A pandemia de Covid-19 colocou novos desafios a pesquisadoras e pesquisadores nas mais diversas áreas do conhecimento. No que se refere àqueles que dependem do acesso físico a museus, arquivos e os deslocamentos espaciais que essas visitas exigem, o trabalho se tornou quase que completamente impedido. É nesse panorama que emerge a publicação do livro Museu da Escola Catarinense da UDESC e outros museus do mundo: memória e história visual, gestado pela equipe do Museu da Escola Catarinense - MESC, vinculado à Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Apesar de ter a sua iniciativa calcada no ano de 2019 - antes ainda da eclosão e de todos os desdobramentos da pandemia -, o livro acabou por se colocar como um sintoma emblemático dessa condição e como uma sugestão das possibilidades de pesquisa e exploração de acervos durante o período de isolamento social ao apresentar um rico inventário de Museus Escolares, Museus Pedagógicos e Museus da Escola espalhados pelo mundo que possuem a opção de visitas virtuais.

A professora ^{Sandra Makowiecky}, uma das organizadoras da obra e coordenadora do MESC, já na apresentação aponta que o projeto de tornar o Museu mais acessível e conhecido não só no espaço do estado de Santa Catarina vem sendo desenvolvido desde 2012, a partir da reformulação do site da instituição, que buscou uma maior interatividade e hoje conta com um tour virtual. Assim, foi com o objetivo de ressaltar essa posição de vanguarda no cenário nacional - e quiçá também internacional - que o livro foi tomando forma: o MESC é o primeiro museu público de Santa Catarina, o primeiro em âmbito universitário e o segundo em âmbito nacional a se dedicar à História da Educação, sendo o primeiro no país a contar com esse tipo de acessibilidade online.

A fim de demonstrar o valor dessa iniciativa realizada em Santa Catarina, a equipe do MESC, liderada pela professora Sandra, incluindo estagiários e bolsistas, foi convocada a empreender uma abrangente pesquisa no ambiente virtual, a maior parte dela desenvolvida durante o período da pandemia de Covid-19. No seu escopo, a pesquisa se baseou na visitação de sites e perfis em redes sociais de diversos museus da escola brasileiros e internacionais. As informações encontradas nos sites e perfis oficiais, por sua vez, foram complementadas por outras disponíveis em fontes também na internet. Ao fim do processo de investigação, foram elencados 73 Museus Escolares, Museus Pedagógicos e Museus da Escola espalhados por quase todos os continentes, como bem é ressaltado na própria obra, que lamentou não ter encontrado iniciativas desse teor em continentes como África e Antártida.

Os textos produzidos a partir dessa exploração virtual buscaram seguir um itinerário padrão, dando destaque às informações gerais sobre essas diversas instituições, ao histórico de suas existências, à descrição do que compõe suas coleções e acervos, às exposições e salas presentes em seus planos museológicos, além de trazerem fotografias desses diversos espaços museais que abrigam vestígios da história da educação nos mais diversos suportes e materialidades. O esforço de coleta, catalogação e disponibilização acabou, portanto, por formar um relevante acervo visual desses diferentes locais que guardam memórias de práticas educativas relacionadas à temporalidades distintas, inclusive para além do ambiente institucional escolar.

Além de realizar um importante registro imagético, logo na introdução, duas das organizadoras, Sandra Makowiecky e Beatriz Goudard, trazem algumas reflexões sobre esses espaços museais. Tais debates tangenciam, por exemplo, as diferentes funções e objetivos que assumem Museus Escolares, Museus Pedagógicos e Museus da Escola, que em uma primeira mirada parecem se tratar de sinônimos, a própria invisibilidade desse tipo de museu no cenário brasileiro atual e a historicidade dessas diversas iniciativas que, no país, ao longo do tempo e do espaço, sofreram transformações significativas em suas finalidades. Essas discussões constituem também um instigante panorama inicial para aqueles que não têm uma grande familiaridade com o tema e abrem as portas da curiosidade para os que desejarem se aprofundar na questão a partir de outras leituras referenciadas na obra.

No decorrer da leitura do livro, os diversos espaços museais são divididos e apresentados tomando como referência sua localização geográfica. São primeiramente apresentados os museus existentes no Brasil, os quais são seguidos por instituições alemãs. Após a Alemanha, as apresentações se dão por ordem alfabética e totalizam 27 países. A organização das informações é bastante clara e dá a ver um painel bastante vivo desses locais de preservação e divulgação.

Em tempos de isolamento social, a iniciativa proposta pela equipe do MESC permite àqueles que têm acesso à internet uma maior aproximação não só com o patrimônio escolar catarinense, por meio do acesso ao site da instituição, mas oportuniza a expansão desse olhar, tornando mais próximas tantas outras iniciativas similares espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Espera-se que esses percursos virtuais não se limitem ao período de isolamento, mas que sejam um catalizador na promoção de outros empreendimentos análogos que valorizem esses vestígios do patrimônio cultural material e imaterial.

Os Museus Escolares, Museus Pedagógicos e Museus da Escola reúnem funções culturais e educativas, constituindo-se espaços de convivência, entretenimento e socialização. Por congregarem essas características, eles possibilitam valorizar o papel desempenhado pela educação ao longo do tempo, desnaturalizando algumas visões que temos acerca da História da Educação e mostrando que esses processos históricos não estão desvinculados de nossa cultura em geral. Iniciativas como essa do Museu da Escola Catarinense permitem que tais espaços invadam também outros locais por meio da conexão virtual; elas borram fronteiras e sugerem percursos diversos pautados em uma materialidade, muitas vezes geograficamente distante.

Independentemente do suporte de divulgação, físico ou digital, a obra organizada por Makowiecky, Goudard e Henicka demonstra que os patrimônios materiais e imateriais da História da Educação presentes nos museus e instituições são importantes ferramentas na valorização da pesquisa na área, mas também das memórias que tangenciam as culturas escolares. Por fim, compreende-se que essa compilação de diferentes museus não tem por finalidade apenas a mera celebração ou preservação, mas pode ser uma propulsora de pesquisas que busquem compreender os significados desses patrimônios educativos em nossa contemporaneidade. E o que poderia ser mais sintomático de nossa contemporaneidade do que um tour pelas dependências de um museu virtual?