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Revista Teias

versión impresa ISSN 1518-5370versión On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.22 no.67 Rio de Janeiro oct./dic 2021  Epub 14-Feb-2023

https://doi.org/10.12957/teias.2021.62017 

Artigo

O DESENVOLVIMENTO DE UMA PEDAGOGIA NARRATIVA NO BRASIL: as contribuições de Paulo Freire

THE DEVELOPMENT OF NARRATIVE PEDAGOGY IN BRAZIL: Paulo Freire's contributions

EL DESARROLLO DE LA PEDAGOGÍA NARRATIVA EN BRASIL: las contribuciones de paulo freire

Joelson de Sousa Morais1 
http://orcid.org/0000-0003-1893-1316; lattes: 9184354605461860

Helen Arantes Martins2 
http://orcid.org/0000-0002-6042-4118; lattes: 6950167745152925

Inês Ferreira de Souza Bragança3 
http://orcid.org/0000-0003-4782-1167; lattes: 3676732863480672

1Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). E-mail: joelsonmorais@hotmail.com

2Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). E-mail: aranteshelen@hotmail.com

3Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) E-mail: inesbraganca@uol.com.br


Resumo

Tecemos uma reflexão de abordagem teórica bibliográfica neste texto, com o objetivo de compreender o pensamento de Paulo Freire no contexto de uma pedagogia narrativa no Brasil. As ideias partem de reflexões das obras Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Autonomia e Educação como Prática de Liberdade de Paulo Freire (2013; 1996; 2014) em articulação com Josso (2010), Bragança (2018), Passeggi (2011; 2016), e outros. O objetivo é fazer um diálogo entre os autores operando sobre a pedagogia narrativa como uma prática da liberdade. Interrogamos as políticas de formação e suas contribuições na construção da formação de professores. Os resultados mostram que a pedagogia narrativa empreendida por Freire, representou um “divisor de águas” no campo da formação de professores, reverberando em diferentes correntes epistemológicas, como na tessitura das pesquisas em educação e na consequente ampliação do campo das narrativas (auto)biográficas na educação e em outras áreas do conhecimento. Seu legado é inestimável para a sociedade brasileira, permeando diferentes temporalidades e alcançando várias outras gerações de professores pesquisadores narradores na formação humana.

Palavras-chave: Paulo Freire; escritas narrativas (auto)biográficas; formação de professores

Abstract

We weave a theoretical bibliographical reflection in this text, aiming to understand Paulo Freire's thought in the context of a narrative pedagogy in Brazil. The ideas come from reflections on the works Pedagogy of the Oppressed, Pedagogy of Autonomy and Education as a Practice of Freedom by Paulo Freire (2013; 1996; 2014) in conjunction with Josso (2010), Bragança (2018), Passeggi (2011; 2016), and others. The objective is to create a dialogue between authors operating on narrative pedagogy as a practice of freedom. We question the training policies and their contributions to the construction of teacher training. The results show that the narrative pedagogy undertaken by Freire undertook, represented a "watershed" in the field of teacher education, reverberating in different epistemological currents, as in the fabric of research in education and in the consequent expansion of the field of narratives (self) in education and in other areas of knowledge. His legacy is invaluable for Brazilian society, permeating different temporalities and reaching several other generations of teacher-researchers narrators in human formation.

Keywords: Paulo Freire; narrative (self) biographical writings; formation of teachers

Resumen

Tejemos una reflexión bibliográfica teórica en este texto, con el objetivo de comprender el pensamiento de Paulo Freire en el contexto de una pedagogía narrativa en Brasil. As ideias partem de reflexões das obras Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Autonomia e Educação como Prática de Liberdade de Paulo Freire (2013; 1996; 2014) em articulação com Josso (2010), Bragança (2018), Passeggi (2011; 2016), y otra. El objetivo es crear un diálogo entre autores que operan sobre la pedagogía narrativa como práctica de libertad. Interrogamos las políticas de formación y sus aportes a la construcción de la formación docente. Los resultados muestran que la pedagogía narrativa emprendida por Freire representó un "hito" en el campo de la formación del profesorado, repercutiendo en distintas corrientes epistemológicas, como en el tejido de la investigación en educación y en la consiguiente expansión del campo de las narrativas (autoevaluación). ) en educación y en otras áreas del conocimiento. Su legado es invaluable para la sociedad brasileña, permeando diferentes temporalidades y llegando a varias otras generaciones de narradores docentes-investigadores en la formación humana.

Palabras clave: Paulo Freire; escritos narrativos (auto)biográficos; formación de profesores

INTRODUÇÃO

No presente texto trazemos algumas reflexões que situam o pensamento de Paulo Freire na construção e desenvolvimento de uma pedagogia narrativa no Brasil, e suas contribuições na formação de professores.

