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Revista Teias

versión impresa ISSN 1518-5370versión On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.23 no.70 Rio de Janeiro jul./sept 2022  Epub 23-Feb-2023

https://doi.org/10.12957/teias.2022.67213 

História de mulheres e educação: transgressões, resistências e empoderamentos

A PRESENÇA DAS MULHERES NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

THE PRESENCE OF WOMEN IN THE HISTORY OF EDUCATION IN BRAZIL

LA PRESENCIA DE LA MUJER EN LA HISTORIA DE LA EDUCACIÓN EN BRASIL

Rayane Silva Guedes1 
http://orcid.org/0000-0002-8557-8818; lattes: 3083152642698382

Daniela Oliveira Ramos dos Passos2 
http://orcid.org/0000-0002-3087-0694; lattes: 9472302197930280

1Afiliação institucional: Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado em Educação, Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais E-mail: rayanesguedes15@gmail.com

2Afiliação institucional: Faculdade de Educação da Universidade do Estado de Minas Gerais E-mail: ddanipassos@gmail.com


Resumo

O objetivo deste artigo é o de analisar a construção do campo da história da educação e a contribuição de algumas mulheres no que se refere ao reconhecimento das mesmas na educação brasileira. A partir da pesquisa de tipo qualitativa, por meio da análise documental, realizou-se uma busca pelo nome das educadoras, nos sites Google Book, Google Shopping, Estante Virtual, Amazon e Skoob por meio das palavras-chave “história da educação brasileira” e, a partir da seleção de livros “destaques”2, de 33, escolheu-se 4 obras para análise. E, ainda, uma procura pelo site Google Books com o nome de cada educadora. Posteriormente realizamos uma busca da localização das obras, a partir de uma análise qualitativa, de forma a perceber se e como as educadoras são mencionadas nos textos. Assim como, a procura por trabalhos voltados para a temática nos sítios eletrônicos Google, Google Acadêmico e ANPEd. Dessa forma, foi possível verificar que há uma ausência dos nomes das influenciadoras nos livros de história da educação selecionados, mas existem pesquisas e projetos que buscam evidenciar as trajetórias das mulheres no campo temático, do ponto de vista de valorizá-las como protagonistas da educação no país.

Palavras-chave: história da educação; pioneiras; história das mulheres

Abstract

The objective of this article is to analyze the construction of the field of the history of education and the contribution of some women with regard to their recognition in Brazilian education. From the qualitative research, through documentary analysis, a search was carried out by the name of the educators, on the websites Google Book, Google Shopping, Estante Virtual, Amazon and Skoob using the keywords “history of Brazilian education” and, from the selection of “highlights” books, out of 33, 4 works were chosen for analysis. Also, a search on the Google Books website with the name of each educator. Subsequently, we carried out a search for the location of the works, based on a qualitative analysis, in order to understand if and how the educators are mentioned in the texts. As well as the search for works focused on the theme on the websites Google, Google Scholar and ANPEd. In this way, it was possible to verify that there is an absence of the names of influencers in the selected education history books, but there are researches and projects that seek to highlight the trajectories of women in the thematic field, from the point of view of valuing them as protagonists of education. in the country.

Keywords: history of education; pioneers; women's history

Resumen

El objetivo de este artículo es analizar la construcción del campo de la historia de la educación y la contribución de algunas mujeres con respecto a su reconocimiento en la educación brasileña. A partir de la investigación cualitativa, a través del análisis documental, se realizó una búsqueda por el nombre de los educadores, en los sitios web Google Book, Google Shopping, Estante Virtual, Amazon y Skoob utilizando las palabras clave “historia de la educación brasileña” y, a partir de la selección de los libros “destacados”, de 33, se eligieron 4 obras para el análisis. Además, una búsqueda en el sitio web de Google Books con el nombre de cada educador. Posteriormente, realizamos una búsqueda de la ubicación de las obras, a partir de un análisis cualitativo, para comprender si y cómo se menciona a los educadores en los textos. Así como la búsqueda de trabajos enfocados en el tema en los sitios web Google, Google Scholar y ANPEd. Dessa forma, foi possível verificar que há uma ausência dos nomes das influenciadoras nos livros de história da educação selecionados, mas existem pesquisas e projetos que buscam evidenciar as trajetórias das mulheres no campo temático, do ponto de vista de valorizá-las como protagonistas da educação en el pais.

Palavras chave: historia de la educación; pioneros; historia de la mujer

INTRODUÇÃO

As mulheres têm muito a dizer sobre suas próprias vivências, experiências e potencialidades; e infelizmente ao longo dos anos as mulheres foram silenciadas na história e da história, o que ainda impacta na produção científica, literária e historiográfica. Mesmo frente aos avanços que o feminismo galgou, reconhece-se que ainda há desafios grandes no enfrentamento à violência, na garantia de direitos, mas também no que diz respeito à condição de profissionalização e o reconhecimento da mulher nos espaços acadêmicos.

Somos mais da metade da população e ainda damos ao mundo – parimos – a outra metade e mesmo assim, ainda vivemos processos de dominação, discriminação, subordinação e silenciamentos diversos. Há ainda que se considerar as intersecções3 de raça, classe e gênero que geram maiores desigualdades nas diferentes trajetórias femininas.

Além disso, é recorrente que se encontre projetos que buscam evidenciar os itinerários de mulheres, motivados pela falta da divulgação das obras, ou mesmo por um apagamento dos percursos. Como é o caso do projeto “Pioneiras da Ciência”4, que em 2018 teve em sua 7ª edição uma colaboração do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Secretaria de Política para as Mulheres, por meio do Programa Mulher e Ciência, e teve suas atividades voltadas para o reconhecimento da contribuição de mulheres na pesquisa científica brasileira, “Estas pioneiras abriram as portas do saber e do poder. Do saber, porque cada uma delas teve um importante papel para sua área de conhecimento. Do poder, porque provaram que as mulheres não são só aptas para a ciência quanto esta não pode prescindir de sua contribuição.” (BRASIL, 2021, s.p.).

O projeto “Educativo Pioneiras”5 desenvolvido por alunas da Fundação de Ensino da cidade de Contagem (Funec/MG), a partir do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, promovido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), envolveu a construção de um aplicativo para o acesso das biografias, contribuições das mulheres e a discussão sobre empoderamento. Elaborado entre 2019 e 2020, também houve o interesse em realizar uma seleção das informações de forma gratuita, a fim de ampliar o contato com as histórias.

O livro “Narrativas Negras: biografias ilustradas de mulheres pretas brasileiras”6 construído pelo Coletivo Narrativas Negras foi um projeto voluntário, financiado de forma coletiva, em que participaram 70 mulheres em todo o país. A produção conta com 40 biografias ilustradas e o interesse em ampliar o acesso da população às narrativas sobre as mulheres negras foi um dos motores do desenvolvimento da obra publicada em 2020.

