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Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.21  Uberlândia  2022  Epub 13-Sep-2022

https://doi.org/10.14393/che-v21-2022-106 

Dossiê 2 - Museus Pedagógicos: diálogos ibero-americanos

Museu Pedagógico Nacional - Pedagogium, uma vitrine comercial (Rio de Janeiro, Brasil / 1890-1919)1

Museo Pedagógico Nacional - Pedagogium, escaparate comercial (Rio de Janeiro, Brasil / 1890-1919)

Camila Marchi da Silva1 
http://orcid.org/0000-0002-6309-7220; lattes: 1716993144196948

1Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (Brasil). ca.marchi09@gmail.com


Resumo

O Museu Pedagógico Nacional - Pedagogium foi fundado em 1890 e funcionou até 1919, na cidade do Rio de Janeiro. Estabelecido pelo Decreto nº 981, era função da instituição oferecer ao público e aos professores os meios de instrução profissional, a exposição dos melhores métodos e material de ensino inovador, disponibilizando formações de diferentes tipos. Sabe-se de uma parcela da história dessa instituição como centro de formação de professores, porém, além disso, a história dos museus pedagógicos está intimamente ligada às Exposições Universais, já que eles seriam centros difusores de tecnologias educacionais; não raro, museus pedagógicos poderiam ser formados a partir do que era apresentado em exposições. Esta publicação tem por objetivo apresentar variadas facetas entre o Pedagogium e suas relações com feiras universais, comerciais e museus, bem como compreender e analisar a constituição do acervo do Pedagogium, levando em conta as suas afinidades com o comércio e a indústria.

Palavras-chave: Pedagogium; Museus; Exposições universais; Culura material escolar

Resumen

El Museo Pedagógico Nacional - Pedagogium fue fundado en 1890 y funcionó hasta 1919, en la ciudad de Río de Janeiro. Establecida por Decreto nº 981, era función de la institución ofrecer al público y docentes los medios de formación profesional, la exhibición de los mejores métodos y material didáctico innovador, brindando diferentes tipos de formación. Una parte de la historia de esta institución se conoce como centro de formación docente, sin embargo, además, la historia de los museos pedagógicos está estrechamente ligada a las Exposiciones Universales, ya que serían centros de difusión de tecnologías educativas; no pocas veces, los museos pedagógicos pueden formarse a partir de lo que se presenta en las exposiciones. Esta publicación tiene como objetivo presentar diversas facetas entre la Pedagogium y sus relaciones con ferias universales, comerciales y museos, así como comprender y analizar la constitución de la colección Pedagogium, teniendo en cuenta sus afinidades con el comercio y la industria.

Palabras-clave: Pedagogium; Museos; Exposiciones universales; Cultura de utiles escolares

Abstract

The National Pedagogical Museum - Pedagogium was founded in 1890 and operated until 1919, in the city of Rio de Janeiro. Established by Decree nº 981, the role of the institution was to offer the public and teachers the means of professional instruction, the exhibition of the best methods and innovative teaching material, providing different types of training. We know a part of its history as a teacher training center, however, in addition, the history of pedagogical museums is closely linked to the World’s Fairs, since they would be centers for the diffusion of educational technologies; frequently, pedagogical museums could be formed from what was presented in exhibitions. This publication aims to present various facets between the Pedagogium and its relations with world’s fairs, commercials and museums, as well as to understand and analyze the constitution of the Pedagogium collection, taking into account its affinities with commerce and industry.

Keywords: Pedagogium; Museums; Universal exhibitions; School supplies culture

Museus Pedagógicos - centros de tecnologia educacional

O Museu Pedagógico Nacional - Pedagogium foi fundado em 1890, na cidade do Rio de Janeiro, pelo decreto de lei nº 667 e funcionou até 1919. De acordo com o decreto, a instituição tinha por objetivo:

Constituir-se centro impulsor das reformas e melhoramentos de que carece a instrução nacional, oferecendo aos professores públicos e particulares os meios de instrução profissional de possam carecer, a exposição de melhores métodos e de material de ensino mais aperfeiçoado.(BRASIL, ART. 1º, 1890)

O decreto previa que neste Museu deveria constar: a boa organização e exposição permanente de um Museu Pedagógico; conferências e cursos científicos adequados ao fim da instituição; gabinetes e laboratórios de ciências físicas e naturais; concursos; exposições escolares anuais; direção de uma escola primária modelo; instituição de uma classe-tipo de desenho e de oficinas de trabalhos manuais; organização de coleções-modelos para o ensino científico concreto nas escolas públicas; publicação de uma Revista Pedagógica.

Ainda em 1890, o Decreto nº 981 de 8 de novembro de 1890, conhecido como Reforma Benjamin Constant, aprovou o regulamento da Instrução Primária e Secundária do Distrito Federal que, entre outras decisões, ratificou a criação de um órgão ao qual seria responsável pela formação de professores. Seria este o Museu Pedagógico Nacional, conhecido como Pedagogium.

As pesquisas sobre a instituição reafirmam o caráter de formação profissional de professores destacado nas leis de fundação do Museu Pedagógico. Kuhlman Jr. (2013, p. 32) afirma que o Museu Pedagógico, por ser um espaço de exposição de materiais didáticos que serviam ao ensino intuitivo, poderia ser compreendido como uma instituição de formação de professores. Bastos (2013, p. 103) aponta que estes tipos de museus deveriam servir aos educadores para complementar informações sobre métodos de ensino. De acordo com Alves (2013, p. 51), a formação de professores no Pedagogium era importante para que modelos de educação em voga fossem colocados em prática.

Segundo o Dicionário de Pedagogia organizado por Buisson (1888, p.683), museus pedagógicos ou educacionais deveriam incluir: uma biblioteca com livros educativos, legislação e administração escolar, livros clássicos, material didático e mobília escolar (Dictionnaire de Pédagogie et D’Instruction Primaire, 1ª parte, Tome Second, Paris, 1888).

Museus pedagógicos foram formados no mundo inteiro a partir de meados do século XIX basicamente com o mesmo objetivo: reunir objetos e documentações sobre os materiais pedagógicos que circulavam nas grandes feiras comerciais.

Muitos destes estabelecimentos foram formados a partir do espólio de objetos oriundos de Exposições Universais. Isto significa que esses museus eram formados por um acervo tecnológico, tornando-se grandes centros de novidades pedagógicas. (Gaspar da Silva e Souza, 2018)

As Exposições Universais foram grandes feiras de comércio em que empresas de diferentes ramos expunham seus mais inovadores produtos. De acordo com Pesavento (1997, p. 13), essas grandes feiras de novidades funcionavam como palco de um encontro universal das trocas e exibição de tecnologias.

Pesavento (1997, p. 191) ressalta que tais feiras organizavam as mercadorias com o objetivo de seduzir o público, dando destaque ao caráter de fetiche, mistério e magia, por isso a aparência era muito importante. Nestas feiras, a exposição tinha por objetivo encantar as pessoas, seduzir, criar a necessidade de compra.

