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Educação: Teoria e Prática

versão impressa ISSN 1993-2010versão On-line ISSN 1981-8106

Educ. Teoria Prática vol.30 no.63 Rio Claro  2020

https://doi.org/10.18675/1981-8106.v30.n.63.s15471 

Dossiê

Apresentação

1Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, São Paulo – Brasil. E-mail: andreia.osti@unesp.br.

2Universidade do Minho, Braga – Portugal. E-mail: leandro@ie.uminho.pt.


Os artigos aqui apresentados versam sobre questões relativas ao Ensino Superior e integram pesquisas envolvendo vários países de Língua Portuguesa e Espanhola. Os temas abordados concentram-se nos estudantes do Ensino Superior, privilegiando a sua aprendizagem e desenvolvimento psicossocial, elegendo variáveis pessoais e contextuais na análise de tais fenômenos. Mais concretamente, os artigos selecionados versam sobre a adaptação e satisfação dos estudantes, o desenvolvimento do pensamento crítico, o desenvolvimento de carreira e perspectivas de trabalho, a motivação e adaptação acadêmica, os estilos intelectuais e desempenho acadêmico, dentre outras temáticas.

A par da clarificação de construtos, vários artigos aprofundam dados sobre a validade e precisão de instrumentos, avaliam o impacto de variáveis pessoais e contextuais na adaptação e sucesso acadêmico, aqui tomado em sentido amplo, e destacam contribuições para práticas institucionais de promoção da permanência e conclusão dos cursos pelos estudantes. Tais pesquisas configuram, assim, temáticas atuais e relevantes em âmbito nacional e internacional, uma vez que, internacionalmente, tem-se constatado o aumento do número de estudantes universitários, a sua maior diversidade e, também, taxas mais elevadas de insucesso e de evasão.

Com efeito, cabe destacar que o Instituto Internacional para o Planejamento Educacional (IIPE) da UNESCO relata que, entre 2000 e 2014, o número de estudantes matriculados no Ensino Superior duplicou. Esse aumento decorre de políticas de democratização do acesso e da necessidade crescente de quadros superiores por parte das empresas e organizações sociais em resposta aos desafios decorrentes da imprevisibilidade, complexidade e aposta na inovação do mundo atual. Como expectável, essa expansão do número de estudantes no Ensino Superior faz aumentar a diversidade estudantil nesse nível de ensino. Nesse contexto, encontra-se a justificativa para a proposta do temático, dada a importância social e acadêmica para a compreensão do Ensino Superior e de fatores que influenciam o cotidiano acadêmico dos estudantes.

Numa breve alusão aos artigos integrados neste número temático, o primeiro artigo de Silvia F. Rivas (Universidade de Salamanca, Espanha), Carlos Saiz (Universidade de Salamanca, Espanha) e Leandro S. Almeida (Universidade do Minho, Portugal) aborda o pensamento crítico dos estudantes. Trata-se de uma competência decisiva ao exercício da cidadania e da atividade profissional nos nossos dias em que abunda a informação de qualidade duvidosa. A pesquisa nessa área carece de instrumentos de avaliação adequados, propondo os autores uma forma integrada assente na complementaridade das habilidades de argumentação e explicação, de tomada de decisões e resolução de problemas.

O segundo artigo, de Ema Patrícia Oliveira e de Adriana dos Santos Levindo (Universidade da Beira Interior, Portugal), versa sobre um tema recorrente da Psicologia Positiva, mais concretamente o bem-estar subjetivo e o funcionamento psicológico positivo em estudantes dos primeiros anos do Ensino Superior. Assumido como um estudo longitudinal, este artigo mostra alguma diminuição da autoestima com o avançar no curso e um aumento na autonomia, podendo registrar algum impacto nesses resultados devido ao fato de os estudantes residirem fora da família, o que indica uma maior satisfação com a vida.

O terceiro artigo, de autoria de María José Ruiz-Melero (Universidad de Murcia, España), Rosario Bermejo (Universidad de Murcia, España), María Begoña Rumbo Arcas (Universidad de A Coruña, España), Tania Fátima Gómez Sánchez (Universidad de A Coruña, España), Maria Alfredo Moreira (Universidade do Minho, Portugal), não está focado nos estudantes, mas sim nos professores. O artigo apresenta uma revisão interessante da literatura sobre as competências docentes no Ensino Superior, tomando em atenção as perspectivas internacionais que refutam um modelo de ensino clássico assente na transmissão de informação, propondo um professor que estimule a participação ativa dos estudantes na construção de conhecimento e desenvolvimento de competências. Para tal, terão os professores que desenvolver competências pessoais, relacionais, pedagógicas e de investigação que os tornem docentes mais eficazes.

O quarto artigo, tendo como autores Maria Augusta Ferreira (Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve), António Gomes Ferreira (Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra) e Joaquim Armando Ferreira (Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, Universidade de Coimbra) centra-se no desenvolvimento da autonomia dos estudantes do Ensino Superior, neste estudo tomando estudantes do curso de Enfermagem. Assumindo a autonomia como construto central da qualidade do desenvolvimento psicossocial, os autores analisam o impacto de variáveis pessoais e contextuais no desenvolvimento da autonomia em estudantes de Enfermagem, apontando que são estudantes particularmente envolvidos nas atividades acadêmicas, especialmente as atividades relacionadas com a aprendizagem e o curso.

