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Educação e Filosofia

versión impresa ISSN 0102-6801versión On-line ISSN 1982-596X

Educação e Filosofia vol.32 no.65 Uberlândia mayo/agosto 2018  Epub 21-Sep-2020

 

EDITORIAL

EDITORIAL

Márcio Danelon* 

*Diretor de Editoração da área da Educação


Nesta oportunidade, temos a honra de trazer aos pesquisadores, estudantes e interessados pelas áreas da Filosofia e da Educação, a publicação do nº 65, do vol. 32 da Revista Educação e Filosofia, referente ao quadrimestre de maio a agosto de 2018. Neste número, apresentamos aos leitores um quantitativo de dezesseis artigos resultados de pesquisas científicas nas áreas da Filosofia e da Educação. São os resultados de pesquisas realizadas em universidades do Rio de Janeiro, de Goiás, do Rio Grande do Sul, de São Paulo, do Tocantins, do Paraná e do Piauí, além de contribuições estrangeiras advindas de Açores, Nápoles e Coimbra, o que reflete uma importante diversidade geográfica e cultural que a Revista Educação e Filosofia alcança.

O número 65 da Revista Educação e Filosofia abre com o artigo As contradições do mundo e a unidade do discurso: filosofia e retórica em Antônio Vieira, do professor Admar Almeida da Costa, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Este artigo “versa sobre a presença do pensamento heraclítico no célebre discurso do Padre jesuíta Antônio Vieira, intitulado ‘As lágrimas de Heráclito’”, discurso este que nasceu à pedido da Rainha da Suécia, Cristina Alexandra. Segundo o autor do artigo, o Padre Vieira, debatendo com o também jesuíta Jerônimo Catâneo, a quem coube a defesa de Demócrito, produziu “um ensaio de forte teor filosófico e de rara beleza literária”. O artigo seguinte, Contribuições da fenomenologia da percepção para compreender a corporeidade de pessoas com autismo é de autoria da professora Ana Beatriz Machado Freitas, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, e “apresenta-se um estudo qualitativo bibliográfico em que se buscou identificar descrições referentes a experiências perceptivas por parte de quem apresenta transtorno do espectro do autismo (TEA)”. Partindo do referencial teórico presente na “Fenomenologia da Percepção” de Merleau-Ponty, a autora discutiu “a relevância da constituição do corpo próprio no qualitativo das experiências do perceber”, salientando “para a importância da contribuição de pesquisas fenomenológicas a partir de autobiografias de pessoas com TEA, assim como do olhar para os movimentos e intencionalidades de seus corpos”. A cultura local e as interfaces com a memória entre pomeranos na serra dos tapes, Rio Grande do Sul, de autoria das professoras Patricia Weiduschadt e Vânia Grim Thies, ambas da Universidade Federal de Pelotas, além da autoria do professor Carmo Thum, da Universidade Federal do Rio Grande, é terceiro artigo deste número da Revista Educação e Filosofia. Segundo os autores, o “artigo busca compreender a cultura local do povo pomerano por meio da análise de blocos temáticos derivados da metodologia da roda de diálogo”. A partir de pesquisa e extensão - ancorados conceitualmente em Halbwachs, Bosi, Candau e Bourdieu - realizadas em duas escolas municipais, foi possível aos autores “construir seis blocos temáticos, dois dos quais são analisados neste artigo: os costumes representados pelas festividades e o mundo da educação (da casa, da escola e da igreja)”. O artigo seguinte é de autoria do professor Walter Kohan, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da professora Magda Costa Carvalho, da Universidade dos Açores/Portugal, e tem por título Da árvore e do rizoma: pensar para além do método o encontro da filosofia com a infância. Neste artigo, os autores buscam “pensar filosoficamente a questão do método nas práticas filosóficas com crianças”, analisando “algumas influências recebidas pelos criadores da Filosofia para Crianças, Matthew Lipman e Ann Margaret Sharp, como o pragmatismo de J. Dewey”. Para isso, os autores exploram os sentidos das expressões “metódico”, “metodologia” e “método” de Lipman, oferecendo algumas críticas à leitura do método a partir de Gadamer e, sobretudo, de Bergson e Deleuze. Por fim, os autores problematizam “a necessidade de um método para fazer filosofia com crianças ou, de um modo mais geral, para pensar infantilmente na educação”. O artigo seguinte da Revista Educação e Filosofia é de autoria do professor Anderson de Carvalho Pereira, da Universidade do Sudoeste da Bahia e tem por título Os discursos da educação em slogans do cotidiano e nos pactos governamentais. Mobilizando os discursos