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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.22 no.67 Rio de Janeiro out./Dez 2021  Epub 14-Fev-2023

https://doi.org/10.12957/teias.2021.63395 

Editorial

CELEBRAR PAULO FREIRE: reencantar o mundo e as utopias

Alexandra Lima da Silva1 
http://orcid.org/0000-0002-0310-7896; lattes: 3035434886894830

Stéphanie Gasse2 
lattes: cirnef.normandie-univ.fr

1Universidade do Estado do Rio de Janeiro E-mail: alexandralima1075@gmail.com

2Université de Rouen – Normandie / Laboratoire CIRNEF E-mail: stephanie.gasse@univ-rouen.fr


Fonte: Alexandra Lima da Silva. Guache sobre tela

Paulo Freire 

O Brasil que Paulo Freire sonhou era um lugar de esperança, de amor, de diálogo. Era um lugar de escuta, de acolhimento, de educar com afeto, em toda parte.

Sem censura.

Sem medo.

Com liberdade.

Com carinho.

À sombra, debaixo de uma mangueira.

Num quintal.

Em uma escola com muitas janelas.

Abertas para ver o mundo.

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 1921. O que ele diria para as crianças nascidas em 2021?

Sejam fortes?

Lutem?

Acreditem no sonho?

Paulo Freire foi um educador no sentido amplo da palavra, pois ele praticava as ideias que defendia na teoria. Era coerente. Ou tentava ser.

Ano do centenário de Paulo Freire, 2021 é, também, um ano de urgências: Vacina no braço, comida no prato. Num país em que pessoas se alimentam com ossos, há lugar para sonhar?

Teias celebra este Centenário em sintonia com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) — Universidade que lhe dá abrigo —, que optou por considerar 2021 o Ano Paulo Freire, como justa homenagem ao educador que anima e orienta, com suas ideias muito vivas, ainda, a educação no Brasil e no mundo. Pesquisas e reflexões que ressignificam o pensamento freireano são, pois, uma forma de fazer forte a recomendação de Paulo Freire, que não defendia discípulos ao que propugnava, mas gente que pudesse redizê-lo, reinventando-o, para novos contextos que, entre nós, continuam guardando antigas e novas formas de desigualdade e injustiças sociais e cognitivas. Dialogar com Freire em encontros com muitos de nós e de outros pensadores contemporâneos é a certeza de que somos profissionais de um tempo, de uma memória e de um mundo que se aventura a pensar e a compreender como a formação humana e os valores vêm sendo afetados em sociedades neoliberais, desiguais e extremamente segregadoras de origens e modos de vida diversos que, cada vez mais, sofrem adversidades no mundo. Celebrar Paulo Freire neste número pode contribuir para reavivar esperanças — de esperançar, não de espera vã — e reencantamentos, (re)ativando utopias em cada um de nós que assumiu, com o máximo compromisso e empatia, a tarefa de ser educador.

A seção temática Celebrar Paulo Freire: reencantar o mundo e as utopias reúne 23 artigos, escritos por professoras/es, pesquisadoras/es, de diferentes regiões do país. A multiplicidade das temáticas é expressão da capacidade inspiradora do legado freireano.

No artigo A amorosidade no ato de educar em Paulo Freire e Humberto Maturana: aproximações possíveis, as autoras Elizandra Jackiw, Sonia Maria Chaves Haracemiv e Cristiane Dall'Agnol da Silva Benvenutti, a partir de revisão de literatura, procuraram compreender os sentidos da ideia de amorosidade para Paulo Freire e Humberto Maturana, para os quais o amor é o caminho para a aceitação do outro em sua diferença e diversidade.

Como praticar a pedagogia dos sonhos possíveis em tempos de isolamento social e trabalho docente remoto? As figuras de Sísifo e Chronos foram as escolhidas por Fabiana Eckhardt, Aline Praça Bernar e Renato Simões Moreira no artigo intitulado Entre Sísifo e Chronos: uma reflexão sobre tempos da docência, da infância e da esperança.

