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Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.22  Uberlândia  2023  Epub 07-Ago-2023

https://doi.org/10.14393/che-v22-2023-156 

Dossiê 2 - A constituição do campo da Educação Especial no Brasil: entre tempos, lugares e pessoas

A promessa do mestre: a psicometria como ferramenta essencial para o desenvolvimento de práticas educativas e para a construção de uma pedagogia clínica experimental1

Carolina Silva Bandeira de Melo1 
http://orcid.org/0000-0001-6273-2045; lattes: 1058880926708938

Laurent Gutierrez2 
http://orcid.org/0000-0002-2864-7936

1Universidade Federal de Viçosa (Brasil). carolina.bmelo@ufv.br

2Université Paris Nanterre (Paris). lgutierrez76@aol.com


Resumo

No final da década de 1920, Théodore Simon foi considerado um dos melhores especialistas franceses na educação espaço especial. No entanto, percebe-se que seu papel tem sido minimizado na historiografia da educação e da psicologia. Ao analisar sua trajetória como médico de asilos e sua contribuição para o desenvolvimento e divulgação dos testes de inteligência, destacamos a originalidade de sua abordagem e de suas propostas. Nosso trabalho em arquivos nos permite hoje entender melhor as razões pelas quais os testes foram usados mais no exterior do que na França. Seu uso em escolas e centros de formação de professores em Minas Gerais atesta esse paradoxo, como o próprio Théodore Simon observou durante sua estadia no Brasil em 1929. Esta viagem é mais uma oportunidade para destacar a importância da pesquisa transnacional e mostrar como a psicometria tem acompanhado a história da educação especial.

Palavras-chave: Théodore Simon; Psicometria; Teste; Treinamento de professores; Educação especial

Résumée

A la fin des années 1920, Théodore Simon est considéré comme l’un des meilleurs spécialistes français de l’éducation des arriérés. Force est toutefois de constater que son rôle a été minimisé dans l’historiographie de l’éducation et de la psychologie. En analysant son parcours de médecin des asiles et sa contribution dans l’élaboration et la diffusion des tests d’intelligence, nous soulignons l’originalité de sa démarche et de ses propositions. Notre travail sur archives nous permet aujourd’hui de mieux comprendre les raisons pour lesquelles les tests furent davantage utilisés à l’étranger qu’en France. Leur utilisation dans les écoles et les centres de formation d’enseignants de Minas Gerais atteste de ce paradoxe comme a pu le constater Théodore Simon, lui-même, lors de son séjour au Brésil en 1929. Ce voyage est une occasion supplémentaire pour souligner l’importance des recherches transnationales et montrer comment la psychométrie a accompagné l’histoire de l’éducation des arriérés.

Mots-clés: Théodore Simon; Psychométrie; Tests; Formation des enseignants; Éducation des enfants arriérés

Abstract

In the late 1920s, Théodore Simon was considered one of the best French specialists in the special education. However, its role has been minimized in the historiography of education and psychology. By analyzing his trajectory as an asylum doctor and his contribution to the development and dissemination of intelligence tests, we highlight the originality of his approach and proposals. Our work on archives now allows us to better understand the reasons why tests were used more abroad than in France. Its use in schools and teacher training centers in Minas Gerais attests to this paradox, as Théodore Simon himself observed during his stay in Brazil in 1929. This trip is yet another opportunity to highlight the importance of transnational research and show how psychometry has followed the history of the special education.

Keywords: Théodore Simon; Psychometry; Test; Teacher training; Special education

Resumen

Al final de la década de 1920, Théodore Simon era considerado uno de los mejores especialistas franceses en la educación especial. Sin embargo, su papel ha sido minimizado en la historiografía de la educación y la psicología. Al analizar su trayectoria como médico de asilo y su contribución al desarrollo y difusión de las pruebas de inteligencia, destacamos la originalidad de su enfoque y propuestas. Nuestro trabajo en archivos ahora nos permite comprender mejor las razones por las cuales las pruebas se usaron más en el extranjero que en Francia. Su uso en escuelas y centros de formación docente en Minas Gerais da fe de esta paradoja, como el propio Théodore Simon observó durante su estancia en Brasil en 1929. Este viaje es una oportunidad más para resaltar la importancia de la investigación transnacional y mostrar cómo la psicometría ha seguido la historia. de la educación especial.

Palabras clave: Théodore Simon; Psicometría; Prueba; Formación de profesores; Educación especial

Introdução

Sucessor natural de Alfred Binet (1857-1911), Théodore Simon (1863-1961) foi nomeado presidente da Société libre pour l'étude psychologique de l'enfant (Sociedade livre para o estudo psicológico da criança - SLEPE) em 1912. Ele deu continuidade ao trabalho iniciado com Binet sobre o estudo científico da criança. Responsável pelo acolhimento de crianças anormais2 em asilos e reconhecido pela sua competência no campo da psicometria, ele foi chamado para formar os estudantes-professores e estudantes-professoras das Escolas normais de Auteuil e de Batignolles, perto de Paris. Dessa forma, ele supervisionou os trabalhos práticos de pedagogia experimental no Instituto de Pedagogia da Faculdade de Letras da Sorbonne. As conclusões que tirou do estudo das observações feitas pelos seus alunos levaram-no a publicar numerosos textos no boletim da SLEPE.

