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Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.18 no.3 Uberlândia set./dic 2019  Epub 17-Ene-2020

https://doi.org/10.14393/che-v18n3-2019-9 

ARTIGOS

As mães de famílias futuras: a Revista o Tico-Tico e a formação das meninas brasileiras (1905-1925)

Luciana Borges Patroclo1 
http://orcid.org/0000-0002-4787-0762; lattes: 4982044274411776

1Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Brasil) lupatroclo@yahoo.com.br


Resumo

O artigo aborda as representações femininas presentes em O Tico-Tico. O recorte temporal, 1905 a 1925, abrange os 20 anos iniciais de circulação do impresso existente até fevereiro de 1962. Os exemplares pesquisados pertencem ao acervo da Hemeroteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional. Considerada a primeira revista ilustrada dedicada às crianças brasileiras, sua criação envolveu a ação de intelectuais que apostaram na imprensa não escolar como meio de difusão de conhecimentos e voltada à formação moral da infância. Entre as representações a serem normatizadas estavam às relações de gênero. Nas páginas de O Tico-Tico estavam imersas a perspectiva da mulher como alguém devotado à maternidade e ao casamento. Havia por parte das elites a preocupação em reforçar os princípios da moral burguesa na qual os meninos eram preparados desde cedo para enfrentar o mundo do trabalho e as meninas deveriam receber o conhecimento necessário para ser uma exímia rainha do lar.

Palavras-chave: O Tico-Tico; Impresso Infantil; Relações de Gênero; Formação Feminina

Abstract

This article analyzes the magazine O Tico-Tico in order to identify its female content. Its time frame, from 1905 to 1925, covers the early twenty years of magazine existing until February of 1962. The researched editions belong to digital collections of Fundação Biblioteca Nacional. Considered the first Brazilian illustrated children’s magazine, its creations involved intellectuals who advocated that kind of journal should promote standards of behaviors. Among the representations that should be regulated were gender relations. The content of O Tico-Tico defends the perspective of a woman as an individual just devoted to maternity and to marriage. Elite groups had several concerns to strengthen the principles of bourgeois morality in which the boys were prepared to face the world of work and girls should receive the knowledge necessary to be a good housewife.

Keywords: O Tico-Tico; Children’s Magazine; Gender Relations; Female Formation

Resumen

El artículo analiza las representaciones femeninas presentes en O Tico-Tico. El marco de tiempo, 1905-1925, abarca los primeros 20 años de su circulación existente hasta febrero de 1962. Los ejemplares estudiados pertenecen a la Hemeroteca Digital de la Fundação Biblioteca Nacional. Considerada como la primera revista ilustrada dedicada a los niños brasileños, su creación implicó la acción de los intelectuales que apuestan por la prensa no escolar como un medio de difusión de modelos de comportamiento. Entre las representaciones que deberían ser reguladas estaban las relaciones de género. En las páginas de O Tico-Tico se figura la perspectiva de la mujer como alguien dedicado a la maternidad y el matrimonio. Las élites tenían la preocupación de reforzar los principios de la moral burguesa en la que los niños deberían ser preparados para enfrentar el mundo del trabajo y las niñas deberían recibir los conocimientos necesarios para ser tornar una excelente ama de casa.

Palabras clave: O Tico-Tico; Revista para Niños; Relaciones de género; Formación Femenina

Introdução

Em 11 de outubro de 1905, uma quarta-feira, começou a ser vendida nas ruas do Rio de Janeiro, então capital da República, a revista infantil O Tico-Tico. A capa inaugural do semanário, pertencente à Sociedade Anonyma O Malho, traz o título Manda quem póde e apresenta diferentes perspectivas sobre o lançamento da publicação. Composta por apenas dois quadrinhos, a primeira narrativa descreve uma versão fantasiosa sobre a criação de O Tico-Tico. Um grupo de crianças protesta junto à redação da revista O Malho, localizada à rua do Ouvidor no centro da cidade. Com o punho em riste, meninos e meninas se dirigem a personagem O Malho, símbolo da gráfica e de revista de mesmo nome, para fazer uma série de cobranças. Assustado, O Malho indaga aos pequenos manifestantes se tal movimento é uma revolução: “- que é que querem, afinal de contas, ó pequenas esperanças da Pátria?”. Ouviu como resposta: “- Queremos um jornal exclusivamente para nós. Você, seu Malho, é muito bem feito, é muito divertido, mas...não nos basta! O segundo quadrinho mostra as crianças lançando os chapéus ao alto. Qual seria o motivo para tal mudança de humor? O Malho concordou em satisfazer o anseio das crianças: “- Futuros salvadores da Pátria e mães de família futuras, d’aqui em diante ás quartas-feiras, exigi de vossos Paes o Tico-Tico” (p.1).

O uso das expressões pequenas esperanças da Pátria, Futuros salvadores da Pátria e mães de família futuras, despertaram as seguintes questões: Como as crianças eram percebidas pela sociedade brasileira do início do século XX? Qual o tipo de conteúdos cívicos era produzido para crianças? Como se davam as relações de gênero no início do período republicano?

A criação do referido impresso envolveu a atuação de intelectuais que apostaram na imprensa não escolar como meio de difusão de conhecimentos voltados à formação das crianças brasileiras: Cardoso Júnior, Luis Bartolomeu de Souza e Silva, Manoel Bomfim e Renato de Castro. Tinham o objetivo de suprir uma lacuna na imprensa nacional, insistente em não produzir publicações que privilegiassem os anseios e as necessidades da infância. Como demonstra esse pequeno trecho do editorial de lançamento de O Tico-Tico: “Este jornalzinho (para empregar uma chapa inevitável) vem preencher uma lacuna. E’um jornal que se destina exclusivamente ao uso, á leitura, ao prazer, á distração das crianças” (1905 s/p).