De acordo com Borges (2011, p. 151, 154), o comissário geral da Exposição Universal de Paris de 1867, Frédérci Le Play, propôs que o espólio das exposições fossem transformados em Museus Comerciais. Isso significa na prática que toda a mercadoria continuaria exposta em museus específicos. Nesse sentido, os museus comerciais estavam associados às grandes exposições visando à atração do público por meio de atividades de publicidade. A ideia era ativar o interesse do público às novidades com o objetivo de vendê-las, ampliando a circulação dos interesses desde o fabricante, o expositor - pensado como um intermediário - e o comprador.

No caso do Pedagogium, semelhante a outros museus pedagógicos do mundo, veremos que ele herdou o acervo do Museu Escolar Nacional, o qual por sua vez, tinha sido formado a partir do espólio da Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro de 1883.

Ao longo dos anos de funcionamento, é de conhecimento geral que o Museu Pedagógico Nacional aumentou o seu acervo de materiais pedagógicos, como também organizou e divulgou as exposições destes objetos adquiridos de empresas responsáveis pela fabricação e comercialização de materiais didáticos.

O Relatório Anual de 1892 escrito pelo então diretor do Pedagogium Menezes Vieira é de extrema relevância, pois nos dá informações a respeito do tipo de objetos que compunha o acervo da instituição, mas, sobretudo, indica-nos sobre a relação comercial com a indústria pedagógica existente por trás dessa composição de acervo. O Annuário do Ensino do Rio de Janeiro de 1895, que replicou o Relatório Anual de 1892 de Menezes Vieira, apresenta ainda fotografias do Pedagogium, permitindo-nos comparar o documento escrito com os retratos, e de conhecer o tipo de organização visual adotada pelo Museu. Catálogos de empresas de vendas de materiais didáticos e Annuários de comércio nos contam a trajetória e a especialidade das empresas presentes no Museu. Todos estes documentos são importantes para percebemos quem eram as empresas de materiais didáticos circulantes no período, quais materiais foram escolhidos para formar o acervo do museu, e qual a relação do Pedagogium com a indústria pedagógica da época.

Veremos que essa associação comercial do Pedagogium tem início quando seu acervo começa a ser formado a partir do recebimento do espólio da Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro de 1883. Acompanhando uma tendência do período, a visualidade do Pedagogium muito se aproximava das grandes feiras, podendo ser chamado também de uma vitrine comercial pedagógica.

Este artigo tem por objetivo mostrar a faceta do Pedagogium que, para além de centro de formação de professores, era um espaço mais associado ao sentido de divulgação comercial de materiais didáticos.

Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro de 1883, Museu Escolar Nacional, Fundação do Pedagogium

A Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro, em 1883, resultou na fundação do Museu Escolar Nacional. Segundo a Associação Mantenedora do Museu Escolar registrada no Catálogo da Biblioteca do Museu Escolar Nacional, a Comissão Diretora da Exposição achou necessário o estabelecimento de um Museu Escolar Nacional, já que tal evento trouxe valiosos subsídios originários de outros países (Marchi da Silva, 2015, p. 84).

O Catálogo da Biblioteca do Museu Escolar Nacional (1885), organizado por Junior Lima Franco, finaliza o texto de introdução fazendo uma longa descrição dos espaços da instituição:

No primeiro salão, que é destinado especialmente a leitura, além de várias cartas geografias e espécimes de cartas do Brasil, encontram-se dois valiosos porta-cartas do sistema belga e vários modelos ingleses de carteiras para monitores ou para adjuntos, e das carteiras usadas na escola da Imperial Quinta da Boa Vista. No segundo salão, onde foi colocada a biblioteca (...) estão os modelos de mobílias inglesas, americanas, alemães, belgas e francesas, para escolas do 1º e 2º graus, coleções de planos de arquitetura de edifícios escolares e métodos de escrita e de desenho, também de vários autores. No terceiro salão (...) uma variedade de globos terrestres e celestes, de autores e procedências diferentes, planisférios, aparelhos para o estudo da física, da química, do desenho, do sistema métrico e para o ensino intuitivo, duas importantes cartas-relevo, uma representando a Bélgica, a outra a França, aritmômetros de vários autores, minerais, fotografias e gravuras reproduzindo algumas das principais escolas brasileiras e estrangeiras, fatos da história, uma riquíssima coleção cartográfica, a mais bem sortida talvez que entre nós existe, taboas pretas, fixas e móveis, ainda alguns espécimes de mobília (...) Contém o quarto salão uma mobília sistema Hachette para jardim de infância, caixas-compêndios do sistema inglês, cartas de anatomia, de fisiologia, de física, de história natural, de mecânica aplicada, de leitura, de geografia e de música, contadores aritméticos, pequenos museus para o ensino de lições de coisas, coleções completas para os jardins de infância, entre as quais caixinhas com os afamados dons de Froebel, aparelhos para o estudo de taximetria de agulha executados na escola normal de Namur. (Franco, 1885, p. 11 e 12)

Nesta descrição, percebe-se a grande variedade de objetos oriundos de diferentes países. A intenção é fazer com que o visitante tivesse contato com o maior número de materiais de diversas nacionalidades para poder estabelecer uma comparação entre eles. Além disso, essa organização permite conhecer um pouco da produção e especialização de casas de materiais didáticos de fora do país.

Vários documentos relatam o fato de que o Pedagogium é proposto com a transferência deste espólio da Exposição, a partir do desmantelamento do Museu Escolar Nacional. A Revista Pedagógica nº 3, de 15 de dezembro de 1890, informa na sua seção de Crônicas do Interior, que a intenção do Pedagogium é manter os objetivos da Associação Mantenedora do Museu Escolar, que por sua vez já mantinha o espólio de tal evento.

Braghini (2011, p. 27), quando analisa o catálogo desta Exposição, identifica o tipo de material que foi apresentado no evento e apresenta algumas das empresas expositoras. Possivelmente esses objetos foram transportados para o Pedagogium:

Alguns comparecimentos internacionais também mostraram os seus aparelhos científicos em seções diferenciadas, como foi o caso dos Estados Unidos (sala nº 7 - seção nº 1); Alemanha (seção nº 7) com a apresentação do fabricante Paulsen Steft com modelos anatômicos de toda natureza e instrumentos para o ensino de Física-Química. A Inglaterra esteve presente com as seguintes empresas (sala nº 11 - seção nº 1): James Reynolds & Sons, fabricantes de instrumentos científicos; S. Hensen, com peças de Mineralogia; Newton & Comp. com aparelhos de ótica, telescópios, microscópios, câmaras óticas e “vidros e corrediças para estas”; A. N. Myers Comp., com gabinetes de fósseis, fósseis britânicos, caixas com diversos minerais etc. (Braghini, 2011, p. 27)

Vemos, portanto, uma lista de produtores de materiais didáticos, neste caso de materiais científicos, que mostra a diversidade de países, seções e objetos expostos sob interesses de mostruário, circulação, apreciação do público e possível venda; muitos desses materiais passam a compor o acervo do Pedagogium.

