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Cadernos de História da Educação

On-line version ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.20  Uberlândia  2021  Epub Jan 29, 2022

https://doi.org/10.14393/che-v20-2021-30 

Comunicação

A constituição técnica e teórica do Repositório Digital Tatu

La constitución técnica y teórica del Repositorio Digital Tatu

Simôni Costa Monteiro Gervasio1 
http://orcid.org/0000-0003-1554-1726; lattes: 1781209696259968

Alessandro Carvalho Bica2 
http://orcid.org/0000-0003-2532-5007; lattes: 0637516284559113

Tobias de Medeiros Rodrigues3 
http://orcid.org/0000-0003-4719-583X; lattes: 1485492220883862

1Universidade Federal do Pampa (Brasil). si_costa@msn.com

2Universidade Federal do Pampa (Brasil). alessandrobica@gmail.com

3Universidade Federal do Pampa (Brasil). tobias.medeiros@gmail.com


Resumo

Este artigo tem como objetivo problematizar uma iniciativa desenvolvida no âmbito do projeto de pesquisa “Educação, História e Políticas na região de abrangência da Universidade Federal do Pampa” e refere-se, especialmente, ao processo de criação e desenvolvimento de um repositório digital. A proposta de criação de um espaço virtual capaz de armazenar e compartilhar acervos apoia-se na necessidade de preservação das fontes e possibilidade de acesso para diversos pesquisadores interessados em explorar as possibilidades contidas nos documentos, revistas, periódicos educacionais e outros materiais pertencentes ao acervo. Assim, este artigo trata do percurso de criação deste repositório digital, passando pelo processo de tratamento das fontes, sua digitalização e organização do repositório que pode ser acessado por meio do endereço eletrônico http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/tatu/, destacando o potencial no intercâmbio entre áreas como a tecnologia da informação, educação e história, para a criação de soluções versáteis.

Palavras-chave: Acervos históricos; Repositório Digital; Educação

Resumen

Este artículo tiene como objetivo problematizar una iniciativa desarrollada en el marco del proyecto de investigación "Educación, Historia y Políticas en la región de cobertura de la Universidad Federal de Pampa" y se refiere especialmente al proceso de creación y desarrollo de un repositorio digital. La propuesta de creación de un espacio virtual capaz de almacenar y compartir acervos se apoya en la necesidad de preservación de las fuentes y posibilidad de acceso para diversos investigadores interesados ​​en explorar las posibilidades contenidas en los documentos, revistas, revistas educativas y otros materiales pertenecientes al acervo. Así, este artículo trata del recorrido de creación de este repositorio digital, pasando por el proceso de tratamiento de las fuentes, su digitalización y organización del repositorio que se puede acceder a través de la dirección electrónica http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/ tatuaje, destacando el potencial en el intercambio entre áreas como la tecnología de la información, la educación y la historia, para la creación de soluciones versátiles.

Palabras clave: Acervos históricos; Repositorio Digital; Educación

Abstract

This article aims to problematize an initiative developed within the scope of the research project "Education, History and Policies in the area of coverage of the Federal University of Pampa" and refers especially to the process of creation and development of a digital repository. The proposal to create a virtual space capable of storing and sharing collections is based on the need to preserve the sources and the possibility of access for various researchers interested in exploring the possibilities contained in documents, journals, educational periodicals and other materials belonging to the collection. Thus, this article deals with the course of creation of this digital repository, through the process of treatment of the sources, its digitalization and organization of the repository that can be accessed through the electronic address http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/ armando /, highlighting the potential in the interchange between areas such as information technology, education and history, to create versatile solutions.

