Este Dossiê, proposto para a Revista Educação: Teoria e Prática, tem como temática a formação de professores iniciantes e é coordenado pelas professoras Carla Andréa Brande, Emília Freitas de Lima, Laura Noemi Chaluh, Marisol Barenco de Mello e Silmara de Oliveira Gomes Papi.
No Brasil, o termo professor iniciante é muito usado como referência aos professores que ingressam nos sistemas de ensino.
É importante ressaltar que não há consenso na literatura a respeito do período de duração do início da carreira docente. Huberman (1992) aponta que a fase inicial da carreira de professor se estende até o terceiro ano de exercício profissional; para Cavaco (2003) este período vai até o quarto ano; Veenman (1988) esclarece que esta fase se prolonga até o quinto ano. Vaillant e Marcelo (2012) apontam para pesquisas que diferenciam professores em início de carreira de professores especialistas, estes últimos se referindo a professores com, ao menos, cinco anos de experiência, além de um elevado nível de conhecimento e destreza. É preciso, ainda, considerar o debate sobre o critério temporal como demarcação entre “iniciantes” e “experientes”. Marcelo Garcia (1999) já chamava a atenção para a possibilidade de haver vários inícios, a depender das atuações em diferentes escolas ou níveis de ensino, por exemplo. Dessa forma, seriam distintos os conceitos de “inserção profissional” (ingresso na carreira) e “inícios da docência”, compreendidos no plural.
Nesse contexto, deve-se considerar, também, que pesquisas mais recentes têm apontado a existência de um acúmulo de evidências acerca das dificuldades enfrentadas pelos professores ingressantes na carreira. Quando se fala sobre esta fase de iniciação profissional, portanto, é necessário tomá-la como um período sensível, que se inscreve como tempo/espaço privilegiado para a constituição da docência.
Dessa forma, mesmo diante da constatação do incremento de pesquisas sobre o tema nos últimos anos, ainda se encontram lacunas nessa produção, justificando a realização de novos estudos que possam iluminar os processos de formação vivenciados e apontar para perspectivas de análise deles. Entendemos, assim, que tais argumentos sustentem a relevância da organização deste dossiê.
Nele estão contidos artigos que discutem a temática sob diferentes perspectivas teóricas e teórico-metodológicas, todas apontando para a indicação da urgência da instituição de políticas e propostas que considerem a necessidade de acompanhar e oferecer contextos formativos levando em consideração a especificidade de ser professor(a) iniciante.
O dossiê se inicia com o trabalho do Prof. Marco Raúl Mejía Jiménez, que instiga a considerar-se as transformações pelas quais vem passando a sociedade e, consequentemente, as implicações e desafios para se pensar a formação dos professores iniciantes, pois eles terão que se constituir cada vez mais como protagonistas na escola, produtores de saberes pedagógicos.
Em seguida, o dossiê apresenta pesquisas nacionais e internacionais que, a partir de entrevistas, questionários, levantamento bibliográfico e caderno de registros livres, analisam as relações entre o processo de inserção profissional docente, a organização do trabalho pedagógico escolar e as indicações para programas de apoio à formação dos professores; discutem sobre a reconstrução da profissionalidade docente no (re)início na Educação Básica; e, ressaltam o trabalho docente no início da carreira e sua contribuição para a constituição de uma individualidade para si. As pesquisas trazem também um levantamento de Teses e Dissertações sobre o início da docência, além de considerações sobre as aprendizagens e desafios que os professores iniciantes enfrentam nos âmbitos profissional, pessoal e contextual ao se inserirem em instituições de dependências administrativas diferentes e sobre dificuldades vivenciadas por professores iniciantes na coordenação pedagógica escolar.
O último conjunto de textos inclui artigos derivados de pesquisas que apresentam propostas de acompanhamento a professores iniciantes, em vista de contribuir com a construção desse momento de sua aprendizagem profissional. Pesquisas nacionais e internacionais são também apresentadas e priorizam problemáticas relacionadas a uma análise qualitativa acerca dos conhecimentos construídos por professores iniciantes sobre a dimensão profissional docente, ao desenvolvimento de comunidade de práticas delineadas para o acompanhamento de docentes principiantes, além de contribuírem com uma análise de parte de um processo formativo professores em início de carreira, em um curso de formação.
As pesquisas desse último grupo de textos também discutem sobre o que é estar em formação, ressaltando que na formação de professores iniciantes eles não precisam estar sós, mas podem estar em parceria com outros professores; trazem contribuições de uma pesquisa-formação realizada com coordenadores pedagógicos iniciantes e experientes em um processo de parceria colaborativa. O conjunto de textos apresenta, ao final, uma pesquisa que dá visibilidade a espaços de formação a partir de referenciais descolonizadores da expressão sonora e corporal ao compartilhar a experiência com os/as docentes do povo de Ngigua (popoloca)/México.
Dada a relevância da temática, oito artigos produzidos no Brasil foram traduzidos para o inglês pelos autores, o que amplia a possibilidade de divulgação dos trabalhos.
Esperamos, com essa oportunidade de diálogos, dar início a uma discussão que possa beneficiar nossas iniciativas de formação de professores iniciantes, tão relevante para nossos momentos políticos e pedagógicos contemporâneos.