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Revista Eletrônica de Educação

versión impresa ISSN 1982-7199

Rev. Elet. Educ. vol.14  São Carlos ene./dic 2020  Epub 29-Oct-2020

https://doi.org/10.14244/198271994533 

Dossiê Consequências do Bolsonarismo sobre os direitos humanos, a educação superior e a produção científica no Brasil

Bolsonarismo: a necropolítica brasileira como pacto entre fascistas e neoliberais

Bolsonarismo: la necropolítica brasileña como pacto entre fascistas y neoliberales

João dos Reis Silva JúniorI  , Autor 1: Participação ativa na discussão dos resultados, Contribuição substancial para a concepção e análise, interpretação dos dados e revisão final.
http://orcid.org/0000-0003-2667-0371

Everton Henrique Eleutério FargoniII  , Autor 2: Participação ativa na discussão dos resultados, Contribuição substancial para a concepção e análise, interpretação dos dados e revisão final.
http://orcid.org/0000-0001-7536-9126

IUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos-SP, Brazil - Professor Titular do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos. E-mail: joaodosreissilvajr@gmail.com

IIUniversidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos-SP, Brazil - Mestrando e Pesquisador na Universidade Federal de São Carlos. ORCID iD: https://orcid.org/0000-0001-7536-9126 E-mail: evertonfargoni@gmail.com


Resumo

O texto analisa as mudanças e crises no sistema político brasileiro e suas consequências na sociedade civil e produção científica com a vitória de Bolsonaro nas eleições [presidenciais] de 2018. A partir da discussão de elementos históricos e recentes, este artigo busca compreender e debater as razões e transformações na sociedade brasileira que formaram o intento eleitoral que caracterizaram o Bolsonarismo. Mostra que este movimento é também responsável por um dos períodos mais dramáticos para a história política do país. Finaliza analisando a ruptura da estabilidade política brasileira, ataques às instituições, crise econômica e politização da ciência sob ataque ideológico por meio do pendular estreitamento do Bolsonarismo com o fascismo.

Palavras-chave: Bolsonarismo; Ciência; Necropolítica; Neoliberalismo.

Resumen

El texto analiza los cambios y las crisis en el sistema político brasileño y sus consecuencias en la sociedad civil y la producción científica con la victoria de Bolsonaro en las elecciones de 2018. Basado en la discusión de elementos históricos y recientes, este artículo busca comprender y debatir las razones y transformaciones en la sociedad brasileña que formó la intención electoral que caracterizó al Bolsonarismo. Muestra que este movimiento también es responsable de uno de los períodos más dramáticos en la historia política del país. Termina analizando la ruptura de la estabilidad política brasileña, los ataques a las instituciones, la crisis económica y la politización de la ciencia bajo un ataque ideológico a través del estrechamiento pendular del Bolsonarismo con el fascismo.

Palabras claves: Bolsonarismo; Ciencias; Necropolítica; Neoliberalismo

Abstract

The text analyzes the changes and crises in the Brazilian political system and its consequences in civil society and scientific production with the victory of Bolsonaro in the 2018 elections. Based on the discussion of historical and recent elements, this article seeks to understand and debate the reasons and transformations in Brazilian society that formed the electoral intent that characterized Bolsonarism. It is shown that this movement is also responsible for one of the most dramatic periods in the country's political history. It ends by analyzing the rupture of Brazilian political stability, attacks on institutions, economic crisis and politicization of science under ideological attack through the pendulum narrowing of Bolsonarism with fascism.

Keywords: Bolsonarism; Science; Necropolitic; Neoliberalism.

Introdução

A permanência de históricos problemas provenientes de períodos autoritários com antecedentes centenários de desigualdade social sufoca diariamente a forma estrutural da política de qualquer país. Nota-se isso por meio da realidade social, econômica, cultural e científica no século atual em razão dos excessivos lastros e feridas de outros séculos. Ou seja, impasses e conflitos na história tornam-se pátrias em amálgamas de crises e desordens constituindo nações em permanentes riscos de colapsos e/ou golpes de estado. Nas palavras de Crochík (2006, p. 12) são “substratos propícios” para o resgate do fascismo.

A realização da política brasileira figura-se nesse contexto num freudiano ciclo ao reprisar e renascer condições adversas à democracia, dispondo incertezas e inseguranças numa complexa sociedade de dimensão continental. A ordenação política e social em que o Brasil tem se mantido nas últimas décadas é simbolizada por meio da intermitência do estado democrático de direito. Isto é, avanços democráticos ocorreram, o principal exemplo está na promulgação da Constituição Federal em 1988. Por outro lado, a antidemocracia aparece no hábito de governos autoritários com representações por todo o planeta, havendo no Brasil como figura máxima na atualidade o presidente Jair Messias Bolsonaro.

Bolsonaro é uma antiga personalidade no cenário político brasileiro, trabalha na política desde 1989, tendo como primeiro cargo o de vereador no Rio de Janeiro. Migrou para Brasília em 1991 como deputado federal e permaneceu sendo eleito no mesmo cargo até 2014. Tornou-se “celebridade” e adquiriu notoriedade na TV durante os governos Dilma e Temer, aparecendo com frequência em programas de entretenimento. Ex-militar e de postura rígida, seus discursos foram objetos de audiência por muitos canais, que foram bens instrumentados por sua equipe de campanha como meio constante de propaganda eleitoral.

Foi na socialização de suas aparições na TV e de recortes de vídeos das suas falas, que nas redes sociais Bolsonaro conquistou fama. A narrativa bolsonarista ganhou forma e com o amplo quadro de analfabetismo funcional1 no Brasil o Bolsonarismo foi introduzido na sociedade brasileira sem alardes e na adesão da linguagem populista conservadora, que, retomou flerte direto com discursos característicos do fascismo universal.

A maneira como o Bolsonarismo se instaurou na sociedade assemelha-se bastante ao do fascismo do século XX. Permeou a mente das massas não organizadas e tornou-se imperativo nas multidões heterogêneas com o objetivo de sedimentar uma narrativa cujos valores são argumentos clássicos: disciplina, valores familiares e religiosos enquanto age com base no negacionismo2, militarismo e anti-intelectualismo. Novamente, como disse Adorno (2006) o “desejo centrífugo” do povo. À noção abstrata de Brasil, um dos princípios básicos da liderança fascista é “manter a energia libidinal primária em um nível inconsciente” (ADORNO, 2006, p. 171), de modo que se faça a manipulação das pessoas para fins políticos por meio da ideia objetiva de salvação religiosa. Método antigo que desempenha papel na formação das massas manipulando-as e modelando-as por repressão para ter sua obediência.

Pode-se, pois, dizer que o Bolsonarismo é uma faceta do autoritarismo brasileiro ou um autêntico populismo de direita que se articula com o neoliberalismo, porque suas características são testemunhadas no cotidiano social do Brasil, produzindo uma pedagogia cotidiana do populismo à direita. Os elementos e os intentos são explícitos, um exemplo disso está na fala de Jair Bolsonaro na entrevista concedida ao programa Câmera Aberta3 no ano de 1999 ao dizer:

Me desculpa, mas através do voto, você não vai mudar nada nesse País. Só vai mudar, infelizmente, quando partirmos para uma guerra civil aqui dentro. E fazendo um trabalho que o regime militar não fez. Matando uns 30 mil. Começando com o FHC. Se vai morrer alguns inocentes? Tudo bem!” (BOLSONARO, 1999)

Desse modo, pretende-se neste artigo buscar o entendimento do que aconteceu e o que está acontecendo com a nação brasileira por meio de evidências e teorias nas dimensões políticas, econômicas, científicas e sociais, principalmente na extrema direita mais antidemocrática representada pelo pensamento do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro. Na primeira parte discutiremos a ruptura da população brasileira com a Nova República ao mostrar como deveu-se a insatisfação e indignação coletiva que resultou no golpe4. Em seguida, voltaremos brevemente à história do fascismo articulando com o Bolsonarismo para caracterizá-lo. A posteriori, polemizaremos a crise democrática atual e as consequências das decisões governamentais de Bolsonaro nos âmbitos da ciência e sociedade civil brasileira.

A desobediência civil brasileira e fim do pacto da Nova República

Todos os homens reconhecem o direito de revolução; isto é, o direito de recusar obediência ao governo, e de resistir a ele, quando sua tirania ou sua ineficiência são grandes e intoleráveis (THOREAU, 2012, p. 11).

Para entender como ressurge o autoritarismo na figura do Bolsonarismo no Brasil é necessário compreender parte de sua história recente no desenho de sua realidade e o que de concreto ordenou a forma política brasileira que, em 2020, assusta líderes e sociedades no mundo todo. Preliminarmente, buscaremos consistência ao refletirmos sobre o cataclisma político que impera sobre o Brasil. Diferente da semântica da pedagogia cotidiana do fascismo que adota como truque narrativo o discurso simples e superficial. Fato notório nas mensagens das propagandas do fascismo italiano e no nazismo, que por meio da repetição de expressões fáceis como “Unidos Venceremos” fez e faz com que pessoas absorvam as informações sem precisarem pensar muito. Isso foi e ainda é feito para reduzir as chances de questionamentos ou críticas aos governos.

Para não voltar às origens da filosofia, mas partindo da base o pensamento - o debate socrático a respeito do conhecer e do saber, descrito em Teeteto de Platão, nos ajuda a entender a racionalidade do ser humano para além da redução dicionarizada do pensamento. Que é o que se tem em mente ao refletir acerca do propósito em conhecer algo e do entendimento das coisas. Para isso, usaremos o pensamento como dispositivo para apreender a conjuntura política e econômica brasileira de 2020 por meio de fatos e aspectos governamentais do passado recente nas gestões presidenciais de Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro.

No imaginário popular, muitos elementos sociológicos são instrumentos para candidatos políticos na busca por votos, porém muitos outros componentes do cotidiano alienam mais os cidadãos no contínuo processo de socialização. O medo do desemprego e não ter dinheiro para pagar aluguéis, planos médicos, financiamentos, mensalidades do ensino superior, compra de alimentos, entre outros fatores, são inúmeros exemplos que cotidianamente absorvem os pensamentos dos brasileiros condicionados a uma vida de carestia que se apanha no cotidiano e vivendo na esfera cotidiana que, leva ao ensimesmamento e desconsidera o gênero humano.

Abusando da realidade socioeconômica desigual, o mercado financeiro utiliza-se das mídias sociais para modificar na mente do sujeito a concepção do que é necessário para o que é desejável, isto é, o cidadão é induzido ao endividamento pelo consumo. Fato que Marx (2010, p. 80) chamou de “valorização do mundo das coisas” ao dizer que as pessoas estão postas sob a reprodução social fetichizada pelo consumo. Por isso, os elementos supracitados são notórios na realidade das famílias brasileiras, pois estão apensados na estrutura política que se desenvolve no Brasil desde a década de 1990, sobretudo a partir do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado5 que estimulou o avanço neoliberal no país.

A valer destes fatos, entendemos que a economia é uma questão importante a se considerar para o entendimento das mudanças políticas no Brasil desde sua redemocratização. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, a economia brasileira cresceu 7,5%. Em valores correntes, ao somar todas as riquezas produzidas pela economia no ano, houve alcance de R$ 3,675 trilhões, tendo como PIB per capita o valor de R$ 19.016,00. O Brasil tornava-se naquele momento um dos protagonistas do cenário econômico global, superando em 2011, por exemplo, o Reino Unido, ao assumir a sexta posição como maior economia do mundo. O Ministro da Economia naquele ano, Guido Mantega6, costumava dizer que em razão das boas projeções o país estava se tornando “respeitado e cobiçado”.

Entretanto, diferentemente de 2010 e 2011, o ano de 2012 fechou com crescimento econômico abaixo de 1%, sendo o pior número dos últimos 5 anos, desempenho abaixo de 2011, ano que houve alta de 2,7% mesmo com positivas projeções. Nesse momento, o Brasil volta a sentir os impactos da crise econômica mundial e das turbulências do mercado financeiro. Em 2013, a ex-presidente Dilma Rousseff, percebendo a onda de crises e possibilidade de colapso econômico, tentou fazer a redução dos altos juros que pairavam sobre a dívida pública e nas pessoas físicas e jurídicas, o que provocou diversos conflitos. Um deles, direto com o mercado financeiro mais os rentistas, os quais reagiram em bloco num movimento multifacetado e reaproveitado por muito oportunismo jurídico e político.

