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Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.21  Uberlândia  2022  Epub 13-Sep-2022

https://doi.org/10.14393/che-v21-2022-125 

Artigos

Editora Vozes: uma das instâncias representativas do patrimônio educativo dos franciscanos na história da imprensa brasileira

Editora Vozes: una de las instancias representativas del patrimonio educativo de los franciscanos en la historia de la prensa brasileña

Cleonice Aparecida de Souza  1 
http://orcid.org/0000-0001-6834-7703; lattes: 9130018324253241

Claudino Gilz2 
http://orcid.org/0000-0003-3463-272X; lattes: 8684107971304266

1Pontifícia Universidade Católica de Campinas;

Universidade São Francisco (Brasil). cleo_souza@uol.com.br

2FAE Centro Universitário (Brasil). gilzclaudino@gmail.com


Resumo

O objeto dessa investigação é a Editora Vozes, fundada pelos Franciscanos em Petrópolis (RJ), ano 1901. Objetiva analisar a referida editora como uma das instâncias representativas do patrimônio educativo dos Franciscanos na trajetória da imprensa brasileira. Alinhado a isso, visa levantar fontes documentais a respeito dos fatos que mobilizaram tais religiosos a fundar a editora, a editar e a publicar obras com escopo cultural, religioso, didático-educacional, literário e científico. A pesquisa é de natureza qualitativa a privilegiar uma revisão da literatura sobre a imprensa no Brasil e a trajetória histórica dessa editora. Em face á abordagem de Chartier (2003), os resultados preliminares atentam para estratégias editoriais que produzem sistemas de apreciação, classificando culturalmente os produtos da imprensa. A análise desenvolvida sinaliza para a divulgação e a defesa de algumas prerrogativas da Igreja Católica frente às proposições de um Estado laico estabelecido pelo regime republicano nas primeiras décadas do século XX.

Palavras-chave: Editora Vozes; História da educação; Franciscanos

Resumen

El objeto de esta investigación es Editora Vozes, fundada por los franciscanos en Petrópolis (RJ), en 1901. Su objetivo es analizar a la referida editorial como una de las instancias representativas del patrimonio educativo de los franciscanos en la trayectoria de la prensa brasileña. En línea con esto, tiene como objetivo recaudar fuentes documentales sobre los hechos que movilizaron a dichos religiosos para fundar el editor, para editar y publicar obras con un alcance cultural, religioso, didáctico-educativo, literario y científico. La investigación es de naturaleza cualitativa para privilegiar una revisión de la literatura sobre la prensa en Brasil y la trayectoria histórica de este editor. En vista del enfoque de Chartier (2003), los resultados preliminares se centran en estrategias editoriales que producen sistemas de apreciación, clasificando culturalmente los productos de la prensa. El análisis realizado señala la difusión y defensa de algunas prerrogativas de la Iglesia Católica contra las proposiciones de un estado secular establecido por el régimen republicano en las primeras décadas del siglo XX.

Palabras clave: Editora Vozes; Historia de la educación; Franciscanos

Abstract

The object of this investigation is Editora Vozes, founded by the Franciscans in Petrópolis (RJ), in 1901. It aims to analyze the referred publisher as one of the representative instances of the Franciscans educational heritage in the trajectory of the Brazilian press. In line with this, it aims to raise documentary sources regarding the facts that mobilized such religious to found the publisher, to edit and publish works with a cultural, religious, didactic-educational, literary and scientific scope. The research is qualitative in nature to privilege a review of the literature on the press in Brazil and the historical trajectory of this publisher. In view of Chartier's (2003) approach, the preliminary results focus on editorial strategies that produce systems of appreciation, classifying the products of the press culturally. The analysis carried out signals the dissemination and defense of some prerogatives of the Catholic Church against the propositions of a secular state established by the republican regime in the first decades of the 20th century.

Key words: Editora Vozes; Education history; Franciscans

Introdução

Na recém-proclamada República brasileira, entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX, vemos constituir-se em Petrópolis, Rio de Janeiro Brasil, precisamente em 5 de março de 1901, a Editora Vozes. Nesse sentido e indo ao encontro da linha de pesquisa Rastros: patrimônio cultural franciscano e educação, que busca identificar o patrimônio cultural franciscano, tendo por escopo disseminar suas potencialidades para pesquisas acadêmicas, apresenta neste artigo reflexões sobre a atuação de tais religiosos na história da imprensa brasileira tendo como objeto de investigação a Editora Vozes.

