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Cadernos de História da Educação

versión On-line ISSN 1982-7806

Cad. Hist. Educ. vol.22  Uberlândia  2023  Epub 07-Ago-2023

https://doi.org/10.14393/che-v22-2023-204 

Dossiê 4 - Visões e práticas da educação como ferramentas transformativas

A New Education Fellowship e a América do Sul: um panorama da constituição de redes (1920-1930)

La New Education Fellowship et l’Amérique du Sud: un aperçu de la composition des réseaux (1920-1930)

La New Education Fellowship en América del Sur: un panorama de la constitución de redes (1920-1930)

Diana Gonçalves Vidal1 
http://orcid.org/0000-0002-7592-0448; lattes: 9794987194529294

Rafaela Silva Rabelo2 
http://orcid.org/0000-0002-7883-7914; lattes: 0470881186261417

Vinicius de Moraes Monção3 
http://orcid.org/0000-0002-3353-1655; lattes: 6398850415072000

1Universidade de São Paulo (Brasil). Bolsista de Produtividade em Pesquisa (Nível 1A). dvidal@usp.br

2Universidade Federal de Uberlândia (Brasil). rafaelasilvarabelo@hotmail.com

3Universidade Federal Fluminense (Brasil). vinimoncaodois@gmail.com


Resumo

A New Education Fellowship é um objeto amplamente visitado pela historiografia da educação, considerando seus congressos, como apresentado por Brehony em seu artigo mais conhecido, ou relacionada a educadores e redes estabelecidas em diferentes países, como endereçado por Middleton; Haenggeli-Jenni; Watras, dentre outros. No entanto, esta historiografia está marcadamente circunscrita à Europa, com algumas incursões acerca da Oceania e América do Norte. Com o propósito de preencher uma lacuna no que se refere aos processos de constituição de redes entre a NEF e a América do Sul, pretendemos desenhar um panorama histórico compreendido nos anos iniciais da criação da NEF, entre 1920 e 1930, tomando o Congresso, ocorrido em Locarno, na Suíça, em 1927, como ponto de inflexão. Para retraçar essas redes na América do Sul, as principais fontes são correspondências trocadas por educadores sul-americanos, relatórios dos congressos e as revistas The New Era e Pour l’Ére Nouvelle.

Palavras-chave: História transnacional da educação; Escola nova; Redes

Résume

La New Education Fellowship est un objet largement visité dans l'historiographie de l'éducation, pour l'intérêt suscité par ses congrès, comment présentée par Brehony dans son article le plus connu, ou liée aux éducateurs et aux réseaux établis dans différents pays, qui sont abordés dans les travaux de Middleton; Haenggeli-Jenni; Watras et autres.. On perçoit néanmoins que cette historiographie est nettement circonscrite en Europe, certains ouvrages se référant et à l’Océanie, et à l’Amérique du Nord. Nous proposons donc de créer un panorama historique permettant de comprendre le processus impliqué dans la formation de réseaux entre la NEF et l’Amérique du Sud dans les années 1920 et 1930, ayant comme point de repère le fameux congrès de la NEF à Locarno en 1927. Afin de reconstituer ces réseaux en Amérique du Sud, nos principales sources comprendront la correspondance entre les éducateurs sud-américains, les comptes rendus des congrès et les revuesThe New Era et Pour l’Ère Nouvelle.

Mots clés: Histoire transnationale de l’éducation; Nouvelle education; Réseaux

Resumen

La New Education Fellowship ha sido objeto muy estudado por la historiografía de la educación, con respecto a son congresos, como la discusión presentada por Brehony en um articulo muy conocido, o en relación a educadores y redes establecidas en diferentes países, tema tratado por Middleton, Haenggeli-Jenni, Watras, y otros. Aún así, podemos percibir que la historiografía está circunscrita de manera marcada a Europa con algunos trabajos referidos a Oceanía y Norte-América. En este sentido, nuestro propósito es crear un panorama que haga posible entender los procesos de constitución de redes entre NEF y América del Sur, en los años veinte y treinta, usando como hito la Conference de NEF in Locarno en 1927. Para trazar estas redes en América del Sur, consultamos los intercambios de correspondencia entre los educadores de América del Sur, los Informes de la Conferencia, y las revistas The New Era y Pour l’Ère Nouvelle.

Palabras claves: Historia transnacional de la educación; Nueva educación; Redes

Abstract

The New Education Fellowship (NEF) is a subject matter widely examined by historiography of education, considering its conferences, as presented by Brehony in his best-known article, or related to educators and networks established in different countries, as addressed by Middleton, Haenggeli-Jenni, Watras, and others. However, this historiography is markedly limited to Europe, with some advances into Oceania and North America. With the aim of filling a gap in regard to the processes of establishment of networks between the NEF and South America, we intend to draw up a historical panorama of the initial years of creation of the NEF, from 1920-1930, taking the conference that occurred in Locarno, Switzerland, in 1927 as the inflection point. To review these networks in South America, the main sources are correspondence exchanged by South American educators, reports of conferences, and the journals The New Era and Pour l’Ére Nouvelle.

Keywords: Transnational history of education; New School; Networks

A New Education Fellowship, também conhecida por Ligue Internationale pour l'Éducation Nouvelle, é um objeto amplamente visitado pela historiografia da educação, considerando seus congressos, como tratado por Brehony1 no seu artigo mais conhecido, ou relativo a educadores e redes (networks) estabelecidas em diferentes países, como endereçado pelos trabalhos de Middleton2; Haenggeli-Jenni3; Watras4, dentre outros. No entanto, esta historiografia está marcadamente circunscrita à Europa, com algumas incursões acerca da Oceania e América do Norte. Com o propósito de preencher uma lacuna no que se refere aos processos de constituição de redes entre a NEF e a América do Sul, pretendemos desenhar um panorama histórico compreendido nos anos iniciais da criação da NEF, entre 1920 e 1930, tomando o Congresso, ocorrido em Locarno, na Suíça, em 1927, como ponto de inflexão.

A escolha pelo Congresso de Locarno não é fortuita. Apesar da NEF ter surgido em 1921, como resultado do Congresso de Calais, França, e ter organizado duas outras Conferências antes de 1927 - em Montreux, Suíça, em 1923, e Heidelberg, Alemanha, em 1925 -, foi somente em Locarno, que localizamos a frequência de educadores provenientes da América do Sul. Nos registros da The New Era (TNE), há a informação da representação do Brasil, Peru e Uruguai. Já a Pour l’Ére Nouvelle (PEN) acrescenta a participação da Argentina no mesmo certame. Os únicos nomes mencionados pelos periódicos, entretanto, foram, pelo Brasil, Laura Jacobina Lacombe5, e pela Argentina, Clotilde Guillen de Rezzano, Antonio Sagarna e Pascual Guaglianone. Dos outros não se tem a notícia.

A partir de então, a participação da América do Sul emerge, ainda que de forma pontual, nos congressos subsequentes de Elsinore, Dinamarca, em 1929, e Nice, França, em 1932, quando estiveram representados Chile e Argentina e Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Uruguai, respectivamente. Não se pode descartar que a maior presença em Nice esteja relacionada à viagem, realizada por Adolphe Ferrière, a Portugal, Espanha, Equador, Peru, Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil6, entre abril e outubro de 1930. Afinal, de acordo com Joseph Coquoz, já em 1921, um plano estratégico havia sido desenvolvido, definindo áreas de atuação dos três principais fundadores da NEF: Ferrière teria ficado encarregado de disseminar a Fellowship entre os países latinos; Beatrice Ensor cuidaria dos países anglófonos e Elisabeth Rotten dos germanófonos7.

