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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.19 no.55 Rio de Janeiro out./dez 2018  Epub 17-Fev-2020

https://doi.org/10.12957/teias.2018.38638 

Apresentação

APRESENTAÇÃO DA SEÇÃO TEMÁTICA INCLUSÃO ESCOLAR E INTERROGAÇÕES CURRICULARES: ADAPTAR, MODIFICAR, DIFERIR?

Geovana Mendonça Lunardi Mendes(*) 

Fabiany de Cássia Tavares Silva(**) 

(*)Professora Associada do Programa de Pós-graduação em Educação, Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Bolsista Produtividade em Pesquisa CNPq. E-mail: geolunardi@gmail.com.

(**)Professora Associada do Programa de Pós-graduação em Educação, da Faculdade de Educação, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Bolsista Produtividade em Pesquisa CNPq. E-mail: fabiany.tavares@ufms.br.


A Educação Inclusiva e, consequentemente, a inclusão escolar tornaram-se uma narrativa mundial, amplamente aceita e pouco questionada. No entanto, alguns estudiosos críticos (SLEE, 2016; ARTILES, 2011; entre outros) têm apresentado alertas importantes sobre os perigos das articulações desta narrativa.

Especialmente, Artiles, Kozleski e Gonzalez (2011), chamam a atenção para a sedução dos discursos sobre a Educação Inclusiva, e apontam para alguns dos problemas que esses discursos geram. Um destes aspectos, é a centralização do discurso em torno de um grupo específico, especialmente, os “alunos com deficiência”, o que gera uma especificação do discurso e uma situação bastante paradoxal, tornando a educação inclusiva “seletivamente inclusiva”.

Um outro aspecto destacado pelos autores, é que a Educação Inclusiva parece não conseguir enfrentar as questões de poder e desigualdade que permeiam as práticas escolares de contextos marginais. Nesse sentido, parece que a capacidade “reconstrutora” da Educação Inclusiva fica diminuída quando não enfrenta as questões de poder que organizam os processos de desigualdade sociais e que se manifestam na escola.

A proposta desse dossiê, passa pelo desejo do enfrentamento dessas questões aproximando-as de sua capacidade reconstrutora, e diante disso, seu importante papel na interrogação do currículo.

Particularmente no Brasil, a ampliação dos debates, iniciados com a chamada escola inclusiva, desde a década de 1990, atribuídos e relacionados à política de inclusão escolar, seguindo e ampliando o que a LDB 9.394/1996 havia definido como modalidades (educação de jovens e adultos, especial, do campo, escolar indígena, quilombola, para as relações étnico-raciais, entre outras) nos remetem às diferentes concepções pedagógicas, às práticas educacionais, à organização escolar e às orientações curriculares, que têm legitimado as iniciativas em espaços escolares e não escolares.

As problemáticas atuais do cenário educacional geradas pelas agendas conservadoras, tanto no âmbito das políticas educacionais como nas políticas curriculares, têm tomado como “alvo” principal o debate em torno das ações voltadas a constituição de espaços inclusivos e seu público-alvo.

No campo do debate curricular, tais aspectos são importantíssimos e seguem sendo necessários. Como “diversificar o currículo”? Como construir “currículos inclusivos”? Como garantir “justiça curricular”? Considerando a diversidade de configurações, experiências e objetivos educacionais envolvendo as modalidades apontadas, os artigos que compõem esse Dossiê abordam as questões acima destacadas, de modo a contribuir ao debate e às reflexões sobre o currículo para o atendimento a diversidade, no seu caráter pedagógico, político e organizacional, nos diferentes espaços escolares e nas diferentes regiões brasileiras.

A par disso, organizamos os textos, aqui apresentados, em três blocos imaginários. No primeiro bloco temos um conjunto de textos que discutem as políticas de inclusão e suas problemáticas em torno do currículo num sentido mais geral. Num segundo bloco aqueles que discutem as relações entre currículo, educação especial e inclusão. E, por fim, temos um conjunto de textos que discutem diferentes tipos de inclusão e as interrogações curriculares delas decorrentes.

Abre este “Dossiê” a entrevista do professor Eládio Sebastian Heredero, da Universidad de Alcalá (Alcalá de Henares-Espanha) e, atualmente, Professor Convidado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), atuando no do Programa de Pós-graduação em Educação. Entrevista essa, orientada por sete questões aproximadas dos debates atuais sobre a educação e a educação especial, que transitam entre currículo, currículo adaptado, formação de professores, entre outras. Contudo, tal aproximação tem a pretensão de estabelecer escalas de comparação entre a realidade brasileira e a espanhola, no que concerne as funções e formas da inclusão escolar e as interrogações curriculares.