Analisar os impactos da obra de Paulo Freire em Martín-Baró é o foco de Ruth Maria de Paula Gonçalves e Valeska Mariano Castro no artigo intitulado Paulo Freire e Martín-Baró, caminhos cruzados: um ensaio de compreensão sobre consciência e educação.

A urgência de se pensar outros modos de existência e outros mundos possíveis é a proposta do artigo Sêneca e Paulo Freire: leitura como equipagem contra a stultitia contemporânea, de Maria Alice Gouvêa Campesato. A autora procura aproximar as leituras de Sêneca e a leitura de mundo em Paulo Freire.

Os autores Rafael de Farias Ferreira, Jorge Fernando Hermida Aveiro problematizam os significados dos ataques à figura e pensamento do educador Paulo Freire, no artigo intitulado Da autonomia ao aprisionamento: a faceta conservadora e os ataques ao patrono da educação brasileira.

O artigo Paulo Freire e o pensamento educacional progressista brasileiro: ataques do Escola sem Partido, de Isabela Maria Oliveira Catrinck e Maria Clara Maciel de Araújo Ribeiro, por meio de pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico, analisou os significados dos desafios enfrentados na defesa da educação democrática no Brasil contemporâneo.

O artigo Por uma escola democrática: contribuições de Paulo Freire trata-se de revisão bibliográfica. As autoras Maria de Lourdes Teixeira Barros e Maria Inês Marcondes de Souza analisam a

experiência de Paulo Freire nos tempos em que foi Secretário de Educação na cidade de São Paulo. Para as autoras, tal experiência foi fundamental para a construção de políticas educacionais democráticas e participativas.

O artigo Educação e conscientização: acerca da concepção freireana de ser mais, de Cleonice Aparecida Raphael da Silva, Maria Terezinha Bellanda Galuch e José Mateus Bido destaca a importância do pensamento de Paulo Freire para a promoção de uma educação que leva à conscientização dos sujeitos, a partir da necessidade de formação em sentido ontológico.

Em artigo intitulado Alfabetização e dialogicidade freireana: aprendizagens, sentidos e possibilidades, Kleber Peixoto de Souza e Leila Damiana Almeida dos Santos Souza põem em cena a roda e o diálogo como fundamentais para a ampliação da compreensão em torno do ato de alfabetizar.

No artigo Experiências de um sarau: o inédito viável em meio à pandemia, as autoras Penélope Alberto Rodrigues, Viviane Letícia Silva Carrijoe, Luciana Kool Modesto-Sarra problematizam o conceito de inédito viável, partindo do referencial teórico freireano.

Em O espaço vivido e a pedagogia situada de Paulo Freire, o autor Enio Serra refletiu sobre as potencialidades do conceito de espaço vivido e sua importância para a promoção de outras práticas pedagógicas, emancipadoras, decorrentes da contribuição freireana.

No artigo Paulo Freire e a pesquisa narrativa (auto)biográfica: diálogos entre leitura do mundo, de si e de trajetórias de formação, as autoras Eda de Oliveira Henriques, Heriédna Cardoso Guimarães e Verônica Fabíola Neves Rodrigues, navegam pelos modos de conexão entre a leitura de si, leitura de mundo e da palavra nos processos de formação.

Joelson de Sousa Morais, Helen Arantes Martins e Inês Ferreira de Souza Bragança, no artigo O desenvolvimento de uma pedagogia narrativa no Brasil: as contribuições de Paulo Freire, mostram que a pedagogia narrativa que Freire empreendeu representou um divisor de águas no campo da formação de professores.

O autor Dilson Miklos, na contribuição Paulo Freire e Walter Benjamin: notas sobre o tempo, a história, o campo do sensível e a educação, mostra as aproximações conceituais entre Paulo Freire e Walter Benjamin como encontro estético, ético e político.

