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Educação: Teoria e Prática

versão impressa ISSN 1993-2010versão On-line ISSN 1981-8106

Educ. Teoria Prática vol.30 no.63 Rio Claro  2020

https://doi.org/10.18675/1981-8106.v30.n.63.s14681 

Dossiê

ESTILOS INTELECTUAIS, DESEMPENHO E ADAPTAÇÃO AO PLANEJAMENTO DE CARREIRA NO ENSINO SUPERIOR

INTELLECTUAL STYLES, PERFORMANCE AND ADAPTATION TO CAREER PLANNING IN HIGHER EDUCATION

ESTILOS INTELECTUALES, DESEMPEÑO Y ADAPTACIÓN A LA PLANIFICACIÓN DE CARRERA EN LA ENSEÑANZA SUPERIOR

Katya Luciane de Oliveira1 
http://orcid.org/0000-0002-2030-500X

Amanda Lays Monteiro Inácio2 
http://orcid.org/0000-0003-1892-6242

1Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Paraná – Brasil. E-mail: katyauel@gmail.com.

2Universidade São Francisco, Campinas, São Paulo – Brasil. E-mail: amandalmonteiroo@gmail.com


Resumo

A presente pesquisa objetivou analisar os estilos intelectuais, o desempenho acadêmico e a adaptação ao planejamento de carreira de estudantes do ensino superior e averiguar se os estilos intelectuais podem prever essas variáveis. Participaram 316 universitários de três estados do Brasil (média de idade [MIdade] = 22,2; desvio padrão [DP] = 4,7) que responderam coletivamente ao Inventário de Estilos Intelectuais e à subescala Adaptação ao Planejamento de Carreira do Questionário de Adaptação Acadêmica do Ensino Superior. As médias de desempenho foram obtidas nas secretarias de graduação das universidades, somente dos alunos que consentiram informá-las. Os resultados indicaram a existência de correlações positivas e significativas entre as variáveis, bem como alguns dos estilos intelectuais da amostra pesquisada puderam prever a adaptação ao planejamento de carreira e o desempenho acadêmico. Também foi observado que a adaptação ao planejamento da carreira pode prever, em certa medida, o desempenho dos estudantes do ensino superior. Os resultados são discutidos em vias de suas implicações psicoeducacionais com base na literatura científica.

Palavras clave Avaliação Psicoeducacional; Adaptação Acadêmica; Ensino Superior; Estilos Intelectuais

Abstract

The present research aimed to analyze the intellectual styles, academic performance and career planning adaptation of higher education students and to evaluate if the intellectual styles can predict these variations. A group of 316 university students from three states of Brazil (AGE = 22.2; SD = 4.7) participated; they collectively responded to the Intellectual Styles Inventory and to the Career Planning subscale of the Higher Education Academic Adaptation Questionnaire. Performance averages were ontained from the universities undergraduate departments, only from students who consented to report. The results indicated the existence of positive and considerable correlations between variables, and some of the intellectual styles of the researched samplecould also predict the adaptation to career planning and academic performance. It was also observed that adaptation to career planning can predict, to some extent, the performance of higher education students. Results are discussed in terms of their psychoeducational implications based on the scientific literature.

Keywords Psychoeducational Assessment; Academic Adaptation; Higher Education; Intellectual Styles

Resumen

La presente investigación tuvo como objetivo analizar los estilos intelectuales, el rendimiento académico y la adaptación de la planificación profesional de los estudiantes de educación superior y evaluar si los estilos intelectuales pueden exhibir estas variaciones. Participaron 316 estudiantes universitarios de tres estados de Brasil (edad media = 22,2; desvisción estándar = 4,7) que respondieron colectivamente al Inventario de Estilos Intelectuales y a una subescala de Planificación de Carrera del Cuestionario de Adaptación Académica de Educación Superior. Los promedios de desempeño se obtuvieron de los departamentos de pregrado de la universidad solo de los estudiantes que consintieron en informarlas. Los resultados indicaron la existencia de correlaciones positivas e significativas entre las variables, así como algunos de los estilos intelectuales de la muestra investigada, para verificar la adaptación a la planificación profesional y el rendimiento académico. También se observó que la adaptación a la planificación profesional puede predecir, en cierta medida, el rendimiento de los estudiantes de educación superior. Los resultados se discuten a lo largo del camino de sus implicaciones psicoeducativas basadas en la literatura científica.