De abordagem teórica-bibliográfica, este artigo tece como objetivos: compreender o pensamento de Paulo Freire no contexto de uma pedagogia narrativa no Brasil, bem como refletir acerca das contribuições do pensamento freireano no desenvolvimento de uma pedagogia narrativa na formação de professores.

Para isso, fazemos uma provocação reflexiva inicial, nos questionando: Quais contribuições trouxe Paulo Freire no desenvolvimento desta pedagogia?

Estamos entendendo a pedagogia narrativa como um processo de produção de si e do outro por meio de uma tessitura narrativa (auto)biográfica, que o sujeito constrói cotidianamente, fruto de suas relações estabelecidas no meio cultural, social, político e educacional, ao se engajar numa luta e reconhecimento de si pela narrativa. As marcas e experiências que os sujeitos vinculam a prática, são produções culturais que se difundem em um sistema social marcado pela “desigualdade e pela opressão” (FREIRE, 2014). Afirmamos assim, a importância de uma reflexão sobre as pedagogias narrativas como campo de experiências e reconhecimento do sujeito como agentes sociais.

Portanto, os processos de narrar e ao mesmo tempo narrar-se, foi se delineando historicamente no Brasil pelas contundentes contribuições de Paulo Freire, o qual, embora não tenha nominado sua obra nessa perspectiva, de uma pedagogia narrativa, seus escritos foram desenvolvidos a partir de suas narrativas (auto)biográficas nas quais situava o seu pensamento em diálogo com o mundo, a cultura, a alfabetização de adultos, e várias outras dimensões defendidas, criticadas e refletidas pelo autor.

A proposta deste texto, surgiu primeiramente pela imersão na realização de um curso de formação que trazia a obra Pedagogia do Oprimido, de Paulo Freire, desenvolvido no ano de 2019 de forma on-line, na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)1. Este curso foi configurado como extensão universitária, gratuito e aberto à comunidade.

A partir de então, fomos percebendo o potencial das reflexões produzidas e circuladas pelo autor, de modo potencial em diferentes lugares do mundo, e delineamos a discussão no campo das narrativas (auto)biográficas por nos situarmos como pesquisadores em formação, professores e freireanos nessa abordagem epistemológica, em articulação com outras leituras que realizamos de autores dessa perspectiva no Brasil, que também trouxeram discussões trazendo o pensamento de Paulo Freire, como um dos proeminentes e idealizadores de um modo de dizer/contar narrativamente e que foi crucial no desenvolvimento de uma pedagogia narrativa.

A proposta do presente texto se insere ainda em reflexões que tecemos como pedagogos e formadores de professores nos cursos de licenciaturas, em que tomamos por base os estudos e leituras da obra de Paulo Freire nas disciplinas em que ministramos na academia. Além das experiências e diálogos que estamos tecendo, cotidianamente com professores e professoras no cotidiano de escolas da educação básica.

Trazer o pensamento freireano, nesses tempos de incertezas e profundas mudanças no cenário político-educacional e no contexto de uma pandemia, se torna crucial, tendo em vista que cada vez mais, suas ideias precisam ser potencializadas e defendidas, já que contribuem em muito, para o desenvolvimento da educação e da formação de professores no Brasil. Além, da criação de políticas, saberes e práticas que situam-se não somente no âmbito da alfabetização de adultos, mas de outras tantas temáticas que transformaram a cultura, a sociedade, a política e a formação humana como um todo.

Por isso, esse texto se configura como uma homenagem prestada ao educador brasileiro, sobretudo, pelo seu centenário que estamos contemplando neste ano de 2021. E suas ideias deixaram um legado potencial, que acreditamos ter influenciado muitas correntes de pensamento no campo educacional e em outras várias áreas do saber.

No que diz respeito à corrente da pesquisa narrativa (auto)biográfica enquanto perspectiva teoricometodológica2 e epistemológica, compreendemos que Paulo Freire, trouxe ideias para pensarmos o protagonismo com que os sujeitos pudessem figurar em suas escritas de si e da relação com os outros, de modo a consolidar um paradigma substancial no cenário educacional brasileiro e na formação de professores, com maior ênfase. Paulo Freire, apresentou uma educação pautada na visão de liberdade humana. É uma matriz de pensamento que atribui sentido a participação livre e crítica dos educandos, ou seja, uma pedagogia para seres humanos livres.

Desenvolvemos as ideias nesse texto a partir de algumas obras de Paulo Freire (2013; 1996; 2014) como em Pedagogia do Oprimido, Pedagogia da Autonomia e Educação como Prática de Liberdade, em articulação com pesquisadores do campo das narrativas (auto)biográficas sendo: Josso (2010), Bragança (2018), Passeggi (2011; 2016), entre outros.

