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Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.21  Uberlândia  2022  Epub 13-Sep-2022

https://doi.org/10.14393/che-v21-2022-135 

Artigos

Língua inglesa nas Classes Integrais nos anos 1960: um estudo no Colégio Estadual do Paraná

Idioma inglés en las Clases Integrales en la década de 1960: un estudio en el Colégio Estadual do Paraná

1Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Brasil). sofia.bocca@hotmail.com

2Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Brasil). rosa_lydia@uol.com.br


Resumo

Este artigo tem por objetivo compreender as finalidades do ensino de língua inglesa no Colégio Estadual do Paraná, na década de 1960, quando estava em andamento um experimento que visava a renovação do ensino secundário, cujas turmas foram denominadas Classes Integrais. Com apoio teórico da História Cultural (CHARTIER, 2002) e do conceito de Cultura Escolar (JULIÁ, 2001), o estudo toma como fonte documental os Relatórios das Classes Integrais de 1960 a 1967. Os resultados apontam que estas Classes trouxeram novidades no ensino da Língua Inglesa, como: adoção de metodologias ativas, emprego de recursos didáticos diversificados, avaliação diferenciada, vocabulários e estruturas gramaticais eram tratadas em situações específicas e familiares aos alunos, prática das quatro habilidades (ler, escrever, falar, ouvir). No entanto, os objetivos gerais do ensino desta disciplina eram, além do domínio das estruturas básicas da língua, interpretar textos com a finalidade de se preparar para o curso superior ou profissionalizante.

Palavras-chave: Ensino de inglês; Disciplina escolar; Classes Integrais

Resumen

Este artículo tiene como objetivo comprender los propósitos de la enseñanza del inglés en el Colégio Estadual do Paraná, en la década de 1960, cuando se desarrollaba un experimento orientado a la renovación de la educación secundaria, cuyas clases se denominaron Clases Integrales. Con apoyo teórico de Historia Cultural (CHARTIER, 2002) y de Cultura Escolar (JULIÁ, 2001), el estudio utiliza como documento los Informes de Clases Integrales de 1960 a 1967. Los resultados muestran que estas clases trajeron novedades en la enseñanza del idioma inglés: adopción de metodologías activas, el uso de diversos recursos didácticos, evaluación diferenciada, vocabularios y estructuras gramaticales en situaciones específicas familiares a los estudiantes, práctica de las cuatro habilidades (lectura, escritura, expresión oral, comprensión auditiva). Los objetivos generales de la docencia de esta asignatura eran, además de dominar las estructuras básicas del idioma, interpretar textos para prepararse para la educación superior o la formación profesional.

Palabras clave: Enseñanza del inglés; Disciplina escolar; Clases Integrales

Abstract

This article aims to understand the purposes of teaching English at Colégio Estadual do Paraná, in the 1960s, when an experiment was in progress aiming at the renewal of secondary education, whose classes were called Classes Integrais. With theoretical support from Cultural History (CHARTIER, 2002) and the concept of School Culture (JULIÁ, 2001), the study uses as a document the Reports of the Classes Integrais from 1960 to 1967. The results indicate that these Classes brought novelties in English Language teaching such as the adoption of active methodologies, diverse teaching resources, differentiated assessment, vocabularies, and grammatical structures were dealt with in specific situations familiar to students, the practice of the four skills (reading, writing, speaking, listening). However, the general objectives of the teaching of this subject were, in addition to mastering the basic structures of the language, interpreting texts in order to prepare for higher education or professional training.

Keywords: English teaching; School subject; Classes Integrais

Introdução

O ensino de língua inglesa no Brasil vem, desde a chegada da Corte Portuguesa, apresentando características que se modificam com o tempo, seja em termos de finalidade, seja na didática, nos métodos, conteúdos, etc. Para investigar a trajetória de uma disciplina escolar, é necessário explorar elementos sociais, ideológicos, políticos, culturais e econômicos de modo a compor a leitura de seu objeto. Tendo este horizonte, o presente artigo tem por objetivo compreender as finalidades do ensino de língua inglesa no Colégio Estadual do Paraná, na década de 1960, quando estava em andamento um experimento que visava a renovação do ensino secundário, cujas turmas foram denominadas Classes Integrais.

Para tanto, nos valemos da História Cultural, que visa identificar como, em diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade foi pensada, construída e interpretada, conforme defende Chartier (2002). Em acréscimo, tomando a esfera educacional, Juliá (2001, p. 22) afirma que “[...] o colégio não é somente um lugar de aprendizagem de saberes, mas também é um lugar de inculcação de comportamento e de habitus que exige uma ciência de governo transcendendo e dirigindo, segundo sua própria finalidade”.

Também nos apoiamos no conceito de cultura escolar conforme a resume Juliá (2001, p. 9): “um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos”.

O autor propõe três eixos para entender a cultura escolar como objeto histórico: sendo o primeiro focado nas normas e finalidades da escola; o segundo voltado à profissionalização do educador; e o terceiro direcionado aos conteúdos ensinados e modos de ensinar. Nos ateremos, principalmente, ao terceiro eixo, pois conteúdos, práticas e disciplinas escolares são inseparáveis das finalidades educativas.

Seguindo esses preceitos teóricos, iniciamos contextualizando as classes integrais; depois, discorremos sobre os procedimentos e as fontes de pesquisa; na sequência, apresentamos o ensino de inglês no colégio em questão; por último, as considerações finais.