Palabras-chave Evaluación Psicoeducativa; daptación Académica; Enseñanza Superior; Estilos Intelectuales

1 Introdução

O termo estilos intelectuais pode ser definido como uma variável psicoeducacional que possibilita identificar o modo preferencial do indivíduo em processar informações, aprender e lidar com tarefas acadêmicas, sendo seu mapeamento importante como facilitador dos processos de aprendizagem e da dinâmica de ensino (FAN, 2016; GOMES; MARQUES; GOLINO, 2014; ZHANG; STERNBERG, 2005). A Teoria do Autogoverno Mental proposta por Zhang e Sternberg (2005) deu origem ao termo intitulado estilos intelectuais, que é considerado o mais completo teoricamente, podendo abranger as demais terminologias utilizadas anteriormente na literatura, como estilos de pensar e de mente, estilos de aprendizagem, estilos cognitivos, entre outros.

A temática dos estilos vem se ampliando consideravelmente nos últimos 20 anos com a elaboração de diferentes modelos integrativos e pesquisas que buscam associá-la a outras variáveis, tais como as estratégias de aprendizagem, personalidade, inteligência, desempenho acadêmico, entre outras. Esse campo de estudo ainda se encontra pouco explorado no Brasil, concentrando-se predominantemente em pesquisas no âmbito do ensino fundamental (INÁCIO; OLIVEIRA; MARIANO, 2017; OLIVEIRA; INÁCIO; BURIOLLA, 2016; TRASSI, 2016) e do ensino médio (GOMES et al., 2014; INÁCIO, 2018; OLIVEIRA et al., 2017). No tocante ao ensino superior, pesquisas acerca dos estilos são realizadas principalmente em contexto internacional, sobretudo na China e nos Estados Unidos (CHENG; HU; SIN, 2016; FAN, 2016; FAN; ZHANG, 2014; FAN; ZHANG; CHEN, 2018).

O modelo proposto pela Teoria do Autogoverno Mental indica a existência de 13 estilos intelectuais que podem ser classificados em cinco dimensões e três tipos. As dimensões são: três funções (legislativo, executivo e judicial), quatro formas (hierárquica, oligárquica, monárquica e anárquica), dois níveis (global e local), dois espaços (interno e externo) e duas tendências (liberal e conservadora) (FAN; ZHANG, 2014).

Quanto aos tipos, o tipo I se refere a estilos que envolvem capacidades como autonomia e originalidade na realização das atividades, sendo característico em indivíduos que utilizam seu raciocínio de modo mais complexo, fazendo uso de estratégias criativas (estilos legislativo, judicial, global, hierárquico e liberal). O tipo II indica níveis mais baixos de complexidade cognitiva, com preferência por contextos mais estruturais e pelo cumprimento de regras, sendo mais observado em pessoas com menor potencial criativo (estilos executivo, conservador, local e monárquico). Por fim, o tipo III dos estilos intelectuais pode manifestar atributos de ambos os tipos anteriores, a depender do contexto e da atividade a ser executada (estilos oligárquico, anárquico, interno e externo) (FAN, 2016). Os estilos do tipo I são mais adaptáveis que os do tipo II, sendo também mais desejáveis no contexto escolar, tendo em vista que suas características, como criatividade, autonomia e maior complexidade cognitiva, que podem beneficiar a aprendizagem do aluno (ZHANG, 2015).

Quanto à descrição de cada um dos 13 estilos propostos pela Teoria do Autogoverno Mental, o estilo legislativo se refere ao uso de estratégias criativas, pessoas que gostam de criar, elaborar e resolver atividades seguindo sua própria maneira. Por sua vez, o estilo executivo abrange pessoas com a necessidade de regras e instruções claras na realização das atividades, além da preferência por tarefas previamente definidas. Já o estilo judicial engloba pessoas com a necessidade de julgar e avaliar o trabalho dos demais, preferindo problemas dos quais a avaliação faça parte do processo (FAN et al., 2018).

O estilo hierárquico abarca pessoas que realizam tarefas segundo uma ordem de prioridades, reconhecendo, assim, que algumas atividades são mais importantes do que outras. Por outro lado, pessoas com o estilo monárquico procuram focar-se em uma tarefa por vez, sendo menos flexíveis e estabelecendo poucas prioridades. O estilo oligárquico também apresenta dificuldade em estabelecer prioridades, dando preferência à execução de várias tarefas ao mesmo tempo. Por fim, o estilo anárquico diz respeito à necessidade de tarefas mais flexíveis quanto ao que fazer, onde fazer e como fazer, apresentando pouca clareza e reflexão (ZHANG; STERNBERG, 2005).

