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Cadernos de História da Educação

On-line version ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.20  Uberlândia  2021  Epub Jan 29, 2022

https://doi.org/10.14393/che-v20-2021-46 

Dossiê - Traços que deixam traços: arquivos pessoais no tempo presente

A experiência de curadoria no acervo Sandra Jatahy Pesavento do IHGRGS: identificando traços da professora no arquivo pessoal da intelectual1

La experiencia curatorial en la colección IHGRGS Sandra Jatahy Pesavento: características identificativas del docente en el archivo personal de la intelectual

Nádia Maria Weber Santos1 
http://orcid.org/0000-0001-5000-3152; lattes: 3929583037339642

Alexandre Veiga2 
http://orcid.org/0000-0002-0694-4104; lattes: 2270433677641480

1Universidade Federal de Goiás (Brasil). nnmmws@gmail.com

2Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul (Brasil). aleveiga@cpovo.net


Resumo

A experiência de curadoria no acervo Sandra Jatahy Pesavento do IHGRGS acontece desde meados de 2015, sendo inovadora neste campo dos arquivos pessoais e, particularmente, nos acervos do referido Instituto. Os constituintes do acervo possuem relevância para a pesquisa do tempo presente, em especial para os campos da História, História da Educação e Arquivologia. Resumidamente, o conteúdo do arquivo abrange Coleção Bibliográfica, Fundo Documental (material de pesquisa e estudo, álbuns e diários de viagens, slides) e Documentos tridimensionais/acervo museológico (objetos de viagens e colares). Os documentos do Fundo Documental são referentes à trajetória pessoal e profissional de sua produtora, bem como diversos itens que registram sua atividade intelectual, permitindo uma ampla compreensão do trabalho desenvolvido por Pesavento ao longo das quatro décadas de atuação como professora de História e como pesquisadora/historiadora.

Palavras-chave: Curadoria; Arquivo pessoal; Trajetória intelectual; Sandra Jatahy Pesavento

Resumen

La experiencia curatorial en la colección Sandra Jatahy Pesavento en el IHGRGS se desarrolla desde mediados de 2015, siendo innovadora en este campo de archivos personales y, en particular, en las colecciones de ese Instituto. Los componentes de la colección son relevantes para la investigación de la actualidad, especialmente en los campos de Historia, Historia de la Educación y Archivología. Brevemente, el contenido del archivo incluye Colección Bibliográfica, Fondo Documental (material de investigación y estúdio; diarios y álbumes de viaje; diapositivas) y Documentos / colección de museo tridimensional (objetos de viaje ycollares). Los documentos del Fondo Documental hacen referencia a la trayectoria personal y profesional de su productor, así como a varios ítems que registran su actividad intelectual, permitiendo una comprensión amplia del trabajo desarrollado por Pesavento a lo largo de las cuatro décadas de experiencia como docente de Historia y como investigador / historiador.

Palabras-clave: Curaduría; Archivo personal; Trayectoria intelectual; Sandra Jatahy Pesavento

Abstract

The curatorial experience in the Sandra Jatahy Pesavento collection of IHGRGS has been going on since mid-2015, being innovative in this field of personal archives and, particularly, in the collections of the referred Institute. The constituents of the collection are relevant to the research of the present time, especially in the fields of History, History of Education and Archivology. Briefly, the contents of the archive include Bibliographic Collection, Documentary Fond (research and study material; travel diaries and albums; slides) and three-dimensional documents / museum collection (travel objects and necklaces). The documents of the Documentary Fond refer to the personal and professional trajectory of its producer, as well as several items that record her intellectual activity, allowing a wide understanding of the work developed by Pesavento over her four decades of experience as a History teacher and as a researcher / historian.

Keywords: Curatorship; Personal archive; Intellectual trajectory; Sandra Jatahy Pesavento

Introduzindo a experiência de curadoria no acervo Sandra Jatahy Pesavento do IHGRGS

A experiência de curadoria no acervo Sandra Jatahy Pesavento acontece desde meados de 2015, sendo inovadora neste campo dos arquivos pessoais e, particularmente, nos acervos do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS). Tem o intuito de pensar, organizar arquivisticamente, planejar e indicar ações em diversos âmbitos, difundindo seu conteúdo bem como a memória e a trajetória intelectual da professora, pesquisadora e historiadora Pesavento. Os constituintes do acervo possuem relevância para a pesquisa do tempo presente e para os campos da História, História da Educação e Arquivologia, entre outros.2

O arquivo pessoal de Sandra Jatahy Pesavento (ACERVO SJP) está depositado no IHGRGS, efetivamente, desde final de 2014, por doação da família Pesavento (viúvo e filhos e seus cônjuges). A referida instituição de custódia se caracteriza como uma entidade privada sem fins lucrativos, fundada a 05 de agosto de 1920, cuja finalidade é promover estudos e investigações sobre História, Geografia, Arqueologia, Filologia, Antropologia e campos correlatos do conhecimento, principalmente centrados no Rio Grande do Sul.

