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Revista Teias

Print version ISSN 1518-5370On-line version ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.20 no.56 Rio de Janeiro Jan./Mar 2019  Epub Dec 19, 2019

https://doi.org/10.12957/teias.2019 

Editorial

UNIVERSIDADE E DEMOCRACIA

Inês Barbosa de Oliveira1 

Jane Paiva2 

Rafael Marques Gonçalves3 

1UERJ/UNESA

2UERJ

3UFAC


Teias apresenta um novo dossiê cuja temática traduz um momento relevante da política nacional: mudança de governo no âmbito federal e ausência de clareza e transparência quanto aos projetos para o país e para a educação brasileira, cuja pauta, até 2024, definiu-se quando da aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE), que sequer tem sido considerado até então.

As universidades brasileiras, depois de terem vivido tempos de esperança e de ampliação de projetos, de campi por todo o país, e atendido em muitos lugares a jovens que antes jamais sonhariam em chegar a elas, viu-se depressa ameaçada por discursos obscurantistas.Esses discursos desprezam os sentidos de humanidade tão duramente conquistados por sociedades contemporâneas, sem tradição em valores humanos, sociais, culturais, e menos ainda do valor do conhecimento - traduzido por variadas epistemologias que resgatam modos e conteúdos do conhecer, segundo a experiência concreta e de vida da diversidade dos povos, especialmente latino-americanos e brasileiros.

Os sentidos coloniais que evocam nosso tempo de submissão ao imperialismo e à dominação, ao assumirem supremacia nos projetos de poder a que assistimos atônitos, obnubilam os avanços negados por tantos anos à população, que passara a ter algum direito ao conhecimento, apropriando-se de novas possibilidades de escrever outra narrativa histórica, não ousada por mais de 500 anos.

“A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”, ensinou Darci Ribeiro, educador que inspira as discussões deste dossiê. Nossas universidades têm resistido em larga escala a esse projeto, mas as contradições que nelas existem fazem com que as lutas tenham de ser cotidianas, enfrentando tanto forças externas que afirmam serem elas destinadas apenas a uma elite intelectual, quanto forças internas acostumadas aos tapetes vermelhos e às benesses que o conhecimento proporciona, hierarquizando os que sabem (ou que auferiram esse lugar de saber) dos que, supostamente, não sabem e que, por isso mesmo, são silenciados nos espaços acadêmicos.

A luta de hoje, portanto, não é nova e nos encontra fortes e prontos à resistência, em nome de uma larga parcela da população que aprendeu a ter direito e a assumir que a igualdade de oportunidades pode, sim, ser um valor em um país democrático. Para a Teias, a luta pela igualdade

se faz pelo conhecimento que se produz e dissemina com qualidade, ética e compromisso social, no melhor sentido dos perdedores, como expressou Darcy Ribeiro, novamente citado:

  • Fracassei em tudo que tentei na vida.

  • Tentei alfabetizar as crianças brasileiras, não consegui.

  • Tentei salvar os índios, não consegui.

  • Tentei fazer uma universidade séria e fracassei.

  • Tentei fazer o Brasil desenvolver-se autonomamente e fracassei.

  • Mas os fracassos são minhas vitórias.

  • Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu.

Os organizadores deste dossiê trabalharam com o claro objetivo de descortinar o conhecimento que na universidade tem sido pauta de investigação e compreensão para dar consequência e sustentação a políticas públicas que invertem a mão dos poderosos e inventam possibilidades de inclusão social e redução da desigualdade histórica. E o fazem lançando mão do que a poiesis esculpiu em Manoel de Barros, este poeta inventor que em rumos diversos de Darcy Ribeiro, a nós também ensina que “Quando as sombras avançam na estrada é preciso aldear” 1 . Aldeemo-nos, portanto, solidariamente, para não abrir mão de fazer democráticas nossas universidades.

REFERÊNCIAS

1 BARROS, Manoel de. Concerto a céu aberto para solos de ave [1991]. São Paulo: LeYa, 2013. [ Links ]

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