Keywords: Historical collections; Digital Repository; Education

Introdução

Este artigo tem como objetivo principal propor uma reflexão sobre a importância e os desafios da constituição de acervos digitais para a preservação e compartilhamento de fontes em história da educação, considerando que são as fontes a matéria prima do historiador e o caminho possível para desvendar os fatos do passado e buscar as respostas para as perguntas do presente. Soma-se também com a argumentação sobre o risco a que os documentos históricos podem estar submetidos de sofrer com ação de deterioração realizada pelo tempo, além de nem sempre possuírem fácil acesso. Neste contexto, a pesquisa histórica e o ensino da história da educação a partir de fontes históricas, tornam-se difíceis e limitados tanto pelo desconhecimento dos documentos disponíveis como pela inadequada catalogação e conservação. Como alternativa surgem os repositórios digitais como importantes espaços de compartilhamento e preservação, e situa-se o trabalho desenvolvido pelo Grupo de Estudos em Educação, História e Narrativas (GEEHN) da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), campus Bagé/RS ao propor a criação do Repositório Digital Tatu1.

O trabalho de coleta de fontes, digitalização e disponibilização on-line teve início em 2015 por meio do projeto “As Políticas Públicas de Formação de Professores em impressos pedagógicos: O caso da Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1951-1978)”. Na oportunidade, as investigações estiveram vinculadas a problematizações sobre políticas públicas educacionais de formação de professores no período de 1951 a 1978 tendo como campo de análise os materiais, orientações, ideias, diretrizes pedagógicas e indicações metodológicas presentes nas edições da Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1939-1994), pertencentes ao acervo da Biblioteca Central da Universidade da Região da Campanha (Urcamp), campus Bagé/RS. Em paralelo, todas as revistas pertencentes ao acervo foram fotografadas, receberam tratamento de imagem adequado e foram disponibilizadas no site http://porteiras.s.unipampa.edu.br/projetorevistadoensino/.

Com isso, o site armazena as edições da revista de forma digital no formato Portable Document Format (PDF) que é um formato de arquivo usado para exibir e compartilhar documentos de maneira compatível, independentemente de software, hardware ou sistema operacional. Este site é fruto de uma solução institucional desenvolvida pela equipe de Tecnologia da Informação (TI) da Unipampa, que consiste na criação de sites com o design padrão da instituição, para divulgação e compartilhamento dos produtos produzidos por grupos de pesquisa, cursos, eventos e demais atividades. Porém, esta solução impõe algumas limitações como o design padrão já existente no sistema, o tamanho de arquivos para download e espaço em disco. Temporariamente, esta solução foi extremamente satisfatória tornando possível o desejo de publicizar a digitalização da Revista do Ensino do Rio Grande do Sul.

Fonte: Imagem capturada no site http://porteiras.s.unipampa.edu.br/projetorevistadoensino/.

Figura 1: Tela inicial do site “As Políticas Públicas de Formação de Professores em impressos pedagógicos: O caso da Revista do Ensino do Rio Grande do Sul (1951-1978)”2

Como um dos primeiros resultados alcançados pode-se destacar o interesse pela ampliação do trabalho de digitalização para outros acervos. E, em 2018, âmbito do projeto de pesquisa “Educação, História e Políticas na região de abrangência da Universidade Federal do Pampa” passou-se a pensar a criação e desenvolvimento de um repositório digital para fontes de história da educação, incluindo livros, documentos, periódicos educacionais, cartilhas de alfabetização, imagens e quaisquer fontes históricas relevantes que já fazem parte do acervo formado pelo GEEHN e por outras fontes que ainda possam ser descobertas.

Nesse contexto, o acesso idealizado ao acervo é de forma aberta, ou seja, com disponibilização livre, gratuita e irrestrita, usando a internet de modo que qualquer sujeito com interesse no assunto possa ler, fazer download ou referenciar a obra. Para tal, a solução encontrada foi a criação de um repositório digital que reunisse de maneira organizada, categorizada, prática e interativa o acervo do grupo, uma vez que imagina-se que um repositório digital seja capaz de proporcionar uma série de benefícios para pesquisadores ou interessados na área, com possibilidade de acesso aberto ao acervo digital, como também refletirá em uma maior visibilidade e conservação destes escritos, minimizando a necessidade de contato físico com as obras e contribuindo para a preservação da memória histórica da educação. Como resultado, foi criado um novo site, nomeado de Repositório Digital Tatu3.

Fonte: Imagem capturada no site http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/tatu/.

