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Revista Teias

versão impressa ISSN 1518-5370versão On-line ISSN 1982-0305

Revista Teias vol.25 no.76 Rio de Janeiro  2024  Epub 07-Mar-2024

https://doi.org/10.12957/teias.2024.74339 

Artigo de Demanda Contínua

PRÁTICAS COTIDIANAS E A CRITICIDADE DOS POVOS ORIGINÁRIOS: integração à luz de Paulo Freire

EVERYDAY PRACTICES AND THE CRITICISM OF ORIGINAL PEOPLE: Paulo Freire’s integration

PRÁCTICAS COTIDIANAS Y LA CRÍTICA DE LOS PUEBLOS ORIGINALES: la integración a la luz de Paulo Freire

Alessandra Falcão Teixeira1 
http://orcid.org/0000-0002-1112-6536; lattes: 1847191552597657

Cecília de Fátima Castelo Branco Rangel de Almeida2 
http://orcid.org/0000-0002-9535-5677; lattes: 6822335833269840

1Universidade Federal Rural de Pernambuco

2Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco


Resumo

Este artigo é parte de uma pesquisa de doutorado em educação que buscou conhecer como indígenas nordestinos recepcionam o processo educacional ofertado nas graduações, uma vez que a universidade não foi idealizada para as minorias. Para tanto, investigaram-se as práticas cotidianas utilizadas por um grupo de indígenas dos cursos de ciências biológicas, zootecnia, licenciatura em educação do campo, engenharia de pesca, pedagogia, educação física, engenharia agronômica e licenciatura em história. A metodologia aplicada teve natureza quantitativa, baseou-se num estudo de caso por meio de entrevistas, observações e questionários. A interpretação dos dados tem perspectiva de análise temática de Bardin. O objetivo deste trabalho é apresentar os resultados obtidos por meio de entrevistas e questionários. Com aporte teórico em Michel de Certeau e em Paulo Freire, chegou-se à conclusão de que as práticas cotidianas e a consciência crítica do processo histórico que vivenciam auxiliam discentes indígenas na integração à universidade.

Palavras-chave indígenas; práticas cotidianas; criticidade

Abstract

This article is part of a doctoral research in Education that sought to know how Northeastern indigenous people receive the educational process offered in graduations, since the university was not idealized for minorities. In order to do so, the daily practices used by a group of indigenous people from the courses of Biological Sciences, Animal Science, Degree in Rural Education, Fisheries Engineering, Pedagogy, Physical Education, Agronomic Engineering and Degree in History were investigated. The applied methodology was quantitative and qualitative in nature, based on a case study through interviews, observations and questionnaires. Data interpretation has a Bardin thematic analysis perspective. Thus, the objective of this work is to present the results obtained, through interviews and questionnaires. With theoretical support in Michel de Certeau and Paulo Freire, we came to the conclusion, after analyzing the results, that everyday practices and critical awareness of the historical process they experience help them to integrate into the university.

Keywords indigenous; everyday practices; criticality

Resumen

Este artículo es parte de una investigación de doctorado en educación que buscó conocer cómo los indígenas del Nordeste acogen el proceso educativo ofrecido en las graduaciones, ya que la universidad no fue idealizada para minorías. Para ello, se indagaron las prácticas cotidianas utilizadas por un grupo de indígenas en ciencias biológicas, zootecnia, licenciatura en educación rural, ingeniería pesquera, pedagogía, educación física, Ingeniería agronómica y licenciatura en historia. La metodología aplicada fue de carácter cuantitativo y cualitativo, basada en un estudio de caso a través de entrevistas, observaciones y cuestionarios. La interpretación de datos tiene una perspectiva de análisis temático de Bardin. El objetivo de este trabajo es presentar los resultados obtenidos a través de entrevistas y cuestionarios. Con apoyo teórico de Michel de Certeau y Paulo Freire, se concluyó que las prácticas cotidianas y la conciencia crítica del proceso histórico que viven ayudan a los estudiantes indígenas a integrarse a la universidad.

