SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.19 número1A história da alfabetização de adultos no ensino, na pesquisa e na extensão da UFU e da UFMG (1986-2019)Histórias e memórias de alunos da EJA nas universidades brasileiras e portuguesas após 1974 índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Serviços Personalizados

Journal

Artigo

Compartilhar


Cadernos de História da Educação

versão On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.19 no.1 Uberlândia jan./abr 2020  Epub 30-Mar-2020

https://doi.org/10.14393/che-v19n1-2020-5 

Dossiê: História e memória da EJA nas universidades brasileiras e portuguesas

Trinta e dois anos de História da Educação de jovens e adultos na Universidade Federal de Viçosa: o NEAD como espaço de formação docente

La Historia de la Educación de jóvenes y adultos en la Universidad Federal de Viçosa: NEAD como espacio de formación docente

1Universidade Federal de Viçosa (Brasil) rocrispor@gmail.com


RESUMO

Este artigo apresenta um estudo sobre a história da Educação de Jovens e Adultos na Universidade Federal de Viçosa. Na década de 1980, a Associação de Servidores Administrativos da UFV reivindicou um espaço para a alfabetização dos funcionários. Esta reivindicação foi atendida em 1987, quando teve início o Projeto de Alfabetização de Adultos. Este projeto se tornou um Núcleo, que hoje atende a jovens, adultos e idosos da comunidade de Viçosa, e constitui-se um espaço de formação docente para licenciandos da UFV. Denomina-se Núcleo de Educação de Adultos (NEAd), onde atuam dez estagiários ao ano, tomando como base os pressupostos freireanos. Mediante as atuais preocupações com o cenário educacional, em especial com a EJA, surge o questionamento sobre o significado da existência do NEAd dentro de uma instituição de Ensino Superior como a UFV. Com o intuito de responder a esse questionamento, realizou-se uma pesquisa qualitativa, estabelecendo-se como objetivo central o resgate da história do NEAd, com base numa análise documental dos TCCs desenvolvidos sobre o Núcleo, tendo como base seus arquivos.

Palavras Chave: Educação de jovens e adultos; Formação docente; Alfabetização

RESUMEN

Este artículo presenta un estudio sobre la historia de la Educación de Jóvenes y Adultos en la Universidad Federal de Viçosa. En la década de 1980, la Asociación de Servidores Administrativos de la UFV reivindicó un espacio para la alfabetización de los funcionarios. Esta reivindicación fue atendida en 1987, iniciándose un Proyecto de Alfabetización de Adultos. Este proyecto se ha convertido en un Núcleo, atiende a jóvenes, adultos y ancianos de la comunidad de Viçosa, y se constituye espacio de formación docente para licenciandos de la UFV. Se denomina Núcleo de Educación de Adultos (NEAD) y en él actúan diez pasantes al año, tomando como base los presupuestos freireanos. En un análisis del trabajo, surge un cuestionamiento sobre el significado de la existencia del NEAD dentro de esta Institución. Con el fin de responder a ese cuestionamiento, se realizó una investigación cualitativa, estableciendo como objetivo central el rescate de la historia del NEAD, con base en un análisis documental de los TCCs desarrollados sobre éste y de los archivos del Núcleo.

Palabras clave: Educación de jóvenes y adultos; Formación docente; Alfabetización

ABSTRACT

This article presents a study about the history of Youth and Adult Education at the Federal University of Viçosa. In the 1980s, the Association of Administrative Servants of the UFV claimed a space for staff literacy. This claim was met in 1987, initiating an Adult Literacy Project. This project has become a nucleus, serves the youth, adults and elderly of the community of Viçosa, and is a space for teacher training for graduates of the UFV. It is called the Adult Education Center (NEAd) and ten trainees a year, based on the Freirean assumptions. In an analysis of the work, a question arises about the meaning of NEAd's existence within this Institution. In order to answer this questioning, a qualitative research was carried out, establishing as central objective the rescue of NEAd's history, based on a documentary analysis of the TCCs developed on this and of the Nucleus archives.

Keywords: Youth and adult education; Teacher training; Literacy

Introdução

O presente artigo apresenta um estudo sobre a história da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que se desenvolve na Universidade Federal de Viçosa (UFV), que se iniciou no final dos anos de 1980 e existe até os dias atuais. Ao longo destes anos, a EJA tem sido pouco valorizada no Brasil, sendo geralmente vista como uma medida emergencial, supletiva, voltada para jovens e adultos “incapazes”, que não frequentaram a escola quando crianças, ou abandonaram seus estudos. Entretanto, nos últimos trinta anos, alguns avanços ocorreram nesse campo, marcando, de forma positiva, o seu percurso até o momento.

Soares (2016) aponta um aumento significativo de pesquisas e publicações relacionadas ao tema, e o reconhecimento legal do direito à educação para jovens, adultos e idosos, ocorrido a partir da Constituição Federal de 1988, que estabelece o direito de todos à educação, independentemente da idade. Porém, hoje, apesar dos estudos e pesquisas que vêm ocorrendo ao longo das décadas e da conquista legal deste direito, ainda falta muito para que a EJA alcance a valorização e o reconhecimento devidos.

Dentro desse cenário nacional, ao final da década de 1980, na Universidade Federal de Viçosa (UFV) foi criada a Associação de Servidores Administrativos (ASAV), que já iniciou suas ações apresentando inúmeras reivindicações à administração, das quais fazia parte a solicitação de um espaço para a alfabetização daqueles funcionários desta instituição que ainda permaneciam sem saber ler e escrever, e que representavam em torno de 30% do quadro funcional. Esta reivindicação foi estudada e atendida pela Reitoria da Universidade em 1987, iniciando-se, assim, o desenvolvimento de um Projeto de Alfabetização de Adultos a partir de então.