Figura 2: Tela inicial do site “Repositório Digital Tatu”4

A partir de então, o projeto do Repositório Digital Tatu inscreve-se como uma iniciativa de preservação e compartilhamento de documentos e patrimônios históricos e, faz-se importante justificar algumas escolhas que auxiliam na compreensão do trabalho que se deseja desenvolver.

A primeira diz respeito à categorização como um repositório digital, entendido aqui como uma coleção de informação digital construída de diferentes formas e com diferentes propósitos, contemplando produções históricas, mas também trabalhos contemporâneos. De acordo com o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, repositórios digitais são “bases de dados online que reúnem de maneira organizada a produção científica de uma instituição ou área temática. Os Repositórios Digitais armazenam arquivos de diversos formatos”. De acordo com ZUCATTO e JÚNIOR (2014) é possível definir um produto como repositório digital quando ele possui as seguintes características:

Ser uma versão completa da obra e todos os materiais suplementares, incluindo uma cópia da licença, depositada com o material; Publicada com padrões tecnológicos aderentes a normas técnicas de preservação digital (como as definições estabelecidas pelo modelo Open Archives e o modelo OAIS); Mantido por uma instituição acadêmica, sociedade científica, organismo governamental, setor privado, ou outra organização estabelecida que pretenda promover o acesso, a distribuição, a interoperabilidade e o arquivamento em longo prazo (ZUCATTO e JÚNIOR, 2014, p. 4).

No caso do Repositório Digital Tatu, algumas das obras estão sendo disponibilizadas em sua versão completa e, outras, não, pois algumas questões técnicas de armazenamento ainda precisam ser superadas. Além disso, as obras possuem mais de 30 anos de publicação e, com isso, são livres de licenças de direitos autorais. Ainda é possível destacar que o Repositório Digital Tatu é uma iniciativa do GEEHN, assim é mantido por uma instituição acadêmica e, conta ainda com o respaldo institucional da Universidade Federal do Pampa, que abriga os pesquisadores e técnicos envolvidos no trabalho.

Outro ponto a ser esclarecido diz respeito ao nome escolhido para o repositório. Faz-se referência ao Tatu-mulita, um animal característico do Bioma Pampa, região que se vincula com a atuação da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Conforme a descrição presente no próprio repositório, o Tatu foi escolhido por ser conhecido pelo seu precioso faro, além de cavar com suas patas anatomicamente desenvolvidas até alcançar sua presa, sendo um ótimo caçador e escavador, capaz de localizar e buscar suas caça. Assim, ele bem representa o trabalho do historiador que busca, cavoca ou garimpa suas fontes e por isso é a mascote que dá nome ao repositório digital.

Fonte: Logomarca capturada no site http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/tatu/.

Figura 3: Logomarca do “Repositório Digital Tatu”. 

Sobre a logomarca do Repositório Digital Tatu é possível compreender que o mascote, posicionado entre o livro impresso (a esquerda) e o livro digital (a direita) trabalha fazendo a transição do material. Nos links do repositório (especialmente na sessão “Acervo Digital”) em que a conversão já está finalizada e a obra já tem seu acervo digital, a logomarca perde o livro impresso.

Para além da contextualização sobre a criação e categorização do Repositório Digital Tatu, este trabalho passará a detalhar os desafios de constituição do acervo digital em seus aspectos técnicos e informacionais.

A constituição técnica do Repositório Digital Tatu

Considerando o desafio de ampliar o acervo digital do site criado em 2015 e que a solução proposta até o momento pela Diretoria de Tecnologia da Informação e Comunicação (DTIC) da Unipampa não atenderia o desejo de criação de um repositório digital esteticamente atraente e funcionalmente eficiente, passou-se a trabalhar em uma solução própria para atender as demandas de um repositório até a concepção do Repositório Digital Tatu, que considera algumas características e requisitos técnicos como: adequação do tamanho dos arquivos digitais gerados mantendo relação com o espaço virtual disponível para o armazenamento do acervo pretendido; facilidade para consulta de exemplares; acervo catalogado por categoria; layout do repositório digital amigável; exemplares disponíveis de forma interativa (flipbook5).