De fato, o Congresso de Locarno e a intermediação de Ferrière parecem ter sido eventos decisivos na incorporação de educadores sul-americanos à NEF. Não é coincidência que as primeiras referências a seções na América do Sul começassem a aparecer na TNE em 1927, com revistas da Argentina (Nueva Era, editada por José Rezzano) e Chile (La Nueva Era, editada por Armando Hamel) provisoriamente afiliadas à Fellowship8. No entanto, segundo Coquoz, Ferrière mostrava-se insatisfeito com a pequena participação dos educadores latinos nos Congressos de Locarno e Elsinore. A viagem à América do Sul, assim, surgia como a oportunidade para ampliar o engajamento da região na NEF e teve repercussões imediatas. Fora o caso da Argentina, que em 1928 tinha criado sua seção, associaram-se à Fellowship Equador e Peru, em 1930, Chile, em 1931, Paraguai e Uruguai, em 1932. As seções de Bolívia, em 1936, e Brasil, em 1942, entretanto, foram mais tardias9.

Retraçar a constituição das redes que ligaram educadores sul-americanos à NEF é o objetivo central deste artigo. Para tanto, valemo-nos da troca de correspondências, relatórios dos congressos e textos publicados na The New Era e Pour l’Ére Nouvelle. A discussão toma por base a perspectiva da história transnacional da educação10, que considera que os processos sociais e históricos não podem ser apreendidos no interior das fronteiras convencionais de estados, nações, impérios ou regiões. Ao contrário, destaca a relevância das interações e da circulação de sujeitos e ideias para além das fronteiras geográficas, instigando ao uso de ferramentas da teoria das redes11 e da história digital.

A abordagem das redes tem sido bastante valiosa para a perspectiva transnacional no que dá visibilidade às agências individuais e coletivas. Partimos da premissa de que a NEF se configurava como um hub. Os hubs consistem em nós com várias conexões, portanto não são pontos iniciais ou finais, mas pontos de contato, quer dizer, não são condição ou resultado, mas convergência. Os nós, por sua vez, podem designar indivíduos, grupos, corporações ou qualquer tipo de coletivo12. Por esta via, colocamos em suspeição as análises que se valem do modelo dicotômico centro-periferia de transferência cultural, preferindo considerar as trocas como entranhadas de apropriações e produzidas em múltiplas direções. A história digital, por sua vez, oferece a possibilidade de consultar e processar arquivos digitais e documentação em massa, como as coleções de periódicos aqui tomadas como fonte. Adotamos o ATLAS.Ti, um programa de análise qualitativa de dados (CAQDAS), para o tratamento da documentação digital ou digitalizada.

Para evidenciar o percurso argumentativo, estruturamos o texto em três partes que se complementam com esta introdução e a conclusão. Na primeira parte, detemo-nos especificamente no Congresso de Locarno, desenhando sua organização e a participação sul-americana. Na segunda, rastreamos os movimentos anteriores ao evento, os contatos de membros da NEF com educadores da América do Sul, com o intuito de apresentar algumas tramas que culminaram com a presença da região em 1927 na Suíça. Na terceira parte, são as repercussões nos congressos subsequentes, a criação de seções e a afiliação de revistas o que move a escrita.

1. O Congresso de Locarno e a participação sul-americana

De acordo com Béatrice Haenggeli-Jenni13, o período entre 1927 e 1930 constitui a “era de ouro” da NEF. Até então, argumenta a autora, a Fellowship não possuía um regulamento, funcionando mais como uma federação que propriamente uma associação. Sem embargo, o crescimento rápido da capilaridade da NEF havia levado, em 1925, à criação de um Comitê internacional, formado por representantes da Inglaterra (B. Ensor), Alemanha (E. Rotten), Bélgica (O. Decroly), Bulgária (dr. Katzaroff), Hungria (M. Nemes), Escócia (G. Krutwell), Dinamarca (S. Naessgard), Itália (G. Lombardo-Radice), França (J. Hauser), Espanha (L. Luzuriaga) e Suíça (A. Ferrière). Substituia o Comitê executivo, composto anteriormente por Ensor, Ferrière, Rotten e Baillie-Weaver, este último, renunciando em 1925, havia cedido seu lugar a George S. Arundale.

Foi justamente, durante o Congresso de Locarno, que o Comitê internacional decidiu organizar melhor a estrutura da NEF, definindo as condições de afiliação para seções e revistas, o que incluía o pagamento de contribuição financeira à Fellowship. Impulsionou a decisão a expansão do número de participantes no certame. Em 1927, 42 países se fizeram representar, com assistência de aproximadamente 1200 pessoas. Os números destoavam de eventos passados. Em Calais, haviam sido apenas 150 participantes; em Montreaux, 300; em Heidelberg, 45014. Locarno, portanto, quase triplicou o quantitativo do congresso anterior, ocorrido em 1925.

O IV Congresso internacional da educação nova, assim, com o tema “A liberdade em educação”, acontecido de 3 a 15 de agosto de 1927, foi considerado um grande sucesso. Uma fotografia, publicada tanto nas páginas iniciais da PEN15 quanto da TNE16, servia-lhe de evidência.

Fonte: Phototheque UNIGE- Archives Institut Jean Jacques Rousseau. Disponível em: https://phototheque.unige.ch/aijjr/unige:34162. Acesso em 08 ago. 2022.

Figura 1 Grupo de participantes do Congresso de Locarno. 

Aliás os números 31 e 32 da PEN, relativos a setembro, outubro e novembro de 1927, e 32 da TNE, referente a outubro do mesmo ano, foram integralmente consagrados a divulgar notícias e conferências proferidas no certame. Na lista dos congressistas, publicada pela TNE, figuraram como representantes da América do Sul, apenas Ad. Ferrière, pela Argentina, e Laura Lacombe, pelo governo brasileiro e Associação Brasileira de Educação. No sumário da PEN17, entretanto, localizamos também a referência a Clotilde Guillen de Rezzano, educadora argentina que assinava o texto “Rèpublique Argentine: un essai pour rendre possible l’autonomie de l’écolier dans les écoles d’Etat”, além de Lacombe, autora de “Brésil: L'enseignement public à Rio de Janeiro”. Ambas integravam a seção denominada “La participation des Pays Latins”, na PEN. Os textos completos saídos na PEN, entretanto, apareciam sumarizados na TNE que informava, ainda, ter sido a comunicação de Guillen de Rezzano lida por Ferrière, com a ajuda do Ministro da Instrução Pública da Argentina, Antonio Sagarna, e do Inspetor Geral, Pascual Guaglianone, da Escola Normal nr. 5 de Buenos Aires; e que na apresentação de Lacombe havia sido exibido um filme retratando a educação no Rio de Janeiro com especial ênfase à saúde do educando, por meio de banhos de sol e classes ao ar livre18. A mesma edição da TNE registrava, ainda, a participação no Congresso de Locarno de mais dois delegados pelo Brasil, um pelo Uruguai e outro pelo Peru sem, entretanto, trazer maior detalhamento19.