Antes desta crise, o ex-presidente Lula (2003-2010) realizou um governo populista de conciliação elevando a base popular de consumo das famílias por meio de um conjunto de programas de distribuição de renda, inclusão produtiva, elevação do salário mínimo entre outras medidas, que possibilitaram dezenas de milhões de pessoas saírem da pobreza e, por conseguinte, do quadro de fome. Contudo, o fundo público aí executado significava migalhas quando comparado a repatriação dos lucros e o pagamento da dívida pública interna e externa.

O resultado desta conjuntura propiciou o crescimento econômico que permitiu o financiamento de programas sociais. No entanto, no biênio 2012-2013 o período exitoso petista ruiu e a insatisfação do povo sobre o governo de Dilma Rousseff aumentou a cada dia. Um exemplo foram os bancos e outros institutos financeiros que de forma lenta começaram a drenar a capacidade de compra das classes mais pobres (aquelas que no passado recente haviam emergido da pobreza) esterilizando o consumo, parte do grande processo redistributivo que provocou a dinâmica de crescimento.

Para Dowbor (2017), essa esterilização reduziu os recursos do país por meio do sistema de intermediação financeira ao drenar volumosos fundos que serviriam de fomento produtivo para o crescimento econômico. Como consequência, o uso do fundo público para o “resgate” de empresas derivou-se em juros altos e redução do poder de compra, fato que pesou para todos os níveis sociais. No mesmo período, as famílias gastavam mais, resultado da elevação do poder aquisitivo da maior base da sociedade, porém os juros não deixavam a capacidade econômica do país aumentar dispondo reveses na economia. E, apesar de Dilma ter imposto uma forte concorrência dos bancos públicos a fim de que os bancos privados reduzissem os spreads7 bancários, a ação da presidente foi considerada uma ameaça à quantidade e à rentabilidade das operações de empréstimos pelos bancos comerciais, situação semelhante à do final do segundo governo de Lula.

Naquela conjuntura, a gestão de Dilma começava a se enfraquecer mesmo com suporte do populismo de Lula. Sua inabilidade político-parlamentar acarretou em diversos impasses de ordem política motivando setores de oposição, em destaque os setores financistas e rentistas, que segundo Bresser-Pereira (2015, p. 36), estruturaram o “julgamento violentamente negativo do governo”.

O quebra-cabeça de Dilma não parou e foi intensificado na combinação de casos pormenores nos estados. Traumas do drama político brasileiro que colaboraram no pensamento político das Jornadas de Junho de 2013, evento marcado por protestos em todo território brasileiro sem conotação político-partidária, não sendo apenas contra a presidente da república. Todavia, aproveitado pelos setores insatisfeitos com a condução econômica de Dilma que, protestavam por uma mudança radical na política brasileira, nunca se tratou de uma reivindicação específica. Poucos políticos ou intelectuais perceberam o que movia o descontentamento da sociedade.

A racionalidade das manifestações de 2013 no Brasil assemelhou-se aos movimentos de outros países, como a Primavera Árabe8. A indignação coletiva da população brasileira teve como uma das fontes propulsoras o aumento na tarifa dos transportes públicos em 20 centavos. Singer (2013) chamou os eventos de abalo sísmico brasileiro, acontecimento que mesmo de maneira difusa reuniu diferentes classes sociais e “acabaram por gerar um profundo mal-estar social” (ANTUNES, 2015, p. 6). O “ápice” das jornadas ocorreu quando milhões de brasileiros se revoltaram contra o excesso de gastos públicos em grandes eventos esportivos como a Copa do Mundo em 2014 e dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, assim como a má qualidade dos serviços públicos e a corrupção de modo geral. A imagem da entrada do Palácio da Alvorada em chamas “rodou” o mundo por meio de noticiários e simbolizou a repulsa da população contra a forma política e os políticos brasileiros. O primeiro extrato das Jornadas de Junho foi a queda da popularidade de Dilma e a ineficácia das cinco medidas9 como respostas às manifestações. Iniciara em 2013 a decadência das gestões petistas.

A gênese do Bolsonarismo na economia

Os anos de 2014 e 2015 foram cruciais para a organização do quadro político de 2020. O raciocínio e engajamento político da população passava por grande metamorfose, tendo base na tecnologização da comunicação que avançara rapidamente por meio das mídias sociais. Mesmo assim, Dilma foi reeleita para o segundo mandato com pouca diferença do segundo colocado Aécio Neves (PSDB), mas as práticas de sua gestão desagradaram rapidamente políticos e trabalhadores, inclusive parte do seu eleitorado por não cumprir promessas de campanha.

O segundo mandato de Dilma teve como marca muitas crises até o impeachment em agosto de 2016, como o encolhimento de mais de 9% do PIB per capita em apenas dois anos. Outra impopular escolha política com partidários e lideranças de convergência foi a indicação de Joaquim Levy para Ministro da Economia. Experiente no Mercado de Capitais, provindo de bancos privados, teve como maior objetivo estabelecer a meta de superávit primário em 3 anos, que seria 1,2% do PIB em 2015 e de pelo menos 2% em 2016 e 2017, por meio de profundos cortes no orçamento.

Novamente, mesmo com a reação “neoliberal” na economia, Dilma não se sustentou no poder. As reformas desejadas pela burguesia nacional e estrangeira não foram praticadas pela presidente (que se realizaram com Temer e Bolsonaro) e a reação política de oposição teve como principais aliados grande parcela da população e empresários. Seu impeachment foi e sempre será um importante traço na história do Brasil. Pode-se, pois, dizer que em 2016 era explícita a divisão do país tal como a conhecemos atualmente, uma nação que teve sua configuração política redefinida por meio de uma articulação entre os que diziam que foi Golpe e os que dizem que foi culpa da inépcia gestão que resultou em pedaladas fiscais.

Divisão que permanece e passou a ser instrumento de campanha política, posto que, diferente dos manifestos de 2014, 2015 e 2016, que foram compostos pela oposição da política ao aparato político brasileiro, as Jornadas de Junho, a título de exemplo, foi um misto baralhado de estudantes securandistas, graduandos de ensino superior públicos e privados, cotistas, a classe média metropolitana, black blocs e mais os representantes políticos de oposição.

A segmentação da população nos novos manifestos a partir de 2015 intensificou-se pelas redes sociais. O aplicativo de mensagens WhatsApp se popularizou e passou a ser uma das principais fontes de encontros e proliferação de manifestos pessoais contra o governo. Despontava ali a nova era de pensadores digitais, pessoas que outrora não discutiam política e não se interessavam pelo assunto passaram a se engajar diariamente com notícias, críticas e debates sobre o cotidiano político brasileiro. Dessa forma, avolumou-se o poder das fake news (notícias falsas), forma muito socializada com a democratização do consumo de internet e teve importante papel para organização dos protestos contra Dilma. Assim como em diversas eleições pelo mundo10.

A forma de pensar do brasileiro conectado, motivado pela participação e sentimento de pertencimento ao cenário político, revelou-se profícuo no comportamento de manada, permitindo a manipulação da opinião pública por meio de notícias falsas e de análises políticas. Precisamente, possibilitou a mudança dos elementos psíquicos do cidadão que agora “crê” e não reflete, seus sentimentos dogmáticos tomam o lugar do debate. Por exemplo, os discursos de influenciadores digitais ideologicamente politizados foram reproduzidos pelos cidadãos que apoiaram as reformas que em outros momentos, como nos governos petistas, não haviam discussões avançadas. Apoio popular bem contraído pela oposição e pelo sucessor de Dilma após seu impeachment.

Envolvido em diversos casos de corrupção11, Michel Temer assumiu a presidência em agosto de 2016 e retomou o ciclo de reformas antidemocráticas. Resgatou o movimento de medidas da Reforma do Aparelho do Estado iniciado há duas décadas, dando continuidade e intensificação em diversas mudanças na esfera política brasileira, enquanto a corrida eleitoral de 2018, iniciada com o golpe a Dilma Rousseff, era inflamada nos bastidores. O pensamento político da população mostrou-se deformado nas ideologias, muitas em pautas identitárias, outras reformistas e a maioria na lógica de renovação política. Porém, a forma simplista de racionalidade sobre os fatos e a reprodução de pensamentos originários de influenciadores não acadêmicos resgataram a prática de revisionismo da história nacional enquanto, paralelamente, robusteciam o flerte com o fascismo e o militarismo, para assegurar que a redução da esfera pública se realizasse e para o fortalecimento do Regime de Acumulação “Crescimento econômico baseado no endividamento social”.

Mesmo com baixa popularidade entre os dois polos ideológicos (esquerda e direita), Michel Temer aproveitou-se da nova onda conservadora, reacionária e indignada, que imperava entre os manifestantes contra Dilma, para conciliar com os políticos de oposição da gestão petista e os representantes da burguesia, operando novas reformas. Dessa forma, algumas foram as razões centrais: 1) a exigência do setor produtivo por meio de empresariado no intuito de retomada do superávit econômico; 2) apoio popular para “resgate” da economia falida do país. Pochmann (2017) destacou mais duas condicionalidades que caracterizaram o ciclo político da Nova República na fase de transição de Temer para Bolsonaro: 1) realinhamento com o velho centro dinâmico global e comprometimento da soberania nacional e 2) redefinição do fundo público para financeirização da riqueza e distanciamento do projeto de sociedade com os direitos subjetivos e inalienáveis do cidadão.

Temer reagiu aos políticos do impeachment com reformas que reduziram direitos dos trabalhadores acentuando a redução da esfera pública. A primeira mudança ocorreu em novembro de 2016, quando Temer sanciona o fim da obrigatoriedade da Petrobras no pré-sal, projeto que acabou com um dos “sonhos” da educação brasileira, uma vez que parte dos lucros seria destinada para desenvolver a saúde e educação, assim como garantiria outros direitos para o povo brasileiro. O projeto de lei do senador José Serra (PSDB) foi aprovado em novembro de 2016, meses após a saída de Dilma Rousseff e determinou o fim da Petrobras como operadora única do pré-sal. Como resultado, em 2018 ocorreram os últimos leilões da “Era Temer”, tendo petroleiras estrangeiras assumindo seis das 13 áreas licitadas.

Um mês após a mudança na exploração do pré-sal, foi aprovada a PEC do Teto dos Gastos (PEC 241 ou EC55), uma emenda constitucional que passou a limitar por 20 anos o crescimento de gastos públicos ao percentual da inflação nos doze meses anteriores. Intitulada de “PEC da Morte”, a medida trouxe mudanças graves como a retirada de direitos, como caso análogo, esta PEC, segundo Amaral (2016), decretou a “morte” do Plano Nacional de Educação (PNE), posto que as reduções fiscais implicaram na inviabilidade do alcance das metas do período (2014/2024). O Brasil sai do servilismo à predominância financeira (SILVA Júnior, 2017) para entrar no crescimento econômico baseado no endividamento social.

Mesmo com alerta do Tribunal de Contas da União (TCU) relatando a projeção de paralisação das contas públicas em 2024, Temer seguiu com a saga de reformas e realizou no primeiro semestre de 2017 três outras de grande impacto. Partindo da Reforma do Ensino Médio que destacou-se por 3 principais mudanças: 1) alteração na carga horária escolar, via medida provisória passando de 800 horas anuais para 1.000 horas; 2) Currículo Escolar, tornando apenas as disciplinas matemática, português e inglês como obrigatórias e 3) Formação de Professores, diante da proposta, os professores com o chamado “notório saber” poderão lecionar no ensino técnico e profissional mesmo sem formação nas licenciaturas.

As outras duas reformas de 2017 foram a Terceirização Irrestrita de março e a Reforma Trabalhista de julho, as quais, muito parecidas com a tomada neoliberal europeia, por meio da rápida destruição de direitos subjetivos e inalienáveis do cidadão. A primeira reforma permitiu terceirizar todos os funcionários de uma empresa, enquanto a Reforma Trabalhista trouxe intensa modificação na seara do trabalho. Por meio dela a negociação entre as empresas e os sindicatos podem se sobrepor às leis, permitindo, por exemplo, a fragmentação das férias ao longo do ano, a contratação de funcionários de forma intermitente, fim do imposto sindical e maior rigidez para abertura de ações trabalhistas. Como efeito, ofereceu maior liberdade para empresas e decisão nos processos, fato que Paulani (2008) já alertava sobre o avanço do “neoliberalismo empresarial” no Brasil marcado pela exacerbação da valorização financeira na centralização de capitais. O trabalhador compra seu décimo terceiro, suas férias e sua aposentadoria ao entrar no mercado de trabalho e assumindo estas dívidas poupa o fundo público para sustentar o capital financeiro.