Seguindo essa proposta, o texto está dividido em quatro partes, entre as quais, esta é a primeira apresentando algumas reflexões provocativas iniciais do estudo; na segunda parte focalizamos as contribuições do pensamento de Paulo Freire no desenvolvimento de uma pedagogia narrativa no Brasil; na terceira parte situamos a pedagogia freireana na construção de uma epistemologia da formação de professores pelo viés das narrativas (auto)biográficas; e na quarta trazemos as reflexões e entendimentos que o estudo chegou nas considerações finais.

O LEGADO DE PAULO FREIRE NO DESENVOLVIMENTO DE UMA PEDAGOGIA NARRATIVA NO BRASIL

Consideramos que o trabalho desenvolvido por Freire no Brasil, foi de uma profunda significância, materializando alcances extraordinários no desenvolvimento da educação, da formação de professores e das experiências educativas, políticas e dos movimentos sociais, com diferentes intensidades e transformações de norte a sul do país.

Tanto é que suas ideias no bojo da ditadura militar no cenário brasileiro, o exilaram, pois tinham um teor provocativo e transformador que fazia com que fossem nocivas para o regime autoritário e opressor que se desenvolveu entre 1964 à 1985 no Brasil, já que as pessoas se munindo dos esclarecimentos e modos de pensar criticamente pela via da narração e diálogo como empreendia Freire, causava transformações das mais diferentes formas, libertando as consciências e as tornando visíveis para si próprias e para o outro. Uma pedagogia para seres humanos livres.

É necessário assinalar que, na concepção freireana a liberdade está relacionada à concepção de democracia e se afasta de outras concepções ligadas aos formalismos liberais. A liberdade está relacionada aos modos de ser gente, e nos sentidos que produzem sobre o que vive historicamente.

O professor chileno Ernani Maria Fiori (2013) no prefácio do livro Pedagogia do Oprimido escrito em 1967, traz a seguinte reflexão acerca do processo de alfabetização numa perspectiva narrativa: “Talvez seja este o sentido mais exato da alfabetização: aprender a escrever a sua vida como autor e como testemunha de sua história, isto é, biografar-se, existenciar-se, historicizar-se” (FIORI, 2013, p.12). Transformando o técnico, concreto e estrito ao aprendizado, em liberdade e crítica como modo de ser humano (FREIRE, 2014).

Com base nessa ideia, acreditamos revelar muito do educador brasileiro, já que era exatamente na defesa de uma aprendizagem da leitura e escrita em que os sujeitos adultos pudessem protagonizar a sua própria história, pela via da narração de caráter transformadora e emancipatória. Uma vez que sabendo o que dizer, o sujeito munido de consciência, poderia lutar contra qualquer tipo de imposição ou opressão que porventura pudesse se fazer presente em sua vida.

Ao escrever sobre si, o sujeito passa a tomar forma, delineando processos formativos e transformadores que, por vezes, antes da narração não se faziam presentes, e que passam a se configurar como altamente transformadores e emancipatórios, pela tomada de consciência que no escrito se revela.

Ou como melhor pontua Josso (2010, p.163), a esse respeito “a tomada de consciência dos registros presentes na narração permite conhecer as sensibilidades e os saberes que cada um de nós tem a disposição na leitura de si mesmo e do seu meio”.

Tal dimensão, foi empreendida por Freire, ao elucidar suas experiências de vida, formação, compreensão e crítica, entre outras questões, as quais se corporificaram em palavras materializadas em suas narrativas na primeira pessoa nos seus escritos. Estes tornaram-se célebres obras que até hoje consistem em uma via reflexiva de potencial formação e (auto)formação quando nos apropriamos de suas narrativas.

Podemos remontar a uma plausível contribuição de Bragança (2018), ao rememorar as contribuições de Paulo Freire em relação à construção e desenvolvimento de uma pedagogia narrativa no cenário brasileiro, com fortes dimensões reflexivas e contundentes para a formação humana e do campo das narrativas (auto)biográficas que pouco tempo depois começaram a aflorar em outros tantos estudos e pesquisas nesta corrente epistemológica. Segundo pontua a autora:

No Brasil, podemos tomar a vida e obra de Paulo Freire como marco na direção de práticas educativas que consideram a trajetória de vida dos educandos, especialmente jovens e adultos, suas histórias, saberes e narrativas como referências para construção do conhecimento, em uma educação especialmente dialógica (BRAGANÇA, 2018, p.72).

Nesse sentido, Freire não teorizava sem que houvesse um diálogo entrelaçado com a própria experiência e com o cotidiano por onde trilhava, além de expressar em suas narrativas, reflexões e pensamentos que estavam subjacentes ao seu universo de críticas, sempre levando em consideração o que acreditava e o que pudesse se tornar viável, entre outras coisas, direcionando seu olhar para as pessoas adultas no processo de alfabetização, fazendo com que o sujeito pudesse tornar a sua própria palavra uma forma de agenciamento para promover mudanças em sua vida e formação.