Esses intelectuais tinham como inspiração as revistas ilustradas francesas, direcionadas aos meninos e às meninas, e pelas histórias em quadrinhos norte-americanas. Destacam-se os impressos franceses: Le Jeudi de La jeunesse (1902), La Jeunesse Illustrée (1903), Les Belles Images (1903), Le Petit Journal Illustré de La Jeunesse (1904) e La Semaine de Suzette (1905). Além das narrativas de Buster Brown (1902), personagem criado por Richard Felton Outcault e que serviu de modelo para o menino Chiquinho, figura símbolo de O Tico-Tico (ROSA, 2002).

O processo de desenvolvimento da revista estava em consonância à consolidação da literatura infantil brasileira efetivamente escrita por autores nacionais. Segundo Hansen (2007) foi entre as últimas décadas do século XIX e o início do século XX que a intelectualidade se imbuiu de tal missão. Em seus primórdios no Brasil, este gênero literário estava vinculado à literatura escolar, “simplesmente destinados a fornecer leituras aos meninos nas escolas” (ARROYO, 1968, p.120). Não havia qualquer tipo de adequação dos conteúdos à idade dos leitores:

Daí tanto menino e tanta menina sofrer, desde tenra idade, mal saídos da perfeita articulação de vogais e consoantes, ao ter que ler, por exemplo, cantos inteiros de Os Lusíadas, ou decorá-los mesmos (...) (Loc.cit.).

Ao longo do século XIX, a literatura infantil presente no país era, em sua maioria, constituída por traduções de livros estrangeiros destinados ao público em geral. Por exemplo: Contos seletos das Mil e uma Noites (1882), Robison Crusoé (1885), As viagens de Gulliver (1888) e o As Aventuras do Barão de Münchhausen (1891). Observa-se que muitas destas obras chegavam ao Brasil sem a classificação etária adequada e, por este motivo, os editores optavam por vendê-las como sendo direcionadas às crianças (SILVA, 2010).

Ressalta-se que esse movimento fez parte de um contexto maior de mudanças políticas e socioculturais cujas consequências foram o fim da Monarquia e a Proclamação da República em 1889. As elites republicanas defendiam a necessidade da construção de uma nova ordem social, na qual os vícios do Império deveriam ser superados em prol de uma sociedade dita moderna e calcada em comportamentos e valores inspirados na Europa. Um dos reflexos de maior visibilidade foi às obras de modernização da área central do Rio de Janeiro, então capital do país. Apelidada de Bota - abaixo, a reforma liderada pelo Prefeito Pereira Passos (1902-1906) inebriou a Capital da República com um ar cosmopolita. As ruas estreitas e a arquitetura colonial deram lugar a edifícios e a largas e arborizadas vias como a Avenida Central (1904). As pessoas passaram a circular de bonde elétrico. A cultura erudita ganhou um espaço de excelência com a inauguração do Teatro Municipal (1909). As mulheres passeavam pela área central da cidade trajando roupas fechadas, luvas e grandes chapéus. Vestuário mais adequado às temperaturas europeias do que ao calor carioca. A adoção desses comportamentos significava o estabelecimento de uma espécie do contrato social voltado à manutenção da disciplina coletiva (SEVCENKO, 2006).

Em consonância a perspectiva do começar de novo, a criança foi identificada como a personagem chave. Após ser alvo de ações - de cunho moral, educacional e cívico - ela estaria apta a romper os laços com um passado marcado pelo atraso em decorrência de mazelas como o analfabetismo. Segundo Camara (2010), os setores políticos e da intelectualidade no país passaram a divulgar a ideia de que se deveria criar junto à criança brasileira um espírito de amor à pátria. Esta perspectiva contribuiu para a consolidação do conceito burguês de infância. De acordo com a nova estrutura familiar os filhos ganharam o status de figuras centrais do lar (PERROT, 2009).

A preferência por desenvolver uma publicação nos moldes das revistas ilustradas, e não privilegiar o formato livro, estava vinculada ao processo de modernização da imprensa brasileira (HANSEN, Op.cit). Como também, os intelectuais-fundadores de O Tico-Tico tinham jornais e revistas como principal instância de atuação. O uso da denominação intelectual vincula-se às categorias elaboradas por Sirinelli (2003) sobre os Intelectuais criadores e mediadores culturais. Neste grupo estão presentes: jornalistas, escritores e professores secundários. Caracterizam-se por usufruírem da imprensa como instância de sociabilidade. As redações e os conselhos editoriais das revistas constituem-se em locais para o compartilhamento de visões de mundo. “Em suma, uma revista é antes de tudo um lugar de fermentação intelectual e de relação afetiva, ao mesmo tempo viveiro e espaço de sociabilidade (...)” (p.249). Gomes (2009) descreve os intelectuais brasileiros do final do século XIX e início do século XX como “‘profissionais’ de produção de bens simbólicos, essenciais à legitimação de regimes políticos modernos” (p.26). Sevcenko (2003) afirma que a intelectualidade encontrou na imprensa, com destaque para as revistas ilustradas, seu principal meio para a circulação de um ideário de modernidade e civilidade:

O acabamento mais apurado e o tratamento literário simples da matéria tendem a tornar obrigatório o seu consumo cotidiano pelas camadas alfabetizadas da cidade. Esse “novo jornalismo”, de par com as revistas mundanas, intensamente ilustradas e que são o seu produto mais refinado, tornam-se mesmo a coqueluche da nova burguesia urbana, significando o seu consumo, sob todas as formas, um sinal de bom-tom sob a atmosfera da Regeneração. Cria-se assim uma “opinião pública urbana, sequiosa do juízo e da orientação dos homens de letras que preenchiam as redações” (p.119).

Segundo Sodré (1999) e Luca (2008), os impressos produzidos em pequenas tipografias perderam espaço para as empresas jornalísticas. A inserção das “Máquinas modernas de composição mecânica, clichês de zinco, rotativas cada vez mais velozes” permitiram às publicações utilizarem ilustrações coloridas e fotografias. Além de aumentar e tornar mais rápida a impressão dos exemplares” (Ibidem., p.1). Essa nova formatação dos impressos se fez presente em O Tico-Tico por meio da pluralidade de seções, o uso de páginas coloridas e a presença de fotografias enviadas pelos leitores.

