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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.24 no.72 Rio de Janeiro jan./mar 2023  Epub 03-Ago-2023

https://doi.org/10.12957/teias.2023.64427 

Artigos de Demanda Contínua

OLHARES SOBRE A DISLEXIA, INCLUSÃO E A SAÚDE MENTAL NA EDUCAÇÃO SUPERIOR

LOOKS AT DYSLEXIA, INCLUSION AND MENTAL HEALTH IN HIGHER EDUCATION

ANALIZA LA DISLEXIA, LA INCLUSIÓN Y LA SALUD MENTAL EN LA ENSEÑANZA SUPERIOR

Mara Dantas Pereira1 
http://orcid.org/0000-0002-5943-540X; lattes: 7410506618665362

Joilson Pereira da Silva2 
http://orcid.org/0000-0001-9149-3020; lattes: 8153511774866503

1Universidade Federal de Sergipe

2Universidade Federal de Sergipe


Resumo

Este artigo teve como objetivo realizar uma reflexão teórica sobre a dislexia, inclusão e saúde mental na educação superior. Para tanto, o trabalho foi desenvolvido dentro da abordagem de pesquisa bibliográfica, com a utilização de documentos legisladores, técnicos e científicos. O texto está organizado em quatro seções: i) dislexia: características, consequências e seus desafios para o diagnóstico; ii) desafios à inclusão de estudantes disléxicos na educação superior: uma deficiência invisível; iii) repercussões da dislexia na saúde mental de universitários: caminhos de enfrentamento; e iv) discussão dos resultados. Os resultados apontaram possíveis repercussões negativas da dislexia na aprendizagem e saúde mental do estudante universitário. Diante disso, entende-se a importância de as instituições de ensino superior fornecerem recursos de enfrentamento que possibilitem a valorização destes indivíduos, respeitando suas especificidades, por meio de intervenções educativas, para prevenção e promoção da saúde mental no âmbito universitário.

Palavras-chave: dislexia; educação superior inclusiva; saúde mental

Abstract

This article aimed to make a theoretical reflection about dyslexia, inclusion and mental health in higher education. To this end, the work was developed within the bibliographic research approach, with the use of legislative, technical and scientific documents. The text is organized in four sections: i) dyslexia: characteristics, consequences and its challenges for diagnosis; ii) challenges to the inclusion of dyslexic students in higher education: an invisible disability; iii) repercussions of dyslexia on the mental health of college students: ways of coping; and iv) discussion of the results. The results pointed out possible negative repercussions of dyslexia on learning and mental health of university students. Therefore, it is understood the importance of higher education institutions to provide coping resources that allow the valorization of these individuals, respecting their specificities, through educational interventions, for the prevention and promotion of mental health in the university environment.

Keywords: dyslexia; inclusive higher education; mental health

Resumen

Este artículo pretende realizar una reflexión teórica sobre la dislexia, la inclusión y la salud mental en la enseñanza superior. Para ello, el trabajo se desarrolló dentro del enfoque de investigación bibliográfica, con el uso de documentos legislativos, técnicos y científicos. El texto está organizado en cuatro secciones: i) la dislexia: características, consecuencias y sus retos para el diagnóstico; ii) los retos para la inclusión de los estudiantes disléxicos en la educación superior: una discapacidad invisible; iii) las repercusiones de la dislexia en la salud mental de los estudiantes universitarios: formas de afrontamiento; y iv) la discusión de los resultados. Los resultados señalaron las posibles repercusiones negativas de la dislexia en el aprendizaje y la salud mental de los estudiantes universitarios. Por lo tanto, se entiende la importancia de que las instituciones de educación superior proporcionen recursos de afrontamiento que permitan la valoración de estos individuos, respetando sus especificidades, a través de intervenciones educativas, para la prevención y promoción de la salud mental en el ámbito universitario.

Palabras clave dislexia; educación superior inclusiva; salud mental

INTRODUÇÃO

Vivemos em um mundo onde a capacidade de ler é uma habilidade essencial para o sucesso acadêmico e para participar plenamente da sociedade. Assim, as dificuldades de leitura podem levar a consequências negativas, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade em geral. A leitura é definida como o produto da decodificação e da compreensão, visualizada na seguinte equação: Leitura = decodificação (i.e., processo no qual o leitor transforma as retas e curvas que compõem as letras em sons oralizados ou numa imagem mental do som) × (escuta) compreensão (ANDRESEN, MONSRUD, 2021; COSCARELLI, 2016). Inferimos que, conforme esta equação, tanto a decodificação quanto a compreensão (auditiva) são necessárias para que a leitura seja bemsucedida.

