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Educação: Teoria e Prática

versão On-line ISSN 1981-8106

Educ. Teoria Prática vol.29 no.60 Rio Claro jan./abr 2019  Epub 01-Set-2019

https://doi.org/10.18675/1981-8106.vol29.n60.p121-139 

Artigos

A ATRATIVIDADE DA DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM INGRESSANTES DO CURSO DE PEDAGOGIA

THE ATTRACTIVENESS OF TEACHING IN CHILDREN EDUCATION IN PEDAGOGY COURSE INGRESSANTS

LA ATRATIVIDAD DE LA DOCENCIA EN LA EDUCACIÓN INFANTIL EN INGRESOS DEL CURSO DE PEDAGOGÍA

Carla Patrícia Quintanilha CorrêaI 
http://orcid.org/0000-0001-9934-8151

Mabta Almeida Galdino VitalI 
http://orcid.org/0000-0002-0258-6880

Patrícia de Souza Gomes LimaIII 
http://orcid.org/0000-0001-6181-4890

Sabrina Almeida de Azevedo Miranda GuimarãesIV 
http://orcid.org/0000-0002-2629-1104

Thayná Barros MoreiraV 
http://orcid.org/0000-0003-2745-8559

I Instituto Superior de Educação Professor Aldo Muylaert, Rio de Janeiro - Brasil. E-mail: carlapqcorrea@hotmail.com.

II Instituto Superior de Educação Professor Aldo Muylaert, Rio de Janeiro - Brasil. E-mail: mabtavital@gmail.com.

III Instituto Superior de Educação Professor Aldo Muylaert, Rio de Janeiro - Brasil. E-mail: patriciadesouzagomeslima@gmail.com.

IV Instituto Superior de Educação Professor Aldo Muylaert, Rio de Janeiro - Brasil. E-mail: futurasformandas@outlook.com.

V Instituto Superior de Educação Professor Aldo Muylaert, Rio de Janeiro - Brasil. E-mail: barrosthayna@gmail.com.


Resumo

Esta pesquisa objetiva investigar a atratividade da docência na educação infantil, entre ingressantes de um Curso de Licenciatura em Pedagogia, buscando conhecer suas impressões iniciais acerca do trabalho do professor com crianças dessa etapa da educação básica. Para isso, utilizamos como instrumento de pesquisa um questionário preenchido por 63 licenciandos que aceitaram colaborar com o estudo. Tendo como fundamentação teórica os trabalhos de Gatti (2014), Tartuce et al. (2010), Kramer (2014), Brandão e Leal (2011), dentre outros, obtivemos, como resultado, que a docência na educação infantil é a primeira intenção de atuação entre a maioria dos ingressantes, que demonstraram estar cientes da complexidade do trabalho com crianças dessa faixa etária, indicando a necessidade de um trabalho pedagógico voltado aos interesses próprios do público infantil. Esses resultados nos fazem refletir que, mesmo em meio a um cenário de baixa atratividade docente, os ingressantes do curso pesquisado parecem valorizar a docência na educação infantil. Esperamos, com este trabalho, enriquecer o debate sobre a temática proposta, reunindo mais dados de pesquisa que auxiliem na discussão sobre a docência na contemporaneidade.

Palavras-chave: Atratividade docente; Educação Infantil; Valorização da docência.

Abstract

This research aims to investigate the attractiveness of teaching in early childhood education among students enrolled in a Licenciatura Course in Pedagogy, seeking to know their initial impressions about the work of the teacher with children of this stage of basic education. For this, we used as a research instrument a questionnaire filled by 63 graduates who agreed to collaborate with the study. Having as theoretical foundation the works of Gatti (2014), Tartuce et al. (2010), Kramer (2014), Brandão and Leal (2011), among others, we have as a result that teaching in early childhood education is the first intention of acting among the majority of the participants, who have shown that they are aware of the complexity of working with children of this age group, indicating the need for pedagogical work focused on the children's own interests. These results make us reflect that even in a scenario of low teacher attractiveness, the students enrolled in the course studied seem to value teaching in early childhood education. We hope, with this work, to enrich the debate on the proposed theme, gathering more research data that will help in the discussion about teaching in the contemporary world.

