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Educação: Teoria e Prática

versión impresa ISSN 1993-2010versión On-line ISSN 1981-8106

Educ. Teoria Prática vol.32 no.65 Rio Claro  2022

https://doi.org/10.18675/1981-8106.v32.n.65.s15719 

Artigos

Os temas transversais na Base Nacional Comum Curricular: da legislação à prática

Cross-cutting themes in the Common National Curriculum Base: from legislation to practice

Temas transversales en la Base Nacional Comum Curricular: de la legislación a la práctica

Kelmara Mendes Vieira1 
http://orcid.org/0000-0002-8847-0941

Leander Luiz Klein2 
http://orcid.org/0000-0001-6075-6107

Adriele Carine Menezes Denardin3 
http://orcid.org/0000-0003-4480-6981

Denise Doná Linke4 
http://orcid.org/0000-0002-3275-1357

Lediane Ferreira Mesquita4 
http://orcid.org/0000-0003-0124-6734

1Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul – Brasil. E-mail: kelmara.vieira@ufsm.br.

2Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul – Brasil. E-mail: kleander88@gmail.com.

3Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul – Brasil. E-mail: dricadenardin@hotmail.com.

4Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul – Brasil. E-mail: nyseadm@gmail.com.

5Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul – Brasil. E-mail: ledianefmesquita@gmail.com.


Resumo

Os temas transversais na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) objetivam que os estudantes aprendam temas relevantes para o exercício da cidadania e a vida em sociedade. O objetivo deste estudo é avaliar a percepção dos docentes sobre os desafios e as dificuldades de implantação dos temas. O questionário desenvolvido, além do conteúdo de perfil, apresenta questões que avaliam a percepção sobre a BNCC, a confiança e a experiência no ensino dos temas transversais, as dificuldades de implementação e os resultados obtidos. Como técnicas de análise foram utilizadas estatísticas descritivas e análise fatorial exploratória. Para a maioria dos docentes, a implantação vem seguindo os prazos legais, mas ainda há necessidade da realização de treinamentos e de melhorias na estrutura escolar. Entre os temas com maior inexperiência estão os relacionados com economia e educação financeira e fiscal. Quanto aos resultados e à percepção dos professores sobre o desempenho dos alunos, os entrevistados afirmaram que o desempenho dos alunos é semelhante ao de outras temáticas. É necessário um esforço dos gestores públicos na preparação da comunidade escolar para os novos desafios dos temas transversais.

Palavras-chave Temas Transversais; Base Nacional Comum Curricular; Percepção Docente

Abstract

The cross-cutting themes in the Base Nacional Comum Curricular (BNCC) aim to make students learn relevant themes for the exercise of citizenship and life in society. The objective is to assess the teachers' perception about the challenges and difficulties of implementing the themes. The questionnaire developed, in addition to the profile questions, presents questions that assess the perception of the BNCC, the trust and experience in teaching cross-cutting themes, the difficulties of implementation and the results obtained. Descriptive statistics and exploratory factor analysis were used as analysis techniques. For most teachers, the implementation has followed the legal deadlines, but there is still a need for training and improvements of the school structure. Among the most inexperienced themes are those related to the economy, and financial and tax education. Teachers perceive students' performance as similar to other themes. Public administrators need to make an effort to prepare the school community for the new challenges of cross-cutting themes.

Keywords Cross-cutting themes; Base Nacional Comum Curricular; Teacher Perception

Resumen

Los temas transversales de la Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tienen como objetivo que los estudiantes aprendan temas relevantes para el ejercicio de la ciudadanía y la vida en sociedad. El objetivo es evaluar la percepción de los docentes sobre los desafíos y dificultades de implementar los temas. El cuestionario desarrollado, además de las preguntas de perfil, presenta cuestiones que evalúan la percepción del BNCC, la confianza y experiencia en la enseñanza de temas transversales, las dificultades de implementación y los resultados obtenidos. Se utilizaron la estadística descriptiva y el análisis factorial exploratorio como técnicas de análisis. Para la mayoría de los docentes, la implementación ha cumplido los plazos legales, pero aún existe la necesidad de capacitación y de mejorar la estructura escolar. Entre los temas con menos experiencia se encuentran los relacionados con la economía, la educación financiera y tributaria. Los profesores perciben el desempeño de los estudiantes como similar a otros temas. Los administradores públicos deben hacer un esfuerzo para preparar a la comunidad escolar para los nuevos desafíos de los temas transversales.

Palabras clave Temas Transversales; Base Nacional Comum Curricular; Percepción del Docente

1 Introdução

O processo de globalização, diversificação e especificação do mercado de trabalho requer profissionais qualificados e capacitados, sendo que esse cenário serve de estímulo para professores e alunos que buscam a educação como sustentação para um futuro melhor. A escola, como instituição social, é um importante espaço de socialização, sendo evidente, por várias práticas formativas com a finalidade da construção da educação, que, por sua vez,, pode ser compreendida como processo de criação, transformação e disseminação do saber.