Com as necessidades básicas a ser consideradas na composição do Repositório Digital Tatu elencadas, passou-se a considerar questões técnicas. A principal preocupação foi utilizar recursos com tipo de licença de Software Livres de código aberto, fato que permite definir Repositório Digital Tatu como um conjunto de múltiplas soluções essencialmente gratuitas, passível de ser replicado por outras instituições interessadas no projeto sem nenhum custo.

As ferramentas e aplicativos utilizados no desenvolvimento do Repositório Digital Tatu também permitem que a sua atualização e a alimentação do acervo possam ser conduzidas de forma intuitiva, dispensando conhecimentos técnicos complexos de informática.

Dentre as soluções utilizadas no Repositório Digital Tatu, pode-se citar: o Wodpress, um aplicativo de sistema de gerenciamento de conteúdo para web, escrito em PHP com banco de dados MySQL, voltado principalmente para a criação de sites e blogs via web; o plugin para wordpress 3D FlipBook que consiste em versão gratuita do plugin capaz de simular o processo de abertura (folhear) de livros; o Google Drive, serviço permite o armazenamento de arquivos na nuvem6 do Google; as Planilhas Google, utilizadas para catalogação do exemplares e para gerar ficha catalográfica com código de barras; o aplicativo para Android NoteBloc utilizado para digitalizar os exemplares, considerando que o aplicativo já faz correções de brilho contraste e perspectiva da imagem; e o LibreOffice editor de texto livre, utilizado para montar os pdfs das obras digitalizadas.

Sobre o trabalho de manutenção e atualização do site é importante destacar que desde o segundo semestre de 2018 ele conta com cinco bolsistas de iniciação científica da Unipampa e vinculadas ao GEEHN, uma vez que o Grupo foi contemplado por um edital de apoio a grupos de pesquisa da universidade e diante disto houve a possibilidade de selecionar os bolsistas de IC. Para sistematizar o trabalho dos bolsistas, eles foram divididos por áreas de interesse em três grupos: um trabalha diretamente na atualização do repositório digital e em conjunto com o Analista de Tecnologia de Informação da Unipampa campus Bagé que dá o suporte técnico para o repositório; outras duas atuam digitalizando o acervo e as últimas duas trabalham catalogando as obras.

A catalogação do acervo é a primeira etapa do desenvolvimento do trabalho e, para a sua execução foram elaboradas planilhas com o editor “Google Planilhas” que funciona totalmente on-line diretamente no browser7, sendo uma ferramenta grátis e de armazenamento na nuvem. As planilhas contêm informações como autor, área temática, palavras-chave, ano, número de páginas e editora. A planilha funciona de modo que a medida que os dados são completados, um número de identificação interna e um código de barras são gerados através do uso de conjunto de fórmulas, essas informações servirão para a localização do acervo. A planilha também gera automaticamente uma ficha catalográfica para a versão digital do arquivo.

Fonte: Imagem capturada no Google Planilhas organizado para a catalogação das obras.

Figura 4: Tela da Google Planilha, planilha de catalogação. 

Concluída a ficha catalográfica, a sua versão para o acervo físico é impressa e, após a fonte passar pelo processo de limpeza, é acondicionada junto com a ficha em sacos plásticos com fecho hermético tipo Zip Lock8, tomando o cuidado de retirar o máximo de ar possível. Tal ação é justificada para a preservação da fonte.

Fonte: Imagem capturada no Google Planilhas usado para a catalogação das fontes com a ficha pronta.

Figura 5: Ficha catalográfica gerada automaticamente pelo Google Planilha. 

Fonte: Galeria de fotos disponível em http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/tatu/index.php/galeria-de-fotos/.

Figura 6: Montagem com fotografias do trabalho de limpeza e catalogação das fontes. 

Com a fonte catalogada, limpa e acondicionada de forma correta, é iniciada a digitalização. O trabalho está sendo realizado por dois bolsistas com o auxílio do aplicativo gratuito de celular NoteBloc9 que, na medida em que as fotos dos acervos vão sendo realizadas, já faz o tratamento da imagem. Por fim, é utilizado o editor de texto LibreOffice para gerar um arquivo de PDF com qualidade suficiente para proporcionar a leitura do arquivo, mas com tamanho do arquivo compatível com a capacidade de armazenamento e upload10 para o servidor do repositório.