No entanto, alguns jovens adultos podem ter dificuldades de leitura decorrentes da dislexia. Essa condição é um transtorno de natureza neurobiológica, caracterizada por alterações na velocidade de leitura e dificuldade na decodificação e soletração das palavras (ELLIOTT, 2020). E, de acordo com evidências epidemiológicas, estima-se que de 5 a 20% da população mundial apresenta sinais de dislexia (SORIANO-FERRER, PIEDRA MARTÍNEZ, 2017).

Hoje é possível observar que em uma sociedade letrada, e com um contexto multicultural, há uma necessidade urgente de uma resposta da educação superior, com atenção à diversidade, possibilitando que todos os alunos disléxicos sejam formados em condições favoráveis, em que possam socializar sua aprendizagem em um clima institucional positivo. Sendo assim, o ponto que estamos querendo enfatizar é a necessidade de reconhecer a relevância da educação superior inclusiva no processo de ensino e aprendizagem e na convivência social dessa população, a fim de compreender e respeitar a diversidade, prevenindo a discriminação e rotulação.

É relevante dizer que ser disléxico significa carregar um estigma associado à sua condição, como baixa inteligência (SAKO, 2016). Consequência desse entendimento errado acerca da condição é o sentimento de inferioridade e a falta de confiança exibidos por este indivíduo perante suas atividades acadêmicas; o que pode influenciar negativamente na sua saúde mental. Compreendemos então, que os estudantes universitários disléxicos experimentam grandes desafios acadêmicos, envolvendo problemas nas relações interpessoais com seus pares e professores, devido à insegurança e a pressões relacionadas ao tempo gastos nas atividades que envolvem leitura e escrita, ocasionando a presença de sintomas ansiosos e depressivos nestes sujeitos (PAOLONI, 2017).

Considerando-se as reflexões aqui abordadas, defendemos que cada estudante universitário é um indivíduo único, que nasce, cresce e se desenvolve de modo próprio, apresentando pontos fortes, fraquezas e diferentes tradições culturais. Essa diversidade se revela, também, nas diferenças de grupos em relação ao gênero, etnia, renda familiar e condições de moradia, por exemplo; mas acontece também de características individuais, tal como o nível e tipo de inteligência, a personalidade, habilidades físicas, entre outras (SANTOS, MENDES, 2021). No caso dos estudantes com dislexia, público-alvo da educação superior inclusiva, as dificuldades de aprendizagem podem refletir em atrasos gerais no desenvolvimento acadêmico, no emocional e no profissional.

Diante do exposto, ressaltamos que nossos estudos sobre alunos disléxicos no ensino superior produziram (in)certezas, colaborando para aumentar as inquietações e indagações sobre a inclusão. A aproximação com a literatura sobre a dislexia, levou-nos a perceber que esta condição vem gerando repercussões significativas na saúde mental dessa população. Infelizmente, ainda nos deparamos com poucas pesquisas nacionais acerca desta temática, evidenciando, assim, a necessidade de estudiosos brasileiros da educação e psicologia voltarem seus olhos para esta necessária discussão.

Refletir esse contexto, no qual emerge partilhar um olhar sobre a dislexia, inclusão e a saúde mental, é o que nos instigou, por meio de pesquisa bibliográfica na literatura nacional e internacional, de natureza reflexiva com base teórica em estudiosos e nos documentos legisladores, técnicos e científicos; a escrever o artigo. Para Alcântara et al., (2021), a pesquisa teórica é desenvolvida levando em consideração os materiais que foram tornados públicos a respeito da pesquisa proposta. Este tipo de estudo favorece o contato direto do estudioso com tudo aquilo que já foi escrito sobre o seu trabalho. Sendo assim, vale ressaltar que este artigo foi construído com aporte teórico em Matthews (2009), Sako (2016), Paoloni (2017), dentre outros. Além disso, ainda lançamos mão de documentos legisladores, como, por exemplo, as Políticas Educacionais Inclusivas, tanto na esfera nacional como na internacional; a Lei n. 14.254/2021, que dispõe sobre o acompanhamento integral para educandos disléxicos; e instrumentos técnico-científicos da World Health Organization, que, em português, significa Organização Mundial de Saúde.

O presente trabalho objetiva realizar uma reflexão teórica sobre a dislexia, inclusão e saúde mental na educação superior. Para tanto, inicialmente, discorreremos sobre esta condição, explorando as características, as consequências e os desafios enfrentados para o seu diagnóstico na universidade. Em seguida, apresentaremos algumas considerações sobre os desafios à inclusão de estudantes disléxicos na educação superior, mostrando os motivos para considerá-la uma deficiência invisível. Feito isso, dissertamos acerca das repercussões da dislexia na saúde mental de universitários, apontando os possíveis caminhos de enfrentamento. Por fim, realizamos uma discussão dos resultados encontrados na literatura revisada neste artigo.