As estratégias editorais das duas revistas denotam o acento diferenciado concedido aos representantes da América do Sul. Por certo, como editor da PEN e responsável pela divulgação da NEF na América Latina, Ferrière deu mais destaque às comunicações da região, inclusive atuando como porta-voz da educadora argentina. Por seu turno, Beatrice Ensor, editora da TNE e encarregada de propagar a Fellowship entre os países anglófonos, atribuiu maior relevância aos educadores europeus, norte-americanos e australianos. Enquanto na PEN, nota-se o interesse em registrar todas as apresentações feitas no Congresso - uma crônica do evento, como afiança o editorial, Avis de la rédaction20 -; na TNE, localizamos apenas uma seleta. Talvez a periodicidade das duas revistas não permitisse a mesma exposição. A PEN, em 1927 era praticamente mensal (os únicos meses agrupados foram julho-agosto e setembro-outubro), a TNE era trimestral, com edições em janeiro, abril, julho e outubro. Talvez, ainda, a avaliação de Ensor sobre a participação latina conduzisse ao diferente tratamento editorial.

Na seção “The Outlook Tower”, que encabeça cada número da TNE a modo de editorial, encontramos a seguinte manifestação: “As raças latinas estavam escassamente representadas, e foi uma grande decepção que as dificuldades políticas impedissem muitos italianos de participar. O grupo de língua francesa era composto por membros de várias partes do globo”21.

As duas comunicações sul-americanas publicadas integralmente pela PEN abordam a educação no Brasil e na Argentina por distintos vieses. Laura Lacombe, com a exibição do filme produzido pela Diretoria de Instrução Pública do Rio de Janeiro, endereçou-se a três aspectos: a saúde na escola, o ensino na escola e a ação social na escola. Guillen de Rezzano, por outro lado, ateve-se ao tema central do evento, discorrendo sobre a relação entre o regime escolar e o princípio da liberdade.

No que tange à apresentação de Lacombe, a educadora visou oferecer um panorama da educação pública no Rio de Janeiro, dando destaque às iniciativas da administração Antonio Carneiro Leão. Sobre o primeiro aspecto, abordou programas como sopa escolar e copo de leite e ações como o atendimento de clínicas escolares, gabinetes dentários e Cruz Vermelha aos alunos. Relatou, ainda, o estabelecimento de uma escola ao ar livre em Jacarepaguá para as crianças “débeis”. A educação física, os trabalhos manuais, a técnica do sloyd, os métodos ativos empregados no estudo da geografia e da agricultura, as classes ao ar livre, o acesso às bibliotecas escolares, os testes mentais para homogeneização das classes, a orientação vocacional e o ensino de economia doméstica foram alguns dos tópicos incluídos no segundo aspecto. Para o terceiro, ela selecionou o trabalho do Círculo de Mães, da Associação de Pais e da Cruz Vermelha Juvenil, bem como os esforços da administração e dos professores em desenvolver a solidariedade internacional e a fraternidade entre os estudantes22.

Quanto a Guillen de Rezzano, a discussão procurou penetrar nas dificuldades enfrentadas pelos adeptos da escola nova para assegurar a autonomia infantil no interior dos processos escolares. Para tanto, valeu-se de uma experiência realizada na Escola Normal nr. 5 de Buenos Aires, em que era diretora, com alunos de 6 a 9 anos de idade. O texto, entretanto, apenas anunciava seu propósito, pois a autora remetia ao opúsculo colocado à disposição dos congressistas, em que a exposição se fazia acompanhar de fotografias e que havia sido publicado no periódico Nueva Era23, “organo de la sección argentina de la Liga internacional de la nueva educación”, editado por José Rezzano, esposo de Clotilde.

O destaque dado pela PEN e por seu editor a Laura Lacombe e Clotilde Guillen de Rezzano não era casual. Afinal Guillen de Rezzano nem havia estado presente no Congresso e Lacombe possivelmente estava acompanhada de outros dois brasileiros, posto que, no quadro de participantes publicado pela TNE24 , constava a informação de 3 delegados pelo Brasil. A distinção provia dos contatos anteriores efetuados pelas duas educadoras com Ad. Ferrière, o Instituto Jean Jacques Rousseau (IJJR) e outros nomes associados à renovação educacional no período. Deslindar os fios que urdiram estas tramas é o propósito do próximo apartado.

2. Recuperando os fios: a constituição de redes anteriores ao congresso de Locarno

Se os registros localizados dão conta da presença sul-americana nos congressos da NEF apenas em 1927, há uma trama que se constitui nos anos anteriores que começa a preparar o palco para esses educadores provenientes das repúblicas do outro lado do Atlântico. O espraiamento da NEF por diferentes países, cooptando novos membros e fazendo circular suas discussões, se deu de diferentes formas. Os congressos foram apenas uma dessas estratégias. A própria mobilização para a participação dos congressos se valia de mecanismos que alimentavam e expandiam as redes internacionais de educadores, das quais podemos citar as missões de estudo realizadas por membros da NEF em diferentes continentes, a circulação das revistas oficiais, e mesmo a passagem de educadores de distintos países por hubs de formação de professores, como o IJJR, na Suíça, e o Teachers College da Columbia University, nos EUA.

Tomando o congresso de Locarno como ponto de partida deste artigo, puxemos os fios dos nomes dos sul-americanos que são nele creditados, começando pela brasileira Laura Lacombe. Sua participação do congresso de Locarno vinha na sequência de contatos com educadores europeus que culminou em sua ida à Europa em 1925 para estudar no IJJR. Durante sua frequência à instituição conheceu educadores vinculados à NEF, nomeadamente Bovet, Claparède e Ferrière, com os quais manteve correspondência nos anos seguintes.25

Outro nome citado no congresso foi o de Clotilde Rezzano. O fato de seu relatório ter sido lido por Ferrière26 comprova que interlocuções haviam sido estabelecidas anteriormente. Clotilde Guillen de Rezzano era um nome conhecido de um grupo de educadores vinculados ao movimento da educação nova na Argentina, geralmente citada na historiografia pela sua atuação na divulgação e experimentação de novas ideias pedagógicas, como os centros de interesse de Decroly. Vale pontuar que Clotilde foi à Europa em 1906 em missão de estudo para observar a organização de escolas.27

Dentre os educadores argentinos alinhados com as novas ideias educacionais estava seu esposo, José Rezzano, editor da revista La Obra. Fundada em 1921, La Obra reunia um conjunto de colaboradores que convergiam na defesa das inovações pedagógicas. Em 1926, a revista oficializou sua adesão à NEF por meio da publicação do recém-criado suplemento sob o título Nueva Era, que, a partir de 1927, começou a ser editado de forma independente também sob a direção de José Rezzano28. Referências à Nueva Era emergem na TNE como afiliada à NEF apenas em 192729, mas desde 1926 constam na PEN30.

Em seu primeiro número datado de julho de 1926, o suplemento trazia no cabeçalho que estava vinculado à “Liga para la Educación Nueva” e logo abaixo, abria o número inaugural com uma carta endereçada a Pierre Bovet, diretor do Bureau International d’Education (BIE). A carta tratava da importância da revista La Obra, de seu apoio ao recém-criado BIE, do lançamento da Nueva Era e do alinhamento com a Liga. Seu penúltimo parágrafo é o que melhor elucida como essas conexões eram percebidas pelo editor.