Assim como, “Museu virtual heroínas sem estátua” desenvolvido por estudantes do Centro de Ensino Médio de São Sebastião (Distrito Federal)7, juntamente com o Projeto Salto-Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) e a licenciatura de Português do Brasil com Segunda Língua da Universidade de Brasília, no ano de 2015, que foi elaborado a partir das ausências de figuras femininas, percebidas na literatura brasileira e dos currículos das licenciaturas.

Por fim, a partir de alguns projetos mencionados acima, entendemos que abordar a história das mulheres - suas vidas, anseios, maneiras de pensar e participar ativamente dos acontecimentos culturais e políticos – é repensar toda uma escrita da história.

No campo da educação, as mulheres obtiveram grandes progressos nos últimos anos. A universalidade do ensino fundamental no Brasil, prescrita em lei, resulta de uma maior equidade de gênero na educação básica. O ensino superior brasileiro também expandiu nas últimas décadas e há uma maior presença feminina nas universidades. Mesmo assim, ainda persistem as desigualdades de gênero: participação restrita como docentes nas ciências exatas e naturais, como pesquisadoras bolsistas de nível 1 CNPq também são minorias, além da dificuldade das mulheres em atingir postos mais altos do sistema do ensino superior como diretoras e/ou reitoras (ABREU et.al., 2016).

E pensando especificamente no campo de pesquisa da história da educação brasileira pode-se vir à mente nomes como Paulo Freire, Demerval Saviani, Anísio Teixeira, Florestan Fernandes dentre outros, mas poucas mulheres são reconhecidas. Por isso, o objetivo desse artigo é o de tentar investigar a presença das mulheres nos livros sobre a história da educação brasileira, a partir da busca pela presença das educadoras e influenciadoras da educação: Benedita da Trindade do Lado de Cristo (1800-1875), Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), Maria Firmina dos Reis (1822-1917), Anália Emília Franco (1853, 1919), Maria Lacerda de Moura (1887-1945) Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976), Antonieta de Barros (1901-1952), Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964), Elza Maia Costa Oliveira (1916-1986), Lélia de Almeida Gonzalez (1935-1994).

Para isso, foi realizada uma busca nos sites Google Book, Google Shopping, Estante Virtual, Amazon e Skoob por meio das palavras-chave “história da educação brasileira” e, a partir da seleção de livros “destaques”8, de 33, escolheu-se 4 obras para análise. E, ainda, uma procura pelo site Google Books com o nome de cada educadora. Posteriormente realizamos uma análise da localização das obras, a partir de uma análise qualitativa, de forma a perceber se e como elas são mencionadas nos textos. Além disso, fizemos um levantamento no site da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), Google e Google Acadêmico, já que são espaços de ampla divulgação e promoção das pesquisas científicas. No item “resultados” apresentaremos os sites buscados e alguns dados encontrados.

Dessa forma, o primeiro capítulo trata da história da educação e os caminhos que levaram à construção desse campo. Depois, abordamos a contribuição das educadoras para a educação brasileira. Em seguida, apresentamos os resultados obtidos e alguns apontamentos.

CONSTRUÇÃO DE UM CAMPO - A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Michelle Perrot em As mulheres ou os silêncios da história (2005) evidencia o silenciamento a que as mulheres foram submetidas na história, “Da História, a mulher é diversas vezes excluída. Ela o é, inicialmente, na narrativa, que, passadas as efusões românticas, constitui-se como encenação dos acontecimentos políticos.” (p. 197). E também, desde o início da constituição do campo da historiografia, a qual cuidava das questões da vida pública, espaço em que as mulheres “não estavam presentes”. E os poucos traços que restam das trajetórias delas geralmente estão nas fontes privadas, registro do ambiente doméstico. Ademais, para escrever história são necessárias fontes, documentos, vestígios. E isso é um dificultador quando se trata da história das mulheres. Isso porque a presença feminina é frequentemente apagada, seus vestígios, desfeitos seus arquivos, destruídos. A gramática é masculina (se misturam os gêneros, temos eles). As estatísticas são assexuadas (a sexuação das estatísticas é recente, tendo sido demandada por pesquisadoras do trabalho feminista). Pelo casamento as mulheres perdiam os seus sobrenomes, o que dificulta reconhecer linhagens femininas. Todos esses fatores ocorrem para a destruição da memória feminina. (PERROT, 2017).

Além disso, vale destacar a intersecção de raça, classe e gênero para entender as discriminações sofridas por mulheres não brancas. bell hooks (2017) em Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade aborda a falta de espaço na academia para o aprofundamento da discussão sobre a mulher negra. Já que, apesar do movimento feminista branco questionar a exclusão das mulheres e buscar maneiras de escrever sua história, não se tinha o cuidado de refletir sobre as especificidades das vidas das mulheres negras, seus corpos e suas trajetórias. Tais elementos se mostram ainda mais agravantes quando pensamos no contexto brasileiro, no qual impera grandes características de um país marcado pelo regime escravocrata.

Por intersecção, estamos trabalhando com o conceito desenvolvido pela intelectual estadunidense Kimberlé Crenshaw. Para pensar as categorias de opressões que se sobrepõem ou se entrecruzam, tendo como principais vítimas mulheres negras, Crenshaw cunhou o termo que hoje ficou conhecido como “Interseccionalidade”, utilizando-o pela primeira vez em 1990 para falar das interseções de opressões sofridas pelas mulheres negras e de classe desfavorecidas nos Estados Unidos.

Segundo Crenshaw:

A interseccionalidade trata especificamente da forma pela qual o racismo, o patriarcalismo, as opressões de classe e outros sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam as posições relativas de mulheres, raças, etnias, classes e outras. Além disso, a interseccionalidade trata da forma como ações e políticas específicas geram opressões que fluem ao longo de tais eixos, constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do desempoderamento. (CRENSHAW, 2002, p. 177).

Angela Davis, também aborda a questão da dupla opressão sofrida pelas mulheres negras. Em seu livro “Mulheres, raça e classe” (1981) Davis retoma a história dos EUA, na época da escravidão, no sentido de trazer à tona o cotidiano de mulheres norte-americanas do século XIX e XX, que sofreram (sofrem) opressões ligadas ao racismo, ao sexismo e a luta de classes. A análise feita por Davis também é interseccional e dialética, onde ela afirma que:

O sistema escravista definia o povo negro como propriedade. Já que as mulheres eram vistas, não menos do que os homens, como unidades de trabalho lucrativas, para os proprietários de escravos elas poderiam ser desprovidas de gênero. Nas palavras de um acadêmico, “a mulher escrava era, antes de tudo, uma trabalhadora em tempo integral para seu proprietário, e apenas ocasionalmente esposa, mãe e dona de casa”. (DAVIS, 2016, p.24).