Percebe-se que, assim como outros museus pedagógicos, o Pedagogium teve como acervo inicial objetos que fizeram parte de uma exposição local que prestigiava a visualização de novos objetos para o ensino. O que inicialmente já se configurava como caráter comercial, ao longo dos anos viu-se aprofundado, especialmente pelo tipo de exposições muito parecidas com aquelas adotadas nas grandes feiras comerciais e de aquisições de objetos, que algumas vezes eram enviados pelas empresas de materiais didáticos.

A organização do acervo do Pedagogium: uma vitrine comercial

A edição n. 18 de 15 de agosto de 1892 da Revista Pedagógica2 publicou um relatório minucioso sobre o Museu feito pelo seu então diretor Menezes Vieira. No relatório, o diretor presta contas da instituição entre os dias 15 de maio de 1891 a 30 de abril de 1892. Menezes Vieira inicia o relatório explicando como organizou o espaço:

No pavimento térreo organizei a exposição permanente do material escolar estrangeiro e nacional: modelos de bancos, carteiras, mesas para professores, adjuntos e alunos; estrados, quadros negros, contadores, arithmometros, cabides, lavatórios, compêndios de sistema métrico decimal, quadros com vistas e plantas de edifícios escolares. Uma inspeção superficial descobre a importância que os países europeus e americanos ligam a esta parte da organização escolar. Cada um dos objetos expostos prova e explica o progresso que tanto admiramos nos Estados Unidos, na Confederação Argentina, na França, na Bélgica, na Alemanha e na Itália. Na diversidade dos modelos de mobília percebe-se ao mesmo tempo o respeito escrupuloso dos preceitos fundamentais da higiene e o desejo de uma adaptação inteligente. As fotografias, as plantas dos edifícios escolares com indicação da área, número de alunos, valor da construção atestam de modo eloquente que as casas escolares são hoje os verdadeiros monumentos da civilização de um povo. Detenha-se o visitante brasileiro no estudo desses quadros e reconhecerá que todas as reformas devem começar pela construção de tais edifícios. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, 1892, p. 324 - 5)

Neste trecho do relatório, o diretor começa narrando alguns espaços de exposições, permintindo o leitor fazer um percurso mental de como seria visitar o museu. Ao entrar no Pedagogium, o visitante teria contato, em primeiro lugar, com a exposição de mobília escolar estrangeira e nacional, permitindo que fosse feita dessa maneira uma comparação entre os objetos oriundos de diferentes países. Além da mobília, o visitante poderia apreciar fotografias e plantas de diversos edifícios escolares. Em seguida, o relatório faz uma longa descrição da seção de História Natural do Museu:

A seção de História Natural ocupa a sala da frente e um gabinete do primeiro andar. As coleções metodicamente classificadas e contidas em armários envidraçados, abrangem o que me pareceu necessário para a instrução do nosso professorado primário. Ali existem: um esqueleto humano articulado, um homem clástico (l’écorché) completo, com as vísceras, em caoutchoue; um coração de adulto, uma laringe humana, um olho humano (peça clástica), três quadros de ovologia humana, (17 peças aumentadas), três bacias humanas com os órgãos de reprodução (trabalho em cera e cautchouce), um tronco de homem (tamanho natural, dissecado para mostrar principalmente o pneumogástrico), treze cérebros dos principais grupos de vertebrados (fac-símile em cera), treze tipos de sistema nervoso das principais subdivisões do reino animal, seis ditos do sistema circulatório, trinta e cinco tipos de mamíferos empalhados ou em esqueletos, cinquenta e quatro tipos de aves, dezessete répteis e batrachios, trinta e seis dito peixes, quatrocentos e trinta e quatro insetos, crustáceos, moluscos e vermes, três quadros: metamorfoses dos peixes, das aves, dos batrachios; três peças clásticas: anatomia do bicho da seda, do caramujo e da abelha; três herbários completos, treze peças anatômicas de flores, dez modelos de enxertos em arvores frutíferas; cem amostras de madeira brasileira, rochas, fósseis, minerais e formas cristalinas em madeira. Anexo ao gabinete de História Natural encontra-se um pequeno laboratório completo de micrografia. Todo este material foi fornecido ao Pedagogium pelo conhecido naturalista Mr. Emile Deyrolle, preferindo-se nas coleções os tipos da fauna e flora do Brasil. Acredito que os professores estudiosos continuarão a colher grande vantagem visitando esta seção e consultando o respectivo catálogo, disposto de acordo com o fim que deseja alcançar o Pedagogium. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, 1892, p. 325-6).

Toda a imensa coleção de objetos de História Natural ocupava dois espaços do Museu, sala no térreo e primeiro andar e fora fornecida pela casa comercial do naturalista Emile Deyrolle, conforme aponta o relatório. O documento informa ainda que, ao final da visitação ao espaço, o professor poderia consultar as peças em seus respectivos catálogos. Isso significa que a doação do naturalista ao Pedagogium era uma eficiente maneira de promover a venda de seus produtos escolares aos professores e interessados. A seção de História Natural mostrava as novas tecnologias educacionais ao público interessado e era uma grande vitrine da empresa francesa Deyrolle3.

O Annuario de Ensino do Rio de Janeiro de 1895 publicou uma foto com parte da seção de História Natural do Pedagogium:

Fonte: Annuario de Ensino do Rio de Janeiro, 1895.

Figura 1: Gabinete de História Natural do Pedagogium 

A foto publicada no documento é de 1892 quando o museu ainda estava em seu primeiro endereço, na rua Visconde do Rio Branco. Portanto, a foto é do mesmo momento em que o relatório de Menezes Vieira foi escrito. Comparando o retrato com a descrição do relatório, percebe-se na fotografia somente uma parte do que era o acervo do gabinete.

Numa observação mais atenta, identifica-se três armários do tipo vitrine e prateleiras vazadas fixas no canto direito. O armário envidraçado, no canto esquerdo, tem pendurado na parte central superior um quadro parietal com a ilustração de uma figura de tartaruga. Com três prateleiras, repletas de objetos, na primeira de cima para baixo estão dispostas aves taxidermizadas; na prateleira seguinte, é possível identificar uma grande quantidade de objetos, sendo que muitos também são aves taxidermizadas; na última prateleira deste armário, estão objetos fixos em bases de madeira que podem ser pendurados na parede. Entre os dois armários, está um esqueleto humano em tamanho real, montado e preso por um fio que está fixo no teto.

Seguindo para o outro armário, ao lado do esqueleto, observa-se a presença de dois esqueletos montados de animais na parte superior do armário. Este armário também apresenta um quadro parietal em sua parte central superior, que retrata um tipo de pássaro. Também são identificadas três prateleiras, na primeira superior, identifica-se esqueletos montados e tipos de macacos taxidermizados, sendo que, no canto direito, observa-se a presença de um pequeno quadro parietal representando uma ave; na prateleira imediatamente abaixo, estão mais animais taxidermizados não identificados; por fim, na prateleira inferior, observam-se peças taxidermizadas e esqueletos de crânios de animais.