DISLEXIA: CARACTERÍSTICAS, CONSEQUÊNCIAS E SEUS DESAFIOS PARA O DIAGNÓSTICO

Historicamente, muitos educadores e pesquisadores ainda se agarram a várias teorias para fins educacionais, de diagnóstico e de pesquisa; que podem funcionar em conjunto com alterações nas habilidades do processamento fonológico. Sob essa ótica, sabe-se que o déficit na consciência fonológica é a base cognitiva da dislexia (ANDRESEN, MONSRUD, 2021). Levando em consideração essa perspectiva e avanços do século XX, em que a alfabetização ganhou força por meio de ações de incentivo à leitura e à escrita na escola, o referido termo passou a ter vários conceitos, tendo surgido diversas pesquisas a este respeito. Nesse sentido, a Associação Internacional de Dislexia (Internacional Dyslexia Association [IDA], 2002) defendeu o seguinte conceito: deficiência de aprendizagem específica de origem neurobiológica, caracterizada pela dificuldade do reconhecimento preciso e/ou fluente das palavras e por baixo desempenho ortográfico e de decodificação. Nessa concepção, é caracterizada por dificuldade de decodificar símbolos da escrita que interfere diretamente na leitura.

Em relação à classificação e categorização da dislexia, existe um sistema internacional de categorização que é relevante no campo da psicologia. Sendo a décima primeira revisão da Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11), desenvolvida pela Associação Americana de Psiquiatria, entrou em vigor a partir de 1º de janeiro de 2022, colocando-a na categoria MB4B, que aborda as Disfunções Simbólicas, na subcategoria 6A03 - Transtorno de Aprendizagem Geral (WORLD HEALTH ORGANIZATION [WHO], 2021); que se caracteriza por pertencer há um grupo de transtornos do desenvolvimento de base neurobiológica indicado por dificuldades significativas e persistentes na aprendizagem de habilidades acadêmicas que podem incluir: 6A03.0 - Transtorno de Aprendizagem com Impacto na Leitura, 6A03.1 - Transtorno de Aprendizagem com Impacto na Escrita e/ou 6A03.2 - Transtorno de Aprendizagem com Impacto na Matemática.

No que tange à epidemiologia e à pesquisa na área da saúde, estima-se que de 5 a 20% da população mundial é disléxica. Já na idade adulta, a dislexia afeta cerca de 4% de indivíduos no mundo (SORIANO-FERRER, PIEDRA MARTÍNEZ, 2017). De modo geral, estimativas apontam que 7,8 milhões de brasileiros possuem essa condição (INSTITUTO ABCD, 2020). Diante desse panorama, é oportuno ter em mente que as características apresentadas são diferentes em crianças e jovens adultos, visto que a baixa precisão leitora e de escrita, e a consciência fonológica (e.g., a consciência silábica e a consciência fonêmica) se apresentam como as predominantes dificuldades dos jovens adultos (ELLIOTT, 2020). A título de exemplo, o autor afirmou que a população jovem disléxica lê duas a três vezes mais devagar do que seus pares sem dislexia.

Para um diagnóstico correto da dislexia, é imprescindível a avalição diagnóstica multidisciplinar (e.g., médico, psicólogo, fonoaudiólogo, psicopedagogo, entre outros profissionais) e o estabelecimento de diagnóstico diferencial, pois consegue distingui-la de outras alterações de leitura (e decodificação de palavras) associadas a diversos aspectos, que não neurobiológicos, como, por exemplo, às desiguais condições sociais de acesso à educação e aos bens culturais (MICHELINO et al., 2017).

Ainda de acordo com os autores supracitados, é necessário desenvolver ferramentas diagnósticas para entender os mecanismos da dislexia, para a escolha de tratamentos adequados. Destarte, a avaliação neuropsicológica e a cognitiva são amplamente reconhecidas para identificar os sinais dessa condição, utilizando-se os testes que mensuram o funcionamento cognitivo da leitura (KNIGHT, 2021). Recentemente, após 13 anos de luta, no dia 30 de novembro de 2021, foi promulgada a Lei n. 14.254/21, garantindo o oferecimento de um programa de diagnóstico e tratamento precoce a estudantes da educação básica diagnosticados com dislexia ou transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem (BRASIL, 2021). Em suma, hipotetizamos que será uma oportunidade de revolucionar a assistência aos disléxicos no ensino superior.

Nessa visão, ressalta-se que vivenciamos uma grande problemática no ensino superior com o baixo número de diagnósticos para dislexia nesse ambiente, dado que os sinais dessa condição são observados a partir dos processos cognitivos discrepantes que repercutem negativamente na aprendizagem dos estudantes em sala de aula (e.g., reprovações consecutivas na mesma disciplina) (ELLIOTT, 2020). Partindo disso, Andresen e Monsrud (2021) sugeriram que a dislexia deve ser avaliada por meio de comparações da idade de leitura com a cronológica e/ou comparando a habilidade de leitura com o nível educacional e o de realização profissional. Os autores também destacaram que a identificação de sinais de dislexia em estudantes universitários é, frequentemente, através de testes de rastreio, observações em sala de aula e entrevistas com os pais, professores e o próprio aluno, levando este último a receber o apoio educacional necessário para atender as especificidades da sua condição.