Nesse sentido, as mulheres negras, quando escravizadas, não foram constituídas como mulheres do mesmo modo que as brancas. Mas sim, foram construídas em termos sexuais e raciais, como fêmeas próximas dos animais, sexualizadas e sem direitos, em uma instituição que as excluía dos sistemas de casamento. A (re)produção da ideia de esposas do lar e cuidadora da família (patriarcalismo/sexismo), ou seja, o modus operandi da “dominação masculina” foi criado apenas pensando nas mulheres brancas. Por isso, perceber que o sistema de dominação, nos quais gênero se articula a classe, raça, nacionalidade, idade, não tem efeitos idênticos nas mulheres ao redor do globo.

Voltando a escrita sobre a história das mulheres, Antonia Telles no artigo A presença da mulher no contexto da história da educação (1960-1980), publicado em 2014, afirma que o Movimento Feminista contribuiu para um avanço dos estudos sobre a mulher. Tal como a “Nova história” pela escola dos Annales"9 [...] permitiram que o historiador não ficasse engessado aos documentos e relatos escritos e sim utilizasse de outros vestígios para análise e compressão do passado [...]" (2014, p. 6 e 7). Apesar disso, Michelle Perrot (2005) defende que em relação à escola dos Annales (1929), não significou grande mudança. E na terceira geração (1970) a Nova História, apesar de abordar novos temas não se permitiu discutir a questão de gênero, mesmo que se tenha incluído as mulheres.

Entretanto, há consenso em relação ao papel do positivismo10 do qual esse apagamento é notável, tanto Michelle Perrot (2005), quanto a historiadora Antonia Telles (2014) afirmam que a corrente filosófica influenciou em uma piora em relação ao tema da mulher, pois o fazer do/a historiador/a, da vida pública, da escrita historiográfica estava restrita ao masculino. Antonia Telles ainda descreve como os positivistas reforçaram a ideia de inferioridade intelectual e biologicamente, além de considerá-las como aptas à atividades que estivessem vinculadas à uma “vocação natural” como mães:

A mulher no contexto da História da Educação é vista com certa contradição, pelo fato de ter sido marginalizada ao mesmo tempo em que foi integrada como educanda e mestre. Inicialmente tratada intelectualmente como inferior, mas ao mesmo tempo, foi considerada portadora de características essenciais para desempenhar a função de mãe e primeira educadora de acordo com o discurso positivista, no final do século XIX. (TELLES, 2014, p. 15)

Se faz necessário sinalizar que outras questões também estavam presentes na influência do positivismo sobre a historiografia no Brasil, tal como sinaliza Diana Vidal e Luciano Filho (2003) que figuras como Pires de Almeida11, utilizavam da forma tradicional a documentação para escrever uma história de um país colonial, e nesse sentido, a imagem do povo negro e indígena não fez parte desse processo. Outrossim, Jane Soares de Almeida (1998) em Mulher e educação: a paixão pelo possível demarca o dualismo da educação de meninos e meninas, e que por mais que o Positivismo tenha defendido a educação para as mulheres, eram contrários à co-educação. A formação de mulheres objetivava o desempenho de suas tarefas domésticas.

Desta forma, podemos perceber como a questão da masculinidade e da feminilidade (aliadas também à classe e à raça) podem gerar desigualdades, violências e apagamento da escrita da história. E, diante da complexidade da vida das mulheres, a questão público e privado também têm um peso importante. Vale dizer que:

É do século XIX (ocidental) a divisão desses espaços, criando no imaginário social a existência de características bem distintas de duas “espécies” com qualidades e aptidões particulares. Porém, como consagrar essa visão em um período marcado pelo avanço do individualismo e dos ideais liberais? Como “excluir” as mulheres? Não seriam elas também indivíduos? A resposta foi encontrada na ciência, mais especificamente com o advento da biologia e da medicina. Aos homens o cérebro, a inteligência, a razão lúcida, a capacidade de decisão. Às mulheres, o coração, a sensibilidade, os sentimentos. (BIONDINI; PASSOS, 2022, p.60).

Filósofos dos séculos XVIII e XIX também ajudaram a pensar e delimitar tal fronteira:

Fichte: “sua feminilidade proporciona preferencialmente uma aptidão prática à mulher, mas em caso algum uma aptidão especulativa”. Por conseguinte, “as mulheres não podem ocupar cargos públicos”. Hegel fala da “vocação natural” dos dois sexos. “O homem tem sua vida real e substancial no Estado, na ciência ou em qualquer outra atividade do mesmo tipo. Digamos de modo geral no combate e no trabalho que opõe ao mundo exterior e a si mesmo.” A mulher, pelo contrário, é feita para a piedade e o interior “se se colocam mulheres à frente do governo, o Estado se encontra em perigo. Pois elas não achem conforme as exigências da coletividade, mas segundo os caprichos de sua inclinação e seus pensamentos”. August Comte vai ainda mais longe, já que fala da inaptidão “radical do sexo feminino para o governo, mesmo da simples família”, em virtude da “espécie de estado infantil contínuo” que caracteriza o sexo feminino. O doméstico não lhe poderia ser entregue sem controle; mais concorda-se em confiar às mulheres – dentro de certos limites – a família, a casa, núcleos da esfera privada. (PERROT, 2017 p.187)

Uma grande contribuição para compreender a conformação da categoria de docentes é o trabalho de Guacira louro (2004) no texto Mulheres na sala de aula, onde ela afirma que no final do século XIX com a ideia de modernização no país a educação das mulheres exigia que:

Elas deveriam ser diligentes, honestas, ordeiras, asseadas; a elas caberia controlar seus homens e formar os novos trabalhadores e trabalhadoras do país; àquelas que seriam as mães dos líderes também se atribuía a tarefa de orientação dos filhos e filhas, a manutenção de um lar afastado dos distúrbios e perturbações do mundo exterior. (2004, p. 374)

Ela destaca que a atividade docente havia sido iniciada pelos homens, especialmente os jesuítas no período de 1549 e 1759. Somente os homens tinham o direito de serem educados. Restava a elas a dedicação ao bordado, afazeres domésticos, e cuidar das crianças, o que não implicava na valorização do trabalho feminino. No entanto, no final do século XIX, com a criação das escolas normais houve um aumento na demanda de estudantes mulheres e também de professoras interessadas em ministrar as aulas, além de que a feminização seria fruto de igual modo de uma maior intervenção do estado na educação. Mas, a priori seria destinado apenas às mulheres solteiras, pois, no momento em que se casassem, elas deveriam exercer o “papel de mãe e esposa”. O controle do corpo tanto de professoras, como de alunas demonstra que, apesar de representado a “presença” da mulher em outros espaços, alguns dos estigmas e estereótipos que “moldaram” a profissão ainda permanecem até os dias atuais.

Em Professora Sim cartas a quem ousa ensinar, Tia Não, Paulo Freire (1997) demonstra como o termo tia, a exemplo, é utilizado de forma a desprofissionalizar a ação do(a) educador(a), contribuindo para que professoras e professores não sejam reconhecidos em seus direitos. Freire escreve:

A tentativa de reduzir a professora à condição de tia é uma “inocente” armadilha ideológica em que, tentando-se dar a ilusão de adocicar a vida da professora o que se tenta é amaciar a sua capacidade de luta ou entretê-la no exercício de tarefas fundamentais. (1997, p. 18).