Imediatamente ao lado direito desse armário, está um novo armário vitrine, com a presença da peça descrita na documentação como um “homem clástico completo com as vísceras”. Percebe-se que essa peça ocupa um armário sozinha e, assim como o esqueleto humano, está em tamanho real.

Por fim, no canto direto observa-se prateleiras vazadas fixadas na parede. Nessas prateleiras identificam-se três objetos mencionados pela documentação, são as peças clásticas: da abelha, na primeira prateleira de cima para baixo; do bicho da seda, uma peça numa base de madeira que poderia ser pendurada na parede, e do caramujo.

Além das tipologias de objetos, destaca-se a organização visual adotada na composição deste espaço. Os objetos seguem uma certa ordem de categoria, sendo agrupados nas prateleiras animais de mesma classificação. De acordo com Barbuy (1999), esse tipo de visualidade era conhecido como exposição-instrução. Esta era uma composição visual comum no século XIX e estava ligada com uma forma de organizar os objetos, a fim de se ensinar pelo aspecto visual, chamado de “estratégias de ensino pelo visão” (Barbuy, 1999, p. 58).

Aqui vale destacar ainda a influência visual das Exposições Universais na organização do Gabinete de História Natural do Pedagogium. Esse formato de armários lotados de objetos a ponto de dificultar a identificação num primeiro momento é uma caracteristica das grandes feiras cujos suportes e vitrines estavam totalmente preenchidos com objetos, fazendo do cojunto o grande objeto da exposição. (Barbuy, 1999, p. 62). O relatório de Menezes Viera segue descrevendo o gabinete de Física:

O gabinete de física ocupa uma sala e uma alcova do primeiro andar e possui as peças necessárias para o curso experimental. Em oito armários envidraçados acham-se classificados e cuidadosamente conservados os instrumentos e aparelhos para as noções de mecânica; gravitação, hidrostática, calor, eletricidade, magnetismo, acústica e ótica. Estes objetos foram fabricados pelos Srs. Ch. Noé e A. Picart, fornecedores das escolas normais e dos liceus da França. A máquina pneumática, a máquina Carré, a bobina de Rhumkorff, os modelos de locomotiva e de um barco a vapor, as balanças de precisão, os termômetros, os barômetros, higrômetros, um fonógrafo, um microfone etc., demonstram a incontestável superioridade da indústria francesa. Na aquisição dos instrumentos de física convém preferir os fabricantes mais conscienciosos, porque não é raro sermos logrados pela aparência e seduzidos pela modicidade dos preços. Felizmente a opinião de uma autoridade, respeitável e respeitada pela ciência e pela prática, tranquiliza-me a este respeito. Refiro-me ao Sr. Dr. Martins Teixeira, que honrando este Pedagogium com a sua visita, teve a bondade de felicitar-me pela organização do gabinete de física. Nesta seção julguei conveniente incluir o material necessário para trabalhos de galvanoplastia, cujo conhecimento é hoje tão necessário, em razão de suas variadíssimas aplicações industriais. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, 1892, p. 326-7)

Segundo o relatório, o Gabinete de Física não era menos importante que o de História Natural. Ao contrário, conforme demarca Menezes Vieira, ele foi formado com o material, julgado por ele, de mais qualidade e também fabricado por empresas francesas, as quais ele, inclusive, nomeia, ou seja, divulga quais eram as melhores empresas nas quais os professores e interessados poderiam adquirir tais objetos, os mesmos objetos expostos no Museu. Nota-se ainda que esse espaço era dotado dos objetos necessários para a realização de curso experimental. Isso significa que os objetos ali reunidos não estavam somente para serem expostos, e sim utilizados em suas funções de demonstração.

De acordo com o Laboratorium Begara4, a casa Ch. Noé foi fundada por Charles-François Noé, em 1862, e era uma empresa voltada para a fabricação de instrumentos científicos, permanecendo ativa até 1930. Recebeu uma medalha de ouro na Exposição Universal de Paris de 1889 e, a partir de então, aumentou a produção de material científico para o ensino e experimentação, especializando-se na produção de instrumentos científicos eletrostáticos, eletromagnéticos e dispositivos para a produção de raio X.

Segundo o Annuiare-almanach du commerce, de l’industrie, de la magistrature et de l’administration de 1901, a empresa A. Picart5 fabricava instrumentos para ciência, ótica, polarização, iluminação, projeção, microscópios solares e elétricos, luz oxídrica, espectroscópios de todos os gêneros. Foi premiada com uma medalha de prata na Exposição Internacional do Centenário de 1888, em Melbourne, na Austrália, com uma de ouro e mais duas de prata pela Exposição Universal de 1889, de Paris, e recebeu mais dois prêmios na Exposição de Bruxelas, em 1897. O Annuario de Ensino do Rio de Janeiro também publicou uma foto do Gabiente de Física:

Fonte: Annuario de Ensino do Rio de Janeiro, 1895.

Figura 2: Gabinete de Física do Pedagogium 

Assim como a fotografia do Gabinete de História Natural, o retrato do Gabinete de Física apresenta apenas uma parte do espaço. Percebemos pendurados na parede dois quadros parietais representando objetos de Física e a foto de um homem não identificado na documentação. Abaixo desses quadros, vemos alguns objetos pendurados na parede, sendo possível identificar que um deles é um violino com seu arco. Nesse espaço retratado na imagem, não identificamos os armários envidraçados mencionados pela documentação, mas sim, algumas mesas com muitos objetos dispostos. No chão, observa-se a presença dos objetos maiores, entre eles, bem ao centro, identifica-se a máquina de Carré e, no canto direito, um modelo de máquina pneumática.

A apresentação do gabinete vai ao encontro do que anuncia Barbuy (1999), quando diz que a valorização da tecnologia era algo muito comum nas exposições universais, sendo que as demonstrações tecnologicas funcionavam como recursos pedagógicos enaltecedores de aspectos visuais (Barbuy, 1999, p. 71). Entende-se que a organização visual adotada na composição do Gabinete de Física acompanha o aspecto visual das grandes feiras, especialmente quando coloca em evidência peças tidas como importantes aquisições, ou seja, que dão valor a coleção, é o caso da Máquina de Carré que aparece no centro da foto.

