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Cadernos de História da Educação

On-line version ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.21  Uberlândia  2022  Epub Sep 13, 2022

https://doi.org/10.14393/che-v21-2022-120 

Dossiê 4 - Circulação transnacional de livros de leitura e de manuais pedagógicos (entre fins do século XIX e início do século XX)

Livros escolares para a escola elementar italiana nos dois lados do Atlântico: o estudo do Libro d’appunti de Giovanni Soli (entre o final do século XIX e início do século XX)

Libros escolares para la escuela primaria italiana a dos lados del Atlántico: el estudio de Libro d’appunti de Giovanni Soli (entre finales del siglo XIX y principios del siglo XX)

1Universidade Federal de São Paulo (Brasil). claudia.panizzolo@unifesp.br


Resumo

Entre as últimas décadas do século XIX e início do XX foram criadas várias escolas italianas na cidade de São Paulo, mantidas pelas famílias dos alunos e contando com os subsídios em livros, materiais e dinheiro enviados pelo governo italiano. Este artigo tem como objetivo compreender as políticas educacionais, a produção, a circulação e a distribuição de livros escolares para a península e escolas italianas no exterior, contemplando os enviados como subsídio que circularam no Brasil nos primeiros anos do século XX. Ancorado nas contribuições da História da Educação e na História Cultural e tendo a análise documental como procedimento adotado, o presente texto toma como fonte privilegiada o Libro d’appunti de Giovanni Soli, relatórios sobre as escolas em São Paulo, além de leis, correspondências, relatórios de cônsules, ofícios, despachos, circulares ministeriais e anuário das escolas italianas. Os livros são considerados artefatos culturais que se situam na articulação entre as prescrições impostas pelos programas oficiais e os discursos singulares dos professores.

Palavras-chave: Livros escolares; Escolarização italiana; Imigração italiana em São Paulo

Resumen

Entre las últimas décadas del siglo XIX y principios del XX, se crearon varias escuelas italianas en la ciudad de São Paulo, mantenidas por las familias de los estudiantes y contando con subsidios en libros, materiales y dinero enviado por el gobierno italiano. Este artículo tiene como objetivo comprender las políticas educativas, producción, circulación y distribución de libros de texto para la península y las escuelas italianas en el exterior, considerando los enviados como un subsidio que circuló en Brasil en los primeros años del siglo XX. Basado en los aportes de la Historia de la Educación y la Historia Cultural y teniendo como procedimiento adoptado el análisis documental, este texto toma como fuente privilegiada el Libro d'appunti de Giovanni Soli, además de los informes sobre las escuelas de São Paulo, así como las leyes, la correspondencia, los informes. de cónsules, despachos, despachos, circulares ministeriales y anuario de las escuelas italianas. El objetivo es investigar los libros como artefactos culturales que se ubican en la articulación entre las prescripciones impuestas por los programas oficiales y los discursos singulares de los docentes.

Palabras clave: Libros escolares; Escolarización italiana; Inmigración italiana en São Paulo

Abstract

Between the last decades of the 19th century and the beginning of the 20th, several Italian schools were created in the city of São Paulo, maintained by the students' families and relying on subsidies in books, materials and money sent by the Italian government. This article aims to understand educational policies, production, circulation and distribution of textbooks for the Italian peninsula and for Italian schools abroad, considering those sent as a subsidy that circulated in Brazil in the early years of the 20th century. Anchored in the contributions of the History of Education and Cultural History and having documental analysis as the adopted procedure, this text takes as a privileged source Giovanni Soli's Libro d'appunti, as reports on schools in São Paulo, as well as laws, correspondence, reports from consuls, official letters, dispatches, ministerial circulars and the yearbook of Italian schools. Books are considered cultural artifacts that are located in the articulation between the prescriptions imposed by the official programs and the professors' speeches.

Keywords: Schoolbooks; Italian schooling; Italian immigration in São Paulo

Introdução

Entre as décadas finais do século XIX e as três primeiras décadas do século XX é possível encontrar indícios de distribuição e circulação de livros italianos entre os imigrantes e seus descendentes (BARAUSSE 2015, 2016, 2021; LUCHESE, 2014, 2017; PANIZZOLO, 2016, 2018a, 2018b, 2019). Silabários, livros de leitura, de religião, de aritmética, de história pátria, de geografia, de cantos, de excertos literários entre outros que seguiam o programa curricular vigente na Itália, atravessaram o Atlântico para serem adotados nas escolas italianas em São Paulo.

A intenção neste artigo é compreender as políticas educacionais, a produção, a circulação e a distribuição de livros escolares para a península e escolas italianas no exterior entre fins do século XIX e início do século. Como foco de análise, o Libro d’appunti per gli alunni di terza, note di lingua, storia, geografia, diritti e doveri, aritmetica e nozioni varie1(Livro de anotações para alunos do terceiro ano; notas de língua, história, geografia, direitos e deveres, aritmética e noções variadas) de autoria de Giovanni Soli, publicado na Itália, autorizado a ser adotado nas escolas de diversas regiões da Itália e enviado ao Brasil, especificamente para São Paulo.

Ancorado nos referenciais da História Cultural e História da Educação e mobilizando o corpus conceitual em especial de Chartier (1994, 1996, 1998, 2004) acerca da produção e representação foram definidos os procedimentos, os instrumentos, as fontes e as direções de análise. A análise documental toma como fonte privilegiada além do Libro d’appunti, os relatórios de cônsules, ofícios, despachos, circulares ministeriais e anuário das escolas italianas.

O silabário, o livro texto, o livro escolar, o livro de leitura (terminologia que se altera ao longo do tempo e pela própria estrutura material) são compreendidos como fontes privilegiadas para a História da Educação por situar-se no entrecruzamento entre as prescrições impostas pelos programas oficiais e os discursos singulares dos professores (CHOPPIN, 2002). Neste sentido, os livros escolares podem ser tomados como artefatos culturais que produzem sentido e significado, como utensílios culturais que estabelecem elos e vínculos entre as estruturas mentais e as figurações sociais, ou no dizer de Elias (1994) entre a psicogênese e a sociogênese.

Chartier (2004) colabora ainda para a compreensão do processo de produção simbólica de um projeto civilizatório, que se dá pela via da edição e circulação de livros, e que favorece por meio da leitura que seja colocada em ação um conjunto de disposições voltadas à imitação e ao aprendizado a partir de uma matriz societária. Nesse sentido, os livros comportam os saberes elementares de ler, contar e escrever, bem como os padrões de condutas a serem seguidos pelas crianças.

Dessa forma, pergunta-se quais as políticas adotadas pelo governo italiano para o envio de subsídios para as escolas italianas? Quais os critérios de seleção adotados para a seleção dos livros a serem enviados, como subsídios à escola elementar? E especificamente quanto ao Libro d’appunti, qual a sua estrutura, seus conteúdos e como opera como ele entre os emigrantes e a Itália?

O texto está organizado em quatro seções: na primeira busca-se compreender as políticas educacionais para as escolas italianas no exterior; na segunda os subsídios enviados às escolas italianas de São Paulo, com ênfase aos livros escolares; na terceira ajusta-se o foco para a produção e a circulação dos livros de Giovanni Soli dos dois lados do Atlântico; na quarta empreende-se um estudo sobre a materialidade e os conteúdos da obra estudada, com vistas a conhecer a proposta educacional, bem como os valores nela prescritos.

As políticas educacionais para as escolas italianas no exterior

A temática das funções, finalidades e normas de funcionamento das escolas italianas no exterior esteve de acordo com Salvetti (2014), presente nas discussões político-educacionais desde as primeiras décadas pós-unificação, e para compreender as motivações do Estado Italiano em criar e manter vínculos com as escolas italianas no exterior se faz necessário considerar o projeto de construção de um Estado forte e de uma política externa que desse a ver tal poderio. Em artigo intitulado Scuole italiane all’estero: livro de leitura para as escolas italianas no Brasil, Panizzolo (2019a) iniciou uma aproximação aos ordenamentos legais da península itálica que buscavam estabelecer normas de funcionamento e de inspeção para as escolas italianas no exterior.

A primeira legislação que se refere às escolas italianas no exterior, de acordo com Floriani (1974) foi a do Ministro das Relações Exteriores Durando, no ano de 1862, que autorizava a criação de um colégio em Alexandria, no Egito. Nos anos subsequentes foram criadas escolas na Tunísia e em Constantinopla (1863), em Esmirna e Samos (1864), em Atenas (1865), em Galatz e Sarajevo (1866) e em Tessalônica (1868) que se organizavam em dois modelos, em escolas públicas inteiramente financiadas pelo governo italiano, e em escolas privadas confessionais ou laicas, comumente vinculadas a associações italianas no exterior, que poderiam receber subsídios do governo italiano, desde que respeitassem os programas e os métodos didáticos e se subordinassem ao controle dos Cônsules e inspeções ministeriais.

