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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.24 no.72 Rio de Janeiro jan./mar 2023  Epub 03-Ago-2023

https://doi.org/10.12957/teias.2023.73302 

Editorial

EDITORIAL

1Profª. Drª. Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

2Profª. Drª. Faculdade de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação (ProPEd) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)


[...] Desaprender oito horas por dia ensina os princípios.

(Manoel de Barros, 1993, p. 9)

Teias inicia o ano de 2023 com este número que expressa a multiplicidade de temas, investigações, achados, iniciativas que pesquisadores do campo da educação criam e recriam cotidianamente para compreender a realidade dos processos muitos de aprendizado que crianças, jovens, adultos e idosos põem em marcha na sociedade, tanto na escola quanto em espaços os mais diversos em que todos nós exercemos nossa humanização (como ensinou Freire), nossa incompletude, nessa via infinda de experiências e aprendizados que cultivamos a cada dia - desaprendendo oito horas por dia, como ensina Manoel de Barros.

E desaprendendo a cada dia recebemos o ano de 2023, que chegou carregado de alegrias e de tensões, quase concomitantes, no desafio a quem educa de fazer pensar de que modo nossas intervenções no mundo da educação, se desaprendidas, ensinam os princípios. Quais seriam esses princípios de Manoel de Barros que nos demandariam maiores aproximações para alcançarmos os que se afastaram de conhecimentos produzidos pela ciência e passaram a se balizar por redes virtuais, etéreas, fugazes, tão longe da materialidade das pedras, dos rios, das lesmas que esse mesmo Manoel de Barros, agarrado ao chão que lhe enraíza, poetiza de modo tão belo, e quando ensina que “Ocupo muito de mim com o meu desconhecer”?

Necessário se fez, para nós, reencontrar Manoel de Barros para que, de novo, pudéssemos voltar a sorrir, a reencantar a vida que parecia ressurgir da obscuridade em que andávamos vivendo. As “verdades” que se descortinaram diante de nós no 8 de janeiro (que a memória não deixará esquecer) e nos acontecimentos que se seguiram forjaram a sensação ditada pelo poeta de que “Ontem choveu no futuro” (BARROS, 1993, Dia Um, p. 33), ou, como no ditado iorubá, “Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”. Essas “verdades” se imiscuíram nos cantos de alegria que começávamos a entoar... “verdades” sem lastro, sem chão, sem raiz, capazes de colaborar para interpretações toscas, obtusas e abjetas de fatos, promovendo acontecimentos que desprezam normas, pactos estabelecidos em sociedades democráticas, em que direitos existem para serem usufruídos por homens e mulheres, de qualquer idade, em respeito ao reconhecimento do outro como legítimo outro.

Nosso primeiro número chega nesse tempo, entre esperançoso e surpreendido, sem seção temática definida, prévia, mas aberto à possibilidade de revelar autores e autoras que tiveram seus artigos aprovados, numa aposta permanente em nossa Revista e na qualidade do diálogo que Teias tem mantido com os mais diversos temas, conhecimentos, orientações teóricas, epistemológicas e metodológicas de quem pesquisa em educação.

São 26 artigos, distribuídos em três seções, que encontrarão leitores e leitoras dispostos a ler, refletir e criar vínculos com os repertórios anteriormente vividos no campo - e que instigam novas formas de pensar a realidade e de, crítica e criativamente, compreendê-la. O momento é, pois, de reflexão, de introspecção e de se mobilizar ativamente em busca de paz, em direção a um outro momento possível, necessário, imperturbável. E é de novo Manoel de Barros (2013, p. 7) que nos oferece esse alento:

Eu não vou perturbar a paz

De tarde um homem tem esperanças.

Está sozinho, possui um banco.

De tarde um homem sorri.

Se eu me sentasse a seu lado

Saberia de seus mistérios

Ouviria até sua respiração leve.

Se eu me sentasse a seu lado

Descobriria o sinistro

Ou doce alento de vida

Que move suas pernas e braços.

Mas, ah! eu não vou perturbar a paz que ele depôs na praça, quieto.

REFERÊNCIAS

BARROS, Manoel de. I. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1993. [ Links ]

BARROS, Manoel de. Face imóvel. São Paulo: LeYa, 2013. [ Links ]

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