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Revista Teias

versión impresa ISSN 1518-5370versión On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.20 no.57 Rio de Janeiro abr./jun 2019  Epub 18-Dic-2019

https://doi.org/10.12957/teias.2019.38584 

Artigos de Demanda Contínua

SER PROFESSOR/A INICIANTE DIANTE DAS POLÍTICAS CURRICULARES ATUAIS

BE A TEACHER INITIATIVE BEFORE CURRENT POLICIES

SER PROFESOR / LA INICIANTE ANTE LAS POLÍTICAS CURRICULARES ACTUALES

Joelson de Sousa Morais(*) 

(*)Doutorando em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Pedagogo pela Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão (FACEMA).


RESUMO

Este artigo bibliográfico, faz algumas reflexões acerca da Biografia Educativa, como dispositivos de investigação-formação na educação, entrelaçadas com o contexto das políticas curriculares no cotidiano de professores/as iniciantes. Tem como objetivo: compreender as implicações das políticas curriculares atuais na tessitura das identidades de professoras iniciantes. Os resultados evidenciam que o confronto que o profissional no início da carreira docente enfrenta, em decorrência das mudanças que vem sendo impostas e se delineando no contexto da sociedade neoliberal atualmente, sobretudo, das políticas curriculares, traz inúmeras dúvidas e ambiguidades relacionados aos saberes e fazeres que são necessários mobilizar no cotidiano da prática pedagógica.

Palavras-chave: Professores/as iniciantes; Currículo; Biografias Educativas

ABSTRACT

This bibliographical article makes some reflections about Educational Biography, as research -training devices in education, intertwined with the context of curricular policies in the daily life of beginning teachers. Its purpose is to understand the implications of current curricular policies in the context of the identities of beginning teachers. The results show that the confrontation that the professional in the beginning of the teaching career faces, due to the changes that have been imposed and delineated in the context of neoliberal society currently, above all, of the curricular policies, brings innumerable doubts and ambiguities related to the know ledge and actions which are necessary to mobilize in the daily practice of pe dagogy.

Keywords: Beginners teachers; Curriculum; Educational Biographies

RESUMEN

Este artículo bibliográfico, hace algunas reflexiones acerca de la Biografía Educativa, como dispositivo s de investigación-formación en la educación, entrelazadas con el contexto de las políticas curriculares en el cotidiano de profesores / as iniciantes. Tiene como objetivo: comprender las implicaciones de las políticas curriculares actuales en la tesitura de las identidades de profesoras principiantes. Los resultados evidencian que la confrontación que el profesional al inicio de la carrera docente enfrenta, como consecuencia de los cambios que vienen siendo impuestas y que se delinean en el contexto de la sociedad neoliberal actualmente, sobre todo, de las políticas curriculares, trae innumerables dudas y ambigüedades relacionadas a los saberes y haceres que son necesarios movilizar en el cotidiano de la práctica pedagógica.

Palabras clave: Profesores principiantes; Plan de estudios; Biografías Educativas

INTRODUÇÃO

O início da carreira docente é configurado como um momento constituído de muitos sentidos do aprender e ensinar, os quais se consolidam no processo de inserção profissional, sobretudo, nas escolas, onde a maior parte dos profissionais licenciados e pedagogos/as adentram, trazendo sensações, sentimentos, afetações e modos de subjetivação que potencializam, consideravelmente o ir constituindo-se como professor/a, nessa tarefa nada fácil, diante da complexidade do ofício docente.

O processo de iniciar na profissão docente apresenta-se, como um território multifacetado, transitório, incerto, complexo e conflituoso, num primeiro momento, porque, muitas vezes, seja o estudante universitário, como também aqueles/as que concluem um curso de licenciatura, buscam seguir os princípios de um currículo estandardizado e que muitas vezes, isso não se materializa no cotidiano do desenvolvimento profissional, tendo em vista que a realidade se processa por meio de uma infinidade de saberes e fazeres, tecidos em comunidades de aprendizagem na profissão, formando redes amplas e interconectadas à sociedade e aos vários contextos inter e multiculturais dos quais participam os/as professores/as iniciantes, os quais extrapolam os saberes acadêmicos e oriundos dos currículos oficiais, mas que a própria prática se revela como desafiadora permitindo a tessitura de outras tantas identidades que se constituem entremeados pelos currículos, necessários aos processos de ensino e aprendizagem.