A historiadora Sandra Jatahy Pesavento (1946-2009) foi professora titular do Departamento de História da UFRGS e professora dos Programas de Pós-Graduação em História e PROPUR (Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional) da mesma instituição. Fez doutorado em História Econômica na USP e possuía 4 pós-doutorados em Paris. Era pesquisadora 1 A do CNPq e tinha interlocução com autores e historiadores de vários países do mundo. Autora de uma vasta obra historiográfica, a partir de seu Curriculum Lattes identificamos a escrita de 125 artigos publicados no Brasil e no exterior, 51 livros, entre individuais e coletivos e 85 capítulos de livros. Iniciando suas pesquisas na vertente da História Econômica, com viés marxista, e fazendo uma virada epistemológica na metade de sua carreira como pesquisadora para a História Cultural, sua riquíssima obra abordaanálises sobre as charqueadas gaúchas, sobre a Revolução Farroupilha, sobre a burguesia gaúcha, e, também, sobre as questões do urbano, das imagens, das sensibilidades e da relação História-Literatura, estas últimas já sob o enfoque da História Cultural (SANTOS, 2015; SANTOS e MEIRELES, 2017; SANTOS E MEIRELES, 2019).

A trajetória de Sandra Jatahy Pesavento se inscreve em diferentes movimentos e em distintos tempos, revelando as nuances de uma vida dedicada à História, à docência e à pesquisa. Em 1970, iniciou, ainda na condição de professora auxiliar, sua carreira docente na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde permaneceu até o fim de sua vida. Em 1977, prestando concurso público, efetivou-se na referida Universidade como servidora pública, passando pelos cargos de professora assistente, depois adjunta, até tornar-se, em 1991, professora titular no curso de História.

É importante dizer, também, que ela exerceu vários cargos e funções na e para além da Universidade, vinculando-se a diferentes instâncias de pesquisa, a saber: o Programa de Pós Graduação de História/UFRGS, tanto como docente quanto coordenadora; membro da equipe editorial de vários periódicos acadêmicos no Brasil e no exterior; membro de conselhos consultivos; membro de associações de historiadores internacionais; membro de Centros de Pesquisas; membro criadora de Grupos de Trabalho (GT de História Cultural na ANPUHRS (1997) e na ANPUH Nacional (fundadora do GT Nacional de História Cultural, 2001); coordenadora de Acordos CAPES/COFECUB (França/Brasil). Há que se enfatizar o fato que “Pesavento descortinou um campo historiográfico absolutamente novo no Brasil e nele atuou como professora e pesquisadora, assim como a partir dele pensou e escreveu seus textos” (SANTOS, 2015, p. 272).

O falecimento prematuro da professora/pesquisadora/historiadora deixou uma lacuna nos meios acadêmicos de nosso país, uma vez que ela foi uma grande influenciadora de várias gerações de historiadores - traços estes visíveis em seu Curriculum Lattes, a partir na formação de alunos de graduação e pós-graduação. Porém, seu legado permanece vivo em sua obra e nos trabalhos científicos que têm seus textos como referências.

Em meados de 2014, a família Pesavento (marido, filha e filho) optou em destinar o acervo da pesquisadora para uma instituição de custódia em Porto Alegre, berço e cidade que acolheu sua carreira profissional. Nesta época, já transcorridos cinco anos do falecimento da professora, a família sentiu necessidade de dar um destino a material tão rico, de uma vida de quarenta anos dedicada à pesquisa e ao ensino da História. Foram assim, então, contatados alguns colegas, incluindo a atual curadora, a qual entrou em contato com o presidente do IHGRGS, Dr. Miguel Frederico do Espírito Santo, que prontamente aceitou a custódia do acervo, juntamente com o conselho diretor da instituição. O conjunto abrangia a biblioteca da historiadora, com uma estimativa de quatro mil obras, e o material de pesquisa de quatro décadas, incluindo, entre outros, manuscritos de livros e artigos, transcrição de fontes primárias, estudos de autores e temas (fichamentos manuscritos), planos de aulas e cursos ministrados, projetos de pesquisa nos vários órgãos de fomento (Capes, CNPq e Fapergs), registros das idas a congressos internacionais, imagens de Porto Alegre coletadas para estudos, correspondências acadêmicas (e-mails impressos), alguns cadernos de disciplinas de História de Sandra como aluna em colégio, etc.

Em um primeiro momento, foram feitas a avaliação e a busca do material na residência da família, realizadas pela equipe do IHGRGS (presidente, arquivista, bibliotecária e secretária executiva), a fim de prospectar o espaço necessário para sua guarda no Instituto. Logo a seguir, foram, então, alocados em salas próprias: os livros na grande biblioteca e os papéis (documentos de pesquisa) na sala de arquivo em um armário deslizante. Ficaram assim por alguns meses, aguardando a curadora que estava em estágio de pós-doutorado no Canadá.