No tocante aos conteúdos, embora O Tico-Tico fosse uma revista destinada à criança, a leitura de seus exemplares indica a existência de conteúdos elaborados de forma diferenciada para meninos e meninas. Havia por parte das elites a preocupação em reforçar os princípios da moral burguesa na qual os meninos eram preparados desde cedo para enfrentar o mundo do trabalho e as meninas deveriam receber o conhecimento necessário para se tornarem, quando adultas, exímia rainha do lar. Reflexo de um meio social, marcado por fortes traços conservadores e machistas, que vinculava o sexo feminino às representações de fragilidade e de submissão. No entanto, deve ser enfatizado que tais discursos possuíam um caráter ambíguo, pois eram as mulheres que tinham a responsabilidade de prover os cuidados e a formação moral necessários ao desenvolvimento dos futuros homens de bem. Observa-se a questão da sobreposição da instrução moral do sexo masculino frente ao sexo feminino se fazia presente mais no âmbito dos discursos em circulação, principalmente, nos primeiros anos de existência da publicação. Para que a revista pudesse cumprir com a finalidade para a qual se propunha era necessário voltar seu olhar para as meninas.

Nota-se que mesmo o seu formato tenha sido inspirado em diversas publicações infantis, no contexto desse trabalho se privilegia a relação de O Tico-Tico com a revista La Semaine de Suzette. O impresso brasileiro chegava a reproduzir em algumas de suas edições conteúdos da publicação francesa1. Lançada pela editora Gautier-Languereau, La Semaine de Suzette começou a ser vendida em dois de fevereiro de 1905. Direcionada às meninas e jovens de oito a 14 anos pertencentes às famílias burguesas, seu objetivo era promover a formação moral e religiosa do sexo feminino. Seus exemplares eram vendidos sempre às quintas-feiras e traziam poesias, jogos, concursos, narrativas ilustradas, peças de teatro, receitas de cozinha, moldes para costura (COUDEREC, 2005). Nesse sentido, nas páginas de O Tico-Tico, as meninas e as mulheres burguesas deveriam ser belas, bondosas, prendadas e submissas. Não por acaso foram criadas seções específicas para o sexo feminino centradas em temas considerados eminentemente de mulher, como a moda e os afazeres domésticos.

A proposta de realizar um estudo sobre a contribuição de O Tico-Tico na formação de suas leitoras encontra consonância na perspectiva de Perrot (1989), na qual a produção historiográfica relegou a trajetória feminina a condição de “sombras tênues” (p.9). No século XX houve uma série de questionamentos acerca do papel das mulheres na construção do meio social. Para Scott (2012), tais narrativas estavam centradas na perspectiva de jogar luz a participação do sexo feminino no processo histórico. Inicialmente houve a tentativa de escrever sobre a biografia de mulheres que pudessem se encaixar na categoria de heroínas. Uma ação de caráter político que posteriormente passou a ser alvo de resistências. Contestava-se a existência de uma categoria universal de mulher, pois as produções historiográficas passaram as identificar como indivíduos marcados por múltiplas identidades: social, étnica, cultural, sexual, religiosa entre tantas outras categorias.

Neste contexto, o conceito de gênero passa a delinear os estudos sobre as relações entre homens e mulheres. Os aspectos físico e biológico são sobrepujados por via da construção social. Como salienta Almeida (2007) tais relações não se caracterizam pela imparcialidade, pois elas são flexíveis e imersas a disputas de poder.

Pinsky (2014) ressalta que as construções de gênero se caracterizam pela complementaridade, por isso quaisquer mudanças no status da mulher se refletem no gênero masculino.

Quando falamos em gênero, estamos falando da construção cultural do que é percebido e pensado como diferença sexual, ou seja, das maneiras como as sociedades entendem, por exemplo, o que é “ser homem” e “ser mulher”, e o que é “masculino” e “feminino” (p.1).

Nesse contexto, os aspectos físico e biológico são sobrepujados por via da construção social. O recorte temporal abrange os 20 anos iniciais de circulação do impresso que se estendeu até fevereiro de 1962. Privilegiou-se o período entre 1905 e 1925, pois ele se consolidou como o momento de estruturação dos primeiros espaços na revista considerados eminentemente femininos como: como: Secção para meninas, Secção para nossas leitoras, Figurinos para nossas leitoras, Para nossas leitoras.

O Tico-Tico e a defesa das Mães de Famílias Futuras

Em 16 de setembro de 1905 foi publicado em O Malho um anúncio referente ao lançamento de O Tico-Tico, no qual foram apresentava as regras de participação do primeiro concurso da revista intitulado O que é que o menino quer ser? De acordo com as instruções, só poderiam mandar soluções crianças do sexo masculino com até 12 anos. Eles deveriam usar em suas redações o título O que eu quero ser, e dissertar acerca dos seguintes aspectos: qual profissão gostariam de ter e apontar os motivos e as razões para a escolha de determinada profissão. Ao vencedor seria pago um prêmio de 100$000 réis. As condições previam:

As respostas serão curtas, não podendo occupar mais que uma página de papel almasso: as que excederem uma pagina de papel almasso não serão acceitas. As respostas devem ser enviadas a nosso escriptorio até o 30 do mez corrente, e devem trazer as verdadeiras assignaturas dos respectivos autores, a idade e o logar onde moram. É claro que nem os pais, professores ou quaesquer outras pessoas devem intervir nessas respostas, pois quem, por exemplo, preparasse ou emendasse a resposta dum menino não só desvirtuaria o intuito do concurso como praticaria um acto de falsidade que por si só, influiria pessimamente na moral do menino. Deixem os meninos responder inteiramente em conformidade com seu espírito e aspirações. A primeira virtude deste concurso estará nisso: desde logo o menino, dizer o que deseja ser, e pela maneira por que o disser , revelará suas tendencias, seu animo, seu valor. Desde logo o menino retratará o homem que guarde em si. E ao fim deste concurso, a que esperamos que concorram conforme as profissões mais desejadas, já nós poderemos calcular o que será o Brasil de amanhã, já poderemos prever si essa nova geração que ahi vem apontando terá a seiva e os ideais capazes de conduzirem esta grande patria ao futuro que sonhamos brilhante. Como vêem, trata-se de um concurso interessantíssimo (p.40).