Como bem salienta a literatura acerca de como a escrita narrativa com dimensões reflexivas se fazia presente nos registros e histórias de vida evocadas e produzidas pelo educador pernambucano, recorremos à seguinte citação:

[...] Em sua obra como professor-pesquisador encontramos uma escrita reflexiva sobre a própria prática e narrativas (auto)biográficas que partilham as itinerâncias que o levaram à docência. Seu trabalho fertiliza, em meio a resistências políticas e epistemológicas, práticas emancipatórias que colocam foco na vida de educandos e educadores, como sujeitos individuais e coletivos (BRAGANÇA, 2018, p.72).

As reflexões freireanas, foram pautadas por um construto teoricoepistemológico, político e propiciador de processos emancipatórios que tecidas em experiências de si em diálogo com os tantos outros com os quais estabeleceu relações, permitiram mudanças substanciais na produção do conhecimento científico e na prática de inúmeros professores pesquisadores. A ideia de alteridade, portanto, se fazia presente constantemente na prática, vida e reflexão do educador pernambucano.

Tratava-se de aliar a vida à própria experiência, formação e construção do conhecimento, e que nas suas narrativas (auto)biográficas representam terreno fértil para disseminar os saberes, compreensões e modos de conhecer que tecia e partilhava o educador brasileiro em suas escritas.

Um importante trecho de seu livro Pedagogia da Autonomia, traz uma forma de escrita narrativa implicada, em que Freire vai narrando as suas experiências educativas, pedagógicas e políticas, se percebendo nesse movimento e refletindo outras tantas possibilidades como necessidades formativas dialogicamente produzidas com educandos e educadores, como elucida na seguinte citação:

Outro saber fundamental à experiência educativa é o que diz respeito à sua natureza. Como professor preciso me mover com clareza na minha prática. Preciso conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática, o que me pode tornar mais seguro no meu próprio desempenho (FREIRE, 1996, p.68).

A tessitura de um saber e conhecimento consistente pautado em uma reflexividade (auto)biográfica era algo que fluía de tal forma nos escritos de Paulo Freire, que dava a perceber a profundidade do envolvimento, da crítica e da defesa que fazia pelos ideais que acreditava e lutava no campo da educação e da formação humana.

Eis, portanto, a perspectiva de uma pedagogia narrativa, a qual se materializava em escritos sobre processos educativos e pedagógicos, com um viés teoricoepistemológico a partir do conhecimento de si, do mundo, da educação, da formação e pautado por suas experiências profissionais e de vida.

Tanto é assim, que praticava uma escuta e uma narração com educandos e educadores, de forma sensível, dialógica e ao mesmo tempo reflexiva, pondo-os a questionar constantemente os modelos e práticas educativas e pedagógicas que existiam e as que pudessem emergir em contextos adversos, plurais e em decorrência do perfil de ser humano, de mundo e de sociedade que queríamos ter e construir.

Trazemos a seguir, duas contribuições que Paulo Freire estabeleceu com outros notórios professores pesquisadores de prestígio internacional e que desenvolveram alguns diálogos que, narrativamente foram compondo histórias e memórias das experiências educativas e pedagógicas entre Brasil e Estados Unidos, por exemplo: em termos de seu legado internacional, em articulação com alguns proeminentes críticos e pesquisadores do campo da educação, mais precisamente de estudiosos que se inscrevem em uma corrente dos estudos curriculares críticos e dos estudos culturais, situam-se os diálogos estabelecidos com os pensadores dos Estados Unidos que se deram com Michael Apple e também com Henry Giroux.

O próprio Apple (2017) em um livro recentemente lançado no Brasil, A educação pode mudar a sociedade?, dedica um capítulo dessa sua obra para trazer as experiências narrativas que teve com Paulo Freire, quando este foi secretário de educação de São Paulo, e que lhe trouxeram profundos ensinamentos e construção de conhecimentos, que foram tecidos tanto de modo particular, quanto publicamente.

Segundo narra Michael Apple por meio de suas conversas com Paulo Freire “passávamos horas discutindo não só a importância de intervenções teóricas, mas também a importância extrema da práxis, de intervir na realidade pedagógica e cultural e de deixar essas intervenções responderem pelo trabalho político e teórico” (APPLE, 2017, p.70).

Como podemos perceber, o desenvolvimento de uma pedagogia narrativa pelos constantes diálogos estabelecidos dentro e fora de seu entorno, era uma base, um sustentáculo para a tessitura de um saber e conhecimento que ia ganhando espaços em outros cenários pelo educador brasileiro, o que representa seu forte legado na educação não somente brasileira, mas mundialmente, posto a reconhecida contribuição nos escritos narrativos de outros teóricos em várias partes do mundo, como este registrado por Apple.

