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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.22 no.65 Rio de Janeiro abr./jun 2021  Epub 26-Dez-2019

https://doi.org/10.12957/teias.%y.49633 

Resenhas

AMAZÔNIAS EM TEMPOS CONTEMPORÂNEOS: entre diversidades e adversidades

AMAZONIAS IN CONTEMPORARY TIMES: between diversities and adversities.

AMAZONIAS EN TIEMPOS CONTEMPORÁNEOS: entre diversidades y adversidades.

Luziane Said Cometti Lélis1 
http://orcid.org/0000-0002-7870-9023

Dinair Leal da Hora2 
http://orcid.org/0000-0002-3278-3914

1Universidade Federal do Pará – UFPA

2Universidade Federal do Pará – UFPA


Resumo

A presente resenha destina-se a apresentar a obra paradidática “Amazônias em tempos contemporâneos: entre diversidades e adversidades”, publicada em 2017 pela Editora Mórula e organizada por Jane Felipe Beltrão, antropóloga e historiadora, pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia – NAEA/UFPA e do CNPq; e Paula Mendes Lacerda, cientista social e antropóloga da UERJ. O livro é uma coletânea composta por 16 capítulos e é resultado do projeto “Patrimônio, Diversidade Sociocultural, Direitos Humanos e Políticas Públicas na Amazônia Contemporânea”, aprovado na chamada pública MCTI/CNPq/MEC/Capes- Casadinho/PROCAD, coordenado por Jane Felipe Beltrão (PPGA/UFPA) e vice-coordenado por Antônio Carlos de Souza Lima (PPGAS/MN/UFRJ). A obra discute questões relativas à preservação do patrimônio cultural em contextos de enfrentamento, territórios tradicionais, paisagens, corpos e objetos que ganham importância nas negociações identitárias (étnica, racial, sexual e de gênero) e direitos à diferença, ao mesmo tempo em que as políticas públicas revelam dificuldades na gestão de uma sociedade multicultural no contexto da Região Amazônica. A metodologia utilizada pelos autores baseia-se em pesquisa bibliográfica realizada na resenhada que estudou coletividades e espaços amazônicos, sob um olhar descolonial. O estudo concluiu pela necessidade do conhecimento e do respeito aos povos indígenas e comunidades etnicamente diferenciados para a garantia de seus direitos.

Palavras-chave: diversidade cultural; amazônias; povos indígenas

Abstract

The present review is intended to present the paradidactic work “Amazônias in contemporary times: between diversities and adversities”, published in 2017 by Editora Mórula and organized by Jane Felipe Beltrão, anthropologist and historian, researcher at the Nucleus of High Studies of the Amazon - NAEA / UFPA and CNPq and, Paula Mendes Lacerda, social scientist and anthropologist at UERJ. The book is a collection of 16 chapters and is one of the results of the project “Heritage, Sociocultural Diversity, Human Rights and Public Policies in Contemporary Amazonia” approved in the public call MCTI / CNPq / MEC / Capes-Casadinho / PROCAD, coordinated by Jane Felipe Beltrão (PPGA / UFPA) and vice coordinated by Antonio Carlos de Souza Lima (PPGAS / MN / UFRJ), discusses issues related to the preservation of cultural heritage in contexts of confrontation, traditional territories, landscapes, bodies and objects that gain importance in identity negotiations ( ethnic, racial, sexual and gender) and rights to difference, at the same time that public policies reveal difficulties in the management of a multicultural society in the context of the Amazon Region. The methodology used by the authors is based on bibliographic research carried out in the review that studied collectivities and Amazonian spaces, from a decolonial perspective. The study concluded by the need for knowledge and respect for indigenous peoples and ethnically different communities in order to guarantee their rights.