As relações de ensino-aprendizagem, juntamente com um modelo teórico-metodológico bem fundamentado caracterizam de forma sistemática o processo educativo e permitem um estudo concreto e aprofundado das necessidades educacionais, bem como a implantação de um padrão a ser formado. Nesse contexto, edifica-se a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e da Reforma do Ensino Médio, tendo suas bases na Lei 13.415/2017. A BNCC é um documento de caráter normativo cujo intuito é aprimorar a aprendizagem, assegurando o desenvolvimento dos conhecimentos essenciais dos alunos em todas as instituições de ensino do país de forma igualitária. A BNCC indica seis assuntos (Cidadania e Civismo, Ciência e Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e Saúde), compreendendo quinze temas contemporâneos “que afetam a vida humana em escala local, regional e global” (BRASIL, 2017, p. 21).

Por orientação do Ministério da Educação, a partir de 2020 as escolas devem adotar a BNCC, na qual o gestor escolar é incumbido da tarefa de prestar uma formação continuada aos professores e também é responsável pela análise do Projeto Pedagógico. Essas ações são de extrema importância para professores e alunos, pois assim os novos currículos podem contribuir e dar cada vez mais apoio a eles (BRASIL, 2019).

Assim, as mudanças propostas pela nova BNCC afetarão diretamente o ambiente em que estão inseridos os educadores. Reconhecendo a importância e a relevância desse tema, o presente trabalho objetiva avaliar a percepção dos docentes de escolas de ensinos básico e fundamental sobre os desafios e as dificuldades de implantação dos temas transversais (TTs) da BNCC.

Sendo a BNCC a referência para o sistema de ensino no Brasil, a incorporação dos temas transversais pretende permitir a conexão dos ensinamentos de sala de aula com as situações cotidianas, contudo, para que isso ocorra, os gestores públicos devem estar envolvidos, dando aporte para que o professor esteja preparado para atuar nessas novas temáticas. Com isso, o presente trabalho se caracteriza por ser um dos primeiros estudos com o propósito de avaliar as dificuldades que os professores estão enfrentando para executar essa normativa.

2 Referencial teórico

A educação possui um grande poder de transformação na vida do ser humano e, de acordo com Saviani (2008), é idealizada como a elaboração do saber, e o ensino é visto como um processo na ação educativa no qual o professor é o produtor do saber e o aluno, consumidor do saber. Diversos autores têm uma concepção formada sobre educação, e essas concepções, quase em sua totalidade, são semelhantes em alguns pontos: geralmente colocam o indivíduo como o sujeito central desse processo. Além disso, desenvolvem ações que buscam capacitar as pessoas para que estejam aptas a interagir de maneira eficaz com a sociedade (CALLEJA, 2008). Desse modo, Bueno e Pereira (2013) consideram educação uma manifestação social-histórica-cultural que tem o objetivo de transformar as qualidades humanas e que ocorre com qualquer pessoa, a qualquer momento e em qualquer lugar, assim como pode ser transmitida por qualquer indivíduo, independente de idade, raça ou sexo.

Embora a formação do ser humano possa ocorrer em qualquer espaço, a escola é o lócus de construção de saberes e de conhecimentos, devendo formar sujeitos críticos, criativos, com domínio de conteúdos e habilidades que possibilitem a sua inserção no mercado de trabalho e o exercício da cidadania. Desse modo, Martins (2012) considera que, no Brasil, a política nacional de educação deve ser coordenada pela União, cabendo a ela exercer as funções normativas e de articulação entre as demais instâncias responsáveis pela educação.

A BNCC tem como objetivo diminuir as desigualdades educacionais ao garantir para todos os mesmos conhecimentos essenciais, visto que se adapta às realidades de cada região e fortalece a gestão escolar. Além disso, possui caráter normativo e tem por finalidade ser implementada em todas as instituições de ensino do país com o intuito de amenizar e superar os problemas existentes e alavancar novas ações para acompanhar as transformações e as novas suscitações que se apresentam com o passar dos anos. A BNCC define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo da Educação Básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o que preceitua o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2017).

A criação da BNCC está baseada no artigo 210 da Constituição, que prevê uma formação básica comum para o ensino fundamental, e também no artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases, além de ser uma estratégia para o alcance de algumas das metas do PNE. A BNCC para a educação infantil e o ensino fundamental foi aprovada e homologada em dezembro de 2017. Por sua vez, o documento para o ensino médio foi aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) no dia 4 de dezembro de 2018 e homologado na semana seguinte, no dia 14 de dezembro, pelo Ministério da Educação, sendo homologada a versão final da BNCC com a inclusão da etapa do ensino médio (BRASIL, 2019).