A editora pertence aos Franciscanos da Província da Imaculada Conceição do Brasil, cuja sede situa-se na cidade de São Paulo - Brasil. Teve nas suas origens no início do século XX e como um dos objetivos a impressão de livros didáticos para a Escola Gratuita São José. Começou a operar com uma impressora Alauzet, recuperada pelo Frei Inácio Hinte e se chamava Tipografia da Escola Gratuita São José. Vale pontuar que o primeiro livro publicado foi o Livro de Leitura (Figura 1) utilizado nas escolas franciscanas e católicas, visando o controle dos conteúdos ministrados. (GILZ, 2018; SOUZA, 2012).

Fonte: Acervo do Sistema de Bibliotecas da Universidade São Francisco (Domínio público)

Figura 1: Primeiro livro de leitura, 1923 

A coleção Livro de Leitura é composto por quatro volumes, cuja quantidade de impressos ultrapassaram a milhares de exemplares, um recorde para um livro didático na época, sendo editado até o início da década de 1970. (HALLEWELL, 2005). Bencostta (2007, p. 18) parte do pressuposto de que

na materialização da coleção, inscrevem-se dispositivos de constituição e organização; dispositivos que não se resumem a procedimentos de seleção dos enunciados teóricos vinculados nos volumes que a compõem, mas abrangem, também, a própria configuração material - textos e tipografia - desses volumes.

O livro didático participa como expressão, agente e produto de uma cultura histórica. Sua elaboração abrange processos de filtragem de informações históricas que são divulgadas de forma didática bem como informações coletadas em vários setores da vida social - notícias, fotos, documentos, mapas, etc.; e processos de construção e criação dos diferentes modos de escrita, organização do texto, edição e impressão. (BITTENCOURT, 1993, 1998 e 2004; MUNAKATA, 1997 e 2018).

Tal processo de ampla circulação de ideias, garantida pela imprensa, resultou tanto na ampliação da publicação de obras entre religiosos quanto na formação e ampliação de bibliotecas. Com as vantagens que a disseminação do conhecimento e a emergência da indústria editorial trouxeram, surge também uma nova preocupação: a de preservar e conservar o acervo bibliográfico para gerações futuras, tomando o cuidado para que estas tenham acesso a um material de qualidade, similar ao seu original. (BURKE, 2003). O autor ressalta, ainda, a importância de voltar o olhar e estudar as formas materiais dos livros, os detalhes sutis de tipografia e diagramação, argumentando que elementos não-verbais, entre eles a própria disposição do espaço, são portadores de significado. Dada a sua importância, o livro didático é um amplo campo de pesquisa. Para entendê-lo, na sua função educacional, sua história e sua presença entrelaçada na vida social brasileira, é necessário considerar diferentes campos de estudo e privilegiar uma diversidade de fontes. (GILZ, 2009).

Nesse sentido, o objetivo geral desta pesquisa em andamento é analisar o legado histórico da editora como uma das instâncias representativas do patrimônio educativo dos Franciscanos na trajetória da imprensa brasileira. Enquanto objetivos específicos, visa levantar fontes documentais a respeito dos fatos que mobilizaram tais religiosos a fundar a Editora Vozes, a editar e a publicar obras com escopo cultural, religioso, educacional, literário e científico. Visa também apurar indícios a respeito das razões que levaram a Editora Vozes a privilegiar, desde a sua fundação até aproximadamente a década de 1970, a impressão de livros didáticos às demandas das escolas do Brasil.

Considerando os aspectos até aqui mencionados, optou-se pelo desenvolvimento de uma pesquisa de natureza qualitativa por meio de uma revisão da literatura sobre a imprensa no Brasil e a trajetória dessa editora, desde a então denominada Tipografia da Escola Gratuita São José. Na materialidade das publicações da editora identifica-se aspectos técnicos que orientam sua produção, publicação e circulação em conexão com algumas questões que balizaram a trajetória da imprensa no Brasil.

A pesquisa com acervos históricos se mostra enriquecedora por sensibilizar e mobilizar os sujeitos sobre as questões da memória. Com relação às inúmeras especificidades da memória, Nora (1993, p. 9) explica que ela “[...] se enraíza no concreto, no espaço, no gesto, na imagem, no objeto”. Dessa forma, os livros também são lembrados por suas materialidades - como seus aspectos físicos cor, grossura, capa dura etc., pelas disciplinas a que se referem - ensino religioso, português, história etc., e por terem formatos distintos de acordo com a série.