Contextualizando as classes integrais

O Colégio Estadual do Paraná, uma tradicional instituição de ensino, hoje localizado no centro da capital, vem trilhando sua história há mais de 170 anos. É também um espaço para atividades culturais, esportivas e sociais dos paranaenses, promovendo feiras de ciências, dispondo de um planetário, banda musical, museu, e um Centro de Línguas Estrangeiras Modernas.

Na década de 1960, esse Colégio foi palco de uma experiência e o que foi chamado de Classe Experimental em diversas regiões do país, no CEP foi denominado Classe Integral. Se tratava de experiência pedagógica semelhante, porém com nomenclaturas diferentes.

Sob os ideais escolanovistas1, e seguindo os mesmos preceitos das classes nouvelles2- proposta de modelo pedagógico alternativo e inovador para o ensino secundário na França, que visava a formação não só para o trabalho, mas para a vida -, nos finais dos anos 1950 e meados de 1960, foi proposta a renovação pedagógica do ensino secundário, denominada Classes Experimentais3. Estas visavam contribuir para a transformação do ensino secundário, principalmente em relação à democratização do acesso a esse nível de ensino, uma exclusividade das elites até então.

Circulava entre os defensores da educação pública, e também entre os estudantes, a ideia de que as leis e as práticas educativas estavam ultrapassadas, que não cabia mais, naquela sociedade em desenvolvimento e com diversificadas demandas, um ensino tão rígido, uniforme e estanque. Por isso, essas Classes intencionavam “[...] desenvolver um currículo adaptado às condições dos alunos e às solicitações de uma sociedade democrática em crescente fase de industrialização, urbanização e modificada pelas novas descobertas científicas [...]” (CHAVES JUNIOR, 2016, p.520). Se apostava na educação escolar como responsável pelo desenvolvimento econômico e social, formando indivíduos capacitados para se integrarem à nova sociedade (urbana, moderna, industrial e democrática) que se desenvolvia. Para atender ao novo público e à nova finalidade de ensino, era necessário haver mudança no programa, no currículo, no método.

As Classes Experimentais, como descrevem Chaves Junior (2017) e Dallabrida (2018), seriam desenvolvidas em instituições com condições pedagógicas que possibilitassem tal experiência; deveriam ter número reduzido de professores, os quais deveriam ser credenciados, e que realizassem reuniões frequentes; necessitavam de consentimento dos pais ou responsáveis dos alunos matriculados, e que também deveriam participar de reuniões periódicas; o currículo deveria buscar formação humana sólida, atendendo às aptidões individuais e visando maior articulação do ensino das várias disciplinas por meio do uso de métodos ativos; deveriam ter número reduzido de alunos em cada classe (no máximo 30); ainda, o tempo de permanência na escola aumentado seria preenchido com atividades extraclasse chamadas de Clubes.

Dallabrida (2018), sobre as classes secundárias experimentais entre 1959 e 1962, reporta que “[...] essa experiência pedagógica renovadora se realizou, nesse período, em 46 colégios, localizados em oito estados, sendo que a maioria pertencia aos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro [...]” (p. 104), dentre esses estados está o Paraná. Aqui, a instituição que teve a autorização para implantar as Classes Experimentais, foi o CEP.

O funcionamento das atividades se dava em tempo integral: das 7h20min às 11h50min (inicialmente, as aulas começavam as 8h, mas surgiu a necessidade desse acréscimo) eram ofertadas as disciplinas de Português, Matemática, Geografia, História, Ciências, Francês, Inglês ou Latim, Desenho e Educação Física; já no período da tarde, das 13h50min às 17h30min, eram conduzidas as atividades artístico-culturais, com as disciplinas de Música, Artes Aplicadas e Religião, bem como as aulas de reforço das disciplinas estudadas no período da manhã. Além das aulas semanais, os alunos tinham aulas aos sábados, das 7h20min às 9h50min (CHAVES JUNIOR, 2016).

As atividades “estendiam-se aos aspectos sociais, de orientação profissional, com entrevistas, de orientação sexual, e de educação física dirigida, clubes, viagens, passeios e visitas” (STRAUBE, 1993, p.114). Os relatórios anuais (PARANÁ, CEP, 1960-1967) apontam que os clubes eram atividades extraclasses ofertadas de forma regular variando de acordo com o interesse dos alunos e disponibilidade dos professores. Incluíam xadrez, damas, desenho, pintura, cerâmica, fotografia, teatro, danças, literatura, língua inglesa, etc.

Havia um projeto denominado “Entrosamento das disciplinas”, que previa o trabalho de diversas disciplinas focando um mesmo tema. Chaves Junior (2017) mostra, por meio de relatos de professores, que era uma tentativa de fazer um trabalho interdisciplinar que, as vezes resultava em grandes conexões entre disciplinas, outras vezes, não havia tanto entrosamento entre elas.

Os resultados da experiência apontaram uma redução no índice de evasão e de reprovação, também se obteve sucesso e benefícios no sentido de renovação, ainda que houvesse pontos de conservadorismo, como os critérios de seleção dos alunos, ou a exigência de disciplinas comuns obrigatórias. No entanto, por diversos motivos estruturais, administrativos e financeiros - principalmente em relação ao pagamento dos professores, que recebiam pelo trabalho de tempo integral -, no ano de 1967, as Classes Integrais deixaram de existir e os alunos que ainda as cursavam foram incorporados às Classes Comuns.

Assim, observamos nesta experiência algumas marcas culturais inovadoras que visavam romper com as marcas culturais tradicionais.

