A REVEDUC - Revista Eletrônica de Educação traz nesta sua ^edição textos provenientes do fluxo contínuo (artigos e relatos de experiência) e também de um dossiê intitulado “Liderança Educacional”, perfazendo vinte e um trabalhos. A produção total revela-se bastante diversa em termos de temas, método investigativo e, mais ainda, origem geográfica dos autores. Dentre os trabalhos do fluxo contínuo, um é argentino e os demais brasileiros, de várias regiões: Sudeste (São Paulo e Minas Gerais), Nordeste (Bahia e Pernambuco) e Sul (Rio Grande do Sul). No Dossiê há também grande diversidade geográfica dos autores: da América Latina, América do Norte, Europa Ocidental, Oceania e Oriente Médio, nos seguintes países: Brasil, EUA, Canadá, Inglaterra, Nova Zelândia, Israel, Holanda, Uruguai.

O dossiê compõe-se de onze produções, sendo uma brasileira e dez estrangeiras. Cabe destacar a interação existente entre seus autores, que vêm dialogando em torno da temática em outros momentos e espaços acadêmicos, sendo a REVEDUC mais um espaço de encontro para esse debate sobre a liderança educativa nas escolas, com destaque para o papel do diretor escolar. Cada autor explora esta problemática de um ângulo diferente e pensando as realidades concretas das diversas regiões do mundo, vários países. O assunto abordado vem ganhando relevância no cenário internacional, mais recentemente na América Latina, com destaque para o Chile, país que tem passado por muitas mudanças na legislação na área educacional. No mundo todo as políticas educacionais têm se caracterizado pela exigência de melhor desempenho das escolas em termos da qualidade do ensino, de maior profissionalização da docência e de descentralização administrativa e pedagógica, especialmente das unidades escolares. Tais ênfases vêm associadas ao reconhecimento da necessidade de liderança no interior das escolas, tanto dos diretores como dos professores. Ao lado da importância crescente do tema, conforme os autores do Dossiê salientam, há também a falta de consenso em relação a vários aspectos, como, por exemplo, as condições adequadas para se exercer a liderança nas escolas e os resultados efetivos provocados pela prática dessa liderança, sobretudo em termos pedagógicos. Assim, há que se chamar a atenção para a importância das mudanças educativas - e a ênfase na liderança é uma delas -, ao mesmo tempo em que se deve analisá-las de forma crítica. Seu ritmo às vezes acelerado demais, em nome da modernidade, dos ajustes supostamente necessários pode representar perigo à estabilidade profissional dos professores e diretores de escola, porque podem confundir ainda mais a compreensão dos limites do seu papel social e a sua própria identidade. Por aí se reforça ainda mais a importância do debate sobre o tema dentro da perspectiva mais ampla das mudanças que vêm ocorrendo em todas as esferas: econômica, social, política e cultural. É preciso perceber quais visões estão ganhando terreno e se tornando, talvez, hegemônicas acerca do papel da escola, dos seus dirigentes e dos seus professores. Paula Louzano, ao fazer a apresentação do Dossiê “Liderança Educacional”, explora com mais riqueza o conteúdo desses textos. Destacamos aqui apenas os temas principais, a saber: Tony Bush (Inglaterra), preocupado com a compreensão da liderança, aborda o tema da melhoria escolar e os modelos de liderança. Viviane Robinson (Nova Zelândia), com foco nos procesos de mudança na escola, discute o papel de liderança do estudante. Jingping Sun (EUA) trata de um tipo de liderança escolar: a transformacional. Fala das suas características, dos seus impactos e dos seus antecedentes. James P. Spillane e Melissa Ortiz (EUA) analisam os elementos e as implicações cruciais relacionadas à perspectiva da liderança não concentrada. Dean Fink (Canadá) analisa os fatores necessários a uma liderança mais sustentável, profunda, prolongada, ampla. Izhar Oplatka (Israel) volta seu olhar para o surgimento da gestão educacional como campo de estudo na América Latina. Denise Vaillant (Uruguai) fala do campo de construção acerca de diretores de escola e comunidades de aprendizagem de docentes. Michael Fullan (Canadá) foca nas ações concretas em favor da melhoria das escolas apontando para a importância da liderança das aprendizagens. David Hopkins (Reino Unido) faz uma análise retrospectiva sobre a relação entre melhoria das escolas, liderança e reforma sistêmica. Amanda Datnow e Kim Schildkamp (EUA e Holanda) abordam o uso de dados na promocão da melhoria das escolas. Sofia Lerche Vieira e Eloísa Maia Vidal (Brasil), finalmente, contextualizam o debate sobre liderança educacional no Brasil. As autoras mostram que há uma especificidade do contexto brasileiro em relação a esta temática, que é seu foco no princípio da gestão democrática.

