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Revista Teias

versión impresa ISSN 1518-5370versión On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.23 no.69 Rio de Janeiro abr./jun 2022  Epub 28-Feb-2023

https://doi.org/10.12957/teias.2022.65948 

Migração e refúgio: desafios educativos entre desigualdades e diferenças

CONSTRUINDO UMA UNIVERSIDADE INTERNACIONALIZADA: um estudo sobre a permanência estudantil na universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)1

BUILDING AN INTERNATIONALIZED UNIVERSITY: student retention at the at the University of International Integration of Afro-Brazilian Lusophony (UNILAB)

CONSTRUYENDO UNA UNIVERSIDAD INTERNACIONALIZADA: un estudio sobre la permanencia de los estudiantes en la Universidad para la Integración Internacional de la Lusofonía Afro-Brasileña (UNILAB)

Luciana dos Santos Jorge1 
http://orcid.org/0000-0002-9441-5842; lattes: 3872666600628688

Carla Craice da Silva2 
http://orcid.org/0000-0002-9598-2275; lattes: 4167151776504048

Luciana Schleder Almeida3 
http://orcid.org/0000-0002-4800-7602; lattes: 0237173837392340

1Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)

2Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)

3Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)


Resumo

A Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) foi criada em 2010 com a proposta de integrar Brasil e África. Além de ser uma universidade com presença maciça da população negra dos interiores da Bahia e do Ceará, onde se localizam os campi, possui cerca de 25% do corpo discente vindo de Países de Língua Oficial Portuguesa (Palop), principalmente do continente africano, o que traz desafios pelas características deste corpo discente: predominante negra e africana. Este artigo tem como objetivo analisar as questões relativas à permanência dos estudantes da Unilab. O campo da pesquisa foi realizado entre os meses de janeiro e abril de 2021, durante o período de pandemia com aplicação de questionários e a utilização de diários para estudantes ingressantes do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades. Os registros trazem questões sobre as dificuldades financeiras, aspectos sobre o desenvolvimento da escrita e, não menos importante, as saudades de familiares. Observou-se que, mesmo estudantes atendidos pelo Programa de Assistência ao Estudante (PAES), estão em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Garantir a permanência dessa juventude é algo desafiador especialmente pela especificidade do projeto Unilab, o que exige um olhar sobre as trajetórias desses(as) estudantes.

Palavras-chave: juventude negra; estudantes internacionais; permanência estudantil; Unilab.

Abstract

The University of International Integration of Lusophony Afro-Brazilian (Unilab) was created in 2010 with the proposal to integrate Brazil and Africa. Besides being a university with a massive presence of the black population of the interior of Bahia and Ceará, where the campuses are located, the university has about 25% of the students coming from Portuguese-Speaking Countries (PALOP), mainly from the African continent. This article aims to analyze the issues related to the student retention of Unilab. The research was carried out between the months of january and april 2021, during the pandemic time, with questionnaires and diaries. The diaries bring up questions about financial difficulties, aspects about the development of writing, and, not least, missing family members. It was observed that even students assisted by the Student Assistance Program (PAES) are in a situation of socioeconomic vulnerability. Ensuring the retention of these young people is something challenging, especially due to the specificity of the Unilab project, which demands a look at the trajectories of these students.

Keywords: black youth; international students; student retention; Unilab.

Resumen

La Universidad de Integración Internacional de la Lusofonía Afrobrasileña (Unilab) fue creada en 2010 con la propuesta de integrar Brasil y África. Además de ser una universidad con una presencia masiva de la población negra del interior de Bahía y Ceará, donde se encuentran los campus, cuenta con cerca de un 25% del alumnado procedente de los Países de Lengua Portuguesa (PALOP), principalmente del continente africano. Este artículo pretende analizar las cuestiones relacionadas con la permanencia estudantil de la Unilab. El campo de investigación se llevó a cabo entre los meses de enero y abril de 2021, durante el periodo de pandemia con la aplicación de cuestionarios y el uso de diarios para los estudiantes que ingresan al Bachillerato Interdisciplinario en Humanidades. Los registros plantean cuestiones sobre las dificultades financieras, aspectos sobre el desarrollo de la escritura y, no menos importante, los familiares desaparecidos. Se observó que incluso los estudiantes asistidos por el Programa de Asistencia al Estudiante (PAES) se encuentran en una situación de vulnerabilidad socioeconómica. Asegurar la permanencia de estos jóvenes es algo desafiante, sobre todo por la especificidad del proyecto de la Unilab, que exige una mirada a las trayectorias de estos estudiantes.

Palabras clave juventud negra; estudiantes internacionales; permanencia estudantil; Unilab.