Outra importante parceria estabelecida foi com Henry Giroux (1997), um brilhante professor pesquisador americano, para quem Paulo Freire, inclusive, fez a apresentação de seu livro Os professores como intelectuais transformadores, lançado no Brasil, e servindo de referência para os estudos críticos, culturais, curriculares, para a formação de professores e para os processos emancipatórios viabilizados por uma educação contra hegemônica, crítica e tecida democraticamente nas lutas político-sociais empreendidas pelos sujeitos.

O tema da história construída narrativamente pelos sujeitos, é um princípio bastante defendido por Freire (1997) ao fazer a apresentação do livro de Giroux. Vejamos o que diz o educador brasileiro que consideramos ser uma experiência narrativa em diálogo com esse pensador americano: “os homens e as mulheres fazem a história que é possível, não a história que gostariam de fazer ou a história que, às vezes, lhe dizem que deveria ser feita” (FREIRE, 1997, p. X).

Vemos, portanto, uma provocação reflexiva ao trazer a importância da história de vida que cada sujeito poderia tecer, e que faz toda a diferença na construção de uma educação e de uma pedagogia narrativa, a qual temos defendido neste texto, a partir do pensamento freireano.

Estaria Paulo Freire desenvolvendo uma pedagogia narrativa caracterizada por uma pesquisaformação já entre as décadas de 1960-1970, e que alguns anos depois emergiu pelos contributos do movimento das histórias de vida em formação na década de 1980?

Acreditamos que sim, pois, embora não tenha sido denominada como uma arte de tecer narrativas a partir de suas experiências educativas e pedagógicas, Paulo Freire, foi uma das grandes referências para o despontar de uma formação dialógica, bem como para valorização de experiências de estudantes e docentes com os quais produziu profícuas reflexões e narrativas (auto)biográficas documentando seu cotidiano em diálogo com os sujeitos. Podemos, assim, afirmar que ele viveu de forma encarnada uma pedagogia narrativa.

O que, de certo modo, pelas contribuições do movimento das histórias de vida em formação, a partir de Gaston Pineau, Pierre Dominicé, Mattias Finger e Marie Cristine Josso, a pedagogia narrativa ganhou força e uma maior clareza, pois trouxe, nos inícios da década de 1980, para o campo da educação e da pesquisa científica, inclusive, para dentro da academia, os processos de registros da experiência em narrativas da pesquisaformação e dos construtos tecidos nas histórias de vida dos sujeitos para pensarem a si próprios e os contextos trilhados no decurso da vida (ABRAHÃO, 2016; PASSEGGI, 2016; BRAGANÇA, 2018).

Cabe destacar ainda o reconhecimento dado por Dominicé sobre a contribuição de Paulo Freire no campo da educação de adultos no contexto do movimento da corrente das histórias de vida em formação, pelo olhar de Passeggi (2011). De acordo com esta autora:

O legado da dimensão epistemológica e política do pensamento de Freire contra a neutralidade científica em Educação fez do seu pensamento, segundo Dominicé (2000; 2009), uma das correntes inspiradoras do movimento das histórias de vida em formação, que, por sua vez, prolongou, ao seu modo, uma pedagogia centrada na liberdade do sujeito aprendente, na intenção de valorar o saber e o poder pensar sobre si como prática libertadora (PASSEGGI, 2011, p.154. Grifos da autora).

Diante do exposto, as possibilidades inscritas pela liberdade e tecidas no âmbito de uma escrita narrativa, foram fundamentais nos registros da experiência cotidiana desenvolvida por Paulo Freire. Tanto que seu legado se espalhou pelo mundo, influenciando tantas outras correntes teoricoepistemológicas, como a do movimento das histórias de vida em formação, a qual nos é cara e nos leva a tecer outras reflexões no campo da formação de professores.

É no contexto da formação de professores, que perspectivamos um cenário substancial de construção de saberes, experiências e conhecimentos pela via das narrativas (auto)biográficas, e que vem se tecendo reflexivamente no Brasil através do legado deixado pelas ideias freireanas, as quais discutiremos nas linhas a seguir.

PENSAR PAULO FREIRE HOJE: CONTRIBUIÇÕES DAS NARRATIVAS (AUTO)BIOGRÁFICAS NO CAMPO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Nos diferentes continentes, as ideias desse educador brasileiro circularam tornando-se uma referência para a educação, para os processos formativos e para a consolidação de experiências curriculares, culturais e emancipatórias.

Trazer o pensamento freireano no contexto da sociedade atual, situando-o no âmbito da abordagem narrativa (auto)biográfica, é reavivar o seu legado como marca de uma temporalidade que é evocada e produzida enquanto força potencial para as pesquisas, experiências educativas e processos formativos fundamentais no campo da formação de professores em tempos de incertezas e bruscas transformações que estamos passando no momento.

Freire não somente empreendeu um esforço pessoal e crítico para a melhoria da educação brasileira, mas para a formação de um povo, buscando dar visibilidade às camadas populares e às pessoas que eram invisibilizadas porque não se enquadravam em um status quo, ou em um modelo hegemônico de ciência, cultura e sociedade.