Keywords: Teaching attractiveness; Child education; Valorization of teaching.

Resumen

Esta investigación objetiva investigar el atractivo para la docencia en la educación infantil entre ingresantes de un Curso de Licenciatura en Pedagogía, buscando conocer sus impresiones iniciales acerca del trabajo del profesor con niños de esa etapa de la educación básica. Para ello, utilizamos como instrumento de investigación un cuestionario llenado por 63 licenciantes que aceptaron colaborar con el estudio. En cuanto a los trabajos de Gatti (2014), Tartuce et al. (2010), Kramer (2014), Brandão y Leal (2011), entre otros, obtuvimos como resultado que la docencia en la educación infantil es la primera intención de actuación entre la mayoría de los ingresantes, que demostraron estar conscientes de la complejidad del trabajo con niños de ese grupo de edad, indicando la necesidad de un trabajo pedagógico orientado a los intereses propios del público infantil. Estos resultados nos hacen reflexionar que incluso en medio de un escenario de baja atractividad docente, los ingresantes del curso investigado parecen valorar la docencia en la educación infantil. Esperamos, con este trabajo, enriquecer el debate sobre la temática propuesta, reuniendo más datos de investigación que ayuden en la discusión sobre la docencia en la contemporaneidad.

Palabras clave: Atractividad docente; Educación Infantil; Valorización de la docencia

Introdução

Diante dos problemas enfrentados pela docência na contemporaneidade, essa profissão não vem exercendo significativa atração entre os jovens concluintes do ensino médio, que buscam uma direção profissional para suas vidas, bem longe dos cursos de licenciatura. Os baixos salários, as salas de aula lotadas, a falta de estrutura em muitas escolas, a violência, dentre outros fatores, contribuem para a baixa atratividade docente (TARTUCE et al., 2010).

Diante deste preocupante cenário, realizamos uma pesquisa entre ingressantes de um Curso de Licenciatura em Pedagogia, em um município do Estado do Rio de Janeiro, (RJ/Brasil), objetivando investigar a atratividade da docência na educação infantil, entre ingressantes de um Curso de Licenciatura em Pedagogia, na busca de conhecer suas impressões iniciais acerca do trabalho do professor com crianças dessa etapa da educação básica. Nosso interesse pela educação infantil se deve ao fato de haver uma concepção, que parece vigorar no senso comum, de que seria mais fácil lidar com essa faixa etária, por proporcionar menos problemas de indisciplina/violência, por exemplo, devido à idade dos alunos.

Para atingir nosso objetivo de investigação, primeiramente, apresentamos um panorama da atratividade docente no país, para, em seguida, discutirmos a realidade nos cursos de formação inicial de professores. Após abordamos a temática da educação infantil, etapa focalizada neste estudo, e, em seguida, a pesquisa por nós empreendida, finalmente, tecemos algumas considerações finais sobre o estudo.

Por meio das contribuições de Kramer (2014), Gatti (2014), Brandão e Leal (2011), Tartuce et al. (2010), Galvão e Brasil (2009), dentre outros autores, procuramos trazer mais elementos de discussão à temática proposta, que favoreçam o enriquecimento do debate acerca da atratividade docente na educação infantil, na contemporaneidade.

A atratividade docente no cenário nacional

Diversas pesquisas vêm abordando a questão da atração que a carreira docente exerce sobre aqueles que estão no momento de escolha profissional (CARDOSO et al., 2016; SANTOS, 2014; LOUZANO et al., 2010; TARTUCE et al., 2010; OLIVEIRA et al., 2011). O resultado desses estudos tem suscitado preocupação diante da baixa atratividade docente constatada nas pesquisas.

Para Louzano et al. (2010), os alunos do ensino médio não encontram muitos incentivos financeiros para optarem pela docência. Há disparidades salariais entre os professores do setor público e as demais carreiras, fazendo com que o interesse dos jovens migre para outras áreas de atuação, pois

os professores com nível superior recebem, em média, salários mais baixos do que outros profissionais, tanto do setor público como do privado. Além disso, essa diferença aumenta significativamente com os anos de experiência. De qualquer forma, o salário inicial de um professor do setor público ainda é mais baixo que o de outras carreiras. A essa baixa remuneração soma-se o baixo status social da carreira (LOUZANO et al., 2010, p. 563).