La Obra, que se ha consagrado en estos últimos tiempos a difundir con celo incansable los más recientes anhelos y tentativas de carácter educacional en los viejos países de Europa y en los Estados Unidos, revela la honda preocupación que a tales asuntos concede, inaugurando desde hoy, en sus páginas, una sección especial, denominada “Nueva Era”, con el único propósito de hacer conocer el estado actual del mundo en materia escolar, analizando en especial lo que se refiere al movimiento que unifica la “Liga Internacional para la Educación Nueva”, con la convicción más absoluta de la verdad que asisten a los fundadores del “Bureau”, cuando piensan que sólo una nueva mentalidad, generosa y amplia librará el buen combate contra las fuerzas del mal que parecen dominar hoy al mundo, y que esa nueva mentalidad sólo ha de ser posible con una nueva educación.31

O segundo número do suplemento, publicado em agosto do mesmo ano, também iniciava com um texto sobre a Liga, sob o título “Nuestra adhesión a la ‘Liga I. para la Educación Nueva”. É também pela Nueva Era que temos acesso a detalhes da passagem de Maria Montessori pela Argentina em 1926. A primeira menção à viagem aparece no número 5, datado de setembro, no qual constam artigos discutindo o método montessori e descrevendo os cursos ministrados pela educadora italiana durante sua estada. As referências aos cursos se estendem pelos dois números seguintes (de 5 e 20 de outubro), se encerrando com a notícia de retorno de Montessori à Europa.32 A presença de Maria Montessori na Argentina em 1926 constitui elemento importante da trama que antecede o congresso de 1927 ao considerarmos que ela era uma figura próxima de Beatrice Ensor e que, principalmente nos primeiros anos da NEF, o método Montessori e seus adeptos tinham presença marcante nos eventos e na revista TNE33.

No número posterior à partida de Montessori, o primeiro texto do suplemento informa sobre o congresso da NEF de Locarno. Sob o título “El próximo Congreso de la liga Internacional para la Educación Nueva”, inicia com o seguinte parágrafo:

Acabamos de saber que en Locarno, célebre en los anales diplomáticos de los últimos tiempos, ha de realizarse el próximo congreso de la Liga para la Educación Nueva, durante la primera quincena de agosto de 1927. Como no lo ignoran nuestros lectores, las anteriores reuniones - que se llevan a cabo cada dos años - se efectuaron en Calais, Montreux y Heidelberg34.

Além de informações sobre possíveis participantes do evento, o texto também apresenta a preocupação com que as experiências e inovações educacionais argentinas fossem relatadas no congresso, apesar de não indicar de forma explícita eventuais representantes.

Se puxando o fio do nome de Clotilde Rezzano chegamos ao suplemento Nueva Era, é ainda no rastro dos impressos pedagógicos que damos sequência à discussão, visto que outra forma de mapear essas redes é analisar as revistas oficiais da NEF, especificamente a Pour l’Ere Nouvelle, que é mais representativa das interlocuções em países de língua latina. Sob edição de Adolphe Ferrière, a PEN deixa entrever os contatos estabelecidos por membros da NEF - especificamente o próprio Ferrière - com educadores sul-americanos, além da circulação da própria revista em diferentes países.

Ao mapear referências à América do Sul no impresso, o termo aparece pela primeira vez em abril de 1922 no editorial35. Em 1923, também no editorial, Ferrière remete às tentativas de contatos com editores de outras revistas, citando o Uruguai, mas sem dar detalhes.36 Em abril de 1924, faz uma menção ao Brasil. Estas primeiras pistas localizadas na PEN nos permitem rastrear outras conexões. Por meio delas, sabemos de correspondência estabelecida com o educador brasileiro Carneiro Leão37.

No acervo de Antônio Carneiro Leão, sob a guarda da Biblioteca Nacional brasileira, consta a carta-resposta de Ferrière, datada de 28 de março de 1924, que menciona correspondência original de Carneiro Leão escrita em fevereiro. Analisando tanto a carta de Ferrière quanto as informações sobre a educação no Rio de Janeiro que ele introduz no editorial da PEN, concluímos que Carneiro Leão entrou em contato com Ferrière após conhecer o periódico. Foi também Carneiro Leão quem incentivou Laura Lacombe a ir ao IJJR em 1925. Lacombe viria a ser a primeira representante oficial do Brasil em um congresso da NEF em 1927. E, ao participar do evento em Locarno, fez exibir imagens da administração Carneiro Leão no Rio de Janeiro38.

Para além das rápidas menções, as primeiras notas mais substanciais sobre a América do Sul aparecem na edição de julho de 1925, sobre Colômbia e Uruguai, dentro do texto sob o título “Écoles expérimenteles em Europe et en Amérique”, escrito por Ferrière.39 Na nota sobre a Colômbia, dedicada especificamente à atuação de Nieto Caballero frente ao Gimnasio Moderno, Ferrière refere-se a ele como um “antigo aluno do IJJR”, que havia proferido uma palestra naquela instituição em abril. A nota sobre o Uruguai reproduz informações de carta enviada por Salas Olaizola sobre revista publicada na escola de Las Piedras, da qual era diretor, e iniciativas direcionadas à educação renovada no Uruguai.

Outras notas sobre a educação sul-americana, novamente sobre Colômbia e Uruguai, são publicadas no número de janeiro de 1926.40 Sobre o Uruguai, mais uma vez reproduz trechos de carta enviada por Sabas Olaizola, que se dispõe a enviar exemplares de revista editada em sua escola, e se refere a outras iniciativas. Na nota sobre a Colômbia, menciona a presença de Decroly naquele país e que o educador belga enviaria um artigo relatando sua experiência para a PEN. O citado artigo é publicado em duas partes, nos dois números seguintes da revista (março e abril), sob o título "Une école nouvelle en Amerique du sud. Le Gymnase moderne Bogota (Colombie)"41.

Sobre Sabas Olaizola (1894-1974), temos poucas informações acerca dos contatos que o aproximam da NEF e de Ferrière nos anos 1920, ademais da correspondência mencionada na própria PEN. Além de ter sido uma referência no movimento renovador no Uruguai e, posteriormente, na Venezuela, sabemos que, em 1927, Olaizola esteve em missão na Bélgica e Suíça, tendo encontrado Ferrière durante sua estada.42 Conforme mencionado anteriormente, o congresso de Locarno contou com um representante do Uruguai e, apesar de não constar seu nome na TNE ou PEN, pela sequência de datas é razoável supor que Olaizola tenha sido ele o participante.

Retomando o artigo de Decroly sobre a Colômbia, constatamos que discorre acerca das experiências inovadoras, focando especificamente no Gymnasio Moderno, em Bogotá, e na trajetória de seu fundador, Nieto Caballero. Ainda, coloca em relevo a formação internacional do educador colombiano, suas viagens pela Europa e pelos Estados Unidos, incluindo os contatos anteriores com o IJJR, nos anos 1910, e a excursão pelas repúblicas sul-americanas entre 1924 e 1925. Por fim, menciona a presença de uma aluna de Montessori na Colômbia em 1917.

Como é possível perceber nas referências à América do Sul na PEN, todas as notas sobre a Colômbia nos anos 1920 remetem a Nieto Caballero, um indicativo da importância que assumiria em anos posteriores enquanto representante latino na NEF. Apesar de seu nome não constar no congresso de Locarno, ele marcaria presença em congressos posteriores, tendo atuado inclusive como um dos principais oradores no Congresso de Cheltenham, em 193643. Tomando o artigo de Decroly como referência, a conexão que se faz entre Gimnasio Moderno (uma escola rural para meninos inspirada nos métodos Decroly e Montessori, que se tornou emblema internacional de renovação pedagógica e símbolo do escolanovismo na Colômbia) e Nieto Caballero passa necessariamente pelo trânsito internacional do educador.