Pessoas com o estilo global preferem lidar com ideias abstratas, dando ênfase à totalidade, e não aos detalhes das atividades. Por outro lado, pessoas com o estilo local costumam ser mais detalhistas na condução de suas atividades, dando preferência a ideias concretas. O estilo interno diz respeito a pessoas que preferem trabalhar individualmente, enquanto no estilo externo a preferência é dada ao trabalho em grupo e ao desenvolvimento de relações interpessoais. No estilo liberal, a ênfase se concentra em tarefas inovadoras e pouco familiares, enquanto no estilo conservador a preferência do indivíduo é por tarefas já familiares, que exijam regras e procedimentos fixos (ZHANG, 2015).

O Inventário de Estilos de Pensamento/Intelectuais é um dos principais instrumentos de avaliação dos estilos presente na literatura científica. Proposto inicialmente por Sternberg e Wagner (1992), o inventário era composto por 104 itens organizados em 13 estilos. A primeira revisão desse instrumento foi elaborada por Sternberg, Wagner e Zhang (2003), passando a conter 65 itens divididos em 13 dimensões da Teoria do Autogoverno Mental. Anos mais tarde, o instrumento passou por uma nova revisão (STERNBERG; WAGNER; ZHANG, 2007), quando passou a receber a denominação Revisado II (TSI-R2). Essa versão também contém 65 itens e 13 dimensões, sendo a mesma utilizada no presente estudo.

Embora apresentem certas características estáveis, os estilos possuem alguma maleabilidade, o que proporciona a possibilidade de direcionamento do estilo mais adequado ao indivíduo, a fim de que possa favorecer sua aprendizagem. Diante disso, a mudança no estilo pode estar associada ao contexto educacional, ao estilo do professor e, ainda, às características próprias do aluno no momento de aprender (ZHANG, 2015). Ao se considerar a crescente expansão do ensino superior no Brasil, sobretudo a heterogeneidade dos estudantes que se encontram nessa etapa de ensino, faz-se necessário que as instituições estejam preparadas para acolher essa diversidade de demandas educacionais e promovam uma boa adaptação acadêmica ao estudante, possibilitando um bom aproveitamento das diversas condições de aprendizado, a fim de que possa beneficiar sua formação profissional (OLIVEIRA; SANTOS; INÁCIO, 2018a; PORTO; SOARES, 2017; SANTOS; OLIVEIRA; DIAS, 2015).

O ingresso no ensino superior abrange diversas mudanças na vida do estudante, as quais necessitarão de ajustes e esforços significativos para serem enfrentadas, como as transformações no grupo de amizade, as exigências mais complexas na nova etapa acadêmica, maior autonomia e responsabilidade e, por vezes, o distanciamento do núcleo familiar por meio da mudança de cidade, entre outros aspectos (OLIVEIRA; SANTOS; DIAS, 2016). Os autores destacam, ainda, que, nesse período, o estudante precisa lidar com suas próprias expectativas diante do curso escolhido e também com a adaptação à nova realidade, sendo que, muitas vezes, a própria instituição de ensino não consegue abranger as necessidades do estudante, sobretudo em relação a transmissão de informações e fornecimento de suporte ao aluno.

Sendo assim, o mapeamento do estilo intelectual pode auxiliar na adaptação acadêmica do estudante, sobretudo em seu planejamento de carreira, que conceitualmente se refere às percepções relacionadas com o curso frequentado e as perspectivas de carreira (OLIVEIRA et al., 2018a; PORTO; SOARES, 2017). Isso porque há exigências inerentes a cada curso na graduação, sendo um fator muito relevante o conhecimento delas e a identificação do próprio estilo utilizado no momento de aprender. Além disso, o mapeamento do estilo intelectual utilizado pelo aluno pode beneficiar seu desenvolvimento em diversos aspectos, como o desenvolvimento psicológico, emocional, social, a evolução e o interesse de carreira e, ainda, seu progresso acadêmico. A respeito deste último, destaca-se que identificar a forma preferida de aprender e fazer uso dela possibilita que o estudante se sinta mais disposto e aberto ao conhecimento, facilitando, assim, a obtenção de boas notas e de um consequente sucesso nesse contexto (FAN, 2016; FAN et al., 2018; GOMES et al., 2014; ZHANG, 2015; ZHANG; STERNBERG, 2005).