Neste ínterim, a família teve mais duas iniciativas importantes: a criação de um site da historiadora e a digitalização completa de sua produção editada em livros (livros individuais e organizados e capítulos de livros). Com isto, proporcionam uma democratização no compartilhamento público de seus escritos. Este episódio durou alguns anos, mas em 2017 a digitalização foi concluída e as obras digitalizadas estão disponíveis junto ao site do IHGRGS3. O site pessoal foi disponibilizado para acesso em maio também de 2017 e nele constam uma linha do tempo da pesquisadora, incluindo registros de sua vida pessoal e da produção das obras, os inéditos carnets de Voyage, escritos durante sua visita à Paris em 2004, vídeos de entrevistas e fotos, livros individuais publicados e agora digitalizados.4

Em abril de 2015, sendo nomeada oficialmente a curadora do acervo, a historiadora Dra. Nádia Maria Weber Santos5, assumiu suas funções, constituindo uma equipe curatorial com mais duas historiadoras (duas mestres em História pela UFRGS e que foram orientandas de Sandra Pesavento), uma Mestre em Memória Social e Bens Culturais e quatro bolsistas de Iniciação científica. Iniciou-se, assim, o trabalho de avaliação do acervo e sua organização, dentro das limitações institucionais existentes, como a falta de verbas para contratar profissionais habilitados para organizar o acervo dentro dos padrões. No primeiro ano, fez-se a triagem de todo material, a fim de escolher a forma como ele seria armazenado - no cruzamento com o espaço disponível - e organizado (catalogado). Logo após, optando por sua guarda/acondicionamento em caixas e pastas suspensas, iniciou-se a separação por temas da pesquisadora, sempre optando por manter uma certa ordem já existente pela produtora do arquivo. As caixas de papelão começaram a ser preenchidas e os volumes menores constituíram as pastas suspensas. É um trabalho bastante minucioso e que requer, também, um conhecimento prévio da obra da autora, o que foi beneficiado pela curadora ter sido companheira de trabalho da mesma.

Posteriormente, em 2017, o acervo ganhou mais um item: um armário (móvel pertencente à historiadora) com mais de trinta fichários, onde estão acondicionadas fichas contendo informações de jornais de Porto Alegre do final do século XIX e do início do XX, fichamentos realizados pela produtora do acervo e por seus inúmeros bolsistas. Muitos destes periódicos são do Museu de Comunicação Hypólito da Costa de Porto Alegre, que atualmente está em precárias condições, tendo perdido uma parte de seu acervo; outros são do próprio IHGRGS e alguns ainda de outros arquivos. Há uma organização feita pela pesquisadora, de acordo com as temáticas que trabalhava, o que facilita sua compreensão e guarda atual.

Também em 2017, o esposo da pesquisadora encontrou uma gaveta da escrivaninha, pertencente a ela, ainda intacta e não aberta. Fez nova doação ao acervo: são os últimos escritos e as últimas reflexões e trabalhos da historiadora antes de sua morte.

Após o término da triagem e organização nas caixas e pastas suspensas, em abril de 2017, iniciou-se o processo de descrição do conteúdo do acervo, processo que está ainda sendo realizado por uma estudante do último ano do curso de História, hoje já formada. No final de 2017 o acervo ganhou uma sala individual para o fundo documental das caixas de papelão. E também ao final deste ano, o acervo foi aberto ao público para pesquisa.

A biblioteca permanece até este momento sem catalogação completa.

Entre 2017 e 2018 tivemos dois pesquisadores de doutorado já trabalhando (pesquisando) no acervo, um da UNEB (doutorado sanduíche em Educação, bolsista FAPESB, Salvador, Bahia) e outra da UFSC (doutorado em Ciências Humanas, bolsista CAPES, Florianópolis, Santa Catarina), ambos interessados no percurso da obra da historiadora, respectivamente no viés das sensibilidades e no viés dos itinerários histórico-culturais realizados pela intelectual mulher.

Desde o início, as ações de curadoria centraram-se em alguns objetivos, como segue: a) organizar, disponibilizar e difundir o acervo SJP; b) captar recursos financeiros e humanos para a organização e classificação do acervo SJP; c) propiciar intercâmbio de saberes e experiências com outras instituições de pesquisa e arquivos.

No final de 2018, a curadora do acervo teve um projeto contemplado no edital Universal do CNPq e com isto foi possível obter recursos para a catalogação da biblioteca, finalmente, e mais algumas outras ações. O projeto está em andamento (vai até fevereiro de 2022), porém com algumas atividades suspensas momentaneamente em função da pandemia.

Em 2019, a família fez mais uma doação para o acervo: são os objetos de viagem de Sandra Pesavento (nomeados assim por ela e que eram objetos espalhados por toda sua residência), os álbuns de fotografias de viagens e os diários de viagens (pequenas cadernetas com escritos, colagens e souvenirs de viagens colados dentro dos pequenos cadernos) e slides de conteúdos de viagens e aulas. Todo este material ainda está em tratamento e permanecem na residência até o momento, pois a pandemia impossibilitou sua transferência, devido ao fechamento do IHGRGS no ano de 2020.

Neste mesmo ano,2019, a equipe curatorial (composta por 3 historiadoras e uma mestra em Memória social e Bens culturais) recebeu dois membros novos (todos compartilham o fato de serem voluntários): um arquivista/historiador (autor deste artigo) e uma conservadora e restauradora de bens culturais. Ao todo, a equipe possui atualmente seis componentes.

Assim, neste momento, ano de 2020, com algumas interrupções devido à pandemia, o acervo SJP passa por uma reorganização arquivística, sendo reclassificado e todo o Fundo Documental acondicionado em novas caixas horizontais e alocado em armário deslizante. A biblioteca está sendo organizada e catalogada em uma nova Base de Dados, proporcionada ao IHGRGS pela verba do Edital Universal do CNPq (2018).

