No ano de 2016 o Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal de São Carlos, completou quarenta anos de história. Foi criado em 1975, com o curso de Mestrado e, em 1991, houve a implantação do curso de Doutorado.

Em comemoração aos quarenta anos, a Revista Eletrônica de Educação da UFSCar (REVEDUC) publicou, no ano de 2017, vários artigos que apresentavam e contavam a história da construção das diversas linhas de pesquisa deste Programa de Pós-Graduação em Educação. Entre essas históricas publicações, o artigo: “Entre Subjetividades e culturas: uma nova linha de pesquisa para a educação” apresentava o processo de constituição de nossa linha de pesquisa: Educação, Cultura e Subjetividade. O artigo citado mapeava os principais referenciais teóricos da linha, que foi criada no ano de 2009, bem como os questionamentos e desafios propostos por esta nova área de pesquisa na educação. Na intersecção das pesquisas desenvolvidas na linha estava presente a crítica às formas de poder e de controle, que se materializavam nos processos disciplinares que moviam indivíduos e instituições, mas havia também o interesse pelas possibilidades de resistência operadas no espaço da educação. Os diversos aspectos da cultura e de seus processos de subjetivação têm sido desde então abordados em pesquisas que se debruçam sobre diferentes objetos de estudo como: corpos, infâncias, alteridades, gêneros, sexualidades, etnias, raças, mídia, produções artísticas, currículos e espaços-tempos da educação.

^{Neste dossiê}, publicado ao completarmos dez anos de história da linha, apresentamos algumas das pesquisas desenvolvidas por pesquisadoras e pesquisadores da mesma. Os artigos, de autoria de docentes e discentes do PPGE-UFSCar, mostram um mosaico de abordagens teóricas, metodologias e propostas para a área de educação que temos desenvolvido tanto nas disciplinas que compõem o currículo da linha, como também nos processos de orientação das pesquisas. Colaboraram também com o dossiê convidados externos que desenvolvem pesquisas consonantes com o tema da linha, no intuito de que possamos estabelecer parcerias para futuras pesquisas e publicações. No fio condutor dos artigos encontra-se o interesse pelo debate acerca dos papéis da cultura e a educação na constituição de formas de subjetividades contemporâneas.

Abrindo o dossiê, encontra-se o artigo de Sandra Riscal, pesquisadora da linha, que utiliza conceitos de Max Weber para discutir o papel do dever profissional na constituição da subjetividade moderna. Já no artigo seguinte, os pesquisadores da linha Antonio Zuin e Luiz Roberto Gomes discutem a Idade da Mídia na qual a onipresença das telas das tecnologias digitais atua na reconfiguração da subjetividade e na redefinição dos espaços públicos e privados. Alessandro Garcia Paulino, Alan Victor Pimenta e Nilson Dinis, também pesquisadores da linha, propõem discutir as possibilidades de uma pedagogia da imagem entrecruzando os processos de montagem cinematográfica, bem como o modo de endereçamento e a recepção por parte do espectador. No artigo seguinte: “Vagando na noite: encontros entre filosofia, educação e música, ao som de Derrida e Debussy”, Andréia Marin, pesquisadora externa convidada da Universidade Federal do Triângulo Mineiro e Marcos Câmara de Castro, da Universidade de São Paulo, percorrem intersecções entre a filosofia, a educação e a música para discutir o enfraquecimento das políticas representacionais nos processos de subjetivação e alteridade para pensar uma educação não comprometida com a centralidade do conceito de humano. Ana Godinho, pesquisadora da Universidade Nova de Lisboa, no seu artigo “A contradição que não se comunica” retoma o conceito de “duplo impasse” para pensar a relação entre educação, conhecimento e política no contexto atual da aceleração dos processos de informação e conhecimento e dos impasses da incomunicabilidade. Retornando aos pesquisadores da linha, Maria Cecília Luz, Flávio Caetano da Silva e Clarissa Galvão Bengtson utilizam a metodologia da análise do discurso, em uma perspectiva foucaultiana, para analisar algumas pesquisas desenvolvidas no PPGE no período de 2017 a 2018. Andrea Braga Moruzzi, também pesquisadora da linha, busca da mesma forma no referencial foucaultiano apoio para pensar os processos de pedagogização do sexo da criança entendendo a infância como um dispositivo histórico de relações de poder. A infância e o referencial foucaultiano também são retomados no artigo “Infância e relações étnico-raciais: uma questão de saber poder”, de autoria dos pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia: Edmacy Quirina de Souza e Reginaldo Santos Pereira. No artigo discutem sobre infância e racismo nos espaços educativos e sobre os desafios de uma pedagogia antirracista. No artigo seguinte, “Desafios curriculares no ensino superior: contribuições do Programa Abdias Nascimento”, as pesquisadoras da linha Ana Cristina Juvenal da Cruz, Tatiane Cosentino Rodrigues, Denise Cruz e Ivanilda Amado Cardoso apresentam resultados da primeira fase do projeto “Conhecimento, pesquisa e inovações curriculares na formação de professores para a diversidade étnico-racial no ensino superior: questionamentos e contribuições das matrizes étnico-raciais e culturais, de saberes africanos e afrodescendentes” do NEAB/UFSCAR. Finalizando o dossiê, encontra-se o artigo “Los conceptos epistemológicos de la Educación Inclusiva y la emergencia de un terreno: discusiones y reflexiones para un espacio político y educativo atento a la multiplicidad”, do pesquisador externo convidado Aldo Ocampo González (diretor do CELEI-Chile). Em seu artigo discute sobre os conceitos epistemológicos no campo da produção da Educação Inclusiva, que se movem articulando diversas disciplinas constituindo um território analítico complexo e em permanente movimento.