Desde a década de 1870, com a tomada de Roma pelo Estado italiano, e a “consequente falta de reconhecimento do Estado liberal italiano pela igreja” (SALVETTI, 2014, p.59) para usufruir do subsídio governamental, as escolas das missões religiosas no Exterior além de aceitar os programas, os manuais e as inspeções governamentais, deveriam ter em seus quadros professores laicos e que comprovassem titulação.

O Decreto Real nº 6.566, de oito de dezembro de 1889, de Francesco Crispi, chefe de governo e ao mesmo tempo Ministro das Relações Exteriores aprovou o ordenamento das Régias Escolas Italianas para a Bacia do Mediterrâneo e as escolas italianas no exterior. Dentre as principais características desse ordenamento encontram-se a ingerência direta do governo nas escolas elementares no que diz respeito aos professores, regulamentos e programas; a possibilidade de conversão das escolas governativas (mantidas pelo governo) em escolas subsidiadas; a criação de um setor de inspeção geral junto ao Ministério das Relações Exteriores e de direções centrais com sede no exterior; e torna possível a concessão de subsídios fixos às escolas italianas religiosas e laicas, desde que adotassem os programas e livros de texto indicados pelo governo e aceitassem a supervisão das autoridades escolares italianas (FLORIANI, 1974, p. 13-14).

Segundo a concepção de Crispi a emigração apresentava potencial de força da nação, além de apresentar as “condições de contribuir para o desenvolvimento do comércio exterior e, portanto, das exportações italianas, principalmente às Américas” (SALVETTI, 2014, p. 58). O aumento do número das escolas italianas no Exterior após a Reforma Crispi provocou, por conseguinte, o aumento de investimentos governamentais a elas destinados, ainda que tais subsídios permanecessem insuficientes para arcar efetivamente com o adequado funcionamento das escolas:

A rubrica “Subsídios às escolas italianas no exterior” passou de 270 mil liras em 1886-1887 a 1.033.710 em 1890-1891. Desse aumento, todavia bem pouco foi às sociedades de beneficência e de mútuo socorro que mantinham as escolas italianas no Exterior: as escolas subsidiadas, de fato, continuaram recebendo sempre quantias miseráveis em relação às suas conspícuas exigências (Ibid, p. 61).

A opção em subsidiar com recursos estatais a instrução dos italianos no exterior provocou muitas críticas e resistências, sobretudo, em meio ao movimento operário, ao que parece especialmente por dois motivos. O primeiro provavelmente pela não compreensão da amplitude do fenômeno de emigração, e o segundo motivo pela situação crítica do ensino público na Itália, que apesar das leis de obrigatoriedade escolar, em vigor desde 1859 com a Lei Casati, reiterada em 1877 pela Lei Coppino, apresentava alarmantes índices de evasão escolar e analfabetismo. Floriani (1974) transcreve um excerto da publicação de Mario Mariani em que afirmava:

Não se sabe por que nosso Governo continua a manter tais escolas [ italianas no exterior] quase como se não soubesse onde pôr o dinheiro, quase como se não houvesse suficiente ignorância e analfabetismo em casa a prover, sem querer agir como rico com países que não têm necessidade alguma nem das nossas ajudas, nem dos nossos subsídios. Que serviço prestam ou podem prestar as escolas italianas prestar na América é uma das muitas coisas que os contribuintes italianos nunca puderam saber ... etc., enquanto os seus filhos lutam tristemente entre a miséria intelectual e moral e morrem vítimas de pelagra e fome... (FLORIANI, 1974, p. 25-26).2

A Lei Crispi foi substituída pela Lei Blanc de 1894 que reitera a possibilidade de obtenção de subsídios em livros, materiais escolares e dinheiro, pelas escolas não governativas, ou seja, particulares, laicas ou confessionais, associativas etc. No entanto, dentre vários acréscimos, os que impactaram as escolas no exterior referem-se a difusão da língua e da cultura nacional, da educação e instrução dos italianos no exterior, por meio da fundação e manutenção de institutos governativos, mas também por meio de subsídios às instituições escolares não governativas; e a maior concentração de poder sobre as escolas nas mãos do cônsul, dos agentes consulares e da Deputazione scolastiche, comissão formada pelos notáveis do local.

A Lei Tittoni de 1910 passa a estabelecer o ensino religioso facultativo em horário extraclasse, reitera o financiamento às escolas confessionais que se submetessem às inspeções governamentais, mantem as escolas públicas na Bacia Mediterrânea e as escolas subsidiadas nas Américas, e determina ainda que desde que respeitados os princípios de uma educação patriótica dos italianos e a conservação do idioma, as escolas poderiam se adaptar às necessidades dos países onde estavam instaladas. Com a nova Lei, a contribuição às escolas subsidiadas continuava irrisória, permanecendo necessário para a sobrevivência, o apoio financeiro das Sociedades de Mútuo Socorro, conforme manifestado pelo próprio Ministro Tittoni:

A estas Sociedades de Mútuo Socorro da América do Sul- defendia o ministro Tittoni- eu devo manifestar toda a gratidão do Governo italiano. De fato, são elas que fundaram e mantêm a maior parte das nossas escolas; e os nossos subsídios, espalhados numa área tão vasta, ao invés de serem contribuição real e eficaz para as despesas, devem somente ser considerados como uma contribuição moral e um encorajamento (TITTONI apudSALVETTI, 2014, p. 71).

Com a Lei Tittoni às escolas italianas no exterior são atribuídas duas importantes funções, a primeira, a de oferecer educação e instrução aos emigrantes, para conservar o espírito nacional, e em segundo lugar devem difundir aos estrangeiros a língua e a cultura italiana, aumentando dessa forma o prestígio da Itália, ao mesmo tempo que favorecendo as relações comerciais.

Apesar das leis, a concentração maior de escolas continuou na África e na Europa, ainda que a imigração para lá fosse escassa. Houve aumento na América Latina, sobretudo, na Argentina e no Brasil, no entanto, aqueles recebiam subsídios mais significativos do que estes, que ironicamente recebiam imigração numericamente muito superior. No que diz respeito especificamente a São Paulo é possível flagrar aumento das escolas, ainda que os dados sejam esparsos e muitas vezes contraditórios. De acordo com os relatórios consular e ministerial do que constam data de criação das escolas, em 1887 havia uma única escola italiana, em 1893 eram 12; em 1901 era 43; em 1906 somavam 60 escolas, no entanto, quando se leva em consideração todas as escolas, mesmo as sem informações sobre data de criação o número alcança 156 escolas até 1910 (REGIO CONSOLATO GENERALE D’ITALIA IN SAN PAOLO, 1907; MINISTERO DEGLI AFFARI ESTERI, 1905).

As informações variam também nas publicações sobre as escolas. De acordo com Parlagrecco em 1906 em São Paulo estavam em funcionamento 92 escolas italianas (FANFULLA, 1906, p. 800). Conforme dados apresentados por Trento (2009) na cidade de São Paulo em 1908 estavam funcionando 80 escolas italianas. De acordo com o Anuário do Ensino do Estado de São Paulo (1909) existiam em funcionamento 85 escolas italianas na capital no ano de 1909, chegando em 1910 a 91 de escolas ( SÃO PAULO, 1910). Pepe (1916) baseado nos dados do Ministério do Exterior para o ano escolar de 1913-1914 afirma que havia na capital do estado de São Paulo 42 escolas italianas. Um número bem maior foi localizado por Trento (2009) que indica 121 escolas para o ano de 1913.

Os subsídios enviados às escolas italianas de São Paulo

As escolas italianas em São Paulo, criadas pela iniciativa privada, foram ao longo de sua existência, mantidas mediante algumas condições por recursos do governo brasileiro, por doações da Sociedade Dante Alighieri e por escassos subsídios enviados pelo governo italiano.

Com relação ao subsídio do governo brasileiro, destaca-se a política adotada pelo governo Rodrigues Alves, que estabeleceu a possibilidade de envio de livros e materiais escolares às escolas privadas que o solicitassem, desde que registrassem a escola na Diretoria Geral da Instrução Pública, por meio do preenchimento de declaração específica; da apresentação da lista contendo o nome dos alunos, com a indicação da condição de gratuidade, se fosse o caso; apresentação da listagem de materiais anteriormente fornecidos com suas respectivas datas de fornecimento; informações sobre as condições físicas do edifício e sobre seu funcionamento; informações sobre as aulas de língua portuguesa, da geografia e história do Brasil (PEPE, 1916).