Palabras clave indígena; prácticas cotidianas; criticidad

INTRODUÇÃO

Os povos originários cada vez mais ocupam os espaços acadêmicos não apenas para se profissionalizarem, mas também para se fortalecerem e se protegerem da sociedade não indígena. Para tanto, muitas vezes precisam se (re)inventar. Considera-se como principal causa da necessidade dessa (re)invenção, a divisão da humanidade pelos europeus e a crença de que os povos de fora daquele continente eram atrasados, inferiores e incapazes de se autogovernarem. Nesse sentido, Krenak (2020, p. 11) aponta que:

A ideia de que os brancos europeus podiam sair colonizando o resto do mundo estava sustentada na premissa de que havia uma humanidade esclarecida que precisava ir ao encontro da humanidade obscurecida, trazendo-a para essa luz incrível. Esse chamado para o seio da civilização sempre foi justificado pela noção de que existe um jeito de estar aqui na Terra, certa verdade, ou uma concepção de verdade, que guiou muitas das escolhas feitas em diferentes períodos da história.

Já Graúna (2007, p. 31) nos mostra a visão do caráter conflituoso, colonizador e devastador que foi a empreitada portuguesa para os povos que aqui encontraram:

Um pernil de carneiro retalhado em fatias aos que foram chegando cada vez mais estrangeiros.

No vai-e-vem de troncos. Quantas nações em prantos! E os homens - daninhos Seduzindo a taba.

Grávidos de malícia

Sedentos de guerra

Dançam a falsidade Esterilizam a festa.

De quinto a quinhentos o ouro encantou-se.

Plastificaram o verde, pavimentaram o destino.

E foi acontecendo

E escurecendo,

Mas de manhã, bem cedinho

Além da Grande

Água Vi um curumim sonhando Com Yvy-Marãey formosa.

Com relação à compreensão que os portugueses tiveram dos indígenas, Potiguara1 (1989, p. 23) nos apresenta citações encaminhadas a Portugal por Pero Vaz de Caminha:

Tudo neles revelava um povo no estado de atrasadíssima civilização. Eram falsos, infiéis, desconfiados e até bárbaros. Sobre a língua desses índios, é única em toda costa brasileira, mas se observa a falta de três fonemas - F-L-R- demonstrando assim que os índios não têm Fé, Lei, nem Rei e desta maneira vivem sem justiça e de maneira desordenada.

Todo este processo de negação da cultura dos povos originários e, em consequência, de valorização da cultura branca, resultou numa imagem negativa do/da indígena, colocando-os/as à margem da sociedade. A partir disso, é necessário travarem batalhas diárias para obter o resgate e o reconhecimento de seus direitos, valores, culturas e modos de vida. Assim, Krenak (2001, p. 72) afirma:

É preciso reconhecer que os sobreviventes das populações originárias daqui vão estar sempre na situação difícil de testemunhas de um processo de invasão, de ocupação de seus territórios. E isso vai durar ao menos enquanto nossas relações não forem orientadas para a convivência dentro de novos parâmetros, iluminada pelo reconhecimento e aceitação de nossas diferenças.

Assim e diante do processo vivenciado pelos povos originários desde a invasão do Brasil pelos portugueses, como os indígenas conseguem se inserir num processo educacional universitário criado para atender os anseios da classe dominante? A resposta a esse questionamento foi obtida por meio de pesquisa desenvolvida no âmbito do programa de pós-graduação em educação em ciências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul junto a um grupo de indígenas graduandos e egressos da Universidade Federal Rural de Pernambuco e do centro de ensino superior do Vale do São Francisco dos cursos de ciências biológicas, zootecnia, licenciatura em educação do campo, engenharia de pesca, pedagogia, educação física, engenharia agronômica e licenciatura em história.

Dessa forma, partindo-se do princípio de que os povos originários sofrem por não serem reconhecidos em sua essência, unicamente porque não aceitaram/aceitam o “[...] formato monocultural, monolinguístico e que tem também uma epistemologia única” (Krenak, 2021, p. 67), buscamos identificar práticas utilizadas no dia a dia no campus que os permitissem se (re)inventar para poderem participar do processo educacional universitário. Para tanto, foi adotada uma metodologia de cunho exploratório e uma pesquisa quanti-qualitativa. Como instrumento de coleta de dados, utilizamos questionários estruturados e semiestruturados, entrevistas e observações. O estudo de caso foi escolhido para conhecer como os indígenas conseguem inserir-se na universidade. Outrossim, convém esclarecer que o trabalho foi desenvolvido durante os primeiros anos da pandemia de Covid19 e, ainda, num período em que os povos originários brasileiros eram vítimas de uma necropolítica. Tais fatos contribuíram para que o estudo fosse de certa forma limitado, pois houve maior dificuldade em desenvolver a pesquisa de campo e, também, observou-se um certo receio por parte dos estudantes indígenas em contribuir com os questionários.