Posto isso, o presente estudo objetivou analisar os estilos intelectuais, o desempenho acadêmico e a adaptação ao planejamento de carreira de estudantes do ensino superior brasileiro. Também buscou averiguar como essas variáveis de correlacionam e se os estilos intelectuais podem prever o desempenho e a adaptação ao planejamento de carreira.

2 Método

2.1 Participantes

Participaram 316 estudantes de três universidade de três estados brasileiros: Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo. A média de idade foi de 22 anos e 2 meses (desvio padrão [DP] = 4,7), sendo a idade mínima 17 e a máxima, 51. O sexo feminino representou a maior parte da amostra (69,9%, n = 221). Quanto ao estado civil, a maioria se declarou solteira (88%, n = 278). O número de estudantes por curso pode ser visto na Tabela 1.

Tabela 1 Descrição dos Estudantes por Curso 

Curso F %
Psicologia 149 47,2
Ciências Contábeis 14 4,4
Letras 8 2,5
Odontologia 11 3,5
Agronomia 22 7,0
Direito 24 7,6
Administração 18 5,7
Medicina 14 4,4
Arquitetura e Urbanismo 40 12,7
Engenharia Civil 15 4,7
Não respondeu 1 0,3
Total 316 100,0

Fonte: Elaborada pelos autores.

2.2 Instrumentos

Inventário de Estilos de Pensamento/Intelectuais (Thinking Styles Inventory [TSI-R2]) (STERNBERG et al., 2007) – O TSI-R2 é um instrumento de origem estadunidense que apresenta pesquisas que evidenciam sua validade para aquela realidade cultural, tendo coeficientes de alfa de Cronbach que variam de 0,70 a 0,80 para os ensinos médio e superior. Os 65 itens são apresentados em 13 dimensões com cinco itens cada, sendo as alternativas de resposta dispostas em escala do tipo Likert de sete pontos, quais sejam: “De jeito nenhum” (1 ponto), “Não muito bem” (2 pontos), “Um pouco” (3 pontos), “Bem de alguma forma” (4 pontos), “Bem” (5 pontos), “Muito bem” (6 pontos) e “Extremamente bem” (7 pontos) (ZHANG, 2011). No Brasil, o instrumento possui evidências de validade, com estudos inicias de Oliveira, Santos e Inácio (2018b).

Questionário de Adaptação ao Ensino Superior (QAES) (ARAÚJO et al., 2013) – O QAES analisa a adaptação de universitários ao ensino superior por meio de 40 itens elaborados com base na literatura científica, nos instrumentos já existentes sobre o tema (ver Questionário de Vivências Acadêmicas [QVA e QVAr] de ALMEIDA; SOARES; FERREIRA, 2000, 2002, e o Student Adaptation to College Questionnaire, de BAKER; SIRYK, 1984) e também em relatos de estudantes (ALVES; GONÇALVES; ALMEIDA, 2012). Esses itens são organizados em escala Likert, que varia entre 1 (Discordo totalmente) e 5 (Concordo totalmente).

O questionário foi estruturado teoricamente em cinco dimensões com oito itens cada, a saber: Planejamento de Carreira; Adaptação Social; Adaptação Pessoal-emocional; Adaptação ao Estudo e Adaptação Institucional. O instrumento apresenta uma estrutura fatorial, confirmando cinco dimensões com índices de consistência interna acima de 0,70. No presente estudo, foram investigados somente os itens da dimensão Planejamento de Carreira.

2.3 Procedimento

A presente investigação se respaldou na Resolução 510/16 e seus complementos do Conselho Nacional de Saúde. Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, a coleta de dados foi viabilizada em cada instituição de ensino, de forma coletiva, em sala de aula, com duração aproximada de 40 minutos. Além disso, as médias de desempenho dos alunos foram obtidas nas secretarias de graduação das universidades, apenas daqueles que consentiram informá-las.

2.4 Análise de dados

Os dados foram organizados em planilha e analisados por meio do programa IBM Statistical Pakage for the Social Sciences for Windows® versão 22.0 (SPSS), visando a atender aos objetivos propostos. Foram levantados dados de média e desvio padrão, bem como dados percentuais (estatística descritiva). Também se empregaram a correlação de Pearson simples, considerando as magnitudes de Cohen (1988) e a análise de regressão linear pelo método Enter (estatísticas inferenciais).