A trajetória de Agustin Nieto Caballero é repleta de viagens desde sua juventude. Em 1904, embarcou para a Europa com seus irmãos, foi depois para Nova Iorque, onde concluiu seus estudos. Em 1910, ingressou no Teachers College da Universidade de Columbia e, na sequência, dirigiu-se à Europa, onde estudou Direito e Pedagogia na França. Nesse período, entrou em contato com as discussões sobre a educação nova. Retornou à Colômbia em 1913, e no ano seguinte encabeçou iniciativa que resultou na fundação do Gimnasio Moderno. Entre as idas e vindas por diferentes países e instituições, apreendemos a presença de Nieto Caballero no Rio de Janeiro, em 1925, e suas interlocuções com a Associação Brasileira de Educação, da qual Carneiro Leão fazia parte.44

Mas a presença de Nieto Caballero no IJJR nos anos 1920, e seu retorno em 1925 que motivaria a ida de Decroly à Colômbia, coloca sob o holofote o papel que, para além da circulação da revista PEN, a presença de estudantes sul-americanos no IJJR - e a partir de 1925, do BIE - desempenhou na divulgação da NEF, ou melhor, da Ligue Internationale pour l’Education Nouvelle. Outro exemplo citado logo no início deste tópico foi o da brasileira Laura Lacombe, cuja presença no IJJR precedeu sua ida ao Congresso de Locarno.

As tramas, que se formaram ao longo dos anos 1920 e culminaram na participação de sul-americanos no Congresso de Locarno, ganharam proporções que nos anos seguintes se manifestaram na presença de delegações nos congressos da NEF e na criação de seções afiliadas, como apresentado no tópico a seguir.

3. Seguindo os rastros para a urdidura das redes

Na busca por localizar os sujeitos, instituições e ações que integraram a rede global da NEF após o Congresso de Locarno, focamos nosso interesse nas revistas TNE e a PEN, de modo a identificar quais aspectos do contexto sul-americano estiveram contemplados nas páginas dos periódicos. Desta forma, a noção de hub aqui também é acionada por entendermos as duas principais revistas da Fellowship como grande nó-conector de informações e relatos das experiências educativas empreendidas em diversas localidades.

No entanto, a ampliação da massa documental, proveniente do próprio adensamento da rede constituída pela NEF após 1927, em sua “era de ouro”, levou-nos a buscar ferramentas para levantamento e processamento qualitativo de dados em grande volume, aproximando-nos dos debates da história digital. Antes de adentramos aos achados da pesquisa, algumas considerações teórico-metodológicas sobre a investida precisam ser efetuadas.

Recorrendo à metáfora do processo artesanal da urdidura dos fios, o tratamento dado aos arquivos digitalizados requer atenção similar. Os arquivos digitalizados precisam ser previamente tratados de modo que as ferramentas do CAQDAS sejam uteis às análises. Ambas as revistas passaram por processo de digitalização e estão disponíveis ao público de forma gratuita45. No entanto, cada qual apresenta características específicas.

É possível encontrar a TNE acessível para download em diversos tipos de extensão de arquivo, o que nos oferece uma gama de opções de software a ser utilizada na análise da fonte digitalizada. Para nosso caso, optamos pelo formato PDF tratado com o reconhecimento ótico de caracteres (RCO). O arquivo digitalizado da PEN está disponível apenas em PDF sem o tratamento de RCO. Para tornar o arquivo possível de utilização na pesquisa fizemos a ocerização46 dos números da coleção por meio de serviço oferecido pelo software Adobe Acrobat.

A inexistência do RCO incide na necessidade de realizar apenas a leitura humana do material, impedindo a utilização do uso de CAQDAS de maneira mais abrangente e das funcionalidades que ele oferece. Por exemplo, para o processo de codificação, podemos recorrer à ferramenta “pesquisa de texto” em toda a coleção e ela nos apresenta os resultados encontrados. A partir daí torna-se mais ágil e prático a realização das análises; caso contrário é necessário fazer a leitura humana de todo o material que, tendo em vista a amplitude do conteúdo das duas coleções, torna-se inviável.

Todo processo de ocerização requer que o arquivo digitalizado tenha sido capturado com boa resolução de imagem, as páginas em ordem e posição correta, bem como outros atributos indispensáveis para a produção de um bom arquivo. Uma imagem digitalizada em baixa qualidade, desfocada ou com ruídos que impeçam a leitura torna inexequível o uso do CAQDAS no processo de busca de texto. Na TNE poucos foram os ruídos identificados, mas na PEN eles foram maiores, de modo a exigir tratamento imagético na qualidade da imagem, correção das páginas que estavam de cabeça para baixo, efetuação de diversas varreduras a partir da leitura humana de modo a identificar formas de minimizá-los.

Após o processo de adequação do arquivo digitalizado da PEN para a rodagem no ATLAS.Ti de modo satisfatório, iniciamos o processo de construção do cluster de códigos. Procedemos à leitura aproximada e distanciada da coleção digitalizada da TNE e da PEN que, entre as décadas de 1920 e 1930, publicaram 138 e 151 números respectivamente. Para a construção do cluster escolhemos, em ambas as revistas, como códigos, os nomes de países, cidades, personagens e instituições por entendermos que tais nós podem nos levar a outros nós e assim à constituição das redes. Os termos utilizados para a codificação foram adotados por terem sido identificados durante o contato com as fontes e historiografia que temos manuseado durante as pesquisas. Ainda, para o processo de codificação foi necessário levarmos em consideração o conteúdo diferenciado publicado por cada um dos periódicos e seus idiomas. Dentre os códigos coletados alguns apontamentos podem ser feitos a partir da tabela abaixo:

Tabela 1 Códigos e magnitudes de ocorrências nas revistas TNE e PEN (1920-1930) 

Código TNE PEN
Magnitude Ordem Proporção Magnitude Ordem Proporção
Agustín Nieto Caballero 5 11º 2,7% 15 10º 3,5%
Argentina 30 16,3% 43 10,1%
Armando Hamel 11 6,0% 24 5,7%
Assunção 1 20º 0,5% 0 - -
Bolívia 3 12º 1,6% 21 5,0%
Brasil 12 6,5% 14 11º 3,3%
Buenos Aires 17 9,2% 17 4,0%
Chile 22 12,0% 75 17,7%
Clotilde Rezzano 3 12º 1,6% 3 22º 0,7%
Colômbia 20 10,9% 44 10,4%
Equador 1 20º 0,5% 1 25º 0,2%
Espírito Santo 1 20º 0,5% 1 25º 0,2%
Fernando de Azevedo 0 - - 5 20º 1,2%
Gimnasio Moderno de Bogotá 1 20º 0,5% 13 13º 3,1%
Guayaquil 0 - - 1 25º 0,2%
J. B. Fonseca 0 - - 1 25º 0,2%
Jose Rezzano 12 6,5% 14 11º 3,3%
Laura Lacombe 3 12º 1,6% 6 19º 1,4%
Lourenço Filho 1 20º 0,5% 0 - -
M. L. Pons 1 20º 0,5% 0 - -
Montevideo 2 18º 1,1% 18 4,2%
Paraguai 3 12º 1,6% 12 15º 2,8%
Peru 8 4,3% 11 16º 2,6%
Quito 0 - - 9 18º 2,1%
Ramon Cardozo 2 18º 1,1% 3 22º 0,7%
Rio de Janeiro 3 12º 1,6% 13 13º 3,1%
Santiago 0 - - 10 17º 2,4%
São José dos Campos 0 - - 1 25º 0,2%
São Paulo 0 - - 4 21º 0,9%
Universidade de La Plata 3 12º 1,6% 3 22º 0,7%
Uruguai 7 10º 3,8% 20 4,7%
Valparaiso 11 6,0% 22 5,2%
Venezuela 1 20º 0,5% 0 - -
Total 184 - 100,0% 424 - 100,0%

A tabela apresenta os códigos etiquetados. A “magnitude” refere-se à quantidade de vezes que o código foi identificado no corpus das revistas em número absoluto47. A “ordem” indica a colocação do código em perspectiva decrescente, de acordo com a magnitude. A proporção é a frequência individual considerando a magnitude total dos códigos em cada revista.