Acerca do concurso, a não participação feminina estava vinculada a perspectiva de que a mulher deveria apenas se preocupar com o casamento e a administração do lar. Assim, elas não poderiam enviar respostas sobre futuras profissões. Como afirma texto publicado na edição do O Malho, de 23 de setembro de 1905, sobre o referido concurso: “O pequenino bello sexo que não se magôe nem vá agora ficar maguado ou fazer pirraça. Para esse bello sexo, ainda em botão, abriremos muitos concursos depois” (p.13). No exemplar de O Tico-Tico, de 28 de março de 1906, publicou o resultado do Concurso n.28 - Um passeio de baixo d’água. Na atividade semelhante a um quebra-cabeça, as crianças tinham que recortar as partes desenhadas e formar as imagens de um peixe e de um sapo. Os vencedores ganhariam prêmios de 10$000. Em razão da facilidade, a publicação recebeu inúmeras cartas com a solução correta:

No sorteio entre os que mandaram solução exacta as meninas desta vez passaram a perna nos meninos. A sorte escolheu-as a ellas, mas por certo o pequeno sexo forte é sufficientemente amavel para não se zangar com isso (p.16).

Segundo Priore (2003), as expressões sexo belo e sexo frágil foram forjadas pelo pensamento científico com o intuito de consolidar os parâmetros de inferioridade do corpo feminino. Posteriormente, tais adjetivações romperam as barreiras dos compêndios médicos e emergiram como categorias no mundo social:

Cristalizada pela forma de pensar de uma sociedade masculina, a evocação de imagens do corpo e da identidade feminina, na pluma de diferentes autores, refletia apenas subordinação: ele era menor, os ossos pequenos, as carnes moles e esponjosas, o caráter débil (p.177).

Sidney Chalhoub (2001) ressalta a influência do conhecimento científico na conformação dos papéis sexuais de homens e mulheres, definidos pela ótica burguesa das elites do Rio de Janeiro do início do século XX. Chalhoub cita o estudo de Jurandir Freire Costa sobre as teses defendidas na Faculdade de Medicina, Rio de Janeiro e Bahia, no século XIX. Costa pesquisou os discursos da diferença sexual centrados nas análises das características anatômicas. Os trabalhos acadêmicos visavam compreender como cada um dos sexos lidava com seus sentimentos. Em razão da fragilidade física, as mulheres foram descritas como delicadas e dóceis. Os homens foram caracterizados como indivíduos viris:

Criatura fraca por natureza, as principais virtudes femininas passam a ser a sensibilidade, a doçura, a passividade e a submissão. (...) O homem ao contrário, caracterizava-se pelo vigor físico e pela força moral. Dominado pela sua virilidade, o homem amava menos que a mulher e seu interesse estava mais voltado para o gozo puramente sensual. O homem era mais seco, racional, autoritário e duro (p.178).

A história O inimigo das mulheres, publicada na edição de 30 de junho de 1909, traz questionamentos sobre o valor social da mulher. A narrativa descreve as ofensas deferidas pelo menino Lulu contra a irmã. Sistematicamente, o garoto se vangloria da suposta superioridade do homem frente à mulher. Lulu apenas toma consciência do valor da mulher quando se machuca e precisa de cuidados e de atenção. A irmã prontamente lhe faz curativo e o Lulu lhe diz que naquele momento tinha compreendido para quais tarefas serviam uma mulher.

O modelo feminino presente nas páginas de O Tico-Tico é consonante ao de La Semaine de Suzette. As representações e os discursos sobre o gênero feminino da revista francesa são semelhantes aos encontrados no impresso brasileiro. Segundo Couderec (Op.cit.), os conteúdos voltados à educação das meninas deveriam ressaltar a importância da família. Os papéis do homem e da mulher tinham de ser definidos e apresentados de forma específica. Com o propósito de facilitar o entendimento das leitoras sobre a importância das boas maneiras, dividiam-se as personagens em dois grupos distintos: no primeiro estavam as meninas boas e honestas e no segundo se enquadravam aquelas consideradas fracas e capazes de cometer todo tipo de inconveniências. O Tico-Tico claramente também seguia tais padrões. Como observa Vergueiro (Op.cit.):

A preocupação com a formação das meninas em O Tico-Tico em coerência sob a égide da visão dominante da época sobre o papel da mulher na sociedade brasileira, ou seja, a de baluarte do ambiente familiar, responsável pela educação das crianças e pelas tarefas domésticas (p.177).

As construções sociais do feminino e do masculino (SCOTT, Op.cit.), reforçavam a existência de relações dicotômicas e assimétricas entre os sexos. Neste sentido, impuseram às mulheres, a prescrição do espaço privado do lar e a proteção do marido, como os remédios ideais para garantir o bem-estar feminino. Os conteúdos publicados em O Tico-Tico tinham como referências, as representações calcadas na definição da mulher como alguém devotado à maternidade, ao casamento e ao lar. Outros modelos femininos também estavam presentes nas páginas da revista infantil, mas havia a preocupação de combatê-los via conselhos, histórias e discursos de cunho moralizador2. A valorização da família nuclear resultou na instituição da categoria da “família feliz” (CAMPOS, 2009, p.9). Este modelo exigia que mães e pais, preenchessem os requisitos idealizados de “esposas afetivas, sadias, belas, instruídas e castas, companheiras perfeitas para um marido também idealizado, laborioso, esforçado, portador de hábitos regrados, enfim” (Ibidem., p.90). Em consonância a tal pensamento, Maluf e Mott (2006) afirmam: “A arquitetura do lar feliz aprisionou homens e mulheres dentro de uma moldura estritamente normativa"(p.382).