Os artigos do fluxo contínuo utilizam variados procedimentos metodológicos de pesquisa, predominando a abordagem qualitativa. Os estudos foram desenvolvidos em todos os níveis de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior, com maior prevalência no Ensino Fundamental. Além disso, eles tratam de temas diversos. Um deles, mais abrangente, congrega cinco artigos, e tem a ver com o ensino e a aprendizagem, dentro do qual são abordadas questões relativas a critérios de classificação, à linguagem e leitura, à memória e à imagem. Paula Cristina Moreira Cabral e Gilda Lisbôa Guimarães, com o artigo intitulado Aprendizagem sobre classificação nos anos iniciais do ensino fundamental, têm por objetivo investigar a aprendizagem de alunos do 4º ano do Ensino Fundamental sobre a habilidade de criar critérios de classificação a partir de reflexões sobre diferentes tipos de habilidades relacionadas à classificação. Ana Estela Ferreira, Raquel Lazzari Leite Barbosa e Rosaria de Fátima Boldarine, em Práticas de leitura e círculo bakhtiniano: algumas aproximações, discutem as aproximações possíveis entre alguns conceitos propostos pelo círculo bakhtiniano e algumas orientações para ensino de linguagem e leitura nos documentos oficiais de educação dos anos finais do ensino fundamental. Vera Alves Crispim Capucho, Genilson Cordeiro Marinho, em Educação em memória e suas relações com o saber, buscam compreender as relações do saber estabelecido pelos egressos da Educação Básica com a memória da ditadura civil-militar brasileira. Imagem, biopoder e racismo nas instituições de educação infantil é o título do artigo de Edmacy Quirina de Souza e Nilson Fernandes Dinis, cujo objetivo é analisar como as diferenças étnico-raciais se constituem na organização dos espaços e ambientes educativos a partir das práticas imagéticas que ornamentam os espaços escolares. Para fechar o bloco temático ensino e aprendizagem, Franciele Rusch König, Fabiane Romano de Souza Bridi, em O ensino colaborativo e a gestão das práticas pedagógicas: avaliando efeitos, analisam a existência de efeitos do desenvolvimento de ações colaborativas, por meio do PIBID, nas formas de gestar as práticas pedagógicas das professoras de ensino comum. Fora do tema ensino e aprendizagem, embora indiretamente a ele relacionado, um dos artigos trata da avaliação. Com o título Breves considerações acerca da historicidade da avaliação pedagógica, o trabalho de Eunice Maria Nazarethe Nonato, Edineia Sodré Pereira de Almeida, faz uma análise histórica da avaliação até o ponto do status quo atual das práticas pedagógicas avaliativas, no intuito de evidenciar tais contradições, lançando-se posteriormente a uma discussão crítica dessa trajetória histórica. Maria Tereza Carvalho Almeida, Fernanda Alves Maia, Maria das Mercês Borém Correa Machado, Filipe Alves Souza, Victor Bruno da Silva, Mateus Almeida de Carvalho, João Felício Rodrigues Neto, no artigo Desenvolvimento docente: avaliação de uma experiência em um curso de Medicina, avaliam as ações oferecidas em um Programa de Desenvolvimento Docente a partir da percepção dos professores do curso de medicina de uma universidade pública que utiliza métodos ativos de ensino-aprendizagem desde 2002. O artigo seguinte, Docência, educação a distância e tecnologias digitais: um estudo bibliométrico, de Braian Veloso, Daniel Mill e Maria Iolanda Monteiro, traz um estudo bibliométrico em um dos eixos temáticos do Simpósio Internacional de Educação a Distância e o Encontro de Pesquisadores em Educação a Distância (SIED: EnPED), realizado no ano de 2016 na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

Por fim temos dois Relatos de Experiência. O primeiro, Seminários interdisciplinares como instrumento de articulação de saberes: um relato de experiência, de Aérica de Figueiredo Pereira Meneses, Priscilla Perla Tartarotti von Zuben Campos, Sandra Francisca Bezerra Gemma e Marta Fuentes-Rojas, relata a experiência de um seminário que trata de forma interdisciplinar os problemas contemporâneos, objeto de pesquisas em desenvolvimento pelos seus integrantes. No segundo relato, denominado Registros Digitais: desafios e sucessos nas aulas de Literatura do Ensino Médio, Ana Elisa Sobral Caetano da Silva põe em foco um projeto que propõe a utilização da Rede Social (RS) Instagram como um diário virtual, no qual os alunos podem registrar sua relação com o livro e interagir com as postagens dos colegas; o objetivo é discutir como o uso de Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) pode auxiliar nas atividades de leitura.

Esta edição revela, uma vez mais, o esforço contínuo da REVEDUC de reunir a produção científica voltada para temas relevantes da educação, e também de contribuir com o intercâmbio de conhecimentos nacional e internacional, facilitando, neste último caso, ao público brasileiro acesso à produção estrangeira - caso do Dossiê aqui apresentado - e ao público estrangeiro acesso à produção nacional - caso das traduções dos artigos de língua portuguesa para outros idiomas.