Tartuce et al. (2010) pesquisaram a atratividade docente entre concluintes do ensino médio, de escolas públicas e privadas, de diferentes regiões do país. Participaram da etapa da aplicação de um questionário 1.501 respondentes, e 193 alunos integraram grupos de discussão sobre a temática. Dos respondentes do questionário, apenas 2% indicaram escolher, como primeira opção, a docência para prosseguir seus estudos. Assim, a preferência dos jovens pela carreira docente tem se tornado cada vez mais preocupante, pois os concluintes estão assumindo uma posição crítica em relação à profissão docente, destacando as grandes dificuldades enfrentadas, como a qualificação inadequada dos profissionais da educação, a ausência de recursos, a desvalorização profissional, a má remuneração etc, que acabam desestimulando a procura pela carreira.

Dentre o ínfimo percentual de jovens que escolheu a docência, no estudo de Tartuce et al. (2010) - 2%, o que equivale a 31 jovens -, há predominância do público feminino, e 27 deles são provenientes da escola pública. O estudo constatou que quanto maior o nível de instrução dos pais, menor a intenção de ser professor. Foi observado também que os alunos de escola pública preferem atuar na educação infantil, enquanto os da escola privada preferem o ensino médio e o superior como áreas de atuação.

Sobre os achados dos grupos de discussão, Tartuce et al. (2010, p. 459) indicam que:

é patente a concepção de que o professor é, em geral, mal remunerado e desprestigiado, e daí advém boa parte dos problemas enfrentados na contemporaneidade pela profissão, como a insatisfação dos que já estão inseridos no campo da docência e a rejeição daqueles que ainda estão na iminência de se inserir no mercado de trabalho. Os relatos revelam que a docência não é uma profissão fácil: há um nível de exigência de formação e envolvimento pessoal que não justifica a desvalorização a que está sujeita no momento.

Diante de dados tão desanimadores quanto aos rumos da profissão, Tartuce et al. (2010, p. 475) alertam que “a maioria dos alunos ouvidos na pesquisa, independentemente do tipo de escola, está ciente de que, se a profissão docente tem-se mostrado menos motivadora do que outras opções profissionais, o que acarretará falta de professores no futuro”.

Nesse contexto, Gatti (2014) reuniu as dificuldades recorrentes em se tratando da pesquisa sobre a formação inicial de professores e indica que, mesmo quando há interesse por parte do aluno em cursar a licenciatura, não há uma política de valorização do curso, que proponha programas que possibilitem a permanência desses estudantes na sala de aula, sendo estimulados a prosseguirem, e que ofereça cursos de qualidade que valorizem a profissão.

Para Gatti (2014), há características socioeducacionais e culturais dos estudantes que procuram os cursos de licenciatura que merecem ser consideradas para sua melhor formação e permanência. Como a maioria dos licenciandos é oriunda de famílias com menos condições financeiras, com menor grau de instrução e a maioria precisa trabalhar, para arcar com os estudos, é importante que o planejamento curricular seja realizado levando em consideração essas peculiaridades, acolhendo e criando políticas educacionais que incentivem a formação nas licenciaturas.

Contudo, Gatti (2014) problematiza que muitas estruturas curriculares são fragmentadas, sem disciplinas articuladoras, com ementas genéricas quanto aos saberes pedagógicos, o que fragiliza a formação inicial de professores.

No Brasil, os cursos de licenciatura mostram-se estanques entre si e, também, segregam a formação na área de conhecimento específico da área dos conhecimentos pedagógicos, dedicando parte exígua de seu currículo às práticas profissionais docentes, às questões da escola, da didática e da aprendizagem escolar (GATTI, 2014, p. 38).

Outra dificuldade apontada no trabalho de Gatti (2014) diz respeito ao pouco preparo de docentes das licenciaturas para atuar na formação de professores. Muitas vezes, os professores que atuam nesses cursos foram formados em cursos de bacharelado e não têm a preparação didática necessária para atuar na formação de professores para a educação básica.