Tipografia da Escola Gratuita São José

Com o aparecimento da imprensa e, consequentemente, do livro impresso, da Revolução Francesa e da Revolução Industrial, as possibilidades de acesso às publicações foram ampliadas (SILVA; ARAÚJO, 2003; BURKE, 2003; CHARTIER, 1999). Os Franciscanos, grupo conhecido por estar voltado à ação e à mística religiosa, acompanharam a modernização e a ampliação da imprensa, visto que suas ideias e suas doutrinas passaram a circular por meio de livros e periódicos, publicados, principalmente, pela Editora Vozes.

Segundo algumas pesquisas do período (RÖWER, 1947; SCHAETTE, 1922), foi na esteira da criação das escolas que Frei Ciríaco Hielscher, cofundador e professor da Escola Gratuita São José, com permissão do governo superior da Província, comprou uma impressora usada, porque os conteúdos das publicações impressas da época não iam ao encontro dos ideais franciscanos. Como mencionado anteriormente, essa iniciativa deu origem à Editora Vozes. Para Andrades (2004, p. 4)

Os primeiros franciscanos chegaram a Petrópolis em 16 de janeiro de 1896, instalando, na casa alugada por Monsenhor Guidi, uma fraternidade coordenada pelo Frei Ciríaco Hielscher, originário da região da Silésia, na Alemanha. A construção do convento foi concluída em dezembro do mesmo ano. Um ano depois passaram a funcionar, nas dependências do convento, além da residência dos frades, o curso de Teologia para os noviços franciscanos e a Escola Gratuita São José, para os filhos dos colonos alemães.

A preocupação com o controle da formação intelectual dos alunos e com o conteúdo que deveriam aprender está na base da criação da editora. Desse período merecem destaque alguns livros publicados: O Primeiro Livro de Leitura, editado pelos professores da Escola Gratuita São José; A vida e o culto de Santo Antônio, de Frei Luís Reinke; Cecília, de Frei Basílio Röwer; Breves meditações para todos os dias do ano, de Frei Pedro Sinzig, e Manná: o alimento da alma devota, um livro de orações populares escrito por Frei Ambrósio Johanning. (ANDRADES, 2001).

De acordo com Souza (2012) e Gilz (2018), a tipografia, que deu origem à Editora Vozes foi utilizada para imprimir os livros que seriam adotados em diferentes escolas, para além das franciscanas e outras publicações impressas que circularam amplamente entre diferentes segmentos sociais, disseminando ideais, padrões e valores cristãos-franciscanos.

A comunicação e a imprensa

A história da imprensa no Brasil teve início oficialmente em 1808 com a chegada da família real ao Brasil, a qual estabeleceu residência na cidade de Petrópolis. No período anterior, a veiculação de jornais, qualquer outro periódico e livros era proibida no Brasil. (SOUZA, 2012).

As publicações em terras brasileiras eram consideradas ilegais e subversivas. Na época não podia circular nenhuma publicação sem a permissão da coroa portuguesa, fato que era uma peculiaridade na América Portuguesa, pois nas demais colônias europeias no continente, a imprensa se fazia presente desde o século XVI. Nos séculos XVIII e XIX, os avanços tecnológicos advindos da Revolução Industrial extrapolaram as fronteiras inglesas e estimularam o aprimoramento de algumas atividades. Uma delas foi a impressão de novos jornais e periódicos que teve nesse período um grande crescimento. Foi durante esse período que periódicos, tais como The Times, The Guardian e The New York Times surgiram.

Além do aprimoramento de máquinas usadas no processo de prensa, diferentes governos de Estado também investiram e ajudaram a consolidar o conceito de imprensa. A imprensa foi criada oficialmente no Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1808 com a fundação da Imprensa Régia, hoje chamada de Imprensa Nacional, iniciativa do Príncipe Regente Dom João. Porém, foi somente no dia 10 de setembro desse mesmo ano que o primeiro jornal chamado A Gazeta do Rio de Janeiro começou a circular em território nacional. (BAHIA, 1990). Como salienta Weitzel (2002, p. 62)

A importância histórica da invenção da imprensa reside em dois fatos: primeiro, a promoção da laicização do conhecimento com a quebra do monopólio da informação, restrita, antes, aos mosteiros e aos castelos da nobreza; e, em seguida, como consequência, a possibilidade de aumentar o alcance das descobertas científicas e dos tratados filosóficos através das publicações de cunho científico.