André (2013) apresenta que o sentido do estudo de caso qualitativo seria focar um fenômeno particular, evidenciando o ambiente em que se reproduz e suas múltiplas dimensões, valorizando o aspecto unitário e ressaltando a obrigatoriedade de uma análise situada e em profundidade. Ainda, segundo André (2013, p. 98), “O estudo de caso começa com um plano muito aberto, que vai se delineando mais claramente na medida em que o estudo avança”. Esta pesquisa também é social, pois na medida em que exploramos o cotidiano dos indígenas e procuramos por novos conhecimentos acerca dessa vivência na universidade, aprendemos mais acerca da realidade social desses povos (Gil, 2008). Para análise e interpretação dos dados, utilizamos tabelas e gráficos e a técnica de análise temática na ótica de Bardin (2016, p. 135), que entendia o tema como:

[...] unidade de registro para estudar motivações de opiniões, de atitudes, de valores, de crenças, de tendências etc. As respostas a questões abertas, as entrevistas (não diretivas ou mais estruturadas) individuais ou de grupo, de inquérito ou de psicoterapia, os protocolos de testes, as reuniões de grupo, ou psicodramas, as comunicações de massa etc., podem ser, e frequentemente são analisados tendo o tema por base.

Nessa perspectiva, tomamos como unidade de registro as respostas que obtivemos nas questões abertas e nas entrevistas, quando à ideia dominante ou principal foi suficiente para responder nosso problema de pesquisa (Bardin, 2016). O campo de investigação deste trabalho foi a unidade acadêmica de Serra Talhada (UAST), instituição vinculada à Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e o Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco (Cesvasf). Os participantes do estudo pertenciam às etnias Atikun, Pankará, Truká e Xucuru, cujos territórios localizam-se no estado de Pernambuco, e Tumbalalá que se encontra no estado da Bahia. A amostra deste estudo foi composta por egressos e estudantes cujos períodos acadêmicos variaram entre o 2º e o 10º dos cursos de ciências biológicas, zootecnia, licenciatura em educação do campo, engenharia agronômica e licenciatura em história. Ao todo, foram 27 participantes, sendo 19 do sexo feminino e 8 do sexo masculino. A predominância de participantes que se identificam com o gênero feminino ocorreu de forma aleatória.

A ideia central deste trabalho está relacionada às práticas cotidianas de indígenas na universidade e à inclusão dessas pessoas no processo acadêmico. Para tanto, utilizamos um aporte teórico baseado nas reflexões de Michel Jean Emmanuel de la Barge de Certeau - ou Michel de Certeau, como é mais conhecido - e suas ideias acerca do cotidiano, bem como na criticidade e na integração humana defendida por Paulo Freire. A escolha desses autores foi baseada, também, pela aptidão que tinham em ouvir e respeitar o outro.

Dessa forma, nos apresenta Certeau que da criatividade cotidiana surgem “[...] as maneiras de fazer, que constituem as mil práticas pelas quais usuários se apropriam do espaço organizado pelas técnicas da produção sociocultural” (Certeau, 2012, p. 40-41). Para o melhor entendimento e classificação das práticas, Certeau (2012) utilizou as expressões estratégias (manipulação) e táticas (a arte do fraco). Percebemos com Certeau que tais práticas podem sinalizar (e até mesmo contornar) imposições institucionais e políticas educacionais que, quando foram criadas, não levaram em consideração a diversidade das necessidades daqueles/as que as iriam utilizar. Trazendo esse prisma para nosso estudo, percebemos a relevância do cotidiano no que concerne ao respeito às várias identidades, movimentos e especificidades que se encontram no dia a dia de uma universidade. O cotidiano é entendido como:

[...] aquilo que nos é dado cada dia (ou que nos cabe em partilha), nos pressiona dia após dia, nos oprime, pois existe uma opressão no presente. [...] O cotidiano é aquilo que nos prende intimamente, a partir do interior. [...] É uma história a caminho de nós mesmos, quase em retirada, às vezes velada. [...] Talvez seja inútil sublinhar a importância do domínio desta história irracional, ou desta “não história”, como o diz ainda A. Dupont. O que interessa ao historiador do cotidiano é o Invisível... (Certeau, Giard, Mayol, 1996, p. 31)

Por sua vez, Freire (2011) nos mostra que as relações do homem (entendamos aqui contemplada a mulher também) com a realidade, por meio de seus atos de criação, recriação e decisão, resultam em dominação e humanização do seu mundo. Esse movimento permite sua integração e não sua acomodação ou coisificação. Portanto, a atitude crítica é fundamental para integração. Freire (2011) nos ensina que o homem não apenas está no mundo, mas com o mundo, não sendo apenas um ser de contatos e sim de relações que ocorrem de forma plural na medida em que o sujeito responde à ampla variedade dos seus desafios.