Por demais, a docilidade a que Freire menciona também está relacionada à aproximação da escola como uma extensão da casa. De modo que a professora, como tia, além de não precisar ter boas condições de trabalho, representa a impressão do que se considerava ser os dons, vocações do ser professora à mulher e os impactos da feminilização da categoria. Por assim dizer, como tia essa professora também poderia ser esquecida da história da educação, ou receber menos destaque.

Por “vocação”, historicamente esse conceito foi aceito e expressado pelos próprios educadores e educadoras, que argumentavam que a escolha da carreira devia ser adequada à natureza feminina. “É uma atividade que requer sentimento, dedicação e paciência, reforçando assim a indução de escolhas de profissões ‘menos valorizadas socialmente’ destinadas às mulheres” (ANTUNES; DEMARTINI, 1993. p. 8). As autoras ressaltam ainda que houve ascensão dos professores aos cargos técnicos no sistema educacional, inclusive sem especializações, o que não ocorria entre as professoras, que dificilmente recebiam essa promoção. Era mais comum esses professores receberem o reconhecimento de seus inspetores também homens, reforçando a ideia de que cargos de chefia e supervisões eram para os homens (1993).

Vale ressaltar que o fato da docência ser exercida majoritariamente por mulheres, seria um dos motivos que fazem com que esta profissão não seja tão valorizada se tornando mal remunerada. Essa concepção vem da ideia de que a mulher ao exercer a função de educar os seus filhos, já estaria preparada para formar as crianças nas escolas. As duas funções não teriam distinções e logo, a mulher não teria que se esforçar para exercer as atividades maternas e educacionais (BRITO et al, 2014). É importante considerar que o não reconhecimento das mulheres na educação, pode também ter relação com o que, em geral, concebe-se como educação e quais saberes se valorizam. Já que além das mulheres que lutaram diretamente pela defesa da educação escolar, outras se envolveram em formações educativas, pela atuação na política, nos movimentos sociais, na educação popular, nas resistências, organizações sindicais, dentre outros espaços. Para Michelle Perrot (2005) a história das mulheres "[...] interroga a linguagem e suas estruturas do relato, as relações do sujeito e do objeto, da cultura e da natureza, do público e do privado. Ela coloca em questão as divisões disciplinares e as maneiras de pensar." (p. 26).

Dessa forma, uma história da educação para que reconheça a contribuição histórica das mulheres também deve abarcar outras ideias do que representa a educação na formação dos sujeitos. Assim como no campo da historiografia, “[...] as fontes que utilizamos são, elas também, peças do jogo político que institui a memória (e produz o esquecimento) nas constantes lutas de representação travadas no interior do campo." (2003, p. 59-60), como aponta Diana Vidal e Luciano Filho (2003).

Além disso, com o avanço dos estudos sobre a história das mulheres, muitas outras fontes foram sendo utilizadas, novas estratégias metodológicas, bem como a redefinição de espaço e tempo. Um dos desdobramentos dessa nova fase da escrita da história e em especial da história das mulheres foi sem dúvida a reconstituição de biografias ou de traços biográficos de mulheres célebres e/ou mesmo a reconstituição de histórias de vida focando as mulheres “comuns”, metodologias essa que tem por objetivo visibilizar a participação feminina na História (GONÇALVES, 2015).

No trabalho intitulado História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970) os autores apontam como motivo de avanço do campo da história da educação a criação do GT História da Educação na Associação Nacional de Pós-Graduação (ANPEd) em 1980. E em 1986 o surgimento do Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Sociedade e Educação no Brasil (HISTEDBR). O desenvolvimento de associações como a Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação/ASPHE (1996), da Sociedade Brasileira de História da Educação(SBHE), em 1999, e da Revista de História da Educação, demonstra que ainda é “recente” o desenvolvimento da área no país, somadas às condições de avanço da discussão das questões das mulheres é possível que se ampliem os debates em torno da relevância de rememorar nomes importantes da história nacional que contribuíram com a educação, tal como as autoras que serão apresentadas a seguir.

“AS PIONEIRAS”

Reconhecer a trajetória e a contribuição das mulheres na história da educação pode significar um avanço não apenas para os estudos da mulher, mas também para a historiografia brasileira. À medida que possibilita não apenas enxergar diferentes indivíduos, antes apagados/as, como objeto de estudo, dos quais se fala sobre, mas perceber a potencialidade que é ouvi-los, e, nesse caso, ouvi-las enquanto sujeitas que podem “escrever sua própria história”.

Ainda na linha do termo “pioneiras” podemos entendê-las também como “intelectuais” de um determinado contexto sócio histórico. Numa perspectiva pragmática e tomando a inovação como móbil, os/as intelectuais encarnam a crítica, a inovação e a mudança; inscrevem o singular numa movimentação mais ampla; vincam as marcas discursivas que ressaltam dos textos fundantes. Torna-se possível, a posteriori, conhecer as repercussões, reconstituir os modos e tempos passados. (MAGALHÃES, 2015).

Além disso, o contexto de maior escrita das pioneiras / intelectuais, ora focalizadas, abrangeu as últimas décadas de oitocentos e se prolongou por meados do século XX, sendo esse período enquadrado e, em parte, justificado como fator da educação republicana. Entre os/as intelectuais de finais de oitocentos conta-se uma gama favorável à republicanização da escola.

Esses/as intelectuais idealizaram, argumentaram e estabeleceram apriorismos sobre as vantagens da escola republicana e do cidadão republicano. Tal ideação confluiu com a Escola Nova, numa combinação em termos cívicos e pedagógicos. Os regimes populares e favoráveis à universalização da escola elementar encontraram no regime republicano o pretexto de uma mobilização cívica e pedagógica. A arregimentação da escola foi acentuada com os ideais socialistas e o avanço da revolução comunista soviética. As democracias liberais e as repúblicas parlamentares ajustaram a escola aos seus princípios e ideais cívicos universalização e socialização escolares. A instrumentalização da escola afigurava-se como evidente e a reação dos mentores da Escola Nova não foi suficiente para salvar a escola, mesmo que renovada. A escola e os sistemas educativos em formação afiguravam-se como novas estruturas do Estado-Nação e dos segmentos de opinião favoráveis ao poder instituído. (MAGALHÃES, 2015, p.309).

Mesmo pensando em uma educação ao estilo republicano, de formação de cidadãos, o modelo de educação liberal, tal como tinha servido os letrados, não poderia servir à mulher12 e, sobretudo, à vitalidade das populações, sempre em busca da subsistência, como os/as negros/as escravizado/as que foram aforriados/as no fim do século XIX. Por isso o destaque para essas mulheres que romperam algumas barreiras e vêm sendo reconhecidas no campo da História da Educação.