Nesse sentido, o viver na academia, e ao mesmo tempo, iniciar a profissão docente, representa profundas e significativas mudanças paradigmáticas, principalmente, em relação ao currículo oficial que geralmente é apresentado na escola, em detrimento do currículo praticado (OLIVEIRA, 2012) pelos/as professores/as no cotidiano da experiência da docência. Fato este que acaba impulsionando a construir e (re)elaborar os saberes da docência e diante dos "não-saberes" dos/das docentes pensar outras formas metodológicas-epistemológicas que possam ser concretizadas diante da realidade com que muitos/as professores/as se defrontam.

O tema da identidade na educação, vem se configurando cada vez mais como emergente e necessário, tendo em vista a própria condição mutável e existencial da essência humana, como em decorrência das transformações que são impulsionadas pela sociedade na vida das pessoas, e nesse contexto específico, na vida dos/as professores/as, os quais sofrem os impactos e metamorfoses do meio circundante, em diferentes espaços e tempos históricos, e que acabam trazendo implicações1 no ser pessoa e profissional, o qual vai se constituindo, paulatinamente.

Diante dessa realidade, o processo de tornar-se professor/a, em meio à cultura escolar, e em face das inúmeras dimensões da profissão docente, é permeado por acontecimentos e rupturas, que são desencadeados, muitas vezes, no transcurso da transição entre estudante à professor/a, e que, nesse percurso, enfrentam um cotidiano que se revela de "mil e uma formas" e "modos" de conceber a prática pedagógica, tendo ao mesmo tempo que ensinar os conteúdos curriculares oficiais, e aspectos que o próprio currículo oficial não vem dando conta, diante da escola atual multifacetada/complexa e que exige um preparo para atender as demandas e necessidades na incerteza e complexidade da prática pedagógica.

O presente texto está pautado numa pesquisa de abordagem bibliográfica, tecendo reflexões a partir dos princípios da teoria curricular na perspectiva de Pacheco (2014), e da pesquisa- formação e desenvolvimento profissional de professores/as iniciantes com base em Huberman (2000), Marcelo Garcia (1999), Imbernón (2016), Josso (2010), entre outros.

Nesse sentido, e buscando compreender como se dá a aprendizagem da docência de professoras em início de carreira, o presente projeto de tese tem como problema de pesquisa: Quais as implicações das políticas curriculares na tessitura identitária de professores/as iniciantes? É pertinente questionar ainda: de que forma o currículo escolar pode influenciar na constituição das identidades de professores/as iniciantes no cotidiano da prática pedagógica?

Os objetivos desse estudo são: objetivo geral: compreender as implicações das políticas curriculares atuais na tessitura das identidades de professores/as iniciantes. E objetivos específicos: analisar os reflexos das políticas curriculares na aprendizagem da docência de professores/as iniciantes, bem como refletir acerca dos impactos das políticas curriculares atuais na tessitura da profissionalização de professores/as iniciantes.

A compreensão de currículo neste texto corresponde à perspectiva de Pacheco (2014, p. 7), segundo o qual é "entendido, no sentido lato, como um projeto de formação, que traduz a organização, seleção e transformação do conhecimento em função de um dado espaço, de um determinado tempo e de acordo com propósitos educacionais".

Neste texto, é explicitado e defendido a ideia de que o ser e fazer-se professor/a iniciante se constitui em meio às políticas curriculares, caracterizando-se em tessituras identitárias híbridas, maleáveis e instáveis, que se metamorfoseiam constantemente por meio de diferentes espaços/tempos da profissão docente. Algumas políticas curriculares, que surgem atualmente, acabam impactando de formas bruscas, o trabalho de professores/as iniciantes causando um choque de realidade. Nesse contexto, encontramos nas biografias educativas como dimensão de pesquisa- formação, muitas vezes mediadas por narrativas, como possibilidades outras de tessitura de saberes e fazeres potencialmente significativos à prática pedagógica.

PERSPECTIVA METODOLÓGICA DA "PESQUISA-FORMAÇÃO" SOBRE PROFESSORES/AS INICIANTES

Na pesquisa em ciências humanas, não podemos apreender os processos de significação e produção do conhecimento de forma isolada ou sem considerar os diversos fatores que implicam durante a construção e escolha teórico-metodológica e epistemológica do pesquisador em relação ao objeto e contexto pesquisado, sobretudo, quando envolve singularidades, subjetividades e produção de sentidos.