Como a carreira já apresenta baixa atratividade entre aqueles que estão na iminência de escolher seu futuro profissional, as dificuldades, na formação inicial de professores, acabam por dificultar a permanência daqueles que optaram por ingressar nesse campo profissional. De acordo com Oliveira (2013), há três fatores imprescindíveis na luta pela reversão desse quadro e no estabelecimento da valorização da docência: 1) a remuneração; 2) a carreira e as condições de trabalho; e 3) a formação inicial e continuada.

Nesse sentido, Lückmann e Marmentini (2015) destacam que os professores conseguiram avanços significativos no que diz respeito às políticas públicas de atratividade e valorização da profissão de professor, com a implementação, por exemplo, do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) e da aprovação do Piso Salarial Profissional Nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. Contudo, “tais políticas não têm sido capazes de tornar a docência uma carreira minimamente atraente” (p. 34.432).

Tendo apresentado um panorama dos estudos que abordam a questão da atratividade docente no país, como nosso interesse de pesquisa diz respeito especificamente à educação infantil, a seguir tecemos breves considerações sobre essa etapa da educação básica, e, logo após, apresentamos nossos dados acerca da atratividade docente em relação à educação infantil.

O contexto da educação infantil

Em se tratando da primeira etapa da educação básica, podemos dizer que a educação infantil obteve muitas conquistas ao longo dos últimos anos. Para Kramer (2014, p. 8), uma dessas conquistas se refere à concepção de que a criança é produtora de cultura através do brincar, transformando práticas já estabelecidas pelos adultos. Nesse processo, cabe ao professor mediar suas interações para, principalmente, desenvolver o aprendizado.

Kramer (2014, p. 9) sustenta que “as práticas educativas, em todos os tipos de instituições, devem favorecer as trocas e interações, respeitar e acolher as crianças em suas diferenças e deficiências”, constituindo formas de apresentar, interagir e observar a sua diversidade cultural, na educação infantil.

Entretanto, a primeira etapa da educação básica ainda enfrenta muitos desafios. Kramer (2014, p. 9) alerta que, se os documentos oficiais avançaram em sua proposição de concepção de infância e da garantia dos direitos da criança, as pesquisas na área evidenciam a:

precariedade das condições, práticas e interações. Os resultados da avaliação em relatórios evidenciam, apesar das concepções de infância e de avaliação dos documentos oficiais: ênfase em conteúdos e não no desenvolvimento, nas ações ou produções infantis; patologização das crianças; normatização de condutas; culpabilização das famílias; mensuração e comparações (KRAMER, 2014, p. 22-23).

Nesse sentido, como o objetivo principal da educação infantil é a formação humana, ainda há muito para avançar. Segundo Galvão e Brasil (2009), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), nº 9.304/96, trouxe implicações para o perfil do profissional que atua nessa etapa, pressupondo o cuidado e a educação das crianças em uma perspectiva ampla e indissociável, o que demanda do professor conhecimentos mais amplos sobre o desenvolvimento infantil.

Para Galvão e Brasil (2009), durante muito tempo o perfil do profissional de educação estava ligado a um estereótipo de atividade materna, em que só a mulher poderia realizar, por possuir a experiência da maternidade, enfraquecendo a postura profissionalizante.

A concepção da Educação Infantil como extensão da função materna enfraquece a postura profissionalizante da área. Isto porque essa noção sugere que o docente desse segmento faz uso apenas de conhecimentos do senso comum, o que leva a supor que a prática desses profissionais não precisa ser embasada teoricamente. É preciso enfatizar que a educação nos primeiros anos de vida consiste em um dos principais alicerces para a constituição do sujeito (GALVÃO; BRASIL, 2009, p. 74).

Estes autores lembram que o perfil necessário ao professor de educação infantil não está só vinculado ao cuidar, mas também ao educar. Perceber a singularidade da criança, que tem história, necessidades e direitos, torna-se imprescindível ao profissional dessa etapa. Amor, paciência e gostar da área não são aspectos suficientes para ser um professor de educação infantil. É preciso dominar conhecimentos específicos, como o desenvolvimento integral da criança.