Tabela 1 “Pioneiras” 

Benedita da Trindade do Lado de Cristo (1800-1875) É considerada pioneira na atuação como professora das primeiras letras, em São Paulo. Lecionou por 32 anos e atuou avaliando candidatas para o magistério. Sua trajetória como Mestra demonstra como quem se dedicava a trabalhar na área enfrentava tensionamentos e exigia resistência, não apenas por sua participação, que já era, por si só, alvo de críticas. Mas com a instituição das "Prendas domésticas", estava previsto o ensino de atividades domésticas às meninas (agulha, bordado), Benedita não aceitou ensinar os conteúdos em suas aulas. Sua trajetória é símbolo de resistência, além disso, mesmo após se aposentar seguiu atuando na formação de jovens para o exercício do magistério, fator esse que contribui a pensar que a consolidação da docência no país vai para além dos registros oficiais,
Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885) Nísia Floresta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, foi diretora de uma escola no Rio de Janeiro, e discutiu em suas obras questões no campo da Educação. Em 1831 iniciou suas escritas, se tornou educadora, lutadora pelas questões das mulheres e defendeu a inserção de uma educação para elas que possibilitasse inclusive questionar a ideia de inferioridade intelectual. Era republicana e abolicionista e escrevia textos polêmicos nos jornais. Norma Telles (2017) evidenciou a grandeza de suas obras que, apesar de sofrer com as dificuldades de distribuição, foi bastante ressonante. Sobre a centralidade das produções de Nísia afirma que “[...]sua preocupação primeira é com a educação das mulheres; pensava que o ensino poderia ser capaz de mudar as consciências e a vida material.” (TELLES, 2017, p.409) o que faz com que seja reconhecida como precursora do feminismo no país, apesar do termo não ser correspondente com os conceitos utilizados na época.
Maria Firmina dos Reis (1822-1917) Foi professora do magistério do Maranhão por 33 anos na escola de Primeiras Letras. Negra, enfrentou um contexto de segregação racial. Foi a primeira mulher a passar em um concurso público em seu estado natal, e como professora foi também a criadora da primeira escola mista do Brasil em 1880, um projeto audacioso e escandaloso para a época. Suas produções são diversas e tem uma centralidade em abordar a questão do povo negro escravizado e também da mulher. Sua obra diz de uma literatura abolicionista, a exemplo do romance Úrsula, publicado em 1859, onde os africanos escravizados e seus descendentes são percebidos como seres humanos e contam suas próprias histórias.
Anália Emília Franco (1853, 1919) Anália Franco foi professora normalista em São Paulo, engajada na luta pelas questões das mulheres, da educação infantil, utilizou de sua escrita para discutir essas causas. Ela teve uma atuação importante com crianças negras, em suas instituições. Segundo Daniela Portela (2016), “Anália Franco afirmava que as meninas seriam educadas de forma integral (física, moral e intelectual), o que não era um aspecto comum para a educação de meninas no período." (2016, p.29). Também foi dramaturga, militante social, escritora e produziu materiais educativos para a educação infantil.
Maria Lacerda de Moura (1887-1945) Foi professora que lutou pelos direitos das mulheres e em especial defendia o ensino de uma disciplina específica voltada para as questões de “gênero”. De Manhuaçu-MG estudou em Barbacena e lecionou "Pedagogia e Higiene". Foi presidente da Federação Internacional de Mulheres. Propôs a alteração do currículo escolar, a fim de incluir a disciplina "História da mulher, sua evolução e missão social" e “Era adepta do amor livre, a favor da educação sexual e contra a moral vigente”, de acordo com Constância Duarte (2003). Maria Lacerda também realizou campanhas de alfabetização e se envolveu diretamente com o movimento social e de trabalhadores.
Bertha Maria Júlia Lutz (1894-1976) Nascida em São Paulo iniciou uma luta pelo sufrágio em 1919. Formada em biologia com outras mulheres como Maria Lacerda de Moura, formou a Liga Pela Emancipação Intelectual da Mulher que depois se chamou Liga pelo Progresso Feminino. Pautou o ingresso no serviço público, acesso à universidade, dentre outras bandeiras. Segundo Constância Lima Duarte (2003) ela foi “[...] uma das mais expressivas lideranças na campanha pelo voto feminino e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres no Brasil.”. (p. 60).
Antonieta de Barros (1901-1952) Ganhou destaque no cenário político e da imprensa nas décadas de 1930 e 1940, em Santa Catarina. Sendo a primeira mulher negra a ser deputada, também atuou como professora e cronista. Karla Nunes descreve como era sua escrita "[...] aos jornais, assinava com o pseudônimo de Maria da Ilha e abordava temas que se revezavam entre a Educação de um modo geral, virtudes morais e cívicas, política e a falta de acuro das autoridades em relação especificamente à Educação feminina [...]" (2001, p.15), também sobre as propagandas antianalfabetismo.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) Cecília Meireles, possivelmente mais conhecida pela sua escrita poética que por sua atuação na educação, também fez parte dos Escolanovistas assinando o Manifesto dos Pioneiros (1932), escrito por Fernando Azevedo, assinado por 27 pessoas envolvidas no movimento de educação do país, posteriormente em 1959 recolheram 189 assinaturas. Como Ana Vieira (2013) afirma, a educadora “[...] possui uma trajetória de atuação social riquíssima, figurando como poetisa, educadora, folclorista, cronista na grande imprensa, crítica literária e até mesmo tradutora de livros estrangeiros." (p.1). A questão da literatura infantil foi uma das principais que ela se envolveu e o seu trabalho com o folclore deixou grandes contribuições para pensar a educação do povo brasileiro.
Elza Maia Costa Oliveira (1916-1986) Pouco conhecida, em comparação com seu companheiro afetivo, Paulo Freire, Elza Oliveira teve um papel muito importante na elaboração da pedagogia da libertação. Nima Spigolon (2009) afirma que apesar do desconhecimento, é possível reconhecer uma grande contribuição para o que hoje se compreende como a pedagogia libertadora, não somente para do ensino primário, mas nacionalmente e internacionalmente, dedicando sua vida à educação.
Lélia de Almeida Gonzalez (1935-1994) Lélia grande referência do feminismo negro no país, foi professora de Antropologia e de Cultura Popular Brasileira, militante do movimento negro é símbolo de resistência e tem uma larga contribuição, para compreensão da estrutura social brasileira. Utilizava uma linguagem a que intitulou de “Pretuguês”, a fim de que suas obras fossem acessíveis a todos e todas. “O sarcasmo era também um artifício de denúncia, como se observa em sua provocação acerca da ideia de "racismo às avessas" em que constata que tal crença pressupõe o reconhecimento de um racismo "às direitas"”. (2014, p.216), afirma Bianca Vieira.

Fonte: Próprias autoras, 2022.