DESAFIOS À INCLUSÃO DE ESTUDANTES DISLÉXICOS NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: UMA DEFICIÊNCIA INVISÍVEL

Quando discutimos sobre uma educação superior inclusiva, faz-se relevante destacar o papel que a Declaração de Salamanca ofereceu na garantia do direito à educação. Essa Declaração é considerada uma política educacional inclusiva amplamente reconhecida pela comunidade científica e educacional no mundo, ao considerar, a inclusão, o melhor modo de todos os estudantes aprenderem (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA [UNESCO], 1994). Esse documento colocou a necessidade do atendimento aos alunos pertencentes à educação especial no contexto da inclusão, independentemente de qualquer situação. Isto significa que, no Brasil, todo indivíduo, independente das suas características pessoais, tem direito à educação superior, que está garantido em lei, mediante a Portaria n. 3.284/2003 (BRASIL, 2003, online), que “[...] dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências, para instruir os processos de autorização e de reconhecimentos de cursos, e de credenciamento de instituições”.

Embora, do ponto de vista legal, o direito à educação inclusiva seja garantido, ainda é primordial que outros fatores, além do texto da Portaria, sejam viabilizados, para que seja cumprida, visto que a regulamentação, por si só, é insuficiente para poder transformar as ações educativas no interior da universidade. Diante disso, deve-se desenvolver uma proposta educativa que respeite a necessidade de todos os indivíduos e lhes oportunize experienciar processos educacionais que propiciem o exercício da dignidade, do respeito e da alteridade.

Enfatiza-se que a educação inclusiva no âmbito universitário é o processo de adequação curricular para que todos os alunos possam receber uma educação de qualidade, cada um, a partir do conhecimento que chega à universidade, independente da raça, etnia, gênero, situação socioeconômica, deficiências etc. Ainda se faz necessário chamar a atenção para o fato de que o número de estudantes com deficiência matriculados em cursos de graduação vem aumentando em nível mundial, sendo frequentemente relatados casos de dislexia (JACOBS et al., 2020; MATTHEWS, 2009; SHAYWITZ et al., 2020).

Utilizamos ainda uma visão socioantropológica para entender deficiência advinda de uma interação complexa de múltiplas dinâmicas existentes entre fatores biológicos, individuais e ambientais (BIANCO, MASON, 2021). Nesse âmbito, os estudantes disléxicos representam um desafio particular para professores do ensino superior, porque suas dificuldades estão invisíveis.

Para se pensar nos desafios enfrentados pelos alunos que têm esse diagnóstico, acredita-se que essa condição é tida como uma deficiência invisível, porque interfere no funcionamento acadêmico e do dia a dia, mas é algo que não se percebe como deficiência física nos alunos (SHAYWITZ et al., 2020). Cabe, aqui, a compreensão de que ter uma deficiência considerada invisível pode fazer com que seja mais fácil para eles serem tratados como normais; mas também significa que a validade da condição pode ser contestada e que outros podem não entender totalmente a extensão das suas limitações.

Ao mesmo tempo, reconhece-se que, para uma prática docente pautada em uma perspectiva inclusiva, os professores devem conhecer as necessidades particulares dos alunos, e isso ainda exige que eles revelem essas necessidades. Apesar dos esforços dos docentes universitários, encorajando os estudantes a deixarem claras suas necessidades particulares de aprendizagem, muitos optam por não o fazer. Um bom exemplo disso é retratado no estudo de Matthews (2009), ao relatar um aluno que decidiu não declarar seu diagnóstico ao matricular-se na universidade, fazendo-o somente quando motivado por notas baixas em suas primeiras provas. Isso se deve principalmente ao fato de que os disléxicos sentem que trapaceiam o sistema quando solicitam suporte acadêmico adicional; bem como sentem-se julgados, por seus pares sem dislexia, como preguiçosos ou intelectualmente inferiores, levando à autoexclusão das relações sociais em sala de aula (RIDDELL et al., 2007).

Em face disto, argumenta-se, aqui, que é preciso conscientizar os professores do ensino superior e seus alunos, que a dislexia é uma condição desvinculada da incapacidade; o que pode apresentar novos caminhos para uma educação superior mais inclusiva. Desse modo, é fundamental garantir que os estudantes com deficiência não estejam em desvantagem substancial, em comparação com os demais colegas de turma (KENDALL, 2016). Nesse sentido, relembra-se que as universidades são obrigadas por lei a fazer ajustes antecipados razoáveis, mas estas alterações não são claramente definidas. Elcock (2014) recomenda que os ajustes devem ser específicos para cada estudante com o problema, levando em conta ainda as exigências de cada curso de graduação, antes do início do período letivo (e.g., utilização da tecnologia assistiva ou adaptações em relação à aprendizagem, ensino e avaliação).