de “sujeito” e “acontecimentos discursivo”, o autor apresenta uma discussão sobre os slogans acerca da educação tal como circulam na grande mídia, analisando, também, o uso do termo “pacto” em alguns programas governamentais brasileiro. Assim, conclui que “por conta da persistência do sentido de uma educação total e unívoca, não há uma ruptura definitiva com regimes de interpretação já instalados no cenário nacional”. O número 65 da Revista Educação e Filosofia segue com o artigo A educação como poiesis: um estudo conceitual, da professora Maria Luiza Bissoto, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo. O artigo, segundo a autora, “é uma abordagem reflexiva do fenômeno ‘educação’ procurando argumentar sobre as possibilidades de constituição de um agir educacional, que se configure como poiético”. Para isso, a autora, acompanhando a filosofia de Ortega y Gasset, apoia-se “em dois pressupostos referenciais: a) a vida como semiosfera e b) a educação como que-fazer ligante”. Assim, uma educação poética se traduz “como a ‘recolha’ interpretativa de sentidos, emersos do real, que nos insere na teia sígnica, na qual o cotidiano humano se constitui”. A revista segue com o artigo Ipseidade e alteridade nas obras sobre a educação do jovem Nietzsche, de autoria do professor Fernando de Sá Monteiro, do Instituto Federal do Paraná (IFPR). Neste artigo, o professor Fernando “propõe uma interpretação do tema da identidade pessoal nos escritos sobre educação do jovem Nietzsche”. Partindo da premissa de que as reflexões nietzschianas sobre educação é perpassada pelos conceitos de si-mesmo e outro, o autor conclui que o si-mesmo é mutável, mas não completamente sujeito à educação e o outro (alteridade) emerge como ferramenta para o fortalecimento da identidade do indivíduo. O professor Andrea Bochetti, da Università degli studi di Napoli “Federico II”, nos apresenta do artigo Logica e metodo in Lorenzo Valla, em que reflete sobre classificação canônica que associa a obra de Valla à sua contribuição literária e filológica, mostrando que tal redução subtrai “da história do pensamento um importante aporte no campo da lógica e do método, que levou, após um longo e tortuoso curso, à elaboração da lógica e da ciência moderna”. O autor procura mostrar no artigo que o domínio da reflexão de Valla “resultou, no final das contas, num primeiro passo na direção da superação das contorções escolásticas e da fixação do território que amadurecerá dois séculos depois com Descartes”. Assim, intenta-se mostrar, a obra de Valla, “como a recuperação do pensamento clássico (em particular da obra de Cícero e Quintiliano) e de sua reelaboração no período renascentista, consentiram o início daquela grande revolução lógica e científica que caracterizou e marcou a passagem à modernidade”. Este número da Revista Educação e Filosofia segue com o artigo Medicina e educação no século XVIII: Rousseau inventor de Emílio, de autoria do professor Thomas Massadi Kawauche, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). Neste artigo, o autor pretende “examinar, no âmbito da história da medicina, as condições que possibilitaram a Rousseau conceber o modelo de criança descrito no Emílio”. Assim, constitui objetivo do artigo demonstrar que os esquemas e conceitos acerca do cuidado da infância descritos por Rousseau podem ser compreendidos no interior dos debates médicos acerca dos cuidados com o corpo da criança presentes no Iluminismo do XVIII. De autoria do professor Evaniel Brás dos Santos, este número da Revista Educação e Filosofia segue com o artigo A noção de educação para a maestria filosófica na patrística e escolástica, cujo propósito do artigo é apresentar a maestria filosófica enquanto um quesito fundamental pertencente à noção de educação na patrística e na escolástica. Este quesito tem um sentido muito preciso, que versa em torno do reconhecimento da própria maturidade racional no que toca as autoridades filosóficas. Isso implica “na aquisição da consciência de que, numa perspectiva estritamente humana, natural, em determinadas áreas científicas, não há outro magister além da própria razão”. O próximo artigo é de autoria do professor Fausto dos Santos Amaral Filho, da Universidade Tuiuti/Paraná, intitulado Para pensarmos a prática da pesquisa em educação. Este artigo parte, fundamentado em Aristóteles, Descartes e Kant, “da distinção epistemológica entre ciências humanas e ciências da natureza, busca-se compreender as especificidades próprias da pesquisa em educação”, defendendo a tese de que é no horizonte da linguagem (polissêmica) que “devemos praticar