Keywords: cultural diversity; amazonias; indian people

Resumen

La presente revisión tiene como objetivo presentar el trabajo paradidáctico “Amazônias en la época contemporánea: entre diversidades y adversidades”, publicado en 2017 por Editora Mórula y organizado por Jane Felipe Beltrão, antropóloga e historiadora, investigadora del Núcleo de Altos Estudios de la Amazonía - NAEA / UFPA y CNPq y, Paula Mendes Lacerda, científica social y antropóloga de la UERJ. El libro es una colección de 16 capítulos y es uno de los resultados del proyecto “Patrimonio, Diversidad Sociocultural, Derechos Humanos y Políticas Públicas en la Amazonía Contemporánea” aprobado en la convocatoria pública MCTI / CNPq / MEC / Capes-Casadinho / PROCAD, coordinado por Jane Felipe Beltrão (PPGA / UFPA) y vice coordinado por Antonio Carlos de Souza Lima (PPGAS / MN / UFRJ), discute temas relacionados con la preservación del patrimonio cultural en contextos de confrontación, territorios tradicionales, paisajes, cuerpos y objetos que cobran importancia en negociaciones de identidad (étnica, racial, sexual y de género) y derechos a la diferencia, al mismo tiempo que las políticas públicas revelan dificultades en la gestión de una sociedad multicultural en el contexto de la Región Amazónica. La metodología utilizada por los autores se basa en la investigación bibliográfica realizada en la revisión que estudió colectividades y espacios amazónicos, desde una perspectiva decolonial. El estudio concluyó con la necesidad de conocimiento y respeto de los pueblos indígenas y comunidades étnicamente diferentes para garantizar sus derechos.

Palabras clave: diversidad cultural; amazonias; pueblos indígenas

O trabalho inaugura a coleção de livro paradidático da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) sobre a (s)Amazônia (s), viabilizado pelo projeto “Patrimônio, Diversidade Sociocultural, Direitos Humanos e Políticas Públicas na Amazônia Contemporânea” realizado em cooperação entre o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional (MN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal do Pará (UFPA). É direcionado à formação de professores de ensino fundamental e médio, e está organizado em seis partes, quinze artigos, reunindo vinte autores.

A primeira parte intitulada “Amazônia, História e Diversidade” é composta de quatro artigos que problematizam as diferentes e particulares maneiras de narrar a história e a ocupação da Amazônia sem, no entanto, privilegiar a biodiversidade em detrimento da sociodiversidade. No artigo “Alteridade e consciência histórica: a história indígena em seus próprios termos”, os autores Rhuan Carlos dos Santos Lopes e Jane Felipe Beltrão elucidam os conceitos de alteridade, história e consciência histórica para demonstrar a importância de conhecer a história da Amazônia a partir do contexto dos povos indígenas, numa perspectiva descolonial.

O trabalho “Entre histórias locais e narrativas oficiais: proposta para uma abordagem sobre a ocupação amazônica a partir das escolas”, de autoria de Rita de Cássia Melo dos Santos, questiona o papel da escola na continuidade da subalternização dos saberes, à semelhança dos agentes coloniais, que silencia as histórias locais e, em contrapartida, propõe outra forma de compreender a colonização e o “passado” da Amazônia, a partir de trajetórias de famílias, lideranças e estudantes (entre outros sujeitos).

Em “Comunicação: controle e rebeldia”, Bruno Pacheco de Oliveira, afirma que é preciso romper o silêncio da diferença que desqualifica os povos indígenas e outras comunidades invisibilizadas para emergir a pluralidade de vozes em rede (local, nacional e global).

O texto “Para o Pará e o Amazonas: látex”, escrito por Katiane Silva, destaca a linguagem da violência e da exploração que atravessava as relações sociais nos seringais, mantendo o seringalista preso numa situação análoga ao trabalho escravo. Para a autora, “[...] tal sistema violento possibilitou a modificação de vidas, de espaços e territórios, não somente no interior, mas também em cidades como Belém e Manaus […]” (p. 56). Esta face do período áureo da Amazônia, ocultada da história, ignorou os costumes indígenas para a aquisição de uma nova subjetividade urbana, imposta pela cultura estrangeira.