O material completo do Acervo Sandra Jatahy Pesavento6, até o momento (outubro de 2020), abrange três fundos ou coleções: I - Coleção Bibliográfica: a biblioteca da historiadora (em vias de catalogação), II - Fundo Documental (estimado em 60 mil itens): o material de estudo e de pesquisa dos 40 anos de trabalho da professora e pesquisadora, compreendendo: II/1 - Caixas com material de estudo de; II/2 - Arquivo digital: obras completas de SJP digitalizadas e II/3 - Arquivo especial de fichas manuscritas: fichário completo, com móvel, pertencente à historiadora, incluindo fichamento de jornais do século XIX e início do século XX do Rio Grande do Sul; II/4 - Documentos de viagens (Álbuns com fotografias de viagens; Diários de viagens - cadernetas e pequenos cadernos, reunidos desde 1975;slides); III - Documentos tridimensionais/acervo museológico: III/1 - Objetos de viagem (Caixas, pedras, vasos, imagens, etc.); III/2 - Colares de Sandra Pesavento.

Todo arquivo constitui-se em uma unidade orgânica, porém dinâmica. As espécies documentais deste tipo de acervo (Arquivo pessoal intelectual) estão relacionadas às atividades de seu produtor (no caso, uma professora universitária, historiadora e pesquisadora por 4 décadas) e podem ser organizadas por aqueles que ora guardam este material de diversas formas. Porém, preconiza-se, a partir de um dos preceitos básicos da arquivologia no que diz respeito à guarda de arquivos, manter a organização a mais próxima possível da organização de sua produtora, que era uma pessoa organizada em seus papéis e documentos, basicamente quase formando seu próprio arquivo particular. Nota-se isto nas inúmeras pastas e plásticos com títulos que ela produzia. O deslocamento do arquivo para o IHGRGS, realizado pelos funcionários, tentou manter a ordem encontrada na residência da historiadora, transportando os itens em fardos amarrados. A organização para as caixas está seguindo a mesma lógica, assim como a guarda dos objetos tridimensionais e os álbuns de fotografias. Há, ainda, que ressaltar a dinamicidade do arquivo no que tange aos documentos e materiais que porventura venham a ser doados pela família ou colegas de profissão. O acervo, assim, não está fechado para receber outras contribuições, que poderão ser recebidas à medida em que a consulta aos documentos tiver início, o que está previsto para o próximo ano.

Portanto, neste período de aproximadamente seis anos em que estamos à frente da curadoria do Acervo Sandra Jatahy Pesavento, superando muitos desafios, a equipe esmerou-se em diversas fases do trabalho curatorial. Já realizamos várias ações de organização, salvaguarda e conservação (como arranjo e rearranjo do material, alocação em suportes diversos, catalogação, descrição); difusão do material do acervo (escrita de artigos, dossiê temático e publicações, realização de duas Jornadas temáticas Sandra Pesavento; realização de duas exposições com material de acervo); estabelecimento de parcerias (com a Câmara de Vereadores de Porto Alegre, com a Universidade Federal de Goiás - projeto Universal CNPq, com a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) e Arquivo Público do Rio Grande do Sul (APERS), com a UFRGS, entre outros); busca de estagiários e bolsistas; financiamentos em editais públicos (CNPq, Secretaria da Cultura do RS). Nosso trabalho permanece pautado na procura de melhorias, tanto de espaço físico e condições materiais para a documentação em papel e tridimensional, quanto no encontro de novos parceiros que se interessem em colaborar com o Acervo SJP.

Por último, salientamos que a digitalização do conteúdo do acervo é um dos passos necessários para a salvaguarda dos documentos e sua realização está em nosso horizonte próximo, como uma meta importante da ação curatorial.

O arquivo pessoal da historiadora guarda inúmeras riquezas que podem ser estudadas em diversos campos, por diversos aportes e um destes vieses apresentaremos a seguir.

Acervos pessoais - arquivos de si

A proposta de organização de arquivos pessoais tem sido discutida de forma robusta no campo da arquivologia, desde que superada sua incompreensão teórica, que não considerava sua configuração como sendo objeto de trabalho da arquivística. No entanto, tem ainda, ao mesmo tempo, uma conexão arquivística e uma indefinição programática. Isso porque se combinam, num mesmo arquivo, técnicas de arquivo pautadas pelo senso comum - reveladas ao se adotar procedimentos individuais de organização do acervo - com ações definidas por algum conhecimento da necessidade informacional, como a preservação de registros importantes à vida daquela pessoa. Tal simbiose exige uma reflexão significativa, por parte dos profissionais envolvidos em sua organização.

A escrita e o arquivamento de si, nos termos em que reflete Ribeiro (1998), em que há uma necessidade do registro de uma personalidade, famosa ou anônima, ou a proposta de arquivar a própria vida, como descreve Artière (1998) são condicionadas por uma certa percepção do devir histórico, onde suas existências podem se inserir de modo objetivo. O grau de dificuldades para a organização de um acervo pessoal, cujas peculiaridades se sobressaem no processo de sua formulação, torna o desafio bastante intenso. Se um acervo pessoal já é uma complexidade individualizada, nos termos em que se revela no cotejamento com técnicas arquivísticas consolidadas, torna-se ainda mais robusto quando nos defrontamos com premissas elaboradas pelo próprio produtor do acervo. O desafio, aqui, torna-se ainda mais relevante, pois temos a rara combinação de um conjunto significativo de variáveis.