Apesar do “entusiasmo neoliberal” houve lenta retomada dos empregos e, consequentemente, da economia. Os números não foram favoráveis. Quando aprovadas as reformas, segundo o IBGE, o Brasil possuía 13,3 milhões de desempregados e uma taxa de desocupação de 12,8%. A nova lei foi vendida pelo Programa de Governo Temer chamado de Ponte para o Futuro12 como solução contra o desemprego e a informalidade, criando, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), apenas 298.312 vagas com carteira assinada. Foi um cenário com horizonte melhor do que entre 2014 e 2017, período que o país perdeu milhões de empregos e, os números mostraram desenvolvimento muito aquém dos anos antes de crise econômica, quando no Brasil registrava-se mais de 2 milhões de vagas com carteira por ano. Tal fato não é surpresa, posto que o realinhamento que produziu o novo ciclo autoritário é imposto de fora e, em razão do novo regime de acumulação ultraneoliberal, o golpe e a eleição de Bolsonaro estão organicamente articulados.

Temer findou seu mandato com 62% de reprovação. Nos 31 meses de seu governo, o presidente encaminhou 142 medidas provisórias ao Legislativo, 39% a mais do que Dilma no mesmo período, concluindo o trabalho como presidente com média de uma medida provisória editada a cada 6 dias e meio, maior número desde 1995. Numerosos foram os protestos contra ele durante seus dois anos e meio de gestão. A oposição regularmente manifestava-se nas ruas enquanto parlamentares tentavam na maioria das vezes, sem sucesso, suprimir as reformas. Enfraquecida após o impeachment de Dilma e do avanço do neoconservadorismo no país, a frente progressista nacional apresentava-se desorientada com a naturalização do grande apoio popular sobre as medidas que o afetava. Por fim, antes de sua saída, Temer deixou mais uma marca do que se indicava a desencadear pelo Brasil - a intervenção do Governo Federal na Segurança no Rio de Janeiro por meio de tropas militares13.

A necropolítica do Bolsonarismo

No processo liderado por Dilma e Temer uma força política renasceu e ganhou visibilidade por meio dos holofotes televisivos e das redes sociais, nutrindo-se da indignação coletiva contra a decadência econômica do país e do “nostálgico” tempo de opressão, repressão e morte do regime militar. Jair Messias Bolsonaro foi do desejo de uma década confusa para fruto dos anos sem notáveis lideranças políticas ou de renovação. Como efeito, a nova onda conservadora ou nova direita, apresentou fortes sinais de retomada de presença na política e esfera pública logo no início da década de 2020, em marchas tímidas pela volta da ditadura militar ou em “atos cívicos” pró-Bolsonaro com participação de neonazistas14.

Fortalecidos pela crise das esquerdas populistas, especialmente pelos equívocos dos governos do Partido dos Trabalhadores e, do avanço populista de direita no mundo todo, tendo como principal inspiração a eleição presidencial norte-americana de 2016, grupos conservadores se reorganizaram durante e após o processo de impeachment de Dilma Rousseff fazendo o Brasil experimentar um dos seus maiores dramas políticos e sociais. A anomia política (uma nova pedagogia do cotidiano) instaurada no dia a dia da sociedade brasileira rapidamente desidratou as conciliações dos governos petistas. A população passou a exigir um novo establishment político, mas em vez de pautar-se em ideias e exemplos, buscou outra vez no imaginário popular “heróis” ou “salvadores da pátria”, reforçando o movimento que se desencadeou no Bolsonarismo. De forma mais consistente Adorno (1995) advoga que "A personalidade autoritária: a de que o autoritarismo mantém relações profundas com o “clima cultural geral” das sociedades erigidas sob a forma capitalista de produção, de modo que sua manifestação extrema no horror nazista na Alemanha não deveria ser considerada um evento isolado, mas uma possibilidade latente em outras sociedades e em outros contextos políticos. Isto é o autoritarismo encontra-se na origem do processo civilizatório do capitalismo. A personalidade autoritária do processo civilizatório de um país periférico aflorou como em outros eventos do século XX.

O Bolsonarismo tem matriz de fora da sociedade, pois não pertence a ela e revive atributos de ideologias políticas como o fascismo e nazismo para dominação das massas e uma nova subjetividade do cidadão. As características do Bolsonarismo amalgamam-se com aspectos específicos do fascismo clássico em vários âmbitos e sentidos. Numa breve retomada histórica, entendemos que o fascismo é uma ideologia política originária na Itália após a primeira guerra mundial, habilitada pelo ditador Benito Mussolini. O medo do mito universal “comunismo” fez com que nascesse o fascismo na sociedade italiana como solução contra uma possível revolução comunista no país. No fascismo não há lugar para igualdade, visa a meritocracia e o estado exerce autoridade total sobre a população. No fascismo não há democracia, pois ela é exaurida da conjuntura social.

A ideologia fascista se espalhou para outros países, o maior exemplo na história mundial está no nazismo alemão de Hitler, mas também teve representação em países como Portugal e na Espanha. Considera-se fascismo como sendo um acontecimento histórico localizado no regime de Mussolini, mas o fascismo como corrente ideológica e política foi e está viva podendo ser observada em governos que não se dizem fascistas, mas que adotam algumas ou todas as mesmas práticas.

A conceituação de Bolsonarismo detém as peculiaridades do fascismo europeu e mantém relação orgânica com os neoliberais brasileiros, porém num país de capitalismo periférico. Compreender as categorias do movimento implicou considerar relação de dependência entre o Brasil e as nações do centro econômico mundial. Apresentamos aqui as categorias do Bolsonarismo que não saíram somente de teorias, mas, sobretudo, de nosso esforço em ler a realidade por meio das diferentes mídias no Brasil e alhures. Por isso, as notas de rodapé têm a mesma importância do texto. O esforço foi maior no momento da decisão da escolha das mais relevantes. No texto a seguir, recorremos às notas de rodapé para mostrarmos o que nos orientou, além das leituras de teorias sobre o Totalitarismo e sobre o Autoritarismo, para produzir um complexo categorial do Bolsonarismo.

Idolatria às tradições: os fascistas são obcecados pela ideia de que verdades universais foram reveladas pelos povos das antiguidades e da idade média e que eles são os únicos que entenderam a complexidade da vida humana. Cultuam tradições antigas, usando das ideias e seus símbolos criando suas próprias interpretações sem base epistemológica. Cultuam o negacionismo. Isso pode ser observado como traço do Bolsonarismo nas marcantes presenças de apoiadores do presidente em manifestações, ao utilizarem símbolos inspirados no nazismo15 ou no uso da bandeira16 da monarquia brasileira remetendo ao desejo da volta do regime político monárquico que se encerrou em 1889 com a Proclamação da República Brasileira. Os governos fascistas fazem isso para criar a narrativa de que são os verdadeiros herdeiros dessas tradições e que este deve ser o destino de suas nações. Em acréscimo, vale destacar que para os neoliberais o bolsonarismo tornou-se território fértil para finalizar as reformas estruturais e consolidar o regime de acumulação “crescimento econômico com base no endividamento social”.

Reacionarismo: os fascistas veneram culturas do passado abominando pensamentos modernos ou como no Bolsonarismo, possuem antipatia com pensadores e concepções progressistas. Filósofos, antropólogos, sociólogos e todos outros críticos (principalmente intelectuais produtores de conhecimento nas universidades brasileiras) são considerados no Bolsonarismo o mesmo que os iluministas foram (e são) para os fascistas: os subversivos da sociedade. Pois no iluminismo defendia-se a liberdade ideológica, o estado laico e o pensamento científico. Por isso, os bolsonaristas reacionários são contra qualquer tipo de mudança17 social. Um clássico exemplo se encontra na Espanha fascista do General Franco onde a pluralidade religiosa foi proibida e o catolicismo tornando-se a religião oficial do estado espanhol. Vale destacar que, para a consolidação de qualquer regime totalitário, o irracionalismo é o melhor caminho para moldar a subjetividade dos cidadãos.

Anti-intelectualismo: da mesma forma que fascistas não são adeptos do conhecimento científico, no Bolsonarismo existe aversão ao pensamento aprofundado ou de reflexão. Existe estratégia, exercício de controle e ideias na cúpula dos políticos bolsonaristas para dominação de massas, mas o Bolsonarismo em prática, absorvido pelo eleitor, na forma de agir, está na ação rápida por violência física ou verbal. A maioria das decisões fascistas é tomada por instintos e não por estudos ou pesquisa. No fascismo ideológico, considera-se como “fraqueza” o planejamento científico. A repulsa18 ao mundo intelectual é típica do fascismo e do Bolsonarismo, como pode ser observado no ininterrupto ataque19 dos bolsonaristas às universidades públicas que veremos à frente mais detalhadamente. Contudo, isso não procede para os neoliberais que estão abraçados com o presidente, nem para a elite das Forças Armadas.

Autoritarismo e prepotência: é considerado como inimigo do governo todo e qualquer que se opõe a ele, principalmente quando há manifestos públicos críticos. Característica comum do fascismo e de outros regimes ditatoriais, as pessoas que se opunham ao governo eram perseguidas. Nos tempos atuais, para mascarar a forma autoritária, artistas e outros intelectuais, como os acadêmicos, são acuados pela polícia e por milícias digitais compactuadas com o governo a fim de pulverizar a fala da oposição. Para os fascistas e nazistas, quem pensa diferente rompe com a “unidade” do governo e é mais que um mero inimigo, é considerado traidor da pátria e deve ser suprimido para que sirva de exemplo para os outros. Razão do fascismo italiano e muito visto no Bolsonarismo prático nos atos20 do eleitorado de Bolsonaro: crer, obedecer e combater. Novamente, aqui, interessa o irracionalismo.

Aversão à pluralidade: um dos modos operantes mais comuns do fascismo é o trato e tato dos fascistas com o povo por meio do medo do diferente. Verifica-se esta característica no Bolsonarismo na forma de agir do governo e no comportamento de seus apoiadores pelo menosprezo de minorias ou na relativização do machismo cotidiano. Entende-se como desprezo ao dissemelhante nos falares, por exemplo, do próprio presidente Jair Bolsonaro, conforme declarou em “tom de brincadeira” que fuzilaria21 “petralhada” no Acre ou encontro22 na Paraíba em fevereiro de 2017 ao dizer “Deus acima de tudo. Não tem essa historinha de Estado laico não. O Estado é cristão e a minoria que for contra que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias”.

Pacto com as elites (burguesia e neoliberais): o discurso fascista nutre-se da frustração da classe média, enquanto no Bolsonarismo, essa atinge todas as classes sociais, porém intensifica ainda mais o poder societal nas mãos da burguesia neoliberal. A crise econômica brasileira, conforme delineada anteriormente, fez com que as pessoas da burguesia se sentissem abandonadas pelo governo e ameaçadas por quem compõe as classes “abaixo”. É daí que se retoma o medo do mito universal de uma “revolução comunista” no Brasil e seus “privilégios” ameaçados. Na Alemanha Nazista, Adolf Hitler, por exemplo, deu o máximo de benefícios para grandes latifundiários, empresários e banqueiros. Os governos de ideologia fascista prometem23 vantagens para a classe média, porém quem recebe as benfeitorias é a burguesia. Por isso que no âmbito político bolsonarista brasileiro o elitismo faz-se muito presente, seja pela indicação de empresários ou intermediadores do mercado financeiro em funções do governo ou pela adesão ideológica ao governo. Um forte abraço dialético entre fascistas e neoliberais.

