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Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.22  Uberlândia  2023  Epub 07-Ago-2023

https://doi.org/10.14393/che-v22-2023-155 

Dossiê 2 - A constituição do campo da Educação Especial no Brasil: entre tempos, lugares e pessoas

Entre Guerras e Revoluções: Atividades de Helena Antipoff na Rússia bolchevique (1917-1924)1

1Alexander Solzenitcyn Centre for Studies of Russia Abroad (Russia). nmasolikova@gmail.com

2Alexander Solzenitcyn Centre for Studies of Russia Abroad (Russia). msorokina61@gmail.com


Resumo

O artigo trata da trajetória profissional da psicóloga russa Helena Antipoff (1892-1974) na Rússia Soviética, entre 1917 e 1924, após retornar de sua estada educacional em Paris e Genebra, e antes de migrar para o Brasil em 1929. Durante o breve período soviético, Helena foi testemunha e participante ativa nas grandiosas e dramáticas mudanças do país. Seu trabalho, assim como o trabalho de outros cientistas russos que migraram para outros países durante os anos de guerra e revolução social, agora está sendo amplamente estudado, e novos conhecimentos invertem algumas percepções e estereótipos estabelecidos sobre a história da psicologia na Rússia. O trabalho inicial de Antipoff nas comunidades psicológicas e educacionais russas estava ligado às intensas atividades científicas e sociais da escola de cientistas e psicólogos de São Petersburgo no período - Vladimir M. Bekhterev (1857-1927), Alexander F. Lazursky (1874 -1917), Alexander P. Nechaev (1870-1948), Mikhail Y. Basov (1892-1931), Adrian S. Griboedov (1875-1948) e outros. O trabalho profissional realizado por Helena nesse período de seis anos na Rússia focalizou áreas de intervenção sobre problemas psicológicos práticos da época entre as mais relevantes para o país (estudo de crianças em condições de vulnerabilidade, fome e orfandade; testes de nível mental visando evidenciar aumento ou redução de inteligência em condições de cataclismo social e guerra; comparação das habilidades intelectuais de crianças de diferentes grupos sociais e vivendo em diferentes países; diagnósticos sociais e psicológicos e distribuição de “meninos de rua” para diferentes tipos de instituições de atendimento e educação).

Palavras-chave: Helena Antipoff; Educação soviética; Mulheres na ciência; Educação Especial

Abstract

The article deals with the professional career of the Russian psychologist Helena Antipoff (1892-1974) in the Soviet Russia, between 1917 and 1924, after returning from her educational stay in Paris and Geneva, and before migrating to Brazil in 1929. During the brief Soviet period, Helena was a witness and an active participant in the grandiose and dramatic changes of the country. Her work, as well as the work of other Russian scientists who migrated to other countries during the years of war and social revolution, is now being extensively studied, and new knowledge reverse some established perceptions and stereotypes about the history of psychology in Russia. Antipoff start-up in the Russian psychological and educational communities was linked to the intensive scientific and social activities of the St. Petersburg school of scientists and psychologists at this period - Vladimir M. Bekhterev (1857-1927), Alexander F. Lazursky (1874-1917), Alexander P. Nechaev (1870-1948), Mikhail Y. Basov (1892-1931), Adrian S. Griboedov (1875-1948) and others. Helena`s professional self-realization in this six-year Russian period was developed in real hot spots of practical psychological problems of that time for the country (study of children in conditions of devastation, hunger and orphanhood; testing of enhancement/reduction of child intelligence in conditions of social cataclysm and war; comparison of intellectual abilities of children of different social groups and in different countries; social and psychological diagnostics and distribution of “street children” to different types of care and educational institutions).

Key-words: Helena Antipoff; Soviet education; Women in Science; Special Education