Segundo Stoeber e Rountree (2021), os universitários disléxicos enfrentam diversas barreiras na universidade, que demandam estratégias de enfrentamento para lidar com essas dificuldades. A esse respeito, estes indivíduos lidam com a grande carga horária e conteúdo das disciplinas, maior número de atividades de leitura e escrita, a necessidade de um maior autogerenciamento para completar as tarefas, cursos e projetos dentro dos prazos; o que torna a universidade uma constante batalha para eles. Isto posto, reconhece-se que uma forma de barreira para os estudantes com deficiência é a falta de conscientização do corpo docente universitário sobre as diferentes necessidades que os disléxicos podem ter, e identificam que eles, muitas vezes, têm que pedir continuamente os mesmos ajustes razoáveis a fim de apoiá-los, e, frequentemente, este suporte não é dado, como, por exemplo, anotações ou a apresentação em PowerPoint antes da aula, até mesmo não permitir que as aulas sejam gravadas pelos alunos (REDPATH et al., 2013). Nesse excerto, nota-se que estas práticas docentes consideradas negativas criam significativas barreiras para a inclusão plena e, muitas vezes, prejudicam os estudantes com deficiência, em comparativo com seus pares não deficientes.

Também, os alunos disléxicos apresentam dificuldades em encontrar palavras e falta de fluência na expressão de ideias, ocasionando hesitações para falar com os professores ou em participar ativamente de uma discussão em grupo em sala de aula, o que, consequentemente, implica negativamente na saúde mental desses indivíduos (SORIANO-FERRER, PIEDRAMARTÍNEZ, 2016). À vista disso, Jacobs et al. (2020) defenderam a relevância de se utilizar técnicas de aprendizagem autodirigidas (i.e., pode ser compreendida como um processo em que o indivíduo estabelece suas necessidades, define suas metas, busca por recursos materiais e humanos, monitora e avalia o seu aprendizado) e ações que auxiliem no desenvolvimento de habilidades de comunicação (e.g., leitores de tela e gravadores podem ser ferramentas úteis para apoiar a leitura dos textos) dessa população em classe.

REPERCUSSÕES DA DISLEXIA NA SAÚDE MENTAL DE UNIVERSITÁRIOS: CAMINHOS DE ENFRENTAMENTO

Há uma preocupação crescente no campo da educação em relação à saúde mental de estudantes universitários. Nesse sentido, ansiedade e depressão são dois dos obstáculos mais comuns que estes alunos têm de superar durante a graduação. A ansiedade interfere na concentração e na memória, que são fundamentais para o sucesso acadêmico. Já a depressão pode levar a falta de interesse em frequentar as aulas e um baixo desempenho acadêmico (PEREIRA, SILVA, 2021). Dentro desse contexto, alguns estudos apontam que os estudantes universitários com dislexia encontram-se mais propensos a apresentarem sintomas de ansiedade e depressão, que, por sua vez, terão um efeito negativo em sua educação (SAKO, 2016; DUNDAS et al., 2017; STOEBER, ROUNTREE, 2021).

Nesse sentido, conforme discutem Maccullagh, Bosanquet e Badcock (2017), percebe-se que o disléxico se reconhece como diferente em relação a seus pares, visto que passa longos períodos de tempo tentando compreender o texto e escrevendo as atividades em sala de aula, o que gera, baixa autoestima e ansiedade, tornando-se potenciais fatores de risco no âmbito da saúde mental. Os autores complementam que estes indivíduos se sentem estigmatizados ou insuficientes diante dos professores e dos demais colegas da turma, isolando-se cada vez mais, tornando-se pessoas desconfiadas por serem percebidas como disléxicas, e com especificidades diferentes dos demais.

Assim, pode-se compreender que a saúde mental é um grande desafio para os universitários disléxicos, sendo que sintomas de estresse, ansiedade e depressão vêm aumentando, e é essencial para enfrentar esses desafios uma parceria entre a psicologia e a educação. Além disso, cabe ressaltarmos que as percepções e a compreensões da dislexia pelos professores são fundamentais para a promoção da autoestima e da boa saúde mental de um disléxico (SAUNDERS, EASTAP, 2018). A título de exemplo, os autores afirmam que quando um professor nota problemas de baixa autoestima, associados às dificuldades de leitura em seus alunos disléxicos, ele pode contribuir com ações para o enfrentamento das dificuldades de aprendizagem dos referidos alunos.