Apesar da riqueza dessa atividade, nota-se, no entanto, que a obra de Theodore Simon é, hoje em dia, em grande parte desconhecida. Seu nome permanece ligado ao de Binet, apenas quando a famosa escala do desenvolvimento da inteligência é mencionada, na França ou no exterior. Embora Binet tenha desenvolvido a escala em colaboração com Theodore Simon, a contribuição deste último para o estabelecimento do que, mais tarde, se tornaria o famoso teste do quociente de inteligência, é negligenciada pela maioria dos historiadores da psicologia.

Si os primeiros testes de inteligência foram concebidos no final do século XIX por Galton e Cattell (no Reino Unido e nos Estados Unidos respectivamente) para medir funções psicológicas elementares, eles foram rapidamente esquecidos após a escala métrica do desenvolvimento da inteligência, de Alfred Binet e Theodore Simon. Disseminados em vários países como uma abordagem científica para medir processos psicológicos superiores (FOURNIER & LÉCUYER, 2011; HUTEAU & LAUTREY, 1999; ZAZZO, 1996; MACKINTOSH, 2004; NICOLAS, 2004), os testes de inteligência tornaram-se uma das ferramentas mais estudadas no campo da psicologia (BROCK, 2014; MENDONZA & NASCIMENTO, 2001). Concebidos para diagnosticar a inferioridade intelectual e para importantes aplicações pedagógicas (BINET & SIMON, 1904), os testes e, mais globalmente, a psicometria, estão intimamente ligados à educação especial. O diagnóstico do atraso mental é feito graças a utilização de testes de inteligência, considerados como uma etapa fundamental para diagnosticar os candidatos à educação especial.

Analisando a carreira de Theodore Simon e a sua contribuição na elaboração e na divulgação dos testes de inteligência, este artigo propõe estudar, sob uma nova perspectiva, as ligações entre a psicometria e a educação especial. Graças ao estudo dos arquivos franceses e brasileiros, vamos explicar as razões pelas quais o seu método foi mais utilizado no exterior do que na França. Nesta perspectiva, voltaremos às aulas que ele ministrou na Escola de Aperfeiçoamento de Professores em Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil) durante a sua estadia em 1929 e, mais particularmente, às pesquisas realizadas e aos resultados obtidos com as crianças, após a sua partida, sobre a educação especial nesta cidade.

Theodore Simon e a psiquiatria infantil

Organicista convicto, cultuando grande admiração pelo Professor Valentin Magnan, que considerava como mestre, Theodore Simon estudou durante oito anos (1901-1908)3 a ciência do diagnóstico com este clínico, especialista em anatomia patológica, no serviço de acolhimento do Hospital Sainte-Anne de Paris. Neste local, ele desenvolveu também um amor pelos doentes, paixão que orientou toda a sua atividade e lhe deu a motivação necessária. Neste serviço, onde se recebiam todos os tipos de problemas mentais da capital4, o jovem médico de Dijon atendia quase 3.000 pacientes por ano. Seu vasto conhecimento sobre os alienados levou-o a identificar os sintomas de forma cada vez mais precisa. Organicista convicto, ele fez questão de procurar possíveis lesões cerebrais nos seus pacientes antes de estabelecer as causas de seus estados psicopatológicos. Esta prática levou-o, já em 1903 (ele tinha apenas 30 anos!) a propor um quadro nosológico de vários tipos clínicos - os mais frequentemente encontrados nos asilos. No ano seguinte, ele iniciou com Alfred Binet o estabelecimento de um diagnóstico científico dos estados inferiores de inteligência, o que os levou a apresentar novos métodos para medir o seu desenvolvimento nas crianças. Estes trabalhos tinham como objetivo, assim como buscava a Comissão Bourgeois, encontrar formas de escolarização para as crianças anormais, em aplicação da lei de 28 de Março de 1882, que tornou obrigatório o ensino primário para crianças de ambos os sexos com idades entre 6 e 13 anos completos. Binet e Simon, que eram membros desta comissão ministerial, realizaram novas investigações no ambiente escolar, visando encontrar soluções concretas para os problemas enfrentados pelos professores. Na sequência das conclusões da Comissão Bourgeois (VIAL, 1990; VIAL & HUGON, 1998), eles elaboraram um guia para professores e directores de escolas para a admissão de crianças anormais, enviadas a serem escolarizadas. Eles antecipavam, desta maneira, as questões de implementação da lei de 15 de Abril de 1909, que instituiu a criação das classes de aperfeiçoamento.