A segunda parte do livro, “Movimento sociais e de gênero”, integra três artigos que tratam da relação entre os movimentos sociais e a garantia de direitos, compreendendo também o papel da escola nessa relação. Sob o título “Movimentos Sociais e escolas: possibilidades de ação conjunta e de fortalecimento mútuo”, Paula Mendes Lacerda exalta a significativa parceria da escola para o fortalecimento da memória dos movimentos sociais para a garantia de direitos à comunidade.

O trabalho sobre “Gênero e sexualidade em sala de aula: um diálogo com estudantes de povos e comunidades tradicionais”, de Camille Castello Branco Barata e Mariah Torres Aleixo, é construído a partir das narrativas de estudantes universitários de diversas pertenças (indígenas, quilombolas, agricultores, pescadores, sindicalistas) em relação às questões de gênero e sexualidade, que precisam ser adequados aos processos de ensino-aprendizagem no contexto amazônico e entrecortados por questões étnicas, raciais e de classe, abandonando visões moralizantes, reguladoras e mesmo religiosas.

Em “Povos indígenas & igualdade étnico-racial: horizontes políticos para escolas”, Jane Felipe Beltrão defende que a igualdade étnico-racial no Brasil só se tornará realidade quando os diversos grupos sociais forem reconhecidos “[...] e as similitudes e diferenças promoverem o fortalecimento dos diferentes tendo por moldura igualdade cidadã” (p. 116), a partir de uma proposta de uma educação “antirracial”, possível de ser desenvolvida dentro da escola e com potencialidade para fora dela.

A obra, na sua terceira parte intitulada “Direitos Diferenciados”, é composta por dois artigos que discutem a temática dos direitos humanos enquanto exercício da cidadania. O primeiro, “Educação em Direitos Humanos na escola: subsídios aos docentes e exercício da cidadania”, de Assis da Costa Oliveira, fomenta a perspectiva de a escola assumir um papel ativo no exercício da cidadania, destacando os temas sociais relevantes dos conteúdos curriculares, assim como, o protagonismo dos alunos os alunos na “[...] luta por mudanças sociais amparadas na justiça social e nos direitos humanos”(p. 133).

O segundo artigo, “‘Agora, nós é que decidimos’: o direito à consulta e consentimento prévio”, elaborado por Rodrigo Oliveira, versa sobre os princípios de uma importante conquista dos grupos etnicamente diferenciados, o direito à consulta e ao consentimento prévio, livre e informado, sempre que medidas administrativas ou legislativas possam afetá-los diretamente.

A quarta parte, denominada “Propostas de trabalho” apresenta propostas de atividades a serem realizadas por educadores. O texto “Artefatos para o ensino: a pesquisa por meio de práticas criativas com a cultura material”, construído por Thiago Lopes da Costa Oliveira, resulta de relatos de experiências de pesquisas compartilhadas junto ao povo indígena Baniwa do Alto Rio Negro, buscando salvaguardar a preservação de sua cultura material (cerâmica) e a valorização do saber local.

O texto “Sobre povos indígenas e diversidade na escola: superando estereótipos”, apresentado por Rosani de Fátima Fernandes, tece críticas contundentes à educação escolar na continuidade de preconceitos, racismo, intolerância com os povos culturalmente diferenciados, sendo agravado, segunda a autora, pelo desconhecimento e pela inexistência de material didático que discutam a diversidade cultural e a necessidade de novas posturas de convivência respeitosa com as diferenças e com o pluralismo cultural.

Na quinta parte “Campos da diversidade e do patrimônio”, os trabalhos contemplam, em contextos diferentes, elementos constitutivos da preservação do patrimônio cultural. O artigo de Clarice Callegari Jacques, intitulado “A arqueologia conta histórias”, aborda as dimensões de estudo da arqueologia para compreensão do homem, do seu modo de vida e a preservação do seu patrimônio.