Nacionalismo Servil: polo propulsor do fascismo, o nacionalismo é a forma fanática da concepção da história, valores e cultura de um país como soberania acima de outras nações. Porém, no Bolsonarismo ocorre o nacionalismo às avessas, se considera ultranacional, usa muito as cores da nação - o verde e amarelo - mas adota discursos, exemplos e idolatra outros modelos pátrios, tendo nos Estados Unidos seu objeto24 de vislumbre. Repete-se assim como na propaganda nazista, o intento do governo para seu povo adotar o “forte orgulho nacional”. No âmbito econômico é exatamente o objetivo não só dos Estados Unidos, mas de todos os países do centro econômico mundial.

Necropolítica e necro-estado: na ideologia fascista e no Bolsonarismo os discursos são ambíguos e sempre carregados de muito ódio, mas são precisos porque fazem a população sentir-se ameaçada no mesmo tempo que se vendem como soluções contra o inimigo dela. Inimigo criado pela própria narrativa fascista. Na história, muitos foram os discursos de figuras públicas, como Mussolini e Hitler, ao pregarem a “ameaça comunista”, fato verbalizado pelo líder nazista na luta contra o “marxismo”. Bolsonaro repete aos quatro ventos a teoria de que há, no Brasil, um plano comunista para destruir a nação e discorda incessantemente de órgãos e pessoas públicas como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas (ONU) entre outras instituições científicas que alertam25 sobre os problemas sociais, ambientais e educacionais do Brasil, além de tratar com desdém a vida humana ao dizer em plena pandemia da COVID-19 que a doença é “uma gripezinha” ou quando perguntado foi sobre as mortes respondendo: “E daí!”. Mais uma vez aparece o negacionismo como um eixo central do Bolsonarismo.

Belicosidade: o Bolsonarismo é influenciado pelo fascismo na perene ideia de busca pelo inimigo e confrontos. Sem “uma ameaça” o fascismo não existe, logo o Bolsonarismo também não. Isso porque o Bolsonarismo vem de fora e se põe contra a sociedade. Essa forma ideológica também é uma forma política, porque deixa à deriva vidas humanas devido ao teor bélico no modelo de governo. É desse segmento que aparece a obsessão por armamentismo e militarismo, típico do franquismo, o “Fascismo Espanhol” que obrigou crianças a usarem uniformes militares e no caso da juventude hitlerista, fato emblematicamente abordado pelo premiado filme Jojo Rabbit de Taika Waititi (2019). No Brasil26, com o triunfo de Jair Bolsonaro nas eleições, o armamentismo faz-se presente por meio de medidas27 que flexibilizam a posse e porte de armas e nos simbólicos gestos do presidente e seus seguidores com “arminhas” nas mãos.

Militarismo e “milicianismo”: base da força autoritária fascista e predominância na governança. Em seu governo, Bolsonaro tem mais militares no primeiro escalão do que no governo do general Castelo Branco (1964-1967), que inaugurou o regime militar no golpe de 1964. Há o “milicianismo” como prática28. Tática de movimentos autoritários e intimidatórios com desprezo pelas instituições democráticas (mesmo pronunciando garanti-la) e aparelhamento social via força paramilitar. Utiliza o ufanismo dos apoiadores para expandir o neototalitarismo contra quem se opõe combinado com a cultura política ultraliberal - amálgama do DNA bolsonarista com a cartilha econômica de Paulo Guedes.

Meritocracia: na sociedade fascista o povo é educado para concorrer entre si desde muito jovem, isto é, o fanatismo pela ideologia se encontra em todas as classes sociais e idades, pois a “pátria” está acima de sua vida. A destrutividade e o cinismo do Bolsonarismo fazem da meritocracia um dos maiores pesos na conjuntura desigual do país, pois critica o sistema de ações afirmativas, com intentos constantes de eliminá-las29.

Intolerância e Preconceitos (machismo, racismo, homofobia e xenofobia): os fascistas se orgulham de serem machistas, homofóbicos e xenófobos. Na história se proclamam como homens de bem na figura de “homem trabalhador” e “homem de família”, enquanto o papel das mulheres na sociedade é de mera reprodutora. Os fascistas são contrários a qualquer forma de orientação sexual que não seja a heterossexual e afirmam que tal anormalidade vai contra o modelo de “bons costumes” da família tradicional. Na época da Alemanha nazista, aproximadamente cem mil homens foram presos por serem considerados homossexuais, sendo executadas em torno de 60% dessas vidas em razão de suas orientações sexuais. As estereotipias advindas do Bolsonarismo contêm os quatro elementos e estão totalmente presentes no cotidiano brasileiro. O machismo como desprezo às mulheres é fato diário e observado nas falas do próprio presidente. Por exemplo, na entrevista30 ao jornal gaúcho Zero Hora em 2015, Bolsonaro disse que mulheres são problemas para empresas porque engravidam e geram despesas aos contratantes por usarem a licença-maternidade. A homofobia está explícita em toda sociedade brasileira, sendo o Brasil o líder31 mundial de assassinatos de transexuais e tendo no Bolsonarismo a representação máxima da verbalização32 da incapacidade de amar um filho gay. Na mesma esfera social o racismo está representado pela indiferença com vidas negras, tendo como fato33 a fala de Bolsonaro em abril de 2017 ao expressar que “o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas”.

Propaganda: se o nacionalismo é o carro chefe do fascismo, no Bolsonarismo eleva-se a forma de diálogo nacional para o escárnio cotidiano. Nota-se esse elemento pelas forças das ideias e nas emblemáticas campanhas digitais, fonte maior no cotidiano alienador por meio de notícias falsas e no caricato uso das redes sociais com políticos34 de convergência usando charges e montagens digitais para difamação de adversários, enquanto seus eleitores acreditam e compartilhar injúrias.

São muitos outros fatores que se concatenam com as características acima detalhadas. Nos anos prévios e posteriores das eleições de 2018, um dos aspectos que predominou e predomina no cotidiano brasileiro está na relativização da verdade, fato semelhante na eleição que elegeu Donald Trump nos Estados Unidos, tendo a manipulação de informações sobre a realidade como modus operandi do eleitorado neoconservador (resultado do negacionismo). Como consequência, houve embates e insultos contra quem pensava diferente numa dinâmica de destruição de reputações, fortalecendo o quadro de desumanização do cotidiano. Nesse aspecto, recorremos a Nietzsche (2009) que disse que devemos ter em conta que toda verdade na condição de conhecimento é individualmente construída, ou seja, não existem verdades absolutas, mas interpretações da realidade em que se vive. Passamos a conviver novamente com a fascista arma política forjada na palavra e de alto poder destrutivo, adotado por forças políticas antiprogressistas como forma de ressignificar fatos e comandar no cotidiano alienadas mentes.

Bolsonaro foi eleito democraticamente, porém sua forma de condução política, muito relativizada por apoiadores, passou a ser diariamente questionada. Os traços de autoritarismo eram explícitos na campanha e na trajetória política como deputado por quase 3 décadas. A imprensa oligopolizada e hegemônica que panfletou e relativizou falas e atitudes de Jair Bolsonaro durante as eleições, passou a receber constantes ataques devido às críticas sobre medidas do governo, fazendo do Ano Um de Bolsonaro o palco de seus polêmicos discursos. Ainda assim, não se pode negar que Bolsonaro e sua equipe de publicidade trabalharam com muita eficiência sua campanha e, por conseguinte, sua eleição, mas usaram estratégias inumanas por meio de uma rede de propagação de mentiras. Citando Hannah Arendt, Feitosa (2017) chamou atenção para a questão das mentiras como atos comuns num século composto de pós-verdades35, enquanto a própria Arendt (1989) disse que a desvalorização dos fatos é um poderoso método para atração de benefícios pessoais. Em acréscimo, se consideramos que o autoritarismo se encontra na origem do processo civilizatório do capitalismo, em um país de capitalismo periférico como o Brasil, pode-se concluir que a sua democracia recente não aguentaria e pereceria.

Bolsonarismo no cotidiano

Todos que contrariam a vontade do Duce, tornam-se vítimas do mito universal. Chega ao absurdo de se encontrar em posição de interferir nos outros poderes e órgãos de segurança como aconteceu em reunião ministerial no dia 22 de abril de 2020, momento em que Bolsonaro prometeu interferir na Polícia Federal. Cobrou a assinatura do ex-ministro da justiça Sérgio Moro para autorizar a si (Bolsonaro) o controle de escolha da Superintendência no Rio de Janeiro. A reunião também ficou marcada pelo presidente defender (como inúmeras outras vezes) o armamento da população. Conjuntamente, tendo como guarida nas forças armadas por intermédio do General Braga Netto e como se pode ver na nota do General Heleno e no rascunho de um suposto AI-6 publicado pelo vice-presidente General Mourão36. Quando redigimos este texto, lemos a notícia que o Tribunal de Haia37 analisa se Bolsonaro cometeu crimes contra a humanidade38, tal vergonha nenhum brasileiro merece.

O Bolsonarismo, como já aqui dito de forma demasiada, vem de fora da sociedade e com ela não se identifica. Melhor dizendo, o presidente se opõe à sociedade, às demonstrações científicas da realidade e causa mal-estar cotidiano na população pela irracional administração, que tem como drástico exemplo em menos de dois anos de mandato, em plena pandemia mundial de COVID-19, mais de 30 pedidos de impeachment39 e diversos possíveis crimes de responsabilidade40. Entre eles, as práticas resultantes do modo ideológico do governo - a negação da ciência.

Com o mundo em surto por causa do mais fatal vírus do século, o presidente participou de manifestações de apoiadores provocando aglomerações expondo grandes quantidades de pessoas ao contágio da doença. Aparenta uma loucura, um delírio como causa de cada ato. Parece ser esta a razão da expansão do negacionismo. Por vir contra a sociedade, sustenta sua narrativa tendo como fundamentação o que aqui chamamos de mito universal. A loucura do capitão parece incompreensível. Mas lê-se em Hamlet uma das frases preferidas de Freud “Tem método em toda loucura”.

Desvendar o método é o desafio posto para os pesquisadores. Bolsonaro apoia-se no fundamento religioso evangélico e busca exterminar parte da sociedade que o incomoda, do que decorre a expansão de preconceitos e dos grupos excluídos por ele: racismo, homofobia, indígenas, pretos, pardos, pessoas com deficiência, refugiados e cidadãos de baixa renda, buscando fundamentação nas narrativas criadas pelo grupo do Bolsonaro com orientação do Comunismo Universal, criando um negacionismo do que está sólido, do que decorre de uma sociedade fragmentada. Somente outro agente externo poderia conter o presidente. Isso produz um enorme problema para o país.

Há no Bolsonarismo um ódio entranhado, no presidente e seus seguidores, contra tudo o que é civilizado, expondo a sua outra face: a violência. Este ódio tem origem no início do processo civilizatório do capitalismo. O movimento se arma e quer armar a sociedade numa cruzada religiosa contra qualquer pacto social, além de estabelecer a lógica de organização das milícias. Todas as polícias militares agem com "autonomia" em relação aos governadores, e são os mais cegos em seguir o capitão. A Polícia Militar no Brasil conta com aproximadamente 0,6 milhão de policiais. Ele domina esse exército e parte dele está em milícias por todo Brasil, seguindo o presidente. A polícia militar tem sua origem na Ditadura Militar de 1964 e é estadual, o desapegado da sociedade pretende, segundo Eliane Brum41 em El País, produzir um decreto, tornando a PM de estadual em nacional. Com isso ele teria um exército paralelo mais as milícias.

A estrutura do Bolsonarismo vai além das falas de um guru ou da forma simplificada de que há ressentimentos por meio das mentiras. O totalitarismo e o protofascismo, por exemplo, aparecem constantemente no confronto com a comunidade científica, principalmente as universidades e institutos federais (IFES), estes que são constantemente alvos da necropolítica bolsonarista. O Ministério da Educação, desde que Bolsonaro assumiu a presidência, passou a ter as IFES como principais inimigas da sociedade. Formou um novo tipo de relação para além das políticas de austeridade ao se opor à academia. E do corte do financiamento de pesquisas iniciado com Temer, Bolsonaro projetou nas universidades a culpa por problemas de origem política, apelando à exceção, à emergência e a uma noção ficcional de inimigo (MBEMBE, 2016).