Em 24 de maio de 1906, Théodore Simon tornou-se membro da Sociedade médico-psicológica. A partir daí, o seu nome aparece ao lado de Henry Beaunis, Alfred Binet, Benjamin Bourdon, M. Foucault e Jean Larguier de Bancels como autores da seção "Análises Psicológicas" da revista Année Psychologique. Ele iniciou também uma colaboração na revista médica, La Clinique, onde propôs uma série de preceitos para o estudo das doenças mentais e seu diagnóstico. Durante o 15º Congresso Internacional de Medicina em Lisboa (19-26 de Abril de 1906), ele apresentou um estudo notável sobre a natureza e a evolução da catatonia5. No ano seguinte, foi-lhe atribuído o Prémio Falret pela Academia de Medicina de Paris, por uma dissertação sobre o estado mental do dipsomaníaco6. Seus trabalhos sobre sintomas psiquiátricos levou-o a abordar os problemas da confusão mental segundo uma abordagem fenomenológica baseada em uma metodologia psicogenética. A série de estudos aos quais ele se dedicou com Alfred Binet sobre os diferentes estados mentais de alienação de acordo com cada distúrbio psiquiátrico, se caracteriza, mais uma vez, como parte de uma investida para estabelecer uma nova teoria psicológica e clínica da insanidade, chegando ao ponto de questionar, sob uma nova perspectiva, a possibilidade de ensinar a fala aos surdos-mudos.

A alienação mental e a medida da inteligência

Na sua busca por fatos inquestionáveis, Theodore Simon reconhece, no entanto, que suas tentativas e erros não lhe permitem, sem riscos, descrever uma doença mental. Uma vez que "estado mental" e "doença mental" não são sinônimos, uma definição de insanidade mental seria arriscada. Na melhor das hipóteses, pode-se delimitar os diferentes sintomas presentes nos diversos estados mentais da alienação, como ele se esforçou em fazer, com Alfred Binet, numa série de dez artigos que publicou na revista Année Psychologique em 1910 e 1911. O quadro esquematizado que eles elaboraram para este fim, permitiu-lhes concluir provisoriamente que a única definição a qual eles poderiam chegar era uma distinção entre o homem saudável e o alienado, de acordo com a intensidade de seus sintomas. Estas mesmas precauções são encontradas nos estudos dedicados a identificação de problemas de inteligência. Após a publicação de uma versão revisada, em 1908, que incluía a avaliação de crianças com inteligência mediana, Alfred Binet publicou, em 1910, os resultados de novas investigações sobre "a medida do desenvolvimento intelectual em crianças em idade escolar". Apenas no ano seguinte foi publicada uma versão completa com 77 páginas, no boletim da SLEPE, assinada pelos dois.

Se Binet foi sozinho, autor do artigo de 1910, não foi devido à falta de interesse de Simon pela escala métrica de desenvolvimento da inteligência, que ele ajudou a elaborar - colaboração constantemente lembrada por Binet em seus artigos. A razão para isto foi profissional. Em 1o. de Outubro de 1908, Theodore Simon foi nomeado médico no asilo de Saint-Yon, perto de Rouen. Além de suas obrigações costumeiras, ele participava das reuniões mensais da comissão de supervisão dos asilos de alienados do departamento da Seine-Inférieure. Ele se dedicou ainda à formação do pessoal de enfermagem, a quem dedicou um livro, um verdadeiro manual de mais de 400 páginas. Sua fama aumentou ainda mais quando lhe foi atribuído o Prêmio Baillarger pela Academia de Medicina de Paris, em 1912. Ele teria certamente desejado celebrar este prêmio na companhia de Alfred Binet, que morreu subitamente em 18 de Outubro de 1911 de um derrame cerebral. Em sua homenagem a Binet, na revista Année psychologique, Simon recorda o objetivo final que Alfred Binet perseguiu durante os trinta anos que dedicou à ciência: construir uma psicologia geral, uma síntese da mente humana. A morte de Binet deixou um vazio. Simon foi chamado a sucedê-lo na direção do laboratório de psicologia fisiológica da Sorbonne, bem como na função de editor-chefe da célebre revista Année psychologique onde ele contribuiu, além disso, para finalizar o volume de 1911 (CHAPUIS, 1997). Contra todas as expectativas, Henri Piéron recebe este cargo e a responsabilidade editorial (GUTIERREZ, MARTIN & OUVRIER-BONNAZ, 2016). Quanto ao laboratório da rua Grange aux Belles, ele prosseguiu suas experiências de pedagogia experimental, sob a direcção de Victor Vaney, graças ao concurso de Armand Belot, inspector do ensino primário deste distrito administrativo, que lhes permitiu acesso às classes, nas quais eles prosseguiram seus estudos.

Compromisso profissional

Solicitado por Henri Piéron para continuar sua colaboração na revista Année psychologique, Théodore Simon recusou a oferta. Nomeado como sucessor natural de Alfred Binet na direção da Sociedade Livre para o estudo psicológico da criança, ele integrou primeiro o círculo dos membros eleitos do conselho de administração, em 28 de dezembro de 1911, antes de ser chamado para presidir a sessão de 21 de novembro de 1912. Os trabalhos que ele publicou no boletim da Sociedade, naquela época, eram muito ecléticos. Em 1913, ano em que o número de suas publicações se tornou ainda maior, ele abordou, respectivamente, as questões relacionadas à determinação do grau de audição das crianças, a velocidade da leitura e da escrita, a observação das crianças no jardim de infância, assim como o estudo de crianças anormais. Quanto ao lado profissional, ele ocupava-se profissionalmente das suas tarefas quotidianas no Hospital Psiquiátrico de Saint-Yon, as suas atividades centravam-se no momento em casos clínicos a partir dos quais ele dava lições aos seus colegas da Sociedade de Medicina de Rouen. Durante suas aulas, ele ensinava como se fazer um diagnóstico e estabelecer conclusões nosológicas. Cada uma de suas aulas era acompanhada de apresentações e entrevista de doentes.