Sensível à escuta e ao diálogo, Freire (2015) defendia que só quem ouve consegue falar, pois os que não ouvem apenas gritam. Além disso, para Freire (2011), não há um sem os outros, e sim ambos em permanente integração, sendo esta resultado da aptidão humana de se ajustar à realidade transformando-a e criticando-a.

RESULTADOS

Os resultados aqui apresentados são oriundos de duas entrevistas e três questionários, dos quais participaram indígenas estudantes do curso de ciências biológicas da unidade acadêmica de Serra Talhada, vinculada à Universidade Federal Rural de Pernambuco. São apresentados abaixo os trechos mais relevantes ao nosso estudo. Para denominar os participantes da pesquisa utilizamos EA para estudante A e EB para estudante B.

Na entrevista, acerca dos obstáculos enfrentados, EA falou que, além da dificuldade financeira em se manter longe de casa, sentiu falta de maior deferência à população de estudantes indígenas por parte da comunidade acadêmica:

Bom. No início da adaptação, acho que foi no período de abril que, dia 18 é..., dia 19 é o dia do Índio, é... teve uma coisa assim que, não vou dizer que fiquei meio triste, mas desanimado com minha, com meu ingresso, né? Que foi ver que as pessoas tratam as questões indígenas aqui na universidade de forma aleatória, sem compromisso, sem ... sem... como é que posso dizer..., sem uma...sem uma..., sem um embasamento, entendeu? Sem um ... Falta alguma coisa. É como se faltasse alguma coisa. É... O pessoal que organiza, porque aqui tem um cinema indígena, o pessoal que organiza não. Realmente trabalham pra mostrar, pra mostrar a realidade indígena, de como tudo é feito, só que o pessoal que vai assistir ele tem um embasamento como se fosse um desleixe entendeu? Não tem uma, uma visão, uma visão antropóloga que aquilo ali foi o começo de tudo né?... aquelas tribos ali foram o começo de tudo aqui, pra se propagar tudo no Brasil antes dos portugueses, eles não têm isso, eles não têm esse respeito, entendeu? É como se faltasse respeito no indígena. Isso foi uma das coisas que me causou uma dificuldade enorme, eu tive que parar pra pensar, poxa... eu tô num lugar que, que as questões indígenas da minha tribo, da minha determinada tribo, conversam isso, fazem isso, eu me senti ofendido com isso! (Pesquisa de campo, 2019, EA).

Para superar a situação, explicou EA que:

Ah! Como eu fiz pra superar, é... a minha superação veio por meio de que: as pessoas, elas dependem de conhecimento, elas precisam de conhecimento e esse conhecimento é passado através desses determinados eventos que têm na Universidade, que é a Semana do Cinema Indígena aqui na Universidade e eu acho assim: que quando a pessoa vai lá e conhece, se expressar, conversar com uma pessoa indígena, ver os artesanatos, ver uma representação do Toré, isso te leva àquela consciência, a criar não. A começar a criar uma consciência, porém, porém na minha análise, essa consciência ela já deveria ter passado bem antes, bem antes do ingresso na universidade, bem antes do ingresso ao nível superior, ser passado no ingresso do Ensino Médio, é meio que o respeito étnico, se tu é, se você é preto, você tem o respeito, se você é quilombola, você tem o respeito, você é indígena, você tem o respeito e saber se respeitar. É... foi a... Essa foi a... a causa que eu consegui pra driblar essa dificuldade, eu disse: não, esse pessoal não tem o mesmo ponto de vista do meu, porém eles estão aqui conhecendo esse ponto de vista agora, entendeu?! (Pesquisa de campo, 2019, EA).

Outro ponto levantado por EA foi quanto ao fenótipo que o/a indígena tem que ter. Isto causava problemas com os demais estudantes:

- Ah... Teve. Teve um problema porque como eu falei do fenótipo, né? Por eu não ter o mesmo fenótipo que uma pessoa indígena, tá ligado, ah, se diz índio ter o cabelo... é... o pessoal julga né? Julgam porque não conhece, isso no começo do meu período, assim no primeiro mês, no segundo mês, no terceiro mês esse pessoal mesmo que me julgava veio conversar comigo e tal aí eu fui explicar que existe genética, que existe várias coisas, que todos nós somos uma miscigenação e isso implica que, implica que é... meio que um desrespeito étnico por eu ser indígena e parecer e ter esse fenótipo é as pessoas têm um desrespeito étnico.