O artigo de Laise Lopes Diniz e Luiza Garnelo, “Política indígena e política escolar: interfaces e negociações na implantação da Escola Indígena Pamáali – Alto Rio Negro”, conta a trajetória de uma escola de “diferenciação” indígena, criada sob uma nova forma de organização – a autogestionária e marcada pela orientação dos velhos baniwas na formação dos estudantes – e os desafios para congregar os temas e atividades de uma escola comum com as práticas e valores da vida em comunidade.

A sexta e última parte da coletânea “Povos Indígenas e Saúde” apresenta dois textos que evidenciam a necessária aliança da saúde com a educação, para a garantia de sistemas de saúde, que respeitem a diversidade cultural. O artigo “A experiência de formação de agentes comunitários indígenas de saúde, à luz das políticas públicas de saúde e da promoção da diversidade cultural”, de autoria de Luiza Garnelo, Sully Sampaio e Ana Lúcia Pontes, relata a significativa experiência do curso técnico profissionalizante de agentes comunitários indígenas de saúde do Alto Rio Negro, no Amazonas, tal como preconizado pela política de educação escolar indígena e centrado em estratégias de revitalização e revalorização da diversidade cultural.

O artigo “Saúde indígena e diversidade no Brasil plural”, escrito por William César Lopes Domingues, aborda a questão da diversidade de concepções sobre a saúde no Brasil, ressaltando que, apesar dos sistemas de saúde, tanto indígenas quanto não indígenas, serem diferentes, possuindo lógica e estrutura próprias, são atendidos universalmente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no país.

Consideramos que a coletânea possibilita a compreensão didática das diversas coletividades da Amazônia contemporânea brasileira na perspectiva descolonial do conhecimento. Sintetiza uma riqueza de trabalhos produzidos por antropólogos, que contam a história da ocupação territorial, reorganização e mobilização social do espaço amazônico, a partir das narrativas locais, que desmistificam a imagem estereotipada criada sobre os povos indígenas e dão visibilidade à existência de outras comunidades presentes, ocultadas da história oficial.

Ademais, contempla questões relativas à preservação do patrimônio cultural e valorização dos costumes e valores próprios de cada povo, sendo potencializados a partir da memória dos movimentos sociais e sua relação com a garantia de direitos numa sociedade multicultural. Assim, não hesita em criticar as práticas homogeneizantes e eurocêntricas, ainda presentes nas escolas, que pouco contribuem para o contexto de enfrentamento das diversas identidades culturais, e elege essas instituições como espaços privilegiados para combater o racismo e possibilitar o conhecimento e o respeito aos povos indígenas e comunidades etnicamente diferenciados.

Para ampliar a reflexão sobre a temática, o livro apresenta sugestões de recursos pedagógicos e atividades que o docente pode trabalhar com os estudantes, no sentido de construir novas formas de percepção da diferença e da diversidade multicultural na escola. A leitura desta obra torna-se indispensável ao conjunto de educadores que busca nas suas práticas de sala de aula dar visibilidade às múltiplas narrativas que compõem a história da Amazônia brasileira e seus contextos correlatos.

CAPA DO LIVRO 

REFERÊNCIAS

BELTRÃO, Jane Felipe. LACERDA, Paula Mendes. (Orgs.) Amazônias em tempos contemporâneos: entre diversidades e adversidades. Rio de Janeiro, RJ: Mórula, 2017. [ Links ]

Recebido: Março de 2020; Aceito: Abril de 2020

Informações das autoras

Luziane Said Cometti Lélis

Universidade Federal do Pará – UFPA

E-mail:luziane.bim@gmail.com

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7870-9023

Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/0881299363936652

Dinair Leal da Hora

Universidade Federal do Pará – UFPA

E-mail: tucupi@uol.com.br

ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3278-3914

Link Lattes: http://lattes.cnpq.br/2705119184820662

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