INTRODUÇÃO

No Brasil, os anos 2000 foram marcados por avanços no âmbito de políticas que visavam a democratização do ensino superior através do plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) (BRASIL, 2007) com expansão de vagas e abertura de novas universidades. Além da expansão, as políticas de ações afirmativas garantiram o ingresso amplo da juventude de origem popular nas universidades brasileiras. Durante esse processo, foi criada a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) como um projeto de reparação histórica voltada à integração Brasil-África, localizada no interior dos estados do Ceará e da Bahia. A Unilab, sendo assim, abarca uma multiplicidade de faces na sua comunidade: estudantes negros, em especial do interior, e estudantes dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Guiné-Bissau, Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe e Timor Leste.

No ambiente universitário, os(as) estudantes devem traçar estratégias para enfrentar os desafios da permanência, superando as dificuldades no percurso para conseguir o diploma que tanto almejam. Como garantir a formação adequada desse novo público e a conclusão do curso? O presente artigo tem como objetivo analisar aspectos relativos a permanência que interferem no desenvolvimento acadêmico dos ingressantes no curso de Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades do Campus dos Malês no Recôncavo da Bahia, tanto de estudantes internacionais como também os interiorizados. Ao longo do trabalho, considerou-se a voz dos(as) estudantes como central. Para efetivar tal perspectiva, a metodologia da pesquisa envolveu a escrita em um “diário de afiliação”, distribuídos a um grupo de estudantes entre fevereiro e abril de 2021.

Aqui entende-se que falar de permanência no âmbito universitário é abordar muito mais do que a assistência material ofertada pela universidade. Trata-se de demonstrar como o cotidiano, as vivências, as dificuldades e os desejos desses estudantes impactam no seu permanecer universitário. Dessa forma, o presente artigo parte dos conceitos de afiliação institucional desenvolvido por Alain Coulon (2017) e de “permanência universitária” abordada por Dyane Santos (2009). “Afiliação institucional” está relacionada ao processo de adaptação do(a) estudante ao novo ambiente, condição básica para que o(a) jovem ingresse intelectualmente nas novas modalidades de aprendizado. No que tange à permanência universitária, são abordadas duas vertentes: a permanência material e a permanência simbólica. A primeira está relacionada aos recursos materiais e financeiros para permanecer na universidade; enquanto a segunda se relaciona com o processo de adaptação e assimilação aos códigos universitários.

AVANÇOS NA DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO SUPERIOR: A UNILAB

No Brasil, a partir de 2000, as políticas de ações afirmativas pouco a pouco democratizaram o acesso à universidade, garantindo a entrada de jovens de camada popular, negra e indígena na educação superior . A constituição das ações afirmativas se deu muito pelas lutas e reivindicações dos movimentos negros (GOMES, 2011), momento quando “a universidade se vê, então, cobrada por maior envolvimento com as questões sociais, principalmente por meio da produção, divulgação e aplicação dos conhecimentos e pela democratização do acesso aos seus cursos” (LIMA; MACHADO, 2016, p. 389). Um dos resultados desse processo foi a Lei 12.711 ou a Lei de Cotas instituída em 20122. De acordo com essa lei, cerca de 50% das vagas nas instituições federais de ensino superior e Institutos Federais devem ser destinadas a estudantes oriundos de famílias com renda igual ou inferior a 1,5 saláriomínimo.

Junto com as tensões pela democratização do ensino superior brasileiro, os processos de reestruturação produtiva e de globalização têm exigido dos Estados estratégias de estabelecer relações cada vez mais intensas com outros países ou estabelecer novas articulações internacionais. A partir dos anos 2000, o governo brasileiro buscou construir uma nova articulação em nível internacional, intensificando sua relação com o Sul global, denominada como cooperação Sul-Sul, incluindo nesta política um maior diálogo com os países do continente africano. Uma das estratégias utilizadas foi o estabelecimento de acordos de cooperação voltados para a internacionalização do ensino superior (BARROS; NOGUEIRA, 2015; MUNANGA, 2018).

Nesse contexto, quando “[...] o mundo lusófono tornou-se, então, região privilegiada na estratégia das relações internacionais brasileiras” (UNILAB, 2013, p. 7), foi criada a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) a partir da lei n. 12.298 de 20 de julho de 2010. O projeto da Unilab foi concebido para estabelecer maiores relações com os Países de Língua Oficial Portuguesa (Palop), em especial aqueles da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor Leste além do Brasil), se constituindo, assim, como uma universidade internacional. Para concretizá-la como uma ferramenta de atuação pela cooperação internacional, as diretrizes institucionais garantem a presença de corpo discente e docente proveniente dos diferentes países da CPLP, com a meta de atingir 50% de estudantes internacionais3 na instituição (UNILAB, 2010). Além disso, os cursos e disciplinas devem ser pensados considerando os interesses mútuos do Brasil e outros países da CPLP, segundo a própria diretriz de criação da universidade (UNILAB, 2010)4.