Fontes e Procedimentos metodológicos

Os documentos tomados para análise neste estudo foram os “Relatórios das Classes Integrais” produzidos pelos professores no período de 1960 a 1967 que estavam divididos por ano, sendo, portanto, oito livros, um para cada ano. Os relatórios são livros encadernados e com capa dura, com folhas de espessura fina, datilografadas, com uma média de 220 páginas cada. Eles não contêm paginação datilografada, mas enumerações feitas à mão - nem sempre em sequência numérica.

Nos relatórios são encontradas as seguintes informações: Quadro geral de matrículas; Relação nominal dos alunos; Relação do corpo docente em exercício e outros funcionários; Cópia das atas de resultados finais; Estatística de aproveitamento do ano letivo anterior; Horário escolar; Observações gerais sobre as atividades escolares referente ao ano letivo; Modificações feitas ao plano das Classes Integrais; Organização das turmas (duas turmas de cada série - 25 alunos cada); Reuniões de professores; Entrosamento das disciplinas; Demonstrações realizadas pelos alunos; Relatório do serviço de Orientação Educacional; Estudo do Meio (visitas realizadas no ano); Relatório de Filmes Projetados; Campanhas realizadas; Atividades Extra Classe (Clubes de Ciências, Artes, Guache, Fotografia, Xadrez, Filatelia, Danças Folclóricas, Carpintaria, Aeromodelismo, Palavras cruzadas, Literário Dentifrício, Esportivos, etc.); Relatórios de cada disciplina; Aproveitamento escolar (bimestral de todas as disciplinas, de todas turmas).

O registro de cada disciplina é assinado pelo professor responsável e, ao final do relatório consta a assinatura da coordenadora das Classes Integrais do CEP, Ruth Compiani. Esse tipo de documento, por ser escrito pelo próprio professor, possui significância e relevância, pois nos permite uma aproximação da realidade das aulas, isto é, contam com a veracidade das informações nele contidas, possibilitando assim o acesso à prática no contexto de sala de aula. Segue abaixo uma descrição do que consta em cada um dos Relatórios.

Relatório do ano de 1960

O ano de 1960, foi o primeiro da experiência e só foram ofertadas as turmas A e B de 1ª série. Nesse relatório, há um item denominado “Descrição do Método Didático” em que se afirma que, além de adotar o “Learning by doing”, o ensino consistiu essencialmente em orientação das atividades discentes; o aluno pesquisou, comparou, analisou, formulou sínteses. Em suma, foi orientado no sentido de redescobrir a matéria, trabalhá-la e organizá-la num todo significativo. Também é referenciada a adoção do “Método de Unidade Didática” (CEP, Relatório de 1960). Além disso, traz indicativos do uso de fichas de estudo, e da intenção de suscitar a autonomia e reponsabilidade dos alunos.

Esse relatório não traz informações acerca do ensino de inglês pois, nesse ano, apenas o francês era estudado como língua estrangeira.

Relatório do ano de 1961

No ano de 1961, foram organizadas 4 turmas - duas de 1ª série e duas de 2ª série. No que diz respeito à busca pela experiência pedagógica, de 219 aprovados no exame de admissão, 103 candidataram-se e 50 foram selecionados.

No projeto de “Entrosamento das Disciplinas”, consta que, ao estudar as Américas, a 2ª série trabalhou a bandeira dos Estados Unidos da América, gravuras da Casa Branca com suas dependências, erosão nos E.E.U.U, o chá na Inglaterra, além de ter sido feita visita ao Consulado Americano. Na festa de encerramento do ano, os alunos cantaram "Silent Night", ou seja, a música “Noite Feliz” (CEP, Relatório de 1961).

Também é mencionado no relatório o Panamericanismo4, embora sem nenhuma descrição do trabalho realizado acerca da temática.

Fonte: CEP, Relatório das Classes Integrais do ano de 1961 - CMCEP, p. 13.

Figura 1 Entrosamentos da 2ª série (Unidades III, IV e V) - 1961 

Não há menção ao uso de livro didático. No entanto, adotou-se como leitura suplementar, o livro Frank and Maria - Book I, cedido pelo Serviço de Divulgação e Relações Culturais dos Estados Unidos da América5 (CEP, Relatório de 1961).

Relatório do ano de 1962

No ano de 1962, foram organizadas turmas de 1ª, 2ª e 3ª série, sendo o inglês oferecido a partir da 2ª série, com carga horária de 4 aulas semanais.

Em relação ao interesse pelas Classes nesse ano, foram aprovados 243 alunos, desses 86 se candidataram, dos quais 50 foram sorteados. Comparados aos dados do ano anterior, houve maior busca pelas Classes.

O relatório continha um tópico extra trazendo a questão das “Classes Integrais (Experimentais) do Colégio Estadual do Paraná face ao Parecer nº 13 e a Lei de Diretrizes e Bases”. Consta que foi solicitado aos estabelecimentos de Ensino Secundário com experiências em andamento, e que desejassem continuar com as mesmas, o seguinte: 1 - Relato completo dos resultados; 2 - Razões pelas quais não poderão se adaptar à nova legislação; 3 - Nova proposta para prosseguir com a experiência para o curso todo. Além desse, um relatório dos “Estágios de aperfeiçoamento realizados por professores das classes integrais no ginásio vocacional Oswaldo Aranha, em São Paulo”.

Os Entrosamentos das Disciplinas realizados envolvendo as disciplinas de História, Geografia e Inglês foram: na 2ª série - localização, limites e áreas do Paraná e do Brasil; relevo do Paraná; hidrografia do Paraná; vegetação. Nas reuniões dos pais, os alunos participaram apresentando canções em inglês e francês, além da leitura em coral de poesias. Na 3ª série - Biblioteca do Colégio e Biblioteca Pública. Na disciplina de Língua Inglesa explorou-se o vocabulário sobre meios de transporte e de comunicação.