Ciência brasileira sob ataque

O nível de calor que o Bolsonarismo introduziu na esfera pública brasileira com a crise sem precedentes da saúde pública na pandemia do coronavírus e na crise econômica sem racionalizá-las, são marcas que se devem a uma razão - o pânico e aversão que Bolsonaro tem pela ciência e educação superior. Áreas que deveriam ser protagonistas do desenvolvimento de uma nação estão intensamente negligenciadas na elaboração do orçamento e, por conseguinte, com dificuldades para distender as práticas de pesquisa e produção de conhecimento científico.

Bolsonaro manteve o contrassenso da progressão científica do Brasil; a Emenda Constitucional 55 (EC-55 também conhecida como PEC da Morte). Com status constitucional que não há precedentes em nenhum lugar do planeta, ficou proibido por meio desta EC-55 o investimento por vinte anos em educação, saúde, segurança, ciência, cultura, moradia, estradas, aeroportos, portos, ferrovias entre outros componentes societais que fazem parte da agenda popular brasileira. O que se viu na prática e continua em 2020 é o agravamento dessa medida que abriu lugar para acelerar a precarização da educação básica, educação superior pública e da ciência brasileiras, todas rumo à privatização.

Bolsonaro em vez de trabalhar na revogação da EC-55, para que, juntamente aos intelectuais e especialistas das mais diversas áreas fosse possível desenhar um novo quadro e projeto para a educação e ciência brasileira, mostrou na realidade sua condição antagônica a este processo. Em seu ano um, Bolsonaro e seus aliados apropriaram-se, por exemplo, do discurso de que a educação estava falida não pela falta de investimento, mas por causa do contingente de professores e servidores politicamente ideologizados nas escolas e universidades. Projetaram a culpa nos atores sociais que mais se engajam e cobram por medidas satisfatórias para o crescimento educacional no país. Indo além, injuriam e melindram quem se opõe, num desafeto inumano de aniquilamento de reputações sobrepondo o discurso religioso e esotérico acima da ciência.

Stanley (2018), em sua obra Como o Fascismo Funciona: as políticas do nós e eles, alude sobre a realidade mundial numa articulação cujo objetivo é o extermínio dos direitos humanos com o revigoramento do anti-intelectualismo, ao dizer que diversas são as formas de políticas fascistas e suas estratégias para consolidar narrativas de postura autoritária para apoderar-se de cidadãos num contexto de anomia política. Nesse contexto, o Brasil tornou-se o infeliz caso exemplar para o mundo. As práticas políticas do Bolsonarismo utilizam do anti-intelectualismo ao mesmo tempo que promovem ataques constantes às universidades e instituições.

Nessa lógica, o propósito do anti-intelectualismo do Bolsonarismo é depreciar a ciência e a educação crítica para afastar qualquer refutação que ameace a execução das pautas ultranacionalistas, conservadoras, reacionárias e neoliberais do governo. Para Laclau (2005), muitos estudiosos vêm há tempos alertando sobre esse tipo de autoritarismo governamental amalgamado de populismo, argumentando contextos, conjunturas de crise e desordem como pré-requisitos para que a irrupção populista conservadora seja bem-sucedida. Essa mobilização neofascista se compara com o fascismo histórico de outras figuras políticas contemporâneas como Donald Trump nos Estados Unidos, Viktor Orbán na Hungria, Recep Tayyip Erdoğan na Turquia, Volodymyr Zelenski na Ucrânia e Rodrigo Duterte nas Filipinas.

A ciência, a produção de conhecimento, os estudos críticos e o trabalho com pesquisa nesse tirânico cenário representam atemorização na forma de governar desses líderes e suas agendas políticas. Há uma articulação entre o ultraliberalismo econômico com propensões misóginas, homofóbicas, xenófobas, racistas e militaristas provocando inquietações nos espaços críticos que são amortecidos pelo autoritarismo político e, sobretudo, por meio de medidas econômicas impopulares que agonizam o cotidiano da sociedade civil. Para isso, as fontes do anti-intelectualismo do Bolsonarismo são muitas e substancialmente antagônicas, como na coragem de fala e expressão, fetichizada pela necessidade de autenticidade contemporânea, na constante ofensiva do “politicamente incorreto” e dos discursos vazios, porém de grande impacto no psiquismo popular no uso de jargões como “cidadãos de bem” e no contínuo choque contra a “ideologia de gênero” (BUTLER, 2019).

A dupla face do Bolsonarismo se encontra bastante na memética (estudo formal dos memes), conceito criado por Dawkins na obra “O gene egoísta” em razão de controvérsias e contradições da cultura humana, principalmente por fundir ideais religiosos com os sistemas políticos que permitiram a Bolsonaro, quando candidato à presidência, usar slogans como “Direitos humanos: esterco da vagabundagem” e “Brasil acima de tudo e deus acima de todos”, ditados que fazem referência ao mesmo texto42 de campanha da Alemanha nazista de Hitler, Deutschland über alles, que quer dizer "Alemanha acima de tudo". Esta foi a conduta e engenhosidade política que produziu o trampolim de Bolsonaro para o Planalto Central.

Como plano de governo e, consequentemente, de afronta às universidades públicas e aos direitos humanos, Bolsonaro rigorosamente não se desprende do anti-intelectualismo ao usar esse dispositivo como modelo operante junto das práticas ultraliberais econômicas de Paulo Guedes, numa amálgama antidemocrático, despótico e impositivo. Um exemplo recente encontra-se no caso43 do auxílio emergencial para a população durante a crise da pandemia da COVID-19, em que se discutia no governo a liberação de três parcelas no valor de R$ 200,00, mas que foram alteradas para R$ 600,00 cada uma e aprovadas pelo Senado após pressão dos partidos de oposição como PDT, PSB, REDE, PSOL e PT pelo fato do crescente número de mortos pelo vírus e pela negligência do governo em criar medidas competentes e funcionais contra a proliferação da doença no Brasil.

O fato anterior, sobre as providências para prevenção do alastramento e cuidados para combate do novo coronavírus, poderiam (e são) dimensões nas quais as universidades44 podem contribuir mais do que estão colaborando se estivessem com o financiamento de pesquisas e verbas no mesmo padrão (ou maior) do que os anos de 2014 e 2015 (biênio com ápice de investimento em ciência, tecnologia e inovação no Brasil). Mas que está em ininterrupta decadência desde então. O maior exemplo dessa lógica está no volume de produção científica do país sendo 95% de responsabilidade das universidades públicas, ou seja, as instituições que estão mais expostas aos ataques do governo Bolsonaro são também precarizadas uniformemente enquanto detêm a predominância da produção de conhecimento no Brasil. Fato que as expõe como alvos da frequente cobiça do mercado capitalista mundial para serem privatizadas e tornarem-se prestadoras oficiais de serviços como via de mercantilização do conhecimento. Faz-se assim, a desumanização da ciência brasileira, impondo professores, professores-pesquisadores, pesquisadores, graduandos, pós-graduandos (todos os cientistas acadêmicos) à lógica comercial de produção de valor no raciocínio da produtividade empresarial e na dialética capitalista de que a ciência tem que ser fonte tecnocientífica.

Em 2019 foram 84 mil pesquisadores ameaçados de não receber os pagamentos de suas bolsas, situação à qual se junta o bloqueio de mais R$ 348 milhões no Ministério da Educação, resultado da redução orçamentária de R$ 6,1 bilhões - o maior corte no orçamento federal e que fere, diretamente, o cotidiano de trabalho e a produção científica em todo sistema de educação brasileiro, da graduação a pós-graduação.

Os ataques de Bolsonaro e dos bolsonaristas às universidades interpostos pelo negacionismo são prerrogativas que aparecem no mundo todo. Em 2018 na Hungria, Viktor Orbán também pressionou a Universidade da Europa Central (CEU) forçando a saída da instituição do país, que migrou suas atividades para Viena, capital da Áustria, em razão de não compactuar com “certos estudos”, como estudo de gênero, decretado como ilegal no país. Em 2017, Donald Trump decidiu cortar drasticamente o financiamento em ciências e pesquisa, dando prioridade para verbas militares e segurança interna. Na Índia, movimentos de direita como o Partido do Povo Indiano (BJP) produziram grande histórico de ataques as universidades por “não prosperarem o orgulho nacional” e serem contra as medidas focais para ingresso de minorias étnicas nas universidades. Fato semelhante aos atos de representantes do partido de extrema-direita da Alemanha AfD (Alternative für Deutschland - Alternativa para a Alemanha) que desde 2018 pressionam universidades por meio de atritos com coletivos estudantis, a fim de que parem com o “discurso envenenado de esquerda”, enquanto no país vizinho, a Polônia, foi proposto por partidários de extrema direita que o governo polonês parasse de mencionar a cumplicidade do país com o holocausto nas ementas escolares.

Esse quadro, de forma global, desenvolve-se na forma política brasileira por meio de dois projetos. Ambos em tramitação no governo federal, sendo um deles também apensado em casos pormenores nas instâncias estaduais e municipais. O projeto Escola Sem Partido (ESP) e o mais avançado, e somente no congresso federal, o Programa Future-se (SILVA JÚNIOR; FARGONI, 2019a; SILVA JÚNIOR; FARGONI, 2020).

O ESP tem origem muito antes do governo Bolsonaro, mas ganha força no ímpeto da governança anti-intelectual bolsonarista por meio de aliados inseridos principalmente na bancada evangélica. Esses tentam impor um misto de Macarthismo ou inquisição na autonomia do trabalho pedagógico dos professores da educação básica com intentos de chegar na execução do trabalho docente no ensino superior. Para Silva Júnior e Fargoni (2019b) o Escola Sem Partido reforça o horizonte acrítico das pessoas, porque reduz ou cessa a exploração de debates em sala de aula ao mesmo tempo que desumaniza a formação humana por distanciar os estudantes das reflexões sobre a realidade e o mundo em que vivem.

A estratégia de calar a educação incorpora a manutenção de um sistema social de caráter excludente, dispondo a maioria pobre mediada pela prática educativa para abastecer os segmentos operacionais, sem difundir a crítica nos sujeitos, retirando-os do debate sobre política, economia e de outros temas no processo educativo devido a penalização aos educadores. É a censura da emancipação pela ambição do controle do capital (...) em expulsar a classe operária da política a partir da escola. (SILVA JÚNIOR; FARGONI, 2019b, p. 76).

Em outro grau, na educação superior, encontra-se o projeto que versa com o ESP, mas com potência avassaladora em diferentes âmbitos. O Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras - Future-se é o maior projeto que inicia o fim da universidade pública estatal no Brasil. Apresentado como “solução” para universidade brasileira por meio de uma estética futurista, o programa não tem compromisso com os fatos da realidade da educação superior e produção científica no Brasil. Todo ordenado pelo conluio político bolsonarista que antagonicamente põe o país “como um excelente mercado para a mercadoria educação superior, outro atrativo para o capital financeiro mundializado” (SILVA JÚNIOR, 2017, p. 233). A racionalidade do Future-se tem como profunda mudança na forma da episteme da ciência brasileira e conduz as IFES para a privatização. Expondo-as ao modelo de autonomia financeira e estreitamento com corporações mundiais, resultando na transformação das IFES em Organizações Sociais (OS)45 dependentes do setor privado vendendo serviços.

Na trajetória da delineação do projeto, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, ideologicamente alinhado com a forma do Bolsonarismo de governar, atacou universidades públicas, professores e servidores, difamando-os. Agressões verbais e outras provocações de natureza fascista que contribuíram na sua demissão do cargo por insultar os ministros do Supremo Tribunal Federal ao dizer que: “Por mim colocava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”.

Na tentativa de minar a credibilidade e qualidade das IFES ao agredir verbalmente os espaços democráticos, Weintraub - em outras palavras, chamando a vivência acadêmica de “balbúrdia” - afirmou sua figura fascista fundamentando sua posição no fato de que a forma livre de expressão e os discursos progressistas são “doutrinários”. Para o ex-ministro, o Future-se possibilitará à universidade avançar na modernidade por figurar como vendedora de conhecimento superqualificado, enquanto outras áreas de estudo, historicamente voltadas ao questionamento do status quo, como as Humanidades, serão deslegitimadas pelos anti-intelectualistas por meio de corte de verbas ou na perseguição de professores.