Chamado a Sens e depois mobilizado para a abadia de Igny, onde assumiu o serviço de admissão de soldados contaminados por tifo durante a Primeira Guerra Mundial, Théodore Simon encontrou ainda assim, tempo para se dedicar às questões de pedagogia experimental. Graças ao concurso de vários membros do ensino primário público, ele elaborou testes de leitura e de escrita a fim de determinar a natureza das dificuldades que prejudicavam a aprendizagem dos alunos. Em 7 de maio de 1917, Théodore Simon foi convidado, sob a tutela do Instituto Jean-Jacques Rousseau, a dar uma conferência em Genebra, sobre a obra de Valentin Magnan. Perante o sucesso do uso dos testes nos Estados Unidos, a Sociedade Livre para o Estudo Psicológico da Criança - que se tornou na assembleia geral de 29 de novembro de 1917, Société Alfred Binet - decidiu publicar sob a forma de um fascículo de 75 páginas, A Medida do desenvolvimento da inteligência em crianças7. Graças ao sucesso comercial desta edição, a Sociedade continuou com suas atividades. Por outro lado, primeiro lugar no concurso de médico-chefe dos asilos do Sena, em 26 de junho de 1920, diante de Hubert Mignot e Maurice Ducosté, Théodore Simon integrou, a seu pedido, a partir do mês de agosto seguinte, a colônia de crianças de Perray-Vaucluse. Este cargo de médico-chefe no hospital onde ele iniciou seu internato, permitiu-lhe participar das sessões da Sociedade Médico-Psicológica da qual ele se tornou membro titular, durante a assembleia de 10 de dezembro de 1920, com 19 dos 23 votos expressos.

Os atrasos na inteligência

A partir de 1921, ele atende regularmente crianças com atrasos da inteligência. Ele apresenta inclusive os trabalhos que realizou com cento e cinquenta crianças atrasadas com idades entre 6 e 20 anos na colónia de Perray-Vaucluse. Sobre a pergunta: "Podemos fixar um limite superior à debilidade mental?”, Theodore Simon acreditava que é possível estabelecer no campo da debilidade mental no desenvolvimento da inteligência, a partir dos resultados obtidos pelo uso de questões para crianças de dez anos na escala estabelecida nos testes de Binet e Simon. No entanto, segundo ele, seria necessário diferenciar dois graus: a debilidade mental propriamente dita, que incluiria todos os sujeitos cuja inteligência ultrapassasse a de crianças de 7 anos mas que não atinjisse a de crianças de 9 anos, e a debilidade mental leve, que admitiria todos aqueles que ultrapassassem o nível das crianças de 9 anos e não atingissem o nível das crianças de 10 anos. Além disso, Simon propôs a criação de três graus para a inteligência normal; o primeiro correspondendo às provas de 10 a 12 anos; o médio de 12 a 15; apenas o superior, por fim, ultrapassaria as provas estabelecidas para a idade de 15 anos. Com o seu homólogo belga, Guillaume Vermeylen, ele procurou estabelecer possíveis correlações entre o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento físico das crianças (altura, peso e também o diâmetro anterio-posterior e transversal da cabeça). Se os resultados obtidos atestavam por vezes correlações reais, eles não poderiam, no entanto, conduzir a conclusões.

Sem abandonar os testes, mas deixando de lado a anatomia patológica, os autores procuraram então determinar os vários graus de atraso mental. Em Agosto de 1924, num relatório que apresentaram sobre a debilidade mental, por ocasião do 28º Congresso de médicos alienistas e neurologistas da França e dos países de língua francesa em Bruxelas (SIMON, 1924), eles propuseram as principais formas clínicas8: os débeis ponderados, os tolos entre os quais conviria distinguir o "débil satisfeito", o "débil vaidoso" e o "débil provocador", todos em geral pouco educáveis; e os instáveis com os "débeis infantis" e os "débeis emocionais". Nas suas conclusões, eles destacavam as relações, em vários casos, da debilidade com a delinquência. Médico chefe do atendimento médico-psicológico do serviço social do Tribunal para crianças do Sena, Théodore Simon aproveitou para apresentar este novo serviço que ele ajudou a criar, em 1923. As trocas com colegas, especialmente com o Dr Ovide Decroly, que defendia a utilização dos testes e o método quantitativo para detectar os anormais nas escolas, são oportunidades para Theodore Simon recordar que, se os sinais neurológicos deveriam ser previamente e cuidadosamente pesquisados, não deveriam-se opor os testes e a clínica, mas associá-los; a clínica seria, portanto, indispensável para interpretar os testes e levar em conta os distúrbios da fala.