Páginas dedicadas às gentis leitoras

A leitura dos exemplares de O Tico-Tico permite identificar a presença de conteúdos considerados eminentemente femininos. Qual seriam tais assuntos? Beleza, cosméticos, elegância, moda, maternidade, saúde, trabalhos manuais e prendas domésticas. Algumas destas temáticas são facilmente demarcadas, pois a revista possui seções criadas somente para suas leitoras: Secção para meninas, Moda para nossas leitoras, Figurinos para nossas leitoras e Para nossas leitoras. Esse contexto suscitou uma série de questões: Por que criar conteúdos específicos para o sexo feminino? Haveria uma diferenciação entre os conteúdos que toda a criança deveria saber e aqueles que apenas o gênero feminino deveria conhecer? Por que tais temáticas eram consideradas femininas? Por que esse tipo de informação era considerado importante para as leitoras do impresso infantil?

Em O Tico-Tico, as seções femininas são entendidas como uma demanda das próprias leitoras. A Gaiola d’ O Tico-Tico de 13 de novembro de 1907, publicou resposta sobre o pedido de cinco meninas para a criação de espaços dedicados ao sexo feminino:

A sua ideia é muito razoável, mas não a tinhamos comprehendido bem na primeira carta. Imaginávamos que desejavam uma secção para meninas com trabalhos, etc. Mas como explicaram agora, ainda é mais interessante. Estamos dispostos a satisfazel-as, mas esperem um pouco. E’ preciso imaginar e prepara os desenhos … Em todo caso fiquem já sabendo que brevemente publicaremos a historia Mariquinha dorminhoca (p.12).

No decorrer da pesquisa não foi encontrado o exemplar no qual a narrativa Mariquinha dorminhoca foi publicada. No entanto, demonstra-se que os colaboradores e os redatores de O Tico-Tico estavam atentos aos desejos das leitoras.

Na revista, o processo de seleção e escolha dos temas abordados nestes espaços era um reflexo da imprensa feminina e dos manuais destinados às moças e às mulheres, em circulação dede as décadas finais do século XIX. Segundo Luca (2013):

Essa imprensa particulariza-se por dirigir-se para o público feminino, ainda que nem sempre tenha sido produzida por mulheres. Trata-se de um tipo de produção jornalística que não é movida pela necessidade de registrar o fato novidadeiro do dia anterior, matéria-prima por excelência do jornalismo. Pelo contrário, a imprensa feminina orbita em torno de temas perenes, não submetidos à premência do tempo curto do acontecimento. Moda, beleza, casa, culinária ou cuidado com os filhos comportam uma abordagem circular, ligada à natureza circular, ligada å natureza e às estações do ano: afinal, receitas, recomendações, conselhos indicados para o inverno e o verão podem ser retomados em anos subsequentes, desde que revertidos de ar de atualidade e apresentados como a última palavra no assunto (p.448).

Buitoni (2009) aponta que a imprensa feminina pode ser inicialmente percebida como algo menor ou marcada pela passividade, porém “é mais ideologizada que a imprensa dedicada ao público em geral. Sob a aparência de neutralidade, a imprensa feminina veicula conteúdos muito fortes” (p.21). Em jogo, a disputa pela legitimação de determinadas representações femininas. De um lado, a conservadora na qual as mulheres devem ser as rainhas do lar. De outro, a concepção de que o sexo feminino deveria se dedicar às atividades intelectuais mais do que às prendas domésticas. O fato de O Tico-Tico ter classificado determinados temas como adequados ao gosto feminino, evidencia que o impresso tinha o objetivo de validar um conjunto de regras e comportamentos a serem internalizados por suas leitoras.

Secção para meninas: uma formação para o lar

O Tico-Tico, de 15 de maio de 1907, publicou sua primeira seção destinada às leitoras. Denominada Distracções para meninas, seu conteúdo é referente as prendas do lar. Ressalta-se o uso da palavra Distracções, sinônimo de passatempo, para intitular uma seção feminina. As atividades destinadas às meninas eram consideradas algo menor? O texto alerta para o fato, das leitoras perderem muito tempo tentando fazer lindos adornos com rendas. Para facilitar a tarefa, a revista decidiu ensiná-las como usar tesoura e papel para criar bonitos enfeites. Essa foi a única edição localizada de Distracções para meninas. No exemplar de 31 de julho, do mesmo ano, foi veiculada a edição inaugural de Secção para meninas, espaço destinado a trabalhos manuais. Ainda não era uma coluna fixa. Passou a ser publicada com regularidade de 1909 a 1919. Após este período, suas edições foram se tornando escassas até 1921, quando foi substituída pelas seções Prendas Femininas e Secção de meninas.

O espaço era inspirado na seção Nous habillons Bleuette (Nós vestimos Bleuette) de La Semaine de Suzette. Na revista francesa, as leitoras aprendiam as prendas do lar para cuidar da boneca Bleuette. O número inaugural da revista francesa traz a história O nascimento de Bleuette (COUDEREC, Op.cit.). A personagem ainda faz sucesso. Existem diversos sites dedicados à boneca, como também foi realizada uma exposição em sua homenagem, no Museu das Bonecas em Paris. No impresso brasileiro, a Secção para meninas pode ser considerada um manual infantil de formação da futura dona de casa. Seus exemplares ensinam: a bordar golas, a fazer pontos de crochê, a costurar roupas para bonecas, a criar enfeites de mesa e a elaborar de presentes sem gastar muito dinheiro. Quando crescesse, a leitora que houvesse seguido os conselhos contidos em cada um de seus exemplares, estaria pronta para administrar um lar. Dando ênfase à perspectiva na qual:

As matérias informativas voltadas para mulheres destacavam as atividades domésticas. Enquanto, para os meninos essas matérias em sua maioria enfocavam a construção de aviões de brinquedos e objetos diversos, muitas vezes envolvendo conhecimentos rudimentares nas artes da marcenaria ou serralheria, as dedicadas às mulheres - como as que compuseram a Seção para Meninas, publicada entre 1911 e 1919 -, centravam-se em trabalhos de costura, bordados e cerzidos, maneiras de arrumar a mesma de jantar e até mesmo a forma correta de dobrar um guardanapo (VERGUEIRO, Op.cit., p.178).