Na Editora Vozes, os Franciscanos promoveram uma campanha pela boa imprensa. Estabeleceram contato com inúmeros autores. Editaram periódicos, dos quais a revista Vozes de Petrópolis (1907-2003), a Revista Eclesiástica Brasileira (REB) que tinha como título anterior Cor em 1939-1940, Grande Sinal continuidade da Sponsa Christi publicadas nos anos de 1947-1966, que ainda estão correntes.

Os periódicos franciscanos publicados pela Editora contaram com a ajuda de benfeitores alemães que viabilizaram sua impressão.

a aquisição de uma ‘Windsbraut’ construída na Schelter und Gieseke de Leipzig. Com a montagem com os seus periféricos, que demandou uma construção própria, em vez de 4 páginas por vez, puderam ser feitas 32 páginas por impressão. Como tal, o que conduz ao mais importante fator tempo para o bem da imprensa é a economia de tempo e de custos de produção. (SINZIG, 1911, p. 15).

A partir dos apontamentos do Frei Pedro Sinzig (1911) pressupõe-se que além do projeto editorial franciscano ater-se às questões religiosas era necessário que ele se viabilizasse economicamente para sua manutenção e continuidade.

Outro fato notório foi que na divulgação do Concílio Vaticano II, na década de 60, os franciscanos lideraram a comunicação sobre a temática, em função da crônica do Concílio elaborada pelo Frei Boaventura Kloppenburg. Nesta época, a Editora Vozes foi denominada ‘Editora do Concílio’, pois publicou documentos conciliares em diversas versões, e de vários estudos no formato de artigos e livros.

A Editora Vozes (GILZ, 2018; SOUZA, 2012) também se diferenciava por publicar obras voltadas às questões sociais. No transcorrer da década de 1960, localizam-se as origens dessas questões nos movimentos e nas manifestações estudantis e operárias de 1968, na luta pelo fim do Apartheid, nas manifestações contrárias à Guerra do Vietnã, nas lutas da Argélia, entre outras. Ainda sobre a Editora Vozes, apresentamos a seguir um breve levantamento de alguns dos diretores que se destacaram:

  • Frei Pedro Sinzig (+1952) diretor, a partir de 1908, muito ativo, animador da Liga da Boa Imprensa e do Centro da Boa Imprensa, dedicou-se para implementar a comunicação impressa e o cinema direcionando-os de acordo com valores cristãos. A leitura das Encíclicas Papais (LEÃO XIII) e das publicações de Frei Pedro Sinzig, sobretudo Através dos Romances: guia para as consciências, em sua primeira edição de 1915, demonstram a preocupação com o controle da formação intelectual dos alunos e com o conteúdo que deveriam aprender. Tais aspectos foram alguns dos motes da fundação da Editora Vozes que, por sua vez, teve também inúmeras de suas iniciativas amparadas e em franco diálogo com representantes do governo republicano. Os motivos elencados por Frei Sinzig que justificavam a organização do Centro da Boa Imprensa e da Liga da Boa Imprensa sinalizam para uma complexa e dinâmica rede formada de jornalistas brasileiros e sulamericanos que atuavam na imprensa católica, tanto quanto para o estreito vínculo dessa rede com as autoridades eclesiais do período, como a ampla divulgação de suas publicações no território nacional e ancoragem econômica de tais entidades. É possível flagrar como a Liga da Boa Imprensa é tomada pelo clero, ou pelo menos pela parte do clero que compartilha das mesmas ideias de Frei Pedro Sinzig. Ela é um locus de resistência católica e arena de tensões, disputas e conflitos que - ao nosso ver - extrapolam o desejo de ‘refutar calúnias’. Há também o fato da cidade de Petrópolis ter sido a sede proeminente desta “resistência” no Brasil, o que sinaliza a importância dos franciscanos, da Província da Imaculada Conceição do Brasil, no contexto de articulação política nacional e o empenho de Frei Pedro Sinzig nas iniciativas editoriais implementadas pela Ordem Franciscana, o que talvez possa sugerir sua proeminente atuação como interlocutor e articulador de lideranças católicas, oriundas de diferentes segmentos sociais, dentre os quais, no âmbito deste artigo, privilegiamos segmentos sociais letrados urbanos (TFOUNI, 1988; SOARES, 2008). Sua trajetória estava em franca sintonia com o que o Papa Leão XIII (1810-1903) e o Papa Pio X (1835 -1914) preconizaram sobre a imprensa e a educação. Eles se depararam, em linhas gerais, com a questão da laicidade do Estado, a consolidação do capitalismo no ocidente, o movimento operário e o avanço do conhecimento científico como fator determinante e explicativo da realidade, visão legitimada por positivistas e maçons, dentre outros aspectos. Percebe-se a preocupação com que esse franciscano atenta para a educação ao assumir a necessidade de se propor e implementar uma proposta de ensino destinado à juventude que fosse ao encontro dos ditames da Igreja Católica.