Terry Cook, em texto fundamental, escrito em 1998, já delineava essas circunstâncias, sendo enfático em estabelecer que “as afirmativas fundamentais da ciência arquivística tradicional, com suas dicotomias resultantes, são falsas”. (COOK, 1998, p. 4). Isso porque o trabalho do arquivista deixou de ser, há muito, de um suposto guardião imparcial de conjuntos documentais recebidos em suas instituições para o que o autor chama de “construtores muito ativos da memória social”. (COOK, 1998, p. 4).

Isso significa que a participação efetiva do profissional de arquivo tornou-se parte constitutiva da formação do acervo, sendo imprescindível sua compreensão do conjunto documental que está organizando. Para isso, precisa ter em perspectiva a trajetória contextual daquela personagem que é o produtor do acervo, compreendendo suas idiossincrasias e condições de produção. Nesse sentido, deve ter máxima atenção não apenas com o aspecto mais direto do conteúdo documental - oriundo das atividades que fizeram desse produtor o objeto de recolhimento de seu acervo - mas principalmente do que está envolvido nessa produção - os dilemas, dúvidas, equívocos e materialidades oriundas da trajetória do produtor do acervo, permitindo assim compreender sua trajetória em toda a grandeza que se impõe.

É exatamente nesta perspectiva que podemos analisar os documentos recolhidos no acervo da professora, historiadora, pesquisadora e escritora Sandra Jatahy Pesavento. Ao longo de seus mais de 40 anos de trabalho como educadora, Sandra dedicou-se a demonstrar às suas centenas de alunos os anseios e as contradições que permeiam o processo histórico, permitindo que gerações de estudantes pudessem ter contato com esse conteúdo, originado da experiência humana em sociedade.

Pesavento foi autora de diversas obras de pesquisa histórica, resultante de suas incursões sobre os registros do passado7. Desde sempre, mostrava preocupação com a clareza em suas exposições, destacando aspectos singulares que permitiam ao leitor - fosse ele um acadêmico da área ou um interessado no assunto - a possibilidade de compreender, com real clareza, os aspectos mais intrincados das tramas históricas abordadas. Foi assim, por exemplo, em seu livro “O Imaginário da Cidade - visões literárias do urbano, Paris, Porto Alegre, Rio de Janeiro” (1999), onde discutiu aspectos da realidade urbana de nossas cidades. Ou então ao discorrer sobre os cidadãos que foram aprisionados pelos mais diversos crimes, relatando as idiossincrasias que cercavam o procedimento criminal empreendido contra essas pessoas, como em “Visões do Cárcere” (2009).

A produção historiográfica de Pesavento, marcada pelo rigor acadêmico e pela profundidade da pesquisa, permitiu que a autora produzisse textos cujo teor sempre foi reconhecido. Tais conteúdos serviram de referência a outros estudos, e demonstram que a busca pela qualidade em seu trabalho foi uma constante. Essa característica é visível em seus arquivos, que estão sendo reorganizados para serem disponibilizados ao público em breve.

Nesses documentos, fica evidenciada a preocupação da autora com sua produção científica, com o volume de informações a serem transmitidas ao leitor mas, principalmente, com a busca pela qualificação da escrita, cuja perspectiva é permitir que o leitor percorra as páginas do livro de maneira adequada, sem percalços ou dificuldades que poderiam travar ou mesmo impedira compreensão do tema abordado. Tal elaboração fica evidente desde seus primeiros trabalhos, ainda em fase escolar, onde a temática da história não apenas já vigorava, mas recebia tratamento sofisticado e robusto. Essa é a premissa que pretendemos demonstrar nesse texto, nos próximos tópicos.

A produção intelectual registrada no arquivo

O arquivo de Sandra Jatahy Pesavento permite muitas leituras. Esses documentos foram reunidos ao longo de uma profícua carreira como pesquisadora e escritora, aspectos que ficam evidenciados na análise dos documentos reunidos nesse conjunto. Como ressalta CUNHA (2019, p. 21), referindo-se a outro acervo, com características semelhantes:

Os documentos desse acervo privado guardam histórias individuais e familiares, trazem marcas da escolarização de seus titulares e permitem pensar distintas interpretações. Materializados em papel, lápis e tinta, a grande maioria desses documentos apresenta-se enriquecida com anotações pessoais, que permitem variadas leituras, notadamente no âmbito dos estudos e pesquisas para a História da Educação.

Temos, por exemplo, os registros de suas viagens, cuidadosamente anotados em cadernetas, que a acompanhavam por todos os lugares visitados em suas atividades como palestrante, contemplando aspectos que vão das mais detalhadas descrições de eventos e episódios, até prosaicas informações sobre os lugares, hábitos e maneiras de viver.

Outro conteúdo que chama a atenção diz respeito à quantidade significativa de anotações (manuscritas) produzidas para a elaboração de uma determinada pesquisa. O acervo possui centenas de fichas de catalogação de periódicos, como já mencionado acima, contendo informações sobre as notícias registradas em jornais de Porto Alegre a respeito de temas pesquisados, criando um conjunto expressivo de dados que poderiam abastecer mais de uma análise de um evento. Tal conjunto, produzido num tempo em que o computador era apenas uma quimera, demonstra a preocupação da pesquisadora em revelar aspectos que permitissem que o tema abordado fosse bem compreendido.