Escrever do modo como escrevia as suas experiências de vida, educativas e pedagógicas, inspirou muitos professores pesquisadores narradores, os quais, até hoje se pautam pelo seu legado, e que representam perspectivas mais do que cruciais para lutarmos na construção de uma sociedade democrática e emancipatória em busca de dias melhores.

Mesmo após mais de 50 anos de sua primeira versão de Pedagogia do Oprimido publicada nos Estados Unidos e depois no Brasil, lemos este livro, e o que percebemos é a atualidade do pensamento de Paulo Freire para a sociedade brasileira que está enfrentando um jogo político adverso e perverso, que tem tomado descaminhos e retrocessos a lugares que já havíamos superado ao longo do tempo, e esta posição já estava em curso no cenário político educacional e na formação de professores.

A incansável luta empreendida em seus constantes diálogos e escritas narrativas, alertamnos para a potencialidade de refletir e produzir uma consciência crítica para alcançarmos uma melhor qualidade de vida, educação e formação. E boa parte desse esperançar conquistas, era consolidado pelo homem e pela mulher saber dizer a sua palavra. Como bem salienta o educador brasileiro “[...] com a palavra, o homem se faz homem. Ao dizer a sua palavra, pois, o homem assume conscientemente sua essencial condição humana” (FREIRE, 2013, p.17).

No campo da formação de professores, como se daria essa tomada de consciência pela palavra que o professor pesquisador pudesse ter e mobilizar no seu cotidiano experiencial? Cabenos ainda questionar: quais as implicações formadoras e transformadoras da escrita narrativa no contexto da formação de professores para pensarem a si próprios em diálogo com os outros com os quais estabelecem relações em suas experiências de vida e profissionais?

Uma primeira reflexão se torna fundamental ao fazermos no contexto de uma pesquisaformação que toma por princípio experiências de escrita narrativa (auto)biográfica com professores pesquisadores, a saber, de que:

O trabalho da narrativa escrita de vida, porque permite uma espécie de estado das ligações dos nossos conhecimentos nos nossos diferentes referenciais, e nas nossas formas de exprimir o nosso ser-em-relação conosco e com outrem na evolução de nossos posicionamentos existenciais, desemboca progressivamente na compreensão de que a procura de uma autonomização do pensamento e a construção de uma subjetividade autêntica passam por colocar em prática um projeto de si como autor-pesquisador por meio da reinterpretação, para si, das valorizações simbólicas coletivas e dos múltiplos referenciais para o sujeito pensar a sua vida (JOSSO, 2010, p.222-223).

Foi exatamente nessa perspectiva que acreditamos que Freire compôs sua história de vida nas experiências de pesquisaformação, que retratou em sua obra, ou seja, trouxe a vida e os diferentes elementos que perpassaram por ela, trazendo os sentimentos, pensamentos e os vários deslocamentos que ele enfrentou no campo da educação de adultos, em diálogo com educadores e educandos tecendo uma epistemologia da formação, fundamental para a produção de saberes e conhecimentos das práticas educativas e do campo da formação de professores.

Assim, a obra de Paulo Freire, nos faz pensar na composição de uma epistemologia da formação que ultrapassa as lógicas instituídas hegemonicamente no campo da ciência, da educação, da formação de professores e da sociedade.

Escrever narrativamente as experiências de si dialogicamente com o cotidiano existencial, favoreceu ao educador brasileiro um inédito viável, tendo em vista que trouxe em seus escritos, não somente um modo de refletir os processos de pesquisa e formação com que teceu, mas expressou sensibilidades, críticas e emoções. Como bem reforça ele dando centralidade aos registros da fala e da escrita, “o que o homem fala e escreve e como fala e escreve, tudo é expressão objetiva do seu espírito. Por isto, pode o espírito refazer o feito, neste redescobrindo o processo que o faz e refaz” (FREIRE, 2013, p. 16).

Enfim, Freire produziu uma ciência outra baseada na vida, no cotidiano, na cultura e no meio à sua volta, de tal modo que despertou outros olhares acerca da escrita científica e da produção de saberes e conhecimentos presentes no campo da educação, da sociedade e especialmente, fertilizou vias alternativas plurais e substanciais no campo da formação de professores que até os dias atuais emergem em diferentes contextos e experiências formativas.

Essa ruptura teoricaepistemológica com os princípios freirianos, de luta política, situada em uma realidade concreta e com fins à libertação de todos deu lugar a um outro paradigma na educação, na formação de professores e na pesquisa científica, com a acentuada valorização das histórias de vida e das narrativas que deram centralidade aos professores como pessoas, não separando essas dimensões do ser pessoa e profissional, como elucida Nóvoa (2007).