Como esperado, a PEN apresenta uma maior frequência (424 de magnitude) de citações ao contexto sul-americano que a revista inglesa (184 de magnitude), e dentre elas os códigos Argentina, Colômbia e Chile ocupam três primeiras colocações no grau de ocorrência em ambas as revistas. Para a Argentina e o Chile compreendemos que a magnitude está associada à presença recorrente do nome das revistas La Obra48 e seu suplemento Nueva Era; e a La Nueva Era, nas edições das TNE e da PEN, quando passaram a compor a rede internacional de periódicos a partir de 1927. Da mesma forma, os nomes dos editores José Rezzano (da Argentina), Agustín Nieto Caballero (da Colômbia) e Armando Hamel (do Chile) figuram entre os personagens mais citados, dentre os codificados.

Dentre as instituições de ensino, identificamos referência à Universidade de La Plata e ao Gimnasio Moderno de Bogotá. A menção à Universidade de La Plata, embora com baixa magnitude em ambas as revistas, indica possíveis aproximações entre as propostas da educação nova e a formação de professores em nível universitário, ao que se associa a atividade profissional do editor Jose Rezzano, professor de Ciências da Educação na instituição. Já com respeito ao Gimnasio Moderno de Bogotá, as referências derivam da atuação de Nieto Caballero na escola secundária que, como foi dito anteriormente, se tornou modelar para a implementação de princípios escolanovista, apresentando frequência (13 de magnitude) na PEN. 49

O código “Brasil” ocupa a quinta posição na TNE e a 11ª na PEN em perspectiva geral do percentual de magnitude da ocorrência dos códigos, apresentado uma diferença de 3,2%. No entanto, há outros rastros que podem ser identificados na TNE e na PEN, que nos permitem visualizar circulações, apropriações e participação do país no cenário da educação nova, sem necessariamente estar inserido oficialmente na rede internacional. Como exemplo, é possível apontar para a informação de compra e distribuição de projetores cinematográficos para as escolas normais e de ensino secundário no Espírito Santo50, além do artigo publicado na PEN intitulado “Une tâche sociale urgente: la transformation des Ecoles Normales au Brésil”, assinado por J. B. Fonseca, professor da Escola Normal de São José dos Campos, estado de São Paulo51. Tais informações nos permitem deslocar de eixo da análise das cidades Rio de Janeiro e São Paulo, possibilitando vislumbrar a inserção de outras localidades preteridas pela historiografia da educação na discussão internacional sobre a escola nova.

Somam-se às conexões entre NEF e América do Sul as viagens feitas por integrantes da rede à região, como as de Decroly, Ferrière e Montessori, já mencionadas, que nos instigam a pensar sobre o estabelecimento de conexões por meio das missões pedagógicas, de caráter institucional encabeçadas por membros da Fellowship em sua busca por conhecer a realidade sul-americana e se aproximar de seus educadores.

Ao abordar os relatórios dos congressos de 1929 e 1932 buscamos nos números que se dedicaram aos encontros de Elsinore e Nice os rastros da presença sul-americana, muito embora as informações em geral são breves notícias e comentários. No Congresso de Elsinore estiveram presentes 1746 membros da NEF oriundos de 43 países, dentre os quais somente Chile e Argentina figuraram como representantes da América do Sul. Os dois países contabilizaram 6 participantes sem identificação dos nomes de todos eles. Já em uma listagem parcial dos delegados das seções nacionais publicada pela revista constam referência ao representante do governo chileno “M. E. Salas” e à “Mlle. M. L. Pons” pelo Uruguai.52

Destes representantes somente o relatório produzido por M. E. Salas foi publicado. De acordo com o editorial da TNE, os relatórios publicados foram selecionados pelo editor da revista dentre os países que haviam realizado importantes reformas educativas na última década53.

Nossa hipótese é que “Salas” seja Darío Enrique Salas Díaz (1881-1941), educador chileno envolvido com projetos educativos da educação nova e formação de professores em seu país. De acordo com Neumann54, Salas Díaz cursou o doutorado na Universidade de Nova Iorque e, durante sua estada nos Estados Unidos e após regressar ao Chile, passou a atuar como professor no Instituto Pedagógico da Universidade de Santiago55. Da sua Estada em Nova Iorque, assim como Caballero, Salas Díaz se aproximou de Dewey e outros educadores da Teachers College da Universidade de Columbia.

O relatório publicado na TNE refere-se aos esforços empreendidos pelos avanços da escolarização pelo governo chileno como ampliação das taxas de alfabetização, reorganização do ensino e investimentos financeiros. Já sobre Pons, não foram localizadas mais informações.

Em agosto de 1932 foi realizada a sexta conferência da NEF em Nice, na França. Nesse evento, contabilizou-se quase a mesma quantidade de membros participantes de Elsinore. Diferentemente da cobertura dada pela TNE ao Congresso anterior, esse congresso obteve maior publicização dos temas discutidos, sem a preocupação de relatar com maiores detalhes a composição das delegações. Somente dois relatórios foram publicados na revista inglesa, elaborados pela comissão japonesa e pela chinesa56.

Contudo, na edição n.6, prévia à realização do Congresso, na seção de notas internacionais, publicou-se a informação sobre as inscrições que a Comissão do Congresso havia recebido. A nota relaciona participantes de diversos países, em especial da Europa e dos Estados Unidos, como Jean Piaget, Maria Montessori, Ovide Decroly, Paul Langevin, Henri Wallon, Carleton Washburne. Escapando a esse recorte geográfico, figura o nome de Lourenço Filho, como diretor da Instrução Pública no Brasil57.

Após quatro anos da conferência de 1932, ocorreu o encontro em Cheltenham, fechando as duas décadas de congressos internacionais da NEF. Nesse Congresso, identificamos, como já mencionado, a participação de Nieto Caballero na qualidade de um de seus principais oradores. A conferência, por ele proferida, intitulada “Le renouvellement d’un peuple par l’éduction”, foi publicada na PEN, em 193758. Pela primeira vez um educador sul-americano acalçava tal destaque em evento da NEF. O circuito internacional que ele havia percorrido desde a juventude, os contatos estabelecidos nos dois lados do Atlântico com membros da NEF, a frequência a instituições como IJJR e o Teachers College da Universidade de Columbia, a relevância assumida pelo Gimnasio Moderno como emblema da escola nova na Colômbia, as visitas ao país sul-americano realizadas por Ferrière e Decroly, bem como a proficiência de Nieto Caballero em vários idiomas são elementos que compõem a trama de acreditação do seu convite para conferencista em 1936. Evidenciam as estratégias mobilizadas pelos integrantes da rede na consolidação de laços e no estreitamento de nós, articulando movimentos em largas escalas, nacionais ou internacionais, com ações mais locais e individuais. Servem-nos como indícios na análise dos princípios de governança postos em funcionamento na NEF para construção de hierarquias, atribuição prestígio a educadores e (re)posicionamento dinâmico dos indivíduos na rede59.