Essa perspectiva implica uma nova compreensão sobre o perfil do professor como aquele profissional que, como qualquer outro, reflete sua prática. Pode-se pensar aqui em um pesquisador que constrói conhecimento compartilhado não apenas entre as crianças com as quais trabalha, como também entre ele e as crianças. Isso envolve um processo de sustentação de relações interpessoais e da cultura que a criança traz consigo, que se dá por meio da criação de ambientes e situações que promovam desafios e questionamentos sobre as imagens que ele (o professor) possui tanto da criança como da sua própria compreensão dos significados da Educação Infantil (GALVÃO; BRASIL, 2009, p. 75).

Diante das complexidades educativas no âmbito escolar, atualmente, o professor da educação infantil é aquele que concebe a criança como sujeito, na sociedade e na sua própria formação, que tem suas singularidades, que constrói sua identidade, e cabe a ele ajudá-la no seu desenvolvimento (GALVÃO; BRASIL, 2009).

Nesse processo, Brandão e Leal (2010) apontam três diferentes caminhos que têm obtido significativa notoriedade, na prática dos professores da educação infantil, em relação à leitura e à escrita, sobretudo os que atuam na pré-escola. O primeiro deles estabelece “a obrigação da alfabetização” já na educação infantil. Assim, a criança deverá concluir a pré-escola, alfabetizada, obrigatoriamente, pois a ênfase do trabalho recai sobre a alfabetização. “Os que adotam esse modo de pensar defendem, portanto, que as crianças concluam a Educação Infantil já dominando certas associações grafofônicas, copiando letras, palavras e pequenos textos, bem como lendo e escrevendo algumas palavras e frases” (BRANDÃO; LEAL, 2010, p. 16).

O segundo caminho é chamado de “O letramento sem letras”, que enfatiza outras linguagens no trabalho com a criança, como a corporal, a musical, a gráfica. Nessa rotina de trabalho, não há espaço para a linguagem escrita. Segundo Brandão e Leal (2010, p. 18), a “alfabetização, de modo contrário ao que propõe o caminho anterior, não é concebida como objeto do trabalho educativo, sendo, em geral, tomada como um “conteúdo escolar” e, portanto, proibido para crianças da Educação Infantil”.

O terceiro caminho, defendido pelas autoras, é chamado de “Ler e escrever com significado na Educação Infantil”.

Pode-se dizer que este modo de pensar nega os outros dois citados anteriormente, pois, neste caso, não se quer obrigar a criança a concluir a Educação Infantil alfabetizada ou “lendo palavras simples”, por meio de exercícios repetitivos de cópia, ditado e leitura de letras, sílabas e palavras; por outro lado, também não se pretende que ela mergulhe em um mundo que exclui textos, palavras ou letras e que, portanto, não existe na maioria dos quadrantes de nosso país (BRANDÃO; LEAL, 2010, p. 19).

Para as autoras, o trabalho na educação infantil deve partir dos interesses das crianças, envolvendo a brincadeira, como atividade central do cotidiano, e garantindo que situações diversificadas de contato com a leitura e a escrita sejam vivenciadas. A adoção do terceiro caminho demandará do professor de educação infantil o comprometimento com os conteúdos a serem ministrados de forma integrada, por meio de atividades diárias presentes na rotina, conduzindo a criança a um desenvolvimento pleno das suas habilidades cognitivas, sociais, emocionais e físicas, caracterizando uma aprendizagem prazerosa e significativa.

É preciso, finalmente, considerar que a leitura e a escrita não devem fazer parte do currículo da Educação Infantil como uma disciplina isolada, mas sim integrar projetos de trabalho em que as crianças estão envolvidas, bem como entrar nas atividades de sua rotina no ambiente educativo, de modo a não quebrar o significado assumido por essas ferramentas na nossa cultura (BRANDÃO, LEAL, 2011, p. 30).

O trabalho de Brandão e Leal (2010) é muito significativo para a nossa pesquisa, na medida em que objetivamos, além de conhecer a atratividade da docência na educação infantil, reunir alguns elementos de análise a respeito da opinião dos ingressantes no Curso de Licenciatura em Pedagogia, acerca do trabalho do professor de crianças de 0 a 5 anos, o que nos leva à apresentação, a seguir, dos dados por nós levantados.