Sobre o uso de materiais didáticos, é reportado que “[...] trechos de leitura facilitados, tirados de livros como “Stories of Today” - stage I - by Thornley; extraiu-se pequenas anedotas, exercícios e pequenas histórias do Gatenby II” (CEP, Relatório de 1962, p. 211). Além desses, assim como no ano anterior, foram trabalhadas as habilidades de leitura e audição com Frank and Maria. Além das informações acerca dos materiais didáticos adotados para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, traz também seus objetivos: possibilitar ao aluno a aquisição de suficiente vocabulário necessário para falar sobre assuntos específicos e ler os textos selecionados.

Fonte: CEP, Relatório das Classes Integrais do ano de 1962 - CMCEP, p. 211.

Figura 2 Material didático adotado em 1962 

Relatório do ano de 1963

Dada a maior procura em cursar língua inglesa, nesse ano, o idioma passou a ser ofertado desde a 1ª série, e houve supressão do latim e do francês (nas novas turmas de 1ª e 2ª série). Por esse motivo, este relatório, em comparação com os anteriores, traz mais informações acerca das aulas de Língua Inglesa.

No que diz respeito ao uso de livros didáticos, é mencionado que, para a 1ª série, “[...] durante este primeiro estágio, eminentemente oral, não foi ainda adotado um livro didático [...]”, o que nos faz supor que posteriormente seria adotado algum livro didático.

Os assuntos referentes ao Entrosamento de Disciplinas foram ministrados em forma de leitura e de questionário. A parte gramatical foi dada de modo indireto. Na reunião de pais e alunos da 2ª série, houve apresentação de duas canções infantis: Brother John e Row your boat. Na 3ª série, o Inglês se relacionou com História e Geografia nos seguintes tópicos: pré-história (trecho de leitura), Egito (leitura e conversação), Assírios e Caldeus (conversação), Hebreus e monoteísmo (conversação). Quando o assunto era a Ásia, foi aplicado questionário sobre sua situação geográfica: limites, área e localização, relevo, hidrografia, clima e vegetação, população, língua e religião.

Também, o mundo grego e o continente europeu: mitologia grega, questões sobre a Grécia, sobre Roma, a Grã-Bretanha, limites e características da Europa. Ainda, foram atividades do Entrosamento, os animais do zoológico após visita ao Passeio Público, descrições sobre hipotéticos piqueniques e passeios à praia. Para o tema “Na Cidade”, foi simulada uma compra em loja de roupas para que os alunos praticassem conhecimentos acerca de descrições de roupas, e também uma ida ao cinema, envolvendo o conhecimento relacionado. Nos próximos assuntos, “Nossa Pátria” e “Nosso Estado”, foram realizados trabalhos em cartolinas. Também, para o fim do ano, foram feitos planejamentos para as férias e cartões de Natal.

Além disso, assim como no ano anterior, os alunos da 3ª série tiveram uma audição semanal dos discos Frank and Maria, com comentários sobre os vocabulários, gramática e história, decorrentes das próprias lições que acompanham os discos. Essa informação, comparada com a do relatório de 1961, nos leva a crer que eram, então, audiolivros trabalhados tanto nas habilidades de leitura quanto de audição. Em adição a esse material, pequenas histórias e anedotas foram retiradas do livro Gatenby II e dadas como leitura suplementar. Consta no relatório que foi dada maior ênfase ao trabalho oral, mas que o escrito foi também intensificado - os testes foram apenas orais, mas realizaram vários exercícios escritos no caderno.

Para a 4ª série, no projeto de Entrosamento, foram realizados trabalhos em equipe sobre a Europa medieval e as cruzadas, por meio de tradução da revista National Geographic Magazine. Foi feito estudo sobre as origens do Parlamento e os alunos responderam um questionário sobre a Guerra dos Cem Anos. Também, leitura e discussão sobre a Civilização Inglesa e Americana e escritores representativos, como Shakespeare. Além disso, dando maior ênfase à parte escrita do que à oralidade, foram trabalhados os temas “Colecionando selos”, “Escalando o Monte Everest”, “A Vida de Campo Inglesa”, “Uma Vila Inglesa”, “Uma visita a Londres e a Nova York”, “Vida em Países de Língua Inglesa” com trabalhos individuais, em duplas ou equipes. Também para essa série, é revelado que foram introduzidos alguns exercícios do livro - Beginning lessons in English (CEP, Relatório de 1963).

Este foi um ano importante para o experimento pedagógico, já que as primeiras turmas concluíram o curso completo - da 1ª até a 4ª série. São expostos alguns resultados para essa disciplina, todavia não são muito otimistas.

Consta que o entusiasmo no emprego da língua inglesa na 4ª série não foi tão grande como nas demais séries, o que poderia estar ocorrendo devido ao uso excessivo da língua portuguesa nos anos anteriores.

Fonte: CEP, Relatório das Classes Integrais do ano de 1963 - CMCEP, p. 216.

Figura 3 Resultados alcançados em 1963 

Relatório do ano de 1964

Como atividades extras, realizaram leituras de pequenos contos retirados do livro de Gatenby II- Direct Method como A sad story, The four musicians, A cross-word puzzle, A story about Edison. Além desses, foi feita a leitura oral da poesia The squaw dance de Lew Sarett e trabalho com a música Never on Sundays. Como de costume, no fim do ano, confeccionaram cartões de Natal.