Essa perspectiva da delimitação teórico-metodológica se inscreve como uma possibilidade, no sentido da criação e do contexto que vamos tecendo enquanto cientista educacional, artista do conhecimento e da ciência, que dá condições de produzir saberes fundamentais à realidade que estamos vivenciando e que vivenciaremos em variadas dimensões da existência e da profissão.

As contribuições da "pesquisa-formação" com professores/as iniciantes, possibilita pensar e refletir como são tecidos os currículos na educação escolar, e as implicações na tessitura das identidades docentes destes/destas profissionais, de tal forma que possa trazer subsídios para a melhoria da educação, se transformando em saberes e práticas pedagógicas que atendam as necessidade de alunos e alunas das classes populares, em consonância com a aprendizagem da profissão docente, dando voz e vez aos/às professores/as iniciantes. Aspectos esses que se tornam cruciais na escola atual e nas pesquisas em educação, que tem dado primazia aos resultados, rankings e política curriculares hegemônicas, bem como a teorização e produção de saberes distantes da realidade, focalizando os conhecimentos em matéria da supervalorização do cognitivo, em detrimento do entrelaçamento das dimensões cognitivas, afetivos, emocionais e psicomotoras no desenvolvimento das aprendizagens, produção do conhecimento em tempos e espaços escolares e não escolares, e na inter-relação com outros tantos sujeitos e contextos formativos, muitas vezes revelados nas biografias, relatos e narrativas docentes, como outros dispositivos de constituição do ser pessoa e profissional, tão imprescindíveis para a melhoria da educação, da equidade e da justiça social.

Por isso, damos primazia para a abordagem biográfica, como metodologia de pesquisa- formação ancorada nos princípios de Josso (2010) e Nóvoa; Finger (2010) na qual captam os saberes e fazeres produzidos através das tramas da subjetividade dos sujeitos que tenham relação com o que aprenderam/aprendem nos contextos de formação, buscando as implicações na tessitura de saberes dos/as mesmos/as no cotidiano escolar.

Dessa forma "a abordagem biográfica pode nos incitar na observação da dinâmica do sujeito em situação de aprendizagem, particularmente por meio de um questionamento das interações entre o sujeito o seu contexto de aprendizagem (JOSSO, 2010, p. 173).

Em se tratando dos/as professores/as iniciantes, é essencial entender o contexto onde estão inseridos/as e as múltiplas determinações socioeconômicas, políticas, culturais e relacionais os quais estão vivenciando, por isso, buscamos compreender que "[...] Cada narrativa é o reflexo da maneira como o caminho percorrido foi compreendido, a formação definida e o processo interpretado" (DOMINICÉ, 2010, p. 2013).

Do mesmo modo, vemos que que a análise das biografias educativas das professoras que podem fazer parte da pesquisa-formação, poderá, o pesquisador no diálogo com elas, tanto quanto fez Bragança (2010), por meio da experiência narrativa como tessitura de intrigas, como memória- vida, enquanto caminho epistemológico que se abre na articulação imanente entre esse conceito e à experiência narrativa, possibilitar, assim, a articulação entre memória, experiência e narração. O que reforça a ideia de Jöel Candau (2011, p. 24) ao elucidar a pertinência da memória, e a indissocialidade entre identidade e memória no sentido de que "cada um de nós tem uma ideia de sua própria memória e é capaz de discorrer sobre ela para destacar suas particularidades, seu interesse, sua profundidade ou suas lacunas...", o que poderá ganhar lugar por meio da narração.

A memória como uma das dimensões da pesquisa-formação se instaura como práticas formadoras na medida em que se baliza como recordações-referências na multiplicidade de acontecimentos que se desdobram sobre os percursos existenciais se tornando possibilidades de reconstrução de suas próprias experiências via narrativa (JOSSO, 2010; CATANI, et al, 2003; BRAGANÇA, 2010).

Neste texto, são apresentadas algumas produções acerca de professores/as iniciantes, tomando como referência um recorte cronológico de 1999 à 2017, portanto, correspondente a um tempo de 18 anos, sobretudo, de publicações em livros sobre o assunto.