Fonte: Galeria de fotos disponível em http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/tatu/index.php/galeria-de-fotos/.

Figura 7: Montagem com fotografias do trabalho de digitalização das fontes. 

Para encerrar o ciclo do trabalho, os arquivos digitalizados são transferidos para o servidor e as informações das fichas catalográficas são atualizadas no site do repositório pelo quinto bolsista.

Fonte: Tela capturada no sistema interno de atualizado do Repositório Digital Tatu.

Figura 8: Visão da tela de atualização do Repositório Digital Tatu. 

Após todo o processo (catalogação das fontes com a produção das fichas catalográficas para a versão física e digital, limpeza e armazenamento adequado das fontes, digitalização, upload dos arquivos e atualização do repositório digital) o site está atualizado e a fonte disponível on-line para visualização e download, além de estar preservada e acessível irrestritamente para pesquisador interessado de qualquer parte do mundo.

Outra questão importante sobre o Repositório Digital Tatu diz respeito aos demais links disponíveis no site. Além do link “Acervo digital”, que inclui categorias como Livros, Revistas, Impressos Pedagógicos, Acervo Iconográfico (imagens) e Produções Acadêmicas, como um espaço para a disponibilização de artigos, resumos e outras produções publicadas pelo GEEHN, há também um espaço para a publicação de notícias em que serão produzidos materiais sobre as fontes digitalizadas e haverá a possibilidade de divulgação de eventos, lançamentos de livros e outros relacionados à área da história da educação, outro link está reservado para o projeto de pesquisa que norteia o trabalho do Repositório Digital Tatu, outro link apresenta a equipe de trabalho por meio dos seus currículos lattes, e, por fim, há um link em que será possível estabelecer contato com a equipe que trabalha no Repositório Digital Tatu, com a proposta de que sirva como um espaço para dúvidas, sugestões, solicitações e, até mesmo, contato para doação de novos acervos.

O Repositório Digital Tatu possui também uma ferramenta que permite acesso aos administradores do site aos números de acesso e, a especificidades como, por exemplo, a informação sobre quais acervos foram pesquisados durante os acessos. Tal ferramenta gerará, no futuro, dados a serem analisados, pois demonstrará os principais interesses daqueles que estarão fazendo suas pesquisas no acervo do Repositório Digital Tatu.

Atualmente, o Repositório Digital está em processo de digitalização das fontes e abastecimento do acervo digital, em um trabalho com potencial para vários anos de pesquisa e que poderá render belos frutos para a história da educação do Rio Grande do Sul por seu caráter inovador e possibilidade de ampliação de acesso de fontes que, possivelmente, acabariam perdendo-se pela ação do tempo.

Muito além do trabalho sistemático de organização, catalogação e digitalização do acervo para atualização do Repositório Digital Tatu, é fundamental destacar que o trabalho desenvolvido está relacionado com a possibilidade de iniciação científica e formação de pesquisadores, especialmente com as bolsistas de IC da Unipampa e alunos de pós-graduação envolvidos. Com isso, as ações do GEEHN contam também com a reflexão teórica sobre a relação com as fontes que compõem o acervo, sua importância, utilizações e trabalho de pesquisa, conforme discussões realizadas a seguir.

Discussões sobre o acervo e o grupo de pesquisa

Garimpar fontes históricas é um exercício que requer paciência para que se possa ir além das aparências e perceber os detalhes que cada fonte possui. E, se considerarmos que os acontecimentos históricos devem ser questionados para que possam ser recontados, a manipulação das fontes na pesquisa em história da educação é um aspecto a ser apreciado, uma vez que as diversas nuances, contextos e cenários que podem situar um documento histórico permitirão a elaboração de hipóteses e, inclusive, a ordenação do material, em suas infinitas possibilidades de exploração.