Os temas transversais, no contexto educacional brasileiro, surgiram em caráter oficial no ano de 1997, nos Parâmetros Curriculares Nacionais, juntamente com a renovação do sistema de ensino, no qual a ética e a cidadania eram eixos norteadores da Educação. Esses eixos representavam questões importantes, urgentes e presentes no cotidiano da sociedade brasileira da época (BRASIL, 1997b). Assim, desde esse período a proposta de uma educação voltada para a cidadania como princípio norteador de aprendizagens e a introdução no currículo escolar de questões sociais e temas relacionados com o meio ambiente e à saúde vinham sendo discutidas. Com a homologação da BNCC nas etapas da educação infantil e do ensino fundamental, no ano de 2017, e na etapa do ensino médio, em 2018, os temas transversais foram estabelecidos na geração dos novos currículos como Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) (BRASIL, 2019).

Os TCTs, no processo educacional, abordam vários assuntos que fazem parte da realidade do estudante e

buscam uma contextualização do que é ensinado, trazendo temas que sejam de interesse dos estudantes e de relevância para seu desenvolvimento como cidadão. O grande objetivo é que o estudante reconheça e aprenda sobre os temas que são relevantes para sua atuação na sociedade.

(BRASIL, 2019, p. 7.)

Os TCTs abordam seis macroáreas temáticas: Cidadania e Civismo, Ciência e Tecnologia, Economia, Meio Ambiente, Multiculturalismo e Saúde, que compreendem 15 temas contemporâneos “que afetam a vida humana em escala local, regional e global” (BRASIL, 2017, p. 19). A incorporação desses novos temas visa a atender às novas demandas sociais, buscando garantir que a área escolar seja um espaço cidadão, comprometido com a construção da cidadania e voltado para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal, coletiva e ambiental (BRASIL, 1997a).

Nas Diretrizes Curriculares Nacionais, consta a obrigatoriedade dos TCTs, de acordo com as Resoluções CNE/CEB n 7/2010 e nº 12/2012, enquanto na BNCC são considerados conteúdos primordiais para a Educação Básica devido à sua contribuição para o desenvolvimento das habilidades ligadas aos componentes curriculares (BRASIL, 2019). Mesmo que o caráter dos temas seja obrigatório, “cabe aos sistemas e redes de ensino, assim como às Escolas [...] incorporar aos currículos e às propostas pedagógicas a abordagem de temas contemporâneos que afetam a vida humana em escala local, regional e global, preferencialmente de forma transversal e integradora” (BRASIL, 2017 p. 19). A Figura 1 apresenta uma síntese dos temas transversais presentes na BNCC.

Fonte: BRASIL. Temas Contemporâneos e Transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos (2019, p. 13).

Figura 1 Temas transversais na Base Nacional Comum Curricular. 

Essas mudanças relacionadas com os TCTs simbolizam conquistas essenciais para a educação brasileira, pois a BNCC deve ser notada como um documento que guia o processo de revisão curricular conforme legislação vigente. Depois de duas décadas, foram realizados avanços e novos elementos foram incluídos em sua base; desse modo, a BNCC vem somar, agregar e trazer novidades, as quais espera-se que ampliem a abordagem dos temas na escola (BRASIL, 2019). Assim, a função principal dos temas transversais é a contribuição para a formação responsável do indivíduo para exercer e definir sua participação na sociedade local e mundial (OLIVEIRA, 2018).

Os critérios de escolha dos temas transversais desenham tanto uma concepção de conhecimento quanto de um modelo de docência (SILVA, MARTINS, BARBOSA, 2017). Os temas transversais devem ser inseridos na rotina escolar, sendo um método natural que assegure principalmente o respeito às diferenças presentes no país para que a educação seja uma forma eficiente de estruturação da cidadania. É uma ação que deverá compreender a comunidade escolar, na qual todos os envolvidos devem se entender e trabalhar unidos para a eficiência dos propósitos orientados. Assim, é preciso que o docente esteja fundamentado em planos e projetos coesos e significativos e com objetivo de motivar e envolver os alunos nessas dinâmicas. Para Longhi e Rocha (2012), a seleção do tema transversal a ser explanado deve seguir a intuição do bom educador em observar, mediante as opiniões e debates entre os alunos, o melhor momento de desenvolver um tema para esclarecer e ampliar tais conhecimentos de maneira divertida e espontânea.

Finalmente, Yus (1998) comenta que, a fim de que a abordagem dos temas transversais possa ser fortalecida, deve-se repensar a formação acadêmica do profissional docente para que as novas exigências de integrar os conhecimentos adquiridos na escola sejam alcançadas e esses possam ser replicados em situações de convívio social. Nessa mesma perspectiva, Prestini (2005) afirma que uma possível barreira a que a transversalidade possa ocorrer de maneira plena é o próprio educador, que, em sua formação, não foi preparado para colocar essas propostas em prática.

3 Método de pesquisa

De acordo com o site de busca oficial da Secretaria Estadual da Educação do Estado do Rio Grande do Sul, existem: 2.468 escolas estaduais, 49 escolas federais, 5.216 escolas municipais e 2.483 escolas particulares, totalizando 10.216, todas cadastradas, incluindo escolas da zona rural. Conforme o Censo Escolar da Educação Básica de 2018, pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) nas escolas estaduais gaúchas, somando-se estudantes das áreas urbana e rural, o número total de matrículas foi 880.168 no ano de 2018. No mesmo ano, em toda a Educação Básica, unindo a rede pública e a privada, foram matriculados, ao total, 2.323.211 alunos.

