Medicina e o desenvolvimento individual e conjunto das turmas de estudantes. Ao avaliar o estudante, o TP possibilita contribuir com a avaliação formativa discente, a partir da evolução do desempenho cognitivo do estudante nas diversas áreas do curso. Com base nos resultados do TP, tanto o estudante quanto o curso podem se utilizar de seus resultados na tomada de decisão para a qualificação do discente e do curso em análise. Ainda, o TP serve como treinamento aos processos de seleção da carreira médica, como os concursos para os cursos de residência médica5.

Por fim, pode-se destacar que a análise dos intervalos de confiança de cada edição do TP, em cada série avaliada, comparando os números da UnB e do consórcio, seria de grande importância para a discussão aqui levantada, até pela baixa participação, em alguns anos, de algumas turmas. No entanto, dada a natureza da disponibilização dos dados, que já vieram consolidados, não foi possível efetuar o cálculo de medidas de dispersão adequadas para auxiliar a análise, como o desvio padrão ou intervalo de confiança.

CONCLUSÕES

O TP é um poderoso instrumento de avaliação que pode auxiliar no monitoramento da performance acadêmica dos estudantes após a modificação de matrizes curriculares. O presente estudo relacionou os resultados dos discentes da FM/UnB no TP-CO entre 2013 e 2021 com os resultados dos discentes das instituições conveniadas no consórcio. Concluímos que as notas dos discentes da UnB evoluíram satisfatoriamente e acima da média das instituições conveniadas ao consórcio TP-CO, considerando sobretudo os dados do universo de alunos inseridos no CN, adotado a partir do ano de 2016.

O movimento gerado nas escolas médicas pelo teste por si é desencadeador de mudanças na instituição, no corpo docente e no corpo discente. O TP possibilita um olhar sobre o desempenho da escola, comparado ao contexto de formação médica, regional ou nacional, em um mesmo período e com a aplicação da mesma avaliação seriada. Ao identificar lacunas, as escolas possuem escolhas a percorrer na busca pela educação médica de excelência e da garantia de compromisso social, orientadores das mudanças curriculares, segundo as DCN. Além das escolas, a comunidade é beneficiada ao participar do TP. O corpo docente, ao se envolver na construção de questões e na validação delas dentro do consórcio, apreende novos olhares sobre os temas e modos de avaliar que desenvolve em sala de aula. O docente amplia a sua capacidade de formulação de questões com distratores que valorizam o pensamento crítico e não apenas a apreensão de conteúdo pelo estudante. Este, por sua vez, para quem a formação deve se valer, ao participar do TP acompanha sua evolução no curso e dimensiona sua avaliação dentro do contexto da escola e na relação desta com os âmbitos regional ou nacional. Paralelamente, as escolas precisam se preparar para os feedbacks e mecanismos de apoio individual, priorizando aqueles estudantes cujo desempenho se coloca abaixo da média da escola e/ou da região/país. O auxílio psicopedagógico deve ser proposto pelas escolas e hoje está sendo debatido na UnB com o NDE e o Núcleo de Apoio Psicopedagógico e Bem-Estar do Estudante de Medicina (Napem).

Com a experiência apresentada, foi possível identificar as trilhas percorridas pelo curso de Medicina da UnB ao longo de sua participação no consórcio da Região Centro-Oeste do TP, bem como aquelas por cujos caminhos o currículo trespassou.

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11. Almeida Filho N. Reconhecer Flexner: inquérito sobre produção de mitos na educação médica no Brasil contemporâneo. CadSaude Publica. 2010;26(12):2234-49. [ Links ]

12. Brasil. Resolução CNE/CES nº 3, de 20 de junho de 2014. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Medicina e dá outras providências. Diário Oficial da União ; 2014. [ Links ]

2Avaliado pelo processo de double blind review.

FINANCIAMENTO Declaramos não haver financiamento.

Recebido: 06 de Setembro de 2022; Aceito: 05 de Outubro de 2022

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Editor: Aristides Augusto Palhares Neto.

CONFLITO DE INTERESSES

Declaramos não haver conflito de interesses.

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