Resumen

El artículo aborda la trayectoria profesional de la psicóloga rusa Helena Antipoff (1892-1974) en la Rusia soviética, entre 1917 y 1924, luego de regresar de su estancia educativa en París y Ginebra, y antes de emigrar a Brasil en 1929. Durante el breve período en Unión Soviética, Helena fue testigo y participante activa de los cambios grandiosos y dramáticos en el país. Su trabajo, como el de otros científicos rusos que emigraron a otros países durante los años de la guerra y de la revolución social, ahora está siendo ampliamente estudiado y los nuevos conocimientos revierten algunas percepciones y estereotipos establecidos sobre la historia de la psicología en Rusia. Los primeros trabajos de Antipoff en las comunidades psicológicas y educativas rusas estuvieron vinculados a las intensas actividades científicas y sociales de la escuela de científicos y psicólogos de San Petersburgo en este período: Vladimir M. Bekhterev (1857-1927), Alexander F. Lazursky (1874 -1917), Alexander P. Nechaev (1870-1948), Mikhail Y. Basov (1892-1931), Adrian S. Griboedov (1875-1948) y otros. La realización profesional de Helena en este sexenio en Rusia se desarrolló en focos reales de problemas psicológicos prácticos para el país de la época (estudio de niños en condiciones de devastación, hambre y orfandad; pruebas de nivel mental evidenciando aumento o reducción de la inteligencia en condiciones de cataclismo y guerra; comparación de capacidades intelectuales de niños de diferentes grupos sociales y en diferentes países; diagnósticos sociales y psicológicos y distribución relevante de “niños de la calle” a diferentes tipos de instituciones de cuidado y educación).

Palabras clave: Helena Antipoff; Educación soviética; Mujeres en la ciencia; Educación Especial

Helena Antipoff (1892-1974) - eminente psicóloga, educadora e ativista de direitos humanos suíço-brasileira, começou sua carreira - tanto como pesquisadora quanto como profissional nos campos da psicologia e da educação - em seu país natal, a Rússia. A cidade de Petrogrado, antiga capital do império russo, e a cidade de Viatka, uma província distante, foram locais que marcaram não só uma mudança geográfica nas posições da jovem estudiosa como refletiram sua grande dimensão social, profundamente ligada à revolução russa de 1917, e sua influência nas trajetórias individuais e experiências de estudiosos e educadores e suas agendas profissionais. As atividades pessoais e profissionais de Helena Antipoff como pedóloga são muito importantes nessas perspectivas (Campos, 2012).

Antipoff passou cerca de 7 anos na Rússia bolchevique (1917-1924). Até hoje, nenhum de seus biógrafos conseguiu apresentar um relato detalhado de sua vida profissional durante esse período. Era crença geral que ela se resumiu à luta pela sobrevivência durante a Guerra Civil e as mudanças nos regimes políticos. Entretanto, esses anos foram direcionados para um "trabalho experimental" e tiveram papel significativo no desenvolvimento das opiniões e práticas psicológicas e pedagógicas de Antipoff.

Novos dados biográficos de arquivos russos e da imprensa local revelaram dados importantes na formação de Antipoff como psicóloga e educadora. Isso explica, parcialmente, por que - em contraste com muitos de seus compatriotas e colegas, que compartilhavam a opinião de que uma ordem social justa tornaria possível uma nova natureza humana, um Novo Homem - Antipoff sugeriu um conceito muito mais complicado e complexo de "meio-ambiente", incluindo dois fatores: biológico e educacional.

Ao final do Século XIX, a ciência russa era uma variante da ciência europeia, e seu desenvolvimento seguia paralelo ao desenvolvimento em outras partes da Europa. Esses paralelos foram reforçados por um fluxo constante de pessoas e ideias: após completar os estudos universitários, muitos cientistas russos passavam vários anos no exterior, recriando ao voltar para o solo russo algumas das organizações e práticas científicas que vivenciaram na Europa (Krementsov, 1997). Como na Alemanha, a maior base institucional da ciência russa era um sistema de universidades governamentais e instituições de educação especializada. Quando da I Guerra Mundial, o império russo tinha 10 universidades e mais de 80 outras instituições de ensino superior. Um número de cientistas se voltou para a "verdadeira ciência": o Instituto Psico-Neurológico de Vladimir Bekhterev (criado em 1908) e o Instituto de Psicologia Experimental de Georgii Chelpanov (fundado em 1912) foram projetados para o avanço em suas áreas específicas em escala ampla e foram criados com financiamento privado.

A primeira década do Século XX foi uma época de nascimento do conhecimento científico sobre a criança e a infância na Rússia, de nascimento das ideias nacionais de psicologia e pedagogia experimental, de pedologia, psicanálise, educação livre e do início do interesse na vida mental infantil. Antes da Revolução Bolchevique de 1917, os estudos infantis ou pedologia se desenvolveram na Rússia como um amplo movimento público e profissional, incluindo médicos, educadores, psicólogos, filósofos e outros - a chamada intelligentsia2 russa que estava profundamente envolvida no processo de modernização do império russo (Byford, 2008).