O relatório de Menezes Vieira informa também aquisições de materiais feitas por ele, por achar que tais objetos fossem representantes da modernidade do ensino:

Convencido da utilidade do ensino por meio das projeções luminosas, com tanto proveito empregado nos cursos e nas conferências populares de Londres, Paris, Havre, Madrid, S. Petersburgo, adquiri o material mais completo e moderno fabricado pela casa A. Picart. Deste modo poderá o Pedagogium realizar sessões importantíssimas no mesmo gênero daquelas que a tempos celebrou uma associação desta capital, o malogrado Clube Politécnico. O ensino pelas projeções, admitido em 1883 nas escolas de Havre, tem se propagado rapidamente, não só pelos departamentos da França, como também pela Bélgica, Suíça, Áustria, Rússia, Inglaterra, Espanha, Estados Unidos da América do Norte. A lanterna mágica deixou de ser um brinquedo, um passatempo inútil; transformou-se em um verdadeiro instrumento de instrução, obtendo no ensino da história universal, da geografia, da astronomia, da geologia, das ciências naturais e até do ensino de química resultados de valor incontestável. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, 1892 p. 327)

Mais uma vez, a aquisição de material feita pelo diretor foi realizada com base no que era utilizado no ensino fora do país, sobretudo na Europa. Tal coleção de projeção luminosa era novamente produzida por uma empresa francesa, a renomada A. Picart. A descrição do museu se confunde com uma propaganda de empresas didáticas. O próximo espaço descrito no relatório por Menezes Vieira fora o laboratório de química:

O laboratório de química esta colocado na parte posterior do pavimento térreo e possui não só um material completo para as lições experimentais, como também uma série de laboratórios para manipulações individuais, segundo o plano Mr. Boudreaux, professor da Escola Politécnica e da Escola Normal de Fontenay aux Roses. Creio ter prestado um pequeno serviço aos estudiosos, tornando conhecidos os excelentes laboratórios do notável professor. A ideia que presidiu à constituição destes laboratórios, diz ele, era realizar uma economia tal que a arte do químico fosse acessível a todas as bolsas, conseguindo resolver ao mesmo tempo, em favor dos mestres e da mocidade das escolas, o problema de vulgarizar uma ciência que abre as portas de diversas profissões. Efetivamente os pequenos laboratórios de Mr. Boudreaux permitem que a experiência individual grave para sempre as afirmações dos compêndios. Com pequena quantidade de matéria, alguns tubos de experiencia, pequenos balões, um bico de Bunsen, uma lâmpada, dispensamos toda a bateria atravancadora e custosa de fornos e retortas, chegando ao ideal: - que o estudante possa ter um laboratório como tem uma biblioteca. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, 1892, p. 328)

O laboratório de química do Pedagogium, conforme descrição, fora montado exclusivamente para seu uso prático. Além disso, o material que compunha tal espaço também era importado da França. Organizado por Mrs. Boudréaux, o Laboratório de Química adquirido pelo museu era dividido em oito conjunto de objetos de diferentes áreas de estudo do ensino de química: material para as escolas primárias; produtos químicos; produtos e vidrarias para experimentos simples; material para experiência sobre metalloides; materiais para experiência sobre metalloides e metais; materiais para a experiências de química orgânica; materiais para curso de matemáticas especiais; materiais para experiências com gás de iluminação.

O Pedagogium contava com seis laboratórios Boudreaux, prontos para manipulações das oito séries de objetos cada um. Os interessados em utilizar esse material deveriam enviar uma declaração para diretoria do museu para terem acesso livremente ao laboratório (Revista Pedagógica n.28, 29 e 30, Tomo 5, 1893, p. 212). O relatório apresenta posteriormente a descrição da sala de leitura:

A sala de leitura, amplamente iluminada e arejada, está situada no primeiro andar. O visitante ali encontra uma boa mesa de escrita, cadeiras confortáveis, papel, pena, tinta e uma escolhida coleção de publicações periódicas estrangeiras e nacionais, de assunto pedagógico, além do grande dicionário enciclopédico de Larousse, da grande enciclopédia francesa, a geografia universal de Réclus, biblioteca das ciências contemporâneas, documentos escolares, álbuns ilustrados, cadernos de trabalhos dos alunos das escolas francesas, belgas, italianas, etc. Deste material tem-se utilizado alguns professores no correr do ano letivo de 1891 e neste último período de férias. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, 1892, p. 328-9)

Neste trecho do relatório, é interessante notar que Menezes Vieira destaca com o que os visitantes teriam contato nesse espaço: diversas publicações periódicas estrangeiras e nacionais, dicionários franceses, uma biblioteca contemporanêa com documentos de diversos países. Nesse sentido, o museu reforça o caráter de conhecimento do tipo enciclopédico e de comparação entre objetos, algo comum nas grandes feiras.

No relatório, consta ainda uma longa descrição sobre a chamada seção Froebel. Nesta sala, as condições não eram as melhores, como nos espaços anteriormente citados:

A seção Froebel foi pessimamente aquinhoada, ocupa uma alcova do primeiro andar e ressente-se da falta de luz. O material criado pelo grande educacionista e os diversos objetos auxiliares inventados por seus sectários estão dispostos em três prateleiras e nas paredes da sala. Estudando esta seção, verificara o visitante a influência que tem exercido o sistema froebeliano, baseado nos grandes princípios que devem dirigir a educação humana. Os dons, os brinquedos ali expostos representam para o educador uma série gradual, racional e harmônica de instrumentos de aperfeiçoamento da humanidade. Nessa pequena alcova sente-se o espírito que anima o ensino moderno: cada objeto revela a alma bondosa e amorável de Froebel. Em uma sala contigua figuram as coleções tecnológicas ou museus escolares de Saffray, Emile Deyrolle, Paravia, para servirem de modelo aos museus que os nossos professores tiverem de criar com os seus alunos para as respectivas escolas. Servirem de modelo, porque o grande mérito destas coleções consiste em que sejam feitas pelos alunos e mestres, demonstrando a iniciativa, o zelo, o interesse em sua organização. Compreende-se que isto requer muito boa vontade, muito amor a profissão, porém não é um trabalho irrealizável. A prova temos em França, onde em 1889 havia treze mil museus escolares, notando-se que, a contar de 1878, foram criados na média mil e duzentos anualmente. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, 1892, p. 329-30).

Além da grande coleção de Fröebel, o trecho cita também a presença de modelos de museus escolares dos franceses Deyrolle e Saffray, e um de uma empresa italiana, a Paravia. No trecho, Menezes Vieira dá total importância a formação de museus escolares por professores e alunos e suas respectivas escolas, e cita como modelo a França onde foram criados, segundo ele, treze mil museus escolares.

Os museus escolares Saffray eram organizados pelo Dr. Charles Saffray (1833-1890), médico, botânico e professor de fisiologia6. O professor organizou modelos de museus escolares que poderiam ser adquiridos por meio da compra em casas de materiais didáticos.

Mirella D’Ascenzo (2018, p. 944) identificou que uma das coleções assinadas pelo professor francês, a “Saffray Collection Natural Sciences Industries” era composta por dez caixas contidas em um armário de madeira carvalho e poderia ser comprada na sua totalidade ou vendido separadamente, por assunto: do reino animal, que tinha 203 objetos organizados em duas caixas; do reino vegetal, com 439 objetos divididos em quatro caixas; e ginástica sensorial, com 144 objetos em uma caixa; o material acompanhava um manual explicativo.