Em seus países de origem, esses jovens enfrentam alguns desafios para ingressar nas universidades nacionais, seja pelo número muito reduzido de vagas ou por outras questões que excluem grande parte dos jovens do ingresso nas instituições. Nesse sentido, a UNILAB se apresenta como uma via mais democrática para o acesso ao ensino superior (SILVA, SOUZA, BERTHILLON, 2021). Migrar, nesse sentido, torna-se um caminho de possibilidades e, ao mesmo tempo, de incertezas e desafios que impactam na vida desses jovens e da sociedade a qual eles passam a fazer parte.

Além deste grupo internacional, a Unilab sendo uma universidade concebida via Reuni implantou seus campi em municípios do interior da Bahia e do Ceará. Com isso, moradores desses interiores tiveram uma opção de ingressar no ensino superior como demonstra uma estudante quilombola da cidade de São Francisco do Conde: “A chance de ingressar em um curso que eu já tinha interesse, e mais perto de casa.” (Adriana, estudante brasileira). Até o Reuni, as universidades públicas eram centralizadas nas capitais, sendo quase inexistentes nas áreas interioranas.

A interiorização da oferta de educação superior é fulcral para se combater as desigualdades no desenvolvimento regional e atingir estudantes sem condições de se deslocar para outras regiões. Os investimentos na interiorização da universidade pública e nas políticas de democratização do acesso desenvolvidas pelo governo federal podem contribuir para o enfrentamento de outras questões que envolvem a universidade, ainda pouco debatidas, como as desigualdades de gênero, sexualidade, etnia entre outras. (SANTOS, 2017, p. 14)

De acordo com Souza (2019), ao incorporar em seus quadros negros, indígenas, quilombolas e, sobretudo, por atender à internacionalização, a Unilab também se tornou a primeira política de ação afirmativa para atendimento de africanos no Brasil. Atualmente, o somatório de estudantes negros na Unilab representa 85%5 entre a comunidade discente. Assim, devido a sua concepção enquanto universidade, a instituição pode ser tida como uma política social para o atendimento àqueles grupos excluídos e marginalizados (SOUZA, 2019) com uma internacionalização solidária, diferentemente da internacionalização tradicional que se fundamenta na competitividade e no mercado globalizado (MOROSINI, 2011).

PERCURSO METODOLÓGICO

O percurso metodológico da presente pesquisa se constituiu na combinação de métodos quantitativo e qualitativo, ou seja, numa abordagem de métodos mistos (CRESWELL, 2010). Como ressalta Minayo (2017), existem pressupostos relevantes dos dois métodos, sendo que “[…] pesquisas qualitativas e quantitativas se complementam, mas são de natureza diversa. Uma trata da magnitude dos fenômenos, a outra, da sua intensidade. Uma busca o que se repete e pode ser tratado em sua homogeneidade, a outra, as singularidades e os significados” (MINAYO, 2017, p. 2). Optou-se, nesse sentido, pelo que Creswell (2010) tem denominado de investigação explanatória sequencial, com o quantitativo precedendo o qualitativo.

O grupo pesquisado foi composto por estudantes dos três semestres iniciais do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades (BIH) do Campus dos Malês (BA). A escolha por tal grupo se deu pelo fato do BIH possuir um maior número de ingressantes e por compor o primeiro ciclo de grande parte dos cursos do campus dos Malês da Unilab, ou seja, esses estudantes podem cursar posteriormente os cursos de Ciências Sociais, História, Pedagogia e Relações Internacionais. Segundo Coulon (2017), o primeiro ano é decisivo para os estudantes no processo de afiliação, pois é durante esse período enfrentam as maiores dificuldades por não possuírem “o nível requisitado e um certo número de hábitos culturais e sociais que não lhes facilitava a entrada nesse meio universitário” (COULON, 2017, p. 1241).

Assim, como primeiro passo metodológico, ocorreu a aplicação on-line de um survey, abrangendo os temas: caracterização sociodemográfica, dificuldades de adaptação à universidade e de permanência universitária e recursos tecnológicos necessários para o ensino remoto (este último grupo de questões incluído devido ao cenário de pandemia no momento da pesquisa). Participaram da pesquisa 61 estudantes, entre brasileiros (54,1%) e estudantes internacionais dos países de Angola e Guiné Bissau (45,9%)6.