APRENDER A SER PROFESSOR/A NA ATUALIDADE NO CONTEXTO DAS POLÍTICAS CURRICULARES

Os estudos do início da carreira docente, discorrendo acerca de "professores/as iniciantes" ou "professores/as principiantes", já vem sendo desenvolvidos no âmbito internacional há mais de duas décadas pelas contribuições do professor Carlos Marcelo Garcia, catedrático de Didática e Organização Educativa da Universidade de Sevilla, na Espanha, através do Grupo de Investigação IDEA (Inovação, Desenvolvimento, Avaliação e Acompanhamento). Tais atividades culminaram na origem do livro "Formação de professores: para uma mudança educativa" (MARCELO GARCIA, 1999), traduzido para o português, bem como na realização bianual do "Congresso Internacional sobre Professorado Principiante e Inserção Profissional à Docência" (Congreprinci), o qual foi organizado inicialmente na cidade de Sevilha (Espanha), em 2008, e que na sua quarta edição, foi realizado no Brasil na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Curitiba-PR, em, 2014.

Outras investigações também vêm pontuando a temática de professores/as iniciantes, com diferentes perspectivas em várias partes do globo, como as desenvolvidas por Francisco Imbernón (2016), no livro Qualidade do Ensino e Formação do professorado: uma mudança necessária; com Juana M. Sancho Gil e Fernando Hernández-Hernández (2016), no livro Professores na incerteza: aprender a docência no mundo atual, ambos na realidade espanhola; com Maria Teresa Estrela (2010), no livro Profissão Docente: dimensões afectivas e éticas, em Portugal. Além dos relevantes contributos de Michael Huberman (2000), acerca do ciclo de vida profissional de professores, que fora desenvolvido na década de 1980 e publicado na década de 1990 no livro Vidas de professores de António Nóvoa.

A relevante pesquisa que Huberman (2000) realizou com professores/as de diferentes fases da profissão, identificou com os/as professores/as iniciantes (que é a primeira fase da docência compreendendo entre 01 a 03 anos), que esta fase é caracterizada pela "sobrevivência" e "descoberta", e que muitas vezes o/a docente se questiona "estou-me a aguentar?", como possibilidades de um (re)pensar o seu desenvolvimento profissional em início de carreira.

Em relação ao cenário brasileiro, algumas pesquisas foram desenvolvidas acerca desse tema de professores/as iniciantes, e publicadas em livros, que se destinam exclusivamente às discussões acerca desse assunto, como as desenvolvidas por Maria Regina Guarnieri (2005) no livro Aprendendo a ensinar: o caminho nada suave da docência, por Maévi Anabel Nono (2011) no livro Professores iniciantes: o papel da escola em sua formação, por Luciana Maria Giovanni e Alda Junqueira Marin (2014), no livro Professores iniciantes: diferentes necessidades em diferentes contextos, e um dos livros mais atuais foi O professor iniciante: sentidos e significados do trabalho docente (2017), das autoras Kátia Augusta Curado Pinheiro Cordeiro da Silva e Shirleide Pereira da Silva Cruz.

Outras pesquisas também foram realizadas recentemente em relação ao trabalho cotidiano de professores/as iniciantes, como por exemplo, a que fora revelado pelo trabalho encomendado na ANPEd por Curado Silva (2017), no GT 08 "Formação de Professores", a qual, revelou, entre outras questões, dificuldades e desafios no que diz respeito ao "conteúdo, a metodologia e as condições objetivas do trabalho docente, que geram sentimentos e sensações como angústia, insegurança, fracasso e desmotivação (CURADO SILVA, 2017, p. 9. Grifos meus). Nesse sentido, o currículo representa uma grande preocupação das professoras iniciantes, e sob o qual, traz implicações na sua tessitura identitária, uma vez que o fato de organizar os conteúdos e como mobilizá-los no cotidiano da prática pedagógica, repercute, no ser professora e no processo de constituição de uma identidade que está em constante mutação.

Alguns dos problemas mais usuais com que os/as professores/as recém-formados se deparam na atividade docente, segundo a literatura, são (em ordem de importância): 1) manter a disciplina em sala de aula; 2) tratar as diferenças individuais em sala de aula; 3) trabalhar com material didático insuficiente; 4) a motivação dos alunos para a aprendizagem; 5) como direcionar o relacionamento com os pais; 6) a elaboração de uma programação para o dia; 7) a avaliação dos resultados da aprendizagem; e, 8) o problema do horário adequado aos tempos escolares (IMBERNÓN, 2016).