A partir dessa consideração, destaca-se que a saúde mental é uma parte integral do indivíduo, e de extrema relevância dentro do modelo biopsicossocial (e.g., articulação do bem-estar físico, mental e social) de saúde, estando pautada no funcionamento saudável e adequado do ser humano (SOUZA, FAVARIN, SCORSOLINI-COMIN, 2021). Conforme a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2008), uma saúde mental adequada se caracteriza por condições individuais que cada um possui, permitindo lidar com os eventos estressores de vida e mantendo a capacidade produtiva de colaborar junto à comunidade.

Eventos estressores compõem a vida dos jovens adultos universitários, fazendo parte do desenvolvimento saudável aprender a lidar com esses momentos. No entanto, os estudantes disléxicos tendem a apresentar frequentemente níveis elevados de estresse relacionados aos obstáculos (e.g., dificuldades de para ler textos longos e de discuti-los em sala de aula) enfrentados no decorrer da graduação (SAKO, 2016). Concomitantemente, Shaywitz et al. (2020) evidenciaram altos níveis de estresse acadêmico (Média= 3,64; desvio padrão= 0,96) nessa população.

Outro aspecto psicológico que precisa ser bem definido é a ansiedade em disléxicos, que, de acordo com a tese de Paoloni (2017), os estudantes com dislexia se encontram mais vulneráveis a apresentar sintomas de ansiedade no decorrer da graduação, indicando um sério problema de saúde mental, frequentemente relacionado às atividades diárias em sala de aula e negligenciado pelas instituições de ensino superior, com graves implicações para a qualidade de vida e para o desempenho acadêmico. Em vista disso, esclarecemos que a ansiedade pode ser apontada como uma emoção natural que opera como impulso para a pessoa alcançar seus objetivos. Contudo, esse estado emocional pode tornar-se excessivo e, assim, configurar-se como transtorno, repercutindo negativamente na vida do sujeito, e dificultando a capacidade de adaptação e enfrentamento às situações cotidianas (ALVES, 2014).

Ainda segundo Paoloni (2017), um quadro de ansiedade vivenciado pelo disléxico pode evoluir para uma depressão relacionada ao constante sentimento de desamparo em torno das dificuldades no estabelecimento de relações interpessoais com colegas e professores em sala de aula. De um modo geral, a depressão é uma desordem afetiva caracterizada pelo baixo humor, anedonia, baixa tolerância, maior possibilidade de exibir culpa e uma deficiência geral na capacidade de dar e receber afeto dos outros (PÉREZ-VILLALOBOS et al., 2012).

Nessa perspectiva, admite-se a importância do estabelecimento de estratégias, buscando promover a saúde mental do universitário disléxico. No entanto, ainda não há uma estruturação específica sobre qual o caminho ideal a ser traçado para o alcance máximo e efetivo dessas atividades, assim como há poucos estudos nacionais e internacionais, com amostras representativas da população de estudantes com dislexia, que reportem atividades nas universidades que buscam sanar necessidades referentes ao autocuidado emocional. Essa afirmação fica evidenciada pelo estudo realizado por Pereira e Silva (2021).

O estudo de Ramos et al. (2018) descreveu o apoio psicológico oferecido aos estudantes na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), através do Programa de Triagem Psicológica e do Serviço de Atenção Psicológica ao Graduando. Este programa objetiva auxiliar os participantes a enfrentarem os desafios relacionados ao contexto acadêmico e aqueles que surgem ao longo do processo de formação no ensino superior. Os autores relataram avaliação positiva dos participantes, ao término dos projetos, referente às suas convicções de ampliação de recursos para desenvolvimento de competências pessoais e minimização da probabilidade da presença de sintomas de ansiedade e depressão. Hipotetiza-se que este pode ser um promissor caminho para se trabalhar com os estudantes disléxicos, visto que a natureza da vida estudantil significa que os universitários enfrentam situações e tarefas nas quais são exigidas interações sociais. Isto posto, é fundamental o desenvolvimento de competências pessoais para lidar com as exigências da vida acadêmica.

Considerando a fala de Stoeber e Rountree (2021), os disléxicos necessitam de habilidades pessoais e interpessoais para gerenciar os seguintes desafios ao longo da graduação: necessidade de maior autonomia no processo de aprendizagem, ampliação das responsabilidades acadêmicas, capacidade de responder a expectativas pessoais, e relacionamentos interpessoais com professores e colegas em sala de aula. Em completude, esses desafios são reconhecidos como ocasionadores de adoecimento psíquico (SHAYWITZ et al., 2020).