Desde esse tempo, o projeto veio ampliando suas ações, tendo se tornado um espaço educativo consolidado dentro da instituição e que atende, atualmente, não apenas servidores da UFV, mas também a pessoas da comunidade de Viçosa que não tiveram acesso à escolaridade ou não puderam concluir seus estudos na infância e na adolescência. Além disso, tornou-se um Núcleo e, hoje, constitui-se espaço de formação docente para os graduandos dos diferentes cursos de licenciatura da UFV. Este espaço denomina-se Núcleo de Educação de Adultos (NEAd) e está sob a coordenação do Departamento de Educação, funcionando em sede própria, dentro do campus da UFV. Neste Núcleo atuam cerca de dez estagiários ao ano, os quais assumem como base para sua prática docente os pressupostos freireanos.

O NEAd completou, em 2017, trinta anos de existência, tendo como objetivos principais alfabetizar e escolarizar educandos jovens, adultos e idosos da comunidade viçosense, bem como proporcionar aos estagiários da UFV uma complementação para a formação docente na modalidade de EJA. Assim, numa análise mais aprofundada do trabalho desenvolvido, surge um questionamento que vai direcionar o presente estudo: qual é a história da educação de jovens e adultos na UFV e qual é o significado da existência do NEAd dentro desta Instituição?

Com o intuito de refletir e responder a esse questionamento, foi realizada uma pesquisa que teve como objetivo central o resgate da história do NEAd, a partir da pesquisa de trabalhos acadêmicos desenvolvidos sobre o assunto, e também da consulta aos arquivos do Núcleo. Tomando como base os objetivos propostos, este estudo se constitui uma pesquisa qualitativa, que se desenvolveu, portanto, por meio de uma análise documental. Como instrumentos de pesquisa, foram utilizados os documentos que constam dos arquivos da secretaria do Núcleo de Educação de Adultos e todos os TCCs que já foram produzidos na UFV sobre essa temática. A escolha da análise documental se deu em função do documento escrito construir-se uma fonte importante para o pesquisador nas ciências sociais. A esse respeito, Cellard explica que

ela é, evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito frequentemente, ele permanecesse como único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente (CELLARD, 2008, p. 295).

Assim, para alcançar o objetivo de resgatar a história do NEAd durante seus trinta anos de existência, foi realizada uma análise documental dos seguintes trabalhos de conclusão de curso da graduação (TCCs) e monografias de conclusão de curso de pós-graduação Lato Sensu:

  • - A trajetória da educação de jovens e adultos na UFV, de Roseli de Castro Paula Pinto (2000);

  • - A educação de jovens e adultos na Universidade Federal de Viçosa: história, cenários e perspectivas, de Patrícia Luiz da Silva (2006);

  • - A trajetória dos educandos do Núcleo de Educação de Adultos na Universidade Federal de Viçosa, de Telma de Assis Bernardes (2007);

  • - Núcleo de Educação de Adultos da Universidade Federal de Viçosa (NEAd/UFV): uma história de expansão no ensino, na pesquisa e na extensão, de José Elias Garajau (2009);

  • - O Núcleo de Educação de Adultos da UFV como espaço de formação de educadores: desafios e possibilidades, de Letícia de Paula Mesquita (2011);

  • - Os educandos do Núcleo de Educação de Adultos da UFV: anseios, motivações e realidade de vida, de Aparecida das Graças Silva Felício (2013);

  • - A influência da UFV na formação do educador de jovens e adultos no município de Viçosa-MG, de Paula Ferreira Martins (2014);

  • - O curso de Inclusão Digital do NEAd e a inclusão social dos jovens e adultos de Viçosa, de Lidiane Duarte (2014);

  • - O ensino da língua portuguesa no NEAd/UFV: uma análise a partir do trabalho pedagógico dos educadores e da experiência dos educandos, de Daniela Saraiva Mafia (2014);

  • - Núcleo de Educação de Adultos: trinta anos de formação docente na Universidade Federal de Viçosa, de Edilene Pereira Guimarães (2017).

Também foram analisados os seguintes documentos, constantes dos arquivos do NEAd:

  • - Regimento do NEAd, de 2011;

  • - Fichas de Matrícula dos alunos do NEAd, de 1998 a 2018;

  • - Fichas de Inscrição dos estagiários do NEAd, de 1998 a 2018.

A história da educação de adultos da Universidade Federal de Viçosa

O Projeto de Educação de Adultos da Universidade Federal de Viçosa, hoje transformado em um Núcleo de Educação de Adultos - NEAd, passou por uma determinada trajetória até ser nomeado como Núcleo. Pinto (2000) conta que, em outubro de 1984, foi realizada na UFV a primeira Assembleia Geral da Associação dos Servidores Administrativos (ASAV), com a presença de funcionários e autoridades da instituição. Nessa Assembleia, discutiu-se a necessidade de criação de um projeto de alfabetização para atender aos funcionários da Universidade que não tiveram acesso à escolarização antes de sua admissão. Naquela época, 30% dos servidores eram analfabetos ou semialfabetizados, o que correspondia a cerca de 1000 servidores.