No artigo Situação limite e formação docente: reconfigurações pedagógicas em tempos de pandemia, as autoras Geniana dos Santos e Maria G. Pereira Ferreira problematizam os modelos pedagógicos e as três dimensões básicas para a formação docente: a dimensão humana, a dimensão técnica e a dimensão político-social no contexto da pandemia.

O artigo de Mariana dos Santos Cezar e Samuel Rocha Oliveira, É tempo de esperançar: contribuições da epistemologia freireana na/para uma formação continuada, de abordagem qualitativa, teve por objetivo descrever como um processo de formação continuada pode ser construído partindo da (re)leitura da epistemologia freireana e do trabalho desenvolvido nos círculos de cultura.

A partir de uma atividade pedagógica não presencial, as autoras Danielle Müller de Andrade, Fabiana Celente Montiel e Márcia Rejane Viera Guimarães, no artigo Educação física, formação continuada e Paulo Freire: reflexões sobre uma proposta pedagógica remota, oferecem a proposta pedagógica como contribuição à formação continuada de professores/a, assim como para a reflexão acerca do papel social da educação física e sua colaboração na formação de sujeitos críticos, participativos e compromissados com a transformação social.

Em artigo intitulado Percepções de trabalho e formação: tessituras do quefazer com a cultura de paz, Madson Pinto dos Santos e Rosária Helena Ruiz Nakashima se dispuseram a perceber relações e equivalências de temas geradores (trabalho, escola e paz) e pertinências desses temas para a humanização dos interlocutores da pesquisa.

Em Um olhar sobre a educação no campo — o projeto político-pedagógico da Escola Estadual Professor João Florentino da Silva Neto, na cidade de Cáceres-MT, o autor Leandro de Almeida propõe uma

pesquisa bibliográfica que, no contexto da educação do campo, foi realizada com pequena abordagem acerca da classe multisseriada e a construção de identidades.

O artigo Culturas quilombolas invisibilizadas nos currículos de formação de professores: caminhos em Freire para a humanização, de Andréia Regina Silva Cabral Libório e Marina Graziela Feldmann, tem como objetivo central compreender contribuições de Paulo Freire para o processo de humanização dos sujeitos e culturas invisibilizadas nos currículos, especificamente a dos povos quilombolas.

Em Paulo Freire e a escola necessária à inclusão, a autora Rosimar Serena Siqueira Esquinsani discute os conceitos de educação especial, educação inclusiva e equidade à luz do pensamento de Paulo Freire a partir de uma pauta contemporânea.

As autoras Silvia Patrícia da Silva Marques e Carla Luciane Blum Vestena e o autor Leandro Redin Vestena, no artigo Uma proposta metodológica de conscientização para a prática de educação ambiental escolar: a partir da teoria de Paulo Freire, apresentam os resultados de uma proposta metodológica intitulada tríade da conscientização, desenvolvidos na pesquisa qualitativa do tipo pesquisa-ação, voltada ao ensino da educação ambiental escolar.

O artigo Mulheres da e na EJA: tecendo reflexões a partir das contribuições de Paulo Freire escrito por Maria Cláudia Mota dos Santos Barreto e Gilvanice Barbosa da Silva Musial, as autoras analisaram trajetórias de mulheres da e na EJA à luz das categorias situações-limite, inéditos viáveis e conscientização em Paulo Freire.

E, por fim, o artigo Formação inicial de professores e professoras que ensinam matemática: interlocução dos conhecimentos escolar e do cotidiano, escrito por Rodrigo Tadeu Pereira Costa, estabelece interlocução com contribuições de Paulo Freire para pensar o cotidiano na formação inicial de professores e professoras que ensinam matemática.

Sem perder a ternura jamais, um dos legados de Paulo Freire para as gerações futuras é o verbo esperançar. Sementes, os livros e os muitos ensinamentos de Paulo Freire espalham boniteza e esperança pelo mundo. Tornar-se semente não é um legado menor. É alcançar a eternidade. Paulo Freire, para sempre.

Brindemos, pois é sempre tempo de freirear!

Recebido: Outubro de 2021; Aceito: Outubro de 2021

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