as nossas pesquisas”. Alexandre Zaslavsky, professor do Instituto Federal do Paraná, é o autor do artigo Para um conceito Habermasiano de ação pedagógica. Partindo de uma revisão das obras de Habermas, confrontada com a literatura específica, o artigo “trata das implicações pedagógicas da teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas, em especial para um conceito de ação pedagógica”, identificando uma tendência a compreender a ação pedagógica enquanto processo argumentativo. Desta feita, o autor “sugere solução ao problema da compatibilidade conceitual entre a pressuposição de simetria da ação comunicativa e de assimetria da ação pedagógica mediante a noção de uso didático da linguagem”. Na sequência, apresentamos o artigo Prática educativa, vivência e afetos na constituição de alunos com histórias de sucesso na escola, de autoria das professoras Eliana Sousa Alencar Marque e Maria Vilani Cosme Carvalho, ambas da Universidade Federal do Piaui. Partindo do pressuposto de que o objetivo das práticas educativas é colaborar com a aprendizagem e, por isso, com o desenvolvimento dos escolares, produzindo um bom ensino, as autoras analisam “a constituição social da prática educativa bem-sucedida a partir da relação entre vivência e afetos sob o ponto de vista da Psicologia Socio-Histórica e da Filosofia de Espinosa”. Disso depreende-se, no escopo do artigo, que a “dialética entre vivência, afetos e sentidos ativa o desejo humano de ser mais na escola, portanto, a prática educativa bem-sucedida se constitui na ativação de desejos e produção de sentidos”. Na sequência, apresentamos o artigo René Schérer e a filosofia da educação: primeiras aproximações, de autoria do professor Sílvio Gallo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Neste artigo, Sílvio Gallo “efetua um ‘sobrevoo’ (no sentido conceitual de Deleuze e Guattari) sobre a obra do filósofo francês contemporâneo René Schérer com o objetivo de procurar os traços ali presentes de uma Filosofia da Educação”. O autor elege três eixos na heterogeneidade da obra de Schérer, a saber, a problematização da infância; uma política da hospitalidade; o anarquismo como marca de um pensamento aberto, rebelde e inovador, para “a partir deles, traçar os contornos desta Filosofia da Educação”. Na sequência, o autor aponta que, na contramão da noção de “dispositivo pedagógico” que promove a infantilização da criança, Schérer propõe uma “infância maior”, que se afirma na autonomia e sem tutela. Para Sílvio Gallo, uma “Filosofia da Educação pensada neste registro só pode ser tomada como abertura, expressão de um pensamento errante e anárquico, sem princípios (fundamentos) e sem transcendência. A proposta de uma educação que não seja pura condução, mas um “caminhar junto” com as crianças”. Este número da Revista Educação e Filosofia segue com o artigo Utopia como potencial crítica da modernidade capitalista, de autoria do professor Allan da Silva Coelho, da Universidade Metodista de Piracicaba e dos professores Arlindo Manuel Esteves Rodrigues e Luiz Eduardo Waldemarin Wanderley, ambos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Partindo do entendimento de que a utopia é um conceito moderno que permite a articulação entre a anunciação de um mundo melhor e a reflexão crítica sobre a realidade presente, os autores, amparados no diálogo do marxismo crítico de Bloch e Benjamin com a teologia latino-americana, indicam “a força da esperança frente fetiches e idolatrias do capitalismo na dialética do pensamento utópico e o pensamento mítico como forma de renovar a abordagem dos problemas epistemológicos com a política”. O número 65 da Revista Educação e Filosofia é fechado com o artigo A vida justa e a invisibilidade do filósofo na República de Platão, do professor Luciano Coutinho. Segundo o autor, o “invisibilidade, na ‘República’ de Platão, está diretamente ligado à prática da justiça e da injustiça”, na esteira do debate em torno da questão se na possibilidade de se tornar invisível (mito do anel da inviabilidade) o sujeito praticaria a justiça ou a injustiça. A partir desta problemática, o autor tenta “demonstrar como a invisibilidade mítico-alegórica, na “República”, serve para exemplificar o caminho filosófico justo para o melhoramento da psyche humana e da polis”.

Na esperança de que este número da Revista Educação e Filosofia seja bastante útil para os interessados pelas áreas da Filosofia e da Educação, desejamos a todos uma excelente leitura.

Márcio Danelon Diretor de Editoração da área da Educação Inverno/2018

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