Quanto aos Entrosamentos do Inglês com as disciplinas de História e Geografia, na 1ª série, foi trabalhado um diálogo sobre Curitiba e vocabulário a respeito do mate. Na 4ª série, foram desenvolvidos trabalhos de pesquisa, leitura e conversação acerca do Império Britânico e os Estados Unidos da América em diversos aspectos (meio rural e urbano, universidades, literatura). Ainda para essa série, quando estudada a região Sul do Brasil, foi proposto um trabalho em equipe que, segundo o registro, seria enviado para uma escola dos Estados Unidos, como se verifica no trecho a seguir:

Fonte: CEP, Relatório das Classes Integrais do ano de 1964 - CMCEP, p. 20.

Figura 4 Entrosamento de Inglês e Geografia em 1964 

As demonstrações realizadas pelos alunos, envolvendo Língua Inglesa e Música, foram um canto para os alunos da 1ª série, e um número musical em Inglês para a 2ª série (CEP, Relatório, 1964).

Relatório do ano de 1965

Nesse ano, foram sorteados, dos 111 que se candidataram, 49 novos alunos para a 1ª série - uma das vagas foi ocupada por um aluno repetente.

No Entrosamento das disciplinas, é referenciado que, para a 1ª série, foram explorados diálogos sobre Curitiba; pontos cardeais e uso dos mesmos na orientação nos Estados Unidos da América; vocabulário sobre a temperatura; o uso do chá na Inglaterra.

Nas 2ª e 3ª séries, foi ensinada a leitura através de símbolos fonéticos, quando necessário, e deu-se grande atenção ao “Pattern Practices”, ou seja, às substituições de palavras em estruturas novas. Também, nas aulas, os alunos memorizaram e representaram diálogos, além de os copiar no caderno posteriormente. Para a aprendizagem das partes do corpo, na 2ª série, cantou-se “Hoocki-Poocki”. Também cantaram a canção “Deus salve a América”, além de assistirem os filmes “Nova York moderna” e “Feira mundial”. Na 3ª série, foi feito estudo de sentenças célebres da revista “Life” v. 34, n. 9, n. 4 e n. 5 (CEP, Relatório de 1965). A turma da 4ª série não realizou atividade de Entrosamento relevante. Nessa série, era focado o exercício escrito - de maneira a preparar os educandos para o Curso Colegial. Ainda assim, eram realizadas apresentações orais, por exemplo os alunos dando explicações em língua inglesa a uma projeção de slides sobre o Parlamento Inglês.

Relatório do ano de 1966

Nesse ano, foram preenchidas, por meio de sorteio, 47 vagas para a 1ª série - havia 3 alunos repetentes. Nesse relatório é anunciada a decisão de extinguir, gradativamente, o regime das Classes Integrais, integrando-o ao sistema normal do estabelecimento. Dentre os motivos alegados, estão a recomendação do Conselho Estadual de Educação para a redução do horário de estudo em apenas um período, deixando de ser integral. Outro fator foi a remuneração dos professores - os atrasos nos pagamentos desanimavam os docentes, afetando seus desempenhos em aula. O aproveitamento dos espaços físicos das salas de aulas por maiores quantidades de alunos, também foi uma questão levantada. Com isso, a partir de 1967 não seriam abertas novas turmas. As turmas já existentes continuariam suas aulas apenas no período matutino, com cortes na carga horária. Sobre os encaminhamentos da disciplina de Inglês, na 1ª série foi proposta mudança no horário, sendo oferecidas aulas mais curtas com maior frequência (4 aulas de 35 minutos cada). Era previsto que estas seriam estritamente orais, com auxílio de material audiovisual, sem uso de livros, como se observa na imagem abaixo:

Fonte: CEP, Relatório das Classes Integrais do ano de 1966 - CMCEP, p. 77.

Figura 5 Planos para as aulas de Língua Inglesa em 1966 

No entanto, são acusadas falhas que impediram tal execução, como a falta de qualidade do material fornecido pelo C.C.A.A. e cooperação nula da Cultura Inglesa, que também deveria fornecer material audiovisual.

Esse relatório contém registro do “Clube Sing Song”, no qual eram trabalhadas as disciplinas de Inglês e Música conjuntamente. É relatado que se atingiu melhora na pronúncia dos alunos, já que inicialmente era trabalhada a letra e depois colocada em prática no canto. Adicionalmente, foram feitos jogos e audições de discos.

Relatório do ano de 1967

O relatório desse ano apresenta apenas os quadros de professores e alunos das 2ª, 3ª e 4ª séries, já que não foram abertas turmas para a 1ª série. Além disso, apreciações sobre a experiência, que findava naquele ano.

O ensino de inglês nos registros anuais das classes integrais

Consta na Lei nº 4.024 de 1961 no Capítulo II sobre o ensino secundário:

Art. 45. No ciclo ginasial serão ministradas nove disciplinas.

Parágrafo único. Além das práticas educativas, não poderão ser ministradas menos de 5 nem mais de 7 disciplinas em cada série, das quais uma ou duas devem ser optativas e de livre escolha do estabelecimento para cada curso.

Dessa forma, o ensino de Língua Estrangeira perdeu a obrigatoriedade, sendo sua inclusão ou exclusão responsabilidade de cada estado. Resultou que algumas escolas mantiveram o Francês e o Inglês, como foi o caso do CEP, enquanto que outras não ofereciam o ensino da Língua Inglesa.

No ano de 1962, no 1º ciclo do Curso Secundário Ginasial e no Curso Normal, divididos em 4 séries, eram ofertadas aulas de Francês (1ª e 2ª séries) e Inglês (3ª e 4ª séries), com currículos diferenciados. Para o 2º ciclo do secundário, o colegial, eram ofertadas aulas de Língua Inglesa nas três últimas séries.