O número de professores em escolas estaduais no ano de 2018, no caso, professores vinculados à rede estadual gaúcha, somando-se aqueles que dão aulas nas áreas urbana e rural, totalizou 43.682. Na rede privada do estado, em 2018, o número chegou a 28.106 professores. Assim, somadas todas as redes (federal, estadual, municipal e privada), resultou-se no total de 117.520 professores no ano de 2018.

Constituíram a amostra professores de escolas municipais, estaduais, particulares e federais do estado do Rio Grande do Sul, os quais foram convidados mediante os e-mails das escolas cadastradas no site oficial da Secretaria Estadual da Educação. A pesquisa também foi divulgada na rede social Facebook, em que foi criado um perfil referente à pesquisa com link de acesso para participação dos professores. Ao total foram respondidos 303 questionários.

Para a coleta de dados foi desenvolvido um questionário estruturado e dividido em dois blocos: perfil e percepção do respondente em relação à nova BNCC e aos temas transversais. O instrumento apresenta questões fechadas e abertas, sendo que, inicialmente, o primeiro bloco refere-se ao perfil do entrevistado com o objetivo de qualificar os professores respondentes, possibilitando o conhecimento maior sobre suas características, as quais são representadas pelas seguintes variáveis: gênero, idade, estado civil, nível de escolaridade, quantidade de filhos, tempo de atuação como professor e tipo de escola. No segundo bloco, encontram-se as questões referentes à BNCC e aos temas transversais com a finalidade de conhecer a opinião, as dificuldades, as experiências e o conhecimento dos professores sobre o tema. Para isso foram elaboradas oito questões. Nesse bloco optou-se pelo uso de categorias de resposta do tipo likert. O instrumento foi submetido à avaliação de três especialistas para a avaliação do conteúdo e adequação das questões. Também foi realizado um pré-teste com cinco docentes de diferentes perfis. As questões do instrumento são apresentadas no Apêndice.

A análise de dados foi realizada por meio de estatística descritiva e da análise fatorial exploratória. A primeira etapa da análise de dados se refere à estatística descritiva das variáveis com a finalidade de caracterizar a amostra, pois ela representa, de maneira objetiva, sintética e compreensível, as informações que estão inseridas em um determinado conjunto de dados (MARCONI, LAKATOS, 1996).

Na etapa seguinte, utilizou-se a análise fatorial exploratória como técnica principal para definir os fatores. Escolheu-se como método de extração dos fatores a análise dos componentes principais, que, segundo Malhotra (2011), é a mais recomendada quando a preocupação principal do pesquisador é determinar o número mínimo de fatores que respondem pela máxima variância nos dados. Para verificar a fatorabilidade dos dados, utilizaram-se dois testes iniciais: o teste de esfericidade de Barlett e o teste de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO), no qual os dados são definidos como procedimentos estatísticos que identificam a qualidade das correlações entre as variáveis, permitindo prosseguir com a análise fatorial (PESTANA; GAGEIRO, 2003). Como método de rotação optou-se por Varimax e, como critério de extração, autovalores maiores que um.

Destaca-se que a permanência de uma variável em um fator teve como parâmetro a comunalidade, fazendo que seja necessária a comunalidade superior a 0,50 para que a variável seja mantida na fatorial. A avaliação do nível da confiabilidade dos fatores foi analisada tendo-se como base o alfa de Cronbach, verificando-se a consistência interna entre os múltiplos indicadores de um fator. Para que o fator tenha resultados aceitáveis, é indicado que seja maior que 0,6, indicando a consistência interna dos fatores (MALHOTRA, 2011).

A pesquisa foi submetida à plataforma Brasil e aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Santa Maria (CAAE: 31346620.0.0000.5346).

4 Análise dos resultados

Nesta seção são apresentadas as análises dos resultados, as quais foram divididas em quatro momentos. Inicialmente, foram demonstrados os itens de caracterização da amostra pesquisada. Em seguida, os procedimentos adotados na aplicação da análise fatorial exploratória (AFE) relativa às questões sobre a percepção da nova BNCC. A terceira parte exibe as estatísticas descritivas sobre a confiança e a experiência dos professores nos TTs, bem como a sua percepção quanto à sua implantação. Na última subseção são demonstrados os resultados da implantação dos TTs entre os alunos a partir da estimação de um modelo de regressão.

4.1 Perfil dos docentes

Esta seção detalha alguns aspectos que especificam e caracterizam sumariamente a amostra investigada, aspectos apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 Perfil dos docentes. 