O orçamento de 1910 “consignou uma verba de 445:900$000 para subvenção a 38 estabelecimentos de ensino preliminar na Capital e em diversas localidades do interior” (SÃO PAULO, 1909, p.119). Dentre os estabelecimentos subvencionados encontravam-se asilos, aulas noturnas e escolas preliminares, no entanto, nenhuma escola italiana. Cabe destacar que o governo auxiliava também os não subvencionados “fornecendo a muitos mobiliario e material escolar didactico” (Ibid, p.119), além de “algum material que facilite aos seus professores o ensino da língua portugueza, assim como o da geographia e história pátria.” (Ibid, p. 119). Talvez as escolas italianas tenham sido beneficiadas nessa condição.

Outra possibilidade de subsídio era proveniente da Sociedade Dante Alighieri sob a forma de materiais distribuídos às escolas italianas. Pepe (1916) relata a distribuição de cadernos, mapas, atlas, e mais de 4000 lire em mobiliário, conforme aponta o jornal O Estado de São Paulo:

Depois de tomar conhecimento de várias práticas internas, o conselho deliberou mandar distribuir, gratuitamente, pelos alumnos das escolas italianas desta capital, um número sufficiente de cadernos em branco, trazendo na capa o retrato de Dante e alguns dados sobre os fins que a sociedade propugna [...] O Conselho estabeleceu também a criação de uma commissao escolar de doze membros, os quaes serão nomeados, em número egual de quatro, pela federação das escolas italianas e pela União Magistral, as quaes serão convidadas para indicar os seus respectivos representantes. A commissão deverá auxiliar e coordenar a acção da Dante para o melhoramento das escolas italianas. Em seguida o conselho deliberou continuar o seu apoio a favor das escolas nocturnas, já existentes ou que serão constituídas, e patrocinar a realisação de conferências públicas por occasião de anniversarios patrióticos ou datas memoráveis. (O ESTADO DE SÃO PAULO, 31 de julho de 1909, p. 4).

E por fim, o subsídio mais aguardado, por ser considerado expressão de preocupação e de cuidado da pátria-mãe para com seus cidadãos, o subsídio vindo do governo italiano. Condição para o subsídio do governo italiano era aceitar a supervisão do régio cônsul-geral, e assim receber um auxílio em dinheiro ou em livros e materiais enviados ao Consulado ou adquiridos em São Paulo com os fundos colocados à disposição pelo Ministério das Relações Exteriores. Ainda assim, o subsídio enviado pelo Ministério das Relações Exteriores muitas vezes demorava a chegar, como se lê no ofício enviado pelo Cônsul: “Mas já estamos agora em meados de março de 1904 e ainda nada se sabe sobre o material e não recebi ainda uma resposta ao meu relatório de 14 de dezembro de 1903!”3 (DISPACCIO, 1904).

Os professores aguardavam ansiosamente por ele, inclusive solicitando-o insistentemente por meio de cartas endereçadas ao Consul, como se lê nos exemplos abaixo, enviados pelos proprietários das escolas Vittorio Alfieri e Dio e Patria respectivamente:

Para não ter a grande dor, de talvez ter que fechar a escola, nos voltamos suplicando à Vossa Excelência para que venha em ajuda, concedendo de modo extraordinário, um subsídio à Scuola Vittorio Alfieri (FRANCESCHINI, ofício,1 novembro 1899).4

Assim fazendo sacrifícios e que a cada dia são agravados pela competição implacável das escolas estrangeiras bem curadas e acolhidas pelo seu governo; sob o esquecimento absoluto das autoridades pátrias e a absoluta falta de subvenções ou subsídios que também poderiam ser aceitos, encorajando a missão do professor, que é difícil de todo, mas por muitas razões, aqui muito mais espinhosas e perigosas, os signatários não podem deixar de submeter à benignidade do Governo italiano a sua convicção de que, além de serem insatisfatórios e de muito precária, não lhes é assegurada a velhice que os aguarda ... "5(DALL’ACQUA, oficio, 28/04/1901).

Em meio a essas várias cartas dos professores clamando por ajuda financeira, há um documento indicando que no ano financeiro de 1891 duas escolas receberam um subsídio. A Scuola Sempre Avanti Savoia (do Francesco Pedatella) recebeu L5006, e a Scuola Regina Margherita (das irmãs Magrini) de L300. Um ano depois, no exercício financeiro de 1892-1893 essas escolas receberam novamente o subsídio, sendo para a Scuola Sempre Avanti Savoia L500, e para a Scuola Regina Margherita (irmãs Magrini), um pouco menos, L250 (DISPACCIO,7/03/1893; DISPACCIO 30/09/1891).

Depois de alguns anos, em relatório de 1903, o secretário Sebastiano Navasquez apresenta a situação das escolas, a atuação da Deputazione Scolastica por meio da criação de procedimentos tais como, o formulário de visita às escolas, a divisão das escolas a serem visitadas em zonas, bem como os nomes dos membros da Deputazione responsáveis por cada uma delas; um quadro síntese das visitas realizadas, das zonas a serem visitadas e o elenco de materiais escolares para o ano de 1903.

A lista é composta por livros de cinco autores, todos publicados na Itália e enviados para o Brasil. O primeiro autor é Marcello Zaglia, que consta da lista com seis livros indicados:

  • a) Sillabario di Mario e Lisa per l’insegnamento simultaneo della lettura e della scrittura compilato con la collaborazione della signora Rita Tessarin, publicado em Roma pela Società Editrice Dante Alighieri, em 1896, pelo custo de 15 cent.

  • b) Il Primo libro di Mario. Letture per la prima classe maschile a compimento del Sillabario, compilate per le scuole elementari maschili con la collaborazione della signora Rita Tessarin, publicado em Roma pela Società Editrice Dante Alighieri, em 1896, pelo custo de 25 cent.

  • c) Il Primo libro di Lisa. Letture per la prima classe femminile a compimento del Sillabario, compilate per le scuole elementari maschili con la collaborazione della signora Rita Tessarin, publicado em Roma pela Società Editrice Dante Alighieri, em 1896, pelo custo de 25 cent.

  • d) Il Secondo libro di Mario. Letture per la seconda classe maschile compilate secondo i vigenti programma governativi con la collaborazione di una valente educatrice- 4 edizione riordinata e correta, publicado em Roma pela Società Editrice Dante Alighieri, em 1898, pelo custo de 60 cent.

  • e) Il Secondo libro di Lisa. Letture per la seconda classe femminile compilate secondo i vigenti programma governativi con la collaborazione di una valente educatrice- 4 edizione riordinata e correta, publicado em Roma pela Società Editrice Dante Alighieri, em 1898, pelo custo de 60 cent.

  • f) Nozione di Grammatica

O segundo autor é Giovanni Soli com uma Série graduada com oito livros, além de outros sete livros indicados:

  • a) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la seconda classe elementare maschile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano,Enrico Trevisini editore, 1898, 60 cent.

  • b) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la seconda classe elementare femminile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano,Enrico Trevisini editore, 1898, 60 cent.

  • c) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la terza classe elementare maschile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano,Enrico Trevisini editore, 1898, 90 cent.

  • d) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la terza classe elementare femminile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano,Enrico Trevisini editore, 1898, 90 cent.

  • e) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la quarta classe elementare maschile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano, Enrico Trevisini editore, 1898, 1,30.

  • f) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la quarta classe elementare femminile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano,Enrico Trevisini editore, 1898, 1,30.

  • g) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la quinta classe elementare maschile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano,Enrico Trevisini editore, 1898, 1,40.

  • h) Cominciamo la vita! Libro di lettura per la quinta classe elementare femminile, colle occasioni per lo svolgimento del programma governativo 29 novembre 1894. Con illustrazioni dei pittori L. Edel- O. Ballerio- G. Grotta, publicado em Milano,Enrico Trevisini editore, 1898, 1,40.

  • i) I Racconti della Patria. Narrazione storiche educative per la IV classe elementare. Compilate in conformità dei programmi ministeriali 29 novembre 1894. Edizione illustrata da O.Ballerio. Publicado em Roma/ Milano, E. Trevisini, 1895, 40 cent.

  • j) I Racconti della Patria. Narrazione storiche educative per la V classe elementare. Compilate in conformità dei programmi ministeriali 29 novembre 1894. Publicado em Roma/ Milano, Editore E. Trevisini, 1900, 50 cent.

  • k) I diritti e doveri del cittadino italiano per la III classe elementare. Publicado em Roma/ Milano, Editore E. Trevesini.

  • l) I diritti e doveri del cittadino italiano per la IV classe elementare. Publicado em Roma/ Milano, Editore E. Trevesini.