Aliás, com Nóvoa (2007) vamos compreender que houve nas palavras do autor uma viragem epistemológica no campo das ciências da educação e da formação, no sentido de uma mudança nos processos investigativos, das práticas pedagógicas e dos modos de produzir conhecimento científico, dando visibilidade aos professores, que outrora não eram consideradas as suas vidas pela centralidade com que se configuravam hegemonicamente a ciência e a educação.

Por isso, refletimos como Boaventura de Sousa Santos (2010), quando buscamos situar a perspectiva da abordagem da pesquisaformação narrativa (auto)biográfica na educação e na formação de professores, que passamos a entrelaçar com o pensamento deste autor, no sentido de que passamos a tecer uma outra epistemologia concreta, sensível e fundante, erigindo assim, um paradigma pautado no pilar da emancipação, na composição de uma racionalidade estéticoexpressiva que concebe o ser humano, em sua cultura, com o saber e conhecimento que possui de si, da vida e do meio à sua volta.

As contribuições das narrativas (auto)biográficas no campo da formação de professores se revelam como uma possibilidade potencial de transformação e emancipação dos sujeitos, quando passam a se ver e refletir pelo escrito, tomando consciência dos percursos trilhados em suas experiências de vida, profissionais e formativas, dando outras dimensões a sua existencialidade.

Afinal de contas, acreditamos tanto quanto faz Passeggi (2016) em relação ao trabalho que já vem empreendendo há mais de duas décadas no campo da pesquisa com professores pesquisadores, trazendo a centralidade da pesquisa autobiográfica, elucidando que:

Os professores que refletem a respeito de suas experiências e as lições aprendidas na docência, que tiveram a possibilidade de refletir sobre a docência com seus pares, seriam mais suscetíveis de responder à situações difíceis e/ou imprevistas com maior segurança por ter aprendido a melhor se compreender em situações de risco e a sair delas (PASSEGGI, 2016, p.83).

À medida em que vão produzindo um saber que lhes é próprio e que seja oriundo do saber da experiência, os professores vão construindo determinadas táticas relacionadas ao seu universo, as quais permitem (re)elaborar os saberes da prática pedagógica e os dispositivos teoricometodológicos e epistemológicos que subjazem ao seu campo profissional, formativo, pessoal e experiencial.

Por isso, se faz mister empreender o que Freire chama (1996, p.25) de curiosidade epistemológica, no lugar de um saber ingênuo e estático, que não leva a mudanças e que seja capaz de alcançar um verdadeiro conhecimento de si, do diálogo com seus pares e educandos e da realidade à sua volta como um todo.

Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino. Exercer a minha curiosidade de forma correta é um direito que tenho como agente e a que corresponde o dever de lutar por ele, o direito à curiosidade (FREIRE, 1996, p.85).

Com essa reflexão, é possível estabelecermos um elo com o campo das narrativas (auto)biográficas que se inscrevem como um modo tangível e muitas vezes inteligível no campo da formação de professores, tornando-se uma via indispensável de transformação e emancipação das consciências, na perspectiva de construir um tecido fortalecido da profissão e da vida.

Isso poderá acontecer, na medida em que o professor perceber as contribuições e potencialidades de registrar sua experiência de modo narrativo pela escrita, pois, o movimento de si perceber pelas escritas de si, traz um universo de saberes, conhecimentos e, consequentemente, transformações que se configuram como emancipatórias na vida e na profissão docente.

Registrar a experiência narrativamente, é um meio privilegiado de tecer uma figura de si no contexto de uma subjetividade, o que para Delory-Momberger (2008, p.82) implica na construção de uma biografização, consistindo “[...] como um processo segundo o qual os indivíduos constroem a figura narrativa de sua existência” e que “torna-se, na sociedade individualizada, uma forma essencial de socialização”.

Por isso, a vida e obra de Paulo Freire continuam vivas no imaginário e na memória da sociedade brasileira, sejam como boas e valorosas reflexões no campo da educação e da formação humana, como de críticas, muitas das quais, daqueles que não compreenderam o seu pensamento ou não comungam com suas ideias.

Mas, enfim, o que se torna caro para nós, enquanto professores pesquisadores narradores, é percebermos a atualidade de seu pensamento, e que faz muito sentido para o momento que ora enfrentamos de pandemia, e de crise política mais precisamente no cenário nacional, e que vem impactando em muito, as formas de vida, e é claro, as políticas educacionais que resvalam diretamente na academia (no âmbito das universidades públicas mais especialmente) e nas práticas pedagógicas (no que diz respeito ao cotidiano da escola básica), nem sempre valorizando esses contextos, quanto menos os professores que estão na luta diária para construir uma educação de qualidade e um mundo caraterizado por justiça e equidade social.