Adotava-se o pressuposto de que as meninas tinham uma aptidão natural para esse tipo de atividade. Em tom de aconselhamento, o texto reforça o estereótipo da função social da mulher de casar e cuidar do lar. As meninas são incitadas a utilizar seu tempo livre para treinarem ser donas de casa, ao invés de aprimorarem os estudos ou brincarem ao ar livre. Deixar-se tomar pela ociosidade poderia resultar em um futuro marcado pela solteirice ou um mau casamento. Ser prendada era um pré-requisito importante para um homem escolher sua futura esposa. Na edição da Secção para Meninas, de 29 de dezembro de 1909, a temática da formação utilitária feminina é citada em trechos do texto Como as meninas se podem tornar úteis numa casa:

A's vezes, as meninas tem perdido dias inteiros, em diversões sem importância, para passar o tempo e, no entanto, existem em casa certos serviços leves, nos quaes poderiam empregar esse tempo com maior vantagem, acostumando-se a serem donas de casa. Quando não houver um irmão pequenino para cuidar e cobrir de carinhos, ou uma boneca para vestir, as meninas poderão divertir-se dobrando a roupa, limpando os torneados dos moveis, emfim, fazendo esses pequenos serviços que muito ajudam, despertando ao mesmo tempo a vontade de trabalhar, pois uma moça, por mais rica que seja, será muito inferior á pobresinha da rua que saiba cozer o seu vestido, cuidar de suas roupas e dos arranjos da casa. A ociosidade é mãi de todos os vicios, diz o dictado, e as meninas devem evital-a quanto puderem. [...] A's meninas cabem o crochet, a marca, os bordados, emfim, todos os paramentos do seu vestuário, que muitas vezes deixam de possuir, por não poderem comprar. E, no entanto, com grande facilidade os poderiam fazer. Antigamente não se procurava ver se uma moça era feia ou bonita, mas sim, se era prendada, se era uma boa dona de casa. E as meninas podem vêr em quadros e photographias que, muitas vezes, uma camponeza rude, sem ter uma idéa do que fosse uma avenida, um automóvel, sabia vestir-se e confeccionar os seus vestuários, sabia cuidar dos principaes serviços de uma casa, que, quasi sempre em nossos dias, e com os nossos empregados, deixam muito a desejar. Trabalhem, pois, e verão como se tornarão queridas de suas mamais c de todos aquelles que as conhecerem (p.6).

A mulher devotada à família também deveria ter noções e conhecimentos sobre a decoração do lar. A partir do século XIX, a casa foi consagrada não apenas ao espaço de convivência da família, mais também como um o “espaço de aparência (aparência burguesa)” (MALTA, 2014, p.10). Os manuais tinham o sexo feminino como principais consumidoras. As páginas recheadas de lições de boas maneiras e posturas corretas, traziam “descrições do bom-tom, relações em sociedade, costumes, educação religiosa, as boas maneiras e a etiqueta” (CECCHIN; CUNHA, 2007, p.6). Inicialmente, este tipo de literatura era destinado ao espaço privado do lar, mas progressivamente ganhou o espaço da rua, em virtude do uso de seus exemplares nas instituições escolares femininas.

A diferenciação do ensino pelo gênero e a perspectiva de que a formação dos meninos era mais intelectualizada do que a instrução oferecida às meninas, fazia-se presente nas edições da Secção para meninas:

UM COMPASSO DE PAPEL

Já no outro dia, em um numero passado, ensinamos a arranjar com papel cartão apparelhos capazes de substituir um esquadro, uma regra, etc. Muitas vezes para fazer trabalhos de agulha ou brinquedos d’esses que temos ensinado a fazer, têm-se a necessidade de esquadros, réguas, compassos... Ora, raramente uma menina possue d’esses objectos, por isso é forçada a pedil-os emprestados e, sem querer quebral-os. O melhor é não pedir (07/04/1909, p.19).

COMO SE DECALCA UM DESENHO

As meninas lutam geralmente com grande difficuldade para fazer certos trabalhos porque não dispõem dos instrumentos necessários. Os meninos têm instrumentos de desenho, apparelhos especiaes, tudo lhes é fornecido para facilitar os seus estudos, que em geral são mais serios e importantes, do que os das meninas. Mas o que acontece é que as nossas amiguinhas, não dispondo dos recursos necessarios, ficam muitas vezes privadas de rabiscar certos trabalhos delicados, que dependem, principalmente, de paciencia, cuidado e zelo, qualidades mais faceis de encontrar nas meninas, do que nos meninos (05/05/1909, p.16).

As leitoras não possuíam um compasso, objeto que não fazia parte de sua rotina escolar porque elas não tinham aulas de geometria. Um sinal de diferenciação na formação educacional. As meninas não tinham compasso, mas deveriam ter um avental. “Toda a menina que se preza deve possuir um avental, pois seria censurável trabalhar nos arranjos de casa com o vestido com que vai sahir, sem abrigal-o contra a poeira e nodoas” (p.5). Este conselho ou advertência, intitulado Como fazer um avental, foi publicado na Secção para meninas, de 19 de abril de 1911. O avental é descrito como um item indispensável às pequenas leitoras que pretendem aprender sobre o mundo dos trabalhos manuais e das prendas domésticas.