3. Resultados

Os resultados serão apresentados conforme a descrição dos objetivos do presente estudo. Portanto, no que se refere a averiguação dos estilos intelectuais, desempenho e adaptação ao planejamento de carreira, na Tabela 2 podem ser observadas as pontuações das médias, desvios padrões e pontuações mínimas e máximas da amostra pesquisada.

Tabela 2 Análises Descritivas da Amostra Pesquisada 

Estilos Médias Desvio padrão PontuaçõesMín. e Máx. Variação da Pontuação
Legislativo 24,6 5,4 10-35 5-35
Executivo 21,6 4,6 11-32 5 -35
Judicial 24,9 5,2 13-34 5-35
Global 20,5 4,0 9-33 5-35
Local 20,8 4,6 7-33 5-35
Liberal 22,9 6,8 9-35 5-35
Conservador 19,5 7,2 5-35 5-35
Hierárquico 25,6 4,6 14-35 5-35
Monárquico 23,0 3,9 11-34 5-35
Oligárquico 19,9 4,9 7-33 5-35
Anárquico 20,4 4,8 10-35 5-35
Interno 22,6 5,2 5-34 5-35
Externo 25,1 4,6 5-35 5-35
QAES – Planejam.
de Carreira
29,6 5,8 16-40 5-40
Desempenho
acadêmico
7,7 1,2 4,5-10 0-10

Fonte: Elaborada pelos autores.

Conforme os resultados apresentados na Tabela 2 pode-se notar que, com relação aos estilos intelectuais, destacaram-se quatro deles com médias mais elevadas: hierárquico, externo, judicial e legislativo. Em contrapartida, o estilo com menor pontuação na amostra pesquisada foi o conservador.

Com a finalidade de analisar as correlações entre os estilos intelectuais, a adaptação ao planejamento de carreira e o desempenho recorreu-se à correlação de Pearson. Os resultados da análise podem ser vistos na Tabela 3.

Tabela 3 Correlações entre Estilos, Adaptação ao Planejamento de Carreira e Desempenho 

Estilos Adaptação ao Planejamento de Carreira Desempenho Acadêmico
Legislativo   0,127*
Judicial 0,290** 0,323**
Global 0,181* 0,273**
Local 0,141* 0,260**
Conservador   0,185*
Hierárquico 0,535*** 0,481***
Oligárquico 0,144* 0,251**
Anárquico 0,367** 0,349**
Externo 0,329** 0,251**

Fonte: Elaborada pelos autores. Nível de significância:

*= 0,050;

**= 0,01;

***= 0,001.

De modo geral, a Tabela 3 indica a existência de correlações positivas e significativas entre os construtos, com preponderância do estilo hierárquico, que obteve uma correlação de grande magnitude com a adaptação ao planejamento de carreira e a média com o desempenho acadêmico, segundo a classificação das magnitudes de Cohen (1988). Ademais, houve correlações positivas e significativas, de magnitude média, entre os estilos anárquico e externo com a adaptação ao planejamento de carreira e dos estilos judicial e anárquico com o desempenho acadêmico. Vale destacar que os estilos executivo, liberal, monárquico e interno não se correlacionaram com os construtos analisados, o que pode estar associado à especificidade da amostra pesquisada. Ainda, a correlação entre adaptação ao planejamento de carreira e o desempenho acadêmico foi identificada, considerando-se r = 0,411 e p = 0,001.

Para verificar se havia alguma relação de dependência entre os construtos estudados, recorreu-se à análise de regressão linear. A Tabela 4 apresenta os dados dessa análise entre os estilos intelectuais e a adaptação ao planejamento de carreira que apresentaram correlação significativa. De modo análogo, a Tabela 5 apresenta os resultados da regressão entre estilos intelectuais e o desempenho dos estudantes.

Tabela 4 Dados de Regressão Linear para os Estilos Intelectuais e a Adaptação ao Planejamento de Carreira 

Variáveis Independentes
Estilo
R R² ajustado F Betaz t Sig
Hierárquico 0,535 0,287 F(1,289) = 115,698 0,535 11,6 0,001
Externo 0,329 0,105 F(1,277) = 33,471 0,329 12,07 0,001
Anárquico 0,367 0,132 F(1,307) = 47,573 0,367 8,658 0,001

Fonte: Elaborada pelos autores.