RESULTADOS

Salientamos que foram selecionados, em primeiro momento, apenas livros disponíveis digitalmente, que fossem sobre história da educação brasileira de forma geral e não especificamente sobre uma temática tal qual história das mulheres ou história das crianças. Também evitamos escolher publicações que tivessem uma delimitação de curto tempo, visto que um período de 20 ou 30 anos certamente não contemplaria o período de atuação das educadoras listadas. Reconhecemos que há critérios que podem influenciar na indicação dos livros nos sites, tais como preço, autoria, identificação da obra e, ainda, mesmo a data de busca pode interferir nas obras encontradas. Entretanto, concebemos a relevância que há no acesso às obras por meio dos sites utilizados tanto por estudantes e professores que procuram os livros, quanto como forma de divulgação dos trabalhos. Assim, de um total de 33 livros encontrados, 4 foram selecionados.

Tabela 2 Livros selecionados 

Local de pesquisa Lista dos 10 primeiros indicados do site Autoras(es) Presença das pensadoras
Google shopping História da educação (2012) Julio Alejandro Quezada Jélvez Não há
Estante virtual, Google shopping, Google books, Skoob, Amazon História da Educação Brasileira: a organização escolar. 12ª ed. (1992) Maria Luisa Santos Ribeiro Não há
Skoob, Amazon História da Educação Brasileira: da colônia ao século XX (2010) Amarílio Ferreira Júnior Não há
Google shopping História Da Educação e Da Pedagogia. Geral e Brasil. 3ª ed. (2006) Maria Lúcia de Arruda Aranha Não há

Fonte: Próprias autoras, 2022.

Essa primeira busca evidenciou os limites e desafios nesse tipo de pesquisa, já que o acesso à totalidade das obras representaria um alto custo financeiro. E, ainda, a falta de digitalização também exigiria de um possível estado da arte um longo tempo de investigação. Entretanto, algumas considerações podem ser realizadas a partir dos livros encontrados. O livro, História da educação brasileira: a organização escolar (1992), de Maria Luisa Santos Ribeiro foi um dos que mais apareceu como indicação nos sites. O que também representa a resistência das mulheres no campo da história da educação como escritoras, pesquisadoras e professoras, apesar da publicação em si não adentrar nessa questão. Maria Luisa, doutora em filosofia da educação, publicou ainda A Formação Política do Professor de 1º e 2º Graus (1995), 4ed,13 e Memórias: a Luta Pelo Ensino Público e Gratuito Numa Universidade Particular - a PUCSP (2001)14. Como professora da PUCSP afirmou:

Na condição de professora de uma universidade católica, como a PUCSP, e de uma profissional com uma posição claramente favorável à escola pública, gratuita, obrigatória em seus graus iniciais e laica, vi-me diretamente envolvida no movimento de professores universitários em razão das crises pelas quais passou o ensino nos anos 70 e 80 e, particularmente, envolvida no movimento dos professores da PUCSP, em conseqüência dos reflexos dessa crise no interior dessa universidade com as especificidades que comportava. (RIBEIRO, 2000, p. 1)

Maria Lúcia de Arruda Aranha, graduada em filosofia, lecionou no ensino médio durante toda a sua trajetória profissional, foi autora de publicações no âmbito da filosofia. No livro História Da Educação e Da Pedagogia. Geral e Brasil 3ª ed. (2006), apresenta no manual a discussão sobre a educação das mulheres ao longo da história e traz reflexões importantes para o campo, apesar da ausência das educadoras investigadas. A obra é um manual que vêm sendo muito utilizado na disciplina de História da Educação como aponta Maria Helena Camara Bastos:

Uma pergunta que nos instiga como pesquisadores: porque da longevidade da adoção do manual de Maria Lúcia Arruda Aranha? Podemos aventar algumas hipóteses: boa aceitação e estímulo do mercado editorial; a estrutura formal dos currículos, que se refletem nos modelos dos manuais; os concursos que mantêm a tradição historiográfica da disciplina; a condensação do conteúdo disciplinar em um único dispositivo; as compras significativas que faz o governo federal para o programa da biblioteca escolar. (BASTOS, 2014, p. 16)

As duas outras obras acessadas, apesar de serem mais atuais, não se aprofundam na temática de gênero, sendo História da educação(2012), de Julio Alejandro Quezada Jélvez. E História da Educação Brasileira: da colônia ao século XX(2010), de Amarílio Ferreira Júnior, que traz à tona a questão do elitismo e da exclusão, na coleção voltada aos estudantes "[...] dos cursos da modalidade a distância vinculados à Universidade Aberta do Brasil e oferecidos pela UFSCar [...]" (EDUFSCAR, s.d., s.p.)

Além dessa procura foi realizada também uma pesquisa no Google Books utilizando o nome das educadoras como palavras-chave. A ferramentas de busca demonstrou ser um importante instrumento de pesquisa, já que mesmo sem a visualização completa dos livros o Google Books apresenta os trechos das obras em que a palavra-chave utilizada está localizada, permitindo o levantamento de um volume maior de publicações. Dessa forma, foram encontrados 89 livros com citação do nome das autoras, em sua maioria livros no campo da história da mulher, que discutem o feminismo e biografias.

Dentre as obras o livro, Brasil 500 anos: Tópicas em História da educação, de Diana Vidal e Maria Hilsdorf (2001) que cita Benedita da Trindade do Lado de Cristo, "Na aula pública da sé Benedita da Trindade do Lado de Cristo (1828-1858) ensinava suas alunas individualmente, acompanhando a progressão de cada uma delas nos estudos." (2001, p.76). Na publicação também há um capítulo sobre Nísia da Floresta, intitulado “A ficção didática de Nísia Floresta” e escrito por Constância Lima Duarte. Ademais, em História da educação: de Confúcio a Paulo Freire (2011) de Claudio Piletti e Nelson Piletti há um capítulo sobre Nísia da Floresta, entretanto as demais pensadoras não são citadas.

Foi possível identificar os livros que mais se destacam pela quantidade de educadoras que abordam e/ou citam são:

Tabela 3 Relação de publicações 

Livro Educadora Referência
Dicionário Mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Nísia Floresta Brasileira Augusta, Maria Firmina dos Reis, Anália Emília Franco, Maria Lacerda de Moura, Bertha Maria Júlia Lutz, Antonieta de Barros, Cecília Benevides de Carvalho Meireles, Lélia de Almeida Gonzalez SCHUMAHER, Schuma; BRASIL, Érico Vital. Dicionário mulheres do Brasil: de 1500 até a atualidade biográfico e ilustrado. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
História das mulheres no Brasil. Bertha Maria Júlia Lutz, Maria Lacerda de Moura, Nísia Floresta Brasileira Augusta, Maria Firmina dos Reis, Antonieta de Barros PRIORE, Mary Del. (org.); BASSANEZI, Carla (coord. de textos). História das mulheres no Brasil. 7 ed. São Paulo: Contexto, 2004.
As filhas de Eva querem votar: uma história da conquista do sufrágio feminino no Brasil. Nísia Floresta Brasileira Augusta, Maria Lacerda de Moura, Bertha Maria Júlia Lutz, Antonieta de Barros KARAWEJCZYK, Mônica. As filhas de Eva querem votar: uma história da conquista do sufrágio feminino no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2020.
Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. Nísia Floresta Brasileira Augusta, Maria Firmina dos Reis, Bertha Maria Júlia Lutz CARARO, Duda Porto de; CARARO, Aryane. Extraordinárias: mulheres que revolucionaram o Brasil. São Paulo: Seguinte, 2017.
O Voto Feminino no Brasil Nísia Floresta Brasileira Augusta, Maria Lacerda de Moura, Bertha Maria Júlia Lutz MARQUES, Cristina de Novaes. O Voto Feminino no Brasil. Brasília: Edições Câmara. 2 ed. 2019
Narrativas Negras- Biografias ilustradas de mulheres pretas brasileiras Maria Firmina dos Reis, Lélia de Almeida Gonzalez, Antonieta de barros COLETIVO NARRATIVAS NEGRAS; et.al. Narrativas Negras-Biografias ilustradas de mulheres pretas brasileiras. Editora voo. EPUB. 2021.
As Mulheres na Política Local: Entre as Esferas Pública e Privada. Nísia Floresta Brasileira Augusta, Maria Lacerda de Moura BARBOSA, Claudia de Faria. As mulheres na Política Local: Entre as Esferas Pública e Privada. Editora Appris, 2019.
Breve história do feminismo no Brasil Nísia Floresta Brasileira Augusta, Bertha Maria Júlia Lutz TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Editora Alameda, 2017.
Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Nísia Floresta Brasileira Augusta, Maria Firmina dos Reis MUZART, Zahidé Lupinacci (org.). Escritoras brasileiras do século XIX: antologia. Volume 3. Florianópolis: Editora Mulheres 2009.
Os direitos das mulheres: feminismo e trabalho no Brasil (1917-1937). Maria Lacerda de Moura, Bertha Maria Júlia Lutz FRACCARO, Glaucia. Os direitos das mulheres: feminismo e trabalho no Brasil (1917-1937). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2018.

Fonte: Próprias autoras, 2022.

Algumas observações que fizemos durante o levantamento foram: Cecília Meireles é quase sempre citada como a referência na poesia brasileira das primeiras décadas e meados do século XX. Tirando as obras delas, o que mais encontramos na busca foram verbetes, biografias ou citações rápidas de sua vida e obra para depois introduzir uma poesia - dela ou do/a autor/a do livro analisado. São poucas - ou medianas - as análises mais profundas da obra de Cecília para o campo da educação, em especial para a História da Educação.

Quanto a Elza, ela é sempre citada como um "apêndice" do esposo “Paulo Freire". É quase sempre apresentada em nota de rodapé, nota de fim ou no início da história biográfica do Freire. A priori, achamos apenas um livro que trata dela de forma específica, da autora Nima Spipolon. No mais, dos 113 elementos listados, a partir da busca das palavras-chave pelo nome das autoras encontramos principalmente citações, representando 40,2% da busca.

Fonte: Próprias autoras, 2022.

Figura 1 Tipo de presença das educadoras 

Além disso, foram listadas 63 editoras, destas destacam-se em especial “O Clube de autores”, “Editora Mulheres” e a “Paco e Littera”. Ana Elisa Ribeiro e Sério Karam (2020), destacam como a Editora Mulheres representou "[...] a força que, no século XX, uma pequena editora pode ter, em sua relação com a circulação e a difusão do livro e do conhecimento, e mesmo a importância do fomento à pesquisa [...]" (2020, p. 3). Além disso, Zahidé Muzart, editora, enfrentou grandes desafios por seguir uma linha editoral feminista, que buscou contribuir para a visibilidade da história e trajetórias das mulheres, e foi "[...] uma das pioneiras da história editorial nacional, com relevância extensiva para a América Latina. (2020, p. 2).

Já o Clube de autores, é uma “comunidade de autores independentes” no qual os escritores podem publicar suas publicações de forma gratuita, combina-se o valor dos direitos autorais e a editora faz a publicação e divulgação. Questão que pode ser um facilitador, considerando o mercado editorial.

A editora Paco Editorial “[...] tem em seu Conselho Editorial docentes ligados às principais universidades do país, cuja função é orientar e qualificar a produção de livros técnicos e acadêmicos da editora.” (EDITORIAL PACO), que pode ser um indicativo da maior produção destes livros. É relevante apontar que muitas editoras de Universidades públicas estaduais e federais e Universidades privadas também foram listadas a partir das obras.

Tabela 4 Editoras 

Editora Quantidade de livros
Clube de autores 5
Editora Mulheres 5
Paco e Littera 5
Edições Câmara 3
EDUSP 3

Fonte: Próprias autoras, 2022.

Sinalizamos que realizamos também buscas pelo navegador google e google acadêmico e que houve dificuldade em encontrar publicações livrescas mais recentes e mesmo trabalhos que especificamente abordassem a questão da história da educação e a presença das mulheres em uma perspectiva de sua participação ativa. Mesmo que o tema mulher na educação brasileira fosse mais recorrente, a maioria dos trabalhos estão voltados para a falta ou para a ausência das mulheres, assim como as dificuldades enfrentadas no acesso à educação durante a história da educação.

Já no site da ANPEd, Márcia Ferreira, Georgina Nunes e Márcia Klumb (2013) realizaram um levantamento no artigo intitulado As temáticas gênero e sexualidades nas reuniões da ANPEd de 2000 a 2006, no qual elas indicam algumas considerações relevantes para entender a presença da temática no campo da história da educação. Pois concluíram que o Grupo de Trabalho História da Educação (GT02) foi um dos que mais desenvolveu trabalhos com essas temáticas, no período de 1990 a 1999, obtendo 29,8%. As publicações “[...] apresentavam como principais temáticas a constituição da docência como trabalho feminino, a produção escolar da feminilidade e da masculinidade e a história de mulheres educadoras.” (2013, p. 905), o que indica que já nesse período havia um setor preocupado em avançar nas pesquisas sobre as questões de gênero. Também explicitam as autoras que, do período de 2000-2003 o GT02 teve 25,8% (16/62) dos objetos de pesquisa voltados a essas questões, só que de 2003 a 2006 apenas 5,3% (5/95). As pesquisadoras apontam, que a eminência do grupo se dá pelo caráter dos trabalhos e das temáticas. Mas, Guacira Louro que teve grande influência no GT considera que “[...] na segunda metade dos anos de 1980, um grupo de mulheres participantes do GT02 estimulou a divulgação de estudos sobre mulher e educação. Mais tarde ingressaram nesse mesmo grupo investigadoras das relações entre docência e gênero.” (FERREIRA, NUNES, KLUMB, 2013, p. 910)