Pesquisando a atratividade da docência na educação infantil

Realizamos uma pesquisa de campo entre ingressantes de um Curso de Licenciatura em Pedagogia de um município do Estado do Rio de Janeiro (RJ/Brasil), pela técnica do questionário. A pesquisa foi realizada no ano de 2016, com o 1º período do Curso. Ao todo, participaram do estudo 63 estudantes, que aceitaram colaborar preenchendo um questionário, elaborado a partir dos objetivos propostos no estudo: conhecer a atratividade docente para a educação infantil e a opinião dos participantes acerca do trabalho do professor nessa etapa da educação básica.

Optamos por delimitar o público-alvo da pesquisa apenas ao 1º período do Curso, no intuito de sondar as impressões iniciais dos licenciandos, que, provavelmente, ainda não tinham tido acesso a discussões mais específicas sobre educação infantil, por estarem iniciando o Curso de Licenciatura em Pedagogia. Optamos ainda pela técnica do questionário, devido à possibilidade de atingir um número maior de pessoas (GIL, 2008).

Consideramos significativa a adesão à pesquisa, com 63 participantes, uma vez que o total de ingressantes no Curso de Licenciatura em Pedagogia, pesquisado, era de 127 licenciandos, mas fôramos informados de que vários já haviam desistido do curso, à época em que o instrumento de pesquisa foi aplicado.

O Gráfico 1 mostra que, dos 63 licenciandos participantes do estudo, 32% tinham menos de 20 anos; 46% encontravam-se na faixa etária dos 20 aos 30 anos; 13%, de 31 a 40 anos, e 9% tinham mais de 40 anos.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Gráfico 1 Faixa etária dos participantes do estudo 

Esses dados revelam que a maioria dos licenciandos ingressantes possui menos de 30 anos. Dos respondentes, 71% não atuavam, nem possuíam experiência como professor, enquanto 29% possuíam experiência docente. Isso indica que a maior parte dos ingressantes está iniciando seu processo formativo, e o Curso de Licenciatura em Pedagogia constitui sua formação inicial para a docência.

Perguntados sobre seu interesse de atuação ao cursarem a Licenciatura em Pedagogia, 46% dos licenciandos tinham interesse em atuar na educação infantil, 36%, na coordenação pedagógica de uma escola, 17%, na docência nos anos iniciais do ensino fundamental, 9%, na direção escolar, e 11% assinalaram a opção Outro. Dentre os respondentes que assinalaram a opção Outro, encontramos o interesse em atuar no Curso Normal Médio, na Educação de Jovens e Adultos (EJA), na orientação educacional, e até no “concurso no que passar”, o que pode indicar a busca por um emprego que garanta a estabilidade, sem a priorização de uma área de atuação desejada. É necessário ressaltar que os dados apresentados nessa questão se referem à frequência de escolha pelas opções apresentadas, tendo em vista que o mesmo licenciando podia assinalar mais de uma opção como área de atuação. O Gráfico 2 apresenta as respostas dos participantes para essa questão.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Gráfico 2 Interesse de atuação 

De acordo com a Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia, as áreas de atuação dos egressos desse curso abrangem a:

docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (BRASIL, 2006, art. 2º).

Assim, entre os respondentes do nosso estudo, a docência na educação infantil é a preferência dos licenciandos (46%). Em segundo lugar, aparece a escolha de atuar fora da sala de aula, na coordenação pedagógica (36%). A atuação na docência dos anos iniciais do ensino fundamental aparece em terceiro lugar (17%), enquanto a minoria indicou a intenção de atuar na direção da escola (9%). Além das opções presentes no instrumento de pesquisa, os respondentes indicaram outras áreas de abrangência do Curso de Pedagogia, como a docência no Normal Médio ou na EJA, por exemplo.

Nossos resultados têm respaldo no estudo de Tartuce et al. (2010), apresentado anteriormente, que também aponta a docência na educação infantil como atraente (32%) entre os alunos do ensino médio, enquanto a docência nos anos iniciais do ensino fundamental não motiva mais do que 11% dos respondentes da pesquisa.