Considerações Finais

Iniciamos nossa reflexão pontuando a conjuntura política brasileira no governo Dilma até seu impeachment. Essa discussão foi necessária para compreender o que contribuiu no intelecto popular para as acentuadas insatisfações de um povo que, em vez de racionalizar os fatos políticos e o declínio econômico, buscou amparo se aproximando ao delírio dos ideais fascistas. Discorremos sobre a passagem de Michel Temer na presidência na república retomando ruinosas reformas que desidrataram os direitos dos trabalhadores e sua transição para o governo Bolsonaro que selou oficialmente o pacto da necropolítica brasileira como o pacto entre fascistas e os ultraliberais.

Aqui é relevante destacar os que defendem os neoliberais. O fim do regime de predominância financeiras (SILVA JÚNIOR, 2017) deu origem ao capitalismo com base no endividamento social. No que consiste este regime de acumulação que sucede a predominância financeira? Consiste em fazer o cidadão se endividar e comprometer seu tempo de vida futuro com o capital. Este regime de acumulação no Brasil é o resultado de todos os governos anteriores a Bolsonaro, sem exceção. Um exemplo simples. Um jantar pago com cartão de crédito, impõe ao comensal empenhorar um tempo de vida que ele ainda não viveu destinado ao trabalho para o pagamento do jantar. Porém, onde reside o desespero de mudanças de Paulo Guedes? Na continuidade das reformas. É aí que se desenvolve a necropolítica como pacto entre fascistas e neoliberais. A reforma da previdência é um caso exemplar. As novas gerações de trabalhadores e muitos atuais vão pagar um tipo de previdência pública ou privada durante aproximadamente 40 anos para poder usufruir, se não morrer, do bem pago. Os trabalhadores ao entrarem no mercado de trabalho já entram contraindo uma dívida de longo prazo, sem a respectiva correspondente do capital de ao menos lhes mostrar a mercadoria comprada pela sua dívida.

Se as reformas tributária e fiscal continuarem assim, terão a mesma racionalidade. Aqui Paulo Guedes abraça Bolsonaro num pacto de morte aos trabalhadores, entre fascistas e neoliberais. Argumentamos ainda que este regime de acumulação já instável na sua origem, não admite protestos em favor da vida. E, portanto, exige um Estado fascista de periferia. Neste ponto, pode-se levantar uma hipótese explicativa para a expansão dos totalitarismos pelo mundo, trata-se da mais profunda crise do capitalismo e farão o demônio para diminuir o custo do trabalho vivo.

Destacamos também a configuração do Bolsonarismo e a interferência da ideologia bolsonarista na sociedade brasileira, produzindo um encadeamento desumano de pulverização dos direitos humanos e da ciência no Brasil. Supusemos as contradições do Bolsonarismo contra o estado democrático de direito, em um empoderamento que forjou a ultradireita brasileira apensada na nostalgia da opressão do regime militar brasileiro e no neoliberalismo espoliador dos Estados Unidos. Tal regime se legitima no comportamento dos “fiéis” e fanáticos bolsonaristas pelos discursos antidireitos do presidente.

Falamos da desolação da ciência brasileira, que há poucos anos continha a esperança de um futuro promissor por meio de verbas provenientes do pré-sal e do horizonte de investimentos em pesquisas, tecnologias e inovação sem anular a presença das humanidades. Quadro que foi descontinuado em 2016 com a saída de Dilma e está esfacelado com a política anti-intelectual de Bolsonaro. E, diante de tantos entraves, como há limites constitucionais à atuação do MEC, o governo que vem travando uma permanente guerra contra as universidades teve em 18 de junho de 2020 o anúncio da demissão de Weintraub. Fato que poderia ser considerado uma vitória dos progressistas brasileiros, mas sabendo da estrutura ideológica do fascismo no Bolsonarismo, a batalha apenas mudou de nível e os educadores do Brasil em plena pandemia continuarão a saga de “aguardos”; da vacina para o vírus que assombra o planeta (COVID-19) e da resistência psíquica para manter a oposição lúdica e lúcida em tempos de rápida destruição de direitos.

O fato histórico Bolsonarismo é mais uma forma de autoritarismo na história do Brasil. É também outra expressão da personalidade46autoritária (ADORNO, 1995) que emerge em face da profunda crise do capitalismo47 desde 2008. Posto que outrora se sustentou das diversas crises aqui aludidas, avultando-se da manipulação da sensação de incertezas e ideais antidemocráticos. Da propagação de notícias falsas contra adversários políticos e da parceria com a burguesia brasileira que encontrou em Bolsonaro a oportunidade de aparelhar ideologicamente os mecanismos do estado, tornando-o o representante das hierarquias existentes.

Concluímos que o Bolsonarismo é mais uma forma de autoritarismo num país periférico e sempre caudatário ao centro econômico mundial. Trouxe à nação e à população a linha tênue entre ódio e o medo transfigurando os Direitos Humanos na função de zelar pela integridade humana como rival da sociedade. Transformou docentes em vilões da história recente do Brasil e deixou o país ainda mais à deriva do capital financeiro mundializado. O conceito de família, religião, disciplina, autoridade e ética agora são confundidos com o padrão de ser numa sociedade multifacetada e diversificada. Os flertes do Bolsonarismo com o fascismo e o nazismo não são mais princípios, são uma concreta simbiose em tempos diferentes.

Mas, para que a esperança se mantenha viva em tempos de confinamento e isolamento social sob um regime protofascista, a música, as poesias, os filmes e os livros são boas alternativas e dispositivos para preservar a saúde mental. Num país desigual como o Brasil nem todos fazem leituras de obras clássicas ou de artigos científicos. Os aparelhos móveis possibilitam isso, mas o entretenimento popular atua mais como alienador do que emancipador. Para isso, socializemos esperanças por meio das palavras de educadores, sociólogos e filósofos, intelectuais profissionais que para o ex-ministro da educação Weintraub não merecem o dinheiro “dele” (do fundo público). Destarte, como disse Carl Sagan (1995), não explicar a ciência me parece perverso. Porque quando alguém está apaixonado, quer contar para todo mundo.

Referências

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1 Três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos no País - 29% do total, o equivalente a cerca de 38 milhões de pessoas - são considerados analfabetos funcionais no Brasil. Época Negócios, 06 ago. 2018. Disponível em: https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2018/08/epoca-negocios-tres-em-cada-10-sao-analfabetos-funcionais-no-pais-aponta-estudo.html Acesso em: 28 maio 2020.

2Negacionismo consiste na ação de negar ou não reconhecer fatos, teses e conceitos verificados empiricamente. O negacionismo vai além da escolha de negar a realidade como fuga de verdades desconfortáveis. No âmbito social, por exemplo, os negacionistas que rejeitam a ciência se utilizam de pseudociências para legitimar o que lhes convêm (comumente baseados em achismos).

3Bolsonaro já cumpriu o que prometeu: temos 30 mil mortos. FARINELLI, V. Opera Mundi, 02 jun. 2020. Disponível em https://operamundi.uol.com.br/coronavirus/64996/bolsonaro-ja-cumpriu-o-que-prometeu-temos-30-mil-mortos Acesso em: 21 jun. 2020.

4O que aconteceu no Brasil, com a destituição da presidenta eleita Dilma Rousseff, foi um golpe de Estado. Golpe de Estado pseudolegal, “constitucional”, “institucional”, parlamentar ou o que se preferir, mas golpe de Estado. Parlamentares - deputados e senadores - profundamente envolvidos em casos de corrupção (fala-se em 60%) instituíram um processo de destituição contra a presidente pretextando irregularidades contábeis, “pedaladas fiscais”, para cobrir déficits nas contas públicas - “uma prática corriqueira em todos os governos anteriores” (LÖWY, 2016, p. 55).

5A Reforma do Aparelho do Estado foi (e continua sendo) um conjunto de mudanças institucionais que têm por objetivo inserir o Brasil na nova ordem econômica mundial, por meio das diretrizes estabelecidas no Consenso de Washington que preparou o país para se tornar um polo de atração de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) e uma plataforma de valorização do capital financeiro.

6Brasil levará até 20 anos para ter padrão europeu, diz Mantega. Apesar da demora para chegar no padrão, ministro de Dilma disse que nosso país é "respeitado e cobiçado". PARIZ, T. Revista Exame, 26 dez. 2011. Disponível em: https://exame.com/economia/brasil-levara-ate-20-anos-para-ter-padrao-europeu-diz-mantega/ Acesso em: 22 jun. 2020.

7Spread bancário é a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador para recolher um recurso e o quanto esse banco cobra para emprestar o mesmo dinheiro.

8Primavera Árabe foi uma série de revoltas populares que despontaram em mais de 10 países no Oriente Médio e na região norte da África. Os movimentos se espalharam por oposição às altas taxas de desemprego, precárias condições de vida, corrupção e governos autoritários.

9Dilma propõe 5 pactos e plebiscito para constituinte da reforma política. G1, Brasília, 24 jun. 2016. Disponível em http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/dilma-propoe-5-pactos-e-plebiscito-para-constituinte-da-reforma-politica.html Acesso em: 15 maio 2020.

10Como a desinformação influenciou nas eleições presidenciais? MARS, A. El País, 25 fev. 2018. Disponível em https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/24/internacional/1519484655_450950.html Acesso em 19 maio 2020.

11Denunciado cinco vezes e alvo de dez inquéritos, Michel Temer vê Justiça acelerar ações. SHALDERS, A. BBC News Brasil, 29 mar. 2019. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47751869 Acesso em: 21 jun. 2020.

12‘Ponte para o futuro’ em prática: como é o plano de privatizações e concessões de Temer. CASTRO, J. R. Nexo Jornal, 13 set. 2016. Disponível em: https://bit.ly/2VaAJqn Acesso em 16 maio 2020.

13Intervenção militar gastou R$ 72 milhões com operações do Exército no Rio. ADORNO, L. UOL, 14 fev. 2019. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/02/14/gasto-valor-operacoes-intervencao-rio.htm Acesso em 19 maio 2020.

14Neonazistas ajudam a convocar "ato cívico" pró-Bolsonaro em São Paulo. UOL Notícias, 06 abr. 2011. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2011/04/06/neonazistas-ajudam-a-convocar-ato-civico-pro-bolsonaro-em-sao-paulo.htm Acesso em 17 maio 2020.

15Bandeira inspirada no nazismo é exibida em manifestação pró-Bolsonaro. Congresso em Foco. 16 out. 2018. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/eleicoes/bandeira-inspirada-no-nazismo-e-exibida-em-manifestacao-pro-bolsonaro/ Acesso em: 20 jun. 2020.

16Bandeira da monarquia foi estendida ato pela Lava Jato. Exame, 01 jul. 2019. Disponível em: https://exame.com/brasil/bandeira-da-monarquia-e-retirada-durante-ato-pela-lava-jato-em-sorocaba/ Acesso em: 21 jun. 2020. [acrescentar às referências todas as fontes citadas nas notas]

17Com o colapso do lulismo, não há dinâmica política convencional remanescente no Brasil. O “Bolsonarismo” surgiu em seu lugar, mas durante o período de transição o que aparece é uma política paralela baseada na religião. Evangélicos e a ascensão da extrema-direita no Brasil. PINEZI, A. K. M. Le Monde Diplomatique Brasil, 13 maio 2019. Disponível em: https://diplomatique.org.br/evangelicos-e-a-ascensao-da-extrema-direita-no-brasil/ Acesso em: 20 jun. 2020.

18Negacionismo do governo brasileiro ameaça ampliar pandemia. A alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Michelle Bachelet, critica o comportamento do governo no Brasil de negar a gravidade da covid-19 e alerta que tal postura está ampliando o impacto da crise. CHADE, J. UOL, 30 jun. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/06/30/negacionismo-do-governo-brasileiro-ameaca-ampliar-pandemia-diz-bachelet.htm Acesso em: 30 jun. 2020.

19Para o núcleo intelectual do Bolsonarismo, e (por mais que a expressão soe estranha) ele existe, a disputa que antecede o embate político se dá invariavelmente na esfera cultural. as origens intelectuais do ataque bolsonarista às universidades públicas. TRIGUEIRO, G. Revista Época. 20 maio 2019. Disponível em: https://epoca.globo.com/as-origens-intelectuais-do-ataque-bolsonarista-as-universidades-publicas-artigo-23676332 Acesso em: 19 jun. 2020.