Variável Opções de Resposta Frequência Percentual (%)
Sexo Masculino 46 16,8
Feminino 228 83,2
Idade Até 25 anos 8 2,9
De 26 a 35 anos 86 31,4
De 36 a 45 anos 102 37,2
De 46 a 55 anos 63 23,0
Mais de 56 anos 15 5,5
Escolaridade Graduação 68 24,8
Especialização ou MBA 152 55,5
Mestrado 36 13,1
Doutorado 18 6,6
Estado civil Solteiro(a) 71 25,9
Casado(a), vive junto(a) 161 58,8
Divorciado(a), separado(a) 37 13,5
Viúvo(a) 5 1,8
Número de filhos 1 94 34,3
2 78 28,5
3 16 5,8
4 ou mais 5 1,8
Nenhum 81 29,6
Anos de docência Até 5 anos 59 21,6
De 6 a 10 anos 79 28,9
De 11 a 15 anos 54 19,8
Acima de 15 anos 81 29,7
Tipo de escola* Municipal 172 63,0
Estadual 75 27,5
Particular 36 13,2
         

*O percentual de respostas ultrapassa 100%, pois alguns entrevistados trabalham em mais de um tipo de instituição.

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A Tabela 1 mostra que a maioria dos respondentes é do sexo feminino (83,2%). Outro ponto a ser destacado é que a faixa de idade de 36 a 45 anos tem o maior número de respondentes, seguida da faixa de 26 a 35 anos. Somadas, essas faixas etárias compreendem a maior parte dos respondentes (68,6%).

A respeito do nível de escolaridade, pode-se verificar que a maioria dos entrevistados (55,5%) já cursou uma especialização ou MBA. Além disso, nota-se que a maior parte é casada ou vive junto em união estável (58,8%) e tem até dois filhos (62,8%), seguida de 29,6% que não possuem filhos.

Quanto ao perfil de docência, observa-se distribuição bastante equilibrada entre o número de anos de docência, sendo que a categoria com maior percentual de respondentes é acima de 15 anos. Há predomínio daqueles que trabalham em escolas municipais.

4.2 Percepção da nova Base Nacional Comum Curricular

Para avaliar a percepção dos professores quanto à nova BNCC, foi construído um conjunto de itens sobre o assunto, os quais, para sintetizar e facilitar a análise, foram submetidos a uma avaliação fatorial exploratória que permite estabelecer um conjunto menor de fatores para a análise do conjunto de variáveis. Como procedimentos iniciais de aplicação da técnica foram calculados o teste KMO (Kaiser-Meyer-Olkin Measure) e o de esfericidade de Bartlett, cujos resultados indicam a fatorabilidade dos dados (KMO = 0,844; sig = 0,000). Deve-se ressaltar que, a partir da análise das comunalidades das variáveis, foi excluída da análise fatorial a seguinte variável: “Os componentes curriculares, exigidos na nova BNCC, foram contemplados na minha formação” (comunalidade = 0,453).

O método de rotação dos fatores foi o Varimax, e, como medida para o estabelecimento da quantidade de fatores, utilizou-se o critério dos autovalores (eingenvalues) maiores que 1,0. Definidos esses critérios, os resultados da fatorial exploratória indicaram a obtenção de quatro fatores que explicam, em conjunto, 70,44% do total da variância dos dados. A composição desses fatores e o valor do alfa de Cronbach, assim como a carga fatorial e a média das variáveis que os compõem, são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 Avaliação da nova BNCC. 

Descrição dos fatores Variância Explicada Carga Fatorial Média
Fator 1: Aprendizado dos estudantes (Alfa de Cronbach = 0.882)   3,25
As mudanças na BNCC estão sendo benéficas para a educação dos alunos. 21,48% 0,876 3,31
Tenho observado melhoras no aprendizado dos alunos durante as aulas com as mudanças da nova BNCC. 0,873 3,10
Você aprova a reforma da BNCC vigente. 0,712 3,30
Os estudantes estão sendo receptivos em relação a implementação da nova BNCC. 0,645 3,28
Fator 2: Conhecimento e preparo do professor (Alfa de Cronbach = 0,838)   3,36
O meu conhecimento scbre a nova BNCC é adequado para a implementação em sala de aula. 20.69% 0,849 3,35
Tenho conhecimento do conteúdo exigido na nova BNCC para ministrar as aulas. 0,824 3,44
Me sinto preparada(o) para trabalhar com a nova BNCC. 0,702 3,19
Recebi treinamento sobre a implementação da nova BNCC. 0,651 3,46
Fator 3: Dificuldades do professor (Alfa de Cronbach = 0,684)   3,13
Tenho tido dificuldades para implementar a nova BNCC em sala de aula. 14,98% 0,787 3,08
Considero os conteúdos da nova BNCC muito complexos para serem colocados em prática na sala de aula. 0,719 2,70
Meus planos de aula foram alterados devido a nova BNCC. 0,676 3,61
A nova BNCC afetou o meu desempenho decente. 0,667 3,14
Fator 4: Estrutura da escola (Alfa de Cronbach = 0,874)   2,84
A escola onde trabalho possui recursos (didáticos, tecnológicos, materiais) para ministrar as aulas que exisem esses quesitos. 13,29% 0,911 3,01
A escola foi estruturada (estrutura física) para contemplar as novas exigências de ensino da nova BNCC. 0,876 2,67