Identificar e ensinar crianças atrasadas

Este foi também um dos objetivos que Theodore Simon se propôs a alcançar no início da década de 1920. Criticando o emprego da noção de anormalidade na identificação destas crianças, ele se esforçou em informar os professores e as professoras para identificá-las segundo uma divisão em cinco categorias:

Categorias Limites da inteligência Descrição
1 As crianças cuja inteligência não ultrapassa o nível de 2 anos ou menos. Atrasados incapazes de alguma ocupação útil. Não utilizamos ineducável, pois a palavra causa confusão e vimos que podemos dar a estas crianças certas habilidades.
2 As crianças cuja inteligência está entre os níveis de 2 a 5 anos.
3 As crianças cuja inteligência está entre os níveis de 5 a 7 anos.
4 As crianças cuja inteligência está entre os níveis de 7 a 9 anos. Atrasados capazes de trabalhar.
5 As crianças cuja inteligência atinge o nível de 10 anos. Normais a primera vista. No entanto, crianças pouco dotadas para a educação.

Para além dos diferentes modos de assistência que a instituição pública criou para estas crianças (estabelecimentos fechados para as categorias 1 e 2; estabelecimentos fechados segundo o grau de perturbação do carácter, internos ou não, à imagem das escolas ou das classes de aperfeiçoamento, para as categorias 3 e 4; escola primária pública para a categoria 5), Theodore Simon defendia que os professores fossem formados em pedagogia experimental.

Nesta perspectiva, em colaboração com vários membros ativos da Sociedade Alfred Binet, ele liderou uma verdadeira corrente na elaboração de testes de todos os tipos (visão, audição, memória), entre os quais temos os testes de instrução em primeiro plano (leitura, escrita, ortografia, cálculo, geografia, desenho), que informam sobre o nível escolar alcançado pelos alunos em várias disciplinas. Constatando diferenças entre os resultados que estes últimos obtêm no teste de inteligência e o seu grau de instrução, em relação à sua idade, altura e peso, ele preconizava a adoção de um folheto escolar a fim de melhor identificar os progressos, em cada uma das idades, ao longo da escolaridade dos alunos.

Este conjunto de informações permitiria revelar os problemas pedagógicos ligados a eventuais defasagens, além de identificar inteligências que a escolarização não detecta, simplesmente porque elas não têm uma forma escolar. Presidente do júri de exame do certificado para o ensino de crianças atrasadas, Théodore Simon desejava usar essa vertente para que os professores e professoras dessas classes recorressem a esse tipo de teste. Graças a seus colaboradores, foram elaborados testes, a partir de 1924, na colónia de crianças de Perray-Vaucluse (Tests P.V.). Verdadeiro manual para professores de crianças atrasadas, o conjunto destes 25 testes propostos por Simon deveriam permitir aos professores de adaptar o seu ensino aos diversos graus de inteligência e de instrução dos seus alunos, e de aperfeiçoar a sua integração na sociedade.

Um alienista renomado

No final da década de 1920, Theodore Simon era considerado como um dos melhores especialistas franceses em educação especial. Convém, no entanto, admitir com o doutor René Charpentier, que o seu método é menos praticado na França do que no exterior e, mais especificamente na América, onde é comumente usado não só em escolas, mas também em instituições psiquiátricas. Não é, pois, de se estranhar, que Théodore Simon seja convidado a apresentar os seus trabalhos no âmbito da “jornada psiquiátrica” durante o 10º Congresso dos Médicos de Língua Francesa da América do Norte, realizado no Quebec, em Setembro de 1928. Ele aproveitou esta viagem para ir em Montreal, Winnetka, Chicago, Nova Iorque, Nova Haven e Boston; cidades onde ele visitou vários estabelecimentos escolares, bem como instituições de reeducação onde eram utilizados testes inspirados naquele que ele havia elaborado com Binet, vinte anos antes9. Ele constatou com espanto que as "baterias de testes", elaboradas outra-mar, tinha uma finalidade essencialmente social. Eles serviam para medir o que os indivíduos são capazes de fazer, no intuito de poder conhecer o nível de dificuldade das tarefas que lhes seriam atribuídas a seguir. Theodore Simon criticou, no entanto, a utilização feita destes resultados nos Estados Unidos, no que tange a comparações étnicas. Segundo ele, os testes psicológicos deveriam ser sistematicamente adaptados às populações locais, para preservarem seu alcance social e científico. É este o sentido do discurso que ele fará aos educadores brasileiros durante sua estadia, no ano seguinte.

Theodore Simon no Laboratório da Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte

Convidado pelo Governo do Estado de Minas Gerais para proferir as aulas inaugurais da Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico de Professores, Theodore Simon esteve em Belo Horizonte10 em fevereiro de 1929. Recentemente inaugurada, a Escola aplicava as diretrizes locais e regionais das recentes reformas que passaram tais instituições. A escolarização das crianças que lá eram acolhidas, se tornara um desafio político (CAMPOS & BORGES, 2014), as ferramentas modernas da psicologia eram assim indicadas (CAMPOS, 2003). No âmbito desta modernização do sistema de instrução brasileiro, a França é chamada a contribuir (Bandeira de Melo, 2016), por meio do convite a Theodore Simon, um dos melhores especialistas franceses em educação especial (GUTIERREZ, & BANDEIRA DE MELO, 2017).