Ao optarmos por uma perspectiva de análise das redes oscilando entre as dimensões quantitativas e qualitativas para a pesquisa histórica vislumbramos a possibilidade de compreender como determinados termos se inserem e se comportam na dinâmica histórico-social. Embora “fora de moda”, acreditamos a abordagem quantitativa quando associada à história digital ainda tem muito a oferecer aos historiadores.

Vale apontar, por fim, que os dados quantitativos aqui utilizados não tiveram a intencionalidade de representar a totalidade de termos referentes à América do Sul existentes nas duas revistas. Podemos dizer que eles funcionaram como emuladores de uma abordagem qualitativa da temática. Nomes de cidades, sujeitos e instituições educativas como exemplo, Mendoza, Juan Cassani, Juan Mantovani e a Universidade de Buenos Aires, não foram integrados à tabela por terem sido identificados apenas pela leitura humana. Tal alerta demonstra a preocupação que devemos ter no estabelecimento e ampliação das discussões sobre história digital (da educação). Para a além da divulgação de acervos e experiências, é importante atentar para aspectos de ordem tecnológica referentes à digitalização e à manutenção das fontes digitalizadas bem como ao tratamento metodológico compatível com os novos desafios de operação historiográfica.

Comentários finais

A abordagem aqui encetada sobre a presença sul-americana nas redes constituídas por e através da NEF é ainda inicial. Os destaques dados a educadores e instituições, bem como a periódicos e seções, requerem aprofundamento por meio de incursão nas histórias nacionais dos países mencionados (Colômbia, Peru, Argentina, Uruguai, Paraguai, Equador, Chile, Bolívia), complementando e alargando os achados feitos para o caso brasileiro60. Neste cenário, o recurso à história transnacional da educação parece ineludível. Sem desconsiderar as produções historiográficas nacionais, cujo suporte às interpretações sobre as ações dos sujeitos é imprescindível, o foco no trânsito internacional de educadores e na constituição das redes tende a permitir a identificação de novos problemas ou a emular novas análises de temas já consagrados.

Para o caso do movimento internacional da educação nova, a operação é fundamental, na medida em que desloca os objetos de estudo de contextos nacionais, considerando como as injuções internacionais tanto funcionaram na legitimação de educadores em seus países de origem, como convocaram a apropriações e hibridações de experiências e teorias em mundo cada vez mais conectado, fosse em função do crescente desenvolvimento do capitalismo internacional, fosse em decorrência imediata dos receios provocados pela horrores da Primeira Grande Guerra. Por certo, as viagens pedagógicas e missões de estudos internacionais retroagem a décadas anteriores a 1920, assim como a internacionalização de ideias e artefatos pedagógicos. No entanto, o final do conflito mundial armado despertou na população em geral e nos educadores em particular a necessidade de irmanar os espíritos em torno de uma sociedade pacífica e solidária. Não é de outro modo que se pode compreender a escolha pelo termo fellowship para caracterizar a nova rede que se formava em 1921, em Calais. A denominação Liga, que a NEF assume nos países latinos, se não representa uma tradução direta do termo, retém seu primado principal, expresso nos atributos de amálgama, de unidade.

Ao atribuir-se o propósito de constituir uma irmandade internacional, a NEF configura-se, por excelência, em uma entidade que pretende transcender os estados-nação na construção de práticas escolares universais, tomando por base princípios pedagógicos e psicológicos tidos, eles também, como universais. Mas o que incita a tomá-la como objeto de uma história transnacional da educação são, mais do que seus objetivos, o rápido espraiamento da teia que foi capaz de urdir no exíguo período de 15 anos e o também rápido movimento de desconstrução que a rede sofreu nas mudanças geopolíticas ocorridas com o alvorecer da Segunda Grande Guerra. A NEF foi assim sintoma e vítima do entreguerras.

Conhecer os modos como os educadores sul-americanos a ela se conectaram nos ajuda a compreender os efeitos (in)esperados da circulação internacional de sujeitos, artefatos e modelos pedagógicos, em uma época em que, por força mesmo de uma concepção científica e empírica da educação escolar, os primeiros departamentos/faculdades de educação foram incorporados às universidades em diversos países, alterando a maneira como se dava a formação docente. Ajuda-nos também a perceber os entraves e as possibilidades então existentes no processo de escolarização na América do Sul, identificando enlaces e tensões entre educadores e propostas. Ajuda-nos ainda a acompanhar os mecanismos acionados na constituição de redes e nos princípios que organizam dinamicamente sua governança. Por fim, ajuda-nos a melhor entender os primórdios desta “era dos extremos”, como assim a qualificou Eric Hobsbawm61.

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2Sue Middleton, “Clare Soper’s hat: New Education Fellowship correspondence between Bloomsbury and New Zealand, 1938-1946”, History of Education 42, no. 1, (2013): 92-114. Sue Middleton, “New Zealand Theosophists in ‘New Education’ networks, 1880s-1938”, History of Education Review 46, n. 1 (2017): 42-57.

3Béatrice Haenggeli-Jenni, L’Éducation nouvelle entre science et militance: débats et combats à travers la revue Pour l’Ère Nouvelle (1920-1940) (Bern: Peter Lang, 2017).

4Joseph Watras, “The New Education Fellowship and UNESCO’s programme of fundamental education”, Paedagogica historica 47, no. 1-2 (2011): 191-205.

5Sobre a participação de Lacombe, conferir Ana Christina Mignot, “‘Claparède, mestre e amigo’: memórias de travessias”, Revista Artes de Educar 2, no. 2, (2016): 253-265; Ana Christina Mignot, “Eternizando travessia: memórias de formação em álbum de viagem”. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto)biográfica 2, no. 5 (2017): 330- 342.

6Sobre a viagem de Ferrière ao Brasil, ver Marta Maria Chagas de Carvalho, “A bordo do navio, lendo notícias do Brasil: o relato de viagem de Adolphe Ferrière”, em Viagens pedagógicas, org. Ana Chrystina Mignot e José Gonçalves Gondra (São Paulo: Cortez, 2007), 277-93; Raquel Lopes Pires. “Escritas itinerantes: a Reforma da Instrução Pública do Distrito Federal na revista Pour l’Ère Nouvelle e no Boletim de Educação Pública (1927-1931)” (Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2021).

7Joseph Coquoz, “Le Home ‘Chez Nous’ comme modèle d’attention à l’enfance”, Educació i Història: Revista d’Història de l’Educació, no. 20 (2012): 43.

8TNE 8, no. 32 (1927).

9No caso do Brasil, ela surge em razão da visita de outro educador, desta feita o estadunidense Carleton Washburne. Ver: Rafaela Silva Rabelo e Diana Gonçalves Vidal, “A seção brasileira da New Education Fellowship; (des) encontros e (des) conexões”, In Movimento Internacional da Educação Nova. Org. Diana Gonçalves Vidal e Rafaela Silva Rabelo (Belo Horizonte: Fino Traço, 2020), 27-28.