20Em protesto realizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília, profissionais da saúde foram alvo de ataques por parte de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. “Vocês não vão destruir essa nação”, disse um dos homens de verde e amarelo. SAID, F. Congresso em Foco. 04 maio 2020. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/video/em-protesto-bolsonaristas-atacam-profissionais-de-saude-veja-o-video/ Acesso em: 19 jun. 2020.

21Campanha confirma vídeo em que Bolsonaro fala em 'fuzilar petralhada do Acre'. Jornal Extra, 03 set. 2018. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/brasil/campanha-confirma-video-em-que-bolsonaro-fala-em-fuzilar-petralhada-do-acre-foi-brincadeira-23033904.html Acesso em: 19 jun. 2020.

22Bolsonaro defende intolerância e faz apologia ao crime em visita à Paraíba. Jornal da Paraíba, 09 fev. 2017. Disponível em: http://blogs.jornaldaparaiba.com.br/suetoni/2017/02/09/bolsonaro-defende-intolerancia-e-faz-apologia-ao-crime-em-visita-a-paraiba/ Acesso em: 20 jun. 2020.

23O presidente atravessou a pé a Praça dos Três Poderes, acompanhado dos empresários e dos ministros da Economia, Paulo Guedes, da Casa Civil, Walter Braga Netto, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, além de alguns parlamentares. Bolsonaro leva ministros e empresários para pressionar STF a acabar com o isolamento. MURAKAWA, F; MARTINS, L; OTTA, L. A. Revista Valor Econômico. 07 mai. 2020. Disponível em: https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/05/07/bolsonaro-leva-empresarios-ao-stf-com-guedes-e-militares.ghtml Acesso em: 21 jun. 2020.

24Bolsonaro diz ‘I love you’ para Trump, que desdenha: ‘Bom te ver de novo’. Jornal O Dia. 25 set. 2019. Disponível em: https://istoe.com.br/bolsonaro-diz-i-love-you-para-trump-que-desdenha-bom-te-ver-de-novo/ Acesso em: 19 jun. 2020.

25Bolsonaro critica mensagem do Papa Francisco em favor da Amazônia. UOL, 14 fev. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2020/02/14/bolsonaro-critica-mensagem-do-papa-em-favor-da-amazonia.htm Acesso em: 20 jun. 2020.

26O avanço silencioso das escolas militares na rede particular de ensino. MOTA, C. V. UOL Educação, 14 jun. 2020. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/noticias/bbc/2020/06/14/o-avanco-silencioso-das-escolas-militares-na-rede-particular-de-ensino.htm Acesso em: 25 jun. 2020.

27Bolsonaro promete a apoiadores mais medidas de flexibilização de armas. GULLINO, D. O Globo, 04 jun. 2020. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-promete-apoiadores-mais-medidas-de-flexibilizacao-de-armas-24462130 Acesso em: 21 jun. 2020.

28Governo de Bolsonaro terá mais militares do que em 1964. Revista Veja, 16 dez. 2018. Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/governo-de-bolsonaro-tera-mais-militares-do-que-em-1964/ Acesso em: 01 jul. 2020.

29Weintraub deixa Ministério da Educação, mas antes revoga cotas para negros e indígenas na pós-graduação. OLIVEIRA, J. EL País, 18 jun. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-18/prestes-a-deixar-cargo-weintraub-revoga-portaria-de-cotas-a-negros-e-indigenas-na-pos-graduacao.html Acesso em: 21 jun. 2020.

30Jair Bolsonaro diz que mulher deve ganhar salário menor porque engravida. LIMA, V. Revista Crescer, 23 fev. 2015. Disponível em: https://revistacrescer.globo.com/Familia/Maes-e-Trabalho/noticia/2015/02/jair-bolsonaro-diz-que-mulher-deve-ganhar-salario-menor-porque-engravida.html Acesso em: 21 jun. 2020.

31Brasil é o país mais violento para travestis e transexuais no mundo. OLIVEIRA, L. O Povo, 27 jan. 2020. Disponível em: https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2020/01/27/brasil-e--o-pais-mais-violento-para-travestis-e-transexuais-no-mundo--revela-estudo.html Acesso em: 19 jun. 2020.

32O que Bolsonaro já disse de fato sobre mulheres, negros e gays. EL País Brasil, 07 out. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/06/politica/1538859277_033603.html Acesso em: 13 jun. 2020.

33Bolsonaro: “Quilombola não serve nem para procriar”. Congresso em Foco, UOL, 05 abr. 2017. Disponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/bolsonaro-quilombola-nao-serve-nem-para-procriar/ Acesso em: 13 jun. 2020.

34Embaixada da China rebate Weintraub sobre coronavírus: "Cunho racista". LUCIZANO, E. UOL, 06 abr. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/06/embaixada-da-china-weintraub-coronavirus.htm Acesso em: 28 maio 2020.

35Pós-verdade é o fenômeno do qual a opinião pública reage mais a apelos emocionais do que a fatos objetivos, recorrendo mais às crenças e emoções, tornando-se uma pessoa “manipulável”.

36Mais ressentido, autoritário e insano que Jair, Mourão publica rascunho de um possível AI-6. Diálogos do Sul, UOL. 14 maio 2020. Disponível em: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/analise/64710/mais-ressentido-autoritario-e-insano-que-jair-mourao-publica-rascunho-de-um-possivel-ai-6 Acesso em: 02 jun. 2020.

37O Tribunal Penal Internacional anunciou começou a analisar a denúncia apresentada contra o presidente Jair Bolsonaro e sua condução da crise do coronavírus no Brasil, detalhada a partir de uma representação do PDT na Corte. GALVANI, G. Carta Capital. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/mundo/tribunal-de-haia-comeca-a-analisar-denuncia-contra-acoes-de-bolsonaro-na-pandemia/ Acesso em 25 jun. 2020.

38Bolsonaro é denunciado por incentivar genocídio de indígenas. Juristas entram com recurso contra presidente em corte de Haia por ver omissão de poderes brasileiros em investigação de supostos crimes cometidos por ele. BENITES, A. EL PAÍS Brasil, 28 nov. 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019-11-29/bolsonaro-e-denunciado-por-incentivar-genocidio-de-indigenas.html Acesso em: 25 jun. 2020.

39Congresso acumula 32 pedidos de impeachment e sete de CPIs para investigar Bolsonaro. Estadão, 21 maio 2020. Disponível em https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,oposicao-e-partidos-de-centro-aumentam-ofensiva-contra-bolsonaro-no-congresso,70003310009 Acesso em: 04 jun. 2020.

40Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/veja-crimes-de-responsabilidade-que-bolsonaro-pode-ter-cometido-desde-o-inicio-do-mandato.shtml Acesso em: 04 jun. 2020.

41“O amotinamento de uma parcela da Polícia Militar do Ceará e os dois tiros disparados contra o senador licenciado Cid Gomes (PDT), em 19 de fevereiro, é a cena explícita de um golpe que já está sendo gestado dentro da anormalidade (...) Bolsonaro acena com uma antiga reivindicação dos policiais: a unificação nacional da PM.” BRUM, E. El País, 26 fev. 2020. Disponível em: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-02-26/o-golpe-de-bolsonaro-esta-em-curso.html Acesso em: 04 jun. 2020.

42Durante o período da Alemanha de Hitler, um dos bordões mais repetidos foi “Deutschland über alles” que, em português, significa “Alemanha acima de tudo”. O trecho também fazia parte do hino nacional alemão, mas foi eliminado no final da Segunda Guerra Mundial. No Bolsonarismo repete-se em prática muito dos elementos da melancólica fase alemã. O ódio por “comunistas”, aos homossexuais, o discurso de combate à corrupção e o impulso por “reunificar o país” foram algumas das principais características de Hitler. Outro exemplo vem da máquina de fake news (notícias falsas) de apoiadores bolsonaristas que se assemelham às estratégias de divulgação e repetição de mentiras do sistema nazista, como a máquina de propaganda do Terceiro Reich que se nutria de boatos e notícias falsas. As "Fake News" como velhas armas de guerra.

43Contra pandemia, governo vai distribuir R$ 200 para trabalhadores informais. Folha de S. Paulo, 18 mar. 2020. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/03/contra-pandemia-governo-vai-distribuir-r-200-para-trabalhadores-informais.shtml Acesso em: 21 jun. 2020.

44Universidades do interior de SP se unem para produzir álcool em gel e protetores faciais. G1, 18 abr. 2020. Disponível em https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/04/18/universidades-do-interior-de-sp-se-unem-para-produzir-alcool-em-gel-e-protetores-faciais.ghtml Acesso em: 16 jun. 2020.

45Regulamentadas pela Lei n. 9.637/1998, as Organizações Sociais (OS) são entidades de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades serão dirigidas ao ensino, à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico, à cultura, à preservação do meio ambiente e à saúde, entre outras. As OS podem prestar serviços públicos, por meio da celebração de contratos de gestão com o poder público.

46O “caráter manipulador”, que equivale a consciência coisificada, descrito na personalidade autoritária, se distingue pela fúria organizativa, pela incapacidade total de levar a cabo experiências humanas diretas, por certo tipo de ausência de emoções, por um realismo exagerado (...) As pessoas manipuladoras são incapazes de fazer experiências e, por isso mesmo, revelam traços de incomunicabilidade, no que se identificam com certos doentes mentais ou personalidades psicóticas. (ADORNO, 1995, págs. 129-130).

47A personalidade autoritária moderna (global e econômico) mantém relações profundas com o “clima cultural geral” das sociedades erigidas sob a forma capitalista de produção, de modo que sua manifestação extrema está no nazismo Alemão que não deve ser considerado um evento isolado em razão da latente em outras sociedades e em outros contextos políticos.

48 Three out of ten young people and adults aged 15 to 64 in the country - 29% of the total, the equivalent of about 38 million people - are considered functional illiterate in Brazil. Business Season, 06 Aug. 2018. Available at: https://epocanegocios.globo.com/Brasil/noticia/2018/08/epoca-negocios-tres-em-cada-10-sao-analfabetos-funcionais-no-pais-aponta-estudo.html. Access on: 28 May 2020.

49 Negationism consists in the action of denying or not recognizing empirically verified facts, theses and concepts. Negationism goes beyond the choice of denying reality as an escape from uncomfortable truths. In the social realm, for example, deniers who reject science use pseudo-sciences to legitimize what suits them (commonly based on guessing).

50 Bolsonaro has already fulfilled his promise: we have 30 thousand dead. FARINELLI, V. Opera Mundi, 02 jun. 2020. Available at https://operamundi.uol.com.br/coronavirus/64996/bolsonaro-ja-cumpriu-o-que-prometeu-temos-30-mil-mortos. Access on: June 21st 2020.

51 What happened in Brazil, with the ousting of elected president Dilma Rousseff, was a coup d'état. Pseudo-legal, "constitutional," "institutional," parliamentary, or whatever you prefer, but a coup d'état. Parliamentarians - deputies and senators - deeply involved in corruption cases (there is talk of 60%) instituted a process of impeachment against the president on the pretext of accounting irregularities, "fiscal peddling," to cover deficits in public accounts - "a common practice in all previous governments" (LÖWY, 2016, p. 55).

52 State Reform System was (and continues to be) a set of institutional changes aimed at inserting Brazil into the new world economic order, through the guidelines established in the Washington Consensus that prepared the country to become a center of attraction for Foreign Direct Investment (FDI) and a platform for financial capital appreciation.

53 Brazil will take up to 20 years to have European standard, says Mantega. Despite the delay to reach the standard, Dilma's minister said that our country is "respected and coveted. PARIZ, T. Exame Magazine, Dec 26, 2011. Available at: https://exame.com/economia/brasil-levara-ate-20-anos-para-ter-padrao-europeu-diz-mantega/. Access on: 22 jun. 2020.

54 Bank spread is the difference between the remuneration the bank pays to the enforcer to collect a resource and how much that bank charges to lend the same money.

55 Arab Spring was a series of popular uprisings that broke out in more than 10 countries in the Middle East and North Africa. The movements spread in opposition to high unemployment rates, precarious living conditions, corruption and authoritarian governments.

56 How did misinformation influence the presidential elections? MARS, A. El País, 25 Feb. 2018. Available at https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/24/internacional/1519484655_450950.html. Accessed on 19 May 2020.

57 Accused five times and the target of ten inquiries, Michel Temer sees Justice accelerate actions. SHALDERS, A. BBC News Brazil, 29 Mar. 2019. Available at: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47751869. Accessed on: 21 Jun. 2020.