O rol de disciplinas oferecidas às meninas, seja no âmbito da educação profissional ou na educação regular, diferia das estudadas pelos meninos. As aulas de trabalhos manuais deveriam proporcionar o aprimoramento de um dom inerente ao sexo feminino. Desta forma, “(...) tinha o objetivo de prepará-las para a execução manual de uma grande variedade de produtos, compreendia como habilidade artística e competência intelectual (RODRIGUES, 2008, p.73). Para Louro (2009), a escola padecia de um caráter ambíguo. Retirava-se do lar a primazia da formação feminina, no entanto os conteúdos ensinados visavam reforçar os laços entre a mulher e o universo doméstico. As narrativas de O Tico-Tico salientam a relevância das meninas receberem orientações quanto aos saberes domésticos, assim evitariam cometer erros no futuro.

Leitoras na moda: meninas e mulheres elegantes

Para Freyre (2009) a moda significa

(...) uso, hábito ou estilo geralmente aceito, variável no tempo e resultante de um determinado gosto, ideia, capricho, ou influências do meio. Uso passageiro que regula a forma de vestir, calçar, pentear etc. Arte e técnica de vestuário. Maneira, feição. Vontade, fantasia, capricho. Ária, cantiga, modinha. Canção típica do folclore. Fenômeno social ou cultural, mais ou menos coercitivo, que consiste na periódica de estilo, e cuja vitalidade provém da necessidade de conquistar ou manter, por algum tempo, determinada posição social (p.28).

Segundo Souza (1987), a moda é um elemento de integração e, ao mesmo tempo, de distinção social. Com destaque para as últimas décadas do século XIX, tornou-se comum os impressos femininos brasileiros dedicarem páginas à reprodução de modelos publicados nas revistas francesas. Os discursos proferidos pelas elites republicanas incluíam um novo modo de se portar e de se vestir. Para fazer parte desse espetáculo era preciso saber escolher o figurino correto. Priore (Op.cit.) ressalta o caráter simbólico e diferenciador da moda. Representa um código de aproximação ou de afastamento entre determinados grupos que compõem uma mesma sociedade:

Ato de diferenciação, vestir-se era, em essência, um ato de significação. Manifestava, em termos simbólicos ou por convenção, ao mesmo tempo ou separadamente, uma essência, uma tradição, um apanágio, uma herança, uma casta, uma linguagem, uma proveniência social e geográfica, um papel econômico. Em resumo, a roupa tornava visíveis as hierarquias, segundo um código garantido e perenizado pela sociedade. Na elaboração da aparência, as classes dominantes procuravam, desde sempre, distanciar-se das classes populares. Não só pelo uso de tecidos e materiais prestigiosos, mas pela falta de conforto que levaria a um comportamento menos hierático (p.205-206).

As roupas podem ser consideradas uma espécie de protocolo de identificação. Junto à penteados bem feitos, a escolha da maquiagem e o uso determinados acessórios, constroem a linguagem da moda. Estar bem vestida também relacionava ao fato da mulher, principalmente as mais ricas, ter começado a frequentar com mais constância os espaços fora do lar. As reformas urbanas ocorridas na cidade do Rio de Janeiro criaram novos espaços e logradouros que também passaram a ser ocupados pelo sexo feminino. O primeiro espaço em O Tico-Tico dedicado a vestimenta de suas leitoras foi Seção de nossas leitoras: figurinos modernos. De acordo com o texto inaugural, de 9 de junho de 1915, o lançamento foi um pedido do público feminino:

Para satisfazer os constantes pedidos de nossas leitoras, daremos de hoje em deante, nesta secção, figurinos e licções de costura a nossas gentis leitoras. Além d’isso, daremos indicação sobre as cores, figurinos, tecidos, sapatos e demais artigos de vestuário mais em moda. Esperamos que nossas amiguinhas continuem a nos escrever, indicando os pontos sobre os quaes mais precisam de esclarecimento. E teremos muito prazer em satisfazer os seus pedidos (p.7).

As seções não se limitam a apresentar os últimos lançamentos da moda, elas se constituem como um manual iconográfico do comportamento feminino. Por meio das imagens em circulação, as leitoras tinham a noção sobre os pré-requisitos necessários para se incluir no padrão exigido pela sociedade:

Os records da “verdadeira” elegancia são propriedade, a harmonia e a simplicidade. Um vestido ou chapéu com ornatos inultimente complicados não podem ser bonitos; podem conter detalhes lindos, mas em conjunto são desagradáveis. Esse é o primeiro ponto que se refere á simplicidade e ensina que os enfeites e guarnições devem se justificar pelo caracter do vestido ou utilidade... O segundo, que se refere á propriedade, é o de compreender que um vestido, um chapéu ou uns sapatos, que ficam muito bem em certas occasiões, são disparates em outras occasiões. Por exemplo, por bello que seja um vestido de sêda, ornado com setim e vidrilhos, e um chapéu de plumas opulentas denunciam máo gosto se uma moça usa d’elles para sahir pela manhã, fazendo compras, ou se fôr com elles a um “pic-nic”. Isso é um disparate tamanho como ir a uma recepção, á noite, com um vestido tailleur e um chapéu canotier. Cada cousa deve ser usada em logar e hora apropriados. Quanto a harmonia á harmonia, ella consiste em pôr todos os attributos do vestuario em accôrdo um com outro. Por exemplo, um vestido de linho não se pode combinar com uma blusa de cetim, ornada com rendas de sêda. Em compensação, uma saia de setim não se pode ornar com bordados de linho. Um vestido tailleur não admite chapéu de apparato, nem sapatos de entrada baixa. E há muitos outros pontos em que a elegancia sem manifesta pelo bom senso. Nada mais impróprio do que usar joias pela manhã, com um vestido de linho ou drap; nada menos elegante do que uma moça solteira usar joias opulentas. Essas cousas não são novidades da moda, são princípios fixos, que se devem observar sempre. De novidades, fallaremos no próximo numero. (PARA NOSSAS LEITORAS, 22/03/1916, s/p.).