Nas indicações para a 4ª série do ginasial consta, nos Programas para o Ensino Médio, o seguinte adendo: “Essa matéria, então, assim assimilada, servirá de alicerce para o curso colegial, tanto na orientação clássica (2ª e 3ª séries) como na orientação científica, onde, nas três séries, o aluno terá PRÁTICA DA LÍNGUA INGLESA” (PARANÁ,1962, p. 51). Assim, inferimos que nas séries iniciais aprendia-se a “teoria” e, nas posteriores, o conhecimento era colocado em “prática”.

Conforme dados dos relatórios, o objetivo inicial do estudo do Inglês era o de tornar a língua conhecida aos alunos para que pudessem escolher conscientemente entre o Inglês e o Francês no 2º semestre. Resultou que a maioria dos alunos optou pelo Inglês, o que criou um sério problema no segundo semestre, pois as turmas eram demasiadamente grandes, dificultando a apresentação das aulas e a aprendizagem do conteúdo. A solução para o problema foi a subdivisão das turmas em grupos menores. Chaves Junior (2016, p. 532) também comenta sobre o ensino de línguas nas Classes Integrais,

estava previsto o trabalho com o “Francês, em forma recreativa” ao longo da 1ª série do curso. No primeiro semestre da 2ª série, os alunos frequentariam aulas de Inglês e Francês para que pudessem no segundo semestre optar por uma delas ou, demonstrando “gosto e aptidão”, continuar com ambas

A fim de melhor visualizar a questão das línguas oferecidas, segue um quadro no qual é possível observar a abertura gradual de novas turmas e novas séries, além das ofertas e opções pelas línguas estrangeiras.

Quadro 1 Relação das línguas estrangeiras ofertadas por séries nas Classes Integrais 

ANO SÉRIES LÍNGUAS OFERTADAS
1960 1ª série INGLÊS FRANCÊS LATIM
Não Sim Não
1961 1ª série
2ª série
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
1962 1ª série
2ª série
3ª série
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
1963 1ª série
2ª série
3ª série
4ª série
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Sim
Não
Não
Não
Sim
1964 1ª série
2ª série
3ª série
4ª série
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Sim
Não
Não
Não
Não
1965 1ª série
2ª série
3ª série
4ª série
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
1966 1ª série
2ª série
3ª série
4ª série
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
1967 2ª série
3ª série
4ª série
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não

Fonte: As autoras (com base em informações retiradas dos relatórios analisados).

No quadro, é possível constatar que o inglês se tornou predominante a partir de 1962. Nesse ano, os alunos da 2ª série, no 2º semestre letivo, tiveram de optar entre uma língua ou outra. Assim, conforme se criavam novas turmas, foram sendo priorizadas as aulas de inglês, e o francês foi perdendo seu espaço. O motivo não foi somente a predileção, mas também o fato de que, devido à nova LDB de 1961, houve modificação no plano das Classes Integrais em relação às línguas estrangeiras. Tal questão foi exposta em um item no relatório do ano de 1962, conforme segue abaixo.

O Planejamento do trabalho para o ano de 1962, para as 3ªs séries se efetuou de acordo com a previsão no Plano de Organização das Classes Integrais. Apenas um aspecto foi modificado em face da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - a questão do estudo das línguas estrangeiras vivas.

O Plano das Classes Integrais admitia a possibilidade de o aluno optar por uma delas (Francês ou Inglês) após o período obrigatório de familiarização com seu estudo; também admitia a possibilidade de o aluno continuar estudando ambas, isto porque talvez viesse a necessitar delas ao ingressar no 2º ciclo.

A opção se fez após o 1º semestre da 2ª série e o resultado foi o seguinte: 33 alunos optaram pelo Inglês; 7 alunos optaram pelo Francês; 6 alunos continuaram com ambas prevendo a hipótese de necessitar delas no curso científico, razão que se anula em face da nova lei.

Considerando a nova situação e também procurando atender o grupo de alunos que estudando ambas as línguas solicitara nova oportunidade para se definir por uma delas, já que não estavam satisfeitos e se julgavam prejudicados em relação ao outro grupo, foi resolvido que se lhes daria a chance perdida - sendo que o resultado foi o seguinte: 39 alunos optaram pelo Inglês; 7 alunos pelo Francês (CEP, Relatório de 1962).

De acordo com o relatório de 1963, devido ao baixo interesse pelo Francês, e também ao fato de acreditarem que a dedicação a uma só língua durante os 4 anos ginasiais poderia trazer maior rendimento, a língua foi suprimida em caráter experimental, e o Inglês inserido desde a 1ª série. Da mesma forma, o Latim não teve demanda, possivelmente pela falta de incentivo, expressa pela LDB de 1961, sendo suprimido em caráter definitivo. Então, os alunos que já estavam participando das aulas dessas duas línguas, puderam concluir até o fim do ano, mas elas deixaram de ser ofertadas no ano seguinte para novos alunos, e por completo em 1964.

O ano letivo era dividido de forma bimestral, sendo que a opção pela língua inglesa ou francesa (enquanto essa ainda era oferecida), era feita semestralmente. Quanto à frequência das aulas de línguas, eram oferecidas de duas a quatro aulas semanais, dependendo da série e da opção pelo Francês (antes de ser excluído).

Como atividade extracurricular de Língua Inglesa, era oferecido o “Clube Sing Song” onde eram cantadas canções em inglês. Essa atividade possibilitava a interação dos alunos e oportunizava a prática oral da língua.