Tabela 5 Dados de Regressão Linear para os Estilos Intelectuais e o Desempenho 

Variáveis Independentes
Estilo
R R² ajustado F Betaz t Sig
Hierárquico 0,481 0,462 F(1,277) = 239,902 0,481 15,4 0,001
Judicial 0,323 0,101 F(1,290) = 33,699 0,323 5,8 0,001
Anárquico 0,349 0,122 F(1,293) = 40,588 0,349 6,3 0,001

Fonte: Elaborada pelos autores.

Por fim, também levantou-se a relação de dependência entre a adaptação ao planejamento de carreira e o desempenho acadêmico. Os dados indicaram que a adaptação ao planejamento de carreira pôde prever o desempenho em aproximadamente 16%, considerando-se R = 0,411, R² ajustado = 0,166; F(1,291) = 59,223; Beta = 0,411, t = 7,6 e p = 0,001.

4 Discussão

Diante dos resultados apresentados foi possível constatar que os estudantes da amostra pesquisada obtiveram melhores médias nos estilos hierárquico, externo, judicial e legislativo, que se referem, respectivamente, à realização de várias tarefas hierarquizando a importância das mesmas, preferência por trabalhar em grupos e avaliar o desempenho de si e dos demais e, ainda, primazia pela escolha das próprias atividades, realizando-as de modo criativo. Sendo assim, pode-se sugerir a hipótese de que, no ensino superior, os estudantes fazem mais uso desses estilos no momento de aprender. Destaca-se que os estilos hierárquico, judicial e legislativo se referem ao tipo I, que se mostram mais desejáveis no contexto acadêmico por envolverem capacidades como autonomia, criatividade e maior complexidade cognitiva (FAN, 2016; ZHANG, 2015). O fato de o estilo conservador ser o menos pontuado nessa amostra denota que os estudantes no ensino superior têm menos inclinação a seguir procedimentos fixos e regras preestabelecidas na realização das atividades, o que vai ao encontro das pontuações mais altas em estilos como o legislativo e o hierárquico, que indicam exatamente o oposto do estilo conservador.

Quanto à adaptação ao planejamento de carreira, os resultados revelaram que os estudantes do ensino superior possuem boa adaptação, com pontuação mais elevada que o ponto médio da escala de respostas. Tendo em vista que essa dimensão se refere aos sentimentos relacionados com o curso frequentado e as perspectivas de carreira, conforme indicando por Porto e Soares (2017), pode-se dizer que esses estudantes conseguem compreender, de modo geral, as características envolvidas em sua escolha acadêmica. Esse resultado se mostra consoante com a literatura quando comparado com o estudo de Santos et al. (2013), em que a dimensão carreira também obteve pontuação acima da média, indicando que os acadêmicos demonstram maior segurança na escolha do curso.

Em relação ao desempenho acadêmico, observou-se que a média de pontos dos estudantes foi de 7,7, revelando que a amostra pesquisada tem um bom desempenho acadêmico no ensino superior, e isso porque, na maior parte das instituições de ensino, os alunos precisam de notas acima de 6,0 ou 7,0 pontos para serem considerados dentro da média nas disciplinas. Cabe ressaltar, no entanto, que as notas obtidas durante um período letivo não conseguem abranger todas as possibilidades de verificação do desempenho do aluno, expressando parcialmente o modo como ele se saiu ao longo do período avaliado (INÁCIO, 2018; OLIVEIRA; SANTOS, 2006). Sendo assim, os dados obtidos na presente pesquisa devem ser vistos com cautela.

O maior índice encontrado nas correlações entre os estilos intelectuais e a adaptação ao planejamento de carreira foi em relação ao estilo hierárquico (preferência por realizar tarefas segundo uma ordem de prioridades, reconhecendo que algumas atividades são mais importantes do que outras) (ZHANG, 2015). Esse dado indica certa coerência com o ensino superior, tendo em vista as inúmeras atividades que são características dessa etapa acadêmica, sendo necessário priorizar e hierarquizar tais atividades segundo graus de importância, como prazos, exigências de materiais e pesquisas prévias, complexidade, entre outros (PORTO; SOARES, 2017). Além disso, priorizando as atividades, o estudante tem a possibilidade de organizar-se melhor para realizá-las e, então, obter um melhor desempenho.