10Eugenia Roldán Vera e Eckhardt Fuchs, “Introduction: the transnational in the History of Education”, In: The transnational in the History of Education: concepts and perspectives, Org. Eckhardt Fuchs e Eugenia Roldán Vera (Switzerland: Palgrave Macmillan, 2019).

12Albert-László Barabási, Linked: how everything is connected to everything else and what it means for business, science, and everyday life (New York: Plume, 2003); Silvia Portugal, “Contributos para uma discussão do conceito de rede na teoria sociológica”, Oficina do CES nº 271, Março (2007).

13Haenggeli-Jenni, L’Éducation nouvelle entre science et militance, 33.

14Idem, 37.

15PEN, no. 31 (1927): 3.

16TEN 8, no. 32 (1927): 2.

17PEN 6, no. 31 (1927): 1.

18TNE, Idem, 178-179.

19TNE, Idem, 117.

20PEN 6, no. 31 (1927): 2.

21No original: The Latin races were thinly represented, and it was a great disappointment that political difficulties prevented many Italians from participating. The French-speaking group was composed of members from many parts of the globe. TNE, idem, 124.

22PEN 6, no. 31 (1927): 218-219.

23PEN, idem, 219-220.

24TNE, idem, 117.

25Rafaela Silva Rabelo and Diana Gonçalves Vidal, “A seção brasileira da New Education Fellowship: (des)encontros e (des)conexões”, In Movimento Internacional da Educação Nova, Org. Vidal e Rabelo (Belo Horizonte: Fino Traço, 2020), 25-47.

26TNE 8, no. 32 (1927): 178.

27Héctor Rubén Cucuzza, “Desembarco de la Escuela Nueva en Buenos Aires. Heterogéneas naves atracan en puertos heterogéneos”, Pesquisa (Auto)Biográfica 2, no. 05 (2017): 310-329.

28Silvina Gvirtz e Gabriela Barolo, “A escola nova na Argentina. Apontamentos locais de uma tradição pedagógica transnacional”, In Movimento Internacional da Educação Nova, org. Vidal e Rabelo (Belo Horizonte: Fino Traço, 2020), 133-152; Ignacio Frechtel, “Formas de circulación del conocimiento pedagógico renovador en la Argentina: revistas, visitas pedagógicas y exilios”, In Circulaciones, tránsitos y traducciones en la historia de la educación, org. Eduardo Galak, Ana Abramowski, Agustín Assaneo e Ignacio Frechtel (Buenos Aires: UNIPE: Editorial Universitaria; Saiehe, 2021), 19-33.

29TNE 8, no. 32 (1927).

30PEN 5, no. 23 (1926): 202.

31Nueva era, no. 1 (1926).

32Nueva era, nos. 4, 5 e 7 (1926).

33Observar, por exemplo, os números da TNE dos anos 1920 e início dos anos 1930. Angelo Van Gorp, Frank Simon, Marc Depaepe, “Frictions and fractions in the New Education Fellowship, 1920s-1930s: Montessori(ans) v. Decroly(ans)”, History of Education & Children’s Literature 12, no. 1 (2017): 251-270.

34Nueva Era, no. 8 (1926).

35PEN 1, no. 2 (1922).

36PEN 5, no. 5 (1923).

37PEN 3, no. 10 (1924).

38Rafaela Silva Rabelo e Diana Gonçalves Vidal, “A seção brasileira da New Education Fellowship: (des)encontros e (des)conexões”, In Movimento Internacional da Educação Nova, org. Vidal e Rabelo (Belo Horizonte: Fino Traço, 2020), 25-47.

39PEN 4, no. 16 (1925): 9.

40PEN 5, no. 18 (1926): 6.

41PEN 5, no. 19 (1926); PEN 5, no. 20 (1926).

42Martha Nalerio, “Sabas Olaizola”, In Historia de la Educación Uruguaya, Tomo III (1886-1930), org. Agapo Luis Palomeque (Montevideo: Ediciones de la Plaza, 2012), 231-254; Antonio Romano, “’Nueva Educación’ y enseñanza secundaria en Uruguay (1939-1963)”, Cadernos de História da Educação 15, no. 2 (2016): 468-491.

43PEN, no. 126 (1937); TNE, no. 10 (1935): 306.

44Julio Santiago Cubillos Bernal, Agustín Nieto Caballero y el proceso de apropriación del pensamiento pedagógico y filosófico de John Dewey (Bogotá: Programa Editorial Universidad del Valle, Gimnasio moderno de Bogotá, 2007); Rafaela Silva Rabelo, Ariadne Lopes Ecar e Diana Gonçalves Vidal, “Caminhos que se cruzam na educação: Faria de Vasconcelos, Julio Larrea, Nieto Caballero e Lourenço Filho”, trabalho apresentado no XII Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação, Cuiabá, 2021.

45A TNE está disponível para download em https://archive.org/details/uclinstituteofeducation; e a PEN está disponível para download em https://www.unicaen.fr/recherche/mrsh/archives/ere_nouvelle/pen.html.

46Termo utilizado para o tratamento dado aos documentos digitalizados que passaram pelo processo de reconhecimento de caracteres óticos.

47Tendo em vista que a qualidade dos arquivos digitais, seja no processo de digitalização como no de ocerização, interferem no sistema de leitura, sua magnitude pode apresentar variação. Por sua vez, por se tratar de uma análise qualitativa, consideramos os dados obtidos válidos para a discussão proposta.

48A primeira aparição da La Obra na TNE foi em 1926 na seção “reviews and notes”. TNE, no. 28 (1926): 191.

49Ver discussão sobre o Ginásio Moderno de Bogotá em Herrera (2020). Martha Cecília Herrera, “Apropriações e ressignificações da Escola Nova na Colômbia na primeira metade do século XX”, In: Movimento Internacional da Educação Nova, org. Diana Vidal e Rafaela Rabelo (Belo Horizonte: Fino Traço, 2020), 25-48.

50TNE, no. 56 (1931).

51PEN, no. 80 (1932): 217-218.

52TNE, no. 40 (1929): 231, 237.

53TNE, no. 40 (1929): 223.

54Emma Salas Neumann, “Darío Enrique Salas Diáz: um educador de excepción”, Pensamiento educativo 34, (2004): 99-118.

55Para um panorama sobre o contexto das reformas e o desenvolvimento pedagógico escolanovista no Chile entre as décadas de 1920 e 1930, ver Pablo Toro-Blanco, “Conselhos de viajantes: a Escola Nova e a transformação do papel do professor no Chile (1920-1930). Um olhar conciso da história transnacional e das emoções”, In: Movimento Internacional da Educação Nova, org. Diana Vidal e Rafaela Rabelo (Belo Horizonte: Fino Traço, 2020), 25-48.

56TNE, no. 8 (1932).

57TNE, no. 6 (1932): 179. Ver análise sobre a presença de Lourenço Filho como membro participante do Congresso de Nice em Rabelo e Vidal, A seção brasileira da New Education Fellowship; (des) encontros e (des) conexões.

58PEN, no. 126 (1937): 67-76.

60Além dos trabalhos referidos ao longo deste artigo, cabe mencionar o projeto de Pós-doutorado, desenvolvido por Franciele França, intitulado “A NEF no circuito sul-americano”, processo FAPESP nr. 2020/12621-3, sob a supervisão de Diana Vidal.

Recebido: 11 de Outubro de 2022; Aceito: 31 de Janeiro de 2023

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