Os resultados obtidos na primeira parte deste estudo apontam que o perfil do estudante do curso de BIH é formado predominante por pessoas negras, em que o somatório de negros (78,7%) e pardos (13,1%) totalizam 91,8%, totalizando 56 autodeclarados negros e pardos entre os 61 estudantes. A idade média é entre 18 a 35 anos (91,8%), seguido de 6,6% entre 36 a 45 anos, com apenas uma exceção (no intervalo de 46 ou mais), sendo os primeiros de sua família a ter acesso ao ensino superior (52,5%), cursando a sua primeira graduação (98,4%). Verificou-se que quase a totalidade afirmou que possui uma renda mensal aproximada de menos de um salário mínimo (56%), proveniente em sua maioria do auxílio fornecido pela universidade (76,2%).

Como segundo passo, adotou-se a técnica de um “diário de afiliação” visando ter um registro do cotidiano dos estudantes, buscando acompanhar a incorporação do que Coulon (2017) chamou de “assimilação dos códigos existentes na universidade”. Este método consistia na entrega de um diário a um grupo de estudantes para que escrevesse com frequência sobre questões relativas aos seus estudos, uma proposta que se alinha ao quadro qualitativo da investigação realizada. A adoção do diário teve como objetivo, além de observar as transformações evolução dos estudantes ao longo do semestre, entender suas dificuldades cotidianas e fazer com que os mesmos tivessem essa percepção sobre si.

Foram entregues oito diários de afiliação a um grupo de estudantes composto por três nacionalidades distintas que estão presentes no campus e com uma preocupação em abarcar mulheres e homens, como apresentado na tabela 1, entregues em fevereiro de 2021 e recolhidos em abril do mesmo ano. Ao longo deste artigo, optou-se por manter a grafia tal qual escrita nos diários na reprodução das falas7 e por não utilizar os nomes verdadeiros dos estudantes. Os discentes fizeram registros sobre o que eles definiram como fatores que interferiram na sua permanência na universidade, entre outros registros que considerassem pertinentes relacionados à vida universitária.

Tabela 1 Dados dos participantes 

Nome (fictício) Nacionalidade Faixa etária
Antônio Guineense 18 a 25 anos
Janica Brasileira 18 a 25 anos
Kely Brasileira 18 a 25 anos
Vinicius Angolano 18 a 25 anos
Jaqueline Brasileira 36 a 45 anos
José Brasileiro 46 anos ou mais
Leandro Guineense 26 a 35 anos
Adriana Brasileira 18 a 25 anos

Fonte: elaborada pelas autoras, 2021.

AFILIAÇÃO INSTITUCIONAL E PERMANÊNCIA NA UNILAB

De acordo com Coulon (2017), o processo de afiliação institucional é composto pelas seguintes etapas: a primeira fase consiste no estranhamento, momento em que os estudantes se separam de um passado familiar, quando percebem as transformações nos níveis de exigência e conteúdo das aulas, a segunda fase um momento intermediário de percepção da mudança, e a terceira fase, com a concretização da afiliação. Especificamente, a segunda fase é quando o estudante está entre dois momentos da vida escolar. Nota-se que sua vivência acadêmica não possui a familiaridade com o seu passado escolar, mas ainda não está sólido no seu futuro universitário, tratando-se do “tempo da aprendizagem [...] vivido de forma dolorosa, repleto de dúvidas, incertezas e ansiedades [...]” (COULON, 2017, p. 1246). Já a última fase é o tempo em que se concretiza a afiliação da juventude, etapa marcada por uma maior aderência aos trabalhos na universidade e uma melhor “expressão escrita e oral, inteligência prática, seriedade, ortografia, presença de referências teóricas e bibliográficas nos trabalhos escritos” (COULON, 2017, p. 1246).

O processo de afiliação se relaciona diretamente ao desafio enfrentado pelos jovens das camadas populares: o desafio da permanência e, consequentemente, da conclusão do seu curso. Quando se trata daqueles advindos da camada popular, é necessário considerar que eles tendem a ter dificuldades específicas por estarem em um ambiente que antes era tido como impenetrável (SAMPAIO, 2011).