O quinto artigo, de autoria de Andréia Osti (UNESP, Brasil), Leandro S. lmeida (Universidade do Minho, Portugal), Beatriz Marsili Chico (UNESP, Brasil) e Vinicius de Oliveira (UNESP, Brasil), analisa a satisfação acadêmica de estudantes brasileiros e portugueses que integraram a pesquisa. Tomando a natureza multidimensional da satisfação acadêmica, recorreu-se ao Questionário de Satisfação com a Experiência Acadêmica (QSEA) que avalia a satisfação dos estudantes nos seguintes domínios: institucional, profissional, interpessoal, recursos financeiros, ensino, aprendizagem e rendimento acadêmico. Os resultados sugerem diferenças nos níveis de satisfação em função do perfil de estudantes e das áreas científicas dos cursos, o que se torna relevante para uma intervenção promotora do sucesso acadêmico e permanência dos estudantes, ambos dependentes dos seus níveis de satisfação.

O sexto artigo, de autoria de Evely Boruchovitch (UNICAMP, Brasil), Natália Moraes Góes (Universidade Estadual de Londrina, Brasil), Taylor W. Acee (Texas State University, USA) e Carolina Moreira Felicori (Cérebro e Aprendizagem, Brasil), analisa as estratégias de estudo e de aprendizagem de estudantes provenientes de cursos de formação de professores. Dada a sua relevância no sucesso acadêmico, o estudo analisa como tais estratégias se diferenciam em funções de variáveis sociodemográficas e da vida acadêmica dos estudantes. De novo, a relevância dessas variáveis na moderação das estratégias de aprendizagem dos estudantes justifica a atenção das instituições e dos professores tendo em vista a promoção do sucesso acadêmico dos estudantes.

O sétimo artigo, de autoria de Adriana Benevides Soares (Universidade Salgado de Oliveira e Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil), Luciana Mourão (Universidade Salgado de Oliveira, Brasil) e Marcia Cristina Monteiro ((Grupo União Nacional das Instituições de Ensino Superior Privadas, Brasi), versa sobre a adaptação e validação de um instrumento para se avaliar as competências e estilos de resolução de problemas sociais pelos estudantes. Numa linha cognitivo-comportamental de análise, tais competências e estilos estão diferenciados em função de perfis dos estudantes no processo de enfrentamento de problemas.

O oitavo artigo, de Katya Luciane de Oliveira (Universidade Estadual de Londrina, Brasil) e Amanda Lays Monteiro Inácio (Universidade São Francisco), analisa como os estilos intelectuais dos estudantes podem impactar o seu desempenho acadêmico e planejamento de carreira. Retomando um construto clássico da Psicologia na linha dos estilos cognitivos, os resultados obtidos pela autora apontam para um efeito estatisticamente significativo, sugerindo a relevância de uma análise mais qualitativa do impacto da cognição (estilos) na aprendizagem e no desenvolvimento dos estudantes.

O nono artigo, de autoria de Mayara da Mota Matos (UNESP, Brasil) e Roberto Tadeu Iaochite (UNESP, Brasil) discute a formação de professores nos cursos de Engenharia. Mais especificamente, os autores analisam as caraterísticas sociodemográficas do corpo discente nesses cursos, procurando na base do seu perfil assinalar preocupações na formação de melhores docentes, de forma a atenderem e responderem às necessidades dos seus estudantes.

O décimo artigo, de autoria de Adriana Satico Ferraz (Universidade São Francisco, Brasil), Thatiana Helena de Lima (Universidade Federal da Bahia, Brasil) e Acácia Aparecida Angeli dos Santos (CAPES, Brasil), retoma a relevância da adaptação acadêmica dos estudantes como motor do seu sucesso acadêmico, nomeadamente por meio do seu impacto na motivação para a aprendizagem (metas de realização). As dimensões da adaptação pessoal-emocional e da adaptação ao estudo aparecem significativamente associadas às metas de realização, registando-se algumas diferenças em algumas dimensões da adaptação, tomando o tipo de instituição (públicas ou privadas) ou a fase de ingresso ou mais avançada nos cursos.

No décimo primeiro artigo, de autoria de Carla Aparecida Pacheco Universidade do Vale do Sapucaí – UNIVAS, Brasil) e Neide de Brito Cunha (Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, Brasil) e de, analisa-se a relação entre as habilidades cognitivas e metacognitivas, enquanto competências de estudo, e os níveis de adaptação acadêmica dos estudantes. Os resultados apontam para tal relação entre as variáveis, ainda que a maioria das correlações se situem num nível entre fracas a moderadas, apontando algumas sugestões para as práticas institucionais na facilitação do sucesso acadêmico dos estudantes.

O décimo segundo e último artigo deste número temático, de autoria de Claisy Maria Marinho-Araujo (Universidade de Brasília, Brasil) e Leandro S. Almeida (Universidade do Minho, Portugal), apresenta um conjunto de transformações, mudanças e desafios da Educação Superior no Brasil e em Portugal. Tais mudanças e perspectivas de desenvolvimento estão desde logo associadas aos processos de democratização e inclusão ocorridos nas últimas décadas, assistindo-se a públicos cada vez mais diversificados no acesso a níveis mais avançados de ensino. Os autores comentam haver maior esforço na democratização do acesso do que na equidade dos processos e resultados de efetiva inclusão, apresentando os estudantes provenientes de estratos socioculturais mais desfavorecidos as taxas mais elevadas de insucesso e evasão. Acrescidos a esses pontos, os autores comentam alguns efeitos perversos das políticas de internacionalização do Ensino Superior, tornando-o, algumas vezes, mais competitivo que cooperativo.

Referências

OSTI, A.; ALMEIDA, L. S. Apresentação. Educação: Teoria e Prática. Rio Claro. v. 30, n. 63, e29[2020], 2020. [ Links ]

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