A maior parte da comunidade científica russa, inclusive psicólogos e educadores, apoiou entusiasticamente a revolução de fevereiro de 1917, que destronou o Czar Nicholas II e criou um Governo Provisório liberal para garantir a transição da Rússia para um governo democrático. O coup d’état dos Bolcheviques em Petrogrado em 25 de outubro de 1917 declarou o estabelecimento de uma república socialista. O governo começou quase que imediatamente a criar um novo sistema para a ciência, estabelecendo agências especiais. O novo Ministério da Educação (Narkompros) - responsável por todas as universidades e instituições de ciência "pura" - apoiou o crescimento rápido do sistema científico.

Com os bolcheviques no poder, a pedologia se tornou uma das bases mais fundamentais para o futuro das disciplinas e práticas científicas do regime. Eles a institucionalizaram como uma super ciência soviética, cujo maior objetivo era conduzir a engenharia social de futuras gerações de cidadãos - física, psicológica e ideologicamente. A pedologia, que começou como estudos clínicos da primeira infância, foi transformada em um programa estatal de testes escolares.

Por outro lado, a Guerra Civil (1917-1922) e a Revolução estimularam o grande aumento de "meninos de rua", crianças que perderam seus pais e suas famílias. Em 1921, havia de 4 a 6 milhões de crianças vivendo nas ruas e sua adaptação a uma nova vida foi um dos mais difíceis desafios para os soviéticos. Por isso o estudo de crianças em situação de vulnerabilidade, fome e orfandade; a medição do aumento ou redução da inteligência em condições de cataclismo social e guerra; a comparação das capacidades intelectuais de crianças de diferentes grupos sociais e vivendo em diferentes países; os diagnósticos sociais e psicológicos e a distribuição de “meninos de rua” para diferentes tipos de instituições de cuidado e educação se tornaram um problema urgente para os setores governamental, profissional e científico.

O novo estado e suas instituições também tiveram parte ativa no destino de crianças "especiais". Antes da Revolução de 1917, a esfera da "infância especial" existia na Rússia principalmente sob os cuidados de orfanatos ligados à Igreja, de organizações beneficentes e de financiamento privado como elementos da estrutura estatal. Os bolcheviques viam tudo isso como ideias revolucionárias estrangeiras e acabaram com as instituições beneficentes e de caridade pré-revolução. Todos os assuntos relacionados aos cuidados de crianças com deficiência, crianças sem lar e aquelas com comportamento antissocial, o estado soviético assumiu. Um grande número de novas instituições de variados tipos para cuidar, tratar e treinar crianças especiais foram organizadas. Todas eram subordinadas à nova ideologia comunista, que avaliava o novo Homem Soviético por sua utilidade para a sociedade. Quanto mais crianças com problemas mentais, físicos ou comportamentais pudessem ser úteis para a sociedade, curadas ou re-treinadas, mais teriam chance de sobreviver e de ter um futuro.

Parece interessante que os "meninos de rua" fossem categorizados como crianças "imperfeitas" naquele momento. Defeitos morais, físicos e mentais eram diferenciados. "Meninos de rua" eram "moralmente imperfeitos" por essa classificação. Assim, crianças diferentes com deficiências e personalidades antissociais, constituíam virtualmente um grupo "imperfeito". Se na Rússia czarista elas recebiam compaixão e cuidados, mas separadas da sociedade, na Rússia soviética a compaixão desapareceu e tentaram categorizar as crianças o máximo possível e incluí-las no conceito geral da nova "Escola Para o Trabalho". A verba governamental para tais instituições nesse período era praticamente nula - o país estava em guerra, havia fome e destruição, e doações eram encaradas com menosprezo.

Esse breve relato mostra a cumplicidade e multidirecionalidade dos problemas sociais e tendências da época em que Helena Antipoff se viu na vanguarda da psicologia experimental depois da revolução bolchevique de 1917. Seu início nas comunidades psicológica e educacional russas e no ambiente profissional se deu sob a influência de intensas atividades científicas e sociais da escola de psicólogos de Petersburgo - V. Bekhterev (1857-1927), A. Lazursky (1874-1917), A. Nechaev (1870-1948), M. Basov (1892-1931), A. Griboedov (1875-1948) e outros.