Já EB relatou, quanto às dificuldades vivenciadas, que:

Enfim, dificuldade tem durante o curso inteiro. Questão de didática de professor, de você não conseguir entender aquele professor, mas isso eu acho que é geral também, a turma toda acaba sentindo dificuldade. Na minha sala, também, tem outra menina que é Atikum Umã de Carnaubeira da Penha, então, querendo ou não, assim... quando a gente conversa sobre alguma coisa, acabo... eu sou muito próximo dela, então quando a gente conversa sobre alguma coisa cultural, a gente faz e professores também dão abertura. Esse período eu fiz uma revisão bibliográfica acerca de beberagens e fermentados e a gente apresentou beberagens indígenas: o cauin, o caissuma, várias beberagens indígenas e assim querendo ou não você está dentro da sua vivência e você traz isso para Universidade! (Pesquisa de campo, 2019, EB, grifo nosso).

ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Das narrativas acima, verificamos que as situações expostas por EA, as quais abrangem a escassez dos recursos financeiros, a saudade da família e a falta de respeito pela história indígena, não acarretam sua paralisia. É possível perceber, nas práticas adotadas, sua astúcia em permanecer otimista. Nesse sentido, Giard (2012) apresenta que, para Certeau, “[...] são sempre perceptíveis um elã otimista, uma generosidade da inteligência e uma confiança depositada no outro, de sorte que nenhuma situação lhe parece a priori fixa ou desesperadora” (Giard, 2012, p. 17).

Por outro lado, vê-se claramente que a superação ao problema encontrado por EA veio a partir da reflexão crítica quanto à falta de conhecimento da história indígena preceder a chegada das pessoas à universidade. Para Freire (2011), deve existir uma permanente atitude crítica, uma vez que é ela que vai proporcionar ao homem sua vocação natural de se integrar, não apenas de ajustar-se ou acomodarse. Outrossim, a partir do momento em que a cultura é demonstrada por meio das artes e das expressões culturais como o Toré, as pessoas passam a ter contato com o conhecimento faltoso. Portanto, falar de sua cultura passa a ser uma tática que permite enfrentar sentimentos negativos. Assim, o entrevistado adotou como tática o exercício de sua indianidade para desmistificar os momentos e as expectativas oferecidas num dado período.

Outra situação apontada por EA foi quanto ao questionamento por parte de alguns universitários não indígenas acerca do fenótipo indígena e para desmitificar a ideia preconcebida de que o indígena deveria possuir determinadas características EA lançou mão do diálogo e da realidade dos povos originários nordestinos. Para Freire (2011, p. 60):

A partir das relações do homem com a realidade, resultantes de estar com ela e de estar nela, pelos atos de criação, recriação e decisão, vai ele dinamizando o seu mundo. Vai dominando a realidade. Vai humanizando-a. Vai acrescentando a ela algo de que ele mesmo é o fazedor. Vai temporalizando os espaços geográficos. Faz cultura. E é ainda o jogo destas relações do homem com o mundo e do homem com os homens , desafiado e respondendo ao desafio, alterando, criando, que não permite a imobilidade, a não ser em termos de relativa preponderância, nem das sociedades nem das culturas. E, à medida que cria, recria e decide, vão se conformando as épocas históricas. É também criando, recriando e decidindo que o homem deve participar destas épocas.

Com relação à fala de EB, verificamos que, para se fortalecer em determinadas situações, a pessoa associa-se a uma parenta buscando identificação cultural para superar as dificuldades. Nesse aspecto, Silva e Schuchter (2019) discutem a importância que deve ser dada às táticas e artimanhas presentes no cotidiano, pois elas revelam como os usuários organizam um novo espaço, criando e inventando os espaços tempos escolares. Os autores ainda problematizam: “Como professores e alunos lidam com as diferenças culturais nos cotidianos escolares? Que práticas discursivas e saberes religiosos são produzidos cotidianamente por professores e alunos?” (Silva, Schuchter, 2019, p. 64).

Silva e Schuchter (2019) defendem a ideia de um entrelugar onde estudantes e professores expressam suas ideias, seus significados, suas dúvidas, seus medos, seus anseios, suas crenças e suas culturas, o qual permitiria “[...] o diálogo tão necessário entre as culturas” (Silva, Schuchter, 2019, p. 64).

Ferraço, Soares e Alves (2017) discorrem que, levando em consideração os desafios culturais, Certeau defendia um ensino que não tivesse por princípio um conteúdo comum e sim um estilo, para que se ajustasse à heterogeneidade de estudantes e professores.