Como referenciado acima, no projeto “Entrosamento das Disciplinas” teve o conteúdo de Inglês, geralmente concentrado na aquisição lexical e se relacionou, especialmente, com as disciplinas História e Geografia.

Nos relatórios, consta que a verificação da aprendizagem era feita por intermédio de provas objetivas, exercícios orais e escritos e conversação. Depois de cada prova, era feita, pelos próprios alunos, a retificação da aprendizagem nos cadernos, que continham vocabulário ilustrativo, exercícios complementares, canções e poesias.

Quanto ao índice de aproveitamento das aulas de Inglês, esses registros apontam que os objetivos foram atingidos, uma vez que os alunos comprovaram razoável domínio do idioma. O relatório de 1961 apresenta resultados de uma comparação entre as Classes Integrais e as Comuns: os alunos das aulas de Inglês da 2ª série das Classes Integrais apresentaram mais conhecimentos até mesmo quando comparados aos alunos das 3ª e 4ª séries das Classes Comuns. Entretanto, não encontramos evidências dessas informações, como folhas de atividades, ou descrições aprofundadas das avaliações realizadas.

Havia grande variedade de recursos didáticos nas aulas como jogos, atividades orais, exercícios escritos, apresentações musicais, filmes, revistas, audiolivros e de atividades como as visitas, as simulações, etc. As aulas tinham como foco a oralidade, isto é, a conversação praticada em equipes. No decorrer das 4 séries, eram trabalhados vocabulários e estruturas gramaticais em situações específicas e familiares aos alunos, por exemplo, descrever a família, a escola, os hábitos e atividades dos alunos, as cidades, a alimentação, esportes, o corpo humano, animais, situações de compras ou ir ao cinema, comparação entre os Estados Unidos da América e o Brasil, em diversos aspectos, confecção de cartões natalinos, etc. Por meio de muita repetição e revisão, era possibilitado o aprendizado de vocabulários e frases do cotidiano dos alunos. Dentre os objetivos visados, destacamos: tornar uma outra nação conhecida, com os seus costumes e tradições, salientar o que há de comum entre o Brasil e o estrangeiro, ensinar a respeitar culturas e tradições de outros povos.

No que diz respeito ao uso de livros didáticos, consta, embora sem detalhes, que alguns eram usados para fornecer textos, contos, poemas e exercícios gramaticais que seriam trabalhados com os alunos. Possivelmente, isso se justifica por ser uma proposta que adota o método ativo e se posiciona contrária ao ensino livresco.

Os educadores visavam renovar a cultura escolar, reformar as práticas pedagógicas que estavam engessadas em conceitos tradicionais conservadores, por meio dessa proposta experimental, que perdurou por quase uma década.

Retomando o conceito de cultura escolar proposto por Juliá (2001), as Classes Integrais podem ser entendidas tanto do ponto de vista de sua concepção, quanto organização e funcionamento, como um experimento que propunha um novo conjunto de normas, definindo outros conhecimentos e condutas, gerando práticas diferenciadas e finalidades renovadas, por meio de conteúdos e modos de ensinar reformados. Estava sendo criada uma nova cultura no interior daquele Colégio, que já tinha sua cultura estabelecida.

Vale aqui apontar que o ensino de Língua Inglesa, desde sua implantação nas escolas brasileiras no século XIX, conforme relata Oliveira (1999), tomava a língua materna como referência para seu aprendizado, além de ser ensinado por meio de trechos selecionados de livros de literatura de língua inglesa. No início do século XX, na era Vargas, com a reforma de Francisco Campos de 1931, houve mudança na estrutura do ensino visando adaptá-lo à nova realidade do país, a nacionalização e a modernização. Esta reforma especificou os objetivos, conteúdos e metodologia do ensino das disciplinas, no caso da Língua Inglesa reforçou seu caráter cultural e literário, aderindo ao Método Direto, segundo o qual a língua estrangeira deveria ser ensinada na própria língua estrangeira, também conhecido como Natural, já que propunha o aprendizado de forma oral e natural, sem o uso da tradução. A transmissão do significado se daria por meio de gesticulações, mímicas e imagens.

Redondo (2013) detalha que, nesse período, eram ensinados vocabulários e frases do cotidiano com ênfase na pronúncia correta das palavras, importavam a compreensão oral e a auditiva. A gramática era ensinada indutivamente. Do professor, esperava-se fluência na língua alvo a fim de poder conduzir as aulas somente em tal língua. Esse foi um dos motivos para a falta de sucesso de tal abordagem nas escolas públicas.

Oliveira (1999) refere que, em 1951, ocorreram mudanças no currículo brasileiro por conta do reconhecimento dos governantes acerca de sua inadequação para o momento, dado sua tradição livresca, o que requeria uma simplificação dos programas, incluindo a supressão do estudo de história da literatura inglesa.

A partir de 1958 até 1970, prevaleceu a Abordagem Audiolingual e Audiovisual, a qual, segundo Casimiro (2005), pode ser considerada uma reedição da Abordagem Direta, que enfatizava a língua oral, o aluno deveria passar à grafia depois de assimilar a oralidade. Adotava o processo de estímulo e resposta, sendo importante o reforço do professor às respostas certas. O método era baseado na associação de figuras e sentenças, estimulando o aluno a repetir orações com os aspectos sintáticos e lexicais alvo da aula.