A autora Simone Burioli Ivashita (2014) ao problematizar o trabalho com as fontes destaca a importância da problematização e alargamento da concepção de fontes em história da educação e historiografia da educação, discutindo o conceito de fonte, seu tratamento e conscientização sobre a importância da conservação para o trabalho do historiador. Para ela, é fundamental a ideia de “(re)construir o passado, tendo a certeza de que a história não está pronta, ela está por fazer‐se, é expressivo pensar que tantas histórias já foram contadas e tantas ainda há para contar” (IVASHITA, 2014, p. 2-3). A autora destaca ainda a necessidade da discussão sobre as fontes com a intenção de problematizar os modos possíveis que o historiador possui para pesquisar sobre o passado, definindo fonte como “tudo o que nos informa sobre a atividade humana, em específico no trato com as questões educacionais” (IVASHITA, 2014, p. 4). Saviani (2004) também contribui para a definição de fonte, ao dizer que:

As fontes estão na origem, constituem o ponto de partida, a base, o ponto de apoio da construção historiográfica que é a reconstrução, no plano do conhecimento, do objeto histórico estudado. Assim, as fontes históricas não são a fonte da história, ou seja, não é delas que brota e flui a história. Elas, enquanto registros, enquanto testemunhos dos atos históricos, são a fonte do nosso conhecimento histórico, isto é, é delas que brota, é nelas que se apoia o conhecimento que produzimos a respeito da história (SAVIANI, 2004, p.5)

Ao ressaltar a característica de versatilidade que as fontes históricas possuem, Ivashita (2014) argumenta pela responsabilidade do historiador ao realizar a sua manipulação e lançar seu olhar questionador sobre elas. Para a autora:

Primeiramente é preciso situar o seu problema de pesquisa, delimitar seu espaço de pesquisa, juntamente com o período de tempo que será considerado, para só então passar para o inventário de quais podem ser as fontes de informação para responder a questão proposta. Se é o problema que norteia a escolha das fontes, podemos entender com isso que uma mesma fonte pode ser utilizada várias vezes e por pesquisadores distintos, tendo em vista que é a pergunta que dará sentido à investigação. Este trabalho implica efetivamente o recorte e reagrupamento de dados e informações que possam dar sentido a pergunta que se quer responder (IVASHITA, 2014, p. 7).

A inesgotabilidade de possibilidades que fontes históricas possuem requer domínio do conteúdo histórico, prévio conhecimento metodológico e capacidade de utilização de técnicas e instrumentos para a coleta e análise dos dados. Rodrígues (2010) destaca ainda que “o processo histórico é uma espiral, na qual o pesquisador se situa no centro, ou seja, no interior do campo histórico” (RODRÍGUES, 2010, p.35) e defende a necessidade do entendimento de que a história se constitui por rupturas e descontinuidades, estando na capacidade de interpretação do historiador a possibilidade de explicação de processos dinâmicos e construções sociais.

É fundamental desenvolver uma metodologia que permita entender as contradições internas da estrutura social dos diferentes períodos históricos, com o intuito de estudar essas ondas em suas diversas oscilações, facilitando a reconstrução das relações entre estrutura e superestrutura e entre o desenvolvimento do movimento orgânico e do movimento da conjuntura. Dado que a história é um processo contínuo, constituído por rupturas e descontinuidades, e não uma mera somatória de fatos, o estudo histórico é entendido como uma construção social, e não uma sucessão linear de fatos. Não se trata, portanto, de um desencadeamento incessante de causas e efeitos que se sucedem num dado espaço e tempo (RODRÍGUES, 2010, p.36-37).

A autora discute ainda a responsabilidade que os grupos de pesquisa possuem na contribuição para a produção de conhecimentos sobre a história da educação e do ensino por meio de fontes documentais e destaca que embora haja, na atualidade, maior interesse em desenvolver as pesquisas históricas, “em geral, os arquivos e os locais onde se guardam essas fontes apresentam muitos problemas de acesso e conservação” (RODRÍGUES, 2010, p.38).

A catalogação de fontes, a organização e a análise que permita uma interpretação do material são ações que envolvem tanto o professor como os alunos, propiciando um aprendizado que visa à valorização da história e do acervo histórico. Também implica a visita a diversos espaços que reúnem documentação, como arquivos, bibliotecas, hemerotecas, fonotecas, museus, entre outros. O manuseio das fontes documentais é uma ferramenta necessária para poder interpretar, criticar a fonte pesquisada e, consequentemente, construir conhecimento histórico (RODRÍGUES, 2010, p.36).