Ainda com relação à fala de EB quanto à realização de atividades com outra parenta de sala de aula, Freire (2011, p. 58) nos apresenta:

O homem pode ser eminentemente interferidor. Sua ingerência, senão quando distorcida e acidentalmente, não lhe permite ser um simples espectador, a quem não fosse lícito interferir sobre a realidade para modificá-la. Herdando a experiência adquirida, criando e recriando, integrando-se às condições de seu contexto, respondendo a seus desafios, objetivando-se a si próprio, discernindo, transcendendo, lança-se o homem num domínio que lhe é exclusivo.

QUESTIONÁRIOS APLICADOS NA UNIDADE ACADÊMICA DE SERRA TALHADA:

Para denominar os participantes da pesquisa utilizamos a letra E para designar o estudante e o algarismo sua colocação no grupo. Assim, ao questionarmos quanto à escolha do curso, percebemos a influência do campo e da natureza por estarem presentes em suas vidas:

Eu escolhi fazer um curso superior por seguir os passos da minha mãe que é pedagoga e trabalha atualmente em uma escola indígena da minha cidade, Pesqueira. E escolhi essa graduação porque reflete muito do que eu vivi na minha infância em território indígena e em contato com o campo. (E1)

Escolhi fazer para ter uma vida melhor financeiramente e ajudar meus pais. O motivo foi pelo fato de ter crescido no meio rural e penso em crescer financeiramente nesse meio. (E2)

As declarações de E1 e E2 quanto à escolha do curso revelam a relação com a história de suas vidas, fato este que lhes favorece o estudo. Para Certeau (2012), a tática aproveita os momentos e as expectativas oferecidas num dado período, o que extraímos das narrativas apresentadas acima pelos/as participantes.

Com relação à resposta de E1 acerca do cotidiano na universidade observa-se que, por trás do esforço empregado, há uma combinação de valores, raciocínios e atitudes que concorrem para compreender e enfrentar novas situações. Assim:

Cada vez mais coagido e sempre menos envolvido por esses amplos enquadramentos, o indivíduo se destaca deles sem poder escapar-lhes, e só lhe resta a astúcia no relacionamento com eles, “dar golpes”, encontrar na megalópole eletrotecnizada e informatizada a “arte” dos caçadores ou dos rurícolas antigos (Certeau, 2012, p. 51).

ANÁLISE DOS QUESTIONÁRIOS APLICADOS ONLINE

Primeira pesquisa: uma análise certeauniana do cotidiano dos estudantes indígenas de instituições de ensino superior

O estudo mostrou que, para 75% dos participantes, a escolha por um curso superior foi motivada para ajudar a aldeia, pelo retorno financeiro e pelo desenvolvimento intelectual; 6,25% tiveram em mente apenas ajudar a aldeia; 6,25% pensaram somente no desenvolvimento intelectual; e 12,5% pensaram no retorno financeiro que teriam (Figura 1).

Fonte: A autora (2021).

Figura 1 Motivos da escolha por um curso superior pelos informantes indígenas universitários 

Já quanto à escolha do curso, 37,5% manifestaram como razão a vivência na área da graduação, a identificação com o curso e a importância do curso para a vida na aldeia. Outros 37,5% escolheram o curso devido apenas à importância para a aldeia; 6,25% admitiram ter escolhido o curso por vivência na graduação; e 18,75% por se identificarem com o curso (Figura 2).

Fonte: A autora (2021)

Figura 2 Motivos da escolha pela graduação pelos informantes indígenas universitários 

A experiência na graduação foi considerada positiva por 100% dos/das participantes. Com relação ao ingresso no curso, 87,5% dos participantes definiram como difícil; e 12,5% como fácil (Figura 3).

Fonte: A autora (2021).

Figura 3 Avaliação quanto à dificuldade/facilidade de ingresso no curso de graduação pelos informantes indígenas universitários 

Apresentaram-se como indígenas, ao ingressar na universidade, 56,25% dos participantes, enquanto 43,75% não se apresentaram como indígenas (Figura 4).

Fonte: A autora (2021).

Figura 4 Como os informantes indígenas universitários se apresentaram ao ingressar na universidade 

Quanto à promoção de ações na universidade que possam deixá-la mais receptiva aos/às graduandos/as indígenas, 50% dos participantes escolheram a realização de encontro cultural; 18,75% preferem um espaço de acolhimento; 12,5% acham melhor um programa de apoio pedagógico; 12,50% ficaram com um seminário de iniciação acadêmica; e 6,25% acham que não se precisa dessas ações (Figura 5).