Na consulta ao site, utilizando os termo “mulher” e “gênero”, da ANPEd foi possível perceber que no Grupo de Trabalho História e Educação há cinco grupos de pesquisa, dos 50 grupos indicados na página15, que citam ou trabalham a questão de gênero vinculada à história da educação, o História da Educação, Literatura e Gênero, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e o Minorias e Inclusão Social: história, memória, educação e linguagem, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). O grupo Cultura escolar, práticas curriculares e história da disseminação dos saberes escolares - CEPCHASE, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e o Museu Pedagógico: As múltiplas faces dos Estudos sobre Gênero, Infância e Juventude, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). E, por fim, o Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre História da Educação e Ensino de História em Pernambuco - NEPHEPE, da Universidade Federal de Pernambuco. Já na consulta à ferramenta de pesquisa do site, foi utilizado o nome das autoras para realizar a busca, e apenas foram encontradas duas atividades na 40ª Reunião Nacional, intituladas Vozes e lutas insurgentes: Lélia Gonzalez e os feminismos na América Latina e Lélia Gonzalez16 e a notícia de que a Faculdade de Educação da Universidade de Campinas celebrou o centenário de Paulo Freire e 105 anos de Elza Freire17.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar a história das mulheres é também enfatizar a complexidade e a diversidade das experiências e das realizações conquistadas ao longo do tempo. No campo da educação mesmo o aprendizado tendo sido devidamente diferenciado para meninos e meninas, algumas personagens se destacaram nesse cenário, propondo um ensino que fosse igual para ambos os sexos e que também proporcionasse independência para as mulheres.

Assim, a partir das análises desenvolvidas foi possível perceber a riqueza das trajetórias das “pioneiras da educação”, mulheres que lutaram em seu tempo e resistiram frente aos preconceitos e opressões que vivenciaram. Ter contato com essas experiências contribui para, ainda hoje, entender os desafios colocados para as educadoras, lutadoras do país. Assim como, compreender as lacunas que ainda persistem na construção da história da educação enquanto campo do conhecimento.

Devemos sinalizar também que as obras analisadas, do ponto de vista de discutir a educação das mulheres, tem grande avanço, inclusive para a época de publicação. Mas o reconhecimento das contribuições das educadoras para a educação brasileira ainda é uma questão a ser aprofundada.

Por fim, vale dizer que rememorar é permitir enxergar as sujeitas que marcaram a história da educação e fizeram História, na historiografia do país. Exige repensar as concepções que se tem do que representa os processos educativos e poder apontar novos caminhos para o campo. Mesmo porque o século XXI vem marcado não apenas pelo multiculturalismo mas também pelos amplos debates políticos em torno das diversidades e diferenças, onde revisitar o passado se faz necessário, até mesmo para apontar os novos trajetos a serem trilhados em busca de uma sociedade mais justa e igualitária, para todos os gêneros.

1Bolsista da agência de fomento: Programa de Bolsas Institucionais de Pós-Graduação da Universidade do Estado de Minas Gerais, PROBPG/UEMG, Brasil.

2Busca realizada na data 09 de abril de 2022, já que o site é uma referência em vendas de livros, considerou-se que os livros indicados pela Amazon podem influenciar nos acessos às obras e por isso foi utilizado na seleção. Disponível em https://www.amazon.com.br/. Acesso em 13 de abr. 2022.

3A intersecionalidade lida com a concepção de que trabalhamos com grupos sobrepostos (mulheres brancas, mulheres não-brancas, mulheres negras, mulheres negras pobres, mulheres negras velhas, mulheres negras deficientes, mulheres negras brasileiras, mulheres presidiárias...) e procura entender “o que acontece quando diversas formas de discriminação se combinam e afetam as vidas de determinadas pessoas” (CRENSHAW, 2012, p. 11), destacando que os conceitos carregam consigo interferências e suposições. Para tanto ver: CRENSHAW, Kimberle. A intersecionalidade na discriminação de raça e gênero. Curso Educação, Relações Raciais e Direitos Humanos. Ação Educativa. São Paulo, 2012.

4BRASIL. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Pioneiras da ciência. Disponível em https://www.gov.br/cnpq/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/mulher-e-ciencia/pioneirasda-ciencia-1. Acesso em 13 de abr. 2022

6COLETIVO NARRATIVAS NEGRAS. Narrativas Negras: biografias ilustradas de mulheres pretas brasileiras. Editora Vôo. EPUB. 2020.

7Disponível em: http://heroinassemestatua.blogspot.com/?view=classic. Acesso em 13 de abr. 2022.

8Busca realizada na data 09 de abril de 2022, já que o site é uma referência em vendas de livros, considerou-se que os livros indicados pela Amazon podem influenciar nos acessos às obras e por isso foi utilizado na seleção. Disponível em: https://www.amazon.com.br/. Acesso em: 13 de abr. 2022.

9A Nova História surgiu preocupada com os assuntos humanos, na compreensão de que a escrita histórica é baseada em escolhas e não é possível fazê-la de forma neutra. Seu surgimento ocorreu na França, a partir da Escola de Analles (1929 - 1989) que é dividida em três gerações, a primeira com os fundadores Lucien Febvre e Marc Bloch, a segunda com Fernand Braudel e a terceira geração contou com a participação de Jacques Le Goff, Roger Chartier, Michel De Certeau, Emmanuel Le Roy Ladurie, Marc Ferro, Michel Foucault, dentre outros, como descreve Priscila Filipim e Ednéia Rossi (2013).

10Positivismo foi uma corrente filosófica do século XIX que teve grande influência, não somente na educação, mas na conformação da sociedade brasileira, nos ideais de nação. Teve como precursores, pensadores, Augusto Comte e Émile Durkheim.

11Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).

12Ao longo do século XIX e início do século XX, em geral, era possível às mulheres das elites uma instrução atrelada às atividades domésticas e refinamento para o convívio social, e para tal contratavam preceptoras que ensinavam “primeiras letras, francês, música, piano e prendas femininas.” . A situação de mulheres pobres era bastante distinta, sendo possível a elas, quando muito, frequentar aulas de instrução pública, escolas normais e cursos profissionalizantes. O mais usual, entretanto, era que elas se dedicassem às tarefas domésticas, cuidando de seus lares, filhos e maridos. Apesar disso, Cynthia Veiga aponta o fato de que havia grupos favoráveis a emancipação feminina, desse modo, “ao lado de periódicos que enalteciam quase que tão somente a ‘natural missão’ das mulheres como mães, esposas e donas-de-casa, outros preconizavam sua participação mais ativa na sociedade e seu acesso aos cursos superiores.” (VEIGA, 2006, p. 191-192).

13RIBEIRO, Maria Luisa Santos. A Formação Política do Professor de 1º e 2º Graus. 4ed. Campinas: Autores Associados. 1995

14RIBEIRO, Maria Luisa Santos. Memórias: a Luta Pelo Ensino Público e Gratuito Numa Universidade Particular - a PUCSP. Campinas: Autores Associados, 2001.

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Recebido: Maio de 2022; Aceito: Junho de 2022

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