  • m) I diritti e doveri del cittadino italiano per la V classe elementare. Publicado em Roma/ Milano, Editore E. Trevesini.

  • n) Libro d’appunti per gli alunni di III classe elementare- Note di lingua italiana, storia, geografia, diritti e doveri, Aritmetica e Nozione Varie- Editore Luigi Trevesini

  • o) Grammatica Italiana, conosci la tua lingua- nozioni- Editore Luigi Trevesini illustrata da O.Ballerio. Publicado em Roma/Milano, E. Trevesini, 1895, 40 cent.

O terceiro autor é Giuseppe Toti com três indicados:

  • a) Intelligenza e cuore. Lettture educative ad uso delle scuole elementari maschili secondo i vigenti programma ufficiali - 4ª classe. Publicada em Milano/ Palermo, por Remo Sandron editore, 1900, 1,20 cent.

  • b) Intelligenza e cuore. Lettture educative ad uso delle scuole elementari femminili secondo i vigenti programma ufficiali - 4ª classe. Publicada em Milano/ Palermo, por Remo Sandron editore, 1900, 1,20 cent.

  • c) Intelligenza e cuore. Lettture educative ad uso delle scuole elementari maschili secondo i vigenti programma ufficiali -5ª classe. Publicada em Milano/ Palermo, por Remo Sandron editore, 1900, 1,20 cent.

O quarto autor é Paolo Vecchia com um livro voltado aos professores:

  • a) Pedagogia educativa per i maestri di grado superiore- Editore G.B.Paravia.

O quinto e último autor indicado é Angelo De Gubernatis com um livro indicado:

  • a) La Patria Nostra. Libro di Lettura per le classe elementar superiori. Publicado em Roma, pela Società Editrice Dante Alighieri, em 1898, pelo custo de 1,50 cent. (RELATORIO DEL SEGRETARIO SEBASTIANO NAVASQUEZ, 1903).

A aprovação dos livros era realizada na Itália e tornada pública por meio de Circular Ministerial, a que antecede a lista publicada em São Paulo é a de 24 de setembro de 19007, nº 75 acerca dos livros textos para as escolas elementares. Nela consta que dentre os livros listados acima de Zaglia, os cinco primeiros foram aprovados e o último livro não consta dentre os aprovados. Quanto aos livros de Soli, com exceção dos últimos cinco livros, todos os demais foram aprovados. Todos os livros de Toti e o De Gubernatis foram aprovados. A obra de Vecchia não consta entre as aprovadas.

Os livros chegaram no mesmo ano de 1903 e foram distribuídos entre os Consulados de São Paulo e os vice-consulados de Santos, Campinas, São Carlos do Pinhal, Ribeirão Preto para serem enviados às escolas. Na tabela 1 são apresentados os dados referentes à São Paulo:

Tabela 1 Livros escolares distribuídos em 1903. 

Nome do livro Sillabario (3000) Grammatica Italiana (920) Libro d’appunti (500) I Racconti della Patria
(370)
I diritti e i doveri
III (48)
IV (150)
V (112)
Intelligenza e cuore
IV (650)
V (250)
Pegagogia Educativa (200)
Nome da escola
Dante Alighieri (Luigi Basile) 25 0 5 2 III - 0
IV - 1
V - 0
0 1
Scuola Italiana (Tereza Sarti) 50 0 1 1 III - 0
IV - 1
V - 0
0 1
Scuola Italiana (Maria R. Chiozzi) 50 0 1 2 III - 0
IV - 0
V - 1
0 0
N/l (Domenica Guiliani) 15 0 0 1 III - 0
IV - 1
V - 0
0 1
Regina Margherita (Emilia e Alda Magrini) 200 10 20 30
III -1
IV - 1
V - 1
0 2
L’Educatore Italiano (Luigi Lievori.) 20 0 20 20 III - 1
IV - 1
V - 1
IV - 20
V - 10
2

Fonte: Tabela criada pela autora a partir do DISPACIO, 1903.

Conforme se vê na tabela 1 o número de livros distribuídos ficou muito aquém das necessidades da comunidade escolar italiana, excluindo a maior parte das escolas, e fornecendo um número pífio de exemplares para as contempladas.

Para o exercício financeiro de 1904-1905 quatro escolas foram beneficiadas com subsídio em dinheiro. Receberam L500 a Scuola Dio e Patria (de Elvira e Cipriano Dall’Acqua), a Scuola Regina Margherita (das irmãs Magrini) e a Scuola Principe di Piemonte (de Emma e Luigi Lievore); e de L200 a Scuola Immacolata (de Alfonsina Ardinghi) (DISPACCIO 6/01/1906).

Em meio a tantos documentos solicitando subsídio há um deles datado em 1904, enviado ao Consul Gherardo Pio di Savoia pelo secretário Sebastiano Navasquez, em que apresenta o Parecer emitido pela Deputazione Scolastica composta por proeminentes italianos que viviam em São Paulo: Giuseppe Matarazzo (industrial), Edoardo Loschi (engenheiro), Enrico Secchi (industrial), Enrico Misasi (agente da bolsa), G. Battista Garolfi (engenheiro e professor), Gaetano Pepe (comerciante), Edoardo Barra (banqueiro), Girolamo De Rossi (representante do Consulado). Nesse documento foram analisadas 55 escolas e o Parecer é de conceder subsídio financeiro de L100, livros, cadernos e 6 quadros murais para a Scuola Umberto I (de Blandina Versolato Bresolini); subsídio financeiro de L100 para a Scuola Dio e Popolo (de Giovanni Cardo); livros e cadernos para 41 escolas; refazer a visita em 7 escolas por terem se apresentado pouco satisfatórias; e foi negado o subsídio para 5 escolas, consideradas péssimas. No documento não há nenhuma menção sobre os critérios adotados (DISPACCIO DEL SEGRETARIO SEBASTIANO NAVASQUEZ DEL 1 MARZO 1904).

Em 1905 o subsídio foi distribuído para seis escolas. A Scuola Regina Margherita (das irmãs Magrini), a Scuola Dio e Patria (de Elvira e Cipriano Dall’Acqua) e a Scuola Principe di Piemonte (de Emma e Luigi Lievore) receberam L500 cada; a Scuola Immacolata (da Alfonsina Ardinghi) L 300; a Scuola Giuseppe Garibaldi (do Vincenzo Robertiello) L200; e a Scuola Orazio Coclite (do Filippo Cerri) L100 (MINISTERO DEGLI AFFARI ESTERI, 1905).

Um ano depois, um novo documento foi publicado apresentando critérios para a distribuição de subsídios. Trata-se em verdade, de um estudo, de uma proposição e não efetivamente de atribuição de recursos. Segundo o documento Mapa com as notas para o subsídio, de 1906 são critérios a serem adotados:

  • a) Ser professor licenciado- se for de grau inferior 150 pontos; grau superior 300 pontos;

  • b) Conduta do professor- considerar se não há envolvimento em escândalos na imprensa e em polêmicas. Valor de 400 pontos;

  • c) Ano de fundação- de 1 ano a três: 50 pontos; de 3 anos: 100 pontos; de 4 anos:120 pontos; de 5 anos: 140 pontos; de 6 anos: 160 pontos; de 7 anos: 180 pontos; de 8 anos a mais: 200 pontos;

  • d) Número de alunos- até 25 alunos: 50; de 26 a 50 alunos:100; de 51 a 75 alunos:150; de 76 a 100 alunos: 200; de 101 a 125 alunos: 250; de 126 a 150 alunos: 300;

  • e) Higiene do local;

  • f) Sem interrupção de funcionamento;

  • g) Juízo geral do Professor (REGIO CONSOLATO GENERALE D’ITALIA IN SAN PAOLO, 1906).

Ainda em 1906, o subsídio foi distribuído atendendo quase integralmente as orientações propostas. De acordo com os critérios estipulados, 4 escolas obtiveram entre 1750 e 1650 pontos, e receberam L500; das 10 escolas que obtiveram entre 1600 e 1400 pontos, apenas 6 receberam L300; das 25 escolas que obtiveram entre 1300 e 1050 pontos, 22 receberam L200; e dentre as 15 escolas que ficaram abaixo de 1050 com o parecer de subsídio negado, 2 receberam L100.

A adoção desses critérios recebeu muitas críticas, inclusive de Gaetano Pepe, membro da Deputazione Scolastica que participou de comissões avaliativas no ano de 1904. Em seu livro intitulado La scuola italiana in San Paolo del Brasile, publicado em 1916 argumenta ser inadequado atrelar o subsídio ao número de alunos e de professores das escolas:

No Anuário publicado pelo Ministério das Relações Exteriores para 1913-1914, constam 6376 meninos e 2451 meninas. Mas, considerando que os dados de tais publicações oficiais são fornecidos pelos próprios professores, é claro que é preciso ter em conta aumentos, alguns por amor-próprio e por desejo de maiores subsídios8 (PEPE, 1916, p.65-6).