Dentre as áreas de atuação por nós apresentadas aos licenciandos participantes do nosso estudo, desperta-nos a atenção a baixa atratividade para a atuação na direção escolar. Além disso, a indicação do concurso público como sendo outro interesse apresentado pode apontar para a urgência de um trabalho que conte com as garantias do serviço público.

Como a docência na educação infantil foi indicada como a preferência da maioria dos respondentes, resta-nos conhecer a opinião dos participantes sobre o trabalho nessa etapa da educação básica, o que pode nos trazer indícios quanto à sua escolha por essa área de atuação. Em relação à opinião dos licenciandos acerca do trabalho do professor de educação infantil, 60% responderam que é um trabalho mais complexo devido à faixa etária das crianças, 19% assinalaram que não há diferença significativa no trabalho com as crianças dessa etapa, 16% responderam que o trabalho é mais simples por conta da idade dos alunos e 5% marcaram a opção Outro, indicando que o trabalho varia muito de acordo com os alunos, também que é a “base para o sucesso como cidadão” e que é “mais difícil, pela responsabilidade com crianças pequenas”. O Gráfico 3 ilustra essa questão:

Fonte: Elaborado pelas autoras 

A maior parte dos licenciandos respondeu que trabalhar com crianças na faixa etária da educação infantil é mais complexo, mas, ao mesmo tempo, ainda assim, preferem esse público-alvo para a sua carreira docente.

Procuramos compreender um pouco mais sobre as impressões iniciais dos licenciandos sobre a rotina inicial de trabalho do professor da educação infantil. Para 68% dos licenciandos, a rotina envolve um trabalho pedagógico voltado aos interesses próprios das crianças até cinco anos de idade. Para 30%, a ênfase da rotina do professor deve estar no ensino da leitura e escrita, enquanto 3% indicaram que a rotina envolve apenas músicas e brincadeiras para divertir as crianças e 5% assinalaram a opção Outro, referindo-se aos seguintes aspectos:

“Envolve tudo; músicas, brincadeiras, conteúdos, aprendizagem, questões de aluno especial. Difícil apontar determinado item.”

“Envolve entrega, para que a aprendizagem seja significativa.”

“Uma mistura envolvendo todas as alternativas.”

O Gráfico 4 apresenta as respostas dos participantes quanto ao trabalho dos professores nessa etapa da educação básica.

Fonte: Elaborado pelas autoras

Gráfico 4 Rotina de trabalho do professor da educação infantil 

Assim, a maioria dos participantes respondeu que o trabalho do professor na educação infantil envolve uma rotina de trabalho em que os interesses da criança sejam valorizados, em uma perspectiva pedagógica, ou seja, que contemple o trabalho intencional voltado à aprendizagem das crianças, compreendida de forma ampla. Isso, porque, de acordo com a LDBEN, nº 9.304/96, “a educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até cinco anos em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996, artigo 29), ressaltando que o trabalho nessa etapa requer do professor o conhecimento dos variados aspectos envolvidos no desenvolvimento infantil.

Esses dados parecem trazer indícios de que os futuros professores têm a noção inicial de que a criança precisa de um trabalho voltado às necessidades específicas do seu desenvolvimento. De acordo com Peroza e Martins (2016, p. 821), “na educação infantil, a prática pedagógica é determinada, em certa medida, pelo modo como os educadores compreendem a criança e a infância”. Por isso, o trabalho com conteúdos voltados a essa temática é fundamental nas propostas curriculares dos Cursos de Licenciatura em Pedagogia, conferindo embasamento à formação inicial dos futuros professores dessa etapa da educação básica.

Outros 30% dos licenciandos indicaram que a ênfase da rotina de trabalho do professor deve estar no ensino da leitura e escrita. Esse resultado está de acordo com uma tendência que vem crescendo em diversas instituições de educação infantil, que afirmam que seus alunos sairão de lá lendo e escrevendo. Nessa perspectiva, muitas vezes, a ludicidade é retirada do trabalho pedagógico em prol da ênfase no “trabalho exaustivo com as letras, iniciando pelo reconhecimento e escrita das vogais, seguindo-se o trabalho com as consoantes e famílias silábicas” (BRANDÃO; LEAL, 2010, p. 16), o que se torna um fardo para as crianças.