Para a Secretaria Paranaense de Educação “Método audio-visual é um termo muito cômodo que pode designar um método inteiramente baseado no emprego do material audio-visual (imagens fixas ou animadas, gravações em discos ou fitas magnéticas)” (PARANÁ, SEEC, 1972, p. 30), o que, a princípio, parece se opor ao método tradicional, justamente por utilizar áudio e imagens. Porém, nele, o professor lança mão de um manual didático para transmitir o conhecimento e conforme o mesmo documento, “[...] pode acontecer que se empregue o material audio-visual só para parecer atualizado, sem deixar por isso de praticar um método de concepção tradicional, inspirando-se em princípios antiquados” (PARANÁ, SEEC, 1972, p. 31).

Dessa forma, levando em conta o contexto, apresentado acima, do ensino da Língua Inglesa na época, as Classes Integrais traziam novidade nos mais diversos aspectos: novas metodologias foram adotadas, material diversificado foi empregado, a maneira de o aluno ser avaliado era diferenciada, buscava-se suscitar a autonomia do aluno e oferecer formação integral, até mesmo a forma de ingressar nessas Classes era singular. Entretanto, com o fim da experiência, os alunos tiveram de se inserir nas Classes Comuns do CEP em suas culturas já consolidadas.

Portanto, estudar a cultura escolar significa recuperar as manifestações estabelecidas no

interior das instituições. Neste caso, conseguimos observar as normas, as teorias, as práticas, as organizações disciplinares que o CEP implementou na Língua Inglesa na década de 1960.

Tecendo considerações

O conjunto das normas e práticas definidoras dos conhecimentos que a sociedade deseja que sejam ensinados, e dos valores e comportamentos a serem inculcados, se refletem nas disciplinas escolares.

Em relação à disciplina Língua Inglesa, podemos dizer que sua inclusão na grade curricular na década de 1960 do CEP, foi justificada por suas funções instrumentais e culturais, pois visava contribuir com o aperfeiçoamento de atividades linguísticas, ao expandir o vocabulário e as formas de comunicação e o desenvolvimento das atividades sociais, ao proporcionar o contato com outras civilizações e culturas.

Com isso, destacamos que seu objetivo principal era o de formação para o trabalho, uma vez que o projeto de nação era a busca pelo progresso e industrialização. Nesse momento, a língua não estava sendo vista como atividade intelectual, de formação do espírito científico-filosófico linguístico, mas tinha se tornado mecanismo de formação profissional. Os objetivos gerais do ensino da Língua Inglesa eram, além do domínio das estruturas básicas da língua, interpretar textos com a finalidade de se preparar para o curso superior ou profissionalizante.

Apesar de as Classes Integrais se utilizarem das metodologias ativas, que procuravam dar voz aos alunos e buscavam implementar a prática das quatro habilidades (ler, escrever, falar, ouvir), elas anunciavam o preparo para o nível de ensino posterior, o Colegial, e o preparo do aluno para a vida, incluindo o mercado de trabalho. Para reforçar esta afirmação, lembremos que o projeto das Classes Experimentais, que foi implementado nacionalmente, tinha por objetivo elevar os padrões da educação secundária a partir de novos métodos e princípios, formando integralmente os educandos e tornando-os aptos para a sociedade em que viviam.

Interessante perceber as duas propostas paralelas que ocorriam naquele período: as Classes Comuns, adotando os preceitos e condutas tecnicistas que vagarosamente se instituíam; enquanto que as Classes Integrais buscavam métodos alternativos para ensinar os mesmos conteúdos.

As Classes Integrais, fazendo uso dos mais diversos materiais, buscaram expor a cultura americana e também a britânica por meio de suas características e costumes. Ainda assim, apenas com a intenção de demonstração da cultura dos países falantes nativos da língua estudada. Por esse intermédio, o ensino da Língua Inglesa atravessou a cultura escolar e também impôs a ela elementos de culturas economicamente desenvolvidas.

Para finalizar queremos destacar a importância deste estudo por ter adentrado aos relatos das práticas realizadas pelos professores de Língua Inglesa e com isso ter apontado um momento de mudança no ensino desta disciplina, seguindo o preceito de que “Convém examinar atentamente a evolução das disciplinares escolares, levando em conta diversos elementos (...): os conteúdos ensinados, os exercícios, as práticas de motivação e de estimulação dos alunos, que fazem parte destas “inovações” que não são vistas” (JULIÁ, 2001, p.34)

Referências

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1Proposta de ensino progressista, com método ativo, inspirada nas ideias de direito à educação - pública e gratuita - a todos os cidadãos, e que visava ao desenvolvimento da autonomia do educando, possibilitando, então, o combate às desigualdades sociais. No Brasil, ganha notoriedade em 1932, com o Manifesto dos Pioneiros, fazendo parte nomes como Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e Anísio Teixeira (MIGUEL, 2011).

2Sobre a influência dessas classes nas Classes Experimentais do Brasil, ver “Luis Contier como catalisador de redes: Classes Experimentais e renovação do ensino secundário em São Paulo nas décadas de 1950 e 1960” de Vieira e Chiozzini (2018).

3Para aprofundar sobre a introdução das Classes Experimentais no Brasil, ver “Classes experimentais no Ensino Secundário: o pioneirismo de Luis Contier (1951-1961)” de Vieira e Dallabrida (2016).

4O Panamericanismo, ou Interamericanismo, seria uma união de todos os países da América, com objetivos políticos, econômicos, militares, culturais, etc.

5Sigla em inglês: United States Information Service (USIS). Foi um dos órgãos oficiais do governo estadunidense responsável pela produção de fontes impressas publicados em português, para o público brasileiro, entre os anos de 1922 e 1988.

Recebido: 01 de Novembro de 2021; Aceito: 07 de Fevereiro de 2022

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