Por causa de seu aprendizado no exterior, Antipoff não estava muito integrada às atividades da comunidade psicológica russa. As realizações profissionais de Helena no período de 6 anos na Rússia não nos mostram uma construção de carreira ativa, pragmática ou progressiva. Pelo contrário, ela se viu às voltas com os piores problemas psicológicos práticos daquela época no país, que devem tê-la testado mais em termos de resistência do que prometiam estabilidade e crescimento profissional.

O foco das atividades profissionais de Antipoff era em exames pedagógicos de crianças (órfãs, sem-teto ou desprovidas socialmente) em postos de quarentena e de triagem de Vyatka e Petrogrado. Ela começou sua carreira profissional russa avaliando o desenvolvimento físico e intelectual das crianças que sofreram os horrores de levantes sociais e fornecendo a elas um primeiro atendimento social e psicológico (Masolikova, Sorokina, 2015).

Vyatka: um prelúdio para práticas futuras

Helena Antipoff chegou a Vyatka, uma cidade provinciana a 1400 km de Petrograd no nordeste da Rússia presumidamente no final de 1919, com seu filho recém-nascido Daniel, possivelmente fugindo da fome e da devastação da capital revolucionária. Pequenas cidades eram conhecidas como lugares para exílio político - o famoso escritor político russo Alexander Herzen (1812-1870), por exemplo, se estabeleceu lá. Ao mesmo tempo, Vyatka deu uma grande contribuição à psicologia russa no fim do Século XIX - os famosos psicólogos russos V. Bekhterev e V.Troshin se formaram no Vyatka Gymnasium . Durante a Guerra Civil, a maioria dos intelectuais de Petrograd preferiu se mudar para locais mais quentes ao sul - como Ucrânia ou Criméia. Só um pequeno grupo profundamente ligado a alguns partidos socialistas se mudou para o leste. Mas várias levas de crianças sem-teto passaram por Vyatka também, levadas por boatos fantasiosos de que naquele lugar haveria comida, calor e abrigo.

Em Vyatka, Antipoff conheceu o médico Vassily Treiter (1875-1929), que foi importante para sua experiência no trabalho pedagógico. Filho de um nobre da província de Moscou (segundo relatos da família, bisneto do poeta e filósofo alemão Göethe), ele nasceu em Nizhny Novgorod, se formou na Faculdade de Medicina da Universidade de Moscou em 1900, se especializando em psiquiatria, e retornou à cidade de sua infância, onde trabalhou como médico sanitarista. Ativo como figura pública, em fevereiro de 1917 Treiter foi eleito para o Comitê Executivo Provincial de Vyatka, e depois designado Comissário Provincial do Governo Provisório. Mas sua carreira política terminou logo, quando foi preso pelos soviéticos de Vyatka. Desde 1918, Treiter se envolveu principalmente em atividades pedagógicas: de 1918 a 1922, foi Chefe do Departamento de Pedologia da Superintendência Infantil; de 1922 a 1929, foi Professor Assistente de Pedologia no Instituto Pedagógico de Vyatka (TcGAM. F. 418. Op. 308. D. 979; Zharavin, 2001).

Helena trabalhou com o Dr. Treiter no Departamento de Pedologia da Superintendência Infantil, estudando o desenvolvimento físico e intelectual infantil durante a Guerra Civil. Esse centro de Vyatka agia como uma espécie de triagem física, mental, social e médica, pela qual passava o contingente de crianças normais ou relativamente normais - que se encontravam sem pais ou sem lar. O futuro dessas crianças dependia muito da qualidade do cuidado psicológico que recebiam através do Centro. Se um menino fosse definido como "anormal", era encaminhado para uma escola especial com muito menos possibilidades do que um "normal". Noventa e nove crianças foram estudadas em 1920 e 160 crianças em 1921, usando a escala Binet-Simon para o estudo do desenvolvimento da inteligência (1911) e a fórmula Gruzdev para a análise de crescimento e peso no desenvolvimento infantil.

Os resultados foram publicados no artigo de Treiter "Resultados de um Estudo de Grupos de Crianças de Vyatka de 1919 a 1921", em 1924 (Treiter, 1924). Nele, ele expressou gratidão a seus colegas pedólogos, mencionando Helena Antipoff entre eles - "a parte técnica do estudo foi principalmente executada por E. V1. Antipova e Ol. N. Lashkevich" (Treiter, 1924, 2, 10).