Para conceituar como a permanência é tratada nesta pesquisa, usaremos Santos (2009). Para a autora, os(as) estudantes, de forma geral, se deparam com duas dimensões que influenciam na sua permanência no ambiente universitário: a material e a simbólica:

[...] duração e transformação, é o ato de durar no tempo, mas sob um outro modo de existência. A permanência traz [...] uma concepção de tempo que é cronológica (horas, dias, semestres, anos) e outra que é de um espaço simbólico que permite o diálogo, a troca de experiências e a transformação de todos e de cada um. (SANTOS, 2009, p.68)

Corroborando com Santos, Cunha (2017) define a permanência na universidade como as “condições materiais e imateriais dos estudantes na condução dos seus percursos formativos na educação superior” (p. 67). Quando ingressam na universidade, os(as) estudantes se deparam com conteúdos considerados complexos e a exigência de leituras diárias. Como relatado por uma estudante, a “cada semana [é] um desafio novo, um texto para produzir, uma atividade para responder[...].” (Kely, brasileira).

Os estudantes ingressam com a preocupação primeira da sua permanência material e tendem a buscar estratégias para sobreviver na universidade. Quanto a isso, uma estudante, Janica, relatou uma estratégia que ela tem adotado:

Fiz uma segunda etapa de entrevista para um curso que encaminha para emprego e a resposta só sai no final de semana, na semana passada já havia realizado também uma entrevista de bolsa para universitários pretos de baixa renda. Antes da entrevista da bolsa havia feito um vídeo e uma redação. E o curso também, já havia realizado uma prova. No dia anterior saiu o resultado da bolsa para universitários que haviam feito a entrevista, eu não fui selecionada e essa era a minha segunda tentativa anos seguidos. Nesse dia, saiu o resultado da outra entrevista e eu também não fui selecionada e de certa forma isso me frustrou e acabou impactando no meu desempenho em algumas aulas. (Janica, brasileira)

O trecho acima demonstra como a permanência está atrelada à busca de condições financeiras para se manter na universidade, por meio de bolsas ou de trabalho remunerado, um dilema recorrente de quando se trata de jovens de camadas populares. A frustração com as recusas na busca por emprego reflete diretamente no desempenho nas disciplinas de forma instantânea, como também poderá ter repercussões sobre concluir ou não o curso.

As dinâmicas da vida externa à universidade, de natureza pessoal e familiar, se atrelam à questão da permanência desses jovens e ao seu processo de afiliação institucional (COULON, 2017). Os estudantes então se veem divididos e se cobram:

Agora estou no horário de almoço, preciso ler um texto, analisar e formular um outro texto com minhas impressões. No dia 20 de janeiro começou a minha nova rotina; acordar às 4:30, sair de casa às 5:00 e retornar às 20h. Acredito que esteja se perguntando quando estudar. Bom, tento estudar no horário de almoço e as aulas assisto no ônibus retornando para casa. Conciliar o trabalho com a rotina de estudos está sendo muito difícil, mas, não posso abrir mão de nenhum dos dois nesse momento, e talvez, analisando minha realidade, acabo constatando que não é possível apenas estudar. Que a fome não devore meu corpo, mas, meu cérebro devore os livros! (Kely, brasileira)

A fala de Kely demonstra o encaixe de horários entre as atividades da universidade na dinâmica de vida que envolve o trabalho. Tanto o trabalho como os estudos se mostram relevantes, e Kely acredita que não deve abrir mão de nenhum deles. Porém o trabalho é o que garante o sustento, assim os estudos entram nos momentos possíveis dentro do trabalho, o que impossibilita uma maior presença e a troca na universidade, dificultando o processo de afiliação.

Na universidade, também há o atendimento a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que se realiza através do Programa de Assistência ao Estudante (PAES) e do Programa de Bolsa Permanência (PBP), ambos financiados por recursos do governo federal através Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). O Paes é o programa central da Unilab quando se fala na permanência estudantil em termos materiais e é também a maior preocupação dos(as) estudantes da instituição quanto ao seu permanecer.

Hoje estou vivendo uma vida difícil da minha estadia, por causa dos meios financeiros, e estou muito preocupação [preocupado] de não ter nada para fazer o meu suporte. No entanto, o meu pensamento está em constante preocupação e fiquei sem auxílio durante um ano completo, então levou me muita lamentação, não como bem porque não há meios financeira, quando as matérias para fico às vezes com fome e nem posso estudar, no entanto, se não haver esta condição de me manter o meu estudo [sic]. (Antônio, guineense)

Segundo Souza (2019), ao se limitar a atender as necessidades básicas dos estudantes através do PAES, a prática da assistência estudantil não reflete as especificidades dos estudantes que estão na instituição. Há necessidade de criar novas práticas do serviço social, que reconheça outras experiências, valores, identidades e formas socioculturais de ser da comunidade negra. Para os(as) estudantes internacionais, as bolsas do PAES são ainda mais fundamentais, pois estes(as) não possuem uma rede familiar de suporte em momentos mais difíceis e possuem maior dificuldade em encontrar um emprego, principalmente nos municípios pequenos onde está localizada a Unilab. Além dos recursos esparsos, alguns estudantes internacionais são mobilizados para enviar apoio financeiro aos familiares no país de origem, conhecido como remessa, uma preocupação a mais no seu cotidiano.