Anunciadas pela imprensa brasileira, as conferências de Theodore Simon em Belo Horizonte começaram com uma aula de psicologia infantil e de psicologia experimental. Elas foram seguidas de um estudo prático sobre como aplicar os testes em alunos normais que, em muitos casos, não tinham acesso à escolarização (ANÔNIMO, 1929). Apresentado ao governador do estado, Antônio Carlos, Theodore Simon visitou várias escolas primárias da cidade. Acompanhado por homens importantes da cidade, ele também foi chamado a participar de várias inaugurações de estabelecimentos durante as quais era frequentemente recebido com a bandeira francesa e a Marseillaise11, cantada pelas crianças. Programadas duas vezes por semana, suas aulas aconteciam diante de uma audiência de 300 a 500 pessoas, composta principalmente por professores (SIMON, 1930).12

O conteúdo das conferências confirmam a importância das teses higienistas que ele procurava divulgar, assim bem como a sistematização das medidas nas escolas primárias francesas. O psiquiatra francês desejava que os alunos-professores fizessem exames de audição e de visão nos seus alunos e que medissem suas características físicas e, evidentemente, as intelectuais. Estas preocupações, relacionadas com o desenvolvimento dos alunos, têm por objetivo convencer os alunos-professores da necessidade de basear o seu ensino nas características de cada um dos seus alunos. A aplicação deste método científico baseado no teste de conhecimento das crianças deveria, assim, permitir aos professores planejar seu trabalho pedagógico e avaliá-lo à luz dos efeitos pretendidos (SIMON, 1936).

Além das medidas ligadas ao desenvolvimento da inteligência e a utilização dos testes de conhecimento, Theodore Simon aconselhou a falarem individualmente com cada um dos alunos para estarem conscientes do ambiente em que vivem e, assim, poder avaliar a presença de apoio ou obstáculos ao trabalho. De acordo com Theodore Simon, a frequência das avaliações permitiriam acompanhar o progresso dos alunos, mostrando-lhes os seus êxitos e a persistência de erros. A aplicação deste método de aprendizagem, inspirado na ciência médica e psicológica, baseado no uso racional de ferramentas de medição do trabalho dos alunos, permitiria que a ciência entrasse na escola.

Embora a educação de crianças normais tenha sido o tema principal desenvolvido por Theodore Simon em seus cursos e palestras em Belo Horizonte, ele também apresentou a pesquisa de Alice Descœudres e seu teste, o teste dos labirintos de Porteus, o jogo solitário de Healy e a escala de Pintner-Paterson, instrumentos concebidos originalmente para estabelecer o diagnóstico de deficiência mental (SIMON, 1930). Theodore Simon enfatizou sobretudo que essas escalas de medição eram adaptações feitas a partir de sua própria escala. Assim, ele pôs em evidência o inconveniente destes instrumentos e, particularmente, a sua impossibilidade de serem transpostos de uma cultura para outra. Defendendo a adaptação dos testes aos contextos e às populações para as quais são destinados, ele começou a trabalhar com professoras das escolas de Belo Horizonte.

A aplicação dos testes às crianças das escolas de Belo Horizonte

Entre essas assistentes brasileiras, Theodore Simon mencionou Helena Penna, Maria Luíza de Almeida Cunha e Zélia Rabello com quem analisou cerca de 5000 crianças (SIMON, 1930). Os cursos dedicados à aplicação de testes de inteligência, leitura, ortografia e cálculo ministrados por Theodore Simon no Brasil, serviram para avaliar a organização do ensino público, mas não só isso, serviram principalmente para propor novos procedimentos susceptíveis de tornar mais eficaz a técnica de aplicação e de construção de testes. O objetivo foi alcançado: os testes foram sistematicamente utilizados nas escolas mineiras.

Helena Paladini (1931) publicou os resultados das pesquisas iniciadas com Theodore Simon antes de prosseguir os estudos em Minas Gerais. As suas análises privilegiaram a origem social das crianças para explicar as diferenças nos resultados escolares obtidos. Esta abordagem baseada na interpretação dos resultados dos testes, em função da influência do ambiente social e cultural da criança, é um legado deixado por Theodore Simon após sua partida de Belo Horizonte.

Em seu livro, publicado dois anos antes de sua chegada ao Brasil, Theodore Simon (1927, p.116) já afirmava que os testes deveriam formar o sentido clínico dos professores e que essa função era ainda mais importante do que os resultados das avaliações em si: [o teste] "deve, em minha opinião, formar o sentido clínico dos professores, tal como a observação médica forma o sentido clínico dos internos dos hospitais. Muito mais do que os resultados que eles oferecem, é a essa função que eu atribuiria mais valor." Ele defendia que os testes individuais aproximam os professores dos alunos, desde que eles fossem bem treinados.