O autor comenta sobre os subterfúgios adotados pelos proprietários das escolas, que aumentavam o número de estudantes e professores das escolas, como forma de obter uma melhor pontuação, e assim, mais recursos financeiros e materiais: “um professor tem todo o interesse de elevar a enésima potência seu corpo discente e faça passar por seus colegas a sua esposa, seus filhos, sua empregada, se tiver, e talvez algum compadre9 (Ibid, p.65-6). Tais desvios eram segundo Pepe (1916) ocasionados de um lado pela própria negligência do Cônsul, em distribuir sem fiscalizar, e por outro lado, pelo abuso dos professores, por conceder informações falsas.

Pepe (1916) criticou duramente o modo de processar a divisão do subsídio adotado pelo cônsul e o valor distribuído, que mais se assemelhava a esmolas, exemplificando que para uma escola com 50 alunos, o subsídio seria de 260 liras, o que não pagaria sequer o aluguel de metade do mês. Segundo o autor a divisão deveria ser proporcional, de modo a respeitar as condições físicas das escolas e os méritos didático-pedagógicos dos professores.

Cônscio da situação e das muitas críticas, no ano de 1907 o Cônsul escreve um documento para o Ministro das Relações Exteriores justificando as medidas que tomou com a finalidade de melhor atender às demandas das escolas italianas:

Limitei a distribuição a apenas as três classes inferiores, sendo materialmente impossível fazer frente às necessidades das duas classes superiores, e também porque me parece que, dada a natureza de nossas escolas, e a capacidade muito relativa da maioria dos professores, é melhor tender a ajudar e melhorar o ensino elementar inferior que é suficiente para combater o analfabetismo, em vez de desperdiçar nossas forças para ter classes elementares superiores incompletas e deficientes que acrescentariam pouco ou nada ao nível de educação alcançado no nível inferior10 (DISPACCIO, 3/04/ 1907).

Após essa decisão político-pedagógica de concentrar os parcos recursos no ensino elementar inferior11, sobretudo, como uma estratégia de combate ao analfabetismo, neste mesmo ano a distribuição de livros teve seu espectro aumentado, passando de 6 escolas do ano anterior, para 51. Os livros distribuídos foram reduzidos em variedade, mas significativamente ampliados em quantidade. Foram distribuídos para as escolas da cidade de São Paulo, 1.904 exemplares do Sillabario di Mario e Lisa; 1.904 exemplares do Il Primo libro di Mario e do Il Primo libro di Lisa; 1.003 exemplares do Cominciamo la vita! Libro di lettura per la seconda classe; 849 exemplares do Cominciamo la vita! Libro di lettura per la terza classe. Foram acrescidos a lista de livros publicada em 1906, mais três livros12 e deles distribuídos 1.878 exemplares de Raccontini per la prima classe, 1.308 exemplares de Lezioncine d’aritmetica e 846 exemplares do Mannualetto per la terza classe.

A produção e a circulação dos livros de Giovanni Soli dos dois lados do Atlântico

Na obra Dizionario biográfico dell’ Educazione 1800- 2000 organizada por Giorgio Chiosso e Roberto Sani (2013) há verbetes dedicados a professores, diretores, administradores públicos e autores de livros escolares. Dentre eles, o de autoria de Luisa Lombardi (2013) sobre Giovanni Soli. Segundo a autora, Soli nasceu em 29 de julho de 1864 em Vignola, e morreu em 10 de dezembro de 1917 na cidade de Pavullo, ambas cidades na região de Modena, na Emilia-Romagna (Itália). Cursou o ginasial e a Escola Normal na Reggio Emilia. Junto à Universidade de Bologna cursou a habilitação para ensinar língua italiana na escola média. Lecionou em escola elementar de Modena e em escola técnica nas cidades de Nizza Monferrato, Legnago, Mantova e Modena. Em 1911 em Pavullo criou e dirigiu a escola técnica e o instituto florestal. Ocupou ainda cargos administrativos, como o de “deputato di vigilanza nelle scuole elementari” (p. 527) na capital Modena, que seria o equivalente a um inspetor escolar; foi membro da Academia virgiliana13; desenvolveu atividades junto à “università popolare” de Modena, que era uma associação de promoção social cujas finalidades destinavam-se ao campo cultural e de formação, em um sentido mais amplo, não escolar; foi presidente da “Società Magistrale” da região de Modena, o equivalente à uma associação dos professores; ocupou ainda, o cargo de assessor de educação da prefeitura de Modena.

Além de exercer o magistério e diversas funções administrativas, Soli dedicou-se à escrita de vários livros escolares para a escola elementar e secundária, como livros de leitura, de geografia, de direitos e deveres, de língua italiana, de contos históricos publicados pela casa editora Trevisini de Milano. Dedicou-se à editoria da revista para professores “Il Pensiero educativo”; publicou textos aos pais, Come educare i nostri figlioli (Como educar os nossos filhinhos), Del principio di autorità nella Scuola e nella famiglia (Dos princípios de autoridade na escola e na família); e textos pedagógicos, Malinconie pedagogiche (Melancolia pedagógica), Svecchiamo il metodo! (Vamos modernizar o método!). Escreveu ainda poesias para crianças em seus livros de leitura, periódicos didáticos, em duas obras específicas, Musa fanciullesca (Musa infantil) e Versi pei ragazzi (Versos para meninos) e sob o pseudônimo de Livio Falconieri, Pochi versi (Poucos versos) e Voci Buone (Vozes boas).

No que diz respeito aos livros destinados à escolarização das crianças, a produção de Soli foi aprovada para ser adotada nas escolas da península italiana e nas escolas italianas no exterior. Barausse (2008) em sua obra Il libro per la scuola dall’Unità al fascismo; la normativa sui libri di testo dalla legge Casati alla Riforma Gentile -1861-1922 (O livro para a escola da Unificação ao fascismo; a normativa sobre os livros de texto da Lei Casati à Reforma Gentile- 1861-1922) oferece um amplo e detalhado repertório das circulares ministeriais e dos elencos dos livros aprovados. Nela encontra-se a Circular Ministerial n. 74, de 03 de setembro de 1898 que aprovara a série Cominciamo la vita! (Começamos a vida!) para o segundo, terceiro, quarto e quinto anos, com livros destinados às classes femininas e masculinas, e o livro I Racconti della Patria (As histórias da Pátria) para o quarto e quinto ano. A Circular Ministerial n. 68 de 3 de outubro de 1899 reitera a aprovação anterior e a Circular Ministerial n. 75 de 24 de setembro de 1900 reitera as duas circulares anteriores, com o acréscimo da obra Torniamo ai campi! Letture per le scuole rural (Voltamos aos campos! Leituras para a escola rural!) para o segundo e terceiro ano masculino e feminino.

Os livros foram também aprovados e indicados, por meio da Circular Ministerial n. 18 de 1º de março de 1905 para adoções específicas em determinadas províncias, conforme se vê no quadro 1:

Quadro 1 Aprovação dos livros de Giovanni Soli para as províncias italianas 

Genova Venezia Ascoli Piceno Siracusa Pisa Potenza Caserta Reggio Calabria Como Parma Firenze Cuneo Ancona Catânia Cremona Lecce Chieti Pesaro-Urbino
Sillabário X X X X X X X X X X X X X
Compimento X X X X X X
Cominciamo X X X X X X X X X X X X X X
X X X X X X X X X X X X X X
X X X X X X X X X X X X X X
X X X X X X X X X X X X X X
I racconti X X X X X X X X
X X X X X X X X X
X X X X X X X X X X
Libro d’appunti X X X X X X X X X
Conosce tua lingua X X X X X
X X X X X X X
I doveri / diritti X X
X
X
Lingua nostra X X X
X X X X X
X X X
X
X

Fonte: Quadro construído pela autora a partir de Barause (2008).

‘Libro d’apuntti per gli alunni di terza’: e as notas sobre língua, história, geografia, direitos e deveres, aritmética e noções várias

O Libro d’appunti per gli alunni di terza; note di Lingua, Storia, Geografia, Diritti e Doveri, Aritmetica e Nozioni Varie (Livro de anotações para alunos do terceiro ano; notas de língua, história, geografia, direitos e deveres, aritmética e noções variadas) tomado como objeto de estudo neste artigo é de 1905, uma quinta edição da obra. Estruturado de modo diverso das outras obras do autor, sem indicação específica se para meninos ou meninas é composto por 99 páginas distribuídas por 6 capítulos ou seções. O livro não tem imagens com exceção de um mapa da Itália ao final da obra.