Fonte: A autora (2021).

Figura 5 Como os informantes indígenas universitários avaliam alternativas de ação para promoção de acolhimento na universidade 

No que diz respeito às dificuldades no momento do ingresso na universidade, 50% dos/das participantes informaram que não houve dificuldades com o horário das aulas, com trabalhos em grupo, na relação institucional ou na estrutura acadêmica. Por outro lado, 18,75% informaram ter dificuldades com a estrutura acadêmica; 12,5% com o horário das aulas; 12,5% com trabalhos em grupo; e 6,25% tiveram dificuldades na relação institucional (Figura 6).

Fonte: A autora (2021).

Figura 6 Dificuldades dos informantes indígenas universitários para executar atividades acadêmicas 

Entre os participantes, 31,25% informaram que não se depararam com preconceito da comunidade acadêmica; ou com a ausência de compreensão e de respeito aos costumes e rituais de sua etnia; ou com problemas na aprendizagem de disciplinas que envolvam a língua estrangeira ou, ainda, com a falta de transporte da aldeia para universidade. Porém, a mesma porcentagem de estudantes (31,25%) se deparou com a falta de transporte da aldeia para universidade; 18,75% com ausência de compreensão e de respeito aos costumes e rituais de sua etnia; 12,50% com problemas na aprendizagem de disciplinas que envolvem a língua estrangeira; e 6,25% com o preconceito da comunidade acadêmica (Figura 7).

Fonte: A autora (2021).

Figura 7 Dificuldades dos informantes indígenas universitários no dia a dia 

Com relação à utilização de práticas como meio de inserção no cotidiano universitário, 37,5% dos participantes informaram que não utilizaram: o apoio dos membros da aldeia, nem a busca do serviço psicopedagógico da universidade, nem a busca de apoio dentro do grupo social ou de compartilhamento da cultura e costumes para se fortalecer. Todavia, 25% informaram que compartilharam cultura e costumes para se fortalecer; 12,5% consideram que o apoio dos membros da aldeia os ajuda a se inserir no cotidiano da universidade; 12,5% informaram que utilizam o serviço psicopedagógico da universidade; e 12,5% buscam apoio dentro do seu grupo social (Figura 8).

Fonte: A Autora 2021

Figura 8 Práticas utilizadas pelos informantes indígenas universitários para se inserir no cotidiano universitário 

Segunda pesquisa: uma cosmovisão das ciências biológicas e o cotidiano na sala de aula

Com relação às questões abertas do segundo questionário, após uma leitura flutuante das respostas, selecionamos aquelas que mais estavam condizentes com a pesquisa e cujo sentido seria analisado. Assim, o corpus foi constituído das respostas abaixo. Registramos que a letra P equivale ao termo Participante e que o algarismo diz respeito à posição que a resposta do sujeito adquiriu na planilha de respostas.

Corpus da pesquisa - pergunta: você se sente pertencente ao espaço da sala de aula da universidade?

Sim. Pois o espaço na universidade não interfere em minhas crenças e em meus costumes naquilo que realmente eu acredito (P1).

Não. A Universidade está fora da nossa realidade, lá estudamos a realidade do mundo, nunca está voltado para nosso povo (P3).

Pergunta: você entende que o saber científico é diferente do saber tradicional no espaço da sala de aula na universidade? Por quê?

Sim. Pois o saber científico a barca procedimentos, expirimentos [sic] diferente do saber tradicional que é saber passado de geração em geração (P1).

Sim. O saber tradicional você adquirir no seio familiar, e científico na Universidade (P3). Sim. O saber tradicional é empírico. E o saber científico é parte de análises dos fatos reais cientificamente comprovados. Na faculdade se busca apresentar análise e fatos que futuramente podem vir a serem usados como ferramenta no saber tradicional (P6).

ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS QUESTÕES ABERTAS

Observamos que a prática desenvolvida por P1, a qual identificamos como uma arte de fazer, é a de não deixar que os acontecimentos de sala de aula influenciem no que realmente acredita. Ela favorece sua integração ao espaço acadêmico pois, ao mesmo tempo em que o/a estudante se ajusta à realidade da sala de aula, a transforma a ponto de não permitir interferência nas suas escolhas (Freire, 2011).