Também, por outra parte, muitas das vezes a família faz um pedido de dinheiro para você, tipo quando houver uma necessidade, doença e entre outros… não porém para pensar que você tá numa universidade, não numa atividade econômica. (Leandro, guineense)

Após ingressarem, os estudantes aguardam a abertura do período de inscrição para participar do processo seletivo e aguardam ansiosamente a relação de matrículas contempladas. Os diários revelam que mesmo beneficiários do programa, sofrem quadros de insegurança alimentar dramáticos:

Hoje a minha vivência foi uma vivência muito complexo divido[devido] as minhas condições financeiras sempre fico as vezes sem comer por causa dos alimentos. ainda não consigo por dominar os meus sofrimentos e fico mesmo com muita pressão mentalmente sem ter a própria folga por causa desta carridade [caridade]8 vivencial. Como seria o meu estudo? então questiono outra vez se você não se alimenta bem, come bem, será pode ter a resistência de ler/estudar os livros ou matérias de 1.ooo p. , 80,50,30,40,60, etc? É que muitas das vezes eu fico perdendo a energia de estudar durante 24 sobre 24 horas, e meu pescoço aguenta. por causa de não comer bem, este é a minha preocupação que eu tenho diariamente e estou sem nada mesmo [sic]. (Antônio, guineense)

A situação de vulnerabilidade, muitas vezes, pode se agravar em função das condições de moradia num contexto em que falta residência estudantil. Com a escassez de imóveis adequados e os preços exorbitantes de locação, muitos estudantes optam por coabitar, “[…] em grupos de 3 a 6 estudantes, um mesmo imóvel, partilhando cômodos a fim de poder economizar a bolsa-auxílio de 530 reais que recebem do governo brasileiro como parte da política de permanência estudantil na Unilab” (LUCCA; BUTI, 2021, p. 134). O survey apontou que 50,8% dos estudantes residem com colegas que conheceram na Unilab e que os acolheram e auxiliam no seu processo de adaptação. Desses 28% residem com colegas que conheceram antes de sua vinda e 72% após o seu ingresso. Os diários apontaram que, mesmo em conjunto e com poucos recursos, é muito difícil para quem vem de famílias carentes suprir as suas necessidades básicas e cumprir com compromissos mensais como aluguel, energia e água, alimentação, produtos de higiene, lazer, etc.

Para hoje a abordagem seria o auxílio estudantil. Ora bem, sabemos que, pa lei do mercado quando tem muita procura o preço o valor aumenta. No entanto, queria com isso dizer a cidade não é muito desenvolvida, porém, tendo em conta ela sedo de concentração de muitos estudantes o preço de aluguer aumenta de maneira que ninguém pensa. Portanto, na minha gostaria que se o Unilab mobilize junto ao governo sobre o aumento de auxílio, pois R$530,00 já não está correspondendo com o que a cidade exige[...] [sic]. (Leandro, estudante guineense)

PERMANECER, PARA ALÉM DO MATERIAL, É SIMBÓLICO!

A assistência no âmbito material é essencial para o permanecer dessa juventude, entretanto somente ela não contempla todas as necessidades relacionadas à adaptação aos ritos universitários. Os diários revelam os conflitos íntimos quando as demandas não permitem um bom desempenho acadêmico, situação agravada pela imposição do ensino remoto. No caso de estudantes internacionais, a condição migrante os afasta das redes de apoio de seus locais de origem e impõe longos períodos de afastamento. Mesmo no caso de estudantes brasileiros, nem tão distantes de suas famílias, o mesmo afastamento é imposto por compromissos laborais:

Meu contato como aprendiz finalizou, estava pensando em ir no interior, na minha cidade vê minha mãe, sentir seu abraço afetuoso e acolhedor. Mas surge uma vaga de emprego e diante da situação difícil que minha vida e meu corpo estão imersos, escolhi ficar e trabalhar. (Kely, estudante brasileira)

Com a pandemia, o ensino remoto se mostrou como uma alternativa para continuidade das aulas, porém para muitos estudantes se tornou um grande desafio, em especial estudantes mães que passaram a compartilhar a sala de aula (remota) com o cuidado com os filhos. Uma estudante relata: “Os dias passam e as coisas se agravam [...] sinto medo, mas tenho que me recompor por causa do meu filho. Essas aulas à distância meu Deus, não é todo dia que estou com paciência. Fazer o quê? é a única forma de dar seguimento ao meu sonho” (Jaqueline, estudante brasileira). Porém, apesar do desgaste emocional, Jaqueline se mantém na universidade indicando como razão para isso uma dimensão recorrentemente relatada que apoia a permanência na universidade: o sonho do ensino superior.

