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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.22 no.64 Rio de Janeiro jan./mar 2021  Epub 30-Jul-2021

https://doi.org/10.12957/teias.%y.56556 

Editorial

EDITORIAL: Teias 20 anos

1Profª. Drª. Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

2Profª. Drª. Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)


De certo modo estaremos sempre penduradas por um fio....

No movimento da memória, reencontrado um arquivo de Teias, da origem, ficamos tentadas a reproduzi-lo integralmente nesse editorial de comemoração dos 20 anos da Revista. De certo modo, porque nos vemos um pouco dessa maneira também hoje: presas por um fio, construtoras das Teias ao mesmo tempo em que capturadas em tantas tramas.

Esse número de Teias tem um sentido bastante especial, pois celebra os 20 anos da Revista, cuja história está recuperada, pela memória de narradores que viveram o tempo de criação e seus seguimentos, na seção entrevista. No esforço de nos mantermos ativas, conectadas e, mais que tudo, solidárias em meio a tantos desmandos, ao genocídio e aos ataques que nos assolam, precisamos comemorar/rememorar! Reviver um ato fundador coletivamente e construir identidade, sempre em processo. Impossível para nós, editoras, impedir que “arquivos provocados” — que [...] pertencem à mesma categoria das recordações ou memórias (OZOUF apudBECKER, 2006, p. 28), pudessem estar ausentes desse número tão emblemático.

Teias não nasceu no Programa de Pós-graduaçâo em Educação em que hoje se abriga, mas como produto de um Núcleo de Comunicação — também criado na Faculdade de Educação — com a finalidade de estreitar diálogos entre professores e pesquisadores daquele tempo, na UERJ. E nasceu e ficou e se fez grande como tanta coisa nessa Universidade que em 2020 completou 70 anos. Reinventando-se, sempre, demonstrou sua força por meio de todos e todas que passaram por sua história, dos quais alguns foram resgatados para que se trançasse urna entrevista-memória entre alguns protagonistas que a cultivaram ao longo desses 20 anos.

A celebração desse número também trouxe urna surpresa a seus leitores: do mesmo modo que um concurso em toda a UERJ foi lançado para a escolha do nome da Revista, urna imagem foi criada por Adriana Lemos. O nome Teias, sugerido pela Profa. Dra. Elizabeth Femandes de Macedo, foi selecionado pela comissão julgadora, entre 830 concorrentes, o que definiu um inspirador olhar sobre os sentidos e significados que o nome conferia ao periódico nascente, escrito por urna das atuais editoras que lá estava naquele momento originário, e que segue aqui reproduzido nesse acerto de memórias e histórias. Mas suas imagens aqui se apresentam pela concepção original e a proposta atual, considerando que a que vigeu até então, permanece reconhecida. Vejamos que concepções se inspiraram na primeira imagem da Revista.

Teias — tecendo textos, tramando histórias, trançando fios

O sentido de Teias pode ser ligado a urna vasta recuperação, na memória, de lembranças e histórias que vivi/o e que sustentam e se sustentam, no ar, tal como as teias das aranhas, a vida, o alimento (o trofos), o lugar (o topos) de viver.

Para as aranhas, a teia é a imagem da vida, finíssima película tecida do próprio âmago do animal, que produz em seu corpo o fio tênue e translúcido que como um “desenho mágico” e “lógico” (usando Chico em Construção), integra, relaciona, enreda, num vai-e-vem — cuja ordern dos fios e do projeto só elas conhecem —, as árvores, as ramas, os cachos, o vento, o ar, o espaço, o tempo. Ao mesmo tempo, esta teia se traduz pelo pó que se acumula em coisas antigas, em baús de lembranças que pela permanência — rigidez da teia frágil, por mais absurda que essa ideia possa ser — acompanha o passar dos anos, o ir-e-vir das estações, o amarelecer das folhas, o clímax e o anticlímax de gerações e gerações. Para a mitologia grega, Arakné, aranha, é a moça-tecelã que negando à deusa Minerva o feito de ter-lhe ensinado a fiar, foi condenada a viver pendurada por um fio, tecendo rendas meio rasgadas, que são as teias.

Nós, em Teias, revista, estaremos tecendo com as palavras novos sentidos para a educação, restabelecendo o tecido social como locus (o topos) de nossas indagações, inquietações e do aprender e do saber. Para isso, seremos tecelãs, cujo trabalho não acaba, porque a vida e suas histórias, não têm fim (nosso trofos, alimento), tal como as tapeceiras de Bayeux que bordaram metros e metros de histórias das conquistas de seus amados na França, na idade média. Ah! As palavras e seus segredos, as possíveis tramas que encerram, os sentidos que aprisionam, os sentidos que lhes podemos dar! O texto, de tecer, não aprisiona, mas liberta possíveis sentidos para quem entra na trama e passa a urdir, como leitor, os significados. Coautores, tecelãs como nós, de um projeto que se faz pelo texto, pelo traço, pela forma, pelos fios que ligam seus textos e suas imagens, suas letras e seus icones, seus espaços e suas ocupações, linhas e entrelinhas, seus claros e escuros e nem tanto assim, seus dizeres e pensares traduzidos, pela forma, em novos textos, tão diversos, tão únicos, originais.