Por sua vez, Guadalupe et al. (2019) apresentaram uma intervenção baseada em estratégias de mindfulness (i.e., refere-se à atenção plena para o funcionamento da mente, do corpo e do comportamento), realizadas ao longo de oito encontros. Os autores observaram mudança do estilo de vida dos participantes e na melhoria das relações interpessoais, colaborando para a ampliação do autocuidado, autoconhecimento, além de mudança da percepção social e de si mesmo. Essas alterações oportunizaram melhorias no cotidiano dos estudantes universitários, por propiciarem a autocompaixão e o pensamento crítico, e por assumirem um papel facilitador para a realidade acadêmica.

Quanto às perspectivas dos autores supracitados, acredita-se, por exemplo, que as práticas de mindfulness são fundamentais para o enfrentamento da ansiedade e da depressão em estudantes disléxicos no ensino superior, tendo em vista os estudos de Dundas et al. (2017).

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Constatou-se, a partir dos resultados descritos, que o desafio com a dislexia é que ela é vista como um problema; e pode não ser somente uma dificuldade de aprendizagem de leitura, mas uma grande falha de nossos sistemas e ações educacionais para abordar e entender o padrão de aprendizagem único de diferentes cérebros, visto que os disléxicos processam informações em uma área diferente de seu cérebro. Os indivíduos não nascem com habilidades de leitura ou escrita, eles devem ser ensinados e aprender.

Como se pode observar, entendemos que o problema surge com a classificação da leitura e da escrita como habilidades linguísticas. Se a dislexia é descrita como uma dificuldade de aprendizagem, então o disléxico enfrenta obstáculos na sua formação acadêmica. Nesse contexto, sabe-se que o diagnóstico, a avaliação e a detecção de sinais de dislexia representam uma série de desafios educacionais, biológicos e de pesquisa. Diante disso, deparamo-nos com o questionamento: como são escolhidas, acadêmica ou biologicamente, isto é, geneticamente; as amostras de populações disléxicas para estudos? A compreensão de como a condição é diagnosticada permite defini-la com mais precisão. Com isso, é importante desenvolver recursos didático-pedagógicos adaptados para estudantes disléxicos, para que eles possam alcançar o sucesso acadêmico.

Dito isso, compreendemos a necessidade do diagnóstico da dislexia por parte da universidade, âmbito a partir do qual se espera a detecção desta condição, para efeito de uma intervenção imediata que consiga resolver as dificuldades acadêmicas com as quais se depara o disléxico. Dessa forma, é crucial que as instituições de ensino superior tracem planos de ações para o estabelecimento de recursos para avaliação de disléxicos. Portanto, apenas após o diagnóstico, as instituições de ensino superior podem oferecer uma variedade de espaço e formas de apoio pedagógico para atender as especificidades dos disléxicos.

Além disso, é indispensável se trabalhar com oficinas pedagógicas em sala de aula, objetivando tecer discussões sobre as questões e preocupações que muitos jovens universitários, com e sem dislexia, enfrentam durante seu percurso na universidade, e encorajá-los a considerar as formas de buscar apoio apropriado para si mesmos ou apoiar seus colegas com dificuldades. Nessa linha de argumentação, o estudo de Matthews (2009) defende que é preciso implementar oficinas que incluam a discussão, em pequenos grupos, de uma série de estudos de casos fictícios de estudantes que enfrentam desafios para sua aprendizagem, incluindo as limitações de tempo e do trabalho remunerado, além de cuidados com a família, ansiedades sobre modos particulares de avaliação, e dificuldades com a leitura e participar de discussões em grupo.

Diante do conteúdo que precisa ser ensinado, os pressupostos de uma prática inclusiva podem ser efetivados se o professor tiver a colaboração da universidade em seu planejamento didático-pedagógico, e com estratégias que visem eliminar barreiras para o universitário disléxico. Assim sendo, apoiar todos esses indivíduos é, portanto, um dever para prática docente e uma questão complexa para todas as universidades; e isso requer mais pesquisas para compreender as reais necessidades destes indivíduos.

Somente a partir do conhecimento de questões associadas ao funcionamento individual destes estudantes, oriundos da educação inclusiva, os apoios e suportes poderão ser disponibilizados para que eles participem e construam conhecimentos essenciais para seu desenvolvimento acadêmico na sala de aula. Logo, esta proposta de arranjo pedagógico, tendo o princípio da colaboração, representa um diferencial que necessita estar em concordância com as políticas públicas voltadas para implementação da inclusão no interior de nossas universidades.

Podemos inferir, portanto, que a inclusão do disléxico exige que a universidade, como lócus de desenvolvimento de dado projeto educativo, realize algumas adaptações que incluem os aspectos relativos à flexibilização curricular, formação continuada dos professores sobre dislexia, revisão metodológica e, de modo muito dinâmico, oferte tecnologias digitais que possam ajudar os disléxicos na leitura. Além disso, defendemos a necessidade de reavaliar as atuais prestações de serviços de acessibilidade pedagógica ofertados pelas instituições de ensino superior, em alinhamento com um modelo de dislexia que possibilite individualizar e capacitar estes estudantes, ao invés de incapacitá-los. Desse modo, é importante uma maior compreensão dos desafios encontrados por estes indivíduos, para elaborar recursos e adaptações pedagógicas que promovam a inclusão e equiparação de oportunidades na universidade, tornando-os, assim, fundamentais princípios reguladores da prática docente.