Já os estudantes internacionais são envoltos na distância dos seus familiares e amigos que estão nos seus países, lembrando que o estudante imigrante é também um emigrante (SAYAD, 1998), ou seja, uma experiência que abrange não apenas o lugar onde se habita no momento, como também o lugar onde deixou.

Começo hoje por falar da preocupação e saudades da família, principalmente estudantes internacionais, sobretudo quando a comunicação não passa devido fraca internet quer com eles assim como comigo. Abordagem de alguns problemas familiares, falecimento de figuras importantes na família, que as vezes impossibilita nosso sucesso. (Leandro, guineense)

A distância e as inseguranças relacionadas à saúde agravadas pela pandemia se fez presente em alguns momentos de forma a afetar os estudos. Além disso, os países dos quais esses estudantes veem possuem uma precária estrutura de internet, dificultando a comunicação conforme relatado.

Quanto aos fatores que influenciam a vinda dos estudantes dos PALOP para a UNILAB, os estudantes internacionais destacaram a oportunidade de acesso ao ensino superior de forma gratuita e a busca por um ensino baseado na multiculturalidade e integração de povos (SILVA, SOUZA, BATHILLON, 2021). No país acolhedor, eles se deparam com diferentes culturas que compõem a sociedade brasileira e assim eles precisam se adaptar a um novo modo de vida. "[...] O ato de migrar, temporário e especial, informa e repercute nas visões de mundo e nas expectativas identitárias de si mesmo, da família e do mundo africano" (GUSMÃO, 2014, p.45). Isso faz com que não se enxerguem como imigrantes, mas como sujeitos que estão de passagem, devido ao reconhecimento de que não permanecerão no país, pois possuem um tempo determinado de estadia, que pode ser adiado, mas sempre existirá (GUSMÃO, 2014). Esse sentimento é reforçado ao chegarem na UNILAB. Eles veem a sua identidade confrontada, “são transformados e se redescobrem africanos” (LUCCA; BUTI, 2021, p. 132), através do tratamento que recebem por parte da instituição, nos trâmites burocráticos, seguido da reinvenção das suas formas culturais e pela forma que são recebidos pelos moradores da cidade. Isso é resultado do desconhecimento e de uma visão deturpada sobre o continente africano.

Quanto ao último ponto, o mesmo ocorre com estudantes africanos que possuem uma dada imagem referente ao Brasil, um ideário de democracia racial e de festividade sob influência dos meios midiáticos nos seus países de origem. Assim, eles passam pelo processo de se reconhecer como negro, pois em seus países não há a necessidade dessa afirmação, e sentem na pele os efeitos de serem imigrantes negros no Brasil (SILVA, SOUZA, BATHILLON, 2021).

[...] Olhares daqueles que chegam de outros contextos, que estão com suas expectativas e objetividades em suspensão, mesmo que provisoriamente, acabam por trazer informações valiosas, invisíveis e muitas vezes embaraçosas para aqueles habituados na rotina do local. Assim ocorre com os estrangeiros, sejam eles turistas, crianças ou palhaços, que acabam por oferecer visões muito deslocadas daquelas a que nos acostumamos coletivamente (SAMPAIO, 2010, p. 82).

Sobre o processo de afiliação institucional, foi possível identificar duas etapas que os estudantes possuem o entendimento da necessidade de dominar os códigos da universidade para o seu sucesso. Através dos relatos do diário de afiliação foram identificados alguns aspectos que compõem as etapas desse processo. A primeira etapa, definida como a do estranhamento foi identificada nas falas a seguir:

Familiarizando com o curso!