Na capa (ver figura 1) constam o nome do autor Giovanni Soli, o título ‘Libro d’appunti per gli alunni di terza; note di lingua, storia, geografia, diritti e doveri, aritmetica e nozioni varie’; a informação de que a publicação está em conformidade com o programa ministerial vigente, exigência imposta às casas editoras pelas circulares ministeriais; logo abaixo o símbolo da casa editora, a ‘Libreria Editrice E. Trevisini’, de propriedade de Luigi Trevisini, situada em Milano; e o ano da publicação, 1905. Na sequência a página de rosto reitera todos os mesmos elementos:

Fonte: SOLI, 1905, capa

Figura 1 Capa do Libro d’appunti  

Intitulado Due parole (Duas palavras), a apresentação e recomendação do editor impõe uma crítica à educação italiana, no que se refere à memória, que teria sido abandonada pela escola e seus professores, e propõe que o Livro de anotações seja um retorno ao que se aprende e guarda na memória:

Que se memorize o que não se entende, hoje ninguém espera mais; mas talvez seja errado pedir que as noções bem compreendidas e bem aprendidas sejam então confiadas à memória, para se consolidarem cada vez melhor na mente? Nós não acreditamos. Parece-nos que um livrinho no qual estão expostas é muito útil para o aluno manter sempre vivo no pensamento o pouco que aprendeu, porque de vez em quando pode assim voltar às coisas que memorizou14 (TREVISINI InSOLI, 1905, p.2).

O editor apresenta Giovanni Soli como autor consagrado de tantas outras obras publicadas pela mesma cada editora e muito difundidas nas escolas italianas. E por fim, apresenta o objetivo pensado para a obra, de poupar o professor de ditar os pontos aos alunos, que muitas vezes após copiarem com erros, os memorizam.

Essa apresentação inicial do editor é importante para a decifração do livro. Tal como afirmou Chartier (1998) “O livro sempre visou instaurar uma ordem; fosse a ordem de sua decifração, a ordem no interior da qual ele deve ser compreendido ou, ainda, a ordem desejada pela autoridade que o encomendou ou permitiu a sua publicação” (p.8). Essa ordem é bastante evidenciada nas palavras do editor, quer seja na crítica que faz a um determinado modo ou método de ensino em que a memorização é abandonada, quer seja na proposição do uso da obra. Ao invés de ditado, indica práticas de memorização dos conteúdos ou de parte deles, o que implica em definir (ou ao menos tentar fazê-lo) as condutas pedagógicas dos professores, que não mais realizariam ditados, porque os textos já se encontrariam impressos, mas dedicariam tempo diário para propor o estudo continuado de tais textos, tendo por objetivo sua fixação na memória dos alunos. A ordem do editor alcança também os alunos, que teriam nesses textos os saberes fundamentais a serem incorporados em seus corações (o que usualmente se diz saber de cor, ou seja, de cuore, que traduzido é coração) e consequentemente guardados em suas memórias. Essas Duas palavras do editor operam como uma recomendação de como ler e se apropriar do livro, o que Chartier (1996) denominou como panóplia de narrativas que funcionariam como “uma maquinaria [que] deverão [sic] produzir efeitos obrigatórios, garantindo boa leitura” (p. 96). E por fim, mas não menos importante, o editor credencia Soli, apresentando-o como autor de tantas outras obras, cuja relevância se faz notar por sua adoção nas escolas. Com isso confere autoridade ao autor.

Retornando à estrutura do livro, em sua contracapa, a editora divulga obras de sua publicação, com destaque aos livros do próprio Giovanni Soli, I racconti della Patria (Os contos da Pátria), Cominciamo la vita! (Começamos a vida!) e Conosci tua lingua (Conhece a tua língua), indicando o público destinatário e o custo de cada uma das publicações.

O livro é organizado em seis seções ou capítulos, gramática, história, noções de geografia, noções de deveres e direitos, noções de aritmética e por fim, noções variadas. A primeira seção, a de gramática é organizada em 18 subitens que apresentam pequenos textos contendo noções básicas de gramática; orientações sobre a pronúncia e a escrita das palavras; acentuação e pontuação; explicações sobre os substantivos, seus gêneros e número; adjetivos, pronomes, advérbios e preposições; verbos e seus tempos, conjugações e modos, com ênfase para o verbo ser e existir, além de exemplos de conjugação verbal. No início da sessão o autor afirma que “cada bom cidadão tem o dever de aprender a língua nacional, isto é, aquela que é falada pelas pessoas instruídas e que se lê estampada nos livros”15(TREVISINI InSOLI, 1905, p. 3). Merecem destaque os verbos escolhidos pelo autor para exemplificar os tempos e modos verbais. Para o ensino do verbo ser, o complemento obediente: sou obediente, era obediente, fomos obedientes etc.; para ensinar o verbo ter, o complemento do amor ao estudo: eu terei amor ao estudo, nós tivemos amor ao estudo, eu tenho amor ao estudo etc.; para o ensino dos verbos irregulares, as escolhas também não são fortuitas, assim se teme a Deus e se foge do mal nos modos indicativo, conjuntivo e imperativo, em todas as pessoas e tempos verbais, conforme figura 2.

Fonte: SOLI, 1905, p. 19.

Figura 2 Exemplos de conjugação do verbo avere (ter) 

A seção de Gramática permite compreender como uma realidade é construída e pensada a partir das representações sociais determinadas pelos interesses dos grupos que as criam e que, portanto, não são neutras, ao contrário, são conduzidos por estratégias que visam legitimar seus discursos. Chartier (1994) as define como um conjunto de “[...] representações coletivas que incorporam nos indivíduos as divisões do mundo social e estruturam os esquemas de percepção e apreciação a partir dos quais estes classificam, julgam e agem” (p. 104). Soli não tergiversa, ao contrário, expressa com clareza as expectativas depositadas nas crianças, de que sejam obedientes, tementes a Deus, que fujam do mal, que amem o estudo, conheçam, falem e escrevam o idioma italiano corretamente, para que se tornem cidadãs do bem, ao mesmo tempo em que deixa implícito que não conhecer a língua italiana, ou conhecer outra que não a italiana, provavelmente o dialeto seria característica de pessoa inculta, sem instrução.

A segunda seção é destinada às noções de história da Itália. Ao longo de 13 páginas, o autor narra episódios considerados importantes para a passagem de uma Itália que vivia na escravidão para o Risorgimento Nazionale (Ressurgimento Nacional). A escravidão é explicada por muitas regiões estarem sob jugo de príncipes estrangeiros, o que impunha ao povo a condição de súdito, de escravos e não de cidadãos. O Risorgimento seria a passagem da escravidão para a liberdade, e foi possível, sobretudo por quatro motivos, as conspirações, as insurreições, as guerras por independências e os plebiscitos.

As conspirações se organizaram em torno de sociedades secretas formadas por “patriotas, isto é, por pessoas que amavam sua pátria”16 (SOLI, 1905, p. 28), dentre as sociedades duas se destacaram, a Carbonari e a Giovinne Italia. Na sequência apresenta alguns patriotas, como Michele Morelli, Giuseppe Silvati, Santorre di Santarosa, Federico Confalonieri, Ciro Menotti, Andrea Vochieri, Attilio Bandiera, Emilio Bandiera, e o mais ilustre deles, Giuseppe Mazzini, todos homens que lutaram para tornar a Itália livre. As insurreições são as de Palermo, Milano e Venezia, apresentadas pelo autor como levantes em que a população se rebelara contra a tirania austríaca tentando instituir um governo italiano. Após as insurreições, Soli (1905) apresenta as várias guerras pela independência, destacando a campanha de 1848, 1849 e 1859 e seus grandes heróis Carlo Alberto, Vittorio Emanuele II, Camilo Cavour. Após a liberação das regiões de seus domínios estrangeiros, “faltava, todavia, às populações um governo, e foram convidados a escolhê-lo por meio do voto "17(p. 35), processo denominado plebiscito. Nessa seção merecem lugar de destaque Giuseppe Garibaldi, apresentado como herói, rei Vittorio Emanuele II e rei Vittorio Emanuele III, ambos apresentados como bondosos, cumpridores de seus deveres para com a pátria e amados pelo povo italiano. Um exemplo é o desenvolvimento vivido pela Itália sob o reinado de Vittorio Emanuelle II: “... durante o reinado de Vittorio Emanuele II, muitas escolas foram abertas na Itália, ferrovias foram construídas, fábricas surgiram; a indústria e o comércio desenvolveram-se em pouco tempo, e a nação tornou-se industriosa e rica18” (p. 38).