A relevância do arquivo é destaque ao podermos acompanhar o amadurecimento da produção intelectual da professora. Com efeito, ao cotejarmos os primeiros trabalhos como acadêmica, percebe-se - para além de sua guinada teórica -a procura pela qualificação do texto, no sentido de deixar cada vez mais evidente sua concepção historiográfica. Em alguns escritos iniciais, há uma expressiva preocupação com detalhes e referências cuja relevância é, no mínimo, questionável, pois não parecem influenciar no raciocínio exposto. Ao longo dos tempos, essa elaboração vai buscando a simplificação sofisticada, que ocorre quando o texto, embora aparentemente enxuto e direto, permite que o leitor faça as inferências necessárias para a compreensão do tema abordado.

Interessante destacar que a autora, em determinado momento de sua atividade, elaborou quadro descritivo (imagem 1) de sua trajetória intelectual, destacando os autores que a influenciaram em suas análises e elaborações textuais. De certo modo, essa preocupação indica que, para Pesavento, era fundamental ter clareza quanto ao processo intelectual que se estava constituindo para a realização de suas pesquisas, o que iria redundar em textos mais coesos e efetivos. Importa também registrar que tal processo institui, de certo modo, uma leitura de si que somente a consulta ao seu acervo poderia ser capaz de produzir.

Na Imagem 1 temos um excerto deste documento, que possui 17 páginas, cada página contendo 4 colunas, onde se leem data/período cronológico, teoria da História estudada, tema historiográfico e sua produção correspondente. 8

Fonte: Acervo Sandra Jatahy Pesavento, pasta suspensa nº 20. IHGRGS.

Imagem 1 Linha Intelectual de Sandra Pesavento (1973-1992) 

Os registros de Sandra como professora

Elencamos nesta parte do artigo alguns fragmentos de documentosdo acervo pessoal de Sandra Jatahy Pesavento, que consideramos significativos e exemplares da sua trajetória como professora e intelectual, qualificativos esses indissociáveis no processo formativo de sua carreira.

Fonte:Acervo Sandra Jatahy Pesavento, Caixa nº 1. IHGRGS.

Imagem 2 Fragmento do Diário Oficial de 03/08/1970 

Sandra iniciou sua carreira docente de modo oficial há exatos 50 anos, ao ser admitida para atuar no Instituto de Educação, como indica o excerto do Diário Oficial de 3 de agosto de 1970 (Imagem 2). Durante esse período, continuou à frente das aulas na Escola Rui Barbosa, onde lecionava História para os alunos do então ensino de 2º Grau. Desde cedo, demonstrou sua aptidão para a docência produzindo material a ser distribuído entre os alunos, contendo as informações que seriam tratadas em suas aulas (imagem 3):

Fonte: Acervo Sandra Jatahy Pesavento, Caixa nº 1. IHGRGS.

Imagem 3 Capa de material de divulgação produzido por Sandra 

Na imagem 4, podemos observar em formato manuscrito, o desenvolvimento do conteúdo relacionado à “República Nova”, que era tratada em uma de suas disciplinas de História do Brasil, já no Curso de Graduação em História da UFRGS. O modelo esquemático, padrão para o processo educacional da época - e hoje inexistente, em razão dos sistemas informatizados - permitia elucidar um período histórico cujas singularidades exigiam camadas explicativas consistentes, que eram visualizadas através dessa estratégia de ensino elaborada por ela. Este documento é extenso, impossível de ser colocado na íntegra, devido ao limite de um artigo. Mas é importante ressaltar que assim como este, há inúmeros outros manuscritos no Acervo SJP em que a produtora prepara suas aulas, tanto em formato esquemático, como este, como em formato de textos. Muitos destes eram compartilhados com os alunos via fotocópia (antigamente mimeografados) ou mesmo escritos no quadro da sala de aula. Outros destes mesmos textos manuscritos eram preparados posteriormente de forma mais aprofundada e davam origem a artigos ou mesmo a livros que ela publicava.

Fonte: Acervo Sandra Jatahy Pesavento. Caixa nº 15. IHGRGS

Imagem 4 República Nova, texto manuscrito. 

Essa mesma proposta é percebida neste outro fragmento, (imagem 5), que contém recortes de um texto mais amplo, que foram escolhidos por ela e reconfigurados em uma página, a fim de permitir a compreensão do tema, numa estratégia de ensino que, antes da tecnologia que hoje tudo nos facilita, era pensada para otimizar o efeito educativo de seus alunos.

Fonte: Acervo Sandra Jatahy Pesavento. Caixa nº 15. IHGRGS

Imagem 5 Montagem 

Essa preocupação fica evidenciada ainda mais ao se examinar seu plano de aula, apresentado na imagem abaixo, imagem 6, cuja sistemática exibia os elementos centrais a serem contemplados no processo de ensino, permitindo aos alunos uma compreensão efetiva do tema, num didatismo que demonstra claramente que sua premissa de trabalho como educadora era efetivamente fazer com que o tema tivesse o efeito esperado, permitindo que seus alunos refletissem sobre o que se estava tratando, ainda que não dominassem o conteúdo apresentado.