Já a empresa italiana Paravia7 era uma grande editora do país com filiais em Milão, Florença e Roma. Era especializada na produção de livros escolares de gramática, antologias, aritmética, geometria, textos científicos e manuais de desenho. (Bianchini, 2008, p. 2)

Ainda segundo Bianchini (2008, p. 2), após a unificação da Itália, a casa Paravia controlava o mercado nacional, tanto nas escolas primárias quanto nas escolas secundárias, ampliando a diversidade de produção de materiais para a produção de alfabetos, ábacos, murais de história natural e, sobretudo, mapas geográficos e globos.

Além das coleções de física, química e história natural, o Pedagogium tinha um espaço reservado para o material geográfico:

O material geográfico acha-se disposto em um gabinete próximo do salão das conferências. Compreende uma preciosa coleção de globos terrestres e celestes de Ch. Smith, Jouvet, Baker & Pratt, Ch. Vetter, Dieu, Delagrave, Paravia, etc., o cosmógrafo Mouret, o planetário de Newton e uma grande quantidade de atlas e cartas, entre as quais a serie das antigas províncias do Brasil, trabalho dos alunos da classe de cartografia do colégio Menezes Vieira, diversos aparelhos porta-cartas de origem belga e francesa. Esta seção oferece indicações metodológicas de grande utilidade. Os trabalhos de Sluys, Dufief, Genoneeaux, Vidal Lablache, Levasseur, Schrader, Nioux, Monteith, Swinton, Guyot, etc., contribuirão para que abandonemos os soporíferos compêndios-ladainhas, adotados, infelizmente, em nossos colégios e escolas. (Revista Pedagógica, Tomo 3, p. 331-2).

Os diferentes tipos de fornecedores especializados dão indício do tamanho do mercado didático envolvido na confecção de tais objetos. Ao fim da descrição do espaço, Menezes ressalta a importância da coleção, afirmando ser essa melhor do que ele classifica como “compêndios-ladainhas”, ou seja, a coleção geográfica do Museu seria, do seu ponto de vista, mais moderna para as nossas escolas.

Entre os fornecedores de material geográfico, estava a empresa londrina Ch. Smith & Son8. Charles Smith era produtor e vendedor de mapas e globos em Londres por volta de 1800. Entre 1827 e 1852, a venda desse tipo de material foi feita pela empresa Charles Smith & Son, a partir de 1853 dirigida por William Smith, a empresa passou a se chamar Smith & Sons. E, a partir de então, passa a produzir um grande número de mapas, globos e atlas, todos caracterizados por gravuras lúcidas, finas e coloridas.

A americana Baker Pratt & Comp. também assinou parte do material geográfico do museu. Com sede na cidade de Nova York, a empresa vendia mesas, cadeiras, globos, borrachas, armários de livros, materiais de papelaria, canetas, lápis, capas de livros, sinos, relógios, materiais de ginástica, tinta entre outros. (Catálogo Ilustrado Baker Pratt & Comp., 1879)

A descrição sobre os globos terrestres produzidos pela casa informa que eram vendidos muitos estilos, incluindo globos de bibliotecas e globos esféricos para o estudo de geometria. Todos eles apresentavam as seguintes vantagens: mostravam as últimas mudanças políticas e as principais características topográficas; contornos naturais e divisões políticas; correntes oceânicas; eram feitos de papel machê e cobertos por um produto que dificilmente seria quebrado; eram impermeáveis a água, podiam ser limpos com uma pano úmido ou esponja. (Catálogo ilustrado Baker Pratt & Comp., 1879, p. 48)

Já a empresa francesa Delagrave foi fundada em 1865 por Charles Delagrave9. A casa era especializada na venda de material científico, educacional e especialmente de livros escolares. Segundo o relatório da Exposição Universal de Saint-Louis, de 1904, a livraria Delagrave expandiu o escopo de suas publicações, até então seu catálogo tinha mais de 5 mil volumes assinados por pessoas famosas da educação, publicava uma média de 150 volumes e colocava mais de um milhão de cópias em circulação, sendo que os livros de educação primária estavam em todos os colégios da França. O documento afirma ainda que a casa Delagrave também tinha um departamento de materiais escolares, fabricados pela empresa em larga escala, produzindo desde objetos pequenos, até mesas e bancos de classes. (Ministère du Commerce, de l’industrie, des postes et des telégraphes. Exposition internationale de Saint-Louis (USA), 1904, p. 61)

De acordo com o catálago de venda da empresa de 1886, a Delagrave vendia onze tipos de globos terrestres e celestes: levasseur; perigot et moureux; larochette et bonnefont; parquet; celeste Simon; terrestre scolaire perigot; elementaire larochette et bonnefont; miniature globes ardoises; montes cosmographique Hernard. (Catalogue special, Mobilier, Materiel Scolaires et acessoires de classes, Librairie Delagrave, 1886)

A próxima descrição feita é sobre a Sala de Trabalhos Manuais que, segundo o relatório, representava uma miniatura de uma oficina de carpinteiro ou marceneiro:

A sala de trabalhos manuais representa em miniatura uma oficina de carpinteiros e marceneiro, como existem anexas às escolas francesas. O material foi encomendado ao estabelecimento Aux Forges de Vulcain, fornecedor das escolas de França. Uma série de modelos tipos da escola de Naas, e outra da escola da rua de Tournefort mostram a orientação dos sistemas pedagógico e econômico, aplicados ao ensino dos trabalhos manuais. Ao lado desses espécimes figura brilhantemente a coleção de trabalhos em madeira e ferro, executados pelos alunos da escola Rodrigues Sampaio, anexa ao Museu Pedagógico de Lisboa, e oferecidos a este Pedagogium, a pedido do Sr. Professor Luiz Augusto dos Reis. (Revista Pedagógica, n.18, Tomo 3, p. 332-3)

Percebe-se que o objetivo desse espaço era fazer com que as escolas seguissem este padrão ao formar uma sala de trabalhos manuais em seus respectivos espaços. A coleção de objetos para carpintaria e marcenaria da sala de trabalhos manuais do Pedagogium foram adquiridos da empresa francesa Aux Forges de Vulcain.

Segundo o Anuário do Comércio francês, a empresa, fundada em 1807, era especializada na venda de: ferragens, aços, lima, cobre, fios de ferro, aço e latão, pedras de amolar e pedras de toda a natureza, ferramentas para artes e fábricas, torres e acessórios para oficinas e amadores, fabricação de ferramentas de carpinteiros e serras mecânicas. (Annuiare-almanach du commerce, de l’industrie, de la magistrature et de l’administration de 1901, p. 2408)

Analisando o catálogo da empresa, identifica-se que Emile Chouanard era o engenheiro administrador e Henry Bres-Chouanard era o diretor geral da Aux Forges de Vulcain, também conhecida como uma sociedade anônima francesa, sendo que a produção da casa poderia ser adquirida em quatro magazines em cidades distintas da França: Paris, Lyon, Bordeaux e Lille. (Catálogo Aux Forges de Vulcain, 1923)

O Annuario do Ensino do Rio de Janeiro publicou o retrato do espaço descrito pelo diretor do Museu:

Fonte: Annuario do Ensino do Rio de Janeiro, 1895.