Lá no meu país [Angola] eu fiz Gestão Empresarial no ensino médio e tava dando continuidade com o curso de Gestão financeira na universidade, preciso aprender a surfar nas ondas de humanidades porque agora é a minha nova realidade. (Vinicius, estudante angolano)

Em outro momento esse mesmo estudante demonstra que possui algumas dificuldades referentes aos conteúdos ministrados em seu curso, é o momento em que chega “[...] ao ponto em que certos estudantes se perguntam o que realmente devem fazer.” (COULON, 2017, p.1246). O estudante relata que:

Às vezes me encontro em negação quanto há alguns assuntos debatidos ou lecionados no curso, alguns deles vão contra as ideologias que eu defendo não por ser contra, somente por não compactuar com a forma de actuação. Sinto como se estivesse perdendo tempo navegando no passado […] [sic]. (Vinicius, estudante angolano)

Aspectos da segunda etapa da afiliação universitária, que de acordo com Coulon (2017) é composta por dúvidas, incertezas e ansiedade e que indica a aprendizagem dos códigos universitários é perceptível no relato de dois estudantes a seguir:

[...] nunca pensei que minha escrita fosse de alguma forma gerar alguma sabe, mas enfim, estou aprendendo a escrever, e o processo é contínuo. Preciso dedicar-me e estudar com afinco, para realmente construir produções com qualidades, que some e contribua de algum modo, na vida das pessoas do meu convívio e/ou aquelas que tenha contato com minha escrita. (Kely, estudante brasileira)

[...] muitas vezes, ou seja, há várias dificuldades sobre acesso a questões das materias, tecnologia mas, graça a Deus, me tenho aproveitado basicamente o mais utilizado diáriamente, ou seja, eu me tenho melhorado a questão dita dentro do texto [sic]. (Antônio, estudante guineense)

Os relatos dos estudantes demonstram que a cada “pequena” conquista que os estudantes conseguem durante o seu processo de formação é um passo significativo para o seu processo de afiliação institucional. E são por essas conquistas que eles permanecem, que motiva esses estudantes a continuar seus estudos constituindo estratégias cotidianamente frente aos empecilhos, institucionais e externos, impostos para a sua permanência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a entrada no ensino superior, os estudantes passam a lidar com duas dimensões da permanência estudantil para continuar o seu percurso acadêmico. Por um lado, eles precisam atender as exigências para o seu sucesso acadêmico, expressas através dos códigos universitários e, por outro lado, angariar apoios para estar na universidade. A pesquisa demonstrou que as preocupações relativas à permanência material são tratadas de forma mais direta nos diários, sendo recorrentes trechos dos estudantes tratando sobre a busca por emprego e bolsas (e as recusas), o valor insuficiente dos auxílios ou mesmo momentos de fome.

Assim, aparentemente o registro sobre a permanência material se sobrepõem em diversos momentos sobre a permanência simbólica, contudo, nas entrelinhas, questões acerca da permanência simbólica aparecem nos diários: as saudades do abraço dos seus familiares do outro lado do oceano, as relações afetivas e, com menos frequência, os percalços no desenvolvimento da expressão escrita.

A pandemia atravessou, como se era esperado, os registros do diário. A dificuldade com o ensino remoto e o acúmulo de tarefas domésticas, em especial para mães, apareceu como frustação e desânimo com os estudos. De forma indireta, a pandemia também refletiu nas questões acerca da fome e nas preocupações com saúde, em especial dos familiares.

É possível afirmar que garantir a permanência desses estudantes é algo desafiador, principalmente considerando a especificidade desse projeto Unilab, o que exige um olhar sobre as trajetórias desses estudantes e as múltiplas vivências que uma universidade interiorizada e internacionalizada carrega. Assim, a universidade pode se tornar um ambiente mais propício para a permanência, celebrando essas vivências e trajetórias para a melhoria das práticas de apoio aos estudantes.

2Apesar da Lei de Cotas ter sido instituída em 2012, o sistema de cotas já estava sendo adotado desde os anos 2000, iniciando com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Universidade de Brasília (UnB).

3Atualmente, este percentual está em cerca de 25% segundo UNILAB em Números (disponível em: https://unilab.edu.br/unilab-em-numeros/). Acesso em 04 de março de 2022.

4Sobre este tema, é interessante destacar que há um predomínio de estudantes entre os imigrantes africanos de uma forma geral. Para isso, ver o texto de Baeninger et al. (2019).

5UNILAB em Números (disponível em: https://unilab.edu.br/unilab-em-numeros/). Acesso em 04 de março de 2022.

6Não obtivemos a participação das demais nacionalidades presentes na Unilab. .

7No caso de estudantes guineenses, o crioulo guineense é a língua mais recorrente apesar do português ser a língua oficial do país.

8Nos primeiros meses de pandemia, houve campanha de arrecadação de alimentos destinados a estudantes da instituição para entender estudantes em situação de vulnerabilidade.

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Recebido: 1 de Março de 2022; Aceito: 1 de Maio de 2022

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Este artigo é produto da pesquisa intitulada “Permanência Estudantil na UNILAB: especificidades de uma universidade Interiorizada e Internacional”, viabilizada pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) da UNILAB tendo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB) como agência financiadora.

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