Diante desse contexto, reforçamos a importância da realização de treinamentos em necessidades educacionais especiais e cursos sobre a dislexia para novos professores e formação continuada dos docentes seniores. A esse respeito, ressaltamos que estes educadores vivenciam uma realidade extenuante marcada pela falta de habilidades para diferenciar efetivamente os disléxicos dos outros alunos em suas turmas, o que reforça a relevância dos treinamentos. Ademais, esses indivíduos ocultam a verdadeira natureza de suas dificuldades de leitura, de seus professores, tendo como consequência o sofrimento psíquico, impactando negativamente na saúde mental e no rendimento acadêmico ao longo do percurso universitário.

No fluxo dessas evidências, urge-se a necessidade da implementação de possíveis estratégias de enfrentamento para universitários disléxicos, alinhando-se, principalmente, com o trabalho conjunto entre a educação e a psicologia. Reconhecemos a importância de entender o problema, intervir precocemente, oferecer o apoio apropriado em saúde mental para estes indivíduos nas instituições de ensino superior. Por exemplo, recomenda-se a implementação de intervenções baseadas em mindfulness para o enfrentamento do adoecimento mental de disléxicos.

Outra estratégia de enfrentamento é uma intervenção educativa para promover o fortalecimento positivo da autoeficácia em estudantes com dislexia, visto que é um mecanismo fundamental para minimizar os efeitos dos sintomas de ansiedade e depressão, ou seja, um fator significativo de proteção à saúde mental. Além disso, maiores crenças de autoeficácia permitem a melhor superação ou enfrentamento das dificuldades no curso de graduação (PEREIRA, SILVA, 2021). Interessante ressaltar que a autoeficácia é um indicador altamente eficiente da motivação e aprendizagem dos alunos, e prevê resultados e decisões acadêmicas (ZIMMERMAN, 2000).

Assim, defendemos que o ambiente universitário deve fornecer recursos de enfrentamento que permita a valorização destes indivíduos, respeitando suas especificidades, por intermédio de intervenções educativas, para prevenção e promoção da saúde mental no ensino superior.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acreditamos e defendemos, neste artigo, que a inclusão é um motivo para que a universidade se modernize e os professores aperfeiçoem suas práticas, e, assim sendo, a integração na educação superior de universitários disléxicos torna-se uma consequência natural de todo um esforço de atualização e de reestruturação das condições atuais do ensino na graduação. É imperioso destacar ainda que, pensar nos processos de aprendizagem e construção de conhecimento em alunos disléxicos, é um grande desafio para os professores universitários.

Para alcançarmos uma educação superior inclusiva é necessária a formação continuada do corpo docente sobre dislexia. Além disso, a universidade deve possibilitar, na prática diária, um clima educacional positivo e capaz de estimular o saber e a cultura, a fim de proporcionar aos disléxicos o desenvolvimento de conhecimentos técnicos, éticos e humanos, para que se formem futuros profissionais mais autoconfiantes e humanizados.

Nesta pesquisa, a análise de dados da revisão de literatura revelou possíveis repercussões negativas da dislexia na aprendizagem do estudante universitário, no entanto, não há treinamento especializado no ensino dos disléxicos ou no reconhecimento dos sinais dessa condição em jovens adultos nas universidades, apesar da necessidade de um diagnóstico mais precoce possível. Isto levanta questões de como as instituições de ensino superior podem garantir que seus agentes educativos tenham conhecimento dessa condição e como esses professores podem apoiar os estudantes disléxicos. E ainda observamos os impactos das dificuldades da leitura na saúde mental do universitário, o que vai requerer a implementação da assistência psicológica especializada para atender a estes indivíduos.

Dessa maneira, reconhece-se que a universidade pode ser um período de especial vulnerabilidade, visto que, na maioria dos casos, o disléxico tem que responder a vários desafios impostos ao mesmo tempo. Ademais, a universidade responderá de forma mais adequada aos desafios da inclusão colocados, se cuidar dos seus universitários disléxicos e se apoiar a saúde mental deles, abrindo lugares de escuta, palavra e pensamento. Assim, as intervenções se tornam espaços de autocuidado que cruzam a psicologia e a educação, constituindo um importante recurso para promoção de saúde mental e para a melhoria do desenvolvimento acadêmico desses estudantes.

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Recebido: Dezembro de 2021; Aceito: Dezembro de 2022

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