No primeiro bloco de textos, Larissa Ferreira Rodrigues Gomes e Helder Januário da Silva Gomes, nos apresentam “De quem é o Currículo? Problematizações por uma Educação não Soberana”. Os autores problematizam movimentos soberanos de dogmatização do currículo e das linhas ‘parresiastas’ dos estudantes brasileiros, que impulsionam o questionamento de quem é o currículo? Para tanto, debate sobre os conceitos de ‘Polícia soberana’ e ‘sociedade do espetáculo’ (AGAMBEN, 2015), e ‘sujeição social e servidão maquínica’ (LAZZARATO, 2014), assumindo como metodologia o acompanhamento cartográfico dos processos políticos produzidos em escolas públicas de Ensino Médio do Estado do Espírito Santo durante a Primavera secundarista. Em continuidade, o texto Políticas de Currículo para a Educação do Campo: de que forma, se fazem os investimentos? de Jéssica Rochelly Da Silva Ramos e Kátia Silva Cunha, coloca em discussão as políticas curriculares para a Educação do Campo e suas relações com o financiamento público. Ainda, no cenário das políticas de currículo, Amélia Maria Araújo Mesquita, José Rafael Barbosa Rodrigues e Kelly Paixão de Castro, no texto A Política Curricular no Contexto da Inclusão e seus Mecanismos de Diferenciação Curricular, ampliam o debate sobre a inclusão escolar e interrogações curriculares, encontrando o campo da Educação Especial. Já o texto Políticas de Inclusão Escolar no Brasil e em Portugal: desafios para a justiça curricular, permanece no mesmo campo de análise, isto é, a educação especial, mas, muda o foco para o contexto das discussões das políticas de inclusão escolar. Diante disso, Cléia Demétrio Pereira, Geovana Mendonça Lunardi-Mendes e José Augusto de Brito Pacheco, incorrem por análises de documentos políticos de inclusão escolar dos contextos brasileiro e português, que regulamentam a organização da escolarização de estudantes com deficiência da educação básica como forma de garantir justiça curricular. Neste mesmo foco de discussão, Rosalba Maria Cardoso Garcia e Maria Helena Michels priorizam o debate da realidade brasileira da política de educação especial e currículo no texto Política de Educação Especial e Currículo: disputas sobre natureza, perspectiva e enfoque. Ampliando, as discussões acerca da educação especial alimentada pela tese da inclusão escolar, Neusete Machado Rigo, Roseli Andreia Sackvil e Eloísa Maria Womer nos aproxima das discussões sobre a formação de professores, no texto A Formação Inicial de Professores em Nível Médio (Curso Normal) e a Inclusão Escolar. Fechando, tal contexto ampliado encontramos Dissertações e Teses como Objetos e Fontes da Escrita Comparada sobre Currículo em Educação Especial (2004 a 2012), de Fabiany de Cássia Tavares Silva e Laura Kethlyn Souza Duarte, que tomam 8 dissertações e 2 teses, produzidas nos Programas de Pós-graduação em Educação no período de 2004 a 2012, como objetos e fontes para construir uma escrita comparada sobre as discussões/proposições de currículo para a modalidade Educação Especial. Escrita essa, fundada nos discursos de outros, como forma material exterior do elemento semântico-ideológico interior, na construção do equilíbrio na comparação.

Agrega-se neste universo de análise, isto é, da inclusão escolar e interrogações curriculares, a pluralização do debate no campo da educação básica. E, neste universo fechamos o Dossiê com dois diferentes textos, um de autoria de Juliana Marsico e Marcia Serra Ferreira denominado, Produzindo Currículos e Professores de Ciências na EJA: entre Normalizações e Deslocamentos, que centra-se na discussão sobre a EJA e o texto Currículos e Infâncias Nômades, no qual Sueli Soares Da Silva Moreira, Maria Riziane Costa Prates e Cândida De Nadai Ton, apresentam análises acerca das diferentes infâncias e as interrogações ao currículo.

Na seção Elos, o texto A visão de uma Educação Cyborg, de Daniel Friedrich, utiliza uma série de quadrinhos publicada em 2015-2016 pela Marvel, escrita por Tom King e ilustrada por Gabriel Hernandez Walta e Michael Walsh, com foco em Vision, um vingador “synthezoid”, para construir análises para considerar o que um pensamento pedagógico pós-humanista pode acarretar, num momento em que a própria humanidade de vastos setores da população está sendo questionada e enfraquecida. Inspirando-se no trabalho de pensadores pós-humanistas contemporâneos, como Donna Haraway e Rosi Braidotti, e complementando-a com a filosofia política de Jacques Rancière, a peça não visa apenas produzir “mais inclusão”, mas desviar o olhar descentralizando o humano no centro das conversas tradicionais sobre inclusão/exclusão. Diante disso, envida esforços para analisar a justiça social repensando e contestando quem tem o direito de ensinar, aprender e experimentar currículo.

Na seção resenha apresentamos a leitura crítica e informativa realizada por Anderson Ferrari e Danilo Araújo de Oliveira, sobre a coletânea organizada por Marlucy Alves Paraíso e Maria Carolina da Silva Caldeira, intitulada Pesquisas sobre currículos, gêneros e sexualidades. Esta coletânea problematiza diferentes currículos a partir de múltiplos enfoques, campos e olhares. Enfoques esses, situados na perspectiva teórica pós-crítica, perpassam o currículo escolar, o livro didático, os blogs, os filmes (de sites de relacionamentos), as políticas de formação docente, a literatura, a música. Dessa forma, se encontram para nos fazer pensar modos diversos nos processos de subjetivação, nas normas de gênero e sexualidades que atravessam esses artefatos, mas, sobretudo, para evidenciar possibilidades de escape, ruptura e resistência.

REFERÊNCIAS

ARTILES, A.J.; KOZLESK, E.B.; GONZALEZ, T. Para além da sedução da educação inclusiva nos Estados Unidos: confrontando o poder e construindo uma agenda histórico-cultural. In: Revista Teias, v. 12 • n. 24 • p. 285-308 • jan./abr. 2011 - Movimentos sociais processos de inclusão e educação [ Links ]

SLEE, R. The irregular school: Exclusion, Schooling and inclusive education. Londres: Routledge, 2016. [ Links ]

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