Figura 3: Oficina de Trabalhos Manuais do Pedagogium 

Nota-se pela imagem que, realmente, o espaço se parece com uma oficina, pela configuração dos objetos pendurados na parede, os quais poderiam ser facilmente localizados em caso de necessidade de uso e pelas diversas ferramentas distribuídas pelo espaço.

Identifica-se ainda, no canto esquerdo da foto, a presença de armário com objetos diversos que parece tratar-se da coleção de objetos em madeira e ferro fabricados pelos alunos da escola Rodrigues Sampaio, anexa ao Museu Pedagógico de Lisboa. (Annuário do Ensino 1895, p. 470)

Essa opção de exposição serve principalmente para oferecer um modelo de organização escolar; dessa forma, o visitante consegue ter ideia de como reproduzir esse espaço em sua unidade escolar, incluindo os objetos.

No terceiro andar do prédio, estava destinado um espaço para exposição escolar permanente, conforme relata Menezes Vieira:

No terceiro andar acha-se também a exposição escolar permanente de autores e editores nacionais e estrangeiros. Ali existem atualmente os objetos remetidos ao Pedagogium pelo Sindicat français du materiel d’enseignement (Paris) e da American Book Company (New York). Examinando os atlas geográficos, os livros escolares, principalmente os readers norte-americanos, o visitante verá quanto estamos atrasados nesta matéria. (Revista Pedagógica n.18, Tomo 3, p. 334)

O Sindicat français du materiel d’enseignement tinha sede social na rua Saint-Benois em Paris, e era representado no Rio de Janeiro por Charles Vautelet e por Etienne Collet. (Alcântara, 2014, p. 155)

Segundo o Almanak Laemmert Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro (1893, p. 1893), entre as empresas que o Syndicat Français du materiel d’enseignement representava, estavam a Deyrolle, Delagrave, Noé e Picart. Percebe-se que todas elas são mencionadas pelo relatório de Menezes Vieira. A esse respeito, é importante destacar um ponto do relatório. O diretor do museu menciona que os objetos eram remetidos pelos representantes estrangeiros; isso significa que o professor, ao visitar esse espaço do Pedagogium, teria a oportunidade de ter contato com os representantes de vendas dos objetos presentes no Museu.

A empresa American Book Company10 (ABC) era uma editora educacional de livros que publicava livros didáticos para os níveis fundamental e médio. A editora foi formada em 1890, a partir da junção entre as empresas Van Antwerp, Bragg e Co, As Barnes e Co, D. Appleton e Co, Iveson, Blakeman e Co. Atuou por mais de setenta anos em parceria com o sistema escolar público dos Estados Unidos e outras instituições de ensino publicando livros das áreas de contabilidade, agricultura, arte e educação cívica. Nas décadas de 1960 e 1970, a marca foi adquirida pela Litton Industries e depois para a International Thomson Organization, em 1981 foi adquirida pela DC Heath and Company. Por fim, Menezes Vieira refere-se aos espaços de transição, os corredores do Museu:

Todas as paredes internas do edifício, escadas, salas, corredores estão revestidos de quadros para o ensino pelos olhos. As estampas de Emilie Deyrolle, Paravia, Armengaud, Reynold, Appleton, Pape Carpantier, Callawert, Johnson etc., ali estão para mostrar que em França, na Italia, na Bélgica, na Inglaterra, etc., este meio de vulgarização é geralmente empregado. A geografia, a história universal e pátria, os processos industriais, a história natural ensinadas deste modo gravam-se no espírito infantil, as palavras do mestre são, por assim dizer, estereotipadas pela memória da vista. (Revista Pedagógica, n.18 Tomo 3, p. 334)

Os quadros parietais Armengaud eram de autoria do engenheiro e ex-aluno da escola de artes e manufaturas da França e foram editados e comercializados pela empresa Delagrave. Armengaud produziu uma coleção chamada “Quadros de educação escolar e pinturas decorativas”. A coleção de quadros era composta por: uma coleção sobre habitação com 7 grandes quadros e 11 quadros simples e uma coleção sobre agricultura e indústria; sobre história natural e sobre lições de coisas. (Catálago de Venda Delagrave, 1898, p.55)

A casa Delagrave editou e comercializou também os quadros parietais da professora francesa Marie Pape Carpantier. Segundo D’Ascenzo e Vignoli (2008, p. 16), Carpantier foi uma das responsáveis por disseminar o método intuitivo pela Europa, compartilhando sua prática de atuação nas classes do jardim de infância mostrando como o ensino poderia ser mais produtivo partindo do concreto.

Considerações

O relatório de funcionamento do Pedagogium de 1892, publicado na Revista Pedagógica e no Annuário de Ensino de 1895 escrito por Menezes Vieira, permitiu-nos conhecer um pouco sobre as instalações do Museu. Percebe-se que o prédio deveria ser bastante amplo para que pudesse dar conta de receber os objetos e visitantes; identificamos, ainda, as coleções dos museus por meio da explicação detalhada: é possível identificar os tipos de objetos, quantidades e organização visual; por fim, é possível identificar as empresas de materiais didáticos fornecedoras do Museu, incluindo representantes comerciais, jogando luz para uma parceria entre o Museu e o mercado didático da época.

Numa análise atenta do documento escrito por Menezes Vieira, é possível confirmar a função do Pedagogium como espaço divulgador de objetos e casas comerciais fabricantes de materiais didáticos.

Sobre a formação de professores, o relatório do diretor do museu deixa claro que todos os espaços são pensados para essa função. Serviam sobretudo de modelos de aprendizagem que poderiam ser reproduzidos nas unidades escolares dos professores visitantes. Isso fica claro pelo aspecto visual do museu, organizado a partir de classificações e tipologias de ensino, em que o expectador aprende pela observação atenta da exposição.

Além disso, o professor tinha possibilidade de utilizar esses espaços para realizar práticas de ensino, como no caso dos laboratórios de química, física e a sala de trabalhos manuais. Isto significa que, na falta desses espaços em suas respectivas escolas, o professor poderia conduzir suas aulas, utilizando os laboratórios do Pedagogium.

Por fim, todo o acervo e organização de exposições e laboratórios tinham um intuito central de servir de modelo para reprodução nas unidades escolares, ou seja, o museu era um local de divulgação de modelos e práticas escolares.

Sendo o Pedagogium um espaço de formação e também de circulação e um centro difusor de tecnologia educacional, o relatório de Menezes Vieira nos apresenta uma faceta diferente da conhecida, um Museu que estava associado com a função de publicidade comercial, ou seja, um lugar onde o professor era formado, mas poderia ter contato com empresas e materiais didáticos de diversas partes do mundo.