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A partir da análise da Tabela 2, verifica-se que todos os alfas de Cronbach foram superiores a 0,6, indicando a consistência interna dos fatores. O primeiro fator, denominado “Aprendizado dos Estudantes”, é composto por quatro variáveis que explicam a maior parte da variância dos dados (21,48%). Tendo sido as questões respondidas numa escala do tipo likert de cinco pontos (1- Discordo totalmente, 2- Discordo, 3- Indiferente, 4- Concordo, 5- Concordo totalmente), as médias em torno de 3 indicam que os professores estão indiferentes quanto ao aprendizado dos alunos, tanto no que se refere à receptividade quanto às melhorias no aprendizado.

O segundo fator foi nomeado “Conhecimento e Preparo do Professor”. Também é composto por quatro variáveis que explicam mais 20,69% da variância dos dados e que remetem às perguntas sobre o nível de conhecimento e preparo que os professores julgam ter sobre a nova BNCC. As médias das respostas estão em torno de 3, indicando certa indiferença dos docentes. Esses resultados apontam para a necessidade de as escolas oferecerem mais treinamentos para que os professores tenham o conhecimento necessário e se sintam confiantes para o ensino dos temas transversais.

O terceiro fator (Dificuldade do Professor) compreende questões relativas a dificuldades, complexidade, desempenho docente e mudanças no plano de aula advindas da nova BNCC. A média do fator ficou em torno de 3, indicando indiferença dos docentes quanto à dificuldade.

Por último, o fator denominado “Estrutura da Escola” é composto por apenas duas variáveis que se referem a elementos mais objetivos das escolas, como os recursos e a estrutura física. A média ligeiramente abaixo de 3 indica que, para os docentes, as escolas ainda não possuem os recursos e a estrutura adequados à nova BNCC.

No geral, observa-se que os docentes indicaram que, em todas as quatro dimensões de análise, ainda há muito que ser feito. A melhora da estrutura escolar, a adequação pedagógica e o treinamento dos professores são caminhos necessários para que, no futuro, possa ser alcançada uma visão mais positiva dos efeitos da nova BNCC no aprendizado dos alunos.

4.3 A confiança e a experiência em lecionar os temas transversais

Os temas transversais, conforme demostrado da Figura 1 deste trabalho, são divididos em seis categorias principais, que abrangem um espectro mais amplo de elementos e novas diretrizes de educação no Brasil. Como são temas novos e que, muitas vezes, distanciam-se das áreas e conteúdos curriculares básicos nos quais os professores se especializaram, compreende-se que pode haver certo nível de insegurança e inexperiência em lecionar conteúdos sobre os TTs. Em vista disso, os professores foram questionados quanto ao nível de confiança e à experiência que julgam ter em relação a cada um dos TTs direcionados na nova BNCC. Os resultados são demonstrados na Tabela 3.

Tabela 3 Percepção de confiança e experiência em lecionar os TT. 

Temas Transversais Média - Confiança em
lecionar
Percentuais de respostas - Experiência
Muito
Inexperiente
Inexperiente Experiente Muito
Experiente
Diversidade Cultural-Multiculturalismo. 2,83 31,0 17,2 47,1 4,7
Educação para valorização do multiculturalismo nas matrizes históricas e culturais brasileiras 2,74 32,8 17,5 45,3 4,4
Ciência e Tecnologia 2,69 29,6 23,4 38,3 8,8
Educação Ambiental 3,15 15,3 17,5 56,6 10,6
Educação para o Consumo 3,00 25,9 20,8 48,5 4,7
Economia -Trabalho 2,79 30,7 21,9 43,8 3,6
Economia- Educação Financeira 2,70 36,1 23,0 36,1 4,7
Economia- Educação Fiscal 2,54 39,8 25,5 31,4 3,3
Saúde 3,03 22,3 16,1 51,8 9,9
Saúde, educação alimentar e nutricional 3,08 19,3 17,5 53,6 9,5
Cidadania e Cinismo- Vida familiar e social 3,06 19,7 21,2 52,2 6,9
Cidadania e Civismo- Educação para o trânsito 3,00 24,8 24,8 42,7 7,7
Cidadania e Cinismo- Educação em Direitos Humano 3,06 21,9 19,7 51,1 7,3
Cidadania e Cinismo- Direitos da Criança e do Adolescente 3,09 19,7 17,2 56,9 6,2
Cidadania e Cinismo- Processo de envelhecimento, respeito e valorização de idoso. 3,01 23,4 21,2 49,6 5,8

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

A confiança para lecionar foi avaliada numa escala de cinco pontos: 1- Nada confiante, 2- Pouco confiante, 3- Confiante, 4- Muito confiante, 5- Totalmente confiante. Os resultados da Tabela 3 demonstram que, de maneira geral, os professores estão confiantes em relação aos TTs. Os temas nos quais estão menos confiantes são Educação Financeira, Educação Fiscal e Ciência e Tecnologia. Esses três TTs são também os temas que possuem o menor percentual de professores com experiência para lecioná-los. Para todos os demais, o percentual de professores que afirmam ter experiência naquele respectivo tema é maior que 40%. Os temas que os professores aparentam ter maior “familiaridade” são Educação Ambiental, Direitos da Criança e do Adolescente, Vida Familiar e Social e Saúde, Educação Alimentar e Nutricional.