Como líder da pesquisa, Treiter manteve uma posição de neutralidade sobre as causas de transtornos de desenvolvimento na infância, discutindo a influência da hereditariedade e do meio-ambiente, fatores biológicos e psíquicos: “Em qualquer escola, - Treiter escreveu - metade das crianças corresponde à norma, um quarto fica abaixo dela e um quarto fica acima" (essa conclusão foi resultado da comparação dos estudos de diferentes autores, e uma comparação é apresentada no artigo). A defasagem é de menos de 2 anos para crianças até 9 anos e de menos de 3 anos para crianças com mais de 9 anos - em uma escola normal e com constante supervisão médica. Tudo acima desse cálculo é considerado pelo autor como "mudanças orgânicas no cérebro e órgãos sensoriais". Nesse caso, uma escola normal não é possível - é necessária uma instituição de educação especial, em que o professor e o médico trabalhem com a criança. "Esse provisionamento foi estabelecido a partir do trabalho com as escalas de Binet"(Treiter, 1924, 6-7).

O estudo mostrou que em 1920, o peso de todas as 99 crianças estava abaixo do normal das "crianças do proletariado do período pré-guerra", em geral por dois anos; um atraso de três anos era, na verdade, o normal para crianças que passavam pela Superintendência de Vyatka; o percentual de crianças dentro da norma foi de 12% dentre 295 crianças no período 1920-1921; as crianças de Vyatka tinham de 1 a 3 anos de defasagem (contra a média de outros autores, de 3 anos).

Treiter e seus colegas sugeriram que o indicador de retardo mental era resultado da negligência pedagógica de crianças nas condições atuais. Tais crianças sofriam de trauma psicológico ou negligência pedagógica, mas não haviam ainda sido expostas à parte física do processo. O atraso fisiológico estava diretamente ligado à vida nas ruas. Os índices obtidos de desenvolvimento mental no estudo de Vyatka são "ruins e surpreendentes" - o pico fica em 3 ou mais anos de atraso e até "vai além das curvas de Binet" (Treiter, 1924, 4).

A principal conclusão desse estudo sem precedentes ressaltou um atraso significativo no desenvolvimento dos meninos de rua, nos aspectos tanto físicos quando mentais, o que foi interpretado como um resultado de "condições extremamente difíceis de vida e de uma morbidade colossal" (Treiter, 1924, 7). Segundo Treiter, o desenvolvimento físico das crianças de Vyatka não alcançou nem "o mais baixo padrão observado até agora entre as crianças da classe proletária de cidades grandes"; o desenvolvimento mental também era baixo - 54% de todas as crianças avaliadas em Vyatka tinham um "atraso orgânico", "que já as condenava a uma inabilidade para completar o ensino médio" (Treiter, 1924, 8). Treiter sugeriu a organização de escolas especiais para essas crianças. Segundo os cálculos do médico, elas totalizavam 4145 crianças em Vyatka.

Acreditamos que a detalhada sustentação metodológica europeia do estudo foi feita por Antipoff, a única pessoa em Vyatka que recebeu educação fundamental na área em Paris e Genebra. Ela trabalhou lá como psicóloga clínica e usou métodos de testagem que conhecia desde seu tempo em Paris - medindo o nível de desenvolvimento físico e intelectual de crianças frente à guerra civil e dificuldades de sobrevivência. Ao mesmo tempo, Antipoff era professora e ensinou Psicologia Experimental nos cursos de pedagogia de Vyatka dentro do "Programa de cursos para a preparação de professores de pré-escola, professores e educadores para crianças em lares dependentes de assistência social". Ela também ministrou aulas sobre métodos de estudo da criança no departamento pré-escolar do Instituto de Educação Pública de Vyatka, e de psicologia infantil na Sociedade "Learning a Child". Além disso, Antipoff fundou um Gabinete de Psicologia que logo se tornou um departamento pedagógico no Instituto Pedagógico de Vyatka.

Em sua correspondência em russo de 1930, Helena costumava lembrar os anos com Treiter em Vyatka (não de São Petersburgo) como um período de importante preparação prática para sua futura atividade psicológica na Europa e no Brasil. Até uma simples lista das atividades e iniciativas profissionais dela em Vyatka mostra que havia um grande motivo para tal conclusão.