Vimos que essa “visualidade comercial” herdada das grandes feiras estava presente sobretudo no Gabinete de História Natural, onde os objetos estavam todos alocados em armários do tipo vitrine, e no Gabinete de Física, que colocava em posição central objetos que davam valor a exposição e que foram adquiridos de casas comerciais renomadas.

Ressalta-se ainda que o Relatório Anual de 1892 divulgava não somente as atividades e o acervo do museu, mas também, as empresas de materiais didáticos. É evidente a divulgação, o incentivo e o empenho com que o diretor do Museu se refere às empresas citadas. Todos os espaços relatados apresentam o local de origem dos objetos, onde foram adquiridos. Aqui outro ponto deve ser destacado, nem sempre o museu comprava esses objetos, foi o caso do acervo de História Natural, em que o relatório indica que todos os objetos foram enviados pela empresa francesa Deyrolle. Isso significa que empresas de materiais didáticos entendiam museus pedagógicos, como uma potente vitrine pedagógica.

Esse uso de museus pedagógicos como uma vitrine comercial, no caso do Pedagogium, é reforçado quando uma das salas do museu era reservada para representantes de vendas. Não sabemos se era possível que o professor fizesse a compra, mas ao final da visita, ele teria contato com as empresas, catálogos e representantes de venda no país. Na prática, o professor visitante conhecia os espaços, tinha a informação da origem mercadológica daqueles objetos, poderia fazer uso na prática dos materiais dentro do Pedagogium e, ao final da visita, caso tivesse interesse, teria o contato com os representantes de vendas das casas de materiais expostas no Museu.

Percebe-se que a formação de professores no Pedagogium estava diretamente associada à divulgação comercial de materiais didáticos, o que nos faz compreender que práticas de ensino e indústria didática andaram de mãos dadas nesse período.

Empresas didáticas, que antes foram apresentadas na Exposição Pedagógica do Rio de Janeiro de 1883, com a criação do Pedagogium, poderiam expor de maneira permanente suas tecnologias educacionais. Nesse sentido, o Museu Pedagógico Nacional replica as ações das grandes feiras, tornando-se um espaço que reunia pessoas, conhecimento e objetos do mundo inteiro.

Portanto, o Museu Pedagógico Nacional - Pedagogium era um espaço de circulação transnacional de pessoas, conhecimento, práticas escolares e material didático. Um museu do progresso, da modernidade e da inovação pedagógica, um museu de grandes novidades.

Referências e fontes

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1Este artigo é resultado da tese de doutorado intitulada: História do Museu Pedagógico Nacional: Pedagogium - um museu de grandes novidades (1890-1919), pelo Programa de Estudos Pós-graduados Educação: História, Política, Sociedade na PUC-SP (Brasil).

2De acordo com Gondra (1997 p. 35) a Revista Pedagógica foi o primeiro periódico editado pelo governo durante a República, especializado em questões educacionais com ampla circulação nacional e internacional. Teve duração de seis anos, sendo a primeira edição de 15/11/1890 e a última edição em 15/6/1896.

3A Deyrolle Nature Art Education, empresa que ainda está em funcionamento, foi criada em 1831 por Jean-Baptiste Deyrolle e repassada posteriormente para seu filho Achille; era voltada inicialmente para venda de insetos e equipamentos de caça para a coleção de história natural, desenvolviam ainda atividades de taxidermia. Em 1866 Émile Deyrolle assume a direção da empresa criada por seu avô, continuando a atividade de taxidermia e desenvolvendo a venda de equipamentos de caça e coleta de inseto, e inserindo a venda de obras especializadas em flora e fauna. A partir de 1871 a empresa passa a investir na área educacional, comercializando também todo tipo de material didático para aulas, mobiliário escolar, modelos anatômicos, instrumentos de física, placas de vidro fotográfico, peças de biologia e quadros parietais. Em 1888 Émile Deyrolle instalou seu escritório e lojas na 46 rue du Bac, a partir de então a empresa expande na área educacional vendendo material científico. Os materiais Deyrolle chegaram a mais de 120 países. Em 2001 a empresa foi comprada por Louis Albert de Broglie que reforça o caráter educacional reeditando e comercializando placas antigas e reconstituindo coleções. Animais taxidermizados continuam sendo comercializados, porém não são mais frutos de caças, mas sim, trazidos de zoológicos após falecimento por velhice ou doença. Todas as informações sobre essa empresa foram retiradas do site da própria instituição: https://www.deyrolle.com/histoire/historique-de-la-maison-deyrolle/naissance-la-famille-deyrolle.

4Nos anos finais da década de 1870 as instalações crescem e se desdobram em duas filiais, uma na 8 rue Amyot e outra oficina na 9 rue Laromiguière se estabelecendo dessa maneira como uma empresa de construção de instrumentos de precisão. Cf. https://www.laboratorium.eus/es/ekoizle/ch-noe-constructeur-dinstruments-de-precision. Acessado em 17 jul. 2020.

5A empresa foi fundada por Alexandre August Picart e funcionou entre 1875 e 1907, conhecida inicialmente como A.Picart instrumentos de ótica, estava situada na 20 rue Mayet, podendo ser encontrada na documentação também como Picart et Fils. Cf. http://microscopist.net/PicartA.html. Acessado em 17 jul. 2020.

6Cf. https://data.bnf.fr/15287949/charles_saffray/. Acessado em 17 jul. 2020.

7De acordo com as informações do Museo Torino, a empresa nasce em 1802 quando Giovanni Batista Paravia (1765-1826) assumiu a tipografia Avondo, dedicando-se a textos religiosos e escolásticos. Segundo Bianchini (2008, p.2), as atividades da empresa continuaram pela direção do filho do fundador Giorgio Paravia quando a empresa aumenta a atuação no mercado escolar. A partir de 1850, após a morte de Giorgio e sob a direção de Innocenzo Vigliardi, que até então era um tipógrafo especialista assistente da loja, a empresa passa a se chamar G.B.Paravia. cf. http://www.museotorino.it/view/s/711631f47c004a09b5d48afdb2459324. Acessado em 16 jul.2020.

8cf. https://www.abebooks.com/SMITH%C2%92S-TERRESTRIAL-GLOBE-Containing-Recent-Discoveries/4857542387/bd. Acessado 16 jul. 2020.

9A empresa foi vendida em 1995 para Flammarion e depois para Abin Michel em 2010. Podem ser encontradas informações sobre essa empresa pelos nomes: Delagrave, Ch Delagrave et Cie, Delagrave & Cie, Charles Delagrave, Editions Delagrave, Librairie Delagrave. cf. https://www.britishmuseum.org/collection/ term/BIOG199625. Acessado 15 jul. 2020.

10Cf. https://library.syr.edu/digital/guides/a/amer_book_co.htm. Acessado em 21 de jul. 2020.

Recebido: 09 de Setembro de 2021; Aceito: 11 de Novembro de 2021

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