Os argumentos elencados acima reafirmam a importância do trabalho com fontes, tanto no sentido de sua preservação, como na utilização em pesquisas sobre a história da educação e, especialmente destacam o papel que os grupos de pesquisa possuem neste contexto como responsáveis por manter vivo o interesse dos novos pesquisadores em descobrir e desvendar as possibilidades contidas nos acervos históricos. Nesse mesmo sentido, situa-se o trabalho desenvolvido pelo GEEHN quando propõe que seus integrantes mantenham contato com um acervo histórico importante e representativo de inúmeras possibilidades de pesquisa e, ao mesmo tempo, promovam a reflexão teórica sobre o trabalho com as fontes e as possibilidades de pesquisa que elas oferecem.

A possibilidade de promoção de momentos de estudo sobre como se dá a pesquisa em história da educação a partir de documentos históricos, poderá refletir-se na formação de novos pesquisadores, atentos para as questões teórico-metodológicas que norteiam a pesquisa e capazes de produzir novos conhecimentos e percepções sobre a história da educação.

Considerações finais

De uma solução que se mostrou incapaz de atender a todas as necessidades de um projeto em expansão surgiu uma proposta inovadora que considera proposições de áreas como a tecnologia da informação, a educação, a história, a comunicação e a arquivologia em prol da preservação de fontes históricas e a possibilidade de compartilhamento de acervos. O Repositório Digital Tatu pode ser caracterizado como uma proposta de inovação tecnológica, mas também como uma ferramenta eficiente para o ensino e para a pesquisa em história da educação.

O pacote de soluções tecnológicas utilizado, mais do que atender as demandas do projeto, é inovador por utilizar somente software e plugins de uso gratuito, representando uma possibilidade para que outros repositórios digitais sejam criados e juntem-se ao Repositório Digital Tatu no esforço de preservação de fontes históricas, assim como no incentivo à pesquisa.

Conclui-se, então, que o ofício do historiador está em constante transformação, assim como as possibilidades de pesquisa são infinitas e, se por muitos anos os esforços foram concentrados em buscar fontes e possibilidades para a pesquisa, hoje as oportunidades trazidas pela tecnologia lançam novos desafios aos pesquisadores da história da educação que precisam trabalhar para a preservação das fontes e seu compartilhamento, tendo nos repositórios digitais aliados à técnicas de preservação que resguardem a segurança dos arquivos originais, uma excelente alternativa para políticas de valorização do documento como fonte da história e da memória de um determinado período, lugar ou segmento.

Neste sentido, o Repositório Digital Tatu e o GEEHN somam-se aos esforços para preservação e divulgação de acervos sobre a história da educação, disponibilizando seu trabalho e ideias para todos os demais pesquisadores, com a expectativa de colaborar para a ampliação e fortalecimento da área de pesquisa.

Referências

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1Disponível pelo endereço digital http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/tatu/.

2Acesso em 20 de junho de 2018.

3Disponível no endereço digital http://sistemas.bage.unipampa.edu.br/tatu/.

4Acesso em 20 de junho de 2018.

5Forma de visualização eletrônica de revistas, livros, cartões, folhetos e livretos que simula o folhear de maneira natural.

6O acesso a programas, serviços e arquivos de forma remota, através da internet.

7Browser é um programa desenvolvido para permitir a navegação pela web.

8Sistema de fechamento através de dois trilhos plásticos que possibilitam abrir e fechar a embalagem sem danificá-la.

9Aplicativo disponível para sistema Android e IOS e com versão gratuita.

10Upload é o envio de arquivos de um computador local para um computador remoto ou servidor.

Recebido: 12 de Junho de 2020; Aceito: 20 de Setembro de 2020

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English version by Diênifer Alves Ramos da Rosa. E-mail: ardienifer@gmail.com.

Creative Commons License Este é um artigo publicado em acesso aberto sob uma licença Creative Commons