De certo modo estaremos sempre penduradas por um fio, aquele que se estabelece entre a ciência e a vida, entre a ciência e a arte, entre a ciência e a ética, porque optamos por desfazer a lógica dual, ao fazer a teia, mesmo que renda rasgada, ou seja, lacunar, para propor a discussão de novos paradigmas, de reflexões que teçam outras ordens e encontrem caminhos novos na ciência, humanizadora de nossos saberes tão distantes da vida cotidiana, dos seus usos, de suas artes e artimanhas.

Fiando, fiando, fiaremos tecidos, teceremos em teares vários, em bastidores grandes e pequenos, em rocas preguiçosas as tramas de nossa ciência da educação, urdindo pontos, enlaçando fios, amarrando os nós. Como bruxas (ou fadas?) que disfarçadas se põem a produzir maravilhas nas altas torres de nossa imaginação, de nosso devir, de nosso ser mais. Fiando, teceremos caminhos, entrelaçaremos conhecimentos, tramaremos perspectivas, urdiremos as utopias. Não seremos um só corpo, urna só fiandeira, mas estaremos em nossa Teias, como múltiplas aranhas que seguem, com o fio da vida, seu projeto ético-estético: tecer, com as palavras, outros discursos, novas linguagens, diversos conhecimentos, várias culturas, produzindo outros sentidos e a tessitura de um novo projeto de educação.

Teias, a partir de 2021, inova sua marca, e traz identidade visual compatível aos tempos de artes visuais dominadas por tecnologías e programas de computador que recriaram, com artistas gráficos, modos de traduzir suas artes. Rodrigo Torres do Nascimento, doutorando-artista, inspirou-se para o desafio de dar “cara nova” a Teias, o que fez com olhar sensível e beleza de traço.

Colhendo referências que emergem a partir do significado que a Revista Teias me propõe, não somente a partir do conceito visual estabelecido pelo seu nome, mas também na contribuição que se propõe ao debate educacional, imagens, linhas, cruzamentos e tessituras contribuíram para o início de um processo de organização da sua nova identidade visual.

Percebendo que o conhecimento se constrói por experiências que se tecem em redes, organizei urna trama de linhas que em seu resultado final se conduzem a representação de urna teia.

Este percurso me trouxe a um arranjo de rabiscos sequenciados que dão forma a urna trama visual. Enquanto doutorando do ProPEd da Uerj e professor de artes, essa proposta me conduziu não só a construir a nova identidade visual da revista, mas também nas possíveis relações que essa trama estabelece com as pesquisas em educação.

Ambas as perspectivas pensadas se tocam e inscrevem em Teias um horizonte de possibilidades que se vislumbra utopicamente.

Este número resgata artigos e autores da demanda contínua que intensamente buscam a Revista como forma de divulgação científica de investigações e de conhecimentos produzidos, visando a dialogar com os muitos pares do campo da educação. É, pois urna forma de trazer esses parceiros de Teias para este número, e aumentar o sentido da festa que queremos demarcar.

Teias assim se refaz, no melhor espírito do tempo, para enfrentar os próximos 20 anos com a melhor qualidade de produção das ciências da educação. Resiste, com firmeza aos ataques cruéis que nossas instituições universitárias, especialmente públicas, vêm sofrendo na arquitetura, funcionamento e resultados ao que são capazes de realizar e de contribuir para a melhoria da vida social. E não só, mas principalmente para a redução das desigualdades na distribuição do conhecimento e das injustiças sociais e cognitivas, devolvendo o direito constitucional à educação e a dignidade humana, pelo exercício pleno desse direito a todas as pessoas, para quem educar pode significar formação e aprendizagem ao longo da vida.

REFERÊNCIAS

BECKER, Jean-Jacques. O handicap do a posteriori. In: AMADO, Janaína; FERREIRA, Marieta de Moraes (coords.). Usos e abusos da história oral. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006, p. 27-31. [ Links ]

Informações das autoras

Jane Paiva

Profª. Drª. Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

E-mail.janepaiva27@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3501-8740

Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/3049044829510326

Paula Leonardi

Profª. Drª. Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

E-mail: leonardi.paula@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4046-9703

Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/6930629041565848

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