Fonte: Acervo Sandra JatahyPesavento. Caixa nº 19. IHGRGS

Imagem 6: Plano de aula “Seminário de História Social do Brasil II”, graduação em História, UFRGS. 

Preocupações didáticas como essas não eram novidade em sua carreira. Desde seus primeirosanos na escola, a futura professora já procurava registrar com qualidade, precisão e clareza, os conteúdos abordados. Na sequência, nas imagens 7, 8 e 9, veremos alguns exemplos de seus trabalhos como aluna, zelosamente mantidos por ela, e que corroboram a dimensão propositiva ao encarar a dinâmica de aprendizado e ensino, que moldou sua trajetória profissional. Mostra, ainda, seu protagonismo a lidar com o conteúdo historiográfico, indicado pela assinatura no documento que relaciona os componentes do grupo formado pelos colegas de aula.

Fonte: Acervo Sandra JatahyPesavento. Caixa nº 42. IHGRGS

Imagens7, 8 e 9 Trabalhos de Sandra como aluna 

Numa perspectiva mais ampla, ao estudar o acervo, constatamos que acompanham os textos de Pesavento, rascunhados e manuscritos, a bibliografia referente a eles (os autores que ela estudava e indicava aos estudantes, nos diversos níveis de ensino), que compõem sua biblioteca - e que no Acervo SJP fazem parte do Item I/Coleção Bibliográfica. Seu acervo particular de livros não era catalogado formalmente, mas tinha uma ordem em suas prateleiras, por assuntos e temas amplos. Por exemplo, “História do Rio Grande do Sul” era o nome de duas prateleiras extensas, assim como “História do Urbano” identificava outra. Ao ser trazida para o IHGRGS, manteve-se inicialmente esta ordem. Nela, encontramos os autores franceses que Pesavento começou a conhecer em seu primeiro pós-doutoramento em Paris, autores ingleses e italianos; muitos autores brasileiros desde sua incursão pela História Econômica; autores clássicos como Marx; autores da literatura brasileira e mundial; livros de arte, entre tantos outros. Mesmo sendo impossível, aqui, nomear todos os autores lidos por ela e contemplados em sua biblioteca de mais de 4 mil exemplares, torna-se explícito o comprometimento da pesquisadora/escritora/professora em estar sempre atualizada em suas referências e isto era fortemente expresso em seus manuscritos, rascunhos, estudos, escritos e publicações, e, de forma explícita, em sala de aula.

Fica estampada, assim, uma das facetas importantes deste Acervo para a História da Educação, ou seja, no cruzamento de seus diversos componentes observamos não somente uma professora atenta, uma historiadora perspicaz com os autores contemporâneos e clássicos, mas também um processo que vai se desenvolvendo na medida em que ela vai se aprimorando entre leituras, estudos, pesquisa histórica e didática de ensino.

Considerações finais

Comprometida com o campo da História Cultural nos seus últimos vinte anos como pesquisadora, e com obras paradigmáticas como as já citadas “O Imaginário da Cidade - visões literárias do urbano - Paris, Rio de Janeiro e Porto Alegre” (1999) e“Visões do Cárcere” (2009) e também “Uma outra cidade - o mundo dos excluídos no final do século XIX” (2001) e “Os sete pecados da Capital” (2008) , observamos, a partir de seu acervo, que Pesavento trabalhou em cinco eixos temáticos principais: os excluídos, as imagens, o urbano, a relação História e Literatura e as sensibilidades. Didaticamente, ela apresentava em sala de aula, e isto verificamos nos seus planos de aulas existentes no acervo, aspectos relevantes de suas incursões no Campo, como demonstram alguns documentos.

Porém, embora a relevância da criação deste novo campo historiográfico a partir da década de 1990 no Brasil, a intelectual conservou o material que originou suas pesquisas no campo da História Econômica e por onde ela fez seu mestrado (PUC-RS) e seu doutorado (USP). Neste quesito, também o Acervo SJP mostra-se rico em detalhes.

Como bem nos aponta Cunha (2019), a tarefa do historiador, diante de um arquivo pessoal, como este em que fazemos a curadoria, consiste em problematizar essas fontes “mediante um ato significativo de interpretação” (CUNHA, 2019, p.21). E este ato é tanto de quem preserva para o futuro, como de quem recupera o arquivo para o presente, diz a autora, citando Bordini. (CUNHA, 2019, p.21)

Para nós, que tivemos a convivência com a professora Pesavento, tanto em sala de aula e orientações, como em parceria de pesquisa e em grupos de trabalho, torna-se relevante este trabalho atual de curadoria, não somente como um ato de preservação de sua memória intelectual, mas também como uma possibilidade de estudar a formação de um pensamento contemporâneo dentro da historiografia brasileira e na História da Educação, podendo compartilhar tudo isso com o mundo acadêmico e com a população interessada. Este trabalho interpretativo é o que nós propomos, desde o início, além de organizar o acervo em si.