Petrogrado: novos projetos

Tendo voltado para Petrograd depois de Vyatka em 1921, Antipoff continuou suas intensas práticas profissionais. Ela colaborou com o Laboratório de Psicologia Educacional Experimental do Museu Pedagógico de Petrogrado, fundado em 1901 por Alexander Nechaev (1870-1948), um psicólogo russo e um dos fundadores da Pedagogia Experimental (Romanov 1996). Era não só uma instituição de pesquisa mas também um centro científico e organizacional. A relação entre psicologia e pedagogia, o problema do estudo psicológico de crianças em idade escolar, principalmente do trabalho mental dos estudantes, a organização racional do dia na escola, exigências higiênicas do processo educacional - essas e questões similares eram temas de interesse de Nechaev. A equipe do Laboratório reuniu extensivos dados experimentais de vários aspectos do desenvolvimento mental infantil em uma ampla faixa etária. O estudo avaliava áreas cognitivas da criança - atenção e tipos de memória, a relação da atenção com o processo da memória, percepção, observação - as condições do desenvolvimento e do funcionamento dos processos cognitivos e suas manifestações individuais, características emocionais e volitivas, fadiga mental infantil e como evitá-la.

A obra de Nechaev foi traduzida para vários idiomas (alemão, inglês, polonês, francês, tcheco, húngaro, finlandês e lituano). Ele foi eleito membro honorário de várias sociedades e instituições científicas russas e internacionais (Guski-Leinwand 2011). Em 1914, Nechaev foi eleito membro honorário do Instituto Rousseau, de Genebra. Provavelmente foi quando ele conheceu Antipoff e depois apoiou suas atividades de pesquisa na Rússia (Antipoff 1913; Masolikova, Sorokina, 2016). Até fins da década de 1920, o psicólogo continuou a colaborar com colegas estrangeiros e publicou vários artigos em publicações internacionais.

Mas em 1921, o Laboratório era dirigido não por Nechaev mas por outra formanda de universidades suíças - Polina Efrussi (1876-1942). A convite dela, Antipoff conduziu em 1921 um estudo de um grupo de crianças de idade pré-escolar de Petrogrado (de 4 a 9 anos) para "detectar seu nível de inteligência" pelo método Binet-Simon.

Fazendo pesquisa em Petrogrado, Antipoff não perdeu de vista a análise comparativa e usou amplamente as conclusões dos laboratórios franceses: "A comparação dos resultados desse estudo com dados similares obtidos por Binet e T. Simon em Paris (1911-1912) - ela escreveu na publicação - mostraram que, apesar da fraqueza física e da perturbação moral, o status intelectual das crianças russas em idade pré-escolar não demonstrou um desvio agudo do nível normal de desenvolvimento mental" (Antipoff 1924, 46). Antipoff interpretou o resultado como uma consequência da educação pré-escolar relativamente boa existente na Rússia antes da revolução bolchevique e das próprias atividades infantis: "Forçadas a navegar o ambiente ao seu redor, as crianças ativamente praticaram os atributos de inteligência que Binet chamou de compreensão, discussão, direção e sofisticação” (Antipoff 1924, 47).

Em contraste com vários colegas que acreditavam que uma ordem social justa criaria um Novo Homem, Antipoff sugeriu um conceito muito mais complicado e complexo de dois fatores de "meio ambiente" - biológico e educacional.

“Os dotes mentais da criança dependem do cérebro e da disposição do sistema nervoso, que ela herdou de seus antepassados - ela escreveu. Mas o talento é afetado pela situação - a direção do interesse, da vida, da fala, a atitude consigo mesma - em que ela é criada. Qual desses fatores é o mais forte - o ambiente do dia a dia ou a predisposição - nós não sabemos. Só podemos dizer que há uma relação significativa entre a inteligência da criança e o ambiente ao qual ela pertence". (Antipoff 1924, 46). Ela percebeu que os testes exploravam não só os dons mentais naturais, mas o grau cultural da civilização na qual a criança se desenvolvia e crescia. Já em 1922, Antipoff concluiu que o nível mental das crianças estava diretamente ligado ao nível do ambiente cultural ao qual elas pertenciam.