O tipo I dos estilos intelectuais engloba o estilo hierárquico, que é característico de pessoas mais criativas e autônomas, que preferem realizar suas atividades livremente (ZHANG, 2015). Essas especificidades também se mostram de acordo com o ensino superior, pois, apesar das numerosas exigências, o estudante tem mais autonomia na realização das atividades e menos controle externo (dos professores e da própria instituição) sobre quando e como realizar suas obrigações, sendo a principal preocupação o desempenho final obtido (SANTOS et al., 2015).

Também foi encontrada correlação entre a adaptação ao planejamento de carreira e o desempenho acadêmico dos estudantes do ensino superior, indicando, que na amostra pesquisada, aqueles com melhor adaptação ao curso escolhido têm desempenho superior nas disciplinas. Os resultados correlacionais obtidos demonstram consonância com a literatura internacional, tendo em vista, por exemplo, o estudo de Fan (2016), no qual foi identificado que estudantes que fazem uso dos estilos do tipo I demonstraram mais autoeficácia na tomada de decisão profissional. De modo semelhante, Cheng, Zhang e Hu (2016) também identificaram que os estudantes do ensino superior com preferência por estilos do tipo I apresentavam maior autoeficácia acadêmica. No entanto, não foram encontradas, até o presente momento, pesquisas que buscassem relação entre as variáveis do presente estudo no ensino superior brasileiro, impossibilitando, assim, que os resultados alcançados pudessem ser comparados nacionalmente.

No que se refere à relação de dependência entre os construtos estudados, observou-se que os estilos intelectuais hierárquico, externo e anárquico podem prever a adaptação ao planejamento de carreira em aproximadamente 28%, 10% e 13%, respectivamente. Os estilos intelectuais hierárquico, judicial e anárquico preveem, ainda, o desempenho acadêmico dos estudantes da amostra pesquisada em 46%, 10% e 12%, respectivamente, e, por fim, a adaptação ao planejamento de carreira pode predizer o desempenho dos estudantes do ensino superior em aproximadamente 16%. Diante desses dados, os estudantes que preferem realizar várias tarefas de forma hierárquica, trabalhar em grupo e que gostam de tarefas flexíveis demonstram, até certo ponto, maior adaptação ao planejamento de carreira (ZHANG; STERNBERG, 2005). Destarte, aqueles que possuem um perfil mais hierárquico, com preferência por avaliar os demais e por atividades mais flexíveis, parecem conseguir alcançar um melhor desempenho acadêmico. Por conseguinte, aqueles com maior adaptação ao planejamento de carreira também parecem se destacar em termos de desempenho. Destaca-se que não foram encontrados, na literatura, estudos com os quais esses resultados pudessem ser comparados.

5 Considerações finais

De maneira geral, identificou-se, no presente estudo, uma predominância dos estilos intelectuais do tipo I em detrimento dos outros tipos, o que evidencia que os estudantes do ensino superior da amostra pesquisada possuem tendência a serem mais criativos e autônomos, utilizando maior complexidade cognitiva no momento da aprendizagem e do processamento das informações. Além disso, ao que parece, eles se mostraram bem adaptados ao planejamento de carreira, conseguindo compreender as características envolvidas em suas escolhas acadêmicas e obtendo, também, um bom desempenho acadêmico.

Foi possível observar, ainda, que as correlações apresentadas se mostraram coerentes com as características dos estilos intelectuais. Além disso, alguns desses estilos entraram no modelo de regressão para a adaptação ao planejamento de carreira e a adaptação ao planejamento de carreira entrou no modelo de regressão para o desempenho acadêmico. Tal resultado indica a importância do mapeamento dos estilos intelectuais na escolha profissional e adaptação acadêmica do estudante, conforme já evidenciado pelas literaturas nacional e internacional.

Como limitação deste estudo pode ser mencionado o tamanho da amostra obtida e a predominância do sexo feminino (cabendo buscar comparações entre os sexos). Destaca-se também a problemática da incipiência de pesquisas na literatura científica acerca das variáveis estudadas, o que dificulta a comparação com outras amostras e realidades. Posto isso, evidencia-se a relevância do presente estudo e de pesquisas futuras que busquem analisar os estilos intelectuais, a adaptação ao planejamento de carreira e, ainda, o desempenho acadêmico no ensino superior, tendo em vista que essa etapa de ensino possui valor inestimável, contribuindo para a formação social e profissional de indivíduos que atuarão nos mais diversos segmentos da sociedade.

Referências

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Recebido: 07 de Março de 2020; Aceito: 09 de Setembro de 2020; Publicado: 03 de Novembro de 2020

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