Sandra Pesavento era, na cidade de Porto Alegre, além de professora universitária, uma figura pública, requisitada por vários setores da sociedade para explicar, como historiadora, momentos de nossa História, como por exemplo a Revolução Farroupilha, e aspectos outros, como personagens históricos que aqui circulavam, famosos e anônimos, bem descritos em seus livros, desde Borges de Medeiros até a Crioula Fausta e presidiários da Cadeia Pública. Artigos de jornais, programas de televisão, palestras em eventos públicos e populares, como a Feira do Livro de Porto Alegre, carregam a marca de Pesavento, eloquente, bem-falante, bem-humorada e fortemente comprometida com suas fontes de pesquisa, que segundo ela mesma, “controlam a ficção” na narrativa do historiador (Pesavento, 2003, p. 53). Escreve Pesavento:

fontes são marcas do que foi, são traços, cacos, fragmentos, registros, vestígios do passado que chegam até nós, revelados como documentos pelas indagações trazidas pela História. Nesta medida, elas são fruto de uma renovada descoberta, pois só se tornam fontes quando contêm pistas de sentido para a solução de um enigma proposto. São, sem dúvida, dados objetivos de um outro tempo, mas que dependem do historiador para revelar sentidos. Elas são, a rigor, uma construção do pesquisador e é por elas que se acessa o passado (PESAVENTO, 2003, p.98)

É num trabalho interpretativo que o historiador se apropria de um passado que não mais existe, a partir de suas fontes. Para nós, assim, o Acervo Sandra Jatahy Pesavento congrega um número ímpar de fontes históricas, no sentido quantitativo e qualitativo da expressão, e em seus mais variados suportes. Esperamos poder continuar compartilhando este material com a sociedade, através das ações curatoriais que desenvolvemos e realizando interpretações profícuas de seus conteúdos que servem tanto à população acadêmica como às centenas de interessados peloque Sandra sempre tinha a dizer, e que continua dizendo, agora através de seus traços arquivados.

Referências

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CUNHA, M.T.S. (Des)arquivar: arquivos pessoais e ego-documentos no tempo presente. 1.ed. São Paulo-Florianópolis, Rafael Copeti Editor, 2019. [ Links ]

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1Este artigo está relacionado ao projeto de pesquisa "O pensamento de Sandra Jatahy Pesavento e sua importância na historiografia brasileira: da história econômica à História Cultural - um estudo a partir do arquivo pessoal da historiadora", em parceria do PPG em Performances Culturais da UFG (Universidade Federal de Goiás) com o IHGRGS, onde está depositado sob custódia o arquivo da historiadora. O projeto foi contemplado no edital ‘Chamada Universal MCTIC/CNPq n.º 28/2018’, portanto tem financiamento do CNPq.

2Alguns aspectos do acervo já foram apresentados em eventos de História, como no III Seminário de História do Tempo Presente (UDESC, 2017) e alguns textos já foram produzidos a respeito do Acervo Sandra Jatahy Pesavento e publicados em livros e revistas acadêmicas do Brasil e França. Os principais estão elencados ao final e fazemos referências a eles neste presente artigo.

3Para acessar este material, ir ao link https://www.ihgrgs.org.br/biblioteca.html.Acessado em 19 out. 2020.

4O site podia ser acessado no endereço http://sandrapesavento.org/ e também está com seu link no site do IHGRGS. Infelizmente em 2019 o site foi hackeado e a família fez algumas tentativas para colocá-lo em linha novamente, sem sucesso. Estamos no aguardo de uma solução para este problema, uma vez que seu conteúdo é muito importante no que tange à trajetória intelectual e também pessoal da historiadora, com uma visão familiar.

5A curadora é mestre e doutora em História pela UFRGS, tendo sido orientanda da professora Sandra Jatahy Pesavento nestes dois momentos. Especializou-se em História Cultural, tendo trabalhado como colaboradora de Sandra em pesquisas e eventos. Coordenou o GT de História Cultural da ANPUHRS por vários anos e foi membro do Comitê Científico do GT Nacional de História Cultural. Tornou-se Membro Pesquisadora do IHGRGS, inaugurando esta modalidade no Instituto e atualmente é Bolsistas de Produtividade do CNPq. Dedica-se à pesquisa das sensibilidades e da memória, em acervos pessoais e também em produções literárias e das artes em geral.

6O acervo está apresentado e descrito, de forma preliminar, no site do IHGRGS, no seguinte caminho, havendo online o inventário provisório das caixas, pastas suspensas e gavetas: http://www.ihgrgs.org.br/arquivo.html- IHG digital - Acervo online - Arquivo - Acervo Sandra Jatahy Pesavento 2017. Acessado em 21 out. 2020.

7Ver sua produção atualizada no Curriculum Lattes: CV: http://lattes.cnpq.br/1760145213009265. Acessado em 19/10/2020.

8Um artigo foi escrito sobre este documento, está aceito para publicação na revista acadêmica do próprio IHGRGS, portanto não iremos, aqui, aprofundar sua análise. O documento encontra-se digitalizado na íntegra e foi colocado à disposição do público no site do IHGRGS. Disponível em http://www.ihgrgs.org.br/arquivo.html (Acervo Sandra Jatahy Pesavento 2017, Amostra de documento do Acervo: 'Linha do tempo intelectual, 1973-1991', elaborada por Sandra Jatahy Pesavento). Acessado em 21-10-2020.

Recebido: 04 de Novembro de 2020; Aceito: 24 de Fevereiro de 2021

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