Enquanto que a investigação de Estrela (2010), revelou que essa fase de início da carreira docente caracteriza-se pelo choque de realidade, descrita pela autora como o choque que representa o "colapso das ideias missionárias" que a formação inicial fortaleceu e que são postos em causa pelas dificuldades experimentadas.

Diante desse contexto, cabe problematizar acerca das "novas" políticas curriculares neoliberais em processo de desenvolvimento, atualmente no Brasil, as quais buscam delinear um currículo pelos resultados exitosos, atrelados, por exemplo ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica-IDEB e pelos rankings educacionais. Nesse sentido, questionamos: Como seria a prática pedagógica dos/as professores/as iniciantes, diante das políticas curriculares atuais que estão sendo postas pela hegemonia dominante no cenário brasileiro como é o caso do movimento "Escolas Sem Partido" e da Base Nacional Comum Curricular-BNCC? Mais precisamente, quais seriam suas implicações didáticas e curriculares na prática pedagógica de professores/as iniciantes na atualidade?

Acreditamos que essa realidade, pode ser descrita a partir do conceito de "performatividade" no âmbito das políticas educacionais, esboçado por Sthephen Ball (2014) que significa "[...] forma por excelência de governamentabilidade neoliberal, que abrange a subjetividade, as práticas institucionais, a economia e o governo (BALL, 2014, p. 66). Correlacionando com o trabalho dos/as professores/as iniciantes, corresponderia, portanto, a um "currículo neoliberal" a partir dos sistemas de gestão de desempenho que os/as professoras precisam ter e mostrar, e que isso vai impactando nas "subjetividades dos/das praticantes", de tal modo, que entra em cena, oscilações de uma identidade que vai formando-se, em constantes tessituras, pelo que sabem e fazem, ou seja, pelo currículo que vai trazendo implicações no perfil de professor/a que vai sendo tecido, profissionalmente.

Acreditamos que somente quando vivenciarmos com mais afinco o desfecho dessas políticas curriculares, aqui então mencionadas, é que teremos um pouco mais de propriedade, e tecer algumas outras reflexões, saberes, e práticas, mediadas pelas narrativas, fruto das biografias dos/das professores/as iniciantes, mediante suas experiências vivenciadas atualmente, e que vem impactando em sua constituição identitária no desenvolvimento profissional. Questões essas que ficam como ideias para outras investigações e pesquisas futuras, no sentido de desvelar essas implicações das políticas curriculares no desenvolvimento da formação e da prática pedagógica, sejam dos/as professores/as iniciantes, como dos/as experientes.

CONCLUSÕES

As reflexões e discussões acerca das políticas curriculares, e os contextos de aprendizagem da profissão docente, tendo como uma das dimensões a pesquisa-formação, no âmbito das biografias educativas, são temas que vem crescendo vertiginosamente ao longo dos anos, sobretudo, pela centralidade que vem sendo dada ao sujeito, nesse processo de transformação do ser, do si fazer e estar na profissão. Além das mudanças nas investigações científicas, dando relevância a outros métodos/abordagens/epistemologias que busquem dar conta dos intrincados, complexos e instáveis problemas e situações que perpassam as instituições educativas, a escola e os diferentes contextos formacionais.

Acreditamos que a pesquisa-formação, com professes/as iniciantes com base nas Biografias Educativas, utilizando-se de uma multirreferencialidade de perspectivas metodológicas subjacentes, como: observações, diários de campo, conversas, entrevistas narrativas, e outras, poderá, se configurar como potencialmente significativos, tecendo, assim, algumas reflexões e saberes, sobretudo, para entendermos como as políticas curriculares atuais vem impactando na constituição identitária de professores/as iniciantes, muitas vezes reveladas por meio de suas narrativas.

Portanto, os resultados que esta investigação chegou foi de que os/as professores/as iniciantes, protagonizam os processos de aprender e ensinar, entrelaçando suas práticas em contextos e experiências formativas curriculares, em diferentes espaços/tempos da educação e da produção de saberes e conhecimentos, considerando a realidade circundante e as transformações impulsionadas pelo meio em que vivem.

1O termo implicação aqui, tem o sentido da “compreensão dos vínculos afetivo-libidinais, políticos, éticos, profissionais, institucionais, culturais, com os quais irremediavelmente, entramos nas experiências curriculares e formativas” (MACEDO, 2009, p. 110).

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Recebido: 01 de Dezembro de 2018; Aceito: 30 de Abril de 2019

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