Essa constatação do analfabetismo dentro da UFV, uma instituição de ensino superior, tomou uma dimensão significativa e, no ano de 1985, foi alvo de denúncia pelos funcionários da universidade. Em 1986, o Reitor Geraldo Martins Chaves atendeu à reivindicação destes servidores, autorizando a liberação do trabalho para estes funcionários, por duas horas diárias, para que fossem alfabetizados. A partir daí, foi iniciado o Projeto de Educação Básica e Alfabetização de Adultos, numa parceria entre a Associação dos Servidores Administrativos (ASAV), o Departamento de Educação (DPE) e a Unidade de Apoio Educacional (UAE) da UFV (REGIMENTO DO NEAd, 2011).

Em 1987 foram iniciadas as atividades e o Professor Euclides Redim, nessa época chefe do DPE, assumiu a coordenação do Projeto, permanecendo até dezembro de 1989 (PINTO, 2000). Nos três primeiros anos, as aulas aconteciam em salas cedidas pelo Centro de Ensino e Extensão da Universidade (CEE/UFV). As turmas eram heterogêneas, formadas por alguns alunos que nunca tinham ido à escola e outros que já possuíam alguma escolaridade, o que dificultava o trabalho dos estagiários.

Em 1990, o Projeto ampliou sua atuação: tornou-se, além de local de ensino para os funcionários, um espaço de pesquisa para professores e alunos do curso de Pedagogia da UFV. Nessa época, no período de 1989 a 1992, a professora do Departamento de Educação, Lucíola Santos, exercia a função de coordenadora do projeto. Segundo Pinto (2000), durante a coordenação desta professora houve uma inovação no trabalho desenvolvido, sendo dado ao Projeto um caráter de pesquisa com o desenvolvimento de estudos sobre a EJA. Estes ocorriam por meio de trabalhos desenvolvidos pelos estagiários junto aos educandos do projeto. Logo, naquele mesmo ano, foi criado um grupo de estudos sobre alfabetização de adultos e este passou a desenvolver pesquisas sobre a temática, com auxílio de bolsas do Programa de Bolsas de Iniciação Científica.

Posteriormente, no início do ano de 1993, a coordenação passou à professora Rosemarie Costa, que coordenou o Projeto até 1995 (PINTO, 2000). Em 1993, esta coordenadora adquiriu recursos que lhe permitiram montar uma sede. Nesse mesmo período, a UFV estava passando por um processo de desocupação e retomada das casas da Vila Gianetti, cedidas até então para moradia de professores da Universidade. Essas casas, à medida que iam sendo desocupadas, passavam a abrigar projetos e órgãos da instituição. Assim, foi solicitada à Reitoria uma autorização de uso de uma das casas para o desenvolvimento do Projeto de Alfabetização, sendo esta permitida. Desde então, o Projeto passou a funcionar na casa 33, da Vila Gianetti, onde permanece até o presente momento. Nesse ínterim, o Projeto de Educação de Adultos ampliou o seu atendimento, passando a oferecer, também, cursos de preparação para exames de suplência do primeiro segmento do ensino fundamental (MESQUITA, 2011).

Nos anos de 1995 e 1996, o curso ficou sob a coordenação de outra professora do Departamento de Educação, Maria das Graças Floresta. Pinto (2000) explica que o curso atendia, naquela época, a cerca de 90 alunos ao ano, matriculados em turmas do primeiro segmento do Ensino Fundamental. Em meados de 1995, a partir da demanda dos alunos, o Projeto passou a oferecer, também, algumas turmas do segundo segmento do Ensino Fundamental. Alguns anos depois foram abertas turmas de preparação para os exames supletivos do Ensino Médio. Em decorrência de seu crescimento, o Projeto alterou seu nome para Núcleo de Educação de Adultos - NEAd.

No início do ano de 1997 assumi a coordenação do NEAd em substituição à professora Maria das Graças, que se afastou das atividades para cursar o doutorado. No início de minha coordenação, passei a fazer reuniões semanalmente com os estagiários, pois precisava conhecer e compreender a organização do processo de ensino, a fim de propiciar a eles uma formação adequada, discutindo possíveis soluções para minimizar problemas no processo de ensino.

Pinto (2000) aponta, dentre as dificuldades do trabalho, a longa permanência de alguns alunos no Núcleo, dada a lentidão no processo de aprendizagem. Tal fato dava abertura para que fossem feitas insinuações maldosas a respeito do NEAd, como, por exemplo, a de que havia descompromisso dos alunos com a aprendizagem. Como forma de resolver tal situação, busquei integrar professores do DPE ao trabalho do Núcleo, criando as Coordenações de Área, para que estes pudessem orientar os estagiários em relação às didáticas e metodologias específicas para o ensino de cada conteúdo.

Após dez anos de coordenação, precisei afastar-me do trabalho para cursar o doutorado, e a coordenação do Núcleo foi assumida por outra professora do DPE, Etelvina, no período de 2007 a 2009. No final de 2009, assumiu por poucos meses a professora Wânia e, logo em seguida, em 2010, assumiu o Professor Edgar, que se manteve nesse compromisso até que eu reassumisse o trabalho, em março de 2011.

Ao longo de trinta anos de existência, o NEAd expandiu-se e vem desenvolvendo um trabalho de educação de adultos, envolvendo não só funcionários da UFV, como também toda a comunidade viçosense. O Núcleo funciona, então, em sede própria, e conta com uma equipe de Apoio Administrativo, composta por um Secretário, que se responsabiliza pelo patrimônio, pela organização de toda a documentação e pelo apoio operacional às atividades desenvolvidas pelos estagiários; e por uma Técnica em Assuntos Educacionais, que se responsabiliza pelo apoio pedagógico à coordenação e aos estagiários, no desenvolvimento de suas atividades, e pelo acompanhamento dos educandos no processo de aprendizagem (REGIMENTO DO NEAd, 2011).