Ao longo da seção as descrições de tantos italianos patriotas e heróis nacionais, desempenham o papel de unificar o país, por meio da construção de uma imagem idealizada, de uma representação com vistas a congregar diversos espaços e, sobretudo, unir o povo de diferentes regiões da península, em torno de uma mesma moeda, bandeira, lei e língua, sonho almejado pelo Risorgimento. Considerando que “a leitura não é somente uma operação abstrata de intelecção; ela é engajamento do corpo, inscrição num espaço, relação consigo e com os outros” (CHARTIER, 1998, p. 16-7), nessa seção Soli (1905) elegeu o Risorgimento como elo unificador dos italianos na península e fora dela.

A terceira seção do livro é dedicada às noções de Geografia. O autor organiza o texto em torno de duas temáticas, uma bastante geral sobre corpos celestes, suas formas, grandeza; movimentos da terra, pontos cardeais, cartas topográficas; e uma segunda temática, voltada à Itália, suas características geográficas, como montanhas, mares, rios, lagos, golfos, ilhas, canais, vulcões etc; suas fronteiras; a organização político-administrativa em regiões; os produtos naturais, animais e minerais, a indústria e o comércio. Nas duas últimas páginas do livro tem um mapa colorido da Itália (figura 2), que provavelmente era utilizado para facilitar a compreensão das temáticas dessa seção.

Fonte: SOLI, 1905, p. 98-99

Figura 3 Mapa da Itália 

Nesta seção o autor retoma a questão da presença estrangeira em território nacional, e afirma que “a Itália não está totalmente livre de domínios estrangeiros. Algumas de suas partes dependem ainda hoje de outros governos”19 (SOLI, 1905, p.50). O domínio estrangeiro é portanto, apresentado como impeditivo de uma liberdade plena em todo o território nacional. Nessa mesma seção, em 4 linhas Soli (1905) menciona a posse italiana na África, da Colonia Eritrea e da Costa del Benadir, sem mencionar no entanto, nenhuma vez as palavras domínio e liberdade: “A Itália tem alguns trechos de terra na África que levam o nome de Colonia Eritrea, e um longo trecho de costa no Oceano Índico, que é chamado de Costa del Benadir”20 (p. 51).

Os pequenos textos explicativos voltados aos saberes da Geografia oferecem aos leitores do terceiro ano, além das noções gerais sobre os temas anteriormente indicados, a valorização da geografia da Itália, sobretudo em seus aspectos físicos, mas também humanos, naquilo que é cultivado, produzido, industrializado e comercializado pelos compatriotas, como uma forma de unificar o povo, por meio do conhecimento e da valorização dos recursos naturais e da produção humana, nas diversas regiões da península.

A quarta seção do livro é dedicada às noções de deveres e direitos. Soli (1905) apresenta o dever como aquilo “que se deve fazer; ou seja, a obrigação de fazer o bem e abster-se do mal”21 (p. 64). Começa o texto pelos deveres com a própria pessoa, como manter o corpo saudável, por meio da limpeza e obedecendo os conselhos dos médicos, professores e pais. A escola ocupa lugar relevante, “a mente conhece as coisas estudando; estudar é nosso dever”22 (p. 54). A fim de que ninguém falte com esse dever, em todas as cidades, segundo o autor, tem escola. Em seguida, o dever de ajudar os outros; o dever de amar, obedecer, respeitar os pais e socorrê-los quando necessário; o dever de amar, corrigir amorosamente, ajudar os irmãos; dever de frequentar a escola, além de obedecer e estimar os professores; o dever de amar e estimar os amigos; o dever de respeitar a liberdade e a moral do próximo; e por fim, o dever de amar a Deus, e assim não blasfemar, roubar, assassinar e mentir.

Soli (1905) continua o texto explicando as definições e características da cidades, da regiões, do estado, do governo e da pátria, assim definida:

A pátria é a terra onde nasceram os nossos pais e onde nós nascemos, onde todos os habitantes falam a mesma língua, onde as pessoas têm as mesmas memórias e as mesmas esperanças. Nossa pátria é a Itália. O estado não representa apenas os interesses de todos os cidadãos; mas também a pátria23 (p. 60).

Para com a pátria o autor ensina que é preciso obedecer as leis, respeitar as autoridades, pagar os impostos e tributos e participar da ‘coisa pública’. Segue afirmando que para cada dever corresponde um direito, sintetizados na igualdade de todos perante a lei, na liberdade individual, na inviolabilidade do domicílio, na liberdade de pensamento, de manifestação e de culto religioso, de reuninir-se e associar-se, de propriedade, de participação no processo eleitoral e de conconcorrer a cargos públicos.

O autor segue a mesma estrutura dos livros de leitura da época, como Piccolo Mondo24, escrito por Romagnoli e Albertoni na Itália. Parte-se do conhecido, do familiar, ou seja do respeito ao próprio corpo, aos pais, professores, amigos, para a pátria. Dos pequenos textos a serem aprendidos e memorizados pelos alunos emergem normas de convivência social e regras de condutas individuais e coletivas consideradas à época os pilares de uma sociedade ‘moderna’. Ao invés de descrever a sociedade, Soli (1905) intenta transformá-la, por isso a insistência na construção da imagem de crianças obedientes, higiênicas, cumpridoras de deveres e tementes a Deus.

A quinta seção é destinada às noções de aritmética com conteúdo sobre números inteiros, numeração, escrita dos números, leitura dos números, as quatro operações; números fracionários, operações com decimais; sistema métrico decimal; medidas de superfície, de volume, de capacidade, de peso e de valor. Essa seção é acompanhada por várias tábuas de adição, subtração, multiplicação, divisão, de Pitágoras dentre outras. Bastante específica ao saber da matemática, trata de ofertar saberes da aritmética, sem acréscimo de elementos que expressem valores ou condutas a serem adotadas pelos alunos.

A sexta e última seção denominada noções variadas dedica-se à apresentação de breves textos sobre assuntos diversos, mas que guardam relação com a atividade humana. Nesse sentido são contempladas a divisão do tempo, minutos, horas, dias, meses, anos, séculos e milênios; instrumentos para a medida do tempo, relógios, pêndulos, calendários; corpo humano e seus cuidados higiênicos, suas funções, a nutrição, os órgãos dos sentidos; a classificação do mundo animal, vegetal e mineral; as propriedades físicas dos corpos; fenômenos físicos, luz, som, eletricidade; as manifestações humanas voltadas às artes, à produção industrial e comercial.

Por meio de textos descritivos, o autor apresenta o ensino científico e a valorização das Ciências Naturais. Busca fornecer noções básicas aos alunos, recorrendo nos exemplos aos elementos da cultura italiana, por exemplo, recomenda que o milho que faz a polenta seja colhido na época correta para evitar a pelagra, que a polenta salgada adequadamente para evitar problemas de saúde, etc. A natureza é apresentada harmoniosamente organizada e classificada, com um funcionamento eminentemente prático.

Considerações finais

Na publicação Il Brasile e gli italiani, Carlo Parlagrecco (1906) afirma que as escolas italianas em São Paulo, apesar de serem numerosas e muito frequentadas, não são quantitativamente suficientes para o número de imigrantes que habitam a localidade. O autor destaca ainda o empenho dos proprietários em mantê-las em funcionamento, quase sem apoio do governo. Sobre os subsídios tece uma contundente crítica:

O Ministério das Relações Exteriores tem o hábito de enviar, a título de subsídio, às escolas italianas no exterior um material escolar sem condições de uso, selecionado sem critério didático, um verdadeiro restolho de publicações que por proteção a funesta política incumbida de realizar a administração pública, se encontra sempre à disposição do Ministério da Instrução Pública. Este material sempre obtido com grande e muitas vezes humilhante dificuldade fez mais de uma vez rir os cidadãos brasileiros, assim cuidados com o progresso de sua escola primária, e fez acreditar que a nossa escola seja inferior a de outras nações da Europa (p. 799)25.

A afirmação de Parlagrecco, no que se refere ao envio de ‘restolho’ não se sustenta. Os livros que constam na lista de materiais escolares do Consulado de São Paulo, que foram distribuídos como subsídio às escolas italianas eram livros recém-publicados. Constavam de Circular Ministerial que autorizava o uso nas escolas da Península, foram aprovados para adoção em várias regiões da Itália no mesmo período em que foram enviados ao Brasil, para distribuição pelo Consulado às escolas em São Paulo. Embora ainda não se saiba como foi elaborada essa seleção, quais os critérios adotados, como se dava a relação entre o Ministério das Relações Exteriores e as casas editoras, pode-se afirmar com segurança, que o livro adotado do lado de cá do Atlântico era o mesmo autorizado para ser adotado do lado de lá do Oceano.