De acordo com Pickren e Rutherford (2010), os franceses eram mais clínicos e se sentiam mais confortáveis com as observações individuais da inteligência das crianças. É graças a isso que eles consideram as possíveis correlações entre a situação escolar dos alunos (sua classificação na classe em relação aos resultados que obtêm) e seu desenvolvimento físico, seu meio social, sua frequência na escola, a profissão dos pais, o número de filhos de uma família, o seu lugar entre os irmãos, a idade de entrada na escola (com ou sem passagem pelo jardim de infância), o número de escolas frequentadas, etc. (SIMON, 1919, 1921). Bem dominados, os testes poderiam portanto trazer muito aos professores e é esse uso dos testes (na formação dos professores) que consideramos ser a grande contribuição de Theodore Simon no Brasil, útil tanto para a educação dos normais quanto dos anormais.

Além disso, Theodore Simon (1931) condenou o que considerou ser um desvio da aplicação dos testes de inteligência, a saber: a sua utilização para fins eugenistas. Sobre isso, citou o caso dos Estados Unidos, onde os resultados de testes obtidos por diferentes grupos étnicos americanos serviram para estigmatizar os emigrantes do Sul e os negros. Na França, os testes não foram utilizados como um instrumento de reforço a preconceitos como nos Estados Unidos (CHAPMAN, 1988; CARSON, 2007), devido às orientações políticas (socialistas ou mesmo comunistas) de vários dos psicólogos franceses na época (HUTEAU & LAUTREY, 2006).

Theodore Simon (1927, p.116) não via os resultados dos testes como "uma indicação automática e decisiva”, fadados a acompanhar o dossiê da criança "como uma ficha policial da qual não se pode desfazer". Este aspecto é ainda mais importante quando se pensa na educação especial, que deveria conhecer os potenciais e as limitações individuais dos alunos. A influência do ambiente seria ainda maior para mostrar a importância da escola no desenvolvimento da criança e não apenas nas explicações da origem dos insucessos escolares. Em seu curso em Belo Horizonte, Theodore Simon (1930) mostra que, embora a inteligência fosse um marcador da diferença entre os indivíduos, ela se desenvolve por aquisições sucessivas, por construção progressiva, em função da constituição das crianças, e da maneira como elas apreendem o ambiente em que vivem.

A criação das classes especializadas em Belo Horizonte: herança de Theodore Simon?

Criadas em 1932, três anos após a estadia de Theodore Simon, as classes especializadas de Belo Horizonte vão se tornar lugares dedicados à experimentação do teste Binet-Simon. Ex-aluna de Théodore Simon, que o conheceu durante sua estadia em Paris em 1911, Helena Antipoff estudou ao seu lado o desenvolvimento mental dos alunos de algumas escolas públicas parisienses. Durante a sua formação, Helena Antipoff estudou os testes mentais, trabalhando especialmente na sua validade, verificando as escalas de medida e analisando a relação entre o desenvolvimento verbal e a motricidade (CAMPOS, 2001).

De volta ao Brasil, ela criou, com a ajuda de María Luíza de Almeida Cunha, o Teste Prime, adaptação do teste Binet-Simon destinado aos alunos brasileiros. Elas também trabalharam com outros testes, como o teste de inteligência e vocabulário de Simon, o teste Dearborn, o Ballard e o teste do desenho da figura humana, com objetivo reproduzir as curvas do desenvolvimento cognitivo de uma grande amostra de crianças e adolescentes do estado de Minas Gerais. Em concordância com Théodore Simon, elas consideraram que a influência do ambiente social e cultural da criança era decisiva na interpretação dos resultados obtidos pelos alunos. Os testes foram amplamente utilizados também na formação de professores, que utilizaram-nos para organizar o ensino. Serviram para homogeneizar as classes escolares segundo a classificação A, B, C, D e E correspondendo respectivamente aos alunos de Q.I. superior (A), Q. I. médio (B), Q. I. inferior (C), anormais (D) e alunos com anomalias de caráter (E), os alunos foram assim agrupados de acordo com os seus resultados nos testes (ANTIPOFF, 1992; ASSIS, OLIVEIRA & LOURENÇO, 2020).

A realização destes testes permitiu a identificação de um grande número de alunos expulsos da escola devido a problemas sociais, habitualmente qualificados, no entanto, de anormais, mas sendo na realidade escolarizáveis. Como as classes D e E não respondiam adequadamente à escolarização13, um grupo de médicos e de professores se reuniu em torno de Antipoff para criar, em 10 de novembro de 1932, a sociedade Pestalozzi14 de Minas Gerais. Conciliando filantropia, política pública e ciência, a sociedade concentrou seus esforços nos "anormais" (BORGES, 2014; BORGES & BARBOSA, 2019). Segundo Domingues (2011), a sociedade Pestalozzi nasceu justamente da necessidade de apoiar as classes especializadas, criadas a partir do processo de homogeneização das classes e das dificuldades encontradas com os alunos classificados como anormais (D) e aqueles com anomalias de caráter (E). O trabalho desenvolvido nas classes especializadas de Belo Horizonte está de acordo com a abordagem preconizada por Theodore Simon, que consistia em precisar o diagnóstico dos alunos diferentes e em trabalhar com os professores encarregados. O objetivo era desenvolver nestes, uma postura de pesquisador, que os permitiria progredir no plano pedagógico.