Queremos reforçar a fertilidade e potencialidade do legado de Paulo Freire para a educação e a formação de professores no Brasil, o qual foi de uma inestimável contribuição para termos a educação que temos, e até a sociedade que construímos, pois, muito dele herdamos, refletimos e desenvolvemos no campo educacional, e em várias outras dimensões em que se materializam práticas educativas e pedagógicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma pedagogia narrativa é aquela em que se materializam saberes e experiências formativas pautadas no diálogo e na escrita (auto)biográfica reflexiva tecida por professores/professoras, estudantes e profissionais da educação a partir de si e em partilha com muitos outros com os quais estabelecem relações educativas e pedagógicas em um determinado contexto sociocultural.

Não se trata de uma narrativa oral e/ou escrita pautada por um formalismo e preconizada no âmbito de uma ciência cartesiana e positivista, pelo contrário, é um modo de dizer de si, em uma escrita subjetiva e singular, compondo uma história de vida pelo registro cotidiano pelo qual tece a vida, a experiência e a formação, produzida nas tramas da sensibilidade, da emoção e das sentimentalidades em articulação com o rigor teoricoepistemológico que é capaz de ser produzido no campo científico, pedagógico e profissional.

Com Paulo Freire, tivemos uma contribuição memorável no desenvolvimento de uma pedagogia narrativa, pois o educador foi produzindo um saber e um conhecimento que se pautava em sua própria vida em diálogo com educandos e educadores, trazendo luz a um campo de possibilidades críticas e reflexivas que, em seus escritos, se compuseram narrativamente, e que revelaram muito do que poderia trazer de transformações na educação e na sociedade brasileira, como até hoje ainda se faz presente essas conquistas.

Estamos perante a uma pedagogia para seres humanos livres, sendo o ponto de partida “assumir a liberdade” e a crítica do modo de ser gente em todos os espaços sociais. E esta conscientização de liberdade, significa o começo para a busca de uma posição de luta. Essa pedagogia, ocupa uma dimensão no campo da prática, política e social. A liberdade plena só se comunga quando está ligada à luta concreta dos homens pela libertação. (FREIRE, 2014)

Dessa maneira, o reconhecimento de Freire é de tamanha magnitude que extrapolou fronteiras fora do Brasil, produzindo diálogos potentes, que são rememorados nas produções e escritas que outros pensadores foram produzindo em diálogo com ele, e que temos acesso, até a contemporaneidade.

A pedagogia narrativa com que Paulo Freire empreendeu, representou um divisor de águas no campo da formação de professores, e reverberou em diferentes correntes de pesquisa, como na tessitura das pesquisas em educação, e na consequente ampliação do campo das narrativas (auto)biográficas, que, pelo seu legado, foi-nos possível acessar e tecer outras tantas epistemologias.

Cada vez mais, se torna crescente o campo das narrativas (auto)biográficas no Brasil, revelando a sua importância para os processos formativos de professores pesquisadores que encontram nas escritas de si, um modo privilegiado de formação, aprendizado, construção do conhecimento, emancipação das consciências e transformação.

Paulo Freire trouxe brilho e cor ao modo de escrita na vida, formação e prática de professores, possibilitando refletir o quão significativo e valoroso é registrar narrativamente pelo sujeito a sua existência e como isso tem contribuído, potencialmente, na formação humana.

Quanto mais reflexões o docente mobilizar, de forma oral, escrita e em outros suportes, suas narrativas (auto)biográficas em primeira pessoa para pensar a si e em sua prática, em diálogo com seus pares e educandos, bem como tecida com outras tantas pessoas que puder dialogar, tanto mais será possível tecer uma epistemologia da formação, que enriquece o seu saber, o saber ser e o saberfazer como dimensões potencializadoras de formação e de libertação.

1Trata-se do curso de difusão cultural (modalidade extensão universitária), tematizado: Programa de Formação Continuada de Professores: uma ênfase cultural – Paulo Freire, e ministrado por docentes e doutorandos em educação da FE/UNICAMP no ano de 2019. Promovido pela Escola de Extensão da Unicamp (EXTECAMP).

2A junção de duas ou mais palavras é uma escolha política, metodológica e epistemológica que assumimos, mobilizados pelos estudos nos/dos/com os cotidianos no qual temos a referência maior em Nilda Alves (2003), uma das fundadoras dessa corrente de pesquisa no Brasil por volta da década de 1980. Tal uso de duas ou mais palavras juntas e destacada em itálico, tem a finalidade de inventariar outros significados e sentidos na produção do conhecimento científico, ultrapassando uma forma de escrita hegemônica e clássica pautada nos princípios da visão neuwtoniana-cartesiana, e contrariamente ousamos criar e inventar outras palavras para buscar responder ao que compreendemos que se articula e se situa com a finalidade da linguagem expressada na escrita científica e para dar consistência aos significados que produzimos em nossos escritos. Essa e outras palavras aparecerão nesse texto com esse sentido.

REFERÊNCIAS

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Recebido: Agosto de 2021; Aceito: Outubro de 2021

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