O Libro d’appunti (Livro de anotações) compunha juntamente com os livros de leitura, as narrações históricas educativas, o livro sobre direitos e deveres do cidadão italiano e a nova gramática os materiais voltados à escolarização das crianças na península itálica, mas também das que imigraram e as filhas de italianos. Com esses livros estudavam nas escolas elementares e tinham acesso à leitura, aos ensinamentos morais, cívicos, patrióticos, de ciências naturais e história. Aprendiam a ler lendo um determinado padrão de conduta e aprendiam a amar a pátria lendo pequenas historietas, notícias biográficas e excertos de leitura sobre importantes episódios da história que contribuíam para a formação do amor à Pátria. Cabia a esses livros o desafio de edificar na recém-unificada Itália a ideia de Pátria como o lugar onde as pessoas se identificam pela origem, costumes, língua, bandeira e principalmente, pelo sentido agregador e unificador da Pátria-mãe, que acolhe a todos, criando assim uma identidade comum.

Os livros tinham por finalidade contribuir para que a escola levasse ao termo e ao cabo o importante projeto que a ela foi atribuído, afinal era preciso inventar o italiano na Península e fora dela, criar o sentimento de italianidade, e para os emigrantes, convertê-los ainda em ‘instrumento’ de influência cultural e de penetração comercial.

Referências

BARAUSSE, Alberto. Il libro per la scuola dall’unità al fascismo: la normativa sui libri di testo dalla legge Casati alla Riforma Gentile (1861- 1922). Macerata: Alfabetica Edizioni, 2008. (Fonti e documenti 2). [ Links ]

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1As traduções foram realizadas pela autora e serão apresentadas na língua original em nota de rodapé.

2Non si sa perchè il nostro Governo continui a mantenere tal scuole non sapesse dove mettere il denaro, qualsi non vi fosse abbastanza ignoranza e analfabetismo in casa da provvedere, senza voler fare il gran signore con paesi che non hanno bisogno alcuno nè nostri aiuti, nè dei nostri sussidi. Che servigio rendono o possono render le scuole italiane in America, è una delle tante cose che i contribuente italiani non hanno mai potuto sapere... Il popolo italiano, in quasi due quinti analfabeta, paga per educare argentini, orientali, brasiliani, cileni, ecc., mentre i loro figli lottano tristemente tra miseria intellettuale e morale e muoiono vittime della pellagra e della fame... (FLORIANI, 1974, p.25-26).

3Ma ormai siamo alla metà di marzo 1904 e non si sa ancor nulla di detto materiale ne ho ancora ricevuta risposta al mio rapporto del 14 dicembre 1903!

4“Per non averi il grande dolore divedersi forse a dover chiudere la scuola, rivolgono la piu calda preghiera all’Ecc Vostra perchè voglia venir loro in aiuto, concedendo in via straordinaria, un sissidio alla detta scuola Vittorio Alfieri” (Cesare e Anna Franceschini, 1 novembro 1899).

5“ Facendo dunque dei sacrifici compiuti e che tuttogiorno si aggravano per la concorrenza spietata delle scuole straniere ben curate e sorvenute dai loro governo; facendo dell’assoluto oblio delle patrie autorità e della mancanza assoluta di sovvenzione o sussidi che potessero nonche acculare, incoraggiare la missione del maestro, da per tutto difficile, ma qui per molteplici cause assai più spinosa e pericolosa, i sottoscritti non possono non sottoporre alla benignità del Governo italiano la loro convizione che oltre a essere asprisfima, e affatto precaria non essendone assicurati la vecchiaia che si prepara loro assai...”

6A palavra lira será abreviada como L.

7Circolare Ministeriale 24 settembre 1900, n75- Libri di texto per le scuole elementar.

8Nell Anuario pubblicato dal Ministero degli Affari Esteri per il 1913-1914, figurano 6.376 giovanetti e 2.451 giovanette. Ma, se si pensa che i dati di tali pubblicazioni ufficiali son forniti dagli stessi maestri, è chiaro che bisogna tener conto facili aumenti, suggeriti un po’ dall’amor próprio ed un po’ da desiderio di sussidi maggiori.

9Ed è naturale che un maestro abbia tutto l’interesse di elevare all’ennesima potenza la sua scolaresca e faccia passare per suoi colleghi la moglie, i figli, la serva, se l’ha, e magari qualche compare.”

10Ho limitato la distribuizione alle sole tre classi inferior essendo materialmente impossibile il far fronte alle esigenze delle due classi superiori, ed anche perchè parmi che, data l’indole di queste nostre scuole, e l’abilità molto relativa della maggior parte degli insegnanti, convenga piuttosto tendere ad aiutare e migliorare l’insegnamento elementare inferiore che basta a combattere l’analfabetismo, anzichè sperperare le nostre forze per avere delle incomplete e deficienti classi elementari superiori che poco o nulla aggiugerebbero al grado d’istruzione raggiunto nelle inferiori.

11O ensino oferecido nas escolas italianas era denominado de curso elementar organizado em duas seções, a inferior composta pela 1ª, 2ª e 3ª classes, e pela superior, constituída pela 4ª e 5ªclasses.

12Destes livros as informações são incompletas, não constando dados sobre os autores, as casas editoras e ano de publicação.

13A Academia Virgiliana foi criada em 4 de março de 1768 pela Imperatriz Maria Tersa da Áustria. A sua sede é no Palácio da Academia Nacional Virgiliana, em Mantova- Itália. Os objetivos principais da Academia são a produção de estudos originais nas várias áreas do conhecimento, o aprofundamento do conhecimento sobre Virgílio e suas obras, bem como a história de Mantova, por meio da promoção da investigação científica e divulgação cultural.

14Che si mandi a memoria ciò che non si capisce, oggi nessuno pretende più; ma è forse male chiede che le nozioni bene intese e bene apprese siano poi affidate alla memoria, per consolidarsi sempre meglio nella mente? Non crediamo. Ci pare che un libreto in cui siano esposte molto utile allo scolaro per tener sempre vivi nel suo pensiero quel poco che è venuto imparando, perchè di tanto in tanto egli può cosi ritornare sulle cose mandate a memoria (TREVISINI in SOLI, 1905, p. 2).

15Ogni buon citadino ha il dovere d’imparare la lingua nazionale, cioè quella che è parlata dalle persone istruite, e che si legge stampata nei libri (TREVISINI In SOLI, 1905, p. 3).

16Patriotti, cioè da persone che amavano la patria” (SOLI, 1905, p. 28).

17“mancava, tuttavia alle loro popolazioni un governo; ed esse furono invitate a sceglierlo per mezzo de voto” (p. 35).

18... durante il regno di Vittorio Emanuele II si aprirono in Italia moltissime scuole, si costruirono strade ferrate, sorsero opifici; l’industria ed il commercio si svilupparono in poco tempo, e la nazione si fece labriosa e ricca (p. 38).

19L’Italia non è tutta quanta libera da dominazioni straniere. Alcune sue parti dipendono anche oggidi da altri governi (p. 50).

20L’Italia possiede in Africa alcune plaghe di terreno che prendono il nome di Colonia Eritrea, e un lungo tratto di costa sull’ Oceano Indico, che ha nome Costa del Benadir (p. 51).

21Ciò che se deve fare; cioè l’obbligo di fare il bene e di astenersi dal male (p. 64).

22“La mente conosce le cose collo studio. Lo studio è il nostro dovere” (p. 54).

23La patria è la terra dove nacquero i nostri genitori e dove siam nati noi, dove si parla da tutti gli abitanti una stessa lingua, dove il popolo ha le stesse memorie e le stesse speranze. La nostra patria è l’Italia. Lo Stato no rappresenta solo gl’interessi di tutti i cittadini; ma anche la patria (p.60).

24A este respeito consultar PANIZZOLO, C. Livros de leitura e a construção da identidade nacional de crianças italianas e descendentes (São Paulo no início do século XX). 2019.

25Il Ministero degli Esteri ha l'abitudine di mandare, a titolo di sussidio, alle scuole italiane all'estero un materiale scolastico inservibile,inadatto, messo insieme senza criterio didattico, un vero rifiuto di magazzini librari che per protezioni della, funesta inframmettenza politica incompetente degli organismo della pubblica amministrazione si trova sempre a disposizione del Ministero della Pubblica Istruzione. Questo materiale sempre ottenuto con grandi e qualche volta umiliante difficoltà, ha fatto il più di delle volte ridere i cittadini brasiliani, così premurosi del progresso delle loro scuole primarie, e ha fatto credere che la nostra scuola sia inferiore a quella delle altre nazioni d’Europea (p. 799).

Recebido: 17 de Novembro de 2021; Aceito: 15 de Fevereiro de 2022

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