Observa-se ainda que, para a maioria das temáticas, uma parcela significativa dos docentes indicou ser inexperiente ou muito inexperiente. Tais resultados, ao mesmo tempo em que indicam que a nova BNCC realmente trouxe novidades e passou a incorporar temas inovadores, exigirão um esforço de aprendizagem e preparação da comunidade escolar para um processo ensino-aprendizagem adequado desses temas.

Para subsidiar os resultados supracitados e gerar mais um parâmetro de análise sobre TTs, foi verificada a percepção dos professores sobre como estaria a implantação dos TTs. Os resultados são demonstrados na Tabela 4.

Tabela 4 Percepção dos professores quanto a implementação dos temas transversais. 

Variáveis Média Percentuais (%)
Muito
atrasado
Atrasado No ritmo determinado pela
legislação
Avançado Muito
avançado
Ensino dos temas transversais. 2,81 5,1 25,5 55,1 11,7 2,6
Aplicação/Prática dos temas transversais. 2,77 5,5 28,8 51,8 11,3 2,6
Desenvolvimento dos conhecimentos necessários para o ensino dos temas transversais 2,79 4,7 27,0 54,7 11,7 1,8
Necessidade de suporte ou materiais para as aulas. 2,57 12,8 31,8 41,6 13,1 0,7
Treinamentos previstos ou executados. 2,62 14,6 27,4 41,6 14,6 1,8
Abordagem da escola sobre os temas. 2,87 5,8 24,1 50,0 17,5 2,6
Preparação da escola sobre os temas. 2,77 6,2 29,2 47,4 15,3 1,8
Materiais didáticos ofertados pela escola. 2,68 12,0 29,2 42,0 12,0 4,8
Utilização dos temas transversais. 2,82 5,5 25,9 51,8 14,6 2,2
Suporte do sistem educacional 2,60 14,2 28,1 43,8 10,9 2,9

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

De acordo com a Tabela 4, pode-se perceber que a maior parte dos professores acredita que a implementação dos TTs está occorendo no ritmo determinado pela legislação para a maioria dos itens avaliados. Os pontos que um maior percentual de professores percebe como atrasados são em relação ao suporte de materiais para as aulas, treinamentos, materiais didáticos ofertados e suporte do sistema educacional. Pode-se verificar que esses pontos dizem respeito aos investimentos necessários a serem realizados para a implantação dos TTs. Por outro lado, os itens que um maior percentual de professores julga estar no ritmo esperado ou avançado são referentes a elementos que dependem mais deles próprios, como a abordagem na sala de aula, o ensino, a aplicação prática e o desenvolvimento dos conhecimentos.

Destaca-se ainda que, para todas as questões, o percentual de respostas nas categorias muito atrasado e/ou atrasado é superior àquele em adiantado ou muito adiantado, indicando que, para muitos professores a implantação dos TTs está atrasada em relação ao previsto na legislação.

Os entrevistados também foram questionados quanto ao que falta para se sentirem mais preparados para o ensino dos TTs. A Tabela 5 apresenta os resultados.

Tabela 5 Fatores necessários para que os docentes se sintam preparados para o ensino dos temas transversais. 

Afirmação Percentual (%) de Respostas
Não há falta de algo 4,4
Conhecimento. 66,7
Material didático adequado 50,9
Capacitação/preparo/treinamento 65,9
Infraestrutura da escola 50,5
Tecnologia na escola 56,8

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Os fatores mais citados pelos professores foram capacitação/preparo/treinamento e conhecimento. Apenas para 4,4% não há qualquer falta, ou seja, já se sentem preparados. Esses resultados ressaltam a necessidade de que os gestores escolares invistam na formação adequada dos docentes para que eles se sintam mais capacitados para levar os TTs à sala de aula. Destaca-se ainda que a maioria também sinaliza a falta de material didático, de infraestrutura e de tecnologia na escola como fatores necessários para a melhor preparação para o ensino.

4.4 Resultados da implementação dos temas transversais

Até esta etapa foram analisados fatores ou itens que pudessem dar suporte para uma avaliação geral sobre a nova BNCC e a percepção de confiança, experiência e ritmo de implementação dos TTs. Nesta seção, busca-se realizar uma avaliação sobre a percepção dos professores quanto aos resultados da implementação dos TTs entre os alunos. Para tanto, os professores foram questionados primeiramente se já haviam trabalhado algum tema transversal em seus conteúdos pedagógicos. Os resultados evidenciam que 80,3% da amostra afirmam já o terem feito.