Colegas brasileiros sugeriram que o trabalho de Antipoff na Rússia pode ter sido influenciado pela abordagem histórico-cultural de Lev Vygotsky (1896-1934) (Campos, 2001). Mas Vygotsky fez sua primeira palestra pública em 1923 no Congresso Psico-Neurológico em Moscou e, àquela altura, sua teoria ainda não estava formada. As cartas de Antipoff desse período não fazem qualquer menção à sua familiaridade com Vygotsky e seus primeiros trabalhos. Mas os interesses profissionais de Antipoff no início da década de 1920 estavam quase que diretamente relacionados às questões que interessavam a Vygotsky. Aparentemente, era quase que um pressentimento de Vygotsky por Antipoff, digamos assim, talvez até uma premonição avançada, um tipo de intuição profissional de seguir nesse campo científico em particular. Parece que Antipoff e Vygotsky tiveram as mesmas ideias ao mesmo tempo. Mas Antipoff, com base em sua experiência pessoal de pesquisa e formação médica e educacional. Já Vygotsky, com base na filosofia.

Helena Antipoff publicou na Rússia, em 1923 e 1924, apenas dois artigos em publicações pedológicas soviéticas. Ambos tratam do desenvolvimento mental das crianças russas na época das grandes guerras e da transição revolucionária social e política do país. Assim, o contexto social e cultural cercou e acompanhou o trabalho de Antipoff, como as atividades de quase todos os psicólogos russos da época, desde o início de sua carreira.

O título do primeiro artigo publicado - "Estudo Psicopedagógico das Crianças do Centro para Órfãos e Meninos de Rua" (artigo № 1) - refletia sua relação com a Pedologia. O título do segundo artigo - "O Desenvolvimento Mental de Crianças em Idade Pré-escolar" (artigo № 2) - parece mais conservador. Escritos quase ao mesmo tempo (talvez 1922) mas por motivos diferentes e para leitores diferentes, esses artigos têm várias características em comum e claramente demonstram o estilo de pesquisa e as prioridades civis e profissionais de Antipoff.

O primeiro artigo foi endereçado à equipe dos Centros para órfãos de Petrograd e foi publicado no volume "Escola para o Trabalho" (Трудовая школа), preparado pelas autoridades educacionais e sociais soviéticas locais. O segundo artigo foi publicado no primeiro "Pedological Journal" especial russo, organizado e editado pelo psicólogo Vsevolod Basov (1892-1937?). Interessante que, a partir do segundo volume, a publicação foi editada pelo próprio V. Bekhterev e que foi nesse volume editado por ele que o artigo de Antipoff apareceu.

Fica claro pela diferença das publicações que os artigos de Antipoff tinham como alvo grupos diferentes em termos de profissionalização ou audiência, mas ambos se concentravam na necessidade de laboratório, de trabalho experimental e de técnicas científicas modernas que refletissem fortemente a preocupação pessoal e a crença de Antipoff no conhecimento científico como um instrumento para realimentar a vida pessoal do indivíduo e a vida social da sociedade.

O primeiro artigo foi escrito por Antipoff em um dos momentos mais dramáticos de sua vida - depois da expulsão de seu marido, Viktor Iretzky (1882-1936), da Rússia e sua consequente ida para a Alemanha. Sintetizando no artigo os métodos de trabalho do Centro de Petrogrado para órfãos e meninos de rua, onde ela já havia trabalhado, Antipoff fez um relato da atividade profissional do instituto com pesadas críticas - algo muito incomum à época. Como o Centro de Vyatka, o de Petrogrado foi criado em 1918 sob o comando da Junta de Educação da Cidade de Petrogrado, e fazia uma grande triagem física, mental, social e médica pela qual passava o contingente de crianças normais ou relativamente normais que se viam sem pais e sem um lar.

A tarefa de Antipoff era examinar crianças e planejar sua reeducação. Para estudar a personalidade das crianças, ela usava testes psicológicos como a escala de inteligência Binet-Simon e a técnica de Alexander Lazurski chamada "experimentação natural" - a observação de crianças em seu meio ambiente natural, com o propósito de evitar a situação artificial do laboratório ou dos testes.