58 Ponte para o Futuro' in reality: as is the plan of privatizations and concessions of Temer. CASTRO, J. R. Nexo Jornal, 13 Sep. 2016. Available at: https://bit.ly/2VaAJqn. Access on 16 May 2020.

59 Military intervention spent R$ 72 million on Army operations in Rio. ADORNO, L. UOL, 14 feb. 2019. Available at: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2019/02/14/gasto-valor-operacoes-intervencao-rio.htm. Access on 19 May 2020.

60 Neo-Nazis help to convoke a pro-Bolsonaro "civic act" in São Paulo. UOL News, 06 Apr. 2011. Available at: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2011/04/06/neonazistas-ajudam-a-convocar-ato-civico-pro-bolsonaro-em-sao-paulo.htm. Access on 17 May 2020.

61 A flag inspired by Nazism is displayed in a pro-Bolsonaro demonstration. Congress in Focus. 16 Oct. 2018. Available at: https://congressoemfoco.uol.com.br/eleicoes/bandeira-inspirada-no-nazismo-e-exibida-em-manifestacao-pro-bolsonaro/

62 The monarchy's flag was extended by Lava Jato. Exam, 01 July 2019. Available at: https://exame.com/brasil/bandeira-da-monarquia-e-retirada-durante-ato-pela-lava-jato-em-sorocaba/. Accessed on: 21 jun. 2020. [Add to references all sources cited in the notes]

63 With the collapse of lulism, no conventional political dynamics remain in Brazil. Bolsonarism" emerged in its place, but during the transition period what appears is a parallel politics based on religion. Evangelicals and the rise of the extreme right in Brazil. PINEZI, A. K. M. Le Monde Diplomatique Brasil, 13 May 2019. Available at: https://diplomatique.org.br/evangelicos-e-a-ascensao-da-extrema-direita-no-brasil/. Accessed on: 20 Jun. 2020.

64 Brazilian government's negationism threatens to amplify pandemic. UN High Commissioner for Human Rights, Michelle Bachelet, criticizes the government's behavior in Brazil of denying the seriousness of covid-19 and warns that such a posture is amplifying the impact of the crisis. CHADE, J. UOL, 30 jun. 2020. Available at: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2020/06/30/negacionismo-do-governo-brasileiro-ameaca-ampliar-pandemia-diz-bachelet.htm. Accessed on: June 30th. 2020.

65 For the intellectual nucleus of Bolsonarism, and (as strange as the expression may sound) it exists, the dispute that precedes the political clash invariably takes place in the cultural sphere. The intellectual origins of the Bolsonarista attack on public universities. TRIGUEIRO, G. Revista Época. 20 May 2019. Available at: https://epoca.globo.com/as-origens-intelectuais-do-ataque-bolsonarista-as-universidades-publicas-artigo-23676332. Accessed on: June 19, 2020.

66 In a protest held at the Praça dos Três Poderes in Brasília, health professionals were attacked by supporters of President Jair Bolsonaro. "You are not going to destroy this nation," said one of the men in green and yellow. SAID, F. Congress in Focus. 04 May 2020. Available at: https://congressoemfoco.uol.com.br/video/em-protesto-bolsonaristas-atacam-profissionais-de-saude-veja-o-video/ Accessed on: June 19, 2020.

67Campaign confirms video in which Bolsonaro says 'fuzilar petralhada do Acre'. Extra Newspaper, 03 Sep. 2018. Available at: https://extra.globo.com/noticias/brasil/campanha-confirma-video-em-que-bolsonaro-fala-em-fuzilar-petralhada-do-acre-foi-brincadeira-23033904.html. Accessed on: June 19, 2020.

68 Bolsonaro defends intolerance and makes apology to crime during visit to Paraíba. Jornal da Paraíba, 09 Feb. 2017. Available at: http://blogs.jornaldaparaiba.com.br/suetoni/2017/02/09/bolsonaro-defende-intolerancia-e-faz-apologia-ao-crime-em-visita-a-paraiba/. Access on: 20 jun. 2020.

69 The president walked across the Praça dos Três Poderes, accompanied by businessmen and ministers of the economy, Paulo Guedes, of the Civil House, Walter Braga Netto, and of the Government Secretariat, Luiz Eduardo Ramos, as well as some congressmen. Bolsonaro takes ministers and businessmen to pressure STF to end the isolation. MURAKAWA, F; MARTINS, L; OTTA, L. A. Revista Valor Econômico. 07 May. 2020. Available at: https://valor.globo.com/politica/noticia/2020/05/07/bolsonaro-leva-empresarios-ao-stf-com-guedes-e-militares.ghtml

70 Bolsonaro says 'I love you' to Trump, who disdains: 'Good to see you again'. Newspaper O Dia. 25 Sep. 2019. Available at: https://istoe.com.br/bolsonaro-diz-i-love-you-para-trump-que-desdenha-bom-te-ver-de-novo/. Accessed on: June 19, 2020.

71 Bolsonaro criticizes message of Pope Francis in favor of the Amazon. UOL, 14 feb. 2020. Available at: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/ansa/2020/02/14/bolsonaro-critica-mensagem-do-papa-em-favor-da-amazonia.htm. Accessed on: 20 jun. 2020.

72 The silent advance of military schools in the private educational network. MOTA, C. V. UOL Education, 14 June 2020. Available at: https://educacao.uol.com.br/noticias/bbc/2020/06/14/o-avanco-silencioso-das-escolas-militares-na-rede-particular-de-ensino.htm. Access on: June 25, 2020.

73 Bolsonaro promises supporters more arms flexibilization measures. GULLINO, D. O Globo, 04 jun. 2020. Available at: https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-promete-apoiadores-mais-medidas-de-flexibilizacao-de-armas-24462130 Accessed on: June 21, 2020.

74 The Bolsonaro government will have more military than in 1964. Veja Magazine, 16 Dec. 2018. Available at: https://veja.abril.com.br/brasil/governo-de-bolsonaro-tera-mais-militares-do-que-em-1964/ Accessed on: July 01, 2020.

75 Weintraub leaves the Ministry of Education, but revokes quotas for blacks and indigenous people in the graduate school. OLIVEIRA, J. EL País, 18 jun. 2020. Available at: https://brasil.elpais.com/brasil/2020-06-18/prestes-a-deixar-cargo-weintraub-revoga-portaria-de-cotas-a-negros-e-indigenas-na-pos-graduacao.html. Accessed on: June 21, 2020.

76 Jair Bolsonaro says a woman should earn less money because she gets pregnant. LIMA, V. Revista Crescer, 23 feb. 2015. Available at: https://revistacrescer.globo.com/Familia/Maes-e-Trabalho/noticia/2015/02/jair-bolsonaro-diz-que-mulher-deve-ganhar-salario-menor-porque-engravida.html. Accessed on: June 21, 2020.

77 Brazil is the most violent country for transvestites and transsexuals in the world. OLIVEIRA, L. O Povo, jan. 2. 2020. Available at: https://www.opovo.com.br/noticias/brasil/2020/01/27/brasil-e--o-pais-mais-violento-para-travestis-e-transexuais-no-mundo--revela-estudo.html. Access on: 19 june, 2020.

78 What Bolsonaro has already said in fact about women, blacks and gays. EL País Brasil, 07 Oct. 2018. Available at: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/10/06/politica/1538859277_033603.html. Accessed on: 13 jun. 2020.

79 Bolsonaro: "Quilombola is not even useful for procreation". Congress in Focus, UOL, 05 Apr. 2017. Available at: https://congressoemfoco.uol.com.br/especial/noticias/bolsonaro-quilombola-nao-serve-nem-para-procriar/. Access on: 13 jun. 2020.

80 Chinese Embassy fights Weintraub over coronavirus: "Racist Mark". LUCIZANO, E. UOL, 06 Apr. 2020. Available at: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/04/06/embaixada-da-china-weintraub-coronavirus.htm. Accessed on: 28 May 2020.

81 More resentful, authoritarian and insane than Jair, Mourão publishes a draft of a possible AI-6. Dialogues from the South, UOL. 14 May 2020. Available at: https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/analise/64710/mais-ressentido-autoritario-e-insano-que-jair-mourao-publica-rascunho-de-um-possivel-ai-6. Accessed on: 02 June, 2020.

82 The International Criminal Court announced that it has begun to analyze the complaint filed against President Jair Bolsonaro and his conduct of the coronavirus crisis in Brazil, detailed from a PDT representation at the Court. GALVANI, G. Carta Capital. Available at: https://www.cartacapital.com.br/mundo/tribunal-de-haia-comeca-a-analisar-denuncia-contra-acoes-de-bolsonaro-na-pandemia/. Access on 25 June 2020.

83 Bolsonaro is denounced for encouraging genocide of indigenous people. Jurists file an appeal against the president in a court in The Hague for seeing an omission of Brazilian powers to investigate alleged crimes committed by him. BENITES, A. EL PAÍS Brasil, nov. 28, 2019. Available at: https://brasil.elpais.com/brasil/2019-11-29/bolsonaro-e-denunciado-por-incentivar-genocidio-de-indigenas.html. Access on: June 25, 2020.

84 Congress accumulates 32 impeachments requests and seven CPI requests to investigate Bolsonaro. Estadão, 21 May 2020. Available at https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,oposicao-e-partidos-de-centro-aumentam-ofensiva-contra-bolsonaro-no-congresso,70003310009. Access on: 04 jun. 2020.

85 Available at: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2020/03/veja-crimes-de-responsabilidade-que-bolsonaro-pode-ter-cometido-desde-o-inicio-do-mandato.shtml. Accessed on: 04 June, 2020.

86 "The mutiny of a part of the Military Police of Ceará and the two shots fired at the licensed senator Cid Gomes (PDT) on February 19 is the explicit scene of a coup that is already being dealt within the abnormality (...) Bolsonaro waves an old claim of the policemen: the national unification of the PM". BRUM, E. El País, 26 feb. 2020. Available at: https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-02-26/o-golpe-de-bolsonaro-esta-em-curso.html Access on: 04 June. 2020.

87 During Hitler's Germany period, one of the most repeated slogans was "Deutschland über alles" which, in English, means "Germany above all". The passage was also part of the German national anthem, but was eliminated at the end of World War II. In Bolsonarism much of the elements of the melancholic German phase are repeated in practice. Hitler's hatred of "communists", of homosexuals, his discourse on fighting corruption and his impulse to "reunify the country" were some of his main characteristics. Another example comes from the fake news machine of Bolsonarist supporters who resembled the Nazi system's strategies of spreading and repeating lies, like the Third Reich's propaganda machine that fed on rumors and false news. The "Fake News" as old weapons of war.

88 Against pandemic, government will distribute R$ 200 to informal workers. Folha de S. Paulo, 18 mar. 2020. Available at: https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/03/contra-pandemia-governo-vai-distribuir-r-200-para-trabalhadores-informais.shtml Access on: 21 jun. 2020.

89 Universities in the countryside of São Paulo unite to produce alcohol gel and facial protectors. G1, 18 Apr. 2020. Available at https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2020/04/18/universidades-do-interior-de-sp-se-unem-para-produzir-alcool-em-gel-e-protetores-faciais.ghtml. Accessed on: 16 June. 2020.

90 Regulated by Law n. 9.637/1998, the Social Organizations (SO) are private, non-profit entities, whose activities will be directed to teaching, scientific research and technological development, culture, environmental preservation and health, among others. The OS can provide public services, through the execution of management contracts with public authorities.

91 The "manipulative character", which is the equivalent of the coisified consciousness, described in the authoritarian personality, is distinguished by organizational fury, by the total incapacity to carry out direct human experiences, by a certain type of absence of emotions, by an exaggerated realism (...) Manipulative people are incapable of experimenting and, therefore, reveal traces of incommunicability, in what they identify with certain mental patients or psychotic personalities. (ADORNO, 1995, pp. 129-130).

92 The modern authoritarian personality (global and economic) maintains deep relations with the "general cultural climate" of societies erected under the capitalist form of production, so that its extreme manifestation lies in German Nazism, which should not be considered an isolated event because of the latent in other societies and other political contexts.

Recebido: 10 de Julho de 2020; Aceito: 18 de Agosto de 2020

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