Por sua vez, P3 compreende que a universidade não foi feita para os/as indígenas. Contudo, segue estudando em uma demonstração de que é preciso estar lá. Para nós, essa resistência consiste numa arte de fazer - numa tática e na medida em que há o juízo de valor acerca da realidade que vivenciam, passa a existir uma integração ao espaço universitário, não uma mera adaptação em sinal de conformismo. Nesse sentido, Freire (2011, p. 58):

A integração resulta da capacidade de ajustar-se à realidade acrescida da de transformá-la, a que se junta a de optar, cuja nota fundamental é a criticidade. À medida que o homem perde a capacidade de optar e vai sendo submetido a prescrições alheias que o minimizam e as suas decisões já não são suas, porque resultadas de comandos estranhos, já não se integra. Acomoda-se. Ajusta-se. O homem integrado é o homem sujeito.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo faz parte de uma tese de doutorado e diz respeito à apresentação dos resultados da coleta dos dados realizada junto a um grupo de estudantes e de egressos dos cursos de ciências biológicas, zootecnia, licenciatura em educação do campo, engenharia de pesca, pedagogia, educação física, engenharia agronômica e licenciatura em história.

A pesquisa ocorreu entre os anos de 2018 e 2022 período conturbadíssimo da história brasileira ora pela necropolítica indigenista vivenciada ora pela pandemia de Covid-19, que assombrou o mundo. A partir dos resultados alcançados apresentamos a re(invenção) dos povos originários, sobretudo o nordestino, enquanto protagonistas de suas histórias no espaço acadêmico sobrevivendo num meio político-educacional preconceituoso e árduo na busca de uma melhor qualidade de vida para si e sua coletividade.

Iniciamos o estudo com a convicção, historicamente já perpetuada, de que esses povos têm dificuldades na sociedade de um modo geral e procuramos compreender o cotidiano que vivenciavam na academia, escolhendo a ótica apresentada por Michael de Certeau. Em se tratando de um tema que envolve respeito, dignidade e altruísmo buscamos, também, em Paulo Freire aporte para essa compreensão. No início da pesquisa acreditávamos que os/as indígenas universitários/as se adaptavam ao processo educacional ofertado no ensino superior, entretanto, no desenvolvimento do estudo verificamos que o/a indígena não se adapta ao processo e sim integra-se na medida em que utilizam as táticas e estratégias certeaunianas, as quais estimulam uma crítica consciente da situação que vivenciam no campus e, assim, ajustam-se à realidade ao mesmo tempo em que a transformam.

Com os resultados coletados, pudemos identificar práticas utilizadas pelo grupo em algumas situações que permitiram continuassem otimistas mesmo existindo escassez de recursos financeiros, saudade da família, falta de respeito pela história indígena. Em outra ocasião, constatamos que um indígena estudante superou um momento negativo no campus a partir de sua percepção de que a ausência de conhecimento de universitários não indígenas acerca das questões indígenas precede a chegada dessas pessoas à universidade, restando-lhe claro que a partir do momento em que sua cultura é demonstrada por meio de suas artes e das expressões culturais as pessoas passam a ter contato com o conhecimento faltoso. Percebemos, pois que demonstrar a cultura era uma tática que o permitiu enfrentar sentimentos negativos. Essa reflexão também nos mostra uma atitude crítica dos indígenas que, para Freire (2011), é traduzida como vocação natural de integrar-se e da superação do simples ajustamento ou acomodação.

Num outro momento, adotou-se como tática o exercício da indianidade para desmistificar o estereótipo de indígena comumente figurado. Para Certeau (2012), a tática aproveita os momentos e as expectativas oferecidas num dado período. Verificamos, ainda, que para se fortalecer em determinadas situações, uma indígena associou-se a uma parenta buscando identificação cultural para superar as dificuldades.

Pelo exposto, consideramos que a nossa hipótese foi confirmada, pois por meio de práticas cotidianas, os/as indígenas universitários/as podem “[...] jogar/desfazer o jogo do outro” (Certeau, 2012, p. 74). Ao mesmo tempo em que estimulam uma crítica consciente da situação que vivenciam, ajustam-se à realidade e a transformam. Nesse sentido, Freire (2011, p. 58) nos ensina que a “[...] integração humana resulta da capacidade de ajustar-se à realidade acrescida da de transformá-la, a que se junta a de optar, cuja nota fundamental é a criticidade”. Por fim, compreendemos que os povos originários na medida em que utilizam as artes de fazer, integram-se ao ambiente universitário de forma crítica exercendo a sua capacidade de decidir.

1Eliane Potiguara é considerada a primeira escritora indígena do Brasil. Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Recebido: Março de 2023; Aceito: Junho de 2023

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