Sobre essa questão, a Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, que fixa as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, alerta para a não antecipação de conteúdos próprios da etapa subsequente:

Na transição para o Ensino Fundamental a proposta pedagógica deve prever formas para garantir a continuidade no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, respeitando as especificidades etárias, sem antecipação de conteúdos que serão trabalhados no Ensino Fundamental (BRASIL, 2009, art. 11).

Dessa forma, a antecipação de conteúdos próprios do 1º ano do ensino fundamental pode trazer prejuízos à aprendizagem das crianças, por não respeitar suas especificidades etárias. Segundo Brandão e Leal (2010), a leitura e a escrita já fazem parte do universo infantil e necessitam de um trabalho pedagógico voltado aos interesses das crianças, que tenha como atividade central a brincadeira. Quando isso não acontece, a rotina escolar pode ser enfadonha e penosa para as crianças.

Ainda 3% dos licenciandos assinalaram a opção referente à rotina de trabalho do professor da educação infantil, contendo apenas brincadeiras e músicas para divertir as crianças. Essa posição pressupõe o mero entretenimento sem um direcionamento pedagógico. Certamente as brincadeiras e músicas farão parte da rotina das crianças, mas a ação pedagógica é essencial para garantir a qualidade do trabalho na educação infantil. Para os 5% dos licenciandos que assinalaram a opção Outro, o trabalho na educação infantil envolveria uma mistura de todos os itens apresentados na questão e uma entrega por parte do educador. Ressaltamos que esses dados se referem à frequência de escolha pelas opções apresentadas, tendo em vista que alguns licenciandos assinalaram mais de uma opção.

Finalmente, a seguir apresentamos algumas considerações a título de síntese do estudo empreendido.

Considerações finais

Diante de um cenário preocupante para a docência no país, esta pesquisa objetivou investigar a atratividade da docência na educação infantil entre ingressantes de um Curso de Licenciatura em Pedagogia, buscando conhecer suas impressões iniciais acerca do trabalho do professor com crianças dessa etapa da educação básica. Constatamos que a docência na educação infantil é a mais atrativa, para a maioria dos licenciandos, uma vez que quase a metade dos respondentes indicou preferir atuar nessa etapa. Os licenciandos indicaram ainda ter ciência da complexidade que envolve o trabalho com crianças de até cinco anos e da necessidade de um trabalho pedagógico voltado aos interesses delas, na rotina de trabalho do professor.

Esses resultados lançam luz sobre a valorização da docência na educação infantil por parte da maioria dos ingressantes do Curso, uma vez que essa etapa da educação básica foi a preferida para a atuação. Poderíamos pensar que tal preferência seria explicada por uma ideia corrente no senso comum, que aponta o trabalho do professor de educação infantil como o mais simples de ser realizado devido à idade das crianças. Contudo, a maior parte dos licenciandos indicou ter conhecimento tanto da complexidade do trabalho nessa etapa como da importância de um direcionamento pedagógico na prática diária do educador.

Consideramos relevante conhecer as concepções prévias dos licenciandos no processo de aprendizagem da docência. Aqueles que indicaram que a rotina do professor da educação infantil deve estar voltada à ênfase da leitura e escrita, por exemplo, necessitam compreender que essa etapa da educação básica precisa estar voltada aos interesses das crianças, o que demandará um trabalho pedagógico realizado por um docente que conhece os múltiplos aspectos envolvidos no desenvolvimento da criança e planeja sua rotina a partir da indissociável relação entre o cuidar, o brincar e o educar.

Nesse cenário, também são necessárias políticas públicas voltadas à valorização docente, objetivando recuperar a atratividade para a carreira. No que diz respeito especificamente à educação infantil, as políticas públicas voltadas à área são imprescindíveis, na medida em que fornecem suporte às instituições de educação infantil do país, garantindo aos profissionais, às crianças, às famílias e às comunidades, o direito a uma educação de qualidade.

Referências

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Recebido: 02 de Junho de 2017; Revisado: 29 de Setembro de 2018; Aceito: 27 de Novembro de 2018

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