No contexto de O Tico-Tico, torna-se imperativo citar o manual A Civilidade Pueril de Erasmo de Rotterdã. Publicado em 1530, foi descrito por Elias (1994) como uma obra pertencente ao processo de transição, entre a sociedade medieval e a consolidação do Estado Absolutista. A estrutura social foi alterada e como consequência, os modos e comportamentos também se modificaram. Para Revel (1991) a publicação tinha como caráter diferenciador, o fato de ser direcionada ao público infantil:

Pois, símbolo da simplicidade e da inocência evangélicas, a criança que ainda não foi pervertida pela vida social está aberta a todos os aprendizados e ao mesmo tempo encarna uma espécie de transparência elementar: não sabe esconder nada do que ela é (p.174).

O manual é uma compilação das noções de boas maneiras e dos maus comportamentos no decorrer de um determinado período histórico. Por meio de sua leitura, é possível compreender quais condutas deveriam ser seguidas e quais deveriam ser rechaçadas, seja no espaço privado ou nas relações sociais para além do lar:

De fato, em algumas dezenas de páginas esse manual reúne com vaga ordem observações e conselhos para uso das crianças, abordando as principais circunstâncias da vida em sociedade. Assim, trata da postura, dos comportamentos sociáveis (na igreja, à mesa, por ocasião de um encontro, nas brincadeiras) e, por fim, do deitar-se (Ibidem.,p.172).

A conformação de novos hábitos e costumes está inserida em uma dimensão pedagógica. Nas seções de moda de O Tico-Tico, as figuras femininas vestem elegantes blusas e vestidos, além de ostentarem chiques penteados. As imagens, fossem de meninas ou de mulheres, tinham como padrão de beleza: a pele branca e o corpo esguio. Ostenta-se expressões faciais serenas, um sorriso contido e olhar cândido. Os braços, as mãos e as pernas sempre postados em gestos delicados. Como afirma Revel (Op.cit.)

A leitura psicológica do olhar constitui para nós um lugar-comum elementar. Porém, todos os movimentos, todas as posturas corporais, a própria roupa podem ser objeto de uma leitura semelhante. Os gestos são signos e podem organizar-se numa linguagem; expõem-se à interpretação e permitem um reconhecimento moral, psicológico e social da pessoa. Não há intimidade que não revelem (p.173).

Para além do bem vestir, estes espaços ressaltavam uma característica imprescindível ao sexo feminino: a elegância. Ser elegante também passou a ser visto com uma forma de distinção. Institui-se a “distinção estética da elegância” (SOUZA, Op.cit.,p.134).

Como demonstram Revel (Op.cit.) e Elias (1994), os manuais de civilidade abordam o controle das pulsões, dos gestos e dos sentimentos com o propósito de estabelecer um modelo de cidadão padrão. Em O Tico-Tico, a delicadeza e a feminilidade são características estimuladas. Reflexo de um modelo na qual as mulheres são belas e frágeis como uma peça de porcelana. Nas palavras de Higionnet (1991): “A feminilidade é em parte uma questão de aparências” (p.298). Para as meninas, um aprendizado a ser adquirido desde a infância. No tocante às jovens e as mães, reforçar que o modo como uma mulher se veste pode simbolizar a possibilidade de um bom casamento ou um sinal de prosperidade do marido.

Considerações finais

O Tico-Tico é composta de histórias em quadrinhos, personagens e seções que, por meio da diversão e da ludicidade, tinham o propósito de auxiliar na conformação de comportamentos e papéis sociais consonantes a um projeto de sociedade, calcado no desejo reformador das elites brasileiras. Entre as instâncias a serem normatizadas, pode-se claramente apontar às relações de gênero. As elites tinham a preocupação de reforçar o modelo social no qual eles tinham de ser preparados para o mundo trabalho. Assim como, elas aprenderiam sobre prendas domésticas e os cuidados com o lar.

Entre as instâncias a serem normatizadas, pode-se claramente apontar às relações de gênero. De forma contrária a perspectiva de que O Tico-Tico centrava suas atenções apenas na formação dos meninos, a revista também se dedicava a formar as meninas brasileiras. As elites tinham a preocupação de reforçar o modelo social no qual eles tinham de ser preparados para o mundo trabalho. Assim como, elas aprenderiam sobre prendas domésticas e os cuidados com o lar.

Reflexo de um meio social, marcado por fortes traços conservadores e machistas, que vinculava o sexo feminino às representações de fragilidade e de submissão. A preocupação com as leitoras, centrava-se no fato de que as mesmas seriam as mães de famílias futuras que criariam os futuros líderes da nação.

As edições de O Tico-Tico priorizavam a instrução das pequenas e dos leitores. Pode-se questionar a construção do gênero feminino veiculado em seus exemplares, mas não a existência de silêncios sobre o ser mulher. A revista pautava seus conteúdos, pela dicotomia entre o sexo forte e o bello sexo. Defendia-se um modelo baseado na submissão das meninas frente aos meninos. Elas deveriam ser belas, bondosas, prendadas e bem comportadas. Não por acaso, foram criados espaços específicos para que as leitoras pudessem ler sobre as últimas tendências da moda e como fazer belos bordados. O domínio destes assuntos era entendido como um importante trunfo para a conquista de um bom partido e se fazer um ótimo casamento.

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1Narrativas de Bécassine, jovem camponesa que vivia na região da Bretanha e personagem mais famosa da publicação, foram traduzidas e publicadas em O Tico-Tico. No Brasil, as histórias receberam o título de Aventuras de uma criada, e Bécassine passou a se chamar Narcisa. Em algumas edições ela também foi nomeada Felismina (LUYTEN, 2005; CAGNIN, 2005; SANTOS, 2012).

2Entre essas figuras, destaca-se Faustina. Criada em 1910 pelo ilustrador Alfredo Storni, a personagem casada com Zé Macaco, vivenciava situações esdrúxulas e vexatórias por não querer seguir os padrões estabelecidos de mãe e esposa. (PATROCLO, 2015; ROSA, Op.cit.).

Recebido: 01 de Novembro de 2018; Aceito: 01 de Março de 2019

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