Antipoff foi uma das primeiras na Rússia a aplicar os testes Binet-Simon nesse campo de estudo. Ela conseguiu compartilhar a experiência e detectar e protestar contra tendências negativas na organização profissional do Centro (limitação de liberdade, contato muito breve com as crianças, erros nas análises, etc.). Dez anos depois, essas tendências levariam o Centro a uma transformação total de agenda - de um local de ajuda para crianças a uma agência de controle social de delinquentes juvenis dentro da Polícia Política Soviética.

Em suas primeiras análises, Antipoff deu muita atenção ao problema do ambiente social e cultural e sua influência no desenvolvimento mental das crianças. Ela conseguiu sentir e observar essa influência no exemplo de sua própria família. Seu filho, Daniel, pertencia ao mesmo grupo etário das crianças que tinham sido estudadas pela mãe no Museu Pedagógico em 1921 (artigo № 2). A experiência de contatos visuais e comunicação nas ruas de Petrogrado com "um homem com uma arma" afetou seriamente o menino: "Donya vai armado até os dentes quando vê o malvado checheno." - Antipoff escreveu ao marido (Masolikova, Sorokina, 2018, 55).

As cartas do período russo demonstram a grande insatisfação de Antipoff com o ambiente social e profissional soviético. Seus diplomas europeus não foram reconhecidos pelas universidades soviéticas, impedindo a oportunidade de conquistar uma posição profissional elevada. Por ter passado muito tempo no exterior, fazendo parte de redes internacionais, Antipoff, com seus contatos, teorias e técnicas pessoais aprendidas no Instituto Rousseau, não estava muito envolvida com as comunidades pedagógica e psicológica russas. Ela não tinha apoiadores entre os acadêmicos e conseguiu - com muita dificuldade - publicar apenas dois artigos em publicações pedológicas russas. Além disso, Antipoff com sua origem burguesa (filha de um general czarista) e estilo de vida muito independente, era uma estranha e até marginalizada no novo ambiente soviético, que se baseava - em termos de retórica - nas ideias e ideais de "justiça social" e "coletivismo", mas que praticava uma grande discriminação de classe. "A habilidade de usarmos os talentos está declinando a cada dia" - Antipoff explicou a seu marido em 1923. Na nossa opinião, a falta de uma atividade intelectual intensa e efetiva e a sensação de futilidade de esforços posteriores levaram Helena Antipoff à ideia de deixar a Rússia em 1924. Estudando crianças especiais, Helena também sofria todas as sanções possíveis - ela era um produto do Velho Mundo através da família e ao mesmo tempo um produto da educação exterior e de uma visão de mundo no campo da infância especial, ambas características identificadas como hostis ao novo sistema de cuidados dos "imperfeitos".

Conclusão: o caso de Helena Antipoff é uma história social, um de vários arquivos pessoais por tanto tempo escondidos de nós, que estão começando a mudar nosso cenário histórico psicológico agora (Campos, Lourenço, 2019). Ao mesmo tempo, é a história feminina (mas não a história de uma feminista, na minha opinião), em que homens foram almas gêmeas, amigos, apoiadores, colegas respeitáveis ou rivais valorosos e nunca empecilhos para sua carreira ou seu desenvolvimento espiritual. A vida de Helena é um exemplo de trabalho missionário não intencional, mas apesar disso constante, menor ou maior em períodos diferentes de sua vida. E é a história de uma cientista, uma parte da história de uma das mais antigas e proeminentes escolas da psicologia científica russa - a tradição científica de São Petersburgo. O lugar especial de Helena Antipoff na galáxia de famosos psicólogos foi forjado precisamente graças ao seu compromisso com os ideais espirituais deles, suas visões científicas e o reflexo disso através de técnicas, métodos e ferramentas psicológicas, habilmente estruturadas por uma experiência francesa-suíça-brasileira.

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1Apoiado pelo CNPq e pelo Programa de Pós-graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social da Universidade Federal de Minas Gerais. Versão em português por Cida Volkmann. E-mail:civolk@yahoo.com.br. Revisão da traduação por Regina Helena de Freitas Campos.

2Nota da revisora: Mantida a palavra intelligentsia (em itálico e sem aspas), como no artigo original em inglês, que designa também em português o conjunto dos intelectuais como elite artística, social ou política de uma determinada sociedade (Ver Dicionário UNESP do Português Contemporâneo, Org. Francisco Borba e cols. SP: UNESP, 2004, p. 782).

Recebido: 26 de Junho de 2022; Aceito: 06 de Setembro de 2022

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