  • Frei Tomás Borgmeier (+ 1975), diretor de 1941 a 1952, foi homenageado no XX Simpósio de Mirmecologia e I Encuentro de Mirmecologistas de las Américas, além de renomado entomologista e fundador da Revista de Entomologia (extinta), também o é da Revista Eclesiástica Brasileira e da Sponsa Christi, revista de espiritualidade inicialmente para religiosas e atualmente para todos os interessados, sob o nome de Grande Sinal.

  • Frei Ludovico Gomes Mourão de Castro (+1992), formado em Teologia, editor nos tempos do Concílio Vaticano II e da restrição à imprensa no Brasil, destacando a conjugação entre o editorial cultural e o religioso.

  • Frei Mariano Wintzen (+ 1943): professor de Teologia sistemática, bem como de Exegese, Liturgia, Homilética, Teologia pastoral, além de músico e reitor.

  • Frei Aleixo Voelkert (+1957), professor de Teologia moral e Direito canônico, por 23 anos. Conhecido na REB pela marca do estudo de questões de teologia pastoral.

  • Frei Mateus Hoepers (+1983), formado em Exegese bíblica, também lecionou outras disciplinas teológicas, como Direito canônico, Teologia fundamental e moral. Porém, é na área bíblica e na atuação junto à Ordem Franciscana Secular que se distingue. É dele a tradução do Novo Testamento diretamente do grego.

  • Junto com Frei João José Pedreira de Castro, Frei Simão Voigt (+ 2002) e outros, é um dos expoentes do ensino da Sagrada Escritura e da difusão da Palavra de Deus.

  • Frei Constantino Koser (+2000), reconhecido professor de Teologia e de Mariologia, incentivador do estudo e organizador da biblioteca que leva seu nome; Ministro geral da Ordem dos Frades Menores e Padre conciliar, de projeção nacional e internacional.

  • Frei Boaventura Kloppenburg (+2009), considerado perito do Concílio Vaticano II, eminente divulgador do mesmo pela imprensa e pela palavra; participante de Sínodos, de Conferências do Celam, professor de Teologia sistemática e escritor de projeção nacional e internacional.

Considerações parciais

A fundação da Vozes ocorreu no imbricamento da criação de escolas franciscanas no Brasil, entre fins do século XIX e início do XX e as demandas por publicações pelas novas escolas católicas que se criaram no país no esteio de orientações vindas de Roma. Tais publicações foram, em um primeiro momento, didáticas e ao encontro do pensamento cristão-franciscano, atendendo às demandas do contexto sociocultural e político da recém-proclamada república. Foram impressos livros que seriam adotados em diferentes escolas, para além das franciscanas. Houveram outras publicações que circularam amplamente entre diferentes segmentos sociais disseminando os princípios católicos e franciscanos.

A Editora Vozes é uma das mais importantes editoras católicas no cenário brasileiro, além do que, foi uma das precursoras na publicação de livros didáticos e de periódicos católicos. À luz da abordagem de Chartier (2003), os resultados preliminares atentam para estratégias editoriais que produzem sistemas de apreciação, classificando culturalmente os produtos da imprensa.

É notória, no entanto, o legado histórico da Editora Vozes analisado, visto que sinaliza para a divulgação e a defesa de algumas iniciativas frente às políticas educacionais dos republicanos, ancoradas em visões seculares e liberais de mundo, assim como em tensões entre Estado e Igreja Católica das primeiras décadas do século XX.

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Recebido: 22 de Agosto de 2021; Aceito: 03 de Novembro de 2021

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