Conclusões

Conhecido pelos estudos que dedicou com Alfred Binet aos diferentes estados mentais da alienação segundo as doenças psiquiátricas, no início do século XX, as pesquisas realizadas por Theodore Simon depois da morte do célebre psicólogo, não alcançaram o público como os testes dedicados à medida do desenvolvimento da inteligência. A abordagem da psiquiatria infantil preconizada, visando o estabelecimento de uma nova teoria psicológica e clínica da alienação mental, susceptível de medir o "nível intelectual nas crianças de escola”, levou Theodore Simon a insistir na necessidade de se fazer um diagnóstico e de se estabelecer conclusões nosológicas para cada aluno a cargo dos professores. Seu trabalho sobre as principais formas clínicas da debilidade mental, cujos sinais neurológicos deveriam ser prévia e cuidadosamente pesquisados, não exclui de forma alguma, de acordo com ele, a realização de testes. A sua complementaridade seria necessária para se aproximar de um diagnóstico o mais preciso quanto possível. Durante as conferências que ele proferiu a convite dos Estados Unidos e do Brasil, ele recordou que os testes psicológicos deveriam, inclusive, ser sistematicamente adaptados às populações locais, a fim de lhes conservar o alcance social e científico.

No que tange a escola, Theodore Simon defendia que as professoras e os professores recebessem uma formação que lhes permitissem detectar as crianças especiais nas aulas, para que pudessem, ao longo do processo, adaptar seu ensino. Convidado, em 1929, pelo Governo do Estado de Minas Gerais para a inauguração da Escola de Aperfeiçoamento Pedagógico de Professores de Belo Horizonte, ele defendeu a sistematização de medidas da constituição dos alunos (audição, visão, física, intelectual) e seus trabalhos (leitura, ortografia, cálculo). O estudo realizado pelo médico francês com suas colaboradoras brasileiras para melhorar a técnica de construção e aplicação de testes constituem certamente a contribuição mais visível do trabalho de Théodore Simon no Brasil, tanto para a educação regular quanto para educação especial. Os trabalhos de Helena Antipoff e de Maria Luíza de Almeida Cunha relativos às adaptações do teste Binet-Simon (Test Prime) podem hoje ser vistos como uma herança de Theodore Simon aos educadores brasileiros que puderam assim avaliar melhor a influência do meio social e cultural do aluno na interpretação dos seus resultados.

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1Versão em português por Carolina Silva Bandeira de Melo. E-mail: carolina.bmelo@ufv.br.

2Conceito ligado ao déficit intelectual, conhecido também como retardado e, dividido na época estudada entre: idiotas, imbecis e débeis.

3Aprovado no concurso nacional para médico auxiliar em 1902, na mesma promoção de Joseph Capgras, Théodore Simon foi nomeado médico assistente no hospital psiquiátrico de Dury-les-Amiens (Somme), em 6 de junho de 1903. Por intervenção de Magnan, voltou ao serviço de internação do asilo de Sainte-Anne, no ano seguinte.

4Serviço onde passavam todos os alienados do departamento do Sena antes de serem distribuídos nos vários asilos onde eram tratados de acordo com suas patologias.

5Forma de expressão da esquizofrenia. Essa síndrome psiquiátrica se expressa tanto na esfera psíquica quanto na esfera motora.

6Indivíduo que ingere grandes quantidades de bebidas tóxicas (geralmente álcool) entre duas fases de abstinência.

7Obra traduzida para o português por Lourenço Filho em 1929 onde o brasileiro compara o papel dos testes no desenvolvimento da psicologia com o que foi a lei de Newton para a física (Lourenço Filho, 1929).

8Os termos em francês são: débiles pondérés, sots, débile satisfait, débile vaniteux, débile facétieux, instables, débiles puériles e débiles émotifs.

9Nos Estados Unidos, as classes avançadas são chamadas de Classes Binet e as classes de níveis mais baixos são chamadas de Classes Seguin.

10A viagem para o Brasil durou cerca de três semanas de barco. Ao chegar ao Rio de Janeiro, Théodore Simon pegou um trem para chegar a Belo Horizonte. A capital do estado de Minas Gerais tinha apenas 30 anos e tinha 100.000 habitantes na época (Théodore Simon, 1930a).

11O hino francês.

12Essas palestras foram publicadas, em português, no Boletim da Secretaria de Educação de Minas Gerais e na Revista do Ensino na década de 1930.

13Isso ocorria principalmente porque, na prática, essas aulas eram evitadas pelos professores mais experientes devido à sua complexidade. Assim, elas foram deixados para professores mais jovens sem experiência suficiente.

14Havia também, no sul do Brasil, um Instituto Pestalozzi que levou o nome do pedagogo suíço. Antipoff o admirava justamente graças ao seu trabalho pedagógico com crianças de diferentes nacionalidades, religiões e camadas sociais, que encontraram um espaço na escola (Borges e Barbosa, 2019).

Recebido: 26 de Junho de 2022; Aceito: 06 de Setembro de 2022

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