Para os professores que já lecionaram algum TT, foram realizadas perguntas sobre sua percepção quanto aos resultados. A medida de comparação das respostas foi em relação aos demais temas já comumente executados pelos professores. Os itens avaliados e os respectivos resultados são detalhados na Tabela 6.

Tabela 6 Resultados da implementação dos TTs. 

Variáveis Média Percentuais (%)
Muito pior do que de outros temas Pior do que de outros temas Semelhante ao de outros temas Maior do que de outros temas Muito maior do que de outros temas.
Reação dos alunos ao ensino dos temas transversais 3,16 0,9 2,3 78,0 17,4 1,4
Desenvolvimento do aprendizado dos alunos nos temas transversais 3,24 0,5 3,7 69,0 25,0 1,9
Interesse dos alunos nos temas transversais 3,31 1,0 3,7 62,7 28,6 4,1
Participação nas atividades relativas aos temas transversais 3,36 0,9 2,8 62,0 28,3 6,0
               

Fonte: Dados da pesquisa (2021).

Os resultados da Tabela 6 mostram que, para todos os itens avaliados, os professores percebem uma aceitabilidade dos TTs de maneira semelhante ou melhor que os outros temas executados em sala de aula. Em outras palavras, pode-se dizer que a reação, o aprendizado, o interesse e a participação dos alunos nas atividades relativas aos TTs são iguais ou superiores aos demais temas lecionados em sala de aula.

5 Considerações finais

Este estudo teve por objetivo avaliar a percepção dos docentes de escolas de ensinos básico e fundamental sobre os desafios e as dificuldades de implantação dos temas transversais da BNCC. Na percepção dos professores entrevistados, a maioria mulheres, a Base Nacional Comum Curricular não apresentou mudanças significativas e efetivas no aprendizado. Os temas transversais já foram utilizados por grande parte dos entrevistados, e as escolas estão se adequando de acordo com o previsto na legislação.

É relevante destacar que, na percepção dos professores respondentes, os alunos possuem interesse nos temas transversais, por isso é importante que os professores estejam preparados nesse sentido, pois o presente estudo revelou que 21% dos professores estão esperando receber a preparação para trabalhar com esses temas e outros 21% ainda não receberam qualquer tipo de preparo ou treinamento. Essa condição desfavorece a implantação dos temas transversais, especialmente daqueles nos quais os docentes se consideram menos confiantes e experientes.

Apesar de a legislação já estar aprovada e ter sido prevista sua implementação para 2020, uma parcela dos professores ainda necessita receber treinamento para o ensino dos temas transversais. Como política pública de educação, fica evidente que uma alteração da legislação pode não alcançar o resultado desejado se os entes governamentais envolvidos não desenvolverem estratégias eficientes de implementação da nova legislação. A disponibilização e a aplicação correta e pontual dos recursos são tão importantes e necessárias quanto um esforço conjunto do governo e de toda a comunidade escolar para que se possam implementar com êxito os temas transversais.

Para alguns temas transversais, como, por exemplo, a Educação Financeira e Fiscal, o país já tem desenvolvido políticas como a Estratégia Nacional de Educação Financeira, que podem ser adaptadas para auxiliarem na geração dos conhecimentos e habilidades necessários para a implementação da temática. Já em outros temas, ainda há clara necessidade do desenvolvimento de materiais e cursos presenciais ou on-line que sejam oferecidos aos professores. Por serem temáticas contemporâneas, é compreensível que uma parcela dos docentes não tenha adquirido os conhecimentos ao longo de sua formação acadêmica. Alternativas como a criação de cursos de especialização a distância, ofertados em nível nacional (por exemplo, pelo sistema Universidade Aberta do Brasil [UAB]), podem ser um caminho viável para a oferta ampla de cursos aos docentes.

Num país onde os biomas estão sendo devastados por desmatamento ilegal, em que uma parcela significativa da população sofre pela exclusão financeira e os índices de violência doméstica e estrupo crescem sucessivamente, ampliar a discussão dos temas contemporâneos transversais no contexto escolar é necessário e urgente. É nesse sentido e contexto que os resultados deste estudo fornecem elementos e itens de avaliação sobre a nova BNCC e os temas transversais.

Os resultados desta pesquisa devem ser compreendidos considerando-se algumas limitações. Devido ao fato de as instituições de ensino terem permanecido fechadas durante pandemia de Covid-19, não foi possível o contato presencial com o público alvo do estudo. Pôde-se apenas realizar o envio de questionários pelos e-mails disponibilizados no site da Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul. Como sugestões de estudos futuros, recomendam-se a realização da pesquisa em outros estados, a avaliação da percepção dos alunos na implementação da BNCC, além de estudos comparativos entre as instituições públicas e privadas.

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Recebido: 08 de Março de 2021; Revisado: 01 de Novembro de 2021; Aceito: 08 de Novembro de 2021

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