O Núcleo atende a um público de 100 a 120 alunos ao ano, abrangendo a Alfabetização, o Ensino Fundamental, o Ensino Médio e a Inclusão Digital, e contando com a participação de graduandos de diversos cursos −− Pedagogia, Letras, Matemática, História, Geografia, Biologia, Química, Física, Dança, Educação Física e Informática - que, sob orientação da coordenação do Núcleo, assumem a regência de aulas. O principal objetivo do NEAd, atualmente, não está mais focado em apenas alfabetizar e escolarizar o educando adulto, mas também em proporcionar aos estagiários momentos de estudo e reflexões sobre a Educação de Jovens e Adultos, constituindo-se, portanto, em espaço de formação de educadores para a modalidade de EJA.

Nesse contexto, os princípios teóricos que fundamentam a Proposta Pedagógica do Núcleo estão pautados na filosofia do educador Paulo Freire, priorizando-se, pois, o diálogo entre o educador e o educando, a liberdade de expressão e a socialização dos indivíduos envolvidos na ação, bem como a adequação dos conteúdos escolares às características das classes populares.

O Núcleo de Educação de Adultos da Universidade Federal de Viçosa (NEAD/UFV) nos dias atuais

Ao consultar a listagem de coordenadores, estagiários e educandos do NEAd, constatamos que um total de oito professores do Departamento de Educação passaram pela coordenação do Núcleo até o momento; e que, entre 1998 e 2018, o Núcleo contou com 312 estagiários e 2630 educandos (Tabela 1). As listagens consultadas sobre o número de estagiários e o número de educandos se referem apenas ao período de 1998 a 2018, já que Núcleo não possui arquivos do período anterior a 1998. Assim, constatamos uma imprecisão quanto ao número de estagiários e de educandos anterior a esse período, não havendo nenhum outro documento que propicie as informações dos anos anteriores.

A maioria dos estagiários do Núcleo é do sexo feminino (80%), com idades variando entre 20 e 38 anos de idade. Constatamos, ainda, que a formação acadêmica destes estagiários é, majoritariamente, em Pedagogia, havendo também, em menor número, licenciados em Letras, Matemática, História e Geografia. O tempo que eles atuam no Núcleo varia entre um e três anos. Esses estagiários atuam em turmas de alfabetização, Língua Portuguesa, História, Geografia e Matemática no Ensino Fundamental e Médio, assim como na Inclusão Digital.

A experiência docente vivenciada pelos estagiários no Núcleo permite a eles desenvolver ações voltadas para as necessidades cognitivas dos educandos jovens e adultos, buscando tornar suas experiências prazerosas e leva-los a adquirir conhecimento significativo. Além disso, em relação aos desafios enfrentados por esses estagiários durante suas experiências docentes, identificamos que tais desafios são diários e diferem conforme o período em que cada estagiário desenvolve suas atividades no Núcleo.

Tabela 1 Total de educandos e estagiários do NEAd/UFV no período de 1998 a 2018. 

Ano Total de educandos Total de estagiários
2018 136 11
2017 104 11
2016 137 11
2015 107 11
2014 100 12
2013 165 12
2012 117 13
2011 115 13
2010 146 13
2009 176 30
2008 190 31
2007 147 32
2006 93 25
2005 108 10
2004 97 11
2003 115 14
2002 113 11
2001 131 09
2000 169 12
1999 65 14
1998 103 06
TOTAL 2630 312

Fonte: Arquivos do NEAd, 2018.

Para os estagiários que atuaram no início da existência do Núcleo, os desafios foram, evidentemente, mais específicos em relação à organização e à estrutura do NEAd, como a falta de funcionários e a falta de uma infraestrutura educacional para as aulas da EJA acontecerem. Possivelmente, estes fatores acarretaram aos estagiários um certo desconforto na realização do trabalho docente. De outro modo, para os estagiários que atuaram em um período mais recente do NEAd, os desafios se pautam na evasão dos alunos, na falta de recursos e em aspectos relacionados a estes alunos envolvendo idade, dificuldade para conciliar os estudos com os compromissos familiares e profissionais, baixa autoestima e insegurança.

Esses desafios vivenciados pelos estagiários no NEAd são os mesmos enfrentados pelo educador de jovens e adultos em sua prática docente na rede pública de ensino. Na prática docente, a evasão escolar acontece na EJA por diferentes motivos, dentre eles, a falta de material didático específico, já que os materiais, muitas vezes, são utilizados sem passarem por nenhum tipo de adaptação; a matriz curricular, que não atende às expectativas da realidade desses educandos; a falta de apoio e incentivo por parte dos órgãos governamentais; a falta de lanche e de transporte para esses alunos; e a diversidade etária dos educandos.

Quanto à baixa autoestima, esta uma característica da maioria dos educandos da EJA, fazendo com que o professor necessite aprender a lidar com isso. Outrossim, há a dificuldade dos alunos em frequentar a escola, que se dá em função de problemas com o trabalho, familiares e domésticos, já que precisam buscar meios de subsistência cotidianamente, o que absorve tempo e energia, dificultando uma frequência contínua na escola. Nessa vivência, os estagiários buscam caminhos para a minimização das limitações. Para o desafio da evasão escolar, os estagiários tentam manter um contato constante com os alunos que estão começando a faltar, caminhando para uma evasão. Nesses contatos, eles questionam aos alunos sobre a ausência e insistem por seu retorno, motivando-os para os estudos.

Ao fazer um resgate da história do NEAd, relembramos que, durante alguns anos, o curso era destinado aos funcionários da UFV, que tinham liberação do serviço para cursá-lo. Porém, posteriormente, esse público foi ressignificando-se, envolvendo não mais apenas os funcionários da UFV, mas também toda a comunidade viçosense. Essa reconfiguração do público se confirma quando percebemos que o Núcleo passou por diferentes etapas em sua história, até se constituir como importante espaço de formação docente dentro da UFV, principalmente no que toca à questão da educação de jovens, adultos e idosos. As ações do Núcleo foram se ampliando de forma significativa, tornando-o um espaço de pesquisa e de formação para estudantes de diferentes cursos de graduação da UFV.

Na análise dos documentos, outros resultados são percebidos no trabalho desenvolvido: o empoderamento dos educandos jovens, adultos e idosos a partir dessa vivência educativa e a constituição do Núcleo enquanto espaço de formação docente para o campo da EJA. Isso se dá em função do principal objetivo do Núcleo que, para além da alfabetização, escolarização e formação da consciência crítica social do educando adulto, também tem como meta proporcionar aos estagiários momentos de estudos e reflexões sobre a EJA, constituindo-se em espaço de formação de educadores para essa modalidade. Nesse sentido, Freire (1992) menciona, em suas obras, a questão do empoderamento, da autonomia e da emancipação sob a ótica de um sujeito, grupo ou instituição que realiza, por si mesma, as mudanças e ações que a levam a evoluir e a se fortalecer. Ainda sobre a constituição do Núcleo como espaço de formação docente, Arroyo (2007, p. 195) afirma ser pertinente “saber mais sobre a docência para a qual se prepara seria um dos saberes mais formadores; seria o norteador para a conformação do currículo de formação”.

Em relação aos desafios enfrentados pelos estagiários no Núcleo, constatamos que esses se dão no âmbito pessoal e de formação. Scarfó (2009) aponta que a baixa autoestima do educando, assim como outras atitudes de isolamento e expectativas que foram reduzidas no presente, devido a acontecimentos passados vivenciados por ele, quando somadas à vulnerabilidade cultural, demandam do educador uma postura diferenciada, com intuito de criar melhores condições para que o processo de aprendizagem do educando ocorra de forma eficaz.

Freire (1996) fala sobre a necessidade de os educadores criarem as possibilidades concretas para que a produção do conhecimento se torne uma realidade. Gadotti (1996) acrescenta que se deve considerar a própria realidade dos educandos, pois só assim conseguirá promover a motivação necessária à aprendizagem, de forma que os mesmos se sintam mais confiantes e motivados no decorrer do processo de construção do conhecimento.

A formação no curso de Pedagogia, por mais que os professores busquem relacionar teoria e vivência prática da sala de aula, não basta para deixar os licenciandos seguros quando estão diante de uma turma pela primeira vez. Por isso, é muito importante para o educador ter uma formação específica para trabalhar com a EJA, visto que esta modalidade de ensino exige uma metodologia diferenciada e uma relação afetiva entre professor/aluno; do contrário, ocorrerá estranhamento e insegurança por parte dos educadores. Para Libâneo,

o trabalho docente constitui o exercício profissional do professor e este é o seu primeiro compromisso com a sociedade. Sua responsabilidade é preparar os alunos para se tornarem cidadãos ativos e participantes na família, no trabalho, nas associações de classe, na vida cultural e política (LIBÂNEO, 1992, p. 47).

Machado (2002) chama atenção para uma especificidade dos sujeitos da EJA: estes são mais sensíveis às nuances do contexto escolar. Sendo assim, o autoritarismo de alguns professores, o medo do fracasso e do isolamento dos colegas, e o cansaço devido à jornada de trabalho são alguns fatores que levam à interrupção da trajetória escolar desses educandos.

Além desses desafios, próprios da realidade da EJA, existem outros, como a dificuldade dos educandos em conciliar o tempo de estudos com suas atividades diárias; a heterogeneidade destes no que se refere à idade e ao processo de aprendizagem; o abandono das aulas seguido de retorno por parte deles; e as dificuldades cognitivas de alguns. Em relação à heterogeneidade dos educandos, Carbonell (2006) explica que esta é a marca maior na educação de adultos, pois cada educando traz consigo singularidades - origens, idades, vivências, valores e anseios distintos.

Em se tratando da influência que essas vivências proporcionadas pelo Núcleo têm na formação docente dos estagiários, identificamos que, para eles, a experiência é considerada positiva, no sentido de proporcionar um maior aprendizado em relação à prática docente com um público tão específico, que são os alunos da EJA. Tais influências se dão no âmbito de aprenderem a desenvolver um trabalho coletivo e pelo fato do NEAd ter se tornado um laboratório de formação. No que tange ao aspecto da coletividade, Alonso explica a importância de aprender a trabalhar em conjunto com outras pessoas, tendo em vista que é uma condição necessária para a formação do cidadão em uma sociedade democrática. Para a autora, “o trabalho coletivo é uma meta a ser perseguida pelos dirigentes escolares, uma vez que o trabalho educativo, mais que qualquer outro, é construído por uma ação conjunta dos vários personagens que atuam nesse processo” (ALONSO, 2002, p.25).

Ainda sobre as percepções acerca da influência que essas vivências têm na formação docente dos estagiários, podemos inferir que, após a experiência de atuarem no Núcleo, os licenciandos têm a confirmação de que querem ser educadores graças à empatia construída no decorrer do estágio. De acordo com Freire (2000, p.103), “o clima de respeito que nasce de relações justas, sérias, humildes, generosas, que a autoridade docente e a liberdade dos alunos se assumem eticamente, autentica o caráter formador do espaço pedagógico”. Isso se evidencia nas práticas a partir de um processo de cumplicidade entre educador e educandos, conquistado paulatinamente.

Da mesma forma, o NEAd possibilita experimentar o cotidiano escolar do planejamento de aula e a frequência diária de trabalho, não tão comuns nos outros estágios oferecidos pela UFV. Ser estagiário do Núcleo contribui para a formação tanto profissional quanto pessoal, a partir do contato com educandos de diferentes realidades, e com uma perspectiva de educação libertadora, vinculada às propostas de educação de Paulo Freire, que buscam desenvolver a consciência crítica nos educandos por meio do diálogo e de uma educação problematizadora.

De forma geral, analisando os TCCs que falam sobre as percepções dos estagiários que passaram pelo Núcleo durante esses trinta anos de formação docente, podemos constatar que estes expressam os sentidos e os significados atribuídos às suas participações ao longo dos anos, reforçando o sentido da Universidade Federal de Viçosa manter, entre seus inúmeros projetos, o Núcleo de Educação de Adultos.

De modo geral, todas as experiências, desafios e percepções acerca do trabalho desenvolvido no Núcleo, aqui retratados, servem para reforçar que, apesar da difícil trajetória inicial da constituição do Núcleo, que precisou do empenho de dirigentes sindicais e do apoio de professores do DPE para ter condições mínimas de funcionamento, este assumiu características que vão além do atendimento à educação dos funcionários não escolarizados da UFV e da comunidade viçosense. O Núcleo presta um serviço a toda a comunidade acadêmica, ao proporcionar aos alunos e estudantes dos cursos de Pedagogia e Licenciaturas da instituição, um espaço de formação que oferta condições de atuarem futuramente nessa modalidade de ensino.

As percepções dos estagiários do NEAD em relação à sua vivência docente no Núcleo

Por meio da análise dos TCCs que falam sobre os estagiários que passaram pelo NEAd e suas experiências, podemos identificar suas percepções sobre o trabalho que foi desenvolvido no Núcleo no período em que eles atuaram. A partir dos dados constantes nos arquivos do Núcleo sobre os estagiários, como já mencionado, traçamos um perfil destes: a maioria é do sexo feminino (80%), com idades variando entre 24 e 28 anos de idade. A formação acadêmica destes estagiários é, majoritariamente, em Pedagogia, havendo também, em menor número, licenciados em Letras, Matemática, História e Geografia. O tempo que eles atuam no Núcleo varia entre um e três anos. Esses estagiários atuam em turmas de Alfabetização, Língua Portuguesa, História, Geografia e Matemática no Ensino Fundamental e Médio, bem como na Inclusão Digital.

Mediante esse perfil, buscamos analisar a percepção dos estagiários que atuaram no Núcleo de Educação de Adultos da Universidade Federal de Viçosa, a partir de suas vivências educativas nesse lugar. Por meio da análise de depoimentos desses estagiários nos TCCs, pudemos identificar sua percepção acerca do trabalho desenvolvido. As falas destes estagiários apontam que trabalhar no Núcleo permitiu-lhes desenvolver ações voltadas às necessidades cognitivas dos educandos jovens e adultos, levando-os a buscarem tornar suas experiências prazerosas e a adquirirem um conhecimento significativo no campo da EJA. Além disso, alguns estagiários resgatam, em seus depoimentos, o momento histórico vivenciado em relação à consolidação do Núcleo.

Em relação aos desafios enfrentados por estes sujeitos durante sua experiência docente, também já mencionados, identificamos serem diários e que aconteciam conforme o período em que cada estagiário desenvolvia suas atividades no Núcleo. Para aqueles que atuavam no início da existência do Núcleo, os desafios se mostraram mais específicos em relação à organização e à estrutura do NEAd. Os aspectos mencionados foram relativos à falta de funcionários e à falta de uma infraestrutura educacional para as aulas da EJA acontecerem, dada a constatação do baixo investimento na EJA. Esse cenário acarretava a eles um certo desconforto na realização do trabalho docente. De outro modo, para os estagiários que atuaram em um período mais recente do NEAd, os desafios se pautam na evasão dos alunos, na falta de recursos e em aspectos relacionados a estes envolvendo idade, dificuldade para conciliar os estudos com os compromissos familiares e profissionais, baixa autoestima e insegurança.

Tomando por base as descrições dos estagiários, podemos perceber que os desafios mencionados são os mesmos enfrentados pelo educador de jovens e adultos em sua prática docente na rede pública de ensino. Na prática docente, a evasão escolar acontece na EJA por diferentes motivos, dentre eles a falta de material didático específico, já que os materiais muitas vezes são utilizados sem passarem por nenhum tipo de adaptação; a matriz curricular, que não atende às expectativas da realidade desses educandos; a falta de apoio e incentivo por parte dos órgãos governamentais, a falta de lanche e de transporte para esses alunos; e a diversidade etária dos educandos.

Diante dos desafios apresentados, os estagiários discorrem sobre como enfrentam os impasses e alguns caminhos são apontados para a minimização dessas limitações. Pela resposta de uma das estagiárias, a sua forma de enfrentar o desafio da desistência era contatar os alunos que estavam evadindo, questionando sobre sua ausência e insistindo por seu retorno. Tal depoimento aponta para algo que é recorrente em uma turma de EJA: a evasão escolar. Cabe à escola, diante desta situação, identificar o motivo que estaria levando esses educandos a evadirem e procurar aproximar-se da realidade destes, adequando seus projetos pedagógicos às necessidades dos mesmos.

Quanto a percepção dos estagiários acerca do trabalho desenvolvido no Núcleo, constatamos, nas respostas dadas nos TCCs, que todos tiveram a percepção de terem desenvolvido um bom trabalho durante o período em que atuaram no NEAd. Quando analisamos os motivos que os levaram a estagiarem no Núcleo de Educação de Adultos, verificamos que estes são diversos, girando, principalmente, em torno da questão da experiência em sala de aula como professores, da formação docente e do crescimento profissional. Tais olhares enfatizam sobre a importância do professor ou futuro professor buscar sempre se aprimorar por meio de novos conhecimentos que contemplem a sua profissão.

Outras falas revelam que, a princípio, não havia motivação para atuar no Núcleo, mas, pela insistência de algumas professoras, descobriram que aprender a trabalhar com um público totalmente diferente, que já possuía um abrangente conhecimento de mundo, era muito motivador. Carbonell (2006) argumenta que é importante para o educador de adultos considerar os conhecimentos prévios dos educandos, tendo em vista que estes foram adquiridos ao longo de sua história de vida. Nesse sentido, um dos estagiários aponta que, para além da teoria que abordava a EJA, as relações de afetividade com os educandos foram a principal motivação para continuar como educador no NEAd. A motivação dos professores é um fator fundamental para o trabalho com este público. Telfer e Swan sugerem que “o problema da motivação do professor se situa no preenchimento de necessidades de alta ordem em uma profissão, onde os padrões de carreira podem ser limitados” (TELFER; SWAN, 1986 apud MOREIRA, 1997, p. 3).

Em relação aos desafios enfrentados pelos estagiários durante a sua atuação, estes abrangem o âmbito pessoal e o de formação. Algumas estagiárias apontam que a baixa autoestima dos educandos gera bloqueios em seu processo de aprendizagem, o que torna o trabalho docente desafiador. Para Scarfó (2009), a baixa autoestima do educando, assim como outras atitudes de isolamento e expectativas que foram reduzidas no presente, devido a acontecimentos passados vivenciados por ele, somadas à vulnerabilidade cultural, demandam do educador uma postura diferenciada, com intuito de criar melhores condições para que o processo de aprendizagem do educando ocorra de forma eficaz.

Além disso, uma das estagiárias aponta a resistência por parte dos educandos quanto à metodologia utilizada, tendo em vista que estes pediam pelo ensino tradicional e resistiam em trabalhar com materiais concretos. O público da EJA possui um grande diferencial, que é justamente a vivência social e cultural que possuem. Nesse sentido, Freire (1996) destaca a necessidade de os educadores criarem as possibilidades concretas para que a produção do conhecimento se torne uma realidade. Também nesse ínterim, Gadotti (1996) argumenta que se deve considerar a própria realidade dos educandos, pois só assim será possível promover a motivação necessária à aprendizagem, de forma que os mesmos se sintam mais confiantes e motivados no decorrer do processo de construção do conhecimento.

Por fim, em nossas observações pontuamos que uma das estagiárias relatou ter enfrentado desafios no âmbito pessoal e de formação. Ela explicou que, por ser muito tímida, não se sentia preparada para exercer o papel de ensinar. Considerava uma responsabilidade imensa e estudava muito para preparar as aulas. A estagiária argumentou também que a formação no curso de Pedagogia, por mais que os professores buscassem relacionar teoria e prática da sala de aula, não bastava para que ela se sentisse segura diante de uma turma pela primeira vez. A partir de seu relato, podemos perceber como é importante para o educador uma formação específica para o trabalho com a EJA, visto que esta modalidade de ensino exige do docente uma metodologia diferenciada e uma relação afetiva entre professor/aluno, para que não ocorra estranhamentos e inseguranças.

Considerações Finais

O objetivo central do presente estudo foi o de resgatar a história da Educação de Jovens e Adultos na Universidade Federal de Viçosa. Analisamos, em síntese, o sentido de um Núcleo de Educação de Adultos para esta Instituição e para os estagiários que ali tiveram momentos de estudo, reflexões e experiência acadêmica sobre a educação de jovens e adultos. Constatamos que, desde 1987 até os dias atuais, o Projeto de Educação de Adultos da UFV, hoje nomeado Núcleo de Educação de Adultos, passou por um processo que atualmente o constitui como espaço de formação docente na modalidade de educação de adultos, pautado nos princípios de Paulo Freire, e que envolve toda a comunidade viçosense.

Em relação à percepção dos ex-estagiários do NEAd acerca do trabalho desenvolvido neste Núcleo, verificamos que, para eles, foi um período de muito aprendizado, no qual ocorreu o enfrentamento dos diversos desafios relacionados à evasão dos alunos, às dificuldades próprias da idade destes, à dificuldade de conciliarem estudos e compromissos familiares e profissionais e à baixa autoestima dos educandos.

Ainda em relação à percepção dos estagiários acerca do trabalho desenvolvido no Núcleo, verificamos que todos consideram uma rica experiência docente o período em que permaneceram no NEAd. Outro ponto essencial desse estudo foi em relação à motivação dos estagiários para a participação no Núcleo, tendo sido identificados: busca de experiência como professor(a), formação docente especificamente na modalidade de EJA, aprofundamento na teoria que embasa a prática docente na EJA e relações de afetividade com os educandos.

Identificamos, ainda, alguns desafios enfrentados pelos estagiários, durante o estágio no Núcleo, relacionados à baixa autoestima dos educandos; à resistência por parte destes quanto à metodologia utilizada: à dificuldade de conciliar o tempo de estudos com a dedicação ao NEAd; à heterogeneidade etária e cognitiva dos educandos; ao abandono das aulas por parte destes educandos; às dificuldades cognitivas de alguns; e à necessidade de conciliar as demandas dos exames supletivos com aulas que não têm foco na resolução de exercícios programados.

Quanto à influência que essas vivências proporcionadas pelo Núcleo têm na formação docente de cada estagiário, identificamos uma aprendizagem significativa em relação à prática docente com um público tão específico como os alunos da EJA. Essas experiências possibilitam uma prolongada vivência cotidiana da regência de classe, que não é comum nos outros estágios oferecidos pelos cursos de licenciatura.

A partir deste estudo, podemos inferir que o Núcleo de Educação de Adultos, durante seus 30 anos de existência, passou por processos complexos e precisou do apoio da administração da UFV para o desenvolvimento de suas atividades. Porém, embora até hoje o Núcleo ainda enfrente inúmeros problemas estruturais para o seu funcionamento, ele tem conseguido fazer um trabalho diferenciado, tanto em relação aos educandos da EJA, por meio de uma metodologia diferenciada, quanto para os estagiários, que podem, neste espaço, vivenciar momentos de estudo e reflexões sobre a Educação de Jovens e Adultos. Constitui-se, portanto, um espaço efetivo de formação docente para a modalidade de EJA.

Referências

ALONSO, Myrtes. O trabalho coletivo na escola. In: Formação de gestores escolares para a utilização de tecnologias de informação e comunicação. São Paulo: PUC-SP, 2002. p. 23-28. [ Links ]

ARROYO, Miguel Gonzalez. Condição docente, trabalho e formação. In: SOUZA, J. V. A. (Org.) Formação de professores para a educação básica: dez anos da LDB. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. [ Links ]

BERNARDES, Telma de Assis. A trajetória dos educandos do Núcleo de Educação de Adultos na Universidade Federal de Viçosa. 2007. Trabalho de Conclusão de Curso, Viçosa, UFV, 2007. [ Links ]

CARBONELL, Sonia. Arte e educação estética para jovens e adultos: as transformações no olhar do aluno. 2006. 178f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. São Paulo, USP, 2006. [ Links ]

CELLARD, André. A análise documental. In: POUPART, Jean et al. A pesquisa qualitativa: enfoques epistemológicos e metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2008. [ Links ]

DUARTE, Lidiane. O curso de Inclusão Digital do NEAd e a inclusão social dos jovens e adultos de Viçosa. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2014. [ Links ]

FELÍCIO, Aparecida das Graças Silva. Os educandos do Núcleo de Educação de Adultos da UFV: anseios, motivações e realidade de vida. 2013. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2013. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra, 2000. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. [ Links ]

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992. [ Links ]

GADOTTI, Moacir (Org.). Educação de jovens e adultos: as experiências do MOVASP. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 1996. [ Links ]

GARAJAU, José Elias. Núcleo de Educação de Adultos da Universidade Federal de Viçosa (NEAd/UFV): uma história de expansão no ensino, na pesquisa e na extensão. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2009. [ Links ]

GUIMARÃES, Edilene Pereira. Núcleo de Educação de Adultos: trinta anos de formação docente na Universidade Federal de Viçosa. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2017. [ Links ]

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1992. [ Links ]

MACHADO, Maria Margarida. O aluno de EJA. In: MACHADO, Maria Margarida. Educação de jovens e adultos no Brasil. Série O Estado do Conhecimento (1986-1998). Brasília, DF: MEC/Inep/Comped, 2002. [ Links ]

MAFIA, Daniela Saraiva. O ensino da língua portuguesa no NEAd/UFV: uma análise a partir do trabalho pedagógico dos educadores e da experiência dos educandos. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2014. [ Links ]

MARTINS, Paula Ferreira. A influência da UFV na formação do educador de jovens e adultos no município de Viçosa-M. 2014. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2014. [ Links ]

MESQUITA, Letícia de Paula. O Núcleo de Educação de Adultos da UFV como espaço de formação de educadores: desafios e possibilidades. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2011. [ Links ]

PINTO, Roseli de Castro Paula. A trajetória da Educação de Jovens e Adultos na UFV. 2000, 54f. Monografia (Pós-graduação Lato Sensu em Educação). Departamento de Educação, UFV, 2000. [ Links ]

REGIMENTO DO NEAD. Regimento do Núcleo de Educação de Adultos. Universidade Federal de Viçosa, 2011. [ Links ]

SCARFÓ, Francisco. A educação pública em prisões na América Latina: garantia de uma igualdade substantiva. In: UNESCO. Educação em prisões na América Latina: direito, liberdade e cidadania. Brasília: UNESCO, OEI, AECID, 2009. [ Links ]

SILVA, Cláudia Sampaio Corrêa da et al. Ressignificação da experiência de orientação profissional. Revista Brasileira de Orientação Profissional, São Paulo, n.9, v.1, 2008. [ Links ]

SILVA, Patrícia Luiz da. A educação de jovens e adultos na Universidade Federal de Viçosa: história, cenários e perspectivas. 2006. Trabalho de Conclusão de Curso. Viçosa, UFV, 2006. [ Links ]

SOARES, Leôncio. 30 anos de EJA na UFMG - extensão, formação e pesquisa. Revista Teias, Edição Especial - Práticas nas IES de formação de professores para a EJA, v.17, 2016. https://doi.org/10.12957/teias.2016.25013Links ]

SOUZA, Thaís de Souza e; PORCARO, Rosa Cristina. A educação de jovens e adultos na Universidade Federal de Viçosa. 2016. In: VII Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Ouro Preto, MG. 2016. [ Links ]

Recebido